sexta-feira, janeiro 11, 2013

As arenas de Eduardo - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 11/01

Os sinais que vêm do PSB indicam que o partido levará 2013 a confundir o meio político. E para isso usará várias arenas. A corrida pela Presidência da Câmara dos Deputados será a primeira. “A candidatura de Júlio é a do partido. Não tem mais recuo”. Quem me disse isso ontem foi o vice-presidente da legenda, Roberto Amaral, ainda em férias no litoral cearense. Será a primeira prova de fogo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que, pressionado pela sua bancada, deixou Júlio Delgado correr ao ponto de não ter mais como puxar o freio. Agora, se der certo, o presidente do partido colherá os louros. Se der errado, poderá sempre dizer que não queria a candidatura — como, de fato, mencionou nos bastidores no ano passado — mas os deputados insistiram.

A bússola de Eduardo, primeiramente, estava voltada para Henrique Eduardo Alves, do PMDB. Em 2012, ouvia-se em Pernambuco que ele não estimularia a candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) porque contou com a discreta ajuda de Henrique Alves para eleger Ana Arraes ministra do Tribunal de Contas da União (TCU). Henrique jamais admitiu essa ajuda porque o PMDB tinha candidato à vaga, o deputado Átila Lins (AM). Mas, no próprio PSB, ouvia-se essa história. Esta semana, Campos, conversou por telefone com Júlio. Ao terminar a chamada, o deputado estava pra lá de estimulado a concorrer contra Henrique Alves. Ontem, por exemplo, esteve com o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), e com o governador Beto Richa (PSDB).

Eduardo telefonou para dizer que o tema Presidência da Câmara não entrou no almoço com a presidente Dilma Rousseff e o governador da Bahia, Jaques Wagner. No final da conversa, os dois socialistas tratavam dos ventos da renovação que marcaram as eleições municipais. É essa onda que Delgado e a deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) tentam formar entre os seus pares. Juntos, calculam ter algo em torno de 200 votos dos 513. Ainda que Henrique Eduardo Alves saia vitorioso, se conseguirem levar a eleição a um segundo turno terão mostrado que o grupo majoritário do PMDB não reina absoluto na Casa. E enfraquecer o PMDB interessa aos socialistas.

O governador pernambucano tem lutado como um leão para cavar espaços políticos. Desde o escândalo do mensalão, em 2005, tem feito isso com habilidade ímpar. Como líder do partido, o neto de Miguel Arraes virou ministro de Lula. Saiu para conquistar o governo do estado. Agora, entretanto, percebe que tem um muro a sua frente: a aliança PT-PMDB. Aquela história de vice numa chapa com os petistas — ele mesmo já disse que ninguém é candidato a vice — está ocupada pelo PMDB, ou seja, não é por aí que Campos conseguirá a preferência para concorrer em 2018. E, como a bancada do PSB é pequena, não tem como obter o apoio do governo para conquistar a Presidência da Câmara. Tampouco força suficiente para que os petistas rasguem o acordo com o PMDB, especialmente num cenário econômico desfavorável.

Essas variáveis indicam que Campos bateu no teto de onde pode chegar ao lado do PT, um partido “casado” com o PMDB. Nesse sentido, ou busca outro caminho ou vai, aos poucos, cavando mais espaço. Ou as duas coisas. Na atual fase da política, um PMDB fraco ajuda em qualquer opção, seja uma candidatura solo em 2014, seja a permanência do PSB ao lado de Dilma.

Se o deputado socialista for bem sucedido, ou sair com uma votação expressiva ainda que perca, Eduardo ganha mais pontos e usará parte do tempo de 2013 a discutir o caminho do PSB com os governadores do Espírito Santo, Renato Casagrande, e do Ceará, Cid Gomes, que inclusive anunciou o apoio à presidente Dilma Rousseff. A depender das variáveis econômicas, tentará convencê-los de que o caminho mais seguro é uma candidatura à Presidência que sirva de anteparo para evitar que os partidos descontentes com o governo Dilma, caso do PDT, do PTB e do PR, abracem a candidatura do senador Aécio Neves, do PSDB. Se acertar internamente, buscará os descontentes com Dilma e o PT.

Enquanto isso, na Câmara…

O duro será convencer os peemedebistas de que essa investida do PSB contra o PMDB não conta com um empurrãozinho do Planalto ou do PT, depois do almoço de Campos com Dilma e Wagner na Bahia. Da mesma forma que Eduardo Campos telefonou para Júlio Delgado dizendo que não tratou da sucessão da Câmara, talvez seja a hora de Dilma pegar o telefone e avisar Henrique Alves que não tem nada a ver com isso. Tudo o que ela não precisa, no momento, é o PMDB pintado para guerra. Afinal, chuvas no Rio e reservatórios secando já são problemas suficientes para a largada de 2013.

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