sexta-feira, janeiro 25, 2013

A onda da oposição - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 25/01


Vale acompanhar bem de perto o que acontece com o PSDB no quesito presidência da Câmara dos Deputados. A antecipação da briga pelo Planalto em 2014 terminou por contaminar a definição do partido quanto ao comandante da Câmara. Pela contabilidade feita recentemente, a divisão dos tucanos nessa seara é grande, e sem a menor chance de afunilar para um único candidato entre os três postulantes — Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Rose de Freitas (PMDB-ES) e Júlio Delgado (PSB-MG). Enquanto o líder Bruno Araújo, de Pernambuco, participa de encontros com Henrique no Recife, os mineiros estão inclinados para Júlio Delgado, e há ainda alguns votos pró-Rose de Freitas.

O jogo triplo dos tucanos acontece com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) fazendo cara de paisagem, como se estivesse completamente alheio a essas movimentações de seu partido. Mas não é bem assim. Os tucanos estão, na verdade, numa saia justa quanto a essa disputa. Primeiro, fechar em torno de Júlio Delgado é dar corda a um potencial adversário em 2014, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Embora Eduardo Campos seja amigo de Aécio e tenha oferecido ao tucano um ingresso para o PSB no passado, no momento eles estão em projetos opostos. Um é aliado de Lula e Dilma e poderia, no máximo, buscar um caminho entre governo e oposição. E, se fizer o presidente da Câmara, ganha combustível para se tornar um concorrente de Aécio, que pretende colocar o bloco oposicionista na rua depois do carnaval. Logo, é arriscado para o PSDB jogar todas as fichas em Júlio.

A opção por Henrique Eduardo Alves, o candidato oficial da maioria da bancada do PMDB e da cúpula partidária, também é vista com receio por alguns. Embora Henrique seja amigo de Aécio, o projeto dos comandantes do PMDB hoje é seguir com a presidente Dilma Rousseff em 2014. Logo, uma vitória de Henrique Eduardo Alves no primeiro turno, sem qualquer tique nervoso, é muita tranquilidade para a petista em relação à aliança futura. Por isso, os tucanos não fecharão em bloco com Henrique.

Assim, diante de tantas análises desses dois grupos (henriquistas e julistas), não será surpresa se a deputada Rose de Freitas obtiver muitos votos dentro do PSDB, partido ao qual já foi filiada. A intenção do PSDB hoje é deixar a cúpula do PMDB meio desconfiada da ajuda dos petistas e de outros partidos da base. A ideia, com a divisão interna, é bagunçar o coreto de Eduardo e deixar o PMDB numa zona de desconforto em relação ao Planalto. Nessa perspectiva, Aécio chegará das férias pronto para recolher os feridos dessa disputa, que promete deixar cicatrizes capazes de arder no futuro próximo, leia-se a composição para a sucessão presidencial. Afinal, essa briga está tão em voga quanto a da disputa pela presidência da Câmara. Embolou tudo.

Enquanto isso, no QG tucano…

O PSDB não se conforma com o fato de a presidente Dilma Rousseff ter ido à tevê apenas para dar as boas notícias. O difícil, entretanto, será ela conseguir manter esse ritmo, caso o aumento da gasolina venha logo. Afinal, a redução da conta de luz não será tão grande quanto a presidente anunciou porque várias distribuidoras têm aumentos previstos. Portanto, virá um aumento, ainda que sobre um valor menor do que o de hoje. Além disso, virão os anúncios dos novos preços dos combustíveis.

Nesse quesito, a maior preocupação vem do PT. Há, entre os petistas, quem vá sugerir um pronunciamento da presidente para tentar evitar que o aumento da gasolina, quando vier, não impacte sobre os outros preços. Afinal, o comerciante da esquina, detentor da memória inflacionária da década de 1980, dificilmente conseguirá calcular que sua conta de luz baixou um pouco. Por isso, ele não precisa aumentar seus preços se o da gasolina subir. Da mesma forma que o PSDB não conseguiu explicar por que não concordava com as regras de renovação das concessões, agora será a vez de Dilma explicar aos eleitores, em especial aos comerciantes, que os preços não devem subir. Por enquanto, a única coisa que se ouviu dela é que não fala sobre preço da gasolina. Finalmente, ela parece ter adotado a antiga receita que, em 1994, derrubou o ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero: “O que é bom a gente divulga. O que é ruim, a gente esconde”.

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