O GLOBO - 16/10
Domingo, ao meio-dia, militantes daquele Movimento 31 de Julho, contra a corrupção, farão uma caminhada da orla do Leblon ao Posto 9, em Ipanema, com máscaras de Joaquim Barbosa e capa preta.
Curumim AyresNestes dias de julgamento do mensalão, nem só Joaquim Barbosa faz sucesso.
Ayres Britto, presidente do STF, é tão querido pelos índios de Roraima, por ter sido relator do processo de demarcação contínua da Reserva Raposa Serra do Sol, em 2009, que um indiozinho da etnia macuxi, de lá, foi batizado com seu nome. O curumim Ayres Britto foi apresentado na OAB-RR em solenidade recente.
Sabe o Mário?
Começaram as gravações de um CD com poemas do genial Mário Lago (1911-2002) musicados por estrelas da MPB como Arnaldo Antunes, Dori Caymmi, Arlindo Cruz, Monarco, Délcio Carvalho, Geraldo Azevedo, Frejat e Lenine.
Terá ainda a participação do cantor Daniel, com a inédita "Presença'"
Maestro de Bethânia
Wagner Tiso é o novo diretor musical de Maria Bethânia.
Ocupará o posto deixado pelo ex-fiel escudeiro da cantora, o maestro Jaime Alem.
Dilma em campanha
Dilma vai a Salvador, sexta, dar uma força ao governador Jaques Wagner na campanha do candidato do PT à prefeitura, Nélson Pelegrino, neste segundo turno.
Prancha fashion
Rico de Souza, o surfista, vai lançar uma grife com seu nome, que será comercializada pela rede de lojas Leader.
MAIS UM HOSPITAL DA MÃE
A Secretaria estadual de Saúde prepara a construção, em São Gonçalo, Grande Rio, de seu segundo Hospital da Mãe (o primeiro fica em Mesquita, na Baixada Fluminense), capaz de realizar 800 partos de baixo e alto risco em um mês, com UTIs materna e neonatal. Veja as reproduções acima. O projeto todo, com os equipamentos, está orçado em R$ 43 milhões. “O hospital pretende suprir a lacuna deixada pelo quase fechamento da maternidade do Hospital Antônio Pedro, em Niterói, que só tem sete leitos de UTI neonatal em uso”, diz o secretário Sérgio Côrtes. A previsão é que seja inaugurado no fim de 2013. Vamos torcer, vamos cobrar.
Xuxinha x Cabralzinho
Ajuíza Flávia de Almeida Viveiros de Castro, da 6? Vara Cível da Barra, no Rio, condenou Xuxa, a apresentadora, a indenizar em R$ 50 mil o autor dos personagens da "Turma do Cabralzinho” série sobre a História do Brasil.
É acusada de "copiar” os personagens na sua "Turma da Xuxinha''
Chama o Síndico
A disputa na 2? Vara Empresarial do Rio entre Paulinho Guitarra, ex-sócio de Tim Maia, e o filho do saudoso cantor, Carmelo, tem novo round.
Paulinho, como se sabe, acusa a editora de Tim, Seroma, de retirar ilegalmente seu nome da sociedade. Agora, o 22° Tabelionato da Tijuca diz que a assinatura de Paulinho na retirada de seu nome seria... "falsa’!
Caso médicoA ministra Helena Chagas sofreu uma queda e está de tipoia. Passa bem.
Grande hotel
Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, lança, quinta, a pedra fundamental do Hotel Grand Mercure Riocentro, no Rio.
Na Copa de 14, o hotel vai receber o pessoal do Centro de Transmissão (IBC).
Efeito pacificaçãoOntem, no primeiro dia após a pacificação, as favelas de Manguinhos e do Jacarezinho, no Rio, foram invadidas por... vendedores da Claro TV e da Sky.
Eu bebo, simO rapper americano Pitbull, que tocará sábado no Rio, exigiu para o camarim 48 limões, quatro garrafas de vodka, uma de tequila, duas de rum e, ic!, uma de vinho.
O pidão queria ainda a suíte do Hotel Santa Teresa onde ficou Amy Winehouse. Mas estava ocupada.
Oi, oi, oi
O Flamengo vai mal, não vence faz tempo, mas, até no clube, só se fala em... "Avenida Brasil”
Jorge Rodrigues, candidato à presidência do Fla, pôs dois telões no Monte Líbano, na Lagoa, para quem for ao lançamento de sua candidatura, hoje, não perder a novela-sensação.
Calma, gente I
Um barraco entre bacanas do Jardim Pernambuco, no Leblon, um dos maiores PIBs do Rio, acabou na 14? DP.
Terça passada, a empresária Andrea Braga parou sua picape na Rua Codajás, em frente à casa do advogado Cláudio Kligerman. Quando voltou, sexta, o carro tinha sido rebocado. Segundo Andrea, Kligerman chamou o reboque.
Calma, gente II
Quinta passada, no restaurante Venga, no Leblon, um conhecido advogado deu um tapa na cara da mulher.
Calma, gente III
Domingo, na Travessa do Leblon, uma cliente cismou que um caixa barbudo era muçulmano e bradou: "Não basta a confusão que essa gente faz lá fora e ainda vem para cá trabalhar!'
Que horror...
No mais...
Deve ser terrível morar no Leblon.
terça-feira, outubro 16, 2012
Quem matou Max? Foi o OiOiOi! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 16/10
Quem matou o Max foi o ursinho Ted! O Zé Dirceu! O Louro José! Se foi o Tufão, a arma utilizada foi o chifre
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Para tudo! O Brasil só quer saber: "Quem matou Max?". Quem matou o Max? FOI FOI FOI! FOI o OIOIOI! Rarará! Quem matou Max? O ursinho Ted! O Zé Dirceu! O Louro José! Se foi o Tufão, a arma utilizada foi o chifre!
E o Sensacionlista: "Quem matou o Max eu não sei, mas quem matou o Flamengo foi a Patricia Amorim". Foi o cara da barraquinha de crepe! O Max se matou! Por decepção em ser palmeirense! O Max se matou porque era palmeirense e ponto!
Chama o Joaquim Barbosa que ele condena o elenco inteiro: "Foi homicídio coletivo! O Max foi linchado pelo resto do elenco!". Aliás, "Joaquim Barbosa condena" é pleonasmo! E "Avenida Brasil" devia mudar de nome pra Avenida México! Tá um dramalhão. La Madre Lucinda!
A Dilma vai decretar feriado nacional! Bandeira a meio pau! E um amigo no Twitter: "Irã pede paz na Síria e se inocenta da morte de Max". Rarará!
E atenção! Direto do País da Piada Pronta: o Palmeiras jogou no estádio dos Aflitos! Aliás, eles jogaram em estado de aflitos! E contra o Náutico. Que é outra piada pronta! Palmeiras, Barcos, Náutico. Acabou em naufrágio. Titanic Verde!
O novo apelido do Palmeiras é Titanic Verde.
E a pérola do século fica com o Galvão narrando UFC: "Estamos ao vivo de verdade". Ueba! Adorei essa. Agora só acredito quando aparecer escrito na tela; AO VIVO DE VERDADE! Rarará! E a narração do Galvão: "Direita, esquerda, esquerda, direita, acabooooô!". "Chute no saco, pode Arnaldo?" Pode! Chute no saco é o Galvão! Rarará!
UFC, para mim, é violência disfarçada de esporte! Os mascotes deviam ser o Tico e Teco! E sabe qual o coletivo de desesperado? Uma multidão de flamenguistas!
E o Nobel da Paz pra União Europeia? Mas só tem passeata e a polícia descendo o cassetete! E o Nobel de Economia para os Estados Unidos? "Dupla de americanos ganha o Nobel de Economia". Devem ser os únicos que não quebraram. E o Nobel de Literatura vai pro Sarney. Os suecos estavam de fogo!
E o Max se matou. Porque não aguentava mais ouvir aquele
OiOiOi! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Quem matou o Max foi o ursinho Ted! O Zé Dirceu! O Louro José! Se foi o Tufão, a arma utilizada foi o chifre
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Para tudo! O Brasil só quer saber: "Quem matou Max?". Quem matou o Max? FOI FOI FOI! FOI o OIOIOI! Rarará! Quem matou Max? O ursinho Ted! O Zé Dirceu! O Louro José! Se foi o Tufão, a arma utilizada foi o chifre!
E o Sensacionlista: "Quem matou o Max eu não sei, mas quem matou o Flamengo foi a Patricia Amorim". Foi o cara da barraquinha de crepe! O Max se matou! Por decepção em ser palmeirense! O Max se matou porque era palmeirense e ponto!
Chama o Joaquim Barbosa que ele condena o elenco inteiro: "Foi homicídio coletivo! O Max foi linchado pelo resto do elenco!". Aliás, "Joaquim Barbosa condena" é pleonasmo! E "Avenida Brasil" devia mudar de nome pra Avenida México! Tá um dramalhão. La Madre Lucinda!
A Dilma vai decretar feriado nacional! Bandeira a meio pau! E um amigo no Twitter: "Irã pede paz na Síria e se inocenta da morte de Max". Rarará!
E atenção! Direto do País da Piada Pronta: o Palmeiras jogou no estádio dos Aflitos! Aliás, eles jogaram em estado de aflitos! E contra o Náutico. Que é outra piada pronta! Palmeiras, Barcos, Náutico. Acabou em naufrágio. Titanic Verde!
O novo apelido do Palmeiras é Titanic Verde.
E a pérola do século fica com o Galvão narrando UFC: "Estamos ao vivo de verdade". Ueba! Adorei essa. Agora só acredito quando aparecer escrito na tela; AO VIVO DE VERDADE! Rarará! E a narração do Galvão: "Direita, esquerda, esquerda, direita, acabooooô!". "Chute no saco, pode Arnaldo?" Pode! Chute no saco é o Galvão! Rarará!
UFC, para mim, é violência disfarçada de esporte! Os mascotes deviam ser o Tico e Teco! E sabe qual o coletivo de desesperado? Uma multidão de flamenguistas!
E o Nobel da Paz pra União Europeia? Mas só tem passeata e a polícia descendo o cassetete! E o Nobel de Economia para os Estados Unidos? "Dupla de americanos ganha o Nobel de Economia". Devem ser os únicos que não quebraram. E o Nobel de Literatura vai pro Sarney. Os suecos estavam de fogo!
E o Max se matou. Porque não aguentava mais ouvir aquele
OiOiOi! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Segundo round: Obama x Mitt - ARNALDO JABOR
O GLOBO - 16/10
Hoje, teremos o segundo debate entre Mitt Romney e Obama, em luta pela presidência dos USA. É um dia crucial para todos nós, pelo que pode acontecer ao mundo. As eleições americanas podem mudar nossa vida para melhor ou para muito pior.
A vitória eventual (valha-nos Deus) de um sujeito como Mitt Romney e seu vice colocam no poder tudo de perigoso que a direita tem nos seus "chás envenenados", os tea parties que desejam recolocar a nação no século XVIII, sob o pretexto de voltar a velha religião dos fundadores puritanos. Os republicanos têm o mesmo pavor do mundo moderno que os islamitas e cantam como eles: "Gimme that old time religion..."
E o perigo aumenta depois que Obama teve um mau desempenho no primeiro debate, em parte por narcisismo, pois estava "se achando" e, em parte, por ingenuidade, achando que ideias verdadeiras impressionam os eleitores americanos.
Mitt, bem treinado por sua equipe, despejou um discurso de mentiras com altivez e articulação, com sua cara perfeita para presidente, seu rosto "mix" de Clinton com Kennedy, cabelos grisalhos, olhos úmidos e um sorriso irônico nos lábios, tudo estudado para arrasar Obama, que a seu lado parecia um vendedor de amendoim. Os democratas esqueceram que no discurso político importa muito mais o tom, o ritmo da frase, o sorriso na hora certa, a ênfase de falsas certezas, a beleza do rosto wasp . Mitt parecia um Lula ou um Maluf falando inglês: tudo para a mídia, todas as inverdades ditas com precisão e certeza, diretamente para os 60 milhões de imbecis que elegeram o Bush.
Eu estava nos EUA quando ficou claro que a barra ia pesar. Senti um arrepio quando rolou o caso com a Monica Lewinsky, naquele "boquete" que mudou o mundo - de seus lábios de histérica republicana nascia a vitória de Bush.
A sexualidade foi o ponto de partida. Depois, tivemos o medo careta do Al Gore, que não defendeu Clinton com medo da esposa, tivemos a fraude eleitoral e, em seguida, o 11 de Setembro, que legitimou o Bush como "presidente de guerra".
Arrepiei-me outro dia de novo, durante a convenção democrata, quando notei um rápido tremor de medo, uma súbita sombra que passou no rosto de Michelle Obama enquanto Clinton fazia seu discurso histórico, arrasando os republicanos. Senti que Michelle por um segundo percebeu que o charme infinito, branco e wasp de Clinton poderia eclipsar o marido, sabia que a ajuda de Clinton era excelente e ao mesmo tempo perigosa - poderia relegar Obama a um papel de coadjuvante. Pode ter sido impressão minha, mas confirmou-se no primeiro debate. E talvez se aprofunde no segundo, hoje à noite, quando Mitt resolveu com sua equipe de fascistas inteligentíssimos, como Karl Rove, voltar atrás e bancar o "moderado", negando todas as barbaridades reacionárias que já proferiu. Se bobear, o negão fica de "radical comuna", e ele de "democrata". Vamos ver.
É impressionante: tudo que vivemos hoje começou com Osama bin Laden e seu "lugar-tenente" Bush, que cometeu todos os erros que Osama queria. Osama despertou o espírito guerreiro dos republicanos e provocou um estrago no Ocidente, desde as duas guerras que custaram US$ 3 trilhões, o terrível déficit publico e as sementes da desregulamentação de Wall Street, que provocaram a crise mundial na economia. De certo modo, Osama foi um vencedor e, se Mitt ganhar, ele terá servido sua vingança como um "prato frio".
A nação americana se inflou de novo como sendo o "país excepcional". É como se os republicanos dissessem: "Chega de frescuras de democracia, internacionalismo multilateral, tolerância, bom senso! Vamos botar pra quebrar!"
O que nos choca nisso tudo é a inatualidade do fenômeno. Eles negam a existência do século XX, da ciência, da arte, da política, da filosofia. Negam Marx, Freud, Picasso, renegam Darwin e seus macacos.
E eles encarnam o pensamento dos milhões de idiotas que jazem entre o hambúrguer e o sofá diante da TV, que acham que problemas se raspam, que dissidências se esmagam, que complexidades devem ser achatadas, que o múltiplo tem de virar "um", que tudo tem um princípio, meio e fim. Eles são contra todas as conquistas do pensamento contemporâneo: contra a sexualidade antes do casamento, o aborto, o homossexualismo, acreditam em Adão e Eva, odeiam o plano de saúde de Obama, odeiam tudo que possa contrariar o atávico individualismo americano, para quem os pobres são vagabundos que fracassaram na vida.
Goya fez gravuras de guerra com o nome "Tristes pressentimentos do que há de acontecer". Na minha pequenez, também arrisco profecias:
Se o Mitt for eleito, voltará a grande máquina careta em que todos se encaixam como parafusos obedientes, uma máquina que paralisa o presente num passado eterno, para impedir um futuro que lhes fuja do controle. Os republicanos não têm mais nada a aprender; eles moram na certeza, na eternidade, exatamente como os suicidas de Osama. Como os islamitas, o grande desejo letal, funéreo dos republicanos é a cultura da morte, a destruição de todas as conquistas progressistas dos anos 1960 e 70: liberdade, antirracismo, direitos civis. Querem limpar tudo com o detergente da estupidez.
Estamos às vésperas de uma bruta mudança histórica. Sente-se no ar o desejo inconsciente por uma tragédia que pareça uma "revelação". Sim. Diante de tantos fatos insolúveis, surge a fome por algo que ponha fim ao "incontrolável", a coisa que americano mais odeia. Na direita do Pentágono, isso é visível. Mesmo uma catástrofe atômica no Oriente Médio parecerá uma "verdade" nova.
O Islã jamais aceitará a modernização da globalização, jamais aceitará o "indivíduo", jamais abandonará seu desértico desejo de martírio, e o Ocidente está cada vez mais perto do irracionalismo e da vingança. Com isso, os filhotes de Bush terão completado a obra de sua anomalia mental feita de fanatismo religioso, complexo de Édipo e rancor contra as "elite" que sempre o desprezou. Hoje, não percam: mais um passo para nosso destino.
A guerra negada - CELSO MING
O Estado de S. Paulo - 16/10
Em Tóquio, onde foi realizada a assembleia anual do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, foi reforçada a polêmica entre o governo brasileiro e o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sobre o impacto das emissões de moeda nos países emergentes. Ficou claro que os grandes bancos centrais não mudarão sua política apenas para atender às queixas do governo brasileiro.
O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, voltou a bater no tambor de que o Fed está fazendo guerra cambial contra os países emergentes. É a acusação repetida de que as emissões agora ilimitadas de moeda, destinadas a ajudar a tirar os Estados Unidos da crise, inundam os mercados com dólares e parte dessa liquidez aflui aos países emergentes, sobretudo ao Brasil, onde produz valorização "artificial" do real e tira competitividade da indústria.
É, com outro nome (tsunami monetário), a mesma denúncia feita pela presidente Dilma Rousseff, tanto no seu encontro, em março, com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, como no seu discurso na ONU, no dia 25 de setembro. Nesse final de semana, Mantega subiu o tom de seu discurso quando declarou que essa é uma "política egoísta" decidida e executada pelo Fed.
Também nesse final de semana e em Tóquio, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, engrossou o mesmo coro. Acusou o Fed de prejudicar o Brasil com sua política e emendou: "Não seremos praça de desvalorização monetária dos outros países".
O presidente do Fed, Ben Bernanke, entendeu que precisaria dar o troco. Rejeitou as acusações e fez as afirmações já esperadas: (1) que essa política se destina a recuperar a economia dos Estados Unidos, atendendo, assim, ao que todos querem, especialmente os países emergentes; e (2) que não há nenhuma evidência de que essa política de salvação global prejudique as economias dos países em desenvolvimento.
Além disso, sugeriu que a enorme liquidez seja aproveitada pelos governos dos emergentes para deixar que suas moedas sejam revalorizadas no mercado (em relação ao dólar). Esse movimento, conclui Bernanke, ajudaria a derrubar a inflação – o que, por sua vez, abriria espaço para maior queda dos juros na economia. Enfim, Bernanke não se mostra comovido com os esperneios das autoridades brasileiras.
Até agora, os números do Banco Central do Brasil não apontam para nenhum sinal de recrudescimento do tsunami monetário a partir do mês passado, quando houve a decisão dos grandes bancos centrais de emitir mais moeda. Mas isso não significa que o afluxo de moeda estrangeira não aconteça. O Fed despejará US$ 40 bilhões por mês. Em algum momento, a enxurrada voltará a transpor as fronteiras do Brasil.
Fica mais do que claro que nem o Fed nem os demais grandes bancos centrais (Banco Central Europeu e Banco do Japão) – que o governo brasileiro envolve no mesmo pacote de queixas – desistirão dessa política de expansão monetária.
Isto posto, o governo brasileiro pode fazer duas coisas: ou voltar a permitir a valorização do real e, assim sendo, usar o câmbio para combater a inflação; ou reforçar suas compras de moeda estrangeira no câmbio interno para evitar seu impacto no comércio.
Os mísseis cubanos - RODRIGO CONSTANTINO
O Globo - 16/10
"Não consigo entender o ponto de vista deles. É um maldito mistério para mim. Não conheço a União Soviética o suficiente." Estas foram as palavras de JFK há exatos 50 anos, no dia 16 de outubro de 1962, quando soube dos mísseis que os soviéticos enviaram para Cuba.
Aqueles foram os dias mais tensos da Guerra Fria. Uma versão hollywoodiana pintou os irmãos Kennedy como heróis corajosos que impediram a grande desgraça. O que pouca gente sabe é o papel de Fidel Castro no episódio, e a profunda incompetência das autoridades americanas durante os acontecimentos.
O presidente americano, em 11 de setembro daquele ano, decidiu restringir os vôos do U-2 para inspeções na ilha caribenha. Quatro dias depois, os primeiros mísseis soviéticos chegaram ao porto de Mariel, em Cuba. A CIA rejeitou categoricamente a possibilidade de que os soviéticos estivessem instalando áreas nucleares no país.
Em "Legado de cinzas", Tim Weiner relata as peripécias da agência de espionagem americana. As transcrições das reuniões sobre a crise dos mísseis só foram divulgadas 40 anos depois. Por todo esse período, "o mundo acreditou que somente a calma determinação do presidente Kennedy e o firme compromisso de seu irmão com uma solução pacífica haviam salvado a nação de uma guerra nuclear".
Na verdade, JFK cedeu às chantagens soviéticas e aceitou retirar os mísseis americanos da Turquia, exigindo segredo total sobre o acordo, pois sabia que seria humilhante torná-lo público. Outra parte do trato foi aceitar jamais invadir Cuba. Era o fim do sonho de libertação do povo cubano, escravizado até hoje.
Kruschev chegou a escrever que seria ridículo entrar em guerra por causa de Cuba. A guerra era impensável para o líder soviético. A superioridade nuclear dos americanos era gigantesca na época: 5 mil ogivas contra 300 dos soviéticos. Kruschev usou Cuba como instrumento para negociar a retirada dos mísseis da Turquia, e JFK, perplexo, caiu no blefe. Mas nem todos blefavam...
Conforme relata Humberto Fontova em "Fidel: o tirano mais amado do mundo", o ditador cubano teria "enlouquecido" após Kruschev retirar os mísseis de Cuba. Fidel "chutou paredes e quebrou vidros, janelas e espelhos".
Seu comparsa Che Guevara revelava o motivo da fúria: "Se os mísseis permanecessem, nós os teríamos utilizado contra o coração dos Estados Unidos, incluindo Nova York. Não devemos jamais estabelecer uma coexistência pacífica. Nessa luta até a morte de dois sistemas, devemos conquistar a vitória definitiva. Devemos andar pelo caminho da libertação, mesmo que isso custe milhões de vidas".
Se Kruschev encarava Cuba como moeda de barganha diplomática, Fidel e Che, por outro lado, levavam muito a sério a ideia de mandar Nova York pelos ares, sonho patológico de muito antiamericano concretizado por Bin Laden em setembro de 2001.
Ironia das ironias, muitos "pacifistas" gostam de estampar a foto de Che em suas camisetas. Os Estados Unidos costumam ser o alvo predileto desses ativistas, enquanto o regime iraniano, cujo líder autoritário propaga abertamente seu desejo de "varrer Israel do mapa", segue tranquilamente seu avanço rumo ao poderio nuclear.
Certos idealistas realmente chocam pelo quanto de violência estão dispostos a aceitar como meio para seu "nobre" fim. O recém-falecido Eric Hobsbawm, por exemplo, respondeu "sim" ao canadense Michael Ignatieff, quando este perguntou se 20 milhões de mortes seriam justificáveis caso a utopia comunista tivesse sido criada.
Não custa lembrar que a pomba foi eternizada como símbolo da paz por um cartaz impresso com uma litografia de Picasso para um congresso patrocinado pelos assassinos de Moscou. O pintor foi vencedor por duas vezes do Prêmio Lênin da Paz. Lênin, que deliberadamente usou a guerra civil e a fome como armas para sua consolidação do poder, e que declarou: "Enquanto não aplicarmos o terror sobre os especuladores - uma bala na cabeça, imediatamente - não chegaremos a lugar algum!"
O pior é que, apesar de tudo, ainda tem quem defenda o socialismo. Nelson Rodrigues foi direto ao ponto: "Quem é a favor do mundo socialista, da Rússia, ou da China, ou de Cuba, é também a favor do Estado Assassino."
Com isso em mente, é alvissareira a condenação pelo STF de José Dirceu, "soldado" treinado em Cuba que liderou o maior ataque à democracia da nossa história.
Pela reação dos petistas, fica claro que o ranço autoritário, inspirado no nefasto modelo cubano, ainda sobrevive neles. Os brasileiros agradecem ao STF por renovar as esperanças em um país melhor.
Ciência dos alimentos - XICO GRAZIANO
O Estado de S. Paulo - 16/10
Forte polêmica esquentou o mundo da biotecnologia. Pesquisadores de várias partes do mundo contestaram experimento, realizado na França, relacionando os alimentos transgênicos com câncer. Foram além. Denunciaram logro no trabalho.
A pesquisa testou o efeito em ratos de laboratório de ração contendo milho geneticamente modificado, tolerante ao herbicida Roundup (milho RR). No experimento, porém, descobriram-se grosseiros erros metodológicos. Cientistas brasileiros da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), norte-americanos das Universidades da Califórnia e da Flórida, ingleses do King"s College, de Londres, combateram os resultados, apontando falhas inaceitáveis. Com os mesmos dados poderia ter sido provado o contrário, ou seja, que o milho transgênico reduziu, e não aumentou, o risco de câncer nos bichinhos.
A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EF-SA) publicou análise desqualificando a pesquisa conduzida por Giles-Eric Séralini, conhecido ativista contrário ao uso da engenharia genética na agricultura. Aposição apriorística dele construiu uma conclusão equivocada. Picaretagem científica.
Vem de longe a discussão sobre a cor ideológica da ciência. Nas ciências sociais, sabidamente, existe enorme dificuldade de os cientistas se isentarem de suas posições políticas nos estudos que realizam. A visão de mundo afeta, inevitavelmente, suas formulações teóricas, induzindo ao viés. Por essa razão existem tantas polêmicas na sociologia e na economia.
Nas ciências exatas, por outro lado, praticamente inexiste relação entre conhecimento e ideologia. Na física ou na química, os fenômenos analisados são quantificáveis na exatidão. Mede-se a velocidade da luz, detalham-se as estruturas moleculares. Na matemática, dois mais dois são quatro, e acabou.
Já nas ciências naturais, como a biologia e a agronomia, que estudam os seres vivos e j seu ambiente, os fenômenos, j além de complexos, variam em sua manifestação. Sua mensuração é difícil, estimada, nunca precisa. Podem-se observar tendências, leis gerais a guiar os processos vitais, mas cada i um deles pode reagir distintamente aos estímulos do meio onde vivem. Existem incertezas, imprecisões.
Como diz o caboclo, aqui é que o bicho pega. Mesmo quando não são politicamente engajados, os pesquisadores raciocinam segundo seus princípios culturais e éticos. Isso, obviamente, cria distinções dentro dos laboratórios. Sabendo ser impossível a isenção ideológica, as normas científicas exigem que sejam conhecidos, e divulgados com clareza, os pressupostos básicos e a metodologia dos estudos, estabelecendo uma espécie de lealdade na busca da verdade.
O rigor do método científico separa o bom conhecimento do fajuto. Este surge da empulhação, da fabricação de resultados segundo objetivos não confessáveis. Aqui parece enquadrar-se essa pesquisa sobre o milho transgênico RR e o câncer. Nem a estirpe nem a idade dos ratinhos alimentados em laboratório se conheciam, e sabe-se que, naturalmente, ratos mais idosos tendem a contrair mais câncer do que os jovens.
Neste 16 de outubro se passa o Dia Mundial da Alimentação. Estudiosos da questão da fome concordam que o desafio da segurança alimentar não se vencerá facilmente até 2050, quando se estima que a população mundial venha, com 9 bilhões de pessoas, a se estabilizar. Três processos básicos determinarão o sucesso nessa difícil empreitada contra as restrições alimentares dos povos: expansão das áreas de produção; desenvolvimento tecnológico, elevando a produtividade na agropecuária; e surgimento de novas alternativas de comida.
A engenharia genética cumprirá papel imprescindível rumo à segurança alimentar. Após | 15 anos, desde que deixaram os laboratórios e seguiram para o campo, as variedades transgênicas, manifestadas em dezenas de espécies Vegetais, já ocupam 160 milhões de hectares, plantadas por 16,7 milhões de agricultores, em 29 países. Recebidas inicialmente com temor, nunca se avaliou tanto uma tecnologia. Mesmo procurando chifre em cabeça de cavalo, jamais se provou qualquer dano à saúde humana em decorrência de alimento geneticamente modificado. Nenhum caso.
Novas gerações de organismos geneticamente modificados surgem dos laboratórios mundiais. As primeiras transgenias forneceram resistência das plantas a herbicida, depois às lagartas, daí não pararam mais de evoluir. A engenharia genética está inventando plantas resistentes à seca, tolerantes à salinização dos solos, suportáveis a solos mais pobres. Surgem grãos mais ricos em proteínas e vitaminas, frutas mais duráveis ao armazenamento. Nos animais, acaba de ser anunciada, na Nova Zelândia, uma vaca transgênica capaz de produzir leite sem a proteína beta-lacto-globulinay responsável por causar alergia em até 3% das crianças no primeiro ano de vida. Incríveis fronteiras da ciência dos alimentos.
Normas internacionais proíbem produtores orgânicos de cultivar plantas transgênicas. Cada vez mais se comprova, porém, com biossegurança, o seu benefício na sustentabilidade dos sistemas produtivos. Superplantas transgênicas, resistentes às pragas e doenças, eliminarão o uso dos agrotóxicos na lavoura. Afora o preconceito ecológico, nenhuma razão agronômica opõe o orgânico ao transgênico. Inimigos hoje, poderão andar de mãos dadas amanhã.
Conhecimento científico não rima com ideologia nem com intolerância. Ele se move, estimulado pelo dinamismo civilizatório, pelo desafio do desconhecido. Transilvânia, em latim, significa “além da floresta”. Na Romênia, acredita-se que lá viveu o assustador Conde Drácula, o mais famoso dos vampiros. Mera crença. Nada que ver com transgênico. Pura ciência.
Presidente do BC pensa que a crise conterá o IPCA - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S. Paulo - 16/10
O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, declarou, em Tóquio, que um PIB mundial mais fraco ajuda o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Brasil, a manter a inflação no centro da meta. Não pensamos que o presidente do BC queira uma crise econômica mundial para ganhar a sua luta contra a inflação, mas os argumentos que levantou nos parecem muito frágeis.
Segundo crê, uma economia mundial crescendo menos derruba os preços das commodities. É possível; embora, no caso do minério de ferro destinado à China, estejamos verificando que ã queda não é muito forte. Convém lembrar, além disso, que o Brasil se tornou um dos grandes exportadores de produtos básicos e que, sem a alta das commodities, a nossa balança comercial seria afetada muito negativamente.
O Brasil, por causa da desindustrialização, atravessa uma fase em que as importações de bens com maior conteúdo tecnológico - mais caros, portanto - estão aumentando. Um maior déficit dabalança comercial se traduziria por uma maior desvalorização da nossa moeda em relação ao dólar. Embora possamos esperar que essa desvalorização favoreça nossas exportações, teríamos, para isso,de elevar consideravelmente nossa capacidade de concorrência externa. Será difícil mudar os termos do comércio e dispensar a intervenção do BC no mercado cambial, o que tem um custo elevado.
Na sua alocução, Tombini voltou a criticar a política do Fed (o banco central dos EUA), por estar criando um excesso de liquidez. Ora, se há um país que se beneficia disso é, sem dúvida, o Brasil, uma vez que está conseguindo atrair capitais estrangeiros - sejam investimentos diretos ou empréstimos - obtidos a uma taxa de juros relativamente baixa. Sem a fonte de liquidez criada pelo Fed na economia mundial, nossa economia estaria em situação bem diferente. O Fundo Monetário Internacional (FMI), aliás, demonstra preocupação com o aumento do endividamento externo do Brasil.
Alexandre Tombini mostrou-se satisfeito com os sinais de recuperação da economia interna. Pareceu-nos mais otimista que a maioria dos analistas, cética quanto à velocidade dessa recuperação. E o ceticismo tem como fundamento a lentidão que temos demonstrado na realização de investimentos em infraestrutura e na indústria, para apoiar essa recuperação.
Anos sucessivos de pífio crescimento nos afastam cada vez mais de outros países emergentes, como o Chile ou o México, que souberam se aproveitar desta fase de dificuldades nos países mais maduros.
Exemplos terminais - JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 16/10
Sempre que o teto desaba, o lema serve de consolo. Se passarmos por isto, chegaremos ao outro lado mais fortes.
Talvez sem o saber, o mais anticristão dos pensadores modernos reatualizava, em linguagem secular, uma velha promessa cristã: a ideia de que existe um sentido último para o calvário da vida. Nietzsche, o supremo iconoclasta, não resistiu à tentação de erguer uma estátua a si próprio.
Christopher Hitchens discorda de Nietzsche. Eu concordo com Hitchens. O sofrimento não nos torna mais fortes. Aquilo que concede uma ilusão de força é a evidência prosaica de que, às vezes, sobrevivemos para contar.
É essa espantosa confluência de alívio e surpresa que alimenta em nós a crença infantil de que estamos um pouco mais indestrutíveis.
Nenhuma dessas ilusões habita "Últimas Palavras" (Globo Livros, R$ 24,90, 96 págs.), que são de fato as últimas palavras que Christopher Hitchens escreveu. Eis o mérito do livro: a doença que o visitou em 2010 e o matou em 2011 --um câncer no esôfago-- não merece nenhum tratado metafísico.
A pergunta não é "por que a mim?", esclarece ele. A pergunta é outra: "E por que não a mim?"
Aceitar essa premissa é a primeira vitória sobre a morte: não há nada que mais enfureça a Velha Senhora do que a forma natural como lhe abrimos a porta.
Claro que o medo e o sentimentalismo espreitam sempre. Hitchens gostaria de assistir ao casamento dos filhos (ainda) pequenos. E de visitar o World Trade Center, novamente ao alto em Manhattan. E de escrever os obituários de Henry Kissinger ou Joseph Ratzinger.
Sem falar do resto: preservar ainda a voz; preservar ainda a capacidade de escrever; preservar, no fundo, um sentido de identidade --ou, no mais literal sentido da frase, de "liberdade de expressão".
Mas as coisas não funcionam assim no planeta câncer. Nesse planeta, tudo é negócio, conta Hitchens: se estivermos dispostos a ceder o paladar, a digestão, a voz, a força anímica, o cabelo, a capacidade de concentração e outras matérias mais íntimas, então talvez tenhamos mais uns meses, ou anos, de vida.
Hitchens aceitou o negócio e, nas páginas seguintes, vai descrevendo todas as etapas da doença --os tratamentos, as esperanças, as desesperanças-- com uma mistura de resignação estoica e elegantíssima ironia. É a segunda vitória sobre a morte: não há nada que mais enfureça a Velha Senhora do que a forma sorridente como a convidamos para tomar chá na sala.
Então os dias passam a ser divididos em duas metades: a manhã para os advogados, as tardes para os médicos. Que o mesmo é dizer: dias repartidos entre a preparação para o pior e a preparação para evitar o pior.
Se Scott Fitzgerald tinha razão ao afirmar que a marca de um intelecto superior está na capacidade de manter duas ideias contraditórias na cabeça e, apesar disso, continuar a funcionar, Hitchens passa no teste com distinção.
Finalmente, o tema inevitável: Deus. Quando se soube da doença, percorreu por um certo mundo crente o frêmito de que a doença era um castigo de Deus a um ateu militante e, atendendo à localização do tumor, vociferante.
Essa foi a primeira versão do regozijo fanático. Mas houve outra, em variação mefistofélica: o câncer era um teste último para que o mais famoso ateu do planeta renunciasse às suas "blasfêmias" e abraçasse uma qualquer espécie de fé, digamos, terminal.
Em relação aos primeiros, Hitchens pergunta, sem o tom histérico de panfletos anteriores, que tipo de Deus seria esse, capaz de fulminar um incréu com algo tão banal e entediante como um câncer. Mais que isso, banal, entediante e teologicamente democrático: santos ou pecadores, todos eles podem conhecer a mesma barca.
Em relação aos segundos, Hitchens prefere evocar Voltaire, que na hora da morte foi convidado a renunciar ao diabo. Resposta do francês: este não é o momento de arranjar novos inimigos.
Voltaire sabia, como Hitchens soube, que a morte não passa de um fato sem grandeza. Porque de nós, do que fomos ou fizemos, tudo o que restará é apenas o exemplo.
Cerco à liberdade na América Latina - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 16/10
Qualquer pessoa medianamente informada sabe que a democracia representativa passa por mais um ciclo de ataques na América Latina, região com longa história de recaídas autoritárias. Mas, quando é traçado o cenário de cada país, constata-se que há uma tendência de agravamento deste quadro.
Reunida em São Paulo, onde realiza a sua 68º assembleia geral, a Sociedade Interamericana de Prensa (SIP), em que se congregam grupos de comunicação do Canadá à Argentina, fez, como a cada ano, um balanço do respeito - no caso, desrespeito - à liberdade de imprensa e informação no continente, o melhor termômetro para se medir o teor de democracia real de cada regime.
O quadro é nada animador. E, neste sentido, o destaque fica com a Argentina, onde o governo de Cristina Kirchner, que se mostra cada vez mais uma aplicada aluna do caudilho venezuelano Hugo Chávez, prepara uma espécie de assalto final ao grupo Clarín - junto com La Nación, remanescente da imprensa profissional, sob cerco da Casa Rosada.
Cristina não concede entrevistas coletivas, se reserva a convocar de forma abusiva cadeias de TV e a se valer da rede de rádios, TVs e jornais subjugados em troca de generosos repasses da grande verba de publicidade estatal. E aproveita o vencimento de uma cautelar do Clarín contra a Lei de Meios para estabelecer a data de 7 de dezembro como limite para o grupo se desfazer de várias concessões de rádio e TV - em benefício, é certo, de amigos da Casa Rosada.
Há, inclusive, uma campanha dos veículos aliados de Cristina sobre o "7D", alusão evidente ao Dia D, da invasão da Normandia pelos Aliados, na Segunda Guerra. Porém, juristas garantem que, na pior das hipóteses para o Clarín, a partir do vencimento da medida cautelar terá de passar ainda um ano antes de as regras escritas para reduzir o tamanho da empresa - e fragilizá-la economicamente - entrarem em vigor.
A tensão é crescente e justifica a proposta feita no encontro da SIP para a entidade enviar missão à Argentina, a fim de acompanhar o caso de perto, junto ao Clarín e ao governo.
No Equador, onde o governo também é plasmado pelo chavismo, e na Venezuela - nesta, por óbvio, por ser o farol do "socialismo bolivariano" - os casos de violência contra jornalistas e veículos se sucedem. No país de Chávez, a campanha eleitoral, a mais difícil enfrentada pelo caudilho, serviu de pretexto para ataques a profissionais, atentados a tiros contra sedes de jornais, TVs etc. Já no Equador, o presidente, Rafael Correa, com o controle do Legislativo e do Judiciário, baixa normas draconianas contra a imprensa, além de proibir que qualquer agente público passe informações para a mídia independente.
Há uma nuvem de autoritarismo sobre o continente. Ela se move e fica cada vez mais densa.
Qualquer pessoa medianamente informada sabe que a democracia representativa passa por mais um ciclo de ataques na América Latina, região com longa história de recaídas autoritárias. Mas, quando é traçado o cenário de cada país, constata-se que há uma tendência de agravamento deste quadro.
Reunida em São Paulo, onde realiza a sua 68º assembleia geral, a Sociedade Interamericana de Prensa (SIP), em que se congregam grupos de comunicação do Canadá à Argentina, fez, como a cada ano, um balanço do respeito - no caso, desrespeito - à liberdade de imprensa e informação no continente, o melhor termômetro para se medir o teor de democracia real de cada regime.
O quadro é nada animador. E, neste sentido, o destaque fica com a Argentina, onde o governo de Cristina Kirchner, que se mostra cada vez mais uma aplicada aluna do caudilho venezuelano Hugo Chávez, prepara uma espécie de assalto final ao grupo Clarín - junto com La Nación, remanescente da imprensa profissional, sob cerco da Casa Rosada.
Cristina não concede entrevistas coletivas, se reserva a convocar de forma abusiva cadeias de TV e a se valer da rede de rádios, TVs e jornais subjugados em troca de generosos repasses da grande verba de publicidade estatal. E aproveita o vencimento de uma cautelar do Clarín contra a Lei de Meios para estabelecer a data de 7 de dezembro como limite para o grupo se desfazer de várias concessões de rádio e TV - em benefício, é certo, de amigos da Casa Rosada.
Há, inclusive, uma campanha dos veículos aliados de Cristina sobre o "7D", alusão evidente ao Dia D, da invasão da Normandia pelos Aliados, na Segunda Guerra. Porém, juristas garantem que, na pior das hipóteses para o Clarín, a partir do vencimento da medida cautelar terá de passar ainda um ano antes de as regras escritas para reduzir o tamanho da empresa - e fragilizá-la economicamente - entrarem em vigor.
A tensão é crescente e justifica a proposta feita no encontro da SIP para a entidade enviar missão à Argentina, a fim de acompanhar o caso de perto, junto ao Clarín e ao governo.
No Equador, onde o governo também é plasmado pelo chavismo, e na Venezuela - nesta, por óbvio, por ser o farol do "socialismo bolivariano" - os casos de violência contra jornalistas e veículos se sucedem. No país de Chávez, a campanha eleitoral, a mais difícil enfrentada pelo caudilho, serviu de pretexto para ataques a profissionais, atentados a tiros contra sedes de jornais, TVs etc. Já no Equador, o presidente, Rafael Correa, com o controle do Legislativo e do Judiciário, baixa normas draconianas contra a imprensa, além de proibir que qualquer agente público passe informações para a mídia independente.
Há uma nuvem de autoritarismo sobre o continente. Ela se move e fica cada vez mais densa.
Intimidade - FRANCISCO DAUDT
FOLHA DE SP - 16/10
A intimidade nos é algo tão caro que nem dada deve ser; no máximo emprestada; com direito a devolução
O ex-presidente Janio Quadros foi abordado pela repórter:
" -E aí, Janio, o que há de novo?"
"-Esta nossa intimidade. Intimidade, minha jovem, só traz aborrecimentos e filhos, e eu não quero nenhum dos dois com a senhorita".
Ele zelava por um bem precioso que a moça tentava lhe tomar. A intimidade nos é algo tão caro que nem dada deve ser. No máximo emprestada, com direito a devolução. Tomada de nós, jamais!
Olhe-a, portanto, como sua poupança, sua casa. Valiosa, pode ser bem aplicada, mas corre riscos. Ela passou a existir com o surgimento do indivíduo. Não me fiz claro: não é a partir do nosso nascimento, mas da criação do indivíduo.
Sua existência é uma novidade na história humana. Na aldeia primitiva, na tribo que não passava de 200 pessoas, não havia indivíduos.
As pessoas eram empasteladas, todos se metiam na vida dos outros, não havia intimidade, não havia indivíduo, pois uma coisa se alimenta da outra (ou a falta de uma, vai matando a outra). A aldeia homogênea continua na tirania das cidades pequenas, das tribos de adolescentes, dos colégios (o bullying patrulha diferenças), das religiões fanáticas: todos patrulham todos, para que todos sejam iguais.
Formigueiros, colmeias, o ideal comunista da "igualdade", não a democrática de oportunidade e de direitos, mas a dos cupins, em que todos são células de um só corpo, o Partido. "A morte foi vencida! As pessoas não são mais que células, o que importa é o corpo". Até tiranos são iguais.
O aparecimento do indivíduo só foi possível com os direitos humanos, a democracia e as grandes cidades, onde ser anônimo protege a intimidade.
O personagem da história de hoje é um indivíduo. Único o bastante para não participar de redes sociais nem ter celular. Um pária, portanto: empresta sua intimidade para poucos escolhidos; conversa assuntos; não interrompe ninguém para atender ao telefone, ou digitar mensagens. Estóico, resigna-se quando alguém menos íntimo o faz. É um homem de vida calma, apreciador das virtudes.
Adora carros desde criança. São, como diz, as esculturas contemporâneas que mais preza.
Resolveu vender seu atual, que não é espetacular, apenas é lindo. Sua irmã ofereceu-lhe a postagem da belezura em sua página do facebook, vai que algum "amigo" se interessasse? Ele, pária que é, aceitou. Para quê?
Choveram mensagens metidas a engraçadinhas, debochando dele e de seu carro. Uma em particular, chocou-o, pois vinha de alguém que ele tem em alta conta.
Deu trabalho explicar-lhe que a internet serve para o bem, mas igualmente pode despertar, na massa linchadora, um bullying nas melhores pessoas. Contaminadas pela moda, viram patrulhadoras das diferenças, num território livre para a inveja e o ódio.
Ódios sarcásticos e "espertos" ganham pontos como símbolo de status. As redes sociais podem dar vazão à tendência humana a se encarneirar e em transformar indivíduos em carneiros.
O pecado desse personagem foi ter sua intimidade exposta. Mas não era nada pessoal, just business, como diz outra comunidade homogênea, a máfia.
A lei do mais forte - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 16/10
Nem o encontro para discutir o futuro da imprensa passa longe da disputa dos partidos políticos. Lá, o vitorioso prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), fortalecido pelos votos que o guindaram ao segundo mandato no comando da cidade cartão de visita do país, saiu-se a enfrentar o PMDB de São Paulo, quarto colocado na disputa pela prefeitura paulistana. A frase de Paes, apresentando o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), como uma promessa de candidato a vice na chapa da presidente Dilma Rousseff, provocou desconfianças para todos os lados.
Da parte do próprio PMDB, vêm as perguntas: aonde Paes quer chegar? À primeira vista, pode parecer que planeja afastar as suspeitas de que quer “furar a fila” de candidatos a presidente. Afinal, desde que foi citado como uma promessa para o futuro entre os peemedebistas, Paes pode ter aguçado a ciumeira de seu partido. E, reza a lenda, ciúmes de político é pior do que ciúme de mulher. Portanto, Paes não quer brigar com Cabral. OK.
A outra hipótese é vista dentro do PMDB como mais plausível. Todos sabem que a relação entre o governador Sérgio Cabral e o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, é excelente. “Aécio é meu irmão”, diz o governador, sempre que perguntado sobre a amizade entre eles. Ou seja, entre alguns peemedebistas ficou a impressão — até aqui só impressão — de que Cabral pode estar se preparando para pular do barco do PT logo ali, caso Aécio seja candidato. Afinal, não sendo candidato a vice, pode sempre alegar mágoas e fazer delas um pretexto para seguir outro caminho em 2014.
Por falar em caminhos…
Teses dos políticos e declarações de Paes à parte, some-se a isso tudo outro fator: Na semana passada, Dilma se reuniu com o vice-presidente Michel Temer pela manhã. À tarde, recebeu Cabral e Paes. Ou seja, separou os dois peemedebês de uma forma que até a turma palaciana notou. Nesse clima, se o movimento de Eduardo Paes na Sociedade Interamericana de Imprensa tiver desdobramentos, teremos uma disputa interna pela vaga de vice na chapa.
Para o conjunto do PMDB, tudo o que o partido não precisa é de um racha nesse momento em que Eduardo Campos, do PSB, ganhar ares de senhor de primeira grandeza. Campos não se movimentou no sentido de pedir ministérios ao governo e se mantém firme na tese de que deseja “ajudar a presidente”. Quando cita o PSB, faz questão de frisar a “unidade partidária”. E se essa investida do socialista fizer crescer no PT de Dilma a tese de que é melhor ficar com um PSB unido do que um PMDB dividido?
Até o momento, para alívio dos peemedebistas, o partido de Michel Temer continua como o primeiro na relação com Dilma. E ela já avisou ao seu companheiro de chapa que, se for candidata, manterá a parceria com Temer. Portanto, não é a marola de Paes no encontro da SIP em São Paulo que irá mudar esse cenário. Mas, a partir de agora, todos estão mais atentos nessa seara.
Por falar em Dilma…
A presidente, inclusive, nem está trabalhando a recandidatura agora. Neste momento, está mais preocupada com outros temas, como a remodelagem dos aeroportos. Está no forno um decreto que autoriza o setor privado a construir aeroportos para pouso de jatos executivos. A ideia é aliviar o atual sistema, especialmente na hora de grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Elites desanimadas - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 16/10
Houve o encontro de ministros da Economia, banqueiros centrais e correlatos -o encontro do FMI, em Tóquio, no fim de semana que passou. Na quinta, vem o encontro de cúpula da União Europeia. Ministros dão entrevistas, falam nas reuniões, vazam recados uns para os outros por meio da mídia.
No mundo rico, os americanos estão mais otimistas. Estão de fato em situação melhor. Estima-se que possam crescer uns 2% neste ano e 2,5% em 2013, quatro ou cinco vezes mais rápido do que a eurozona. Mas as previsões já foram mais animadas.
O que incomoda todo mundo é o dito "abismo fiscal". A partir de janeiro de 2013, pode haver um corte de cerca de US$ 600 bilhões na receita federal, mais ou menos um quarto do que o governo arrecada.
Até o fim do ano vencem isenções/cortes de impostos e entra em vigor um corte automático de despesas. Por um lado, tal talho reduziria rapidinho o deficit do governo federal. Por outro, joga o país em recessão, segundo a maioria das estimativas.
O Congresso tem 12 semanas para resolver o rolo. O palpite geral é que vai ser dar um jeitinho americano. Mesmo assim, enquanto a novela não acaba, ela não termina: serão dias animados de paniquito.
Os europeus, por sua vez, estavam meio conformados com sua recessão deste ano e estagnação de 2013 (crescimento de 0,5%, por aí). Mas do encontro de Tóquio às escaramuças preliminares da cúpula desta semana a gente tem ouvido coisa bem pior.
Primeiro, voltou a se discutir pública e diretamente a saída da Grécia da zona do euro, tendo havido mesmo gente que desse prazo: nos próximos seis meses.
Segundo, alertou-se para o fato de que o prazo da Espanha está acabando. Os espanhóis saíram de uma situação crítica, de juros em alta fulminante, devido à promessa do Banco Central Europeu (BCE) de lhes dar uma mãozinha.
Mas o BCE apenas compraria títulos da dívida espanhola (ajudando a baixar juros) se o governo pedisse um socorro formal à União Europeia, submetendo-se a um programa de arrocho ainda maior do que aquele que já está em curso por lá. A Espanha se finge de morta, aproveitando a breve bonança.
Terceiro, estão cada vez mais amargas e pesadas as críticas contra a linha geral da política econômica alemã para a Europa.
O programa de redução de deficit e dívidas (além de reformas "liberais") é recessivo, bidu, mas mais do que se imaginava, apontam a prática e novos estudos sobre o assunto. Se as economias não crescem, a receita dos governos também não. Dívidas e deficit ficam em geral cada vez maiores, como proporção do PIB.
O vozerio nas cúpulas econômicas dá a impressão de que paciência com o arrocho está acabando. Até o FMI sugere políticas menos agressivas de redução de dívidas.Quarto, até a dupla dinâmica, China e Índia, tornou-se uma incógnita: está certo que crescerão menos, a caminho de uma "normalização" econômica, mas quanto
menos?
2013 vai ser outro ano de vento contrário. Que vai soprar no Brasil também.
Símbolo absolvido - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 16/10
O publicitário Duda Mendonça, que se transformou em símbolo da crise do mensalão quando, em CPI de 2005, surpreendeu a todos revelando que recebera pagamento de cerca de R$ 10 milhões no exterior pela campanha eleitoral que elegeu Lula presidente em 2002, foi absolvido ontem pelo Supremo Tribunal Federal das acusações de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
O pagamento foi feito através do publicitário Marcos Valério a uma empresa que Duda Mendonça abriu no exterior apenas para receber o pagamento que lhe era devido, com dinheiro saído de contas de vários bancos pelo mundo, e essa revelação provocou na ocasião choro e ranger de dentes entre os petistas, sendo que muitos deles foram ao púlpito da Câmara e do Senado pedir desculpas ao povo brasileiro. Estava criado naquele momento um clima propício ao pedido de impeachment de Lula, pois o pagamento ilegal se referia diretamente à campanha eleitoral, e ele só não aconteceu porque houve muitas negociações nos bastidores, e a oposição não quis enfrentar a luta política que certamente seria desencadeada.
Imaginando que Lula estava mortalmente ferido, optou por deixá-lo sangrar, na expectativa de que não tivesse recuperação. O cálculo da oposição mostrou-se equivocado, e, com a economia recuperando fôlego, Lula acabou se reelegendo em 2006. Ontem, o STF recuperou do passado o episódio para, à luz da legislação, desidratá-lo, tratando-o como um caso menor de erro de um contribuinte qualquer que acabou pagando sua dívida com o Imposto de Renda e regularizou sua situação.
Apenas o relator Joaquim Barbosa deu importância ao crime de lavagem de dinheiro do qual acusou o publicitário e sua sócia Zilmar Fernandes, tendo sido voto vencido, com apenas mais dois colegas acompanhando seu exemplo.
A posição da maioria do plenário foi definida muito mais por questões técnicas do que pela análise dos fatos concatenados, como continuou fazendo o relator. Rosa Weber foi a primeira a chamar a atenção para a falha na acusação do Ministério Público (MP), que não apontou como crime antecedente da lavagem de dinheiro a evasão de divisas cometida pelo núcleo financeiro comandado por Valério. "A denúncia não pode ser implícita", advertiu a ministra quando o relator insistiu em que a peça do procurador-geral da República falava em "crimes contra o sistema financeiro nacional", o que incluiria a evasão de divisas.
Barbosa ainda tentou defender a tese de que um "deslize verbal" da acusação não poderia invalidar a denúncia, que para ele estava clara: o publicitário Duda Mendonça abriu conta no exterior apenas para receber pagamento que o Partido dos Trabalhadores lhe devia. O fato de o dinheiro ter sido enviado através das empresas de Valério para o exterior seria a prova de que Duda sabia que a origem daquele dinheiro era no mínimo duvidosa, o que o próprio réu admitiu em seu depoimento à Justiça.
Mas apenas Gilmar Mendes e Luiz Fux seguiram a linha do relator, ficando os demais com a tese do revisor, que viu na denúncia uma falha que a invalidava. Foi ressaltado até mesmo o fato de o procurador-geral da República, em suas alegações finais, ter deixado a critério do plenário a definição do crime praticado por Duda, se lavagem de dinheiro ou evasão de divisas. Essa situação demonstrava, para o revisor e a maioria dos ministros, que o MP não estava convicto de sua acusação. Não foi suficiente Barbosa lembrar que ele também não aceitara aquela atitude do procurador-geral, rejeitando-a.
Houve momento em que Barbosa, claramente irritado por sentir que perdia a discussão, admitiu que poderia até mesmo mudar seu voto para que o MP aprendesse a ser específico em sua acusação.
A decisão do STF de que Marcos Valério, seus sócios e os dirigentes do Banco Rural utilizaram-se de métodos ilegais como evasão de divisas para o pagamento do marqueteiro, e por isso foram condenados, confirma que até mesmo a campanha eleitoral de 2002 foi contaminada com dinheiro ilegal.
Mas o fato é que a maioria dos ministros ateve-se a questões formais para inocentar Duda Mendonça, o que retirou do processo um fator simbólico. E demonstrou mais uma vez que o plenário do Superior Tribunal Federal não se deixa levar por apelos políticos no julgamento do mensalão.
Pele de cordeiro - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 16/10
Aconselhou os companheiros a deixar de lado, por enquanto, o julgamento do mensalão e concentrar seus afazeres na eleição, notadamente em São Paulo.
Tanta amenidade causou certo estranhamento. Não houve a esperada ordem à reação aguerrida contra as sentenças nem um chamamento a ataques ao “tribunal de exceção”, como levavam a crer declarações de simpatizantes e militantes desde que se desenhou a condenação.
Dirceu limitou-se a fazer dois discretos discursos orientando o partido a adiar quaisquer atos de contra-ataque até a conclusão das eleições municipais. “Agora o que interessa é o segundo turno, vamos às ruas, à luta”, conclamou.
Nada há de estranho na atitude que, antes, revela destreza e estratégia.
Dirceu percebe que o PT corre o risco de afugentar o eleitorado se hostilizar o Supremo Tribunal Federal nesse momento. Se contestar com virulência, desconfiança e desqualificação uma instituição que vem sendo celebrada como instrumento de redenção à ancestral impunidade e lançar suspeitas sobre ministros tratados nas ruas como heróis, flertará como perigo de despertar sentimentos fortes de antipetismo adormecido.
Pode levar o eleitor a perceber o PT como aquele anterior à Carta aos Brasileiros que, com suas posições agressivas, radicais e sectárias, perdeu três eleições presidenciais.
Duas medidas. Quando começar o julgamento do processo em que o tucano Eduardo Azeredo figura como beneficiário de esquema de financiamento ilegal de campanha,haverá gritaria e confusão.
O Supremo Tribunal Federal será cobrado por mercadoria que não pode entregar: isonomia total em relação ao julgamento de agora.
Há o traço base de união entre os dois casos: Marcos Valério Fernandes de Souza no papel de operador de arrecadações públicas e privadas em troca de trânsito livre ao tráfico de influência.
Valério fez primeiro para Eduardo Azeredo na tentativa frustrada da reeleição ao governo de Minas, em 1998. Eleição perdida, os ilícitos ficaram restritos à campanha.
Talvez se tivesse vencido Valério usasse as mesmas companhias para implantar em Minas e que viria a executar sete anos depois no plano federal.
Com a derrota, não se materializou esquema de compra de apoio parlamentar ao Executivo nem foram gerados os conflitos que em 2005 levariam Roberto Jefferson a quebrar a lei da Omertà e denunciar a existência da organização ora condenada como criminosa.
Quando se reclama da demora no julgamento do “mensalão mineiro” não se leva em conta que só foi descoberto muito depois, já nomeio do escândalo capitaneado pelo PT.
A despeito das diferenças, quando o caso for julgado os tucanos não correrão o risco de ir para a cadeia, mas não escaparão de responder pela proteção dada a Azeredo, na época da descoberta senador e presidente do PSDB.
Outra freguesia. A proposta do prefeito do Rio, Eduardo Paes, de fazer do governador Sérgio Cabral candidato a vice na chapa pela reeleição de Dilma Rousseff, só prospera em duas hipóteses: se Cabral sair do PMDB ou se alterar completamente a correlação de forças internas.
Caso a vaga continue com o partido, só será entregue a alguém tido como correligionário de raiz. O governador do Rio é visto como produto de “uma circunstância”.
Nessa condição Cabral não teria compromisso com os interesses do partido quando (e se) sentado na cadeira de vice-presidente.
Considerando que Eduardo Paes conhece perfeitamente essa realidade e que não falou por falar, alguma motivação mais elaborada por trás desse “lançamento” deve haver.
SOBE O SONZINHO - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 16/10
CINDY VEM AÍ
Está confirmada para o segundo semestre de 2013 uma grande retrospectiva da americana Cindy Sherman na Pinacoteca do Estado. Com centenas de obras da artista, a exposição foi uma das mais visitadas no MoMA, em Nova York, neste ano.
MALAFAIA FORA...
A coordenação da campanha de José Serra (PSDB-SP) se dividiu em relação à adesão explícita do pastor Silas Malafaia à campanha do tucano. Antes mesmo da revelação de que o próprio Serra, quando governador, autorizara a distribuição, em SP, de material anti-homofobia, que Malafaia chama de "kit gay", líderes do partido defendiam que o tema ficasse fora da campanha oficial.
...DE CONTROLE
Entre os contrários à entrada de Malafaia pela porta da frente na eleição estavam Edson Aparecido (PSDB-SP), coordenador da campanha de Serra, e Luiz González, marqueteiro do candidato.
CAIXA FORTE
O PT de São Paulo tenta organizar jantar de ministros paulistas do governo Dilma Rousseff, como Marta Suplicy, Aloizio Mercadante e Guido Mantega, com empresários em apoio a Fernando Haddad. A ideia é convidar os auxiliares da presidente - e atrair 400 convidados para o evento.
ROSADOS
A praça Roosevelt será palco do evento Existe Amor em SP, no domingo, com Criolo, Emicida, Gaby Amarantos e Karina Buhr. Será um evento "político, mas apartidário", segundo a organização, que pede a todos que se vistam de rosa-choque no dia.
No primeiro turno, eles foram mais explícitos ao armar, no mesmo lugar, o festival Amor Sim, Russomanno Não, com slogans como "Errar é Russomanno".
PEDE PRA ORAR
Os PMs de Cristo, grupo evangélico composto por policiais militares, acabam de lançar um livro.
"A Missão de Deus para o Policial" é de autoria do tenente-coronel Custódio Alves Barreto Neto.
#MENSALÃO
Levantamento nas redes sociais brasileiras entre 9/9 e 9/10 mostra que foram feitas 141.827 postagens tendo como assunto o julgamento do mensalão no STF. Só no dia em que José Dirceu foi condenado, foram 24.224. O Twitter foi a plataforma mais usada, sendo responsável por 100.090 posts. O juiz Joaquim Barbosa é o campeão de citações (17.949), seguido por Ricardo Lewandowski (11.656). O lanterninha foi Luiz Fux (3.660). Os dados são da agência Adbat/Tesla.
DIZEM QUE SOU LOUCO
Marcelo Adnet diz que foi "muito maneiro" atuar com o humorista Eduardo Sterblitch, do Pânico, no longa "Os Penetras". "O filme é um 'bromance', um romance de 'brothers' [irmãos], em que não há nenhum par romântico mais forte que nós dois. O Edu é um talento enorme com apenas 25 anos. Aos 40, ou vai estar louco, ou será um grande astro", afirma o comediante da MTV. O longa de Andrucha Waddington estreia no dia 30 de novembro.
INTERNACIONAL
Elaine Ramos, diretora de arte da Cosac Naify, foi convidada para a AGI (Alliance Graphique Internationale). Com ela, são seis brasileiros no grupo, que reúne 600 designers gráficos de 37 países.
HOMENAGEM
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos Calderón, será homenageado pelo Congresso Judaico Latino-Americano. O presidente da entidade, Jack Terpins, entrega a ele o prêmio Shalom, hoje, em Bogotá.
TUNTZ TUNTZ
A festa Superultralions aconteceu no Cine Joia, na Liberdade, na véspera do feriado. A cantora Anna Gelinskas, a modelo Marina Dias e a hostess e DJ Adriana Recchi estavam na balada organizada por Cacá Ribeiro, Bob Yang e Beto Cintra.
CURTO-CIRCUITO
"Gonzaga - De Pai pra Filho", de Breno Silveira, tem pré-estreia hoje, no Cinemark Eldorado. 12 anos.
O chef Viko Tangoda serve cardápio inspirado no filme "O Palhaço", no Mesa no Cinema - Menu CineSesc. Hoje, na rua Augusta, às 18h30 e às 21h30.
Abre hoje, no shopping Cidade Jardim, a primeira butique Red Valentino no Brasil. A partir das 10h.
A ONG Aldeias Infantis SOS Brasil lança hoje campanha de arrecadação.
Bem Gil, Bnegão, Otto e Karina Buhr estão entre os artistas que homenageiam os 70 anos de Gilberto Gil. Hoje, em show no Cine Joia, dentro do evento Trip Transformadores.
Os novos reféns - VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 16/10
Os homossexuais tornaram-se os novos reféns da política brasileira. O nível canino de certos embates políticos fez com que setores do pensamento conservador procurassem se aproveitar de momentos eleitorais para impor sua pauta de debates e preconceitos.
Eleições deveriam ser ocasiões para todos aqueles que compreendem a igualdade como valor supremo da República, independentemente de sua filiação partidária, lutarem por uma pauta de modernização social que inclua casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, permissão de adoção de crianças e constituição de família, além da criminalização de toda prática de homofobia e do engajamento direto do Estado na conscientização de seus cidadãos. Parece, no entanto, que nunca nos livraremos de nossos arcaísmos.
Alguns acreditam que se trata de liberdade de expressão admitir que certos religiosos façam pregações caracterizando homossexuais como perversos, doentes e portadores de graves desvios morais. Seguindo tal raciocínio, seria também questão de liberdade de expressão permitir que se diga que negros são seres inferiores ou que judeus mentem em relação ao Holocausto.
Sabemos muito bem, contudo, que nada disso é manifestação da liberdade de expressão. Na verdade, tratam-se de enunciados criminosos por reiterar proposições sempre usadas para alimentar o preconceito e a violência contra grupos com profundo histórico de exclusão social.
Nunca a democracia significou que tudo possa ser dito. Toda democracia reconhece que há um conjunto de enunciados que devem ser tratados como crime por fazer circular preconceitos e exclusão travestidos de "mera opinião".
Não há, atualmente, nenhum estudo sério em psiquiatria ou em psicologia que coloque o homossexualismo enquanto tal, como forma de parafrenia (categoria clínica que substituiu as perversões).
Em nenhum manual de psiquiatria (DSM ou CID) o homossexualismo aparece como doença. Da mesma forma, não há estudo algum que mostre que famílias homoparentais tenham mais problemas estruturais do que famílias compostas por heterossexuais.
Nenhum filósofo teria, hoje, o disparate de afirmar que o modelo de orientação sexual homossexual é um problema de ordem moral, até porque a afirmação de múltiplas formas de orientação sexual (à parte os casos que envolvam não consentimento e relação com crianças) é passível de universalização sem contradição.
Impedir que os homossexuais tornem-se periodicamente reféns de embates políticos é uma pauta que transcende os diretamente concernidos por tais problemas. Ela toca todos os que lutam por um país profundamente igualitário e republicano.
Luzes - SONIA RACY
O ESTADÃO - 16/10
Na berlinda, a renovação das concessões.
Luzes 2
A União está pressionando muito pela assinatura – com a devida contrapartida na redução de preços de energia elétrica. Em formatação prejudicial a acionistas e à empresa.
A Amec reúne 53 gestores, responsáveis por algo como R$ 500 bilhões.
No comando
Temer prepara mais uma intervenção no PMDB de SP. Ao menos seis diretórios zonais na cidade serão reestruturados. Quer acabar de vez com a influência de Bebetto Haddad, discípulo de Quércia.
A convenção acontece sábado.
Fé
Indagado pela ‘repórter’ Sonia Prado, dona da pousada Tangará, em Trancoso, FHC assim resumiu sua ótica sobre o segundo turno: “Vai ser difícil, temos de lutar, mas dá para o Serra ganhar”.
Ao sol na sexta, o tucano estava acompanhado pela família.
Estúdio VIP
O PT manterá um estúdio na sede do Instituto Lula neste segundo turno. Para facilitar a vida do ex-presidente.
Fora do tom
Tem cacique do PMDB revoltado comPedro Simon. O senador, que é do partido, defende, abertamente, a prorrogação dos trabalhos da CPI do Cachoeira.
Parece, mas…
Pelo Rio está Malenga Mandela, enteado de Nelson.
O moço “adotou” o sobrenome do padrasto, apesar de ser filho de Graça com o líder moçambicano Samora Machel.
Justiça
A defesa de Duda Mendonça e Zilmar Fernandes se mostrava otimista, ontem, antes de o STF começar sua sessão.
Para o advogado Kakay, toda essa discussão sobre lavagem de dinheiro favorece o publicitário. “Duda prestou serviço, foi pago, sem saber a origem do dinheiro, antes de a lei assim definir que isso é necessário”.
Vexame
Atenção: o avião da Centurion ficou na pista de Viracopos, parado, porque… a Infraero não tem equipamento para retirar a aeronave.
Pelo que se apurou, só a TAM possui, no País, os necessários balões para inflar embaixo do avião. Caríssimo, o equipamento – que fica locado na unidade de manutenção, em São Carlos – acabou sendo alugado pela Centurion.
48 horas
James Franco, ator de Hollywood, desembarca em São Paulo no dia 11 de novembro. O gatão chega a convite da Gucci e fica por aqui somente dois dias.
Farmácia
A produção de Madonna, que faz show no Morumbi em dezembro, inclui 90 alto-falantes, 700 peças de roupas e 29 caminhões.
E – pasmem – 410 frascos de aspirinas para a equipe de 130 pessoas.
Gato preto
Está feia a coisa. Sobrou até para o hotel em que o Palmeiras costuma se concentrar antes dos jogos, que, segundo fonte da coluna, “dá um azar danado.”
Superstições à parte, a ausência de Arnaldo Tirone – presidente do clube – domingo, no jogo contra o Náutico, foi criticada pela oposição e por parte dos aliados.
Cármens e ‘carmens’
Cármen Lúcia que se cuide. Já estão comparando a ministra do STF à… homônima Carminha, de Avenida Brasil. Motivo? As roupas de cor branca usadas pela magistrada nos últimos dias.
Na frente
Marcia Braga estará hoje na pré-estreia paulista de Gonzaga, de Pai para Filho– filme do qual é produtora, pela D+.
O Prêmio Portugal Telecom pilota, hoje e amanhã, conversas com seus finalistas. Na Livraria da Vila da Fradique Coutinho.
Renê de Paula lança o livro Joia. Hoje, na Cinemateca.
Gustavo Loyola faz conferência hoje, na abertura da Fenalaw. No Centro de Convenções Frei Caneca.
Carlos Motta e Etel Carmona firmaram parceria. A linha Atelier, do designer, será relançada pela loja Etel. Em novembro.
A TAM reformulou a primeira classe de seus quatro novos Boeings 777. Poltronas reclináveis que viram cama, sofá, closets individuais e até piso que remete… ao calçadão de Copacabana.
A nova classe alta - NIZAN GUANAES
FOLHA DE SP - 16/10
Da mesma forma que é preciso educar a população em geral, é preciso também educar os filhos da elite
Depois da nova classe média, este país precisa de uma nova classe alta. O Brasil moderno exigirá uma nova elite. Que é bem diferente de uma casta: um dinheiro responsável que seja gasto assim como foi feito, com o bom-senso das madrugadas e do suor, misturando vitórias e tragédias, mas sempre com muito respeito e espírito público.
Não quero desrespeitar ninguém com generalizações porque toda generalização é burra, mas, muitas vezes, o pai funda e o filho afunda.
Da mesma forma que é preciso educar a população em geral, é preciso também educar os filhos da elite. E, em muitos sentidos, a educação pública tem tido proporcionalmente mais avanços do que a privada.
O Brasil que mais cedo do que tarde terá assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e será ouvido em todos os fóruns importantes do mundo precisa preparar os jovens brasileiros para serem futuros líderes globais. Mas, além de falar o bom inglês, eles precisarão também falar fluentemente o português.
Não acredito numa sociedade dividida por preconceitos e ódios. Essa sanha contra os ricos que está acontecendo na França não vai levar a França a lugar nenhum. Mas o novo Brasil construído por um intelectual professor, um líder sindical e uma economista vítima da ditadura exige uma elite à altura desse momento maior do Brasil. Um momento maior, mas não um momento fácil, porque o mundo será cada vez mais competitivo.
Essa elite (à qual pertenço) às vezes parece mais mobilizada para educar os pobres do que os próprios filhos -casa de ferreiro, espeto de pau.
Mas não educar bem uma criança, deixá-la crescer no shopping center, consumindo loucamente sem ter desafios e sonhos que transcendam um abdome de tanquinho e o próximo modelo de iPhone, é falta de amor com ela e falta de responsabilidade com o país.
Levei recentemente um de meus filhos para testes de admissão em duas escolas americanas de elite. Lá encontrei muitos pais chineses, indianos. E nada de brasileiros.
O português tão ouvido nas lojas de Nova York e Miami é bem menos ouvido na Harvard que eu e o meu Antônio visitamos.
Se você é brasileiro e quer ter um caso secreto em Nova York, leve sua namorada para uma biblioteca.
Visitei Bill Gates em sua casa e me emocionei andando pela biblioteca dele. Estão lá os mais importantes livros da civilização humana nas suas primeiras edições. E é óbvio que o dono daquela biblioteca vai dividi-la com o mundo quando não estiver mais nele.
Ser rico é um privilégio, um direito e também uma responsabilidade.
Nasci no Pelourinho, no largo do Carmo, número 4. Descia a ladeira do Carmo e subia o Pelô todos os dias para ir ao colégio Maristas. Eu ia de ônibus, e a escola era mais cara do que meus pais podiam pagar. Não era escola... Era um investimento.
Meu pai, que era médico, foi para a Inglaterra com bolsa de estudos do governo e me levou para aprender inglês, conhecer o mundo e não ter medo dele. Meu avô Demócrito Mansur de Carvalho, líder sindical comunista, ensinou-me a amar Castro Alves. Minha mãe, a amar Pablo Neruda e Machado de Assis.
Meu pai me ligou para me comunicar a morte de Vinicius com a voz embargada de quem perdeu um amigo. E eles eram todos amigos nossos, porque minha família era amiga dos livros.
Eu devo aos meus pais e ao esforço deles de sacrificar uma parcela significativa do que ganhavam para me dar ao luxo de estudar o fato de eu estar preparado para uma vida e um mundo maiores do que o mundo no qual eu nasci.
E graças a eles eu cheguei até onde cheguei: colunista desta Folha.
A classe média, a tradicional e a nova, têm motivos óbvios para estudar e se qualificar: um mercado de trabalho cheio de oportunidades para subir na vida, avançar materialmente.
Já a classe alta tem motivos tão nobres quanto, embora nem sempre tão evidentes: liderar essa transformação com valores includentes, iluministas e brasileiros.
Efeitos especiais - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 16/10
Delegando a exploração do chamado ''kit gay'' aos apoiadores evangélicos, a campanha de José Serra reforçará a estratégia de desconstrução do programa de governo de Fernando Haddad. A ofensiva lançada ontem por Aloysio Nunes e Alberto Goldman, comparando o Arco do Futuro ao Fura-Fila de Celso Pitta, deve ganhar a propaganda de TV. O QG serrista entende que a crítica à inexperiência de Haddad passa pela tentativa de demonstrar que sua plataforma é "virtual".
Arco da velha Já o PT quer usar linguagem mais coloquial para explicar o Arco do Futuro. Haddadistas admitem que texto é de difícil compreensão na periferia, polo potencial de geração de emprego e renda no plano.
Oremos Sob pressão da ala evangélica da campanha, Serra retirou do programa de governo lançado ontem item que previa a expansão do Cidade Limpa para combater poluição sonora. Vereadores e pastores temiam que os templos virassem alvo.
Caipira Serra convocará prefeitos eleitos por PSDB e aliados no interior para mutirão de apoio à sua candidatura. O tucano discursa hoje à noite para o grupo.
#oioioi Do vereador eleito Andrea Matarazzo sobre o PT ter mudado a data do comício com Dilma para não coincidir com o último capítulo de "Avenida Brasil": "Haddad tem menos prestígio com a presidente que Tufão com a Carminha".
Útil... Interlocutores do Planalto comunicaram João Santana da decisão de Dilma de participar do comício de Haddad na sexta, mas o marqueteiro pediu para trocar a data com Salvador.
... ao agradável Santana pediu uma gravação à tarde, com luz do sol, da presidente com Lula e Haddad, o que só era viável no fim de semana. Assim, Dilma vai ao palanque de Nelson Pelegrino na sexta e ao de Haddad no sábado.
Aqui não O PMDB interpretou o lançamento de Sérgio Cabral para vice de Dilma como reação do governador às especulações de que Gabriel Chalita viraria ministro. Peemedebistas afirmam que Cabral espera convite para a Esplanada ainda em 2013.
Operação casada Correligionários do prefeito avaliaram que a declaração de Eduardo Paes foi feita em comum acordo com Cabral e após conversa animada com o ex-presidente Lula na semana passada em São Paulo.
Veja bem Diante do mal estar, Cabral telefonou a Michel Temer no domingo. Disse que pretende ficar no governo até o fim do mandato.
Alívio... Ao saber da absolvição pelo STF ontem, Zilmar Fernandes chorou ao telefone com os advogados Antonio Carlos de Almeida Castro e Luciano Feldens. Repetia: "Foi Deus que colocou vocês na minha vida".
... imediato Zilmar e seu sócio, Duda Mendonça, trocaram de advogados na véspera do julgamento do mensalão. Informado da decisão do Supremo favorável a ele, o publicitário chegou a gritar, emocionado, ao telefone.
Trincheiras Discreto na montagem do PSD no interior, Gilberto Kassab considera ponto de honra reeleger Dárcy Vera contra Duarte Nogueira, candidato de Geraldo Alckmin, em Ribeirão Preto.
Pop Kassab festeja a reeleição de Marco Bertaiolli em Mogi das Cruzes, com 80% de votos. Ao menos lá, o prefeito da capital foi estrela na TV.
Visita à Folha Rosana Chiavassa, candidata à presidência da OAB-SP, visitou ontem a Folha. Estava acompanhada de Viviane Nunes, assessora de imprensa.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
Esse Brizola Neto, que apoia o Haddad, é aquele que veio a SP dizer que a Revolução de 32 era golpe da elite contra os trabalhadores?
DO TESOUREIRO DO PSDB PAULISTANO, FÁBIO LEPIQUE, sobre o ministro do Trabalho expressar apoio ao petista, contrariando a direção de seu partido.
Contraponto
O amor está no ar
Durante visita ao bairro Cidade Dutra, zona sul de São Paulo, no sábado passado, José Serra resolveu entrar num açougue da avenida Teotônio Vilela. Na fila para comprar carne, um cliente aproveitou-se da proximidade com o tucano e disse, em voz alta:
-Serra, você vai me desculpar, mas eu preciso dizer uma coisa: eu te amo!
O rapaz, aparentando ter 30 anos, não esperou a reação de Serra e deu-lhe um beijo no rosto.
Um dos assessores do ex-governador comentou:
-Campanha é assim: até candidato sisudo vira galã.