O GLOBO - 09/10
Eduardo Paes, em seu segundo mandato, vai fechar para os carros a Rua 1° de Março, uma das mais importantes do Centro do Rio. O plano, já traçado com a Empresa Olímpica Municipal, é transformá-la numa via do BRT Transbrasil, corredor exclusivo para ônibus articulados de transporte de massa.
A previsão é iniciar as obras até o segundo semestre de 2013.
Segue...
Hoje, pela 1° de Março, no horário de pico, passam cerca de 600 ônibus comuns, além de centenas de carros.
Os veículos articulados, por dia, transportarão umas 900 mil pessoas.
Fator Freixo
Veja como, na cidade do Rio, o “filho” PSOL, nascido de uma costela do PT, venceu o “pai’! O partido de Freixo elegeu o mesmo número de vereadores que os petistas (quatro).
Mas, no quesito votos de legenda, considerado o mais ideológico, foi uma lavada —114.933 do PSOL, contra 20.845 do PT, que apoia Paes.
País dos remédios
O Ministério da Saúde vai visitar 35 mil lares, numa grande pesquisa, para descobrir quais os remédios mais usados pelos brasileiros.
O Brasil está entre os dez países que mais comercializam remédios.
Coisa nossa
Acabaram os 2.800 ingressos para ver Paulo Szot, nosso cantor lírico, no Carnegie Hall, em Nova York, sexta.
Oi, oi, oi
Desabafo de uma vendedora da loja Accessorize, do Shopping Leblon, no Rio, com uma cliente, ao ver o shopping vazio, por volta de 21h:
— É essa novela “Avenida Brasil”! Tem freguesa que desiste do que já escolheu para correr e ver Carminha!
MUNDO ANIMAL
A Secretaria estadual do Ambiente lança no fim do mês uma grande campanha nas TVs, rádios e jornais, focada nas dez espécies mais ameaçadas de extinção no Rio. A ideia, conta o secretário Carlos Minc, é divulgar o que ameaça nossos bichos e o que podemos fazer para protegê-los. A campanha, concebida pela DPZ, vai associar animais domésticos aos silvestres em perigo. Veja acima. “Milhares de pessoas amam de paixão seus cachorrinhos e gatos. Mas a maioria não conhece e não convive, por exemplo, com o macaco muriqui (o peludo na imagem maior), o tatu, a preguiça”, diz Minc. “Pode ser um bom apelo afetivo, para dar mais força à campanha de defesa da biodiversidade, tão desconhecida e ameaçada.” Que Deus proteja nossos bichos e a nós não desampare jamais.
Doutor AntunesA vida do empresário Augusto Trajano de Azevedo Antunes (1906-1996), que foi uma espécie de Rockfeller brasileiro, atuando em gigantescos projetos de mineração e logística, vai virar filme.
Dirigido por Sérgio Santos, o longa trará um depoimento de Eliezer Batista, que foi, durante certo tempo, seu braço direito.
Na carreiraChico Buarque voltou a postar em seu site Chicobastidores.com.br.
Vai pôr trechos inéditos de entrevistas. Hoje, falará por que decidiu parar a turnê do show “Chico” quando está no auge.
“É melhor parar quando a gente acha que está próximo do que consideramos a perfeição.”
‘Ganga bruta’Alice Gonzaga, presidente da Cinédia, ficou surpresa ao saber que o clássico “Ganga bruta” (1933), de Humberto Mauro, será exibido no MoMa, em Nova York, dia 29. Diz que já acionou seus advogados:
— É bom que o filme seja exibido, mas não sem autorização! Quero saber quem enviou a cópia para lá, pois é patrimônio da Cinédia.
Tesouro leiloadoUma raridade vai a leilão amanhã no pregão de colecionismo de Alberto Youle, no Rio — o livro “Joan Miró” de 1950, de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), do qual o grande poeta imprimiu apenas 130 exemplares em sua prensa manual (todos autografados por ele e por Miró).
O lance mínimo é de R$ 4 mil.
Crime e castigoO juiz Rafael Estrela, do TJ-RJ, marcou para hoje e quinta, às 13h, a audiência de instrução e julgamento de cerca de 30 policiais civis, militares e informantes presos na chamada Operação Herdeiros, em dezembro do ano passado.
Segundo o Ministério Público, eles desviavam armas, drogas e dinheiro apreendidos em favelas e vendiam a quadrilhas rivais.
Olhai por nós em 14
A Adidas planeja pôr uma réplica gigante da bola da Copa de 14 aos pés do nosso Cristo Redentor.
Esteve ministro
Eduardo Portella, o acadêmico que comandou o MEC de 1979 a 1980, no governo Figueiredo, e ainda hoje é lembrado pela declaração “não sou ministro, estou ministro”, fez 80 anos ontem e será homenageado pela ABL.
Quinta, haverá exposição e mesa-redonda sobre sua vida.
Ai, que sede
A administração do Fashion Mall, o shopping dos bacanas no Rio, atrasou a conta da Cedae, e a água foi cortada.
A dívida, de uns R$ 80 mil, foi paga ontem.
terça-feira, outubro 09, 2012
Chávez ganhou. Mas levará? - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 09/10
Saúde do presidente ainda dá margem a perguntas sobre por quanto tempo poderá "soprar o vento"
Hugo Chávez avisou durante a campanha eleitoral: "Não se enganem com este velho. O vento também é velho, mais ainda sopra".
O vento Chávez soprou de novo na Venezuela, ainda que com menos intensidade do que em presidenciais anteriores. Os motivos foram expostos aqui, no dia 30 (http://folha.com/no1161633).
Restam agora as perguntas que o triunfo do presidente não respondeu. A maior delas: por quanto tempo ainda soprará o vento, depois de três operações de câncer que o debilitaram, a ponto de reduzir o ritmo de sua atividade eleitoral?
Substituir um caudilho é operação complexa em qualquer circunstância, até porque não me lembro de "ismo" que tenha sobrevivido a seu criador. Será diferente com o "chavismo"?
No caso dele, a substituição é ainda mais complexa porque a legislação obriga a convocar novas eleições (em 30 dias), se o presidente morrer ou ficar inabilitado nos quatro primeiros anos de seus seis de mandato.
Em uma nova eleição, sem Chávez, o "chavismo" tende a ser batido por uma oposição que capturou 45% dos votos, o que não é pouco.
Afinal, como escreveu Shannon O'Neil (Council on Foreign Relations), no caso da morte de Chávez, "é improvável que qualquer outra pessoa possa preencher o vazio de liderança". À pergunta principal, segue-se outra, com certo parentesco: Chávez já disse que aguenta o tranco até 2019 (já não citou 2030, seu prazo anterior de validade), o que dá a entender que intui que vai cumprir seu último mandato, devido às condições de saúde.
Se é assim mesmo, qual será o foco do novo mandato: colocar uma tranca sólida no seu modelo, de forma a que seja irreversível, como já disse, ou corrigir os erros que reconheceu na reta final da campanha?
O vice-presidente Elias Jaua prefere a primeira hipótese, conforme declarou à Reuters: anunciou a intenção de "fortalecer o controle [pelo Estado] de elementos estratégicos da economia, como a energia, a alimentação popular e os insumos de construção".
Mais estatizações à vista, pois, o que seria acompanhado, na área política, por "um regime mais intolerante com a dissidência", como afirmou ao site "AméricaEconomia" o cientista político Javier Corrales, autor de livro sobre a era Chávez.
Há, porém, quem aposte numa eventual moderação, como o ex-embaixador dos EUA em Caracas Patrick Duddy.
Sugeriu que, se a eleição fosse julgada "aceitavelmente livre e justa", os EUA "deveriam resetar as relações bilaterais, com vistas a uma eventual renovação de comunicações de alto nível em áreas de mútuo interesse".
Como a oposição aceitou os resultados, está dada a situação para Washington apertar o "reset".
Meu palpite: parece ilógico supor que Chávez não esteja sendo atualizado pelos líderes cubanos, nos quais tem plena confiança, sobre os problemas que enfrenta na ilha o socialismo do século 20, de tal forma a evitar aprofundar rumo idêntico no seu socialismo do século 21. A ver.
Saúde do presidente ainda dá margem a perguntas sobre por quanto tempo poderá "soprar o vento"
Hugo Chávez avisou durante a campanha eleitoral: "Não se enganem com este velho. O vento também é velho, mais ainda sopra".
O vento Chávez soprou de novo na Venezuela, ainda que com menos intensidade do que em presidenciais anteriores. Os motivos foram expostos aqui, no dia 30 (http://folha.com/no1161633).
Restam agora as perguntas que o triunfo do presidente não respondeu. A maior delas: por quanto tempo ainda soprará o vento, depois de três operações de câncer que o debilitaram, a ponto de reduzir o ritmo de sua atividade eleitoral?
Substituir um caudilho é operação complexa em qualquer circunstância, até porque não me lembro de "ismo" que tenha sobrevivido a seu criador. Será diferente com o "chavismo"?
No caso dele, a substituição é ainda mais complexa porque a legislação obriga a convocar novas eleições (em 30 dias), se o presidente morrer ou ficar inabilitado nos quatro primeiros anos de seus seis de mandato.
Em uma nova eleição, sem Chávez, o "chavismo" tende a ser batido por uma oposição que capturou 45% dos votos, o que não é pouco.
Afinal, como escreveu Shannon O'Neil (Council on Foreign Relations), no caso da morte de Chávez, "é improvável que qualquer outra pessoa possa preencher o vazio de liderança". À pergunta principal, segue-se outra, com certo parentesco: Chávez já disse que aguenta o tranco até 2019 (já não citou 2030, seu prazo anterior de validade), o que dá a entender que intui que vai cumprir seu último mandato, devido às condições de saúde.
Se é assim mesmo, qual será o foco do novo mandato: colocar uma tranca sólida no seu modelo, de forma a que seja irreversível, como já disse, ou corrigir os erros que reconheceu na reta final da campanha?
O vice-presidente Elias Jaua prefere a primeira hipótese, conforme declarou à Reuters: anunciou a intenção de "fortalecer o controle [pelo Estado] de elementos estratégicos da economia, como a energia, a alimentação popular e os insumos de construção".
Mais estatizações à vista, pois, o que seria acompanhado, na área política, por "um regime mais intolerante com a dissidência", como afirmou ao site "AméricaEconomia" o cientista político Javier Corrales, autor de livro sobre a era Chávez.
Há, porém, quem aposte numa eventual moderação, como o ex-embaixador dos EUA em Caracas Patrick Duddy.
Sugeriu que, se a eleição fosse julgada "aceitavelmente livre e justa", os EUA "deveriam resetar as relações bilaterais, com vistas a uma eventual renovação de comunicações de alto nível em áreas de mútuo interesse".
Como a oposição aceitou os resultados, está dada a situação para Washington apertar o "reset".
Meu palpite: parece ilógico supor que Chávez não esteja sendo atualizado pelos líderes cubanos, nos quais tem plena confiança, sobre os problemas que enfrenta na ilha o socialismo do século 20, de tal forma a evitar aprofundar rumo idêntico no seu socialismo do século 21. A ver.
O dilúvio da corrupção - CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SP - 09/10
RIO DE JANEIRO - Teremos hoje, pelo menos assim está programado, o segundo tempo do complicado debate no Supremo Tribunal Federal, cujo placar é de 3 x 1 pela condenação da maioria dos réus da chamada ação penal 470, também conhecida como mensalão. Além do prognóstico que cada um faça sobre o resultado final, acredito que duas conclusões podem ser tiradas desde agora.
Primeira: a falência da democracia dita "representativa". Operada pelo voto direto e livre, fiscalizada por um tribunal específico e pela opinião pública e publicada, ela cria condições em vários níveis e modos para a corrupção -da qual, a política em si mesma não está livre. Ao contrário: pelos indícios, com ou sem provas, o homem comum ficou sabendo (se é que ainda não sabia) que o processo adotado universalmente (com exceção das ditaduras) facilita e até estimula a prática de atos ilícitos ou criminosos.
Na velha república, a corrupção era risonha e franca com as eleições a bico de pena, roubo de urnas, currais dominados por coronéis à paisana ou fardados. A corrupção era a mesma, talvez pior.
Segunda: surgido da resistência à ditadura de 1964, o Partido dos Trabalhadores firmou-se como uma vanguarda da democracia, da moralidade e da justiça social. O mensalão, qualquer que seja o resultado final da ação penal 470, escancarou suas entranhas de forma irreversível. Entre os principais réus do processo em curso no STF, figuram dois resistentes à ditadura que chegaram a colocar a vida e a liberdade pessoal contra a truculência do regime militar. E agora, Josés, Dirceu e Genoino?
Fica em aberto a culpa da cúpula do governo anterior, governo licitamente conquistado pelo PT. No dilúvio da corrupção, a arca de Noé está fazendo água.
RIO DE JANEIRO - Teremos hoje, pelo menos assim está programado, o segundo tempo do complicado debate no Supremo Tribunal Federal, cujo placar é de 3 x 1 pela condenação da maioria dos réus da chamada ação penal 470, também conhecida como mensalão. Além do prognóstico que cada um faça sobre o resultado final, acredito que duas conclusões podem ser tiradas desde agora.
Primeira: a falência da democracia dita "representativa". Operada pelo voto direto e livre, fiscalizada por um tribunal específico e pela opinião pública e publicada, ela cria condições em vários níveis e modos para a corrupção -da qual, a política em si mesma não está livre. Ao contrário: pelos indícios, com ou sem provas, o homem comum ficou sabendo (se é que ainda não sabia) que o processo adotado universalmente (com exceção das ditaduras) facilita e até estimula a prática de atos ilícitos ou criminosos.
Na velha república, a corrupção era risonha e franca com as eleições a bico de pena, roubo de urnas, currais dominados por coronéis à paisana ou fardados. A corrupção era a mesma, talvez pior.
Segunda: surgido da resistência à ditadura de 1964, o Partido dos Trabalhadores firmou-se como uma vanguarda da democracia, da moralidade e da justiça social. O mensalão, qualquer que seja o resultado final da ação penal 470, escancarou suas entranhas de forma irreversível. Entre os principais réus do processo em curso no STF, figuram dois resistentes à ditadura que chegaram a colocar a vida e a liberdade pessoal contra a truculência do regime militar. E agora, Josés, Dirceu e Genoino?
Fica em aberto a culpa da cúpula do governo anterior, governo licitamente conquistado pelo PT. No dilúvio da corrupção, a arca de Noé está fazendo água.
Dilma e a vassourada - GUILHERME FIUZA
REVISTA ÉPOCA
Enquanto o mensalão continua em cartaz como um filme de época, com exclamações indignadas sobre aqueles tempos terríveis, os herdeiros do esquema vão muito bem, obrigado. A plateia do julgamento ainda está se perguntando: será que Lula sabia? Então o PT comprou mesmo apoio político? Ora, vamos apressar esse filme velho. O final é o seguinte: deu tudo certo, e os mensaleiros da novíssima geração governam o Brasil.
Nem é preciso escutar horas de Joaquim Barbosa, depois horas de Lewandowski dizendo que não foi bem assim, para entender o esquema que tomou de assalto (com duplo sentido) o Estado brasileiro. Vale mais, neste momento, prestar atenção a um ex-ministro do Supremo. O que aconteceu afinal com Sepúlveda Pertence?
É simples: ele acaba de abandonar a Comissão de Ética da Presidência da República, por causa de um novíssimo escândalo. Ou seria mais correto dizer, um novo capítulo do velho escândalo.
A sucessora boazinha de Lula, que não tem nada a ver com os aloprados do padrinho e ainda faz faxina duas vezes por semana, cassou na mão grande dois membros da Comissão de Ética.
Enquanto a plateia se distraía com o faroeste do mensalão, Dilma Rousseff sacou mais rápido e executou a sangue-frio os conselheiros Marília Muricy e Fábio Coutinho. Qual teria sido o pecado da dupla fuzilada?
Um pecado mortal: levantar o tapete e mostrar a sujeira guardada pela faxineira. Marília foi quem propôs a demissão do ministro bufão Carlos Lupi, que Dilma tentava manter a todo custo, com sua grande família de ONGs companheiras. O esquema de Lupi no Ministério do Trabalho, de que Dilma era madrinha, nada mais era do que um dos muitos filhotes gordos do mensalão. O DNA do valerioduto estava lá: fabricação de contratos e convênios fantasmas para sugar dinheiro público para o partido que sustenta o governo. A mesmíssima compra e venda de apoio político que arrepia o país na oratória de Joaquim Barbosa.
Como se sabe, o voto de Marília Muricy foi o empurrão que faltava para a demissão de Carlos Lupi, para Dilma não ter mais como segurá-lo. E, como também se sabe, na ocasião a presidente jurou de morte a Comissão de Ética da Presidência. Só esperou o momento certo para cortar a cabeça da conselheira sem chamar a atenção.
Fábio Coutinho, o outro decapitado, cometeu pecado ainda mais grave: mexeu com o companheiro de fé Fernando Pimentel, amigo e irmão camarada da presidente, atual ministro vegetativo do Desenvolvimento. Fábio não entende nada de ética companheira. Achou que as milionárias consultorias fantasmas de Pimentel à Federação das Indústrias de Minas Gerais não eram corretas. O desavisado conselheiro não sabia que, conforme a tecnologia mensaleira, incorreto é não aproveitar o poder para encher o caixa da revolução.
Às vésperas das eleições municipais, Dilma mandou o pecador para a vala. Preservou, assim, a ficha mais ou menos limpa do guerrilheiro consultor, que é cacique petista nas urnas de Belo Horizonte e precisa estar livre para a missão de todo maquinista companheiro: catar votos e preservar cabides.
A operação cala-boca que revoltou Sepúlveda Pertence e o levou a pedir demissão foi muito bem feita. Dilma deixou por algum tempo os dois conselheiros marcados para morrer na geladeira. Retardou a dupla substituição já decidida, para melar as reuniões da Comissão de 27 de agosto e 3 de setembro - período chato para tratar de ética, com eleição a caminho e mensalão em cartaz. Sepúlveda renunciou à presidência da Comissão, e a plateia não deu a menor bola para ele. Gol dos companheiros. Como disse Lula sobre o mensalão, o que importa agora é a eleição. É o momento de os 4 quadros” petistas que engordaram em cargos de nomeação irem à luta dos cargos eletivos. O professor Márcio Pochmann, especialista em adestramento progressista de dados, interventor da revolução popular no Ipea, concorre a prefeito de Campinas. A grande aposta, até o fechamento desta edição, era o príncipe do Enem Fernando Haddad, que prometia fazer com São Paulo o que fez com os vestibulandos de todo o Brasil.
Como se vê, o esquema vai de vento em popa. Os condenados no STF não precisam se preocupar. Seus herdeiros poderosos haverão de saber recompensá-los.
Enquanto o mensalão continua em cartaz como um filme de época, com exclamações indignadas sobre aqueles tempos terríveis, os herdeiros do esquema vão muito bem, obrigado. A plateia do julgamento ainda está se perguntando: será que Lula sabia? Então o PT comprou mesmo apoio político? Ora, vamos apressar esse filme velho. O final é o seguinte: deu tudo certo, e os mensaleiros da novíssima geração governam o Brasil.
Nem é preciso escutar horas de Joaquim Barbosa, depois horas de Lewandowski dizendo que não foi bem assim, para entender o esquema que tomou de assalto (com duplo sentido) o Estado brasileiro. Vale mais, neste momento, prestar atenção a um ex-ministro do Supremo. O que aconteceu afinal com Sepúlveda Pertence?
É simples: ele acaba de abandonar a Comissão de Ética da Presidência da República, por causa de um novíssimo escândalo. Ou seria mais correto dizer, um novo capítulo do velho escândalo.
A sucessora boazinha de Lula, que não tem nada a ver com os aloprados do padrinho e ainda faz faxina duas vezes por semana, cassou na mão grande dois membros da Comissão de Ética.
Enquanto a plateia se distraía com o faroeste do mensalão, Dilma Rousseff sacou mais rápido e executou a sangue-frio os conselheiros Marília Muricy e Fábio Coutinho. Qual teria sido o pecado da dupla fuzilada?
Um pecado mortal: levantar o tapete e mostrar a sujeira guardada pela faxineira. Marília foi quem propôs a demissão do ministro bufão Carlos Lupi, que Dilma tentava manter a todo custo, com sua grande família de ONGs companheiras. O esquema de Lupi no Ministério do Trabalho, de que Dilma era madrinha, nada mais era do que um dos muitos filhotes gordos do mensalão. O DNA do valerioduto estava lá: fabricação de contratos e convênios fantasmas para sugar dinheiro público para o partido que sustenta o governo. A mesmíssima compra e venda de apoio político que arrepia o país na oratória de Joaquim Barbosa.
Como se sabe, o voto de Marília Muricy foi o empurrão que faltava para a demissão de Carlos Lupi, para Dilma não ter mais como segurá-lo. E, como também se sabe, na ocasião a presidente jurou de morte a Comissão de Ética da Presidência. Só esperou o momento certo para cortar a cabeça da conselheira sem chamar a atenção.
Fábio Coutinho, o outro decapitado, cometeu pecado ainda mais grave: mexeu com o companheiro de fé Fernando Pimentel, amigo e irmão camarada da presidente, atual ministro vegetativo do Desenvolvimento. Fábio não entende nada de ética companheira. Achou que as milionárias consultorias fantasmas de Pimentel à Federação das Indústrias de Minas Gerais não eram corretas. O desavisado conselheiro não sabia que, conforme a tecnologia mensaleira, incorreto é não aproveitar o poder para encher o caixa da revolução.
Às vésperas das eleições municipais, Dilma mandou o pecador para a vala. Preservou, assim, a ficha mais ou menos limpa do guerrilheiro consultor, que é cacique petista nas urnas de Belo Horizonte e precisa estar livre para a missão de todo maquinista companheiro: catar votos e preservar cabides.
A operação cala-boca que revoltou Sepúlveda Pertence e o levou a pedir demissão foi muito bem feita. Dilma deixou por algum tempo os dois conselheiros marcados para morrer na geladeira. Retardou a dupla substituição já decidida, para melar as reuniões da Comissão de 27 de agosto e 3 de setembro - período chato para tratar de ética, com eleição a caminho e mensalão em cartaz. Sepúlveda renunciou à presidência da Comissão, e a plateia não deu a menor bola para ele. Gol dos companheiros. Como disse Lula sobre o mensalão, o que importa agora é a eleição. É o momento de os 4 quadros” petistas que engordaram em cargos de nomeação irem à luta dos cargos eletivos. O professor Márcio Pochmann, especialista em adestramento progressista de dados, interventor da revolução popular no Ipea, concorre a prefeito de Campinas. A grande aposta, até o fechamento desta edição, era o príncipe do Enem Fernando Haddad, que prometia fazer com São Paulo o que fez com os vestibulandos de todo o Brasil.
Como se vê, o esquema vai de vento em popa. Os condenados no STF não precisam se preocupar. Seus herdeiros poderosos haverão de saber recompensá-los.
O supremo trabalho - ROBERTO DaMATTA
REVISTA ÉPOCA
Quando visitei os Estados Unidos pela primeira vez, em setembro de 1963, para estudar em Harvard, ouvi de um amigo que todo americano tinha um médico, uma igreja e um advogado. Não fiquei surpreso com o módico nem com a igreja, porque desde criança tinha visto médicos dando consulta em nossa casa com seis irmãos, enquanto a igreja era parte de nossas vidas dominicais. O advogado como um componente da vida rotineira me deixou curioso. Ò amigo disse: “Nas democracias, como você sabe (eu não sabia, mas fingi saber), há muitas disputas e conflitos, daí a necessidade do advogado”. Esse jovem professor assistente, Richard Moneygrand, divorciou-se de sua primeira mulher meses depois dessa observação. Foi uma separação conflituosa, cm que o advogado teve um relevante papel no equilíbrio legal e psicológico do meu amigo americano. Era um elemento de moderação básico, num sistema em que a liberdade era um direito e a igualdade um valor. No caso, a uma separação entre um casal que passou da paixão incontida e eterna à extrema indiferença por parte do amante masculino, cujo projeto não era mais a mulher, mas uma outra com quem logo em seguida casou-se e da qual divorciou-se novamente. Um outro amor que o protagonista tinha, conforme me explicou Richard com todas as letras, direito constitucional. Para ele, os americanos (e todos os seres humanos, homens ou mulheres, velhos ou jovens, ricos ou pobres) tinham assegurado o direito à felicidade. Que, para meu amigo, incluía não apenas o conforto material sem ostentação, mas o amor. O tal "love” de que eu tanto gostava e que era o personagem principal de um estilo de música popular tão sofisticado.
Foi nesses primeiros meses que tive, como ocorreu igualmente com um visitante ilustre que me antecedeu em 1831 - Alexis de Tocqueville a noção de duas dimensões indispensáveis a uma democracia. À primeira era a moderação, cujo papel era representado pelo advogado. A segunda era o conflito aberto e horizontalizado, em que as pessoas entravam não como representantes de grupos ou de valores morais, mas individualmente. Como subjetividades autônomas e por sua livre e espontânea vontade.
Digo tudo isso porque Lenho acompanhado o julgamento do mensalão petista (há um outro, tucano) e visto a transformação pela qual tem passado nossa cultura jurídica. Conforme eu mesmo escrevi nestas páginas, o direito afetava muito mais os doutores, enquanto o rigor da lei destinava-se às pessoas comuns. É notável ver como, nesse caso, a discussão da lei pelos ilustres membros da nossa Corte Suprema tornou-se clara e inteligível. Ao mesmo tempo que altas personalidades de um governo singular, um governo cuja figura mais importante era um pobre de Deus, um homem que passou fome - e o partido dessa administração, o Partido dos Trabalhadores (PT), se apresentava como um rigoroso defensor dos direitos do povo e de um sistema igualitário -, são sujeitas a um fulminante libelo do procurador geral da República, e têm sido condenadas pela corte num espantoso trabalho de aplicação da lei.
Quando me perguntam o que pode ocorrer depois desse julgamento, ou no que esse julgamento “vai dar”, respondo que ele é o fato mais inusitado da nossa vida republicana. Tanto ou mais que a ascensão do PT ao poder federal.
Pela primeira vez no Brasil, o STF atua no sentido de julgar atos ilícitos de nada mais nada menos que um ministro chefe da Casa Civil, um presidente do partido no poder, parlamentares desse partido, sua negociada e comprada base aliada, e os figurantes de todo esse esquema de corrupção que atuava com a mais plena certeza de que a lei se aplicava apenas a pessoa comuns, jamais aos donos do poder.
O fato de romper a hierarquia que sempre personalizou nosso estilo de fazer política, a dimensão profundamente igualitária com que os autos foram ordenados, a acusação e a defesa foram realizadas, revela uma mudança de postura na aplicação da lei que terá resultados exemplares. Jamais dentro da vertente vertical de nosso sistema político,
que sempre condenou os operadores, salvando e inocentando os mandantes e cabeças, se viu tanta “gente grande” e poderosa ser condenada. Nada me dá mais satisfação que ver ministros do Supremo “batendo boca”, tal como o cidadão comum que toma partido apaixonado pela honestidade nos altos cargos de poder e entre as pessoas que os ocupam. No fundo, a atuação do ministro Joaquim Barbosa faz dele a peça que faltava ao nosso jogo democrático, que requer moderação sem dispensar o que sobra nesse juiz: a sinceridade!
Há, pois, no trabalho do Supremo não apenas uma mudança de modelo de poder, quebrando sua dimensão vertical ou hierárquica, e fazendo com que ela se curve diante do ideal igualitário e horizontal, mas, sobretudo, o desvendamento das entranhas de um partido sem pejo de atingir seus fins por quaisquer meios.
Escrevo numa quarta-feira, longe portanto das eleições e do final do julgamento. Mesmo sem uma bola de cristal, posso dizer, sem medo do erro ou do exagero, que esse episódio jurídico-político é um evento expressivo de uma virada. Um rito de passagem que desloca e ilegítima o “Você sabe com quem está falando?"1, substituindo-o pelo mais sensato e correto “Quem você pensa que é?” - essa pergunta normal de qualquer sistema democrático, liberal e igualitário. Esses sistemas em que a moderação no uso do poder se faz por mediações da lei, dos advogados e dos juizes. E nos quais, todos os dias, os representantes do povo se afinam com os cargos que o povo lhes conferiu.
Quando visitei os Estados Unidos pela primeira vez, em setembro de 1963, para estudar em Harvard, ouvi de um amigo que todo americano tinha um médico, uma igreja e um advogado. Não fiquei surpreso com o módico nem com a igreja, porque desde criança tinha visto médicos dando consulta em nossa casa com seis irmãos, enquanto a igreja era parte de nossas vidas dominicais. O advogado como um componente da vida rotineira me deixou curioso. Ò amigo disse: “Nas democracias, como você sabe (eu não sabia, mas fingi saber), há muitas disputas e conflitos, daí a necessidade do advogado”. Esse jovem professor assistente, Richard Moneygrand, divorciou-se de sua primeira mulher meses depois dessa observação. Foi uma separação conflituosa, cm que o advogado teve um relevante papel no equilíbrio legal e psicológico do meu amigo americano. Era um elemento de moderação básico, num sistema em que a liberdade era um direito e a igualdade um valor. No caso, a uma separação entre um casal que passou da paixão incontida e eterna à extrema indiferença por parte do amante masculino, cujo projeto não era mais a mulher, mas uma outra com quem logo em seguida casou-se e da qual divorciou-se novamente. Um outro amor que o protagonista tinha, conforme me explicou Richard com todas as letras, direito constitucional. Para ele, os americanos (e todos os seres humanos, homens ou mulheres, velhos ou jovens, ricos ou pobres) tinham assegurado o direito à felicidade. Que, para meu amigo, incluía não apenas o conforto material sem ostentação, mas o amor. O tal "love” de que eu tanto gostava e que era o personagem principal de um estilo de música popular tão sofisticado.
Foi nesses primeiros meses que tive, como ocorreu igualmente com um visitante ilustre que me antecedeu em 1831 - Alexis de Tocqueville a noção de duas dimensões indispensáveis a uma democracia. À primeira era a moderação, cujo papel era representado pelo advogado. A segunda era o conflito aberto e horizontalizado, em que as pessoas entravam não como representantes de grupos ou de valores morais, mas individualmente. Como subjetividades autônomas e por sua livre e espontânea vontade.
Digo tudo isso porque Lenho acompanhado o julgamento do mensalão petista (há um outro, tucano) e visto a transformação pela qual tem passado nossa cultura jurídica. Conforme eu mesmo escrevi nestas páginas, o direito afetava muito mais os doutores, enquanto o rigor da lei destinava-se às pessoas comuns. É notável ver como, nesse caso, a discussão da lei pelos ilustres membros da nossa Corte Suprema tornou-se clara e inteligível. Ao mesmo tempo que altas personalidades de um governo singular, um governo cuja figura mais importante era um pobre de Deus, um homem que passou fome - e o partido dessa administração, o Partido dos Trabalhadores (PT), se apresentava como um rigoroso defensor dos direitos do povo e de um sistema igualitário -, são sujeitas a um fulminante libelo do procurador geral da República, e têm sido condenadas pela corte num espantoso trabalho de aplicação da lei.
Quando me perguntam o que pode ocorrer depois desse julgamento, ou no que esse julgamento “vai dar”, respondo que ele é o fato mais inusitado da nossa vida republicana. Tanto ou mais que a ascensão do PT ao poder federal.
Pela primeira vez no Brasil, o STF atua no sentido de julgar atos ilícitos de nada mais nada menos que um ministro chefe da Casa Civil, um presidente do partido no poder, parlamentares desse partido, sua negociada e comprada base aliada, e os figurantes de todo esse esquema de corrupção que atuava com a mais plena certeza de que a lei se aplicava apenas a pessoa comuns, jamais aos donos do poder.
O fato de romper a hierarquia que sempre personalizou nosso estilo de fazer política, a dimensão profundamente igualitária com que os autos foram ordenados, a acusação e a defesa foram realizadas, revela uma mudança de postura na aplicação da lei que terá resultados exemplares. Jamais dentro da vertente vertical de nosso sistema político,
que sempre condenou os operadores, salvando e inocentando os mandantes e cabeças, se viu tanta “gente grande” e poderosa ser condenada. Nada me dá mais satisfação que ver ministros do Supremo “batendo boca”, tal como o cidadão comum que toma partido apaixonado pela honestidade nos altos cargos de poder e entre as pessoas que os ocupam. No fundo, a atuação do ministro Joaquim Barbosa faz dele a peça que faltava ao nosso jogo democrático, que requer moderação sem dispensar o que sobra nesse juiz: a sinceridade!
Há, pois, no trabalho do Supremo não apenas uma mudança de modelo de poder, quebrando sua dimensão vertical ou hierárquica, e fazendo com que ela se curve diante do ideal igualitário e horizontal, mas, sobretudo, o desvendamento das entranhas de um partido sem pejo de atingir seus fins por quaisquer meios.
Escrevo numa quarta-feira, longe portanto das eleições e do final do julgamento. Mesmo sem uma bola de cristal, posso dizer, sem medo do erro ou do exagero, que esse episódio jurídico-político é um evento expressivo de uma virada. Um rito de passagem que desloca e ilegítima o “Você sabe com quem está falando?"1, substituindo-o pelo mais sensato e correto “Quem você pensa que é?” - essa pergunta normal de qualquer sistema democrático, liberal e igualitário. Esses sistemas em que a moderação no uso do poder se faz por mediações da lei, dos advogados e dos juizes. E nos quais, todos os dias, os representantes do povo se afinam com os cargos que o povo lhes conferiu.
O queijo e a lei - J. R. GUZZO
REVISTA VEJA
Estaria a presidente Dilma Rousseff violando a lei se comesse uma fatia de queijo de minas? É perfeitamente possível que sim, pois ela tem de obedecer ao que o governo permite ou proíbe que os brasileiros ponham na boca ao fazer uma refeição. Pelo bom-senso mais elementar, a presidente da República deveria ter o direito de comer em paz o seu queijo — sem precisar, antes, consultar o advogado-geral da União para saber se isso está ou não dentro da legalidade. Mas o Brasil é o Brasil. Aqui, entre outros prodígios da lei, um papagaio tem de ser submetido a autópsia quando morre, para esclarecer suspeitas de alguma infração sanitária — e num país onde se exige um negócio desses, e as autoridades entendem que só existem dois tipos de coisas na vida, as obrigatórias e as proibidas, sempre é bom perguntar tudo. No caso do queijo mineiro, por exemplo, nada é tão simples como parece. A rigor, ele praticamente não pode ser comido fora do território de Minas Gerais, pois tem de respeitar o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal — e cumprir as exigências feitas ali, ao longo de 900 artigos, é mais do que promete a força humana.
Acredite-se ou não, o regulamento foi criado por um decreto do presidente Getúlio Vargas, em 1952, e está em vigor ate" hoje, como lembrou recentemente o suplemento de comida de O Estado de S. Paulo. Na verdade, é nele que se sustenta toda a fiscalização atual dos alimentos que vêm de qualquer bicho existente sobre a face da Terra — piorada, é claro, pelo tsunami de novas regras criadas de lá para cá. É uma coisa tão velha que só os brasileiros com mais de 60 anos de idade tinham nascido quando o decreto começou a valer. É, também, um momento inesquecível do "estado" brasileiro em ação — esse "estado" que pretende saber tudo o que é melhor para você. O regulamento em questão, por exemplo, achou necessário explicar o que é um queijo — um produto de "formato cilíndrico", com "untura manteigosa" e dotado de "buracos em cabeça de alfinete". É uma sorte, realmente, que o governo tenha pensado nisso: graças à sua sabedoria, nenhum cidadão corre hoje o risco de ver um queijo e não saber o que é aquilo. O problema real começa quando os escreventes da administração pública decidem o que se pode fazer ou não com um queijo canastra, digamos, e uma porção de outras coisas boas.
Para sair de Minas, o queijo tem de receber um carimbo de autorização do SIF, ou Serviço de Inspeção Federal, que faz pane do Mapa, ou Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e não incomodar a Anvisa, ou Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que é do MS, ou Ministério da Saúde; também precisa fazer o que manda o Dipoa. ou Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, e o Sisbi-Poa, ou Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal, ambos do mesmo Mapa, e obedecer à vigilância sanitária das prefeituras. Deu para entender? Tanto faz. Mesmo que entendam, os pequenos produtores — de cujas queijarias sai quase todo o queijo mineiro que merece ser chamado assim — não têm a menor condição de cumprir as exigências de uma manada de burocratas desse tamanho. O resultado é que nos grandes centros consumidores o produto legítimo de Minas quase só pode ser encontrado no comércio clandestino: os supermercados e o varejo legalizado não se arriscam a comprar queijo "informal". Os produtores artesanais deixam de ganhar milhões de reais por ano, pois não conseguem vender o volume que poderiam. Os consumidores deixam de comprar, pois não conseguem achar à venda o queijo que querem comer. Quem ganha alguma coisa com isso?
Por causa desse mesmo sanatório geral, os restaurantes brasileiros estão proibidos de servir frango ao molho pardo, ou galinha de cabidela. Não podem matar, eles mesmos, o frango e separar na hora o sangue, ingrediente essencial da receita. Têm de comprar frango oficial, nos abatedouros oficiais — e ali é proibido vender sangue fresco. (Não está claro se o cidadão pode comer um frango ao molho pardo feito na cozinha da própria casa.) As patrulhas da Anvisa também proíbem a fabricação de goiabada, ou qualquer outra coisa, em tachos de cobre, como sempre se fez no Brasil. Não permitem, além disso, o uso de colheres de pau na preparação de alimentos, e mostram-se indiferentes ao fato de que 70% de tudo o que se come no Brasil vem dos pequenos produtores — os menos capazes de cumprir as ordens do governo. Preste atenção no que anda comendo, presidente Dilma. Pode ser ilegal.
Estaria a presidente Dilma Rousseff violando a lei se comesse uma fatia de queijo de minas? É perfeitamente possível que sim, pois ela tem de obedecer ao que o governo permite ou proíbe que os brasileiros ponham na boca ao fazer uma refeição. Pelo bom-senso mais elementar, a presidente da República deveria ter o direito de comer em paz o seu queijo — sem precisar, antes, consultar o advogado-geral da União para saber se isso está ou não dentro da legalidade. Mas o Brasil é o Brasil. Aqui, entre outros prodígios da lei, um papagaio tem de ser submetido a autópsia quando morre, para esclarecer suspeitas de alguma infração sanitária — e num país onde se exige um negócio desses, e as autoridades entendem que só existem dois tipos de coisas na vida, as obrigatórias e as proibidas, sempre é bom perguntar tudo. No caso do queijo mineiro, por exemplo, nada é tão simples como parece. A rigor, ele praticamente não pode ser comido fora do território de Minas Gerais, pois tem de respeitar o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal — e cumprir as exigências feitas ali, ao longo de 900 artigos, é mais do que promete a força humana.
Acredite-se ou não, o regulamento foi criado por um decreto do presidente Getúlio Vargas, em 1952, e está em vigor ate" hoje, como lembrou recentemente o suplemento de comida de O Estado de S. Paulo. Na verdade, é nele que se sustenta toda a fiscalização atual dos alimentos que vêm de qualquer bicho existente sobre a face da Terra — piorada, é claro, pelo tsunami de novas regras criadas de lá para cá. É uma coisa tão velha que só os brasileiros com mais de 60 anos de idade tinham nascido quando o decreto começou a valer. É, também, um momento inesquecível do "estado" brasileiro em ação — esse "estado" que pretende saber tudo o que é melhor para você. O regulamento em questão, por exemplo, achou necessário explicar o que é um queijo — um produto de "formato cilíndrico", com "untura manteigosa" e dotado de "buracos em cabeça de alfinete". É uma sorte, realmente, que o governo tenha pensado nisso: graças à sua sabedoria, nenhum cidadão corre hoje o risco de ver um queijo e não saber o que é aquilo. O problema real começa quando os escreventes da administração pública decidem o que se pode fazer ou não com um queijo canastra, digamos, e uma porção de outras coisas boas.
Para sair de Minas, o queijo tem de receber um carimbo de autorização do SIF, ou Serviço de Inspeção Federal, que faz pane do Mapa, ou Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e não incomodar a Anvisa, ou Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que é do MS, ou Ministério da Saúde; também precisa fazer o que manda o Dipoa. ou Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, e o Sisbi-Poa, ou Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal, ambos do mesmo Mapa, e obedecer à vigilância sanitária das prefeituras. Deu para entender? Tanto faz. Mesmo que entendam, os pequenos produtores — de cujas queijarias sai quase todo o queijo mineiro que merece ser chamado assim — não têm a menor condição de cumprir as exigências de uma manada de burocratas desse tamanho. O resultado é que nos grandes centros consumidores o produto legítimo de Minas quase só pode ser encontrado no comércio clandestino: os supermercados e o varejo legalizado não se arriscam a comprar queijo "informal". Os produtores artesanais deixam de ganhar milhões de reais por ano, pois não conseguem vender o volume que poderiam. Os consumidores deixam de comprar, pois não conseguem achar à venda o queijo que querem comer. Quem ganha alguma coisa com isso?
Por causa desse mesmo sanatório geral, os restaurantes brasileiros estão proibidos de servir frango ao molho pardo, ou galinha de cabidela. Não podem matar, eles mesmos, o frango e separar na hora o sangue, ingrediente essencial da receita. Têm de comprar frango oficial, nos abatedouros oficiais — e ali é proibido vender sangue fresco. (Não está claro se o cidadão pode comer um frango ao molho pardo feito na cozinha da própria casa.) As patrulhas da Anvisa também proíbem a fabricação de goiabada, ou qualquer outra coisa, em tachos de cobre, como sempre se fez no Brasil. Não permitem, além disso, o uso de colheres de pau na preparação de alimentos, e mostram-se indiferentes ao fato de que 70% de tudo o que se come no Brasil vem dos pequenos produtores — os menos capazes de cumprir as ordens do governo. Preste atenção no que anda comendo, presidente Dilma. Pode ser ilegal.
Um grande avanço - CARTA AO LEITOR - REVISTA VEJA
As instituições são o elemento comum a todas as explicações sobre por que algumas nações prosperaram e outras ficaram para trás na marcha da história humana. Quando uma nação conseguiu construir instituições respeitadas, funcionais e independentes dos humores dos soberanos e, mais tarde, dos governos, ela avançou na conquista de um elevado nível de vida material e moral para seus cidadãos. Na ausência do aparato institucional saudável e atuante, não existem riqueza, posição geográfica favorável, clima propício ou capacidade militar capazes de assegurar a uma nação a possibilidade de progredir em um cenário sustentável de estabilidade política e econômica.
Nesse campo, o Brasil e os brasileiros estão desfrutando um momento particularmente feliz. A demonstração mais cabal disso é o julgamento dos réus do mensalão que os ministros do Supremo Tribunal Federal(STF) estão conduzindo, da maneira mais transparente possível, diante dos olhos de milhões de telespectadores nas transmissões ao vivo pela televisão. Uma reportagem da presente edição de VEJA exalta a maturidade institucional do Brasil refletida no julgamento de alguns dos mais altos dirigentes do partido no poder, sem que isso esteja produzindo uma crise política desestabilizadora. Mais significativo é o fato de que as condenações estão sendo lavradas por uma corte em que sete dos dez ministros foram indicados pela
presidente Dilma Rousseff ou por Lula, seu antecessor, ambos do mesmo partido dos réus mais graúdos.
A independência dos poderes está em sua plenitude no Brasil. A gritaria dos correligionários dos réus é compreensível em um arcabouço de respeito à liberdade de expressão. Esquecendo, por enquanto, as tentativas legítimas e as não republicanas de influir nas decisões dos ministros do STF feitas por Lula, o julgamento do mensalão já terá assegurado seu lugar na história do Brasil como um dos grandes momentos de inflexão positiva.
Claro que é discutível se os ganhos jurídicos e institucionais obtidos no processo em curso no STF serão duradouros — ou seja, se as condenações e a jurisprudência que as tornou possíveis vão inibir a ação de corruptos em todas as esferas administrativas do estado brasileiro. Mas, para um país que se fez independente de Portugal em 1822 mantendo o regime sob um rei português e que se proclamou república por um golpe militar quando não tinha sequer cidadãos, o Brasil já deu provas a si mesmo e ao mundo de ser capaz de fazer enormes avanços institucionais mesmo diante da incredulidade de muitos.
Do que você está falando? - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 09/10
O "prefeito do consumidor" foi sem jamais ter sido. Pode-se discutir escola, lixo e negócios na cidade?
A GENTE QUE ainda se ocupa de política passou a campanha a discutir a resistível ascensão do "prefeito dos consumidores", Celso Russomano. Russomano não foi prefeito, não era dos "eleitores-consumidores" e, se acaso deles fosse, seria minoritário.
O grande debate da eleição da maior cidade do continente era vazio, conversa fiada. Russomano parecia um fenômeno, de fato. Mas a discussão sobre o assunto era fenomenalmente ruim. E obsessiva.
É mais fácil, ou divertido, ou até aparentemente esperto, inventar sociologices descasadas de fatos do que discutir, por exemplo, o que fazer do lixo em São Paulo.
O lixo leva um pedação do Orçamento da cidade. As concorrências cheiram mal como a atividade-fim. O tratamento do assunto é tecnológica e ambientalmente primitivo numa cidade que conta com a "melhor universidade da América Latina", em tese a USP.
Não discutimos como os pobres podem morar melhor e mais perto -no centro velho, por exemplo. Mal se falou, substantivamente, do projeto cracolândia. Até Buenos Aires conseguiu renovar uma zona degradada da cidade. Eles não têm mais dinheiro ou expertise do que nós.
Não discutimos se metrô é mesmo a melhor solução para a cidade -custa caro e demora. Fazer mais corredor de ônibus ou trem é melhor? Tem entendido do assunto que acha que sim.
Não discutimos como criar oportunidades para renovar os setores produtivos da cidade. Por que São Paulo não tem um parque tecnológico na área de produtos para a saúde, medicina, hospitais, se é um centro de hospitais bons, um dos maiores do mundo?
Muita gente imagina que propor questões críticas aos candidatos é perguntar "quanto custa o seu projeto". Como o Orçamento é todo engessado, a pergunta em geral é ingênua. Há pouco dinheiro livre, há pouca possibilidade de alterar fatias significativas do orçamento.
Há pouco espaço para gastar, ponto. Logo, tanto faz quanto custa. É bom dizer logo que o candidato é cascateiro quando propõe projetos enormes. Mais interessante seria perguntar: quanto não custaria? Isto é, como reduzir o gasto atual da prefeitura a fim de investir em atividades novas ou suprir necessidades graves, como a de posto de saúde e hospital.
Mais interessante seria perguntar o que prefeitura pode inventar a fim de permitir que o setor privado (lucrativo ou não) resolva problemas e aumente a renda na cidade.
Que empresas diferentes podem ir para São Paulo? Que projetos interessantes de reforma urbana podem atrair o dinheiro de empresários e não expulsar os pobres para o quinto dos infernos?
A gente não falou de escola. Nada. Por que os resultados de São Paulo (Estado e cidade) são tão ruins? Mudar a tecnologia de ensino custa pouco, em termos de dinheiro.
Educação não rende aquelas perguntas "quanto custa o seu projeto". É difícil de discutir. Exige atenção a detalhes: que livros as crianças vão usar? Vai haver diretrizes rígidas para cada aula? Educação é outro assunto. Não é a mesma coisa que infraestrutura escolar (número de prédios etc.). A gente no Brasil não gosta de discutir educação, morre de tédio.
Do que a gente está falando?
O "prefeito do consumidor" foi sem jamais ter sido. Pode-se discutir escola, lixo e negócios na cidade?
A GENTE QUE ainda se ocupa de política passou a campanha a discutir a resistível ascensão do "prefeito dos consumidores", Celso Russomano. Russomano não foi prefeito, não era dos "eleitores-consumidores" e, se acaso deles fosse, seria minoritário.
O grande debate da eleição da maior cidade do continente era vazio, conversa fiada. Russomano parecia um fenômeno, de fato. Mas a discussão sobre o assunto era fenomenalmente ruim. E obsessiva.
É mais fácil, ou divertido, ou até aparentemente esperto, inventar sociologices descasadas de fatos do que discutir, por exemplo, o que fazer do lixo em São Paulo.
O lixo leva um pedação do Orçamento da cidade. As concorrências cheiram mal como a atividade-fim. O tratamento do assunto é tecnológica e ambientalmente primitivo numa cidade que conta com a "melhor universidade da América Latina", em tese a USP.
Não discutimos como os pobres podem morar melhor e mais perto -no centro velho, por exemplo. Mal se falou, substantivamente, do projeto cracolândia. Até Buenos Aires conseguiu renovar uma zona degradada da cidade. Eles não têm mais dinheiro ou expertise do que nós.
Não discutimos se metrô é mesmo a melhor solução para a cidade -custa caro e demora. Fazer mais corredor de ônibus ou trem é melhor? Tem entendido do assunto que acha que sim.
Não discutimos como criar oportunidades para renovar os setores produtivos da cidade. Por que São Paulo não tem um parque tecnológico na área de produtos para a saúde, medicina, hospitais, se é um centro de hospitais bons, um dos maiores do mundo?
Muita gente imagina que propor questões críticas aos candidatos é perguntar "quanto custa o seu projeto". Como o Orçamento é todo engessado, a pergunta em geral é ingênua. Há pouco dinheiro livre, há pouca possibilidade de alterar fatias significativas do orçamento.
Há pouco espaço para gastar, ponto. Logo, tanto faz quanto custa. É bom dizer logo que o candidato é cascateiro quando propõe projetos enormes. Mais interessante seria perguntar: quanto não custaria? Isto é, como reduzir o gasto atual da prefeitura a fim de investir em atividades novas ou suprir necessidades graves, como a de posto de saúde e hospital.
Mais interessante seria perguntar o que prefeitura pode inventar a fim de permitir que o setor privado (lucrativo ou não) resolva problemas e aumente a renda na cidade.
Que empresas diferentes podem ir para São Paulo? Que projetos interessantes de reforma urbana podem atrair o dinheiro de empresários e não expulsar os pobres para o quinto dos infernos?
A gente não falou de escola. Nada. Por que os resultados de São Paulo (Estado e cidade) são tão ruins? Mudar a tecnologia de ensino custa pouco, em termos de dinheiro.
Educação não rende aquelas perguntas "quanto custa o seu projeto". É difícil de discutir. Exige atenção a detalhes: que livros as crianças vão usar? Vai haver diretrizes rígidas para cada aula? Educação é outro assunto. Não é a mesma coisa que infraestrutura escolar (número de prédios etc.). A gente no Brasil não gosta de discutir educação, morre de tédio.
Do que a gente está falando?
Gênero e silêncio - VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 09/10
Judith Butler é uma das intelectuais mais influentes do cenário contemporâneo de debates em torno das chamadas "ciências humanas".
Uma das responsáveis pela elevação das discussões sobre gênero e identidade sexual a setor fundamental da reflexão sobre reconhecimento social, Butler forneceu o quadro teórico para a luta política de grupos que procuraram sair da invisibilidade a que foram relegados por discursos profun-damente normativos a respeito da vida sexual.
Associada ao que hoje entendemos por "queer theory", Butler soube ir além do quadro tradicional das lutas feministas e ver, na instabilidade das identidades sexuais, espaço de afirmação das possibilidades de construção de singularidades atravessadas pela necessidade de produzir suas próprias normas.
Em vez de perpetuar estratégia feminista que procurava contrapor-se à normatividade masculina e patriarcal por meio da afirmação essencialista do feminino, ela deu voz àqueles que parecem só serem capazes de viver desarticulando normas identitárias fundamentais.
Isso lhe permitiu desenvolver uma grande sensibilidade ética e política para processos de exclusão e invisibilidade social. Tratava-se de levar ao extremo uma certa guinada ética -herdada de setores das filosofias francesa e alemã do século 20- com sua compreensão de que a questão moral fundamental encontrava-se no problema do reconhecimento da alteridade.
Podemos falar em "levar ao extremo" porque o reconhecimento só mostra sua força moral quando tenta responder à questão: Como reconheço aquele que nem sequer tem voz no interior do meu discurso, nem representação possível para mim? Ajo moralmente quando empurro tal inominável para a vala do irracional?
Assim, em vez de se contentar em defender minorias sexuais do Upper East Side (Nova York) fotografadas por Nan Goldin, ela se dedicou ao menos glamouroso trabalho de defender prisioneiros de Guantánamo contra seu vazio jurídico, criticar grupos homossexuais europeus por sua islamofobia e defender palestinos contra a ideia de que seriam um "povo inventado", obrigados à condição de eternos refugiados, apátridas, se quisermos falar como Hannah Arendt.
Por posições como essa, Butler recebeu, há duas semanas, em Frankfurt, o Prêmio Adorno. Mas sua nomeação provocou a ira de grupos judaicos que a acusam de antissemitismo. No entanto há um detalhe importante: Butler é judia.
Como era de se esperar, não há uma palavra sua contra o direito de existência do Estado de Israel, ao qual ela se sente pessoalmente concernida. Mas alguns grupos talvez não estejam preparados para um verdadeiro debate sobre jul-gamentos morais.
Judith Butler é uma das intelectuais mais influentes do cenário contemporâneo de debates em torno das chamadas "ciências humanas".
Uma das responsáveis pela elevação das discussões sobre gênero e identidade sexual a setor fundamental da reflexão sobre reconhecimento social, Butler forneceu o quadro teórico para a luta política de grupos que procuraram sair da invisibilidade a que foram relegados por discursos profun-damente normativos a respeito da vida sexual.
Associada ao que hoje entendemos por "queer theory", Butler soube ir além do quadro tradicional das lutas feministas e ver, na instabilidade das identidades sexuais, espaço de afirmação das possibilidades de construção de singularidades atravessadas pela necessidade de produzir suas próprias normas.
Em vez de perpetuar estratégia feminista que procurava contrapor-se à normatividade masculina e patriarcal por meio da afirmação essencialista do feminino, ela deu voz àqueles que parecem só serem capazes de viver desarticulando normas identitárias fundamentais.
Isso lhe permitiu desenvolver uma grande sensibilidade ética e política para processos de exclusão e invisibilidade social. Tratava-se de levar ao extremo uma certa guinada ética -herdada de setores das filosofias francesa e alemã do século 20- com sua compreensão de que a questão moral fundamental encontrava-se no problema do reconhecimento da alteridade.
Podemos falar em "levar ao extremo" porque o reconhecimento só mostra sua força moral quando tenta responder à questão: Como reconheço aquele que nem sequer tem voz no interior do meu discurso, nem representação possível para mim? Ajo moralmente quando empurro tal inominável para a vala do irracional?
Assim, em vez de se contentar em defender minorias sexuais do Upper East Side (Nova York) fotografadas por Nan Goldin, ela se dedicou ao menos glamouroso trabalho de defender prisioneiros de Guantánamo contra seu vazio jurídico, criticar grupos homossexuais europeus por sua islamofobia e defender palestinos contra a ideia de que seriam um "povo inventado", obrigados à condição de eternos refugiados, apátridas, se quisermos falar como Hannah Arendt.
Por posições como essa, Butler recebeu, há duas semanas, em Frankfurt, o Prêmio Adorno. Mas sua nomeação provocou a ira de grupos judaicos que a acusam de antissemitismo. No entanto há um detalhe importante: Butler é judia.
Como era de se esperar, não há uma palavra sua contra o direito de existência do Estado de Israel, ao qual ela se sente pessoalmente concernida. Mas alguns grupos talvez não estejam preparados para um verdadeiro debate sobre jul-gamentos morais.
Mensalão versus Kassab - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 09/10
Começa hoje o mata-mata, com destaque para o Supremo Tribunal Federal (STF) e a eleição de São Paulo. No STF, prossegue o julgamento da antiga cúpula petista, embalando a largada de José Serra (PSDB) no segundo turno da eleição paulistana. Essa será, talvez, a principal arma de Serra no sentido de tentar reforçar o antipetismo da capital paulista e, assim, amortecer o discurso do PT. Serra sabe que essa briga será a mais difícil de sua carreira política. Afinal, Fernando Haddad se apresenta neste segundo turno como a novidade diante de um eleitorado que manifestou o desejo de mudança — basta ver que, pela primeira vez, quatro candidatos tiveram votações expressivas na cidade.
Nesse esforço para se apresentar como uma novidade — longe do PT de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, a trinca de ases que no passado administrava o partido —, Haddad tentará colar em Serra a imagem do atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD), que passou por um período de desgaste na cidade. “Serra é Kassab e Kassab é Serra” será um bordão repetido à exaustão para contrapor a tentativa de Serra de “colar” Haddad ao PT de Dirceu.
Para completar essas estratégias, esta primeira semana pós-primeiro turno será marcada pelos conchavos. E, pelo que se vê no jeitão do eleitor, as transferências de votos não são automáticas. O ministro da Pesca, Marcelo Crivella, do PRB, não pode garantir à presidente Dilma que transferirá todos os votos a Haddad. Por um motivo muito simples: seu partido não tem esses votos. Russomanno chegou aonde chegou mais por ser uma celebridade conhecida da tevê, ligada a assuntos de defesa do consumidor, do que pela força de seu partido. Já o eleitorado de Chalita, mais afeito à igreja, é visto como um braço do antipetismo. Portanto, se a imagem de Haddad colar à do antigo PT, Serra terá alguma chance de superar a alta rejeição, seu maior problema.
Por falar em problemas…
O PT paulista estará, a partir de hoje, entre a cruz e a espada. Ao mesmo tempo em que o grupo ligado ao ex-ministro José Dirceu fará barulho no sentido de evitar que ele seja preso depois de condenado, um outro grupo pedirá que a chamada “turma do Zé” não faça tanto estardalhaço, a fim de não permitir que esse movimento reflita de forma negativa na campanha de Fernando Haddad. Afinal, embora os institutos não tenham conseguido auferir a real influência do julgamento do mensalão nas eleições municipais, o Datafolha detectou que, em São Paulo, Haddad perdeu votos na esteira das condenações. E, num segundo turno, quando o cenário fica menos poluído pela eleição de vereadores e outros candidatos, esse reflexo pode ser maior.
No primeiro turno, o partido de Lula considera que conseguiu passar pela prova de fogo do julgamento do mensalão, uma vez que o PT elegeu mais prefeitos. De 556, chegou a 627, e ainda concorre ao segundo turno em 22 cidades, sendo cinco capitais. O resultado dessas eleições dará o exato tamanho do estrago para o partido. Em tempo: se o mensalão não impediu que o PT crescesse em número de prefeituras, o reflexo para 2014, acredita o PT, será zero.
Enquanto isso, na toca do PSB…
Chamaram a atenção os elogios do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ao PSDB, acompanhados de algumas estocadas, lidas por muitos nas entrelinhas de suas declarações, sobre o governo Dilma Rousseff. Ele soltou frases do tipo: “Não somos daqueles que negam tudo o que houve no governo FHC” e “esse diálogo com o PSDB é patrimônio do nosso jeito de fazer política”. Mais à frente, completou: “Terminado o segundo turno, é ajudar a presidente Dilma a vencer esses dois anos de baixo crescimento. Quem for para outra pauta não tem liga com o sentimento do povo”.
Assim, Eduardo colocou 2014 no devido lugar, o futuro, mas não sem vislumbrá-lo. Ao dizer “sabemos que a linha que separa a esperança da frustração é muito tênue”, referiu-se à educação, saúde e saneamento. Mas, eu aqui, lhe afirmo, leitor, sem erro: nos bastidores da frase está o lema que embalou a vitória de Lula em 2003: “A esperança venceu o medo”. Se a frustração com o PT vier, o governador de Pernambuco estará a postos e espera atrair o PSDB do mesmo jeito que atraiu em Belo Horizonte. Ali, a vontade do PSDB ao apoiar Marcio Lacerda (PSB) há quatro anos foi quebrar a hegemonia petista na capital de Minas Gerais. De olho no objetivo, o PSDB traçou a estratégia sem pressa, seguindo a cada dia a sua aflição. No domingo, esse projeto de longo prazo dos tucanos em Minas se completou, após quatro anos e meio de espera. No plano nacional, esse jogo começa tão logo termine o mata-mata do segundo turno da eleição municipal. Pode apostar.
Os pilares estão de pé - ANTONIO DELFIM NETTO
VALOR ECONÔMICO - 09/10
No período de 1999 a 2001, onde alguns analistas supõem que aplicamos o regime "puro", os números mostram resultados não muito interessantes: taxa de crescimento médio de 2,1% do PIB; taxa média de inflação anual de 8,8%; déficit público médio de 4,4%. A dívida líquida/PIB, que era de 39% no fim de 1998, elevou-se a 51% no fim de 2002. No período acumulamos um déficit em conta corrente de US$ 80 bilhões. Houve, sim, grande progresso institucional, o maior dos quais, seguramente, foi a Lei de Responsabilidade Fiscal de 2000, que transformou o Brasil numa área monetária ótima.
Não creio que alguém ainda acredite na proposição que com um único instrumento (a taxa de juros nominal de curto prazo), o Banco Central só pode atingir um objetivo (a taxa de inflação). E a razão é simples: o teorema no qual ela se sustenta é logicamente verdadeiro. O que é falso são suas hipóteses!
Isso hoje é reconhecido por excelentes acadêmicos convertidos pela vivência da política econômica a uma pequena "heterodoxia". Dentre eles, dois tiveram grande importância na formação de nossos economistas: Stanley Fischer e Olivier Blanchard. Afirmar que a política monetária tem que considerar a taxa de crescimento do PIB é pecado apenas no mundo "virtual" em que ainda vivem alguns de nossos analistas.
É preciso reconhecer que todos os modelos, desde o mais simples, o de três equações, aos mais complexos como o Samba do nosso Banco Central, supõem que a economia converge para um "equilíbrio", o que está longe de ser verdade. Eles exigem, ademais, o conhecimento de parâmetros não diretamente observáveis, de forma que a sua utilização na formulação da política econômica tem que ser cercada de muito cuidado. O próprio Blanchard (e Jordi Gali) mostraram, um pouco antes do início da crise em que nos encontramos, produzida pelo sistema financeiro, que quando os salários são inflexíveis para baixo, estabilizar a taxa de inflação está longe de ser a mesma coisa que estabilizar a taxa de crescimento. Consequentemente, existe um "trade-off" entre taxa de inflação e taxa de crescimento do PIB que exige uma política monetária que precisa do "conhecimento do desconhecido". Como dizem os autores, trata-se da "divina coincidência"!
A recente publicação das "revisões" das estimativas das taxas de crescimento do PIB americano de 2008 a 2010 mostra o enorme nível de erro relativo a que ele é sujeito. Por exemplo, a estimativa contemporânea do crescimento anual do PIB no primeiro trimestre de 2011 foi de 1,9%. A revisão em julho de 2012 mostrou que ele, de fato, foi de 0,1%! Isso introduz graves erros no cálculo do "output gap" usado na formulação da política monetária. Trata-se de "medir a distância" entre uma variável estimada (a primeira estimativa trimestral do PIB) e de outra inobservável, o famoso PIB "potencial" cujo valor depende do método aritmético ou econométrico escolhido para "estimá-lo".
No Brasil vamos aprender a lidar com o mesmo fenômeno, à medida em que o IBGE aperfeiçoa suas estatísticas. Espera-se para alguns meses uma revisão importante de seus números, o que é muito saudável para relativizar as "certezas" de alguns economistas. Curiosamente, esses aperfeiçoamentos são sempre recebidos com desconfiança por analistas engajados. Quando o IBGE anunciou a mudança dos pesos do IPCA, não faltou quem imaginasse que era para "mistificar" o IPCA de 2012. Pois bem. A verdade é exatamente outra: o uso dos "pesos" anteriores provavelmente superestimou o IPCA de 2011. Se havia erro era em 2011, não em 2012!
É preciso estimular o desenvolvimento de métodos que permitam estimar com maior precisão a variação do PIB em tempo real (como está tentando o Banco Central), separando os fatos dos "ruídos" e, assim, considerar melhor o inevitável "trade-off" no curto prazo entre o controle da taxa de inflação e nível do crescimento do PIB.
Nada autoriza a afirmação que o "pilar" da meta de inflação foi abandonado pela autoridade monetária. Diante de tanta incerteza interna e principalmente externa, é natural que ela aumente, na busca do seu objetivo, a ponderação do nível de atividade e de emprego em detrimento da rapidez de fazer convergir a taxa de inflação à meta. Não há nenhuma razão, teórica ou empírica, que condene tal alongamento se a política fiscal e a monetária são mantidas sob controle. Isso está muito longe da ideia que "um pouco mais de inflação produz um pouco mais de crescimento". O mesmo podemos dizer das críticas à política cambial utilizada em legítima defesa para proteger nosso setor industrial. É o que, aliás, estão fazendo todos os países. Chega de mundo virtual! O mundo real nos impõe algumas mudanças estruturais importantes. Ajudemos o governo a realizá-las.
O suflê - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 09/10
Várias hipóteses foram aventadas para explicar a ascensão e a queda. Elas incluem desde o conservadorismo do eleitor até o desgaste da política tradicional, passando por religião e inconsistência partidária. Esses e outros fatores devem ter influído, mas o que torna o fenômeno difícil de interpretar é o que os sociólogos chamam de problema micro/macro, ou como passamos das microescolhas dos indivíduos para os macrofenômenos que marcam a sociedade.
A dificuldade não é exclusiva dos cientistas políticos. Ela está presente em todos os ramos da ciência. O conhecimento das partículas subatômicas não nos esclarece muito sobre a química orgânica, ainda que moléculas sejam feitas de átomos, que são feitos de quarks, léptons etc.
Esses fenômenos têm em comum o fato de operarem sob o signo da emergência, propriedade de sistemas complexos que faz com que o todo exiba características diferentes das partes. Nenhuma peça de Boeing voa sozinha, mas interage com outras de forma tal que o aparelho decola.
O mesmo se dá com o eleitorado. Ninguém vota considerando só as feições do candidato. Alexander Todorov mostrou, porém, que voluntários olhando por um segundo para fotos de postulantes e apontando os mais bem-apessoados conseguiram acertar 68% dos resultados de eleições para o Senado dos EUA.
De modo análogo, poucos votam pensando apenas na economia. Ainda assim, o estado das finanças de um país é um bom preditor das chances de reeleição de um presidente. O indivíduo pode não responder tão diretamente aos dados do PIB e da inflação, mas reage a como votam seus amigos e vizinhos. Os padrões são tão entrelaçados e complexos que, às vezes, uma mudança inicial indetectável basta para estragar o suflê.
O país da urna eletrônica - TUTTY VASQUES
O Estado de S. Paulo - 09/10
Com todo respeito à fama que conquistamos lá fora por causa do futebol, da bossa nova, do café, do carnaval, da caipirinha, do Paulo Coelho e da Gisele Bündchen, o que o Brasil tem de mais inigualável na atualidade são as urnas eletrônicas.
Modéstia à parte, poucas coisas no mundo - entre elas, talvez, o iPhone 5 e o time do Barcelona em seus melhores dias - parecem tão bem boladas quanto o nosso sistema de votação.
O Brasil funciona em dia de eleição como uma Ferrari ou um relógio suíço: tudo acontece sempre de maneira muito rápida e precisa entre a captação e a apuração de quase 140 milhões de votos!
Com a revelação dos primeiros resultados oficiais menos de duas horas após a divulgação das pesquisas de boca de urna, os analistas políticos de plantão nos canais de jornalismo ficam praticamente sem tempo para quebrar a cara em prognósticos na TV.
Ninguém nos Estados Unidos, onde o escrutínio é praticamente uma carroça eleitoral, entende como pode o brasileiro levar 30 segundos para votar e duas horas preso no trânsito para chegar ao trabalho.
Quem dera tudo por aqui funcionasse como as urnas eletrônicas!
Procura-se
Depois de faltar aos jogos da seleção contra a Argentina e ao último UFC no Canadá, Galvão Bueno deu bolo também no GP do Japão de Fórmula 1. O locutor anda mais sumido na Globo do que o Adriano no Flamengo!
Via-crúcis
Condenado a 1 ano de cadeia, o ex-mordomo do papa Bento XVI, Paolo Gabriele, desabafou à saída do tribunal: "Me pegaram para Zé Dirceu do Vaticano!"
Rusgas sem rugas
O botox não deixa a gente ver direito a expressão de tristeza de Celso Russomanno com o resultado das eleições no primeiro turno.
Calma, Zé!
Se, como se espera, os ânimos se acirrarem no segundo turno das eleições em SP, José Genoino vai acabar mordendo um jornalista na zona eleitoral do Butantã, onde vota.
Melhor não!
Vitoriosos no Rio, Eduardo Paes e Sérgio Cabral liberaram a militância para a festa logo no início da noite de domingo com uma única recomendação:
"Nada de guardanapo amarrado na cabeça, ok?"
Tira-teima eleitoral
A boca de urna em Salvador confirmou: aos 5 anos, a filha mais velha de ACM Neto já está quase do tamanho do pai!
Tamanho x peso
O governador Eduardo Campos (PSB-PE) pode até ser o político que mais cresceu nessas eleições. O que mais engordou, comenta-se em Belo Horizonte, foi o Aécio Neves.
Uma besta
Derrotado nas urnas em SP, Agnaldo Timóteo tem razão ao se penitenciar - "Sou um idiota!" - por ter mudado nessas eleições seu tradicional número de candidato, de 22123 para 22122. Conhecendo seu eleitorado, devia saber que a turma custa a entender!
Sem tesão, a vastidão - JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 09/10
Acordava e ele jazia no travesseiro. Tomava ducha e ele escapava pelo ralo. Usava o pente e o pente ficava parecido com a escova do gato. Consultei um médico.
Primeiro choque: o médico, um respeitável sábio em matéria dermatológica, era mais calvo do que uma bola de bilhar. O pensamento é fatal: se esse desgraçado não conseguiu salvar as suas posses, por que motivo irá salvar as minhas?
O choque deu lugar à compaixão --e à boa educação: não será ofensivo pedir ajuda a alguém que já cruzou definitivamente o capilar Rubicão?
Timidamente, explanei o problema que me trouxera ao consultório. O homem escutou-me, analisou as clareiras como um estratego militar e depois aconselhou ataque farmacológico imediato. Com um aviso: o tratamento acarretava uma certa frouxidão nas partes íntimas.
Eis o dilema que a medicina, em pleno século 21, tem para oferecer a um homem assombrado pela calvície: sexo ou cabelo?
Um cínico diria: sem cabelo, não há sexo. Mas confesso que preferi não arriscar: recusei o tratamento, comprei todos os filmes com o Yul Brynner (para me inspirar, para me consolar) e preparei-me para essa longa viagem sem retorno.
Foi então que o milagre aconteceu: o cabelo, da mesma forma que começara os seus comportamentos suicidas, terminou com eles. Às vezes, penso que foi tudo um teste do Altíssimo, uma espécie de provação de Jó (versão Vidal Sassoon), só para ver se a vaidade era mais importante do que o mandamento "crescei e multiplicai-vos!".
Pois bem: se lembro essa história, hoje, é por ter lido com o café da manhã as espantosas descobertas de cientistas sul-coreanos sobre os eunucos da dinastia Chosun (1392 - 1910). O leitor não leu?
Eu conto: após estudos dos arquivos genealógicos da corte imperial, os cientistas concluíram que os eunucos viviam, em média, mais 20 anos do que os homens do seu tempo. Alguns furavam mesmo a barreira dos 100 anos, fenômeno raríssimo para a época.
A lição que fica é inspiradora: se o leitor deseja viver tanto como os eunucos, a solução é transformar-se em um. Que o mesmo é dizer: pegar na tesoura, remover os testículos e abraçar a impotência como forma de vida. Sem os hormônios masculinos para atrapalhar, o céu é o limite. Ou, se me permitem o hai-kai: "Sem tesão, / a vastidão".
Eu próprio, em meu ordálio capilar, já tinha sido confrontado com a tentação. Renunciei a ela. Mas, aqui entre nós, quantos homens não preferiram já a castração química para terem uma juba leonina no topo da cabeça?
Aliás, a castração não é apenas química. É, sobretudo, comportamental. Sim, podemos rir dos pobres eunucos da dinastia Chosun e lamentar o destino deles, condenados a viver em haréns onde não podiam participar da festa.
Mas a nossa sociedade, no seu culto doentio e obsessivo da saúde e da eterna juventude, também promove as suas pequenas castrações cotidianas.
Do fumo à bebida; das gorduras aos açúcares; sem esquecer os calvários deprimentes nas academias do bairro, onde pateticamente declaramos guerra ao corpo e à boa e velha preguiça, as sociedades higienizadas do Ocidente são uma versão coletiva dos pobres eunucos orientais.
Também nós, do alto da nossa suposta superioridade civilizacional, estamos dispostos a renunciar aos prazeres mundanos por uma promessa fátua de longevidade.
A pergunta, inevitável, é tão válida hoje como era no século 14: valerá a pena uma vida mais longa quando se perdem pelo caminho as transgressões pecaminosas que dão a essa vida o seu tempero deliciosamente humano?
Ou, para citar a piada, haverá coisa mais deprimente do que morrer impecavelmente saudável?
Talvez haja: morrer com excesso de cabelo em cima e um deficit de atividade em baixo.
Não vale a pena. E se os eunucos ensinam alguma coisa é que, pela imagem clássica que nos chegou deles, nem em cima nem em baixo.
Mulheres de Atenas - SONIA RACY
O ESTADÃO - 09/10
Atualmente, não há distinção de gênero entre os jurados – o que pode influenciar o resultado de um julgamento.
E agora, José?
Caiu mal no ninho tucano pedido de apoio de Serra a Russomanno, assim que as urnas tiraram o candidato do PRB do segundo turno em SP. “Uma coisa é receber apoio; outra é pedir. A estratégia foi equivocada”, fuzilou um cacique do PSDB.
Cotovelada
Nem bem terminou o primeiro turno e já surge mais uma disputa entre Kassab e Alckmin.
O prefeito anda dizendo que foi ele quem deu mais “estrutura” à campanha de Serra, já que o governador entrou mesmo foi com a credibilidade.
Divã
Recluso em sua casa, em Vinhedo, na semana em que o STF traça seu destino, Zé Dirceu se aconselhará com Lula nos próximos dias.
O ex-ministro não deve aparecer na reunião da Executiva Nacional do PT, amanhã.
De olho em 2014
Sentados ao lado de Haddaddurante anúncio oficial de que o petista chegara ao segundo turno estavam Aloizio Mercadante, Alexandre Padilha e Marta Suplicy.
De olho na vaga para o governo de São Paulo[TEXTO]?
No palanque?
Haddad não vai se livrar tão fácil de Maluf. Além de Lula e Dilma, também o ex-prefeito ligou para ele no domingo à noite, reafirmando sua disponibilidade para participar até dos programas de TV.
O PP se reúne hoje com petistas para definir como ajudar.
Plateia B
Turma que foi à Casa de Vidro, de Lina Bo e Pietro Maria Bardi, estranhou a ausência da instalação sonora e olfativa de Cildo Meirelles.
Plateia A
Indagada, a guia explicou que a direção manda desligar essa obra, que só funciona para grupos – tipo MAM ou MoMA.
A assessoria da casa diz que a guia se enganou. E que a exposição, do curador Hans-Ulrich Obrist, não está em cartaz.
Sem máscaras
De tradicional família paulista, Andrea Matarazzo– segundo vereador mais votado em São Paulo – viu provada sua convicção de que não precisaria criar um factoide para ter o voto popular. “Não mudei meu jeito de ser, minhas roupas ou sapatos e fui recebido com cortesia e interesse por todos, de A a Z.”
Em três meses, o agora ex-candidato percorreu quase 9 mil km e participou de 448 reuniões.
Linha geral
Quais serão suas prioridades? Matarazzo se diz obcecado com a regularização fundiária, que impede o desenvolvimento econômico e a geração de empregos, e com a questão do Plano Diretor.
Musa
Claudia Cardinale desembarca no Brasil para a Mostra Internacional de Cinema – que começa dia 19. Dará entrevista pública a Rubens Ewald Filho, na Faap, e receberáo Prêmio Leon Cakoff.
De peso
O MoMA, de Nova York, decidiu fazer a reunião de seu board em São Paulo – que aproveitou para conhecer Inhotim.
Com direito à vinda de David Rockefeller, James Niven, Jerry Speyer, Patricia Cisneros, Edgar Hoffmann e outros empresários pesos-pesados.
Made in Brazil
A ONG Meninos do Morumbi embarcou 40 crianças para tocar, durante 8 minutos, ontem, em um jogo de futebol americano na Universidade de Notre Dame.
Foi um sucesso.
Na frente
Juliana Paes recebe convidados, hoje, na loja da Hope nos Jardins. Com vendas em prol do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas.
Paulo von Poser inaugura instalação, amanhã, no Museu de Arte Sacra.
Isabela Capeto e Fernando Jaeger fazem mesa-redonda no lançamento do Modern Craft Project. Amanhã, no IED.
O MIS abre, hoje, a mostra Arte e Cinema Pelos Posters.
Começa amanhã, no shopping Plaza Sul, a exposição Hebe pra Sempre, com 50 caricaturas da apresentadora.
Inaugura, amanhã, o Beauty Bar, na Haddock Lobo.
O Senai espera 250 mil visitantes no Anhembi entre 12 e 18 de novembro. Para prestigiar a Olimpíada do Conhecimento.
Dona Canô, aos 105 anos, não deixou de exercer sua cidadania. Fez questão de votar, em Santo Amaro da Purificação.
Do verbo amar - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 09/10
Maria Flor idealizou e produziu a série "Do Amor", que estreia hoje no Multishow; Armando Babaioff é seu par no programa
CIMENTO NACIONAL
A presidente Dilma Rousseff espera passar a eleição para programar a entrega da unidade 1 milhão do Minha Casa, Minha Vida. A marca deve ser atingida até o final do ano. Resta saber qual será o Estado escolhido para a cerimônia de entrega.
AR CONDICIONADO
Fernando Haddad (PT-SP) quase foi derrubado por uma sinusite na reta final da campanha. Está se tratando com antibióticos.
MESTRE
Marcos Pereira, presidente nacional do PRB (Partido Republicano Brasileiro), pastor licenciado da Igreja Universal e um dos mentores da campanha de Celso Russomanno (PRB-SP) a prefeito, voltará a dar aula de direito penal depois das eleições. Ele se licenciou do IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), de Brasília -que tem entre seus sócios o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal)- para coordenar a campanha em SP.
TÁ TUDO DOMINADO
Cerca de 20% da Câmara dos Vereadores de SP será controlada por evangélicos no próximo mandato.
Entre os 11 ligados a igrejas estão David Soares, filho do missionário R.R. Soares (Igreja Internacional da Graça de Deus), e Marta Costa, filha do pastor José Wellington (Assembleia de Deus).
CHEGUEI
O pastor Silas Malafaia, da carioca Assembleia de Deus Vitória em Cristo, desembarca hoje em SP. Vai se reunir com o pastor Jabes Alencar, presidente do Conselho de Pastores paulista, para traçar a estratégia de apoio a José Serra (PSDB). Além do "kit gay", pretendem usar contra Fernando Haddad uma fala da ministra Marta Suplicy. "Marta brincou que o PT ganharia a eleição aqui porque Lula é Deus. Isso não se faz, não", afirma Alencar.
GATOS PARA TODOS
A ONG Adote um Gatinho alcançou o número de 5.000 felinos de rua encaminhados para seus novos donos.
SE A VIDA TE DÁ LIMÃO
O rapper Pitbull exigiu uma garrafa de tequila, quatro de vodca, duas de rum e 48 limões para o camarim de sua apresentação no Rodeio de Paulínia no sábado.
FÉ NA GRINGA
Gilberto Gil parte, antes do segundo turno, para turnê do disco "Fé na Festa" nos EUA.
"Vou levar o forró para eles", diz o cantor baiano.
NASCIMENTO
A mostra "Renascimento Alemão", que será aberta no Masp no dia 18, é inédita em todo o mundo.
As obras vieram do acervo do Louvre, em Paris, mas nunca foram exibidas em conjunto, diz Pascal Torres, que fez a curadoria.
MÚSICA SUBTERRÂNEA
São Paulo receberá 20 artistas e grupos que vão se apresentar no metrô entre os dias 22 e 27 de outubro.
Nove deles vieram de cidades como Barcelona, Londres, Nova York e Berlim, onde vivem de tocar no transporte público subterrâneo.
DI NOS TRINQUES
O restauro de "Alegoria das Artes", painel de Di Cavalcanti na fachada do teatro Cultura Artística, vai receber um prêmio do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) no dia 26 de outubro. Após o incêndio que destruiu o espaço em 2008, o mural de 48 metros de extensão e oito metros de altura havia sofrido fissuras e lacunas. A recuperação trouxe de volta as suas mais de 50 cores originais.
NUDEZ REVISITADA
Antunes Filho dirige montagem de "Toda Nudez Será Castigada", de Nelson Rodrigues, no teatro do Sesc Consolação. Foram à estreia, na sexta, o filho do dramaturgo, Nelson Rodrigues Filho, a artista Tomie Ohtake, os atores Antonio Fagundes, Fernanda Torres e Giulia Gam e a jornalista Marilia Gabriela.
CURTO-CIRCUITO
Juliana Paes participa do lançamento da nova coleção da Hope. Hoje, a partir das 18h, nos Jardins.
A Gant lança coleção assinada pelo americano Michael Bastian. Hoje, às 17h, na rua Bela Cintra.
A chef Bel Coelho faz hoje jantar para a apresentação do Cook for the Cure Brasil, projeto da Kitchenaid e do Instituto Se Toque.
Começa hoje o Festival Sud de France, de degustação de vinhos, no Bar des Arts, a partir das 18h.
MC Naldo canta hoje no Eleven Club. 18 anos.
Pesquisas, fotos e filmes - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O Estado de S.Paulo - 09/10
Pesquisa eleitoral é mais do que a fotografia do momento. Pesquisa eleitoral é filme. Só a sequência de fotogramas de uma eleição é capaz de contar a sua história e apontar tendências. Quem acompanhou as eleições pelas pesquisas do Ibope e da Datafolha foi capaz de entender as idas e vindas do eleitor e até projetar o final do filme, especialmente em São Paulo.
Não fossem as pesquisas, o fenômeno Celso Russomanno (PRB) não seria conhecido. Só saberíamos, ao final da apuração, que o candidato de um partido nanico "surpreendeu" e teve 22% dos votos válidos. Não saberíamos que ele saiu do nada, cresceu, liderou durante mais de um mês, caiu e morreu na praia.
Sem as pesquisas, os adversários de Russomanno não teriam virado sua artilharia contra ele na reta final da campanha - e, talvez, o candidato do PRB não tivesse despencado na intenção de voto dos paulistanos, e hoje tivéssemos um segundo turno de Russomanno contra José Serra (PSDB) ou Fernando Haddad (PT).
A pesquisa influencia o resultado da eleição? Obviamente sim. As pesquisas balizam a cobertura pela imprensa e dimensionam o espaço que cada candidato recebe nos meios de comunicação. É uma razão objetiva de por que Levy Fidélix (PRTB) não tem a mesma visibilidade dos líderes. Pesquisa eleitoral é informação democratizada para o eleitor saber - e não só os políticos - o que acontece e tomar decisões informadas de apoio e rejeição.
Não houvesse pesquisas, não saberíamos quem são os prefeitos populares e impopulares e, portanto, não saberíamos explicar por que alguns deles se reelegem e outros não. Tampouco saberíamos que essa é a principal razão do voto nos municípios, o desejo de mudança ou de continuidade dos incumbentes.
Não houvesse pesquisas, não conheceríamos o enredo da eleição. As disputas eleitorais seriam um roteiro sem começo e meio, só fim. As histórias seriam muito menos interessantes, e seria ainda mais difícil que o eleitor prestasse atenção nelas.
Não bastassem todas essas razões, as pesquisas ainda têm um alto índice de acerto. Tanto Ibope quanto Datafolha apontaram a queda abrupta de Russomanno e a tendência de crescimento de Serra e Haddad, e que isso se intensificava na última hora. O empate era o instantâneo da véspera, mas quem olhou os fotogramas em movimento anteviu o que ocorreria no dia da eleição.
O Ibope fez uma autoavaliação, comparando 22 pesquisas de antevéspera, 27 de véspera e 13 bocas de urna ao resultado final da eleição. As taxas de votos válidos de centenas de candidatos foram comparadas a seus índices nas pesquisas mais próximas da data da eleição. Os desvios foram somados (descartando-se as redundâncias) para calcular a média de acerto em cada cidade. A média das médias foi de 95%.
Não por coincidência, 95% é o intervalo de confiança previsto para as pesquisas de intenção de voto do Ibope. Há erro? Há, mas ele é baixo, de 5% em média, e está dentro do previsto.
A maior taxa de acerto do Ibope foi em Belo Horizonte, onde a soma dos valores superestimados na boca de urna foi de 2,4% (logo, os subestimados foram -2,4%) e o índice de acerto chegou a 97,6%. Em São Paulo, o índice foi de 97,2%. O maior erro foi em Manaus, onde o Ibope superestimou a taxa de Vanessa Grazziotin e o índice geral de acerto foi de apenas 91,8%.
O erro em Manaus talvez se explique por uma taxa de abstenção maior nos bairros pobres onde a candidata do PC do B é mais votada, talvez não. Obviamente o erro importa, e muito, para os eleitores de Manaus, mas no agregado das 62 pesquisas avaliadas, está dentro do previsto. Mas os erros sempre sobressaem aos acertos. É a história do filme e da foto.
Ganhos e perdas - JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/10
Se e como o julgamento do mensalão influiu no primeiro turno das eleições será ainda discutido
DEU EXATINHO: na última sessão de julgamento antes das eleições, José Dirceu e José Genoino em pauta para receber condenações. O ministro Ayres Britto e seu antecessor na presidência do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, sempre guardiães do princípio do apartidarismo no Judiciário, não contariam com a coincidência precisa quando articulado o início, um tanto às pressas, da agenda para o julgamento.
Na ocasião, não custa lembrar, a pressa e a consequente pressão sobre o ministro revisor, para dar a revisão por concluída, justificaram-se com a coleta de um voto inicial de Peluso, que logo se aposentadoria. Voto em item secundário do processo e sem influência no julgamento, mas satisfatório para Peluso e proveitoso para o tribunal.
Se e como o julgamento do mensalão influiu no primeiro turno das eleições, será ainda discutido por algumas semanas.
Mas, para o segundo turno, parece sob medida para a agressividade de José Serra, na disputa com que São Paulo anima estas eleições. A propósito, a Polícia Federal ainda não deu sua colaboração à disputa, como fez em duas eleições anteriores. Não só por isso, a situação mais original não se deu em São Paulo, e está à margem da pinimba PSDB-PT, com ou sem PF.
O PSB é o partido que pode se considerar vitorioso político nas eleições em geral, e para tanto contribui muito a reeleição imediata de Márcio Lacerda como prefeito de Belo Horizonte.
Houve aí o êxito consagrador também do patrono de Lacerda: Aécio Neves se fortaleceu, como aspirante do PSDB à eleição presidencial de 2014, contrapondo-se a Lula, Dilma Rousseff e ao PT para eleger o candidato do PSB. Com isso, porém, a vitória do PSB tem uma face de derrota, porque seu presidente, o governador pernambucano Eduardo Campos, é o potencial adversário do fortalecido Aécio Neves na aspiração de derrotar Dilma.
Em termos aritméticos, incluída a contagem de vereadores, o PMDB confirma-se como a força incomparável em âmbito nacional e como fenômeno político, pela incapacidade de transformar tamanha força em conquista do poder central.
Sem as decisões do segundo turno em 17 capitais, sempre sujeitas a reviravoltas, ainda não há um quadro da distribuição de forças estaduais e de sua possível influência até 2014, que é o aspecto de maior interesse político para as regiões e no plano federal. Ainda assim, no varejo impressionam a ocorrência de uma só conquista do PT em primeiro turno de capital, na Goiânia onde nunca fora forte, e a acentuação do seu refluxo em Porto Alegre.
Acarinhados pela chegada de José Serra ao segundo turno, os meios de comunicação brasileiros sofreram, no entanto, uma derrota eleitoral: Hugo Chávez se reelegeu na Venezuela. Mas logo mais há mensalão outra vez.
Se e como o julgamento do mensalão influiu no primeiro turno das eleições será ainda discutido
DEU EXATINHO: na última sessão de julgamento antes das eleições, José Dirceu e José Genoino em pauta para receber condenações. O ministro Ayres Britto e seu antecessor na presidência do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, sempre guardiães do princípio do apartidarismo no Judiciário, não contariam com a coincidência precisa quando articulado o início, um tanto às pressas, da agenda para o julgamento.
Na ocasião, não custa lembrar, a pressa e a consequente pressão sobre o ministro revisor, para dar a revisão por concluída, justificaram-se com a coleta de um voto inicial de Peluso, que logo se aposentadoria. Voto em item secundário do processo e sem influência no julgamento, mas satisfatório para Peluso e proveitoso para o tribunal.
Se e como o julgamento do mensalão influiu no primeiro turno das eleições, será ainda discutido por algumas semanas.
Mas, para o segundo turno, parece sob medida para a agressividade de José Serra, na disputa com que São Paulo anima estas eleições. A propósito, a Polícia Federal ainda não deu sua colaboração à disputa, como fez em duas eleições anteriores. Não só por isso, a situação mais original não se deu em São Paulo, e está à margem da pinimba PSDB-PT, com ou sem PF.
O PSB é o partido que pode se considerar vitorioso político nas eleições em geral, e para tanto contribui muito a reeleição imediata de Márcio Lacerda como prefeito de Belo Horizonte.
Houve aí o êxito consagrador também do patrono de Lacerda: Aécio Neves se fortaleceu, como aspirante do PSDB à eleição presidencial de 2014, contrapondo-se a Lula, Dilma Rousseff e ao PT para eleger o candidato do PSB. Com isso, porém, a vitória do PSB tem uma face de derrota, porque seu presidente, o governador pernambucano Eduardo Campos, é o potencial adversário do fortalecido Aécio Neves na aspiração de derrotar Dilma.
Em termos aritméticos, incluída a contagem de vereadores, o PMDB confirma-se como a força incomparável em âmbito nacional e como fenômeno político, pela incapacidade de transformar tamanha força em conquista do poder central.
Sem as decisões do segundo turno em 17 capitais, sempre sujeitas a reviravoltas, ainda não há um quadro da distribuição de forças estaduais e de sua possível influência até 2014, que é o aspecto de maior interesse político para as regiões e no plano federal. Ainda assim, no varejo impressionam a ocorrência de uma só conquista do PT em primeiro turno de capital, na Goiânia onde nunca fora forte, e a acentuação do seu refluxo em Porto Alegre.
Acarinhados pela chegada de José Serra ao segundo turno, os meios de comunicação brasileiros sofreram, no entanto, uma derrota eleitoral: Hugo Chávez se reelegeu na Venezuela. Mas logo mais há mensalão outra vez.
De corpo e alma - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 09/10
Fortalecida com o inesperado avanço de Gustavo Fruet (PDT) ao segundo turno em Curitiba, Gleisi Hoffmann diz que se empenhará pessoalmente para eleger o aliado e promete imersão na campanha a partir de sexta-feira. A ministra da Casa Civil, para quem a disputa na capital paranaense foi revestida de "ódio", interpreta o recado das urnas como "um 'não' do eleitor ao modo tucano de governar", em referência velada a Beto Richa (PSDB), fiador de Luciano Ducci (PSB).
Maratona Embora garanta que a eleição para o governo em 2014 "não está em sua agenda", Gleisi percorrerá com o marido Paulo Bernardo (Comunicações) três cidades do interior no segundo turno: Cascavel, Maringá e Ponta Grossa.
Marineiro Enquanto Dilma Rousseff ainda é dúvida em Curitiba, Fruet deve contar com Marina Silva no palanque no segundo turno. O apoio da ex-senadora na reta final foi considerado um dos fatores decisivos para o pedetista ir ao segundo turno.
Frevo Será amanhã em Brasília o balanço com fogos que o PSB fará de seu desempenho nas urnas. Eduardo Campos vai defender o apoio a Fruet em Curitiba, mas a ideia não agrada ao prefeito Luciano Ducci. Ele também quer vencer resistência interna e apoiar o petista Luciano Cartaxo em João Pessoa.
Mercado futuro Em troca do apoio a Fernando Haddad, o PMDB quer que Dilma garanta ao partido primazia na reforma ministerial pós-eleição. O Planalto não quer mudar nada antes do segundo turno, mas já sinalizou que o partido será atendido.
Ah, tá Diante da derrota de Patrus Ananias em Belo Horizonte, interlocutores de Dilma agora afirmam que o principal objetivo da candidatura era romper a aliança de Aécio Neves e Fernando Pimentel e levar o PT à oposição do tucano em Minas.
DDD Ainda celebrando a vitória diante da presidente em Minas, Aécio telefonaria ontem para Eduardo Campos, outro possível presidenciável em 2014, com quem o PT também protagonizou disputas em várias capitais. Por ora, o tucano vê com cautela uma eventual aliança de ambos na sucessão de Dilma.
Chamada... Geraldo Alckmin convocou os 27 secretários para reunião hoje no Bandeirantes. De olho em 2014, ele cobrará celeridade em obras de transporte e saneamento, apresentará o Orçamento para o ano que vem e elegerá projetos prioritários para captação de crédito.
...oral Com o aumento da capacidade de endividamento do Estado, o tucano terá R$ 11,9 bilhões extras para investir, dos quais R$ 1,9 bilhão vai para a linha 5 do metrô e a duplicação da Tamoios. Os outros R$ 10 bilhões devem ir para o monotrilho Cidade Tiradentes, a linha 6 do metrô e o túnel Santos-Guarujá.
Asfalto Alckmin quer incluir obras em pequenos e médios municípios, como o Plano de Modernização de Estradas, de R$ 1,1 bilhão, e o Água Limpa, de R$ 200 milhões para coleta e tratamento de esgoto em cidades não atendidas pela Sabesp.
A duras... Admitindo a condenação, José Dirceu reuniu advogados e assessores no final de semana para tentar projetar as penas que lhe serão aplicadas. Pelos cálculos de Dirceu, só Dias Toffoli deve acompanhar Ricardo Lewandowski na absolvição. Eles ainda nutrem alguma expectativa pelo voto da ministra Cármen Lúcia.
... penas Por isso, preocupa o petista que os dois não opinem sobre as penas. Em 2010, quando o STF condenou o deputado José Gerardo (PMDB-CE), Lewandowski defendeu que ministros que foram pró-absolvição não fixassem a dosimetria.
Visita à Folha O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado da assessora Cláudia Lacerda.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"É problema de metodologia, não de má-fé. Mas tem um efeito brutal no ânimo dos apoiadores e na arrecadação da campanha."
DE GUSTAVO FRUET (PDT), candidato à Prefeitura de Curitiba, sobre os prognósticos das pesquisas, que não indicaram sua ida ao segundo turno.
contraponto
Inferno astral
Após votar no domingo pela manhã, o senador Humberto Costa, candidato do PT à Prefeitura de Recife (PE), teve de esperar para acompanhar seu candidato a vice, o ex-prefeito João Paulo, que decidiu ir às urnas às 13h58. Questionado sobre o porquê do horário quebrado, João Paulo, que pratica meditação budista, explicou:
-Os astros me mandaram votar nesse horário.
Com 17,4% dos votos válidos, a dupla foi derrotada.
Nova configuração - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 09/10
Nada mais sintomático do que a definição do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, de que os resultados das eleições municipais marcam um rearranjo das forças políticas no país.
Os resultados já indicavam que o PSB foi o partido que mais cresceu em número de prefeituras, e algumas vitórias simbólicas já no primeiro turno, como em Minas e no Recife, e a boa chance de vencer o segundo turno em Fortaleza, deram ao partido uma visibilidade nacional que forçará uma reacomodação de forças dentro da base aliada num primeiro momento.
Adiante, Campos deve avaliar as condições objetivas de voo solo ou associação a um projeto de poder encabeçado pelo PSDB, que, quando chega a hora da decisão política, se torna o catalisador das forças oposicionistas. Por enquanto, não há razão para o PSB deixar a base aliada, e pode até ser que esse projeto de poder seja transferido para 2018, desde que o PT consiga conviver não só com um, mas dois partidos fortes na coalizão governista.
Há uma situação apenas em que Eduardo Campos poderá se desgarrar da aliança petista: se a maneira de governar desse governo em curso não corresponder à sua visão de gestão, e a ineficiência da máquina pública demonstrar que os projetos não têm condições de se realizarem. Essa ineficiência será tão maior quanto os problemas econômicos internacionais forem enfrentados de uma maneira equivocada, e a visão populista se sobrepuser à eficiência administrativa.
O fato é que a visão de Estado do governador é mais próxima da do PSDB, mais especificamente da do senador Aécio Neves, ou mesmo do estilo administrativo modernizante imposto pelo governo do PMDB no Rio de Janeiro com o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, do que da do PT que prevalece hoje no governo Dilma.
A maneira de governar será fundamental também para reaproximar o poder político da cidadania, pois o alto número de abstenções, votos nulos e em branco destas eleições, de que a cidade de São Paulo é um exemplo gritante, mostra que há um divórcio cada vez maior entre o poder político constituído e o eleitor. É detectando essa brecha que se amplia cada vez mais, separando eleitores e eleitos, que o candidato tucano José Serra iniciou sua campanha pelo segundo turno falando sobre "valores", citando o julgamento do mensalão pelo STF como a novidade da política brasileira. É uma estocada inicial no adversário petista, que terá que conviver nesta campanha com o estigma do partido que está em julgamento em Brasília. É da ala paulista do PT que sai a maioria dos réus do mensalão, e Fernando Haddad, embora não tenha relação pessoal com o episódio - uma vantagem para o contra-ataque - vai ter de lidar com o assunto, que tem em São Paulo efeito maior do que no país de modo geral.
A disputa em torno de valores éticos na política levará inevitavelmente a acusações do petista contra Serra, centradas especialmente no que chamam de "privataria tucana". Os dois vão ter que enfrentar essa situação, tendo o esforço adicional de atrair cerca de 1/3 dos eleitores que este ano simplesmente se absteve ou votou nulo e em branco.
A disputa paulistana reafirma a polarização nacional, mas mostra também que o eleitor está em busca do novo, o que pode favorecer tanto Eduardo Campos quanto Aécio Neves.
E será esse eleitor desanimado que definirá a eleição paulistana. PT e Serra tiveram nesta eleição o menor percentual de votos das últimas disputas. Serra, com apoio do prefeito Gilberto Kassab - que, mal avaliado, mais parece ser um peso - e do governador Geraldo Alckmin, venceu o primeiro turno apesar de ter taxa de rejeição altíssima. Já é case eleitoral, desmentindo a máxima de que a partir de 40% de rejeição o candidato está derrotado.
O ex-presidente Lula pode considerar uma vitória ter levado o desconhecido Haddad ao segundo turno, o que mostra a dificuldade da tarefa que se impôs. Ele o escolheu por ser "o novo", e o máximo que conseguiu foi atingir a votação tradicional petista, embora no nível mais baixo dos últimos anos.
Agora, Haddad terá que ser capaz de ir além do PT para convencer o terço do eleitorado que não votou e mais os que votaram em outros candidatos de que pode ser realmente a renovação da política.
Serra e Haddad têm tarefas difíceis. Mas a vitória apagará todos os problemas que hoje enfrentam.