O GLOBO - 27/09
O Movimento Pare a CSA, uma ONG que deseja simplesmente fechar a usina siderúrgica carioca, conseguiu junto ao BNDES, com base na Lei de Acesso à Informação, cópias de contratos que, segundo o grupo, totalizam um desembolso do banco público ao projeto de R$ 2,4 bilhões, e não R$ 1,5 bi, "como se dizia”
Em tempo...
Poderá ser conhecido amanhã o nome da empresa que vai assumir o controle da CSA.
A ThyssenKrupp pôs à venda sua parte na usina (73% do negócio).
Vem da Ásia...
Aliás, a Rádio Corredor aposta que o novo comprador da CSA tem olhos puxados! A conferir.
Multa paga
A Chevron já depositou R$ 35,1 milhões na conta da ANP, valor da multa por conta do vazamento ocorrido no Campo de Frade (RJ).
Boletim médico
O ministro do STJ Gilson Dipp, que preside a Comissão da Verdade, teve complicações respiratórias e foi para o Hospital Albert Einstein (SP).
Esforço final
Foi só sair a pesquisa do Ibope com Haddad ultrapassando Serra para os telefones dos assessores de Dilma não pararem de tocar.
O PT paulistano sonha com a presença dela no comício de sábado.
Furdúncio
Diz assim o funk "Furdúncio” que Roberto e Erasmo Carlos compuseram para a novela "Salve Jorge”: "Quando ela chega é um furdúncio adoidado/E todo mundo quer ficar do seu lado/Às vezes não quero sair, mas eu saio/Do que é meu eu cuido e não me distraio”
JOIA DA SERRINHA
O jongo, uma manifestação cultural africana trazida ao Brasil pelos escravos, vai ganhar uma nova casa no Morro da Serrinha, em Madureira, na Zona Norte do Rio. A prefeitura desapropriou um imóvel de dois andares e vai construir lá uma nova sede, veja, para a ONG Grupo Cultural Jongo da Serrinha (GCJS). Segundo o projeto da RioUrbe, o lugar terá salão de dança, auditório com cinema, estúdios, área para exposições, lojas, refeitório, além de salas administrativas, para cursos profissionalizantes e aulas de artes. A sede do Jongo da Serrinha, que é muito conhecido entre os admiradores dessa cultura, terá ainda um espaço para orações e um terreiro para receber rodas de jongo e capoeira. Vamos torcer, vamos cobrar •
As mocinhas de SerraFH, aos 81 anos, continua bem-humorado. Segunda, num evento em São Paulo que abordou o crescimento das megacidades, Serra gracejou:
— Falo de uma época em que as mocinhas desta sala nem eram nascidas.
— Sorte delas — completou FH, na primeira fila do auditório, ao ouvido de Pedro Moreira Salles.
Ele e ela
O Ahram — versão online do jornal egípcio Al-Ahram — cometeu uma gafe ao chamar de "homem” a presidente Dilma, que se encontrou com seu colega egípcio, Mohamed Morsi, em Nova York.
Depois o site corrigiu, dizendo "both leaders”.. Ah, bom!
A conferirA Editora Sextante lança em outubro "Eu posso fazer você emagrecer” livro em que o inglês Paul McKenna promete ajudar a perder peso por meio de... hipnose.
O autor tem mais de seis milhões de cópias vendidas pelo mundo. Entre as celebridades adeptas ao método estão Naomi Campbell e David Bowie.
Eva no ‘Face’
O anúncio da chegada de Eva, a filha de Luciano Huck e Angélica, provocou uma explosão de "curtir” na fanpage que o apresentador da TV Globo tem no Facebook.
Vinte e duas horas após a postagem, 423.473 pessoas já haviam clicado no botão "curtir’,’ fora os mais de 87 mil comentários. Isso é... vida em rede.
Jockey sem culpa
A 8? Turma do TST manteve a decisão de primeira instância que inocenta o Jockey Club Brasileiro num acidente, durante um páreo, em 2000.
Um jóquei caiu de uma égua e ficou com lesões graves. Teve, inclusive, que abandonar a carreira.
Segue...Alegou que o animal estava cego e que uma vala, sobre a qual caiu, estava em lugar inadequado.
Pediu R$ 1,7 milhão de indenização, mas não levou.
Velho Guerreiro
A inauguração da Arena Carioca Abelardo Barbosa — Chacrinha, em Pedra de Guaratiba, no Rio, sábado, terá a participação das ex-chacretes Ester Bem-me-quer e Cida Cleópatra.
Trocou de Falcão
Na abertura do mutirão cível do TJ do Rio, a desembargadora Leila Mariano, futura presidente da Casa, chamou o ministro Francisco Falcão, corregedor-geral do CNJ, de... Joaquim Falcão, que é diretor da FGV Direito Rio.
Liga não, Leila. Isto acontece nas melhores famílias.
quinta-feira, setembro 27, 2012
A questão é séria demais para ser vista como briga entre mocinhos e bandidos - RICARDO GALUPPO
BRASIL ECONÔMICO - 27/09
O que está em jogo é mais do que a legislação que disciplina a ocupação e o uso da terra pelos agricultores e estabelece exigências de preservação ambiental nas propriedades rurais.
A discussão em torno do Código Florestal diz respeito a algo muito maior: a relação entre o Executivo e o Legislativo. Só para recapitular: a discussão em torno de um novo Código Florestal começou no Congresso em 1990.
Mas não avançou até que, no segundo governo Lula, o ministro da Agricultura Reinhold Stephanes tentou promover discussões que, caso avançassem, desaguariam na proposta de um novo Código. Não avançaram. Stephanes cansou de tentar abrigar interesses conflitantes sob o mesmo guarda-chuvas e deixou a discussão a cargo do Legislativo.
Foi então que o deputado Aldo Rebelo (hoje ministro do Esporte) entrou em cena como relator do projeto do Código e, depois de promover quase 70 audiências públicas para tratar do assunto e ouvir todas as partes interessadas, elaborou uma proposta em torno do tema. Era a melhor proposta possível para um tema que mexe com tantos interesses.
Levado a plenário da Câmara em maio de 2011, o documento recebeu 410 votos a favor, 63 votos contrários e uma abstenção. Dali, seguiu para o Senado e, no início de dezembro do ano passado, foi aprovado por 59 votos a 7.
Maiorias como essas não são desrespeitadas em nenhum país onde o Parlamento reflita os verdadeiros interesses da sociedade. Mas no Brasil, onde o sistema de representação contém falhas estruturais sérias, houve uma confusão fenomenal.
Inconformadas com a decisão do Parlamento, entidades da chamada ‘sociedade civil organizada" se lançaram a uma campanha que simplesmente pedia que a presidente Dilma Rousseff vetasse o Código Florestal.
A presidente acatou o "clamor" e, valendo-se de sua prerrogativa constitucional, vetou o Código e apresentou uma medida provisória sobre o assunto. Na semana passada, a Câmara dos Deputados vetou o veto de Dilma e, nesta semana, o Senado também restituiu alguns pontos do projeto original.
A questão é séria demais para ser tratada como um debate interesseiro entre ruralistas (mostrados como os "bandidos") e os ambientalistas (os mocinhos avatares que lutam para preservar o planeta).
Antes que se inicie uma campanha pedindo que a presidente vete mais uma vez o que o Congresso "desvetou", os dois lados deveriam se sentar e conversar seriamente a respeito.
Afinal de contas, a trajetória recente do Código prova que nada se resolverá à força. A proposta do ex-ministro Roberto Rodrigues de chamar todos para uma conversa em torno de um Código "agroambiental", apresentada no final da semana passada no 1º Fórum Nacional de Agronegócios, promovido pelo Lide, em Campinas, pode ser a saída para o problema.
O que está em jogo é mais do que a legislação que disciplina a ocupação e o uso da terra pelos agricultores e estabelece exigências de preservação ambiental nas propriedades rurais.
A discussão em torno do Código Florestal diz respeito a algo muito maior: a relação entre o Executivo e o Legislativo. Só para recapitular: a discussão em torno de um novo Código Florestal começou no Congresso em 1990.
Mas não avançou até que, no segundo governo Lula, o ministro da Agricultura Reinhold Stephanes tentou promover discussões que, caso avançassem, desaguariam na proposta de um novo Código. Não avançaram. Stephanes cansou de tentar abrigar interesses conflitantes sob o mesmo guarda-chuvas e deixou a discussão a cargo do Legislativo.
Foi então que o deputado Aldo Rebelo (hoje ministro do Esporte) entrou em cena como relator do projeto do Código e, depois de promover quase 70 audiências públicas para tratar do assunto e ouvir todas as partes interessadas, elaborou uma proposta em torno do tema. Era a melhor proposta possível para um tema que mexe com tantos interesses.
Levado a plenário da Câmara em maio de 2011, o documento recebeu 410 votos a favor, 63 votos contrários e uma abstenção. Dali, seguiu para o Senado e, no início de dezembro do ano passado, foi aprovado por 59 votos a 7.
Maiorias como essas não são desrespeitadas em nenhum país onde o Parlamento reflita os verdadeiros interesses da sociedade. Mas no Brasil, onde o sistema de representação contém falhas estruturais sérias, houve uma confusão fenomenal.
Inconformadas com a decisão do Parlamento, entidades da chamada ‘sociedade civil organizada" se lançaram a uma campanha que simplesmente pedia que a presidente Dilma Rousseff vetasse o Código Florestal.
A presidente acatou o "clamor" e, valendo-se de sua prerrogativa constitucional, vetou o Código e apresentou uma medida provisória sobre o assunto. Na semana passada, a Câmara dos Deputados vetou o veto de Dilma e, nesta semana, o Senado também restituiu alguns pontos do projeto original.
A questão é séria demais para ser tratada como um debate interesseiro entre ruralistas (mostrados como os "bandidos") e os ambientalistas (os mocinhos avatares que lutam para preservar o planeta).
Antes que se inicie uma campanha pedindo que a presidente vete mais uma vez o que o Congresso "desvetou", os dois lados deveriam se sentar e conversar seriamente a respeito.
Afinal de contas, a trajetória recente do Código prova que nada se resolverá à força. A proposta do ex-ministro Roberto Rodrigues de chamar todos para uma conversa em torno de um Código "agroambiental", apresentada no final da semana passada no 1º Fórum Nacional de Agronegócios, promovido pelo Lide, em Campinas, pode ser a saída para o problema.
Força invisível - LUÍS CLAUDIO DE SANTANA
O Globo - 27/09
Com a projeção alcançada no cenário internacional, destacadamente por ter se tornado a 6ª economia mundial e descoberto gigantescas reservas de óleo e gás no pré-sal, o Brasil se legitimou para assumir um protagonismo inédito.
Mas nenhum país se torna uma grande potência sem ter à altura uma estrutura de defesa condizente com sua pretensão. Não para promover guerras, mas para evitá-las, ao demover potenciais contendores tentados a subjugar a soberania de outras nações.
A criação do Ministério da Defesa, em 1999, foi a primeira relevante medida tomada para modernizar a estrutura nacional de defesa e evitar que continuem vulneráveis 15 mil km de fronteira seca, 8 mil km de litoral e espaço aéreo de dimensões continentais.
A segunda grande decisão política foi o encaminhamento ao Congresso Nacional da Estratégia Nacional de Defesa (END), concluída em 2008, que prevê investimentos no sistema de defesa, inclusive no que diz respeito aos recursos humanos que irão operá-lo.
Há três eixos no programa:
1) reorganização das Forças Armadas;
2) reestruturação da indústria brasileira de material de defesa;
3) implementação de uma política de composição de efetivos.
O texto do decreto que aprovou a END reconhece expressamente a inexistência de carreira civil como uma das principais vulnerabilidades do setor. Contudo, paradoxalmente, para superá-la, a END trata da criação de uma carreira de especialistas, sem incluir o aproveitamento dos civis que já fazem parte da Defesa.
Deve ser consenso que os profissionais civis das Forças Armadas também exercem um protagonismo estratégico. Afinal, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica não dependem exclusivamente dos militares treinados para operar os tanques, canhões, caças e submarinos.
Os servidores civis que pertencem à estrutura do Ministério da Defesa são imprescindíveis às três Forças. São mais de 23 mil profissionais na ativa - mais de 15 mil deles no RJ - exercendo atividades que garantem o suporte logístico e administrativo indispensável às ações, aos estudos e aos treinamentos desenvolvidos pelos militares.
São cientistas, engenheiros, professores, médicos, enfermeiros, administradores e mecânicos que deveriam fazer parte de uma carreira única de Defesa. Nos países tecnológica e militarmente mais avançados, a presença do civil em apoio ao militar é considerada fundamental aos projetos de defesa.
Por isso, é incompreensível que o Estado brasileiro não promova sequer ações de incentivo à permanência dos civis nessa função pública estratégica. O último concurso público para cargos destinados às áreas de logística e administrativa ocorreu em 1994! Os civis adquiriram conhecimentos valiosos em pesquisas científicas, atividades acadêmicas e programas de construção, manutenção e reparo de submarinos, aeronaves e tanques de guerra, que não podem ser desperdiçados.
Mas nenhum país se torna uma grande potência sem ter à altura uma estrutura de defesa condizente com sua pretensão. Não para promover guerras, mas para evitá-las, ao demover potenciais contendores tentados a subjugar a soberania de outras nações.
A criação do Ministério da Defesa, em 1999, foi a primeira relevante medida tomada para modernizar a estrutura nacional de defesa e evitar que continuem vulneráveis 15 mil km de fronteira seca, 8 mil km de litoral e espaço aéreo de dimensões continentais.
A segunda grande decisão política foi o encaminhamento ao Congresso Nacional da Estratégia Nacional de Defesa (END), concluída em 2008, que prevê investimentos no sistema de defesa, inclusive no que diz respeito aos recursos humanos que irão operá-lo.
Há três eixos no programa:
1) reorganização das Forças Armadas;
2) reestruturação da indústria brasileira de material de defesa;
3) implementação de uma política de composição de efetivos.
O texto do decreto que aprovou a END reconhece expressamente a inexistência de carreira civil como uma das principais vulnerabilidades do setor. Contudo, paradoxalmente, para superá-la, a END trata da criação de uma carreira de especialistas, sem incluir o aproveitamento dos civis que já fazem parte da Defesa.
Deve ser consenso que os profissionais civis das Forças Armadas também exercem um protagonismo estratégico. Afinal, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica não dependem exclusivamente dos militares treinados para operar os tanques, canhões, caças e submarinos.
Os servidores civis que pertencem à estrutura do Ministério da Defesa são imprescindíveis às três Forças. São mais de 23 mil profissionais na ativa - mais de 15 mil deles no RJ - exercendo atividades que garantem o suporte logístico e administrativo indispensável às ações, aos estudos e aos treinamentos desenvolvidos pelos militares.
São cientistas, engenheiros, professores, médicos, enfermeiros, administradores e mecânicos que deveriam fazer parte de uma carreira única de Defesa. Nos países tecnológica e militarmente mais avançados, a presença do civil em apoio ao militar é considerada fundamental aos projetos de defesa.
Por isso, é incompreensível que o Estado brasileiro não promova sequer ações de incentivo à permanência dos civis nessa função pública estratégica. O último concurso público para cargos destinados às áreas de logística e administrativa ocorreu em 1994! Os civis adquiriram conhecimentos valiosos em pesquisas científicas, atividades acadêmicas e programas de construção, manutenção e reparo de submarinos, aeronaves e tanques de guerra, que não podem ser desperdiçados.
O etanol é para valer? - ADRIANO PIRES
Brasil Econômico - 27/09
O setor de etanol tem sido criticado pelo governo por não ser capaz de suprir a demanda nacional do produto, por conta do baixo crescimento da produtividade. Está na hora do governo decidir se a intenção de aumentar a participação do etanol na matriz de combustíveis é para valer.
Para o sucesso do etanol é, realmente, fundamental o crescimento da produtividade, que infelizmente está sendo prejudicado pela adoção da política do stop-and-go.
As idas e vindas da participação do etanol na matriz de combustíveis geraram custos para a indústria e comprometeram os ganhos de produtividade. Portanto, se o crescimento do mercado de etanol tivesse sido contínuo, certamente estaríamos em outro patamar de produtividade.
Nesse sentido, falta ainda, um marco regulatório estável que defina uma política de longo prazo.
No Brasil, nos últimos 15 anos, a produtividade do etanol de cana cresceu 20%, enquanto nos Estados Unidos, o salto foi de 50% no etanol de milho.
Em 1998, as usinas americanas fabricavam apenas 36% do volume das usinas brasileiras. Em 2011, a produção americana de etanol foi quase o dobro da brasileira. O Brasil foi ultrapassado pelos EUA na liderança do setor.
Qual a receita do sucesso americano? Previsibilidade. Até 2022, o governo americano se comprometeu por lei a comprar 136 bilhões de litros de etanol, a um preço mínimo de US$ 1,07, reajustados anualmente.
Não adianta cobrar produtividade do setor, sem que ocorra uma continuidade das políticas públicas no longo prazo. É preciso políticas públicas de Estado, que ultrapassem os interesses dos governos de plantão, criando mecanismos capazes de incentivar os investimentos e garantir a previsibilidade.
Por exemplo, dentro de um marco regulatório estável seria fundamental o estabelecimento de metas de participação do etanol anidro e do hidratado na matriz de combustível.
Uma maneira de dar competitividade, imediata, ao etanol seria a criação de uma Cide regulatória, cujo objetivo seria compensar o subsídio dado à gasolina, por meio do pagamento de uma compensação ao usineiro equivalente à diferença entre o preço da gasolina no mercado interno e no externo.
Esta compensação teria caráter transitório e desapareceria no momento em que se igualassem o preço interno e o externo da gasolina.
Dentro da ideia de dar competitividade e um sinal econômico de longo prazo para os produtores de etanol, será necessária a criação de uma Cide ambiental, cuja arrecadação seria repassada ao Tesouro Nacional.
A gasolina deveria ser taxada por ser um combustível fóssil e poluente, e o imposto ambiental funcionaria como um desincentivo ao seu consumo. Portanto, o que se revindica é que o etanol tenha um tratamento similar ao da gasolina com a instituição da Cide.
Esta na hora do governo dar previsibilidade aos setores de etanol e do biodiesel. Só assim, seria assegurado o ganho de participação dos biocombustíveis, colocando, de forma definitiva, o país no caminho de uma matriz de combustíveis mais limpa e renovável.
O setor de etanol tem sido criticado pelo governo por não ser capaz de suprir a demanda nacional do produto, por conta do baixo crescimento da produtividade. Está na hora do governo decidir se a intenção de aumentar a participação do etanol na matriz de combustíveis é para valer.
Para o sucesso do etanol é, realmente, fundamental o crescimento da produtividade, que infelizmente está sendo prejudicado pela adoção da política do stop-and-go.
As idas e vindas da participação do etanol na matriz de combustíveis geraram custos para a indústria e comprometeram os ganhos de produtividade. Portanto, se o crescimento do mercado de etanol tivesse sido contínuo, certamente estaríamos em outro patamar de produtividade.
Nesse sentido, falta ainda, um marco regulatório estável que defina uma política de longo prazo.
No Brasil, nos últimos 15 anos, a produtividade do etanol de cana cresceu 20%, enquanto nos Estados Unidos, o salto foi de 50% no etanol de milho.
Em 1998, as usinas americanas fabricavam apenas 36% do volume das usinas brasileiras. Em 2011, a produção americana de etanol foi quase o dobro da brasileira. O Brasil foi ultrapassado pelos EUA na liderança do setor.
Qual a receita do sucesso americano? Previsibilidade. Até 2022, o governo americano se comprometeu por lei a comprar 136 bilhões de litros de etanol, a um preço mínimo de US$ 1,07, reajustados anualmente.
Não adianta cobrar produtividade do setor, sem que ocorra uma continuidade das políticas públicas no longo prazo. É preciso políticas públicas de Estado, que ultrapassem os interesses dos governos de plantão, criando mecanismos capazes de incentivar os investimentos e garantir a previsibilidade.
Por exemplo, dentro de um marco regulatório estável seria fundamental o estabelecimento de metas de participação do etanol anidro e do hidratado na matriz de combustível.
Uma maneira de dar competitividade, imediata, ao etanol seria a criação de uma Cide regulatória, cujo objetivo seria compensar o subsídio dado à gasolina, por meio do pagamento de uma compensação ao usineiro equivalente à diferença entre o preço da gasolina no mercado interno e no externo.
Esta compensação teria caráter transitório e desapareceria no momento em que se igualassem o preço interno e o externo da gasolina.
Dentro da ideia de dar competitividade e um sinal econômico de longo prazo para os produtores de etanol, será necessária a criação de uma Cide ambiental, cuja arrecadação seria repassada ao Tesouro Nacional.
A gasolina deveria ser taxada por ser um combustível fóssil e poluente, e o imposto ambiental funcionaria como um desincentivo ao seu consumo. Portanto, o que se revindica é que o etanol tenha um tratamento similar ao da gasolina com a instituição da Cide.
Esta na hora do governo dar previsibilidade aos setores de etanol e do biodiesel. Só assim, seria assegurado o ganho de participação dos biocombustíveis, colocando, de forma definitiva, o país no caminho de uma matriz de combustíveis mais limpa e renovável.
Os dólares do 'seu' Jacques. E os de Dilma - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O Globo - 27/09
"Seu" Jacques, conhecido da nossa família no interior de São Paulo, dono de loja de artigos variados, aplicava todas suas economias em dólar. Dólar mesmo, verdinhas, que guardava em casa. Isso faz muito tempo, dos anos 50 para os 60. Quando nós, os mais jovens, começamos a achar que entendíamos de política e economia, tentamos convencer "seu" Jacques que havia investimento melhor. Sim, admitíamos que ele, imigrante que escapara da Rússia em circunstâncias tão dramáticas quanto corajosas, sabia como fora crucial ter uma moeda aceita em qualquer lugar do mundo. Mas agora, mundo novo, dizíamos, ninguém vai sequer pensar em perseguir sua família.
Tudo bem, dizia ele, com sotaque forte, e explicava sua teoria: "Conhece alguém que ficou pobre com um monte de papel na mão? Já viu. E sabe de alguém que ficou pobre com um monte de dólares na mão?" Ou seja, dólar é risco zero. Tanto tempo depois, na era do capital financeiro, a teoria continua valendo. Reparem no dia a dia do mercado global: toda vez que algo se complica, os investidores correm para aplicar em títulos do governo americano. É papel, certo, "seu" Jacques não gostaria, mas valem verdinhas e podem ser trocados a qualquer momento.
Inversamente, quando o ambiente se acalma, os investidores globais voltam aos chamados mercados de risco - títulos do governo brasileiro, por exemplo, ações na bolsa chilena - que pagam mais no momento, embora os reais e pesos equivalentes não sejam aceitos na Sibéria, sequer aqui por perto.
Comprar os títulos do Tesouro americano é perder dinheiro. Os papéis de dez anos pagavam ontem 1,6% ao ano. A inflação americana e a mundial estão passando disso. E se você resolver trocar tudo por dólar-dólar, também vai perder dinheiro.
Como voltou a dizer a presidente Dilma, a moeda americana está sendo desvalorizada em consequência das ações do Federal Reserve, Fed, o banco central dos EUA. O Fed está simplesmente imprimindo trilhões de dólares, o tsunami monetário, para comprar papéis privados, irrigar o crédito e, assim, estimular investimentos e consumo.
Quer dizer, isso é o que dizem lá. Nosso governo aqui desconfia que o objetivo do Fed seja provocar uma valorização global de todas as outras moedas e assim encarecer as exportações de todo mundo para os EUA, enquanto barateia as exportações americanas para o mundo todo.
De fato, o dólar se desvalorizou quando o Fed anunciou seu último programa. Mas, tirante Brasília e um ou outro, o mundo bateu palmas. Ocorre que o pessoal viu nessa política um caminho para tirar os EUA da crise, o que é bom para todos.
Reparem: se tudo correr bem, as famílias americanas vão torrar algo como US$ 10 trilhões neste ano. Comprando casas, como espera o Fed, pagando serviços, mas também importando mercadorias do mundo todo, inclusive do Brasil.
Nesse caso, o real fortalecido não será problema, pois todas as demais moedas, especialmente dos emergentes exportadores de commodities, também estão se valorizando em relação ao dólar. Assim, não se altera a posição relativa dos competidores dentro do mercado americano.
Também não há problema nas exportações brasileiras para outros países, já que todos sofrem igualmente o impacto da desvalorização do dólar. Só haveria dificuldades ali onde o produto brasileiro compete com o americano - mas isto é muito pouco. O governo brasileiro, por exemplo, está dando incentivos para a montagem de iPhones no Brasil. Ora, não existe um iPhone sequer fabricado nos EUA. Lá eles fazem o projeto, o desenho, o software, o marketing.
Já perceberam, não é mesmo? Há, sim, um país que ganha competição nessa história toda, a China, que mantém sua moeda alinhada ao dólar. (OK, os chineses têm permitido a valorização do yuan, mas lentamente e interrompida toda vez que há algum stress.) E é com os chineses que os manufaturados brasileiros (iPhones incluídos) têm que concorrer nos EUA, no mundo todo e inclusive aqui no Brasil.
Por que a presidente Dilma não reclama da China? Nesse caso, aliás, seria de interesse do Brasil associar-se aos EUA na bronca com os chineses na Organização Mundial do Comércio. Ou será que o pessoal em Brasília ainda acha que a China é aliada nessa ação, digamos, "anti-imperialismo"?
Por outro lado, o Banco Central brasileiro continua comprando dólares e engordando as reservas. São dólares desvalorizados, mas "você não vai ficar pobre com isso", diria seu Jacques.
Tudo bem, dizia ele, com sotaque forte, e explicava sua teoria: "Conhece alguém que ficou pobre com um monte de papel na mão? Já viu. E sabe de alguém que ficou pobre com um monte de dólares na mão?" Ou seja, dólar é risco zero. Tanto tempo depois, na era do capital financeiro, a teoria continua valendo. Reparem no dia a dia do mercado global: toda vez que algo se complica, os investidores correm para aplicar em títulos do governo americano. É papel, certo, "seu" Jacques não gostaria, mas valem verdinhas e podem ser trocados a qualquer momento.
Inversamente, quando o ambiente se acalma, os investidores globais voltam aos chamados mercados de risco - títulos do governo brasileiro, por exemplo, ações na bolsa chilena - que pagam mais no momento, embora os reais e pesos equivalentes não sejam aceitos na Sibéria, sequer aqui por perto.
Comprar os títulos do Tesouro americano é perder dinheiro. Os papéis de dez anos pagavam ontem 1,6% ao ano. A inflação americana e a mundial estão passando disso. E se você resolver trocar tudo por dólar-dólar, também vai perder dinheiro.
Como voltou a dizer a presidente Dilma, a moeda americana está sendo desvalorizada em consequência das ações do Federal Reserve, Fed, o banco central dos EUA. O Fed está simplesmente imprimindo trilhões de dólares, o tsunami monetário, para comprar papéis privados, irrigar o crédito e, assim, estimular investimentos e consumo.
Quer dizer, isso é o que dizem lá. Nosso governo aqui desconfia que o objetivo do Fed seja provocar uma valorização global de todas as outras moedas e assim encarecer as exportações de todo mundo para os EUA, enquanto barateia as exportações americanas para o mundo todo.
De fato, o dólar se desvalorizou quando o Fed anunciou seu último programa. Mas, tirante Brasília e um ou outro, o mundo bateu palmas. Ocorre que o pessoal viu nessa política um caminho para tirar os EUA da crise, o que é bom para todos.
Reparem: se tudo correr bem, as famílias americanas vão torrar algo como US$ 10 trilhões neste ano. Comprando casas, como espera o Fed, pagando serviços, mas também importando mercadorias do mundo todo, inclusive do Brasil.
Nesse caso, o real fortalecido não será problema, pois todas as demais moedas, especialmente dos emergentes exportadores de commodities, também estão se valorizando em relação ao dólar. Assim, não se altera a posição relativa dos competidores dentro do mercado americano.
Também não há problema nas exportações brasileiras para outros países, já que todos sofrem igualmente o impacto da desvalorização do dólar. Só haveria dificuldades ali onde o produto brasileiro compete com o americano - mas isto é muito pouco. O governo brasileiro, por exemplo, está dando incentivos para a montagem de iPhones no Brasil. Ora, não existe um iPhone sequer fabricado nos EUA. Lá eles fazem o projeto, o desenho, o software, o marketing.
Já perceberam, não é mesmo? Há, sim, um país que ganha competição nessa história toda, a China, que mantém sua moeda alinhada ao dólar. (OK, os chineses têm permitido a valorização do yuan, mas lentamente e interrompida toda vez que há algum stress.) E é com os chineses que os manufaturados brasileiros (iPhones incluídos) têm que concorrer nos EUA, no mundo todo e inclusive aqui no Brasil.
Por que a presidente Dilma não reclama da China? Nesse caso, aliás, seria de interesse do Brasil associar-se aos EUA na bronca com os chineses na Organização Mundial do Comércio. Ou será que o pessoal em Brasília ainda acha que a China é aliada nessa ação, digamos, "anti-imperialismo"?
Por outro lado, o Banco Central brasileiro continua comprando dólares e engordando as reservas. São dólares desvalorizados, mas "você não vai ficar pobre com isso", diria seu Jacques.
Protestos muçulmanos - CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP - 27/09
O vídeo "A Inocência dos Muçulmanos" (link), apesar de sua mediocridade, fez sucesso. Ninguém aguenta ver aquilo até o fim, mas o vídeo instigou a curiosidade dos internautas quando se soube que ele era a causa dos violentos protestos que se alastraram pelos países muçulmanos, nas últimas duas semanas.
Esquecendo os terroristas que se aproveitaram desses protestos para semear a morte, a visão dos desfiles e dos quebra-quebras foi instrutiva e desalentadora. Instrutiva por nos explicar, mais uma vez, a diferença cultural que separa o Ocidente do islã, e desalentadora porque a esperança de um entendimento recíproco parece pequena.
a) Os cristãos terão dificuldade em sentir empatia com os muçulmanos indignados pelo vídeo, pelas caricaturas dinamarquesas de seis anos atrás etc. Afinal, aqui, Jesus é uma marca de calças jeans e uma personagem de "South Park". No YouTube, encontrei um grupo francês, "Les Vampires", que, como capa de seu disco sobre a homossexualidade de Jesus, propõe o Cristo com uma mão pregada na cruz, enquanto, com a outra, ele se masturba.
Os cristãos se deleitaram com "O Código da Vinci", um best-seller, que explica que Jesus teve filhos com Maria Madalena e a igreja nos escondeu tudo isso até hoje. Qual empatia possível com os que condenaram à morte Salman Rushdie por ter escrito "Os Versos Satânicos", um grande livro, mais citado que lido, em que há sequências oníricas das quais eu nunca entendi por que seriam ofensivas para o islã? Nota: acaba de sair a autobiografia da clandestinidade de Rushdie, "Joseph Anton, Memórias" (Companhia das Letras).
b) Imaginemos, por um instante, que eu não me aguente e queira manifestar minha indignação com "Les Vampires". Uma das últimas coisas que eu faria seria atacar a embaixada da França.
Entendo que os protestos atuais passem a ser contra países cuja política seria mais favorável a Israel do que à Palestina. Mas o fato é que, neles, as massas muçulmanas reagem como se considerassem que um pensamento é a expressão e a responsabilidade do grupo ao qual seu autor pertence. No mínimo, o grupo (a nação) seria culpado porque não sabe disciplinar seus membros.
Ora, prefiro, de longe, aturar "Les Vampires" a exigir que os Estados se tornem guardiões do que pensam seus cidadãos.
Já houve épocas (não tão remotas) em que queimávamos e torturávamos pessoas que pensavam fora dos trilhos da igreja. Mesmo naquelas épocas, ninguém imaginava que os produtos das consciências individuais fossem responsabilidade do grupo ou da nação.
c) O comentário mais interessante que li nestes dias foi a citação, feita por Clóvis Rossi, de Yaron Friedman, no jornal israelense "Yediot Aharonot": "Na consciência árabe e muçulmana, Maomé e seus primeiros califas [chefes político-religiosos] do século 7º simbolizam a idade de ouro do islã e a gênese de um império árabe-muçulmano que chega ao século 12 na vanguarda do desenvolvimento cultural mundial".
"Toda ofensa feita ao profeta é cutucar a lembrança do estatuto de inferioridade no qual se encontra, desde o século 19, o mundo árabe-muçulmano em relação ao Ocidente."
É quase uma regra: qualquer suscetibilidade extrema é o sinal de uma fragilidade interna. Em outras palavras, a facilidade com o qual eu me sinto ofendido revela que eu mesmo devo concordar, ao menos em parte, com a ofensa que recebi.
Ou seja, a suscetibilidade muçulmana manifesta que deve existir, na alma muçulmana, um conflito entre o tradicionalismo religioso e uma aspiração à liberdade em suas manifestações modernas ocidentais.
d) Alguém perguntará: se estamos dispostos a aturar qualquer expressão individual, será que, para nós, nada é sagrado? Será que nenhuma opinião nos ofende a ponto de nos dar vontade, por exemplo, de manifestar?
Resposta. O que é sagrado para mim não é tal ou tal outra opinião -ainda menos a minha. O que é sagrado é o próprio direito de expressar uma opinião e de viver segundo ela manda.
Se uma mulher no Irã queima uma bandeira dos EUA ou da França, acho que é seu direito. Mas, se ela for apedrejada por ser adúltera, irei para a rua pedindo que a gente intervenha com tudo o que temos. Por ser ocidental e moderno, durmo bem com os insultos de quem pensa diferente de mim. Só não durmo bem com o grito dos indivíduos impedidos de se expressar e de viver segundo a liberdade de sua consciência.
O vídeo "A Inocência dos Muçulmanos" (link), apesar de sua mediocridade, fez sucesso. Ninguém aguenta ver aquilo até o fim, mas o vídeo instigou a curiosidade dos internautas quando se soube que ele era a causa dos violentos protestos que se alastraram pelos países muçulmanos, nas últimas duas semanas.
Esquecendo os terroristas que se aproveitaram desses protestos para semear a morte, a visão dos desfiles e dos quebra-quebras foi instrutiva e desalentadora. Instrutiva por nos explicar, mais uma vez, a diferença cultural que separa o Ocidente do islã, e desalentadora porque a esperança de um entendimento recíproco parece pequena.
a) Os cristãos terão dificuldade em sentir empatia com os muçulmanos indignados pelo vídeo, pelas caricaturas dinamarquesas de seis anos atrás etc. Afinal, aqui, Jesus é uma marca de calças jeans e uma personagem de "South Park". No YouTube, encontrei um grupo francês, "Les Vampires", que, como capa de seu disco sobre a homossexualidade de Jesus, propõe o Cristo com uma mão pregada na cruz, enquanto, com a outra, ele se masturba.
Os cristãos se deleitaram com "O Código da Vinci", um best-seller, que explica que Jesus teve filhos com Maria Madalena e a igreja nos escondeu tudo isso até hoje. Qual empatia possível com os que condenaram à morte Salman Rushdie por ter escrito "Os Versos Satânicos", um grande livro, mais citado que lido, em que há sequências oníricas das quais eu nunca entendi por que seriam ofensivas para o islã? Nota: acaba de sair a autobiografia da clandestinidade de Rushdie, "Joseph Anton, Memórias" (Companhia das Letras).
b) Imaginemos, por um instante, que eu não me aguente e queira manifestar minha indignação com "Les Vampires". Uma das últimas coisas que eu faria seria atacar a embaixada da França.
Entendo que os protestos atuais passem a ser contra países cuja política seria mais favorável a Israel do que à Palestina. Mas o fato é que, neles, as massas muçulmanas reagem como se considerassem que um pensamento é a expressão e a responsabilidade do grupo ao qual seu autor pertence. No mínimo, o grupo (a nação) seria culpado porque não sabe disciplinar seus membros.
Ora, prefiro, de longe, aturar "Les Vampires" a exigir que os Estados se tornem guardiões do que pensam seus cidadãos.
Já houve épocas (não tão remotas) em que queimávamos e torturávamos pessoas que pensavam fora dos trilhos da igreja. Mesmo naquelas épocas, ninguém imaginava que os produtos das consciências individuais fossem responsabilidade do grupo ou da nação.
c) O comentário mais interessante que li nestes dias foi a citação, feita por Clóvis Rossi, de Yaron Friedman, no jornal israelense "Yediot Aharonot": "Na consciência árabe e muçulmana, Maomé e seus primeiros califas [chefes político-religiosos] do século 7º simbolizam a idade de ouro do islã e a gênese de um império árabe-muçulmano que chega ao século 12 na vanguarda do desenvolvimento cultural mundial".
"Toda ofensa feita ao profeta é cutucar a lembrança do estatuto de inferioridade no qual se encontra, desde o século 19, o mundo árabe-muçulmano em relação ao Ocidente."
É quase uma regra: qualquer suscetibilidade extrema é o sinal de uma fragilidade interna. Em outras palavras, a facilidade com o qual eu me sinto ofendido revela que eu mesmo devo concordar, ao menos em parte, com a ofensa que recebi.
Ou seja, a suscetibilidade muçulmana manifesta que deve existir, na alma muçulmana, um conflito entre o tradicionalismo religioso e uma aspiração à liberdade em suas manifestações modernas ocidentais.
d) Alguém perguntará: se estamos dispostos a aturar qualquer expressão individual, será que, para nós, nada é sagrado? Será que nenhuma opinião nos ofende a ponto de nos dar vontade, por exemplo, de manifestar?
Resposta. O que é sagrado para mim não é tal ou tal outra opinião -ainda menos a minha. O que é sagrado é o próprio direito de expressar uma opinião e de viver segundo ela manda.
Se uma mulher no Irã queima uma bandeira dos EUA ou da França, acho que é seu direito. Mas, se ela for apedrejada por ser adúltera, irei para a rua pedindo que a gente intervenha com tudo o que temos. Por ser ocidental e moderno, durmo bem com os insultos de quem pensa diferente de mim. Só não durmo bem com o grito dos indivíduos impedidos de se expressar e de viver segundo a liberdade de sua consciência.
Economia ainda de cama - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 27/09
Recuperação da economia brasileira da lerdeza de 2011-2012 também é lerda, indicam dados recentes
O CÉU PARECIA desanuviar para a economia brasileira na última semana e pouco. Apareciam vários "brotos verdes", como se dizia da economia americana em 2009, muito mal comparando, pois estamos muito longe daquela calamidade.
Mas então aparecem os números sobre o crédito de agosto, divulgados pelo BC. O total de empréstimos novos caiu pelo segundo mês consecutivo. A inadimplência continua alta, mais ou menos estagnada.
Por outro lado, os dados preliminares de setembro parecem melhorar, mas é cedo para dizer. As taxas de juros caem, estão em "baixa recorde". Enfim, o Banco Central revisou para cima o ritmo de crescimento do crédito para o ano inteiro, revisão forçada pela alta forçada dos empréstimos concedidos pelos bancos públicos.
Não se trata de grande notícia nem de desastre, claro. Mas as notícias boas dos últimos dez dias também não eram lá muito mais que "brotos verdes" muito tenros ainda.
A atividade da indústria melhorou em julho e agosto, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria. A confiança do consumidor melhorou um bocado em setembro, depois de quatro meses de baixa, segundo a FGV.
Indicadores alternativos de inadimplência dão conta de que as "novas safras" de crédito são menos problemáticas. Isto é, os empréstimos mais recentes são pagos no dia certo.
Porém, o mercado de trabalho "formal" piora. Neste ano, o saldo da criação de empregos, a "criação de emprego", é 24,5% menor que no mesmo período de 2011, segundo o Ministério do Trabalho, embora os dados do IBGE ainda mostrem um mercado apertado e quente.
Por último, mas muito importante, é bom lembrar que a crise europeia está lá, fervendo, ficando publicamente feia de novo agora.
Grande motivo para sustos? Não exatamente. Mas, em outubro do ano passado, os indicadores davam conta de que havíamos chegado ao fundo do poço. Chegamos. Mas havia uns buracos nesse fundo, onde tropeçamos, e o poço era bem largo. Ficamos nele até agora.
Isto é, a reação da economia tem sido extremamente lenta. Agora já faz um ano que o Banco Central começou sua campanha de redução de juros. Sim, vamos ver o efeito maior disso lá por fevereiro do ano que vem e nos meses seguintes. Por ora, porém, vamos devagar.
Talvez essa lerdeza seja a explicação ao menos parcial do fato de o Banco Central ter liberado mais dinheiro para os bancos realizarem operações (o BC reduziu o compulsório, o dinheiro que os bancos têm de deixar parado na autoridade monetária).
A lerdeza pode ter também motivado a retomada da campanha do governo contra os juros altos -Dilma Rousseff e cia. agora batem contra as taxas lunáticas dos cartões de crédito. O Bradesco se mexeu, o Itaú deve ir pelo mesmo caminho.
Enfim, o governo está colocando mais capital nos bancos estatais, Banco do Brasil e Caixa, a fim de permitir que eles continuem a emprestar muito mais rapidamente que a banca privada.
Sim, há muito estímulo monetário (juro baixo) no forno, o governo põe mais dinheiro na economia (baixa imposto, gasta mais), há investimentos grandes programados para o futuro próximo. Mas a convalescença é bem demorada.
Recuperação da economia brasileira da lerdeza de 2011-2012 também é lerda, indicam dados recentes
O CÉU PARECIA desanuviar para a economia brasileira na última semana e pouco. Apareciam vários "brotos verdes", como se dizia da economia americana em 2009, muito mal comparando, pois estamos muito longe daquela calamidade.
Mas então aparecem os números sobre o crédito de agosto, divulgados pelo BC. O total de empréstimos novos caiu pelo segundo mês consecutivo. A inadimplência continua alta, mais ou menos estagnada.
Por outro lado, os dados preliminares de setembro parecem melhorar, mas é cedo para dizer. As taxas de juros caem, estão em "baixa recorde". Enfim, o Banco Central revisou para cima o ritmo de crescimento do crédito para o ano inteiro, revisão forçada pela alta forçada dos empréstimos concedidos pelos bancos públicos.
Não se trata de grande notícia nem de desastre, claro. Mas as notícias boas dos últimos dez dias também não eram lá muito mais que "brotos verdes" muito tenros ainda.
A atividade da indústria melhorou em julho e agosto, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria. A confiança do consumidor melhorou um bocado em setembro, depois de quatro meses de baixa, segundo a FGV.
Indicadores alternativos de inadimplência dão conta de que as "novas safras" de crédito são menos problemáticas. Isto é, os empréstimos mais recentes são pagos no dia certo.
Porém, o mercado de trabalho "formal" piora. Neste ano, o saldo da criação de empregos, a "criação de emprego", é 24,5% menor que no mesmo período de 2011, segundo o Ministério do Trabalho, embora os dados do IBGE ainda mostrem um mercado apertado e quente.
Por último, mas muito importante, é bom lembrar que a crise europeia está lá, fervendo, ficando publicamente feia de novo agora.
Grande motivo para sustos? Não exatamente. Mas, em outubro do ano passado, os indicadores davam conta de que havíamos chegado ao fundo do poço. Chegamos. Mas havia uns buracos nesse fundo, onde tropeçamos, e o poço era bem largo. Ficamos nele até agora.
Isto é, a reação da economia tem sido extremamente lenta. Agora já faz um ano que o Banco Central começou sua campanha de redução de juros. Sim, vamos ver o efeito maior disso lá por fevereiro do ano que vem e nos meses seguintes. Por ora, porém, vamos devagar.
Talvez essa lerdeza seja a explicação ao menos parcial do fato de o Banco Central ter liberado mais dinheiro para os bancos realizarem operações (o BC reduziu o compulsório, o dinheiro que os bancos têm de deixar parado na autoridade monetária).
A lerdeza pode ter também motivado a retomada da campanha do governo contra os juros altos -Dilma Rousseff e cia. agora batem contra as taxas lunáticas dos cartões de crédito. O Bradesco se mexeu, o Itaú deve ir pelo mesmo caminho.
Enfim, o governo está colocando mais capital nos bancos estatais, Banco do Brasil e Caixa, a fim de permitir que eles continuem a emprestar muito mais rapidamente que a banca privada.
Sim, há muito estímulo monetário (juro baixo) no forno, o governo põe mais dinheiro na economia (baixa imposto, gasta mais), há investimentos grandes programados para o futuro próximo. Mas a convalescença é bem demorada.
Senescência e senioridade profissional - SÉRGIO AMAD COSTA
O Estado de S.Paulo - 27/09
O envelhecimento da população brasileira gera preocupação quanto ao futuro do País. Mas, se, por um lado, ele se deve à redução da taxa de natalidade, por outro, também é resultado do aumento da expectativa de vida, em razão das melhorias no campo da saúde. Observa-se, agora, uma maior disposição das pessoas mais velhas a continuarem trabalhando e um reconhecimento, cada vez mais significativo, de empresas que valorizam a senioridade de profissionais que já alcançaram a época da aposentadoria.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, divulgada recentemente, mostra, de fato, o envelhecimento da nossa população. O segmento com 60 anos ou mais, em 2004, era de 9,7% da população total; em 2009, 11,3%; e, em 2011, já representava 12,1%. Como reflexo também do aumento da expectativa de vida, esse envelhecimento é acompanhado por mudanças nos padrões de trabalho.
No início da década de 1990, a expectativa de vida no Brasil era, em média, de 66 anos; em 2005, foi para 71,8 anos; e hoje está, em média, em 73,5 anos. O Brasil ocupa a 87.ª posição no ranking dos países em termos de expectativa de vida, enquanto o Japão lidera com uma média de 82,7 anos. Essa elevação no tempo de vida das pessoas faz com que sejam repensados os atuais conceitos de aposentadoria. O Japão é exemplo disso. Dos 28 milhões de japoneses com 65 anos ou mais, cerca de 6 milhões ainda trabalham, e depoimentos revelam que eles não pensam em parar. As projeções mostram, ainda, que esse número vai aumentar.
O Brasil, embora ainda timidamente, parece estar seguindo esse exemplo do país do sol nascente. Os números traduzem essa disposição de profissionais em idades mais avançadas de continuarem trabalhando. Segundo o IBGE, em 2000, 3,3 milhões de pessoas com mais de 60 anos faziam parte do mercado de trabalho e, em 2010, esse número subiu para 5,4 milhões de pessoas.
Essa mudança positiva no mercado de trabalho é revelada, também, em pesquisas que mostram que empresas no Brasil começaram a valorizar a experiência, contratando um número maior de profissionais mais velhos. Cerca de 20% das companhias - e a tendência é a elevação dessa porcentagem - empregam trabalhadores aposentados, tanto para cargos técnicos quanto para gerência e diretoria. Os principais motivos são a disposição e o amplo conhecimento técnico desses profissionais.
Razões para essa mudança no mundo corporativo são várias. Cito três. A primeira é que essas pessoas com idade mais avançada são profissionais qualificados, com senioridade para agregar à empresa. A segunda razão é que nesta fase da vida as pessoas, em geral, estão resolvidas socialmente. Ou seja, já constituíram família, criaram filhos e agora acabam se concentrando com mais facilidade nos desafios apresentados pelo trabalho. A terceira está nas novas tecnologias utilizadas nas empresas. Hoje, elas possibilitam que as tarefas sejam quase totalmente intelectuais. Muito pouco se exige em termos de esforço físico, facilitando, e muito, o trabalho para os mais velhos.
Estudos científicos demonstram que um dos principais fatores associados ao aumento da longevidade humana e uma vida mais saudável é o envolvimento com o trabalho. Sirvo-me, novamente, do exemplo do Japão. Nagano, uma província no centro do país, conta, proporcionalmente, com o maior número de idosos trabalhando entre todas as prefeituras do Japão e é onde se gasta menos com saúde. Já a cidade de Fukuoka apresenta um número bem pequeno de trabalhadores mais velhos e elevados custos com saúde.
Deveríamos começar a eliminar preconceitos em relação aos mais velhos. São necessárias mudanças de ordem cultural. E isso pode ser feito mediante campanhas educacionais, estimulando um número maior de empresas a abrir espaço para que pessoas com idades mais avançadas continuem trabalhando. É bom para os mais velhos, é bom para as companhias, é bom para a economia e é bom para o País.
Por que Dilma tem medo do Irã? - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 27/09
Presidente comete grave omissão ao não citar a confessada presença militar de Teerã na Síria
Gostaria muito de saber por que democratas, como a presidente Dilma Rousseff, têm tanto medo do Irã.
O medo é tamanho que Dilma cometeu um equívoco grave no seu discurso de inauguração da Assembleia-Geral da ONU, anteontem.
Ao se referir à crise na Síria, Dilma, corretamente, jogou sobre a ditadura de Bashar Assad "a maior parte da responsabilidade pelo ciclo de violência que tem vitimado grande número de civis, sobretudo mulheres, crianças e jovens".
Até aí, tudo OK. Por fim, a diplomacia brasileira estabelece a responsabilidade principal pela carnificina na Síria.
Mas, na frase seguinte, Dilma comete uma omissão grosseira: "Mas sabemos também da responsabilidade das oposições armadas, especialmente daquelas que contam com apoio militar e logístico de fora".
Não, presidente, não são só as oposições armadas que gozam de apoio militar e logístico externo. A ditadura Assad conta também com a única intervenção do exterior oficial e publicamente admitida, no caso do Irã.
O Itamaraty e/ou seus assessores diplomáticos deveriam ter repassado à presidente declarações feitas domingo pelo comandante da Guarda Revolucionária iraniana, major-general Mohammad Ali Jafari, confessando a presença na Síria da Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária.
É oficial, portanto, ao contrário das notícias de que a Arábia Saudita e o Qatar estão dando apoio aos rebeldes. Devem estar dando mesmo, mas, se o governo brasileiro acha que a solução da crise passa pela negociação entre os atores sírios, a presidente não poderia omitir-se em relação ao Irã.
Ainda mais que Dilma disse também que não é aceitável que "este Conselho [o de Segurança] seja substituído -como vem ocorrendo- por coalizões que se formam à sua revelia, fora de seu controle e à margem do direito internacional".
A intervenção do Irã para coligar-se com a ditadura síria é, obviamente, à margem do direito internacional, para não mencionar que não foi aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU.
Compare agora a omissão de Dilma com a afirmação de seu colega Barack Obama -presidente de um país com o qual o Brasil mantém, faz tempo, uma "parceria estratégica", convém lembrar: "O Irã restringe os direitos de seu povo, enquanto continua alimentando um ditador em Damasco e exportando o terrorismo a outros lugares".
Se o medo de Dilma é o de ser patrulhada pelos hidrófobos da esquerda por coincidir com Obama, que ouça sua parceira Cristina Kirchner. Ela preside um país que pediu à Interpol que expedisse ordem de prisão e de extradição para a Argentina de oito cidadãos iranianos -entre eles o atual ministro da Defesa, Ahmed Vahidi. São todos eles acusados pelo atentado de 1994 contra uma entidade da comunidade judaica na Argentina.
Dilma já acusou os Estados Unidos de hipocrisia em matéria de direitos humanos, citando o caso de Guantánamo como suposta prova. OK, tem razão. Mas não é hipócrita -e covarde- silenciar sobre o Irã?
Presidente comete grave omissão ao não citar a confessada presença militar de Teerã na Síria
Gostaria muito de saber por que democratas, como a presidente Dilma Rousseff, têm tanto medo do Irã.
O medo é tamanho que Dilma cometeu um equívoco grave no seu discurso de inauguração da Assembleia-Geral da ONU, anteontem.
Ao se referir à crise na Síria, Dilma, corretamente, jogou sobre a ditadura de Bashar Assad "a maior parte da responsabilidade pelo ciclo de violência que tem vitimado grande número de civis, sobretudo mulheres, crianças e jovens".
Até aí, tudo OK. Por fim, a diplomacia brasileira estabelece a responsabilidade principal pela carnificina na Síria.
Mas, na frase seguinte, Dilma comete uma omissão grosseira: "Mas sabemos também da responsabilidade das oposições armadas, especialmente daquelas que contam com apoio militar e logístico de fora".
Não, presidente, não são só as oposições armadas que gozam de apoio militar e logístico externo. A ditadura Assad conta também com a única intervenção do exterior oficial e publicamente admitida, no caso do Irã.
O Itamaraty e/ou seus assessores diplomáticos deveriam ter repassado à presidente declarações feitas domingo pelo comandante da Guarda Revolucionária iraniana, major-general Mohammad Ali Jafari, confessando a presença na Síria da Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária.
É oficial, portanto, ao contrário das notícias de que a Arábia Saudita e o Qatar estão dando apoio aos rebeldes. Devem estar dando mesmo, mas, se o governo brasileiro acha que a solução da crise passa pela negociação entre os atores sírios, a presidente não poderia omitir-se em relação ao Irã.
Ainda mais que Dilma disse também que não é aceitável que "este Conselho [o de Segurança] seja substituído -como vem ocorrendo- por coalizões que se formam à sua revelia, fora de seu controle e à margem do direito internacional".
A intervenção do Irã para coligar-se com a ditadura síria é, obviamente, à margem do direito internacional, para não mencionar que não foi aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU.
Compare agora a omissão de Dilma com a afirmação de seu colega Barack Obama -presidente de um país com o qual o Brasil mantém, faz tempo, uma "parceria estratégica", convém lembrar: "O Irã restringe os direitos de seu povo, enquanto continua alimentando um ditador em Damasco e exportando o terrorismo a outros lugares".
Se o medo de Dilma é o de ser patrulhada pelos hidrófobos da esquerda por coincidir com Obama, que ouça sua parceira Cristina Kirchner. Ela preside um país que pediu à Interpol que expedisse ordem de prisão e de extradição para a Argentina de oito cidadãos iranianos -entre eles o atual ministro da Defesa, Ahmed Vahidi. São todos eles acusados pelo atentado de 1994 contra uma entidade da comunidade judaica na Argentina.
Dilma já acusou os Estados Unidos de hipocrisia em matéria de direitos humanos, citando o caso de Guantánamo como suposta prova. OK, tem razão. Mas não é hipócrita -e covarde- silenciar sobre o Irã?
Imbróglio elétrico - SONIA RACY
O ESTADÃO - 27/09
Documento da Consultoria Legislativa da Câmara cita afronta à Constituição. Mais precisamente, ao artigo 175, que prevê licitações obrigatórias na prestação de serviços públicos sob o regime de concessões ou permissões.
Imbróglio 2
“Não há previsão constitucional para prorrogações sucessivas de contratos de concessão, nem mesmo de prorrogações condicionadas desses contratos.” É o que consta na nota técnica – datada de outubro de 2011.
A discussão, fatalmente, terminará no STF.
Goodfellas
A tensa sabatina de Teori Zavascki na CCJ do Senado parece ter deixado Rosa Weber aliviada. “Ela não está mais sozinha, deve estar feliz”, comentou, com colegas, um dos ministros do Supremo.
Os questionamentos dos parlamentares à magistrada foram duríssimos – considerados deselegantes por alguns. Tanto que a ministra reforçou seu staff para enfrentar a batalha do mensalão – seu primeiro julgamento de peso.
Rapidez
O brasileiro Waldyr da Silva Prado Neto foi julgado por insider trading(uso de informação privilegiada) durante operação do Burger King, comprado pelo trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira em 2010.
Acusado pela SEC (a CVM americana), foi condenado por tribunal federal de NY.
O ex-executivo da Wells Fargo teve seus ativos congelados.
Quem vem
Alexandre Tombini, do BC, almoça amanhã, em encontro fechado, com integrantes do Iedi, presidido por Pedro Passos.
Em São Paulo.
Quem vem 2
Pierre Dukan desembarca dia 5 na capital paulista. Médico e nutrólogo, é conhecido mundialmente por montar o regime da princesa Kate.
Lança por aqui a segunda edição de seu livro Eu Não Consigo Emagrecer – e também programa online para ajudar quem quer entrar em forma.
Dos meus
Dilma declinou de convite, segunda-feira em Nova York, para recepção de Barack Obama. Por motivo pessoal.
Foi prestigiar a festa de aniversário de seu assessor particular, Anderson Dorneles.
Solitários
É de Amyr Klink o texto na contracapa da primeira graphic novel de Mauricio de Sousa– desenhada por Danilo Beyruth. Tema? Solidão. Personagem? Astronauta.
Lá do alto
Dados de satélite levaram uma equipe do Ibama a área próxima do rio Cururu, em Mato Grosso. E os agentes encontraram, em plena reserva indígena, um empreendimento de turismo de pesca sem licenciamento.
Resultado? Interdição e multa.
Tudo azul
Luciano Moita, do Santos, informa: não houve estresse entre ele eRoberto Moreno, da DIS, durante a negociação deGansopara o São Paulo.
Na frente
Amir e Artur Slama se uniram. O estilista lança linha de lenços desenvolvida por seu filho, artista plástico. Hoje, nos Jardins.
Ricardo Barcellos abre a mostra Mediações de Risco. Hoje, na Central Galeria de Arte.
A peça Kollwitzstrasse 52 estreia hoje. No MIS.
Lu Monteiro pilota almoço em sua loja. Hoje.
Gabriel O Pensador lança videoclipe hoje, na Royal.
Jo de Mer e Hope brindam parceria. Hoje, nos Jardins.
Ruth Slinger está em SP, Veio captar recursos para seu documentário Meu Rio + 20.
Pérola do Facebook em tempos de mensalão: “Quem não arrisca não… petista”.
A mão pesada de Dilma - VALDO CRUZ
FOLHA DE SP - 27/09
Tal avaliação tem sido comum nas reuniões com investidores e demonstra o desconforto do setor empresarial com o estilo intervencionista da presidente na economia.
Nos últimos meses, Dilma comprou briga com bancos privados, empresas de telecomunicação, planos de saúde e, agora, com as concessionárias do setor elétrico.
De fato, Dilma Rousseff é bem mais intervencionista do que seus antecessores no Palácio do Planalto e usa a mão pesada do Estado para fazer valer suas ideias.
Até aqui, porém, a realidade tem mostrado que investidores e empresários estavam bem mal acostumados em não serem questionados, sempre alegando a sagrada liberdade de mercado.
Vejamos o caso dos bancos. Dilma bateu forte, recentemente, nos elevados juros cobrados dos cartões de crédito. Em seguida, Guido Mantega também fez o mesmo.
O que aconteceu? De repente, como num passe de mágica, os bancos começaram a cortar pela metade taxas de juros dos cartões. Fica difícil compreender, do ponto de vista dos custos, como é possível fazer isso de um dia para o outro.
A única e razoável explicação que encontro é que os bancos, acostumados a não serem pressionados, cobravam juros elevados e ponto final. O cliente que se virasse. Por sinal, foi o que me disse um assessor que acompanhou de perto como se deu o processo de redução das taxas nos bancos públicos.
Enfim, Dilma gosta de tirar o setor privado de sua zona de conforto. Se o empresariado reage contrariado, a população aplaude --basta olhar a elevada popularidade presidencial. O risco é errar na dose e afugentar investimentos do país.
Mais ação que paixão - PAULA CESARINO COSTA
FOLHA DE SP - 27/09
RIO DE JANEIRO - "Como entender o Rio, sem um pouco de loucura?", escreveu José Murilo de Carvalho em um artigo sobre a cidade na primeira década da República -fim do século 19.
O conselho do historiador serve para olhar o momento por que passa a metrópole e desvendar o espírito do carioca.
Loucura e transformação caminham lado a lado do ponto de vista histórico. Podem recriar ou destruir uma cidade e o caráter de seu povo.
Mesmo durante suas décadas perdidas -com estagnação econômica, fuga de empresas e de cérebros, explosão da violência, degradação urbana, desimportância política-, o carioca manteve a autoestima, construída à base do humor.
Com a invenção das UPPs para o combate ao tráfico em favelas, a descoberta de petróleo no pré-sal e a conquista da sede da Olimpíada de 2016, o otimismo carioca virou febre.
A cidade está em reconstrução. São bilhões de reais investidos na ampliação do metrô, na expansão de corredores para ônibus, na recuperação da região portuária, com escavação de túneis, descoberta de tesouros arqueológicos e criação de museus.
São obras para orgulhar e enlouquecer qualquer cidade, ainda mais quando feitas simultaneamente.
Mas o segundo maior e mais rico município brasileiro tem mais de 22% dos habitantes -1,4 milhão- morando em casas precárias, sem coleta de lixo, com esgoto a céu aberto.
A loucura e a paixão do carioca por sua cidade são, em parte, responsáveis pelo bom momento atual. Porém não podem cegá-lo em relação ao desmando administrativo, à gestão precária, ao interesse político funesto, ao serviço público ineficiente.
Como escreveu o historiador, "a tarefa de construir uma República no sentido político continua a desafiar até hoje os cariocas, neste Rio que não é mais corte nem capital federal".
À flor da pele - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 27/09
À medida que vai chegando o momento de julgar o núcleo político petista do mensalão - ex-ministro José Dirceu, ex-presidente do PT José Genoino e ex-tesoureiro Delúbio Soares - os ânimos vão ficando exaltados no plenário do Supremo Tribunal Federal, como vimos ontem em mais um, e talvez o mais acalorado, bate-boca entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, respectivamente relator e revisor do processo.
Os dois encarnam maneiras diferentes de encarar os fatos narrados nos autos, e Barbosa se considera o responsável maior pelo encaminhamento do julgamento, legando a Lewandowski lugar secundário. Ontem, por exemplo, Barbosa deixou escapar esse sentimento ao afirmar que é "absolutamente heterodoxo que um ministro meça o voto de um relator para fazer o voto do mesmo tamanho". De gênio irascível, Barbosa considera ataque pessoal as discordâncias do revisor, como no caso de Emerson Palmieri, dirigente do PTB, que ele condenara por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, e Lewandowski absolveu: " Mas os autos dizem taxativamente que ele recebia o dinheiro. Está na lista feita por Marcos Valério e confirmada por Delúbio Soares, e isso vai de encontro ao que eu disse no meu voto", revoltou-se Barbosa diante das incertezas do revisor.
E acrescentou, passando do razoável: "Não podemos fazer vista grossa ao que está nos autos". Marco Aurélio Mello chamou a atenção de Barbosa em vários momentos da sessão, pedindo que ele medisse as palavras. O fato é que o relator, por mais que pressinta nas intervenções de Lewandowski intenções ocultas, não deveria perder o controle, pois só ajuda a quem quer prolongar o julgamento e cria ambiente de hostilidade contra si.
Mesmo convencido de que os crimes aconteceram, tem de aprender a conviver com as posições contrárias, por mais sem sentido que lhe pareçam, ou mesmo mal-intencionadas. Houve momento em que ele deixou bem clara essa sua desconfiança quando disse: " Não podemos admitir hipocrisia".
Quando Lewandowski disse, com a voz mais serena do mundo, que sua "análise vertical" dos autos lhe dá razão, ou "já demonstrei o cuidado que tive na leitura destes autos", Barbosa vai à loucura, sentindo-se objeto de críticas do colega, que sempre nega essa intenção com expressão de quem está consternado com a situação criada pelo colega.
Ontem mesmo, disse que não sabia se conseguiria continuar lendo seu voto, tal o constrangimento que sentia. Por mais que tenha razão em discordar do revisor, Barbosa não tem o direito de se irritar com posições divergentes, nem do revisor nem de outros ministros. Se não conseguir convencer seus pares, não há nada a fazer a não ser aceitar a decisão da maioria.
No caso da viagem a Portugal de Marcos Valério, Rogério Tolentino e Emerson Palmieri, para reunião com o presidente da Portugal Telecom, Barbosa tem toda a razão em chamar a atenção para a estranha excursão, a mando do ex-ministro José Dirceu. Lewandowski procurou desqualificar a importância de Palmieri no PTB e da própria viagem. As informações que constam dos autos são no sentido de que a viagem tinha como objetivo levantar dinheiro para o PTB a partir de negócios de Marcos Valério com a Portugal Telecom e a Telemig, mas Lewandowski tratou-a como sendo do interesse particular de Valério, para manter contratos de publicidade que tinha com a Telemig.
Se fosse assim, por que um político do PTB faria parte do grupo, e os três viajariam a Portugal "um juntinho do outro" como lembrou o presidente Ayres Britto, numa demonstração de que as passagens foram compradas juntas, pela mesma pessoa?
A viagem é, sem dúvida, "esdrúxula" e faz parte do conjunto probatório do esquema do mensalão, mas Lewandowski, no seu voto, tentou desconstruir a importância de Palmieri no PTB: "Émerson era uma pessoa, podemos dizer, onipresente. Era como "a alma" do partido. Aquelas pessoas que sabem de tudo, conhecem todos os documentos que dizem respeito aos mais variados assuntos...".
Mas, no entanto, nada sabia dos negócios em Portugal nem nunca pegou em um tostão dado ao partido pelo esquema do mensalão. Essa, por sinal, é a mesma alegação da defesa dos réus petistas José Dirceu e José Genoino.
Bis in idem - MARCELO COELHO
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/09
Depois de sessões meio modorrentas, voltaram as picuinhas de Barbosa contra Lewandowski
O PRESIDENTE do Supremo, Ayres Britto, fez uma pergunta interessante na sessão de ontem do mensalão, que pode ter consequências quando for analisado o caso de José Dirceu.
Discutia-se se o peemedebista José Borba poderia ser condenado por lavagem de dinheiro, além de corrupção passiva. Recebeu, como outros tantos deputados, recursos do esquema de Marcos Valério.
Para Lewandowski e outros ministros, simplesmente embolsar uma quantia de dinheiro vivo não é suficiente para que exista o crime de lavagem.
Outros, como Luiz Fux e Joaquim Barbosa, consideram que, no caso dos mensaleiros, a dissimulação de todo o esquema já fundamenta esse tipo de acusação.
E que, a não ser que o acusado "guardasse o dinheiro na estante", como disse Fux, os recursos obtidos ilicitamente voltam a circular normalmente quando o corrupto começa a gastá-lo -sendo, portanto, "lavado" de sua origem criminosa.
O assunto foi debatido por todos, em apartes ao voto que Ricardo Lewandowski estava proferindo.
Foi num desses comentários laterais que Ayres Britto lançou a pergunta, que valia no caso do deputado do PMDB, mas pode valer em outros raciocínios.
Qual a dúvida que cabe aqui?, indagou o presidente do STF. Perguntaremos apenas se ele sabia do esquema de lavagem de dinheiro? Ou faremos outra pergunta, a de se ele tinha como não saber?
Vê-se que, na primeira pergunta, a inocência presumida é bem mais forte. Na segunda pergunta, é como se raciocinássemos: "É impossível que ele não soubesse".
Os advogados de José Dirceu devem ter ficado ainda mais inquietos depois desse comentário.
Depois de sessões meio modorrentas e repetitivas, voltaram, como coceiras de uma alergia crônica, as picuinhas de Joaquim Barbosa contra Ricardo Lewandowski.
Havia motivos teóricos para a discordância entre relator e revisor do processo, já abordados bastante nos últimos dias.
Para Lewandowski, a maioria dos deputados do mensalão deve ser absolvida da acusação de lavagem de dinheiro.
Não há corrupção que seja feita oficialmente, diz o revisor. Condenar o corrupto pela dissimulação de seu ato, chamando-a de "lavagem", seria condenar uma pessoa duas vezes pelo mesmo ato. Em linguagem jurídica, seria o "bis in idem".
Enquanto Lewandowski insistia nessa tese, Barbosa fez um pedido. O de que fossem distribuídas cópias do voto a ser lido por Lewandowski, para que os ministros pudessem acompanhá-lo.
Lewandowski argumentou que, por causa do fatiamento do julgamento, seu voto nunca estava completamente redigido. Acrescentou que quem quisesse acompanhar o seu voto deveria ficar em plenário (Barbosa se ausenta), ouvindo-o com atenção.
Barbosa manifestou ceticismo diante da explicação. Apelou, "em nome da transparência", que as cópias fossem distribuídas.
Foi a vez de Marco Aurélio Mello puxar as orelhas de Barbosa. "Estamos todos atuando com total transparência."
Não disse que não estávamos, respondeu Barbosa. "Mas insinuou", respondeu Marco Aurélio. "Insinuôhh", como ele diz, com seu gosto pelos agás.
Entre insinuações e transparências, o debate enveredava pelo desatino.
Depois de sessões meio modorrentas, voltaram as picuinhas de Barbosa contra Lewandowski
O PRESIDENTE do Supremo, Ayres Britto, fez uma pergunta interessante na sessão de ontem do mensalão, que pode ter consequências quando for analisado o caso de José Dirceu.
Discutia-se se o peemedebista José Borba poderia ser condenado por lavagem de dinheiro, além de corrupção passiva. Recebeu, como outros tantos deputados, recursos do esquema de Marcos Valério.
Para Lewandowski e outros ministros, simplesmente embolsar uma quantia de dinheiro vivo não é suficiente para que exista o crime de lavagem.
Outros, como Luiz Fux e Joaquim Barbosa, consideram que, no caso dos mensaleiros, a dissimulação de todo o esquema já fundamenta esse tipo de acusação.
E que, a não ser que o acusado "guardasse o dinheiro na estante", como disse Fux, os recursos obtidos ilicitamente voltam a circular normalmente quando o corrupto começa a gastá-lo -sendo, portanto, "lavado" de sua origem criminosa.
O assunto foi debatido por todos, em apartes ao voto que Ricardo Lewandowski estava proferindo.
Foi num desses comentários laterais que Ayres Britto lançou a pergunta, que valia no caso do deputado do PMDB, mas pode valer em outros raciocínios.
Qual a dúvida que cabe aqui?, indagou o presidente do STF. Perguntaremos apenas se ele sabia do esquema de lavagem de dinheiro? Ou faremos outra pergunta, a de se ele tinha como não saber?
Vê-se que, na primeira pergunta, a inocência presumida é bem mais forte. Na segunda pergunta, é como se raciocinássemos: "É impossível que ele não soubesse".
Os advogados de José Dirceu devem ter ficado ainda mais inquietos depois desse comentário.
Depois de sessões meio modorrentas e repetitivas, voltaram, como coceiras de uma alergia crônica, as picuinhas de Joaquim Barbosa contra Ricardo Lewandowski.
Havia motivos teóricos para a discordância entre relator e revisor do processo, já abordados bastante nos últimos dias.
Para Lewandowski, a maioria dos deputados do mensalão deve ser absolvida da acusação de lavagem de dinheiro.
Não há corrupção que seja feita oficialmente, diz o revisor. Condenar o corrupto pela dissimulação de seu ato, chamando-a de "lavagem", seria condenar uma pessoa duas vezes pelo mesmo ato. Em linguagem jurídica, seria o "bis in idem".
Enquanto Lewandowski insistia nessa tese, Barbosa fez um pedido. O de que fossem distribuídas cópias do voto a ser lido por Lewandowski, para que os ministros pudessem acompanhá-lo.
Lewandowski argumentou que, por causa do fatiamento do julgamento, seu voto nunca estava completamente redigido. Acrescentou que quem quisesse acompanhar o seu voto deveria ficar em plenário (Barbosa se ausenta), ouvindo-o com atenção.
Barbosa manifestou ceticismo diante da explicação. Apelou, "em nome da transparência", que as cópias fossem distribuídas.
Foi a vez de Marco Aurélio Mello puxar as orelhas de Barbosa. "Estamos todos atuando com total transparência."
Não disse que não estávamos, respondeu Barbosa. "Mas insinuou", respondeu Marco Aurélio. "Insinuôhh", como ele diz, com seu gosto pelos agás.
Entre insinuações e transparências, o debate enveredava pelo desatino.
A China no centro - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 27/09
O mundo inteiro está revendo para baixo as projeções de crescimento do PIB. Mas nada causa mais apreensão do que os dados que vêm da China. O país crescerá este ano praticamente a metade do que cresceu em 2007. Há dúvidas sobre a confiabilidade dos indicadores chineses, e o país vive uma crise política de contornos desconhecidos. Tudo na China é opaco.
Em 2007, a China cresceu 14,2%. No segundo trimestre de 2012, cresceu 7,6%. A taxa é alta, mas a tendência tem sido de desaceleração. Os principais parceiros comerciais da China são países que não fazem outra coisa a não ser combater a crise: Estados Unidos, Japão, Alemanha. Cerca de 70% da receita de exportação chinesa vêm de países desenvolvidos. Somente os americanos são 17%, mais precisamente US$ 325 bilhões. Os emergentes têm um peso muito menor. O Brasil representa 1,7% da exportação chinesa, mas nós dependemos muito deles.
O baixo crescimento de EUA, Europa e Japão afeta a China porque os principais produtos exportados pelos chineses são máquinas elétricas e mecânicas. Produtos com valor agregado. Se um país está em crise, os empresários adiam investimentos e as famílias pensam duas vezes antes de comprar itens mais caros.
A RC Consultores calcula que a China crescerá 7,5% este ano e 6,5% no ano que vem. A consultoria inglesa Capital Economics acha que este ano será de crescimento de 7,5%, mas que em 2013 haverá alta de 8%, seguida de um PIB de 7,5%, em 2014. De qualquer maneira, os números mostram que o período de crescimento de dois dígitos ficou para trás.
Se a disputa diplomática entre Japão e China virar embate comercial será ruim para os dois. Ontem a bolsa de Tóquio abriu em baixa exatamente por esse temor. O Japão é o país do qual a China mais importa. E é o segundo principal destino das exportações chinesas. A relação comercial entre os dois é intensa. Toyota e Honda paralisaram a produção em fábricas na China devido a protestos contra os japoneses.
Na semana passada, a bolsa de Xangai foi para o nível mais baixo dos últimos três anos. Voltou a subir esta semana, com a expectativa de que o governo chinês adotará novas medidas de estímulo. Em março, o governo chinês reduziu de 8% para 7,5% a meta de PIB que seria perseguida. Não que a redução tenha sido grande, até porque o país sempre superou os 8%. O número continua sendo impactante, mas esse é mais um sinal de que a estratégia de contornar a crise externa, incentivando o consumo interno, não está atingindo seus objetivos.
O índice PMI, do banco HSBC, que serve de termômetro da produção industrial, permaneceu abaixo dos 50 pontos, em setembro, pelo 11º mês seguido. Números abaixo de 50 mostram pessimismo dos gestores e indicam desaceleração.
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, avisou que o Fundo vai rever para baixo, no mês que vem, as projeções para o crescimento do mundo deste ano. A dúvida é se vai reduzir também a previsão da China, já que há sinais de desaceleração da demanda doméstica. Há rumores também de que o governo se esforça para encobrir o encalhe de imóveis residenciais.
Na frente política, o país vive uma sucessão muito mais complexa do que parecia ser. O desaparecimento por duas semanas do presidente escolhido Xi Ji Ping provocou uma sucessão de rumores. Ele reapareceu, mas o episódio ilustra uma situação muito desconfortável. A economia mundial depende de um governo que, por ser uma ditadura, manipula índices, adota políticas econômicas sem transparência e vive uma transição política conturbada e imprevisível.
O mundo inteiro está revendo para baixo as projeções de crescimento do PIB. Mas nada causa mais apreensão do que os dados que vêm da China. O país crescerá este ano praticamente a metade do que cresceu em 2007. Há dúvidas sobre a confiabilidade dos indicadores chineses, e o país vive uma crise política de contornos desconhecidos. Tudo na China é opaco.
Em 2007, a China cresceu 14,2%. No segundo trimestre de 2012, cresceu 7,6%. A taxa é alta, mas a tendência tem sido de desaceleração. Os principais parceiros comerciais da China são países que não fazem outra coisa a não ser combater a crise: Estados Unidos, Japão, Alemanha. Cerca de 70% da receita de exportação chinesa vêm de países desenvolvidos. Somente os americanos são 17%, mais precisamente US$ 325 bilhões. Os emergentes têm um peso muito menor. O Brasil representa 1,7% da exportação chinesa, mas nós dependemos muito deles.
O baixo crescimento de EUA, Europa e Japão afeta a China porque os principais produtos exportados pelos chineses são máquinas elétricas e mecânicas. Produtos com valor agregado. Se um país está em crise, os empresários adiam investimentos e as famílias pensam duas vezes antes de comprar itens mais caros.
A RC Consultores calcula que a China crescerá 7,5% este ano e 6,5% no ano que vem. A consultoria inglesa Capital Economics acha que este ano será de crescimento de 7,5%, mas que em 2013 haverá alta de 8%, seguida de um PIB de 7,5%, em 2014. De qualquer maneira, os números mostram que o período de crescimento de dois dígitos ficou para trás.
Se a disputa diplomática entre Japão e China virar embate comercial será ruim para os dois. Ontem a bolsa de Tóquio abriu em baixa exatamente por esse temor. O Japão é o país do qual a China mais importa. E é o segundo principal destino das exportações chinesas. A relação comercial entre os dois é intensa. Toyota e Honda paralisaram a produção em fábricas na China devido a protestos contra os japoneses.
Na semana passada, a bolsa de Xangai foi para o nível mais baixo dos últimos três anos. Voltou a subir esta semana, com a expectativa de que o governo chinês adotará novas medidas de estímulo. Em março, o governo chinês reduziu de 8% para 7,5% a meta de PIB que seria perseguida. Não que a redução tenha sido grande, até porque o país sempre superou os 8%. O número continua sendo impactante, mas esse é mais um sinal de que a estratégia de contornar a crise externa, incentivando o consumo interno, não está atingindo seus objetivos.
O índice PMI, do banco HSBC, que serve de termômetro da produção industrial, permaneceu abaixo dos 50 pontos, em setembro, pelo 11º mês seguido. Números abaixo de 50 mostram pessimismo dos gestores e indicam desaceleração.
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, avisou que o Fundo vai rever para baixo, no mês que vem, as projeções para o crescimento do mundo deste ano. A dúvida é se vai reduzir também a previsão da China, já que há sinais de desaceleração da demanda doméstica. Há rumores também de que o governo se esforça para encobrir o encalhe de imóveis residenciais.
Na frente política, o país vive uma sucessão muito mais complexa do que parecia ser. O desaparecimento por duas semanas do presidente escolhido Xi Ji Ping provocou uma sucessão de rumores. Ele reapareceu, mas o episódio ilustra uma situação muito desconfortável. A economia mundial depende de um governo que, por ser uma ditadura, manipula índices, adota políticas econômicas sem transparência e vive uma transição política conturbada e imprevisível.
A teoria política da corrupção - DEMÉTRIO MAGNOLI
O GLOBO - 27/09
Nos idos de 2005 o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos formulou o discurso adotado pelo PT em face do escândalo do mensalão. O noticiário, ensinou, constituiria uma tentativa de "golpe das elites" contra o "governo popular" de Lula. No ano passado o autor da tese assumiu a presidência da Casa de Rui Barbosa, cargo de confiança subordinado ao Ministério da Cultura. É nessa condição que, em entrevista ao jornal Valor (21/9), ele reativa sua linha de montagem de discursos "científicos" adaptados às conveniências do lulismo. Desta vez, para crismar o julgamento do mensalão como "julgamento de exceção" conduzido por uma Corte "pré-democrática".
A entrevista diz algo sobre o jornalismo do Valor. As perguntas não são indagações, no sentido preciso do termo, mas introduções propícias à exposição da tese do entrevistado - como se (oh, não, impossível!) jornalista e intelectual engajado preparassem o texto a quatro mãos. Mas a peça diz uma coisa mais importante sobre o tema do compromisso entre os intelectuais e o poder: o discurso científico sucumbe no pântano da fraude quando é rebaixado ao estatuto de ferramenta política de ocasião.
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) narraram uma história de apropriação criminosa de recursos públicos e de fabricação de empréstimos fraudulentos pela direção do PT, que se utilizou para tanto das prerrogativas de quem detém o poder de Estado. Wanderley Guilherme, contudo, transita em universo paralelo, circundando o tema da origem do dinheiro e repetindo a versão desmoralizada da defesa: "O que os ministros expuseram até agora é a intimidade do caixa 2 de campanhas eleitorais (...). Isso eles se recusam a discutir, como se o que eles estão julgando não fosse algo comum (...), como se fosse algum projeto maligno".
Wanderley Guilherme não parece incomodado com a condenação dos operadores financeiros do esquema, mas interpreta os veredictos dos ministros contra os operadores políticos (ou seja, os dirigentes do PT) como frutos de um "desprezo aristocrático" pela "política profissional". O dinheiro desviado serviu para construir uma coalizão governista destituída de um mínimo de consenso político, explicou a maioria do STF. O cientista político, porém, atribui o diagnóstico a uma natureza "pré-democrática" de juízes incapazes de compreender tanto os defeitos da legislação eleitoral brasileira quanto o funcionamento dos "sistemas de representação proporcional", que "são governados por coalizões das mais variadas".
O núcleo do argumento serviria para a defesa de todo e qualquer "mensalão". Os acusados tucanos do "mensalão mineiro" e os acusados do DEM do "mensalão de Brasília" estão tão amparados quanto os petistas por uma concepção da "política profissional" que invoca a democracia para justificar a fraude do sistema de representação popular e qualifica como aristocráticos os esforços para separar a esfera pública da esfera privada. A teoria política da corrupção formulada pelo intelectual deve ser lida como um manifesto em defesa de privilégios de impunidade judicial do conjunto da elite política brasileira.
Mas, obviamente, o argumento perde a força persuasiva se for lido como o que, de fato, é. Para ocultar seu sentido, conferindo à obra uma coloração "progressista", Wanderley Guilherme acrescenta-lhe uma camada de tinta fresca. A insurreição "aristocrática" do STF contra a "política democrática" derivaria da rejeição a uma novidade histórica: a irrupção da "política popular de mobilização", representada pelo PT. A Corte Suprema estaria "reagindo à democracia em ação" por meio de um "julgamento de exceção", um evento singular que "jamais vai acontecer de novo".
É nesse ponto do raciocínio que a teoria política da corrupção se transforma na corrupção da teoria política. Uma regra inviolável do discurso científico, explicou Karl Popper, é a exigência de consistência interna. Um discurso só tem estatuto científico se estiver aberto a argumentos racionais contrários. Quando apela à profecia de que os tribunais não julgarão outros casos com base na jurisprudência estabelecida nos veredictos do mensalão, Wanderley Guilherme embrenha-se pela vereda da fraude científica. A sua hipótese sobre o futuro - que, logicamente, não pode ser confirmada ou falseada - impede a aplicação do teste de Popper.
Há duas leituras contrastantes, ambas coerentes, sobre o "mensalão do PT". A primeira acusa o partido de agir "como os outros", entregando-se às práticas convencionais da tradição patrimonial brasileira e levando-as a consequências extremas. O diagnóstico, uma "crítica pela esquerda", interpreta o extenso arco de alianças organizado pelo lulismo como fonte de corrupção e atestado da falência da natureza transformadora do PT. A segunda acusa o partido de operar, sob o impulso de um projeto de poder autoritário, com a finalidade de quebrar os contrapesos parlamentares ao Executivo e se perpetuar no governo. A "crítica pela direita" distingue o "mensalão do PT" de outros casos de corrupção política, enfatizando o caráter centralizado e as metas de longo prazo do conjunto da operação.
A leitura corrompida de Wanderley Guilherme forma uma curiosa alternativa às duas interpretações. Seu núcleo é uma celebração da corrupção inerente à política patrimonial tradicional, que seria a "política profissional" nos "sistemas de representação proporcional". Seu verniz aparente, por outro lado, é um elogio exclusivo da corrupção petista, que expressaria a "irrupção da política de mobilização popular" e a "democracia em ação". Na fronteira em que o pensamento acadêmico se conecta com a empulhação militante, o paradoxo pode até ser batizado como dialética. Contudo mais apropriado é reconhecê-lo como um reflexo especular da fotografia na qual Paulo Maluf e Lula da Silva reelaboram os significados dos termos "direita" e "esquerda".
Uma no cravo, outra na ferradura - ROBERTO LUIS TROSTER
O ESTADÃO - 27/09
O esforço do governo em expandir o crédito é meritório, em razão de seu potencial como propulsor do crescimento sustentável. Todavia, o desempenho até agora é frustrante; o que pode ser um acelerador está se tornando um freio.
É fato, os juros caíram, e os níveis observados estão num piso histórico. O Banco Central informa que as taxas médias para pessoa jurídica e física em agosto foram 23,1% e 35,6%; a Anefac, que faz esse levantamento há mais tempo, relata 50,1% e 101,7%, respectivamente. O Brasil continua como crédito mais caro do mundo, mas nem sequer sabe exatamente o quanto.
Mesmo com a Selic caindo e a pressão do governo, há instituições que aumentaram suas taxas.
A rentabilidade do sistema bancário caiu, a inadimplência subiu a um nível sempre cedentes e a expansão dos financiamentos é anêmica. O avanço é resultado do esforço dos bancos públicos.
Para tanto, o governo já aportou o equivalente a um Proer nessas instituições e, se ficar só nisso, deve ser comemorado. Mesmo assim, a relação crédito/PIB brasileira continuará baixa, cerca da metade de seu potencial de expansão. É necessário mais do que a pressão dos bancos públicos para fazer o crédito deslanchar.
O primeiro passo, e o mais importante, já está dado: é a vontade política, a determinação de avançar. O problema é que o diagnóstico está equivocado; insistindo-se nessa linha, o sistema continuará a apresentar resultados fracos e a postergar a hora da verdade.
Além das taxas elevadas, há mais distorções: a oferta de crédito é volátil e concentrada - este ano os empréstimos para pessoa física de menor valor cresceram 3,4% e os maiores subiram 18,3%, e o processo de desalavancagem dos superendividados vai demorar anos para ser absorvido, se nada for feito.
A raiz desses problemas é complexa e tem seis componentes: fragmentação, dinâmica, custos, concorrência, concepção e transparência. A sua correção demanda uma nova engenharia para o sistema e a eliminação de distorções como o IOF, a indexação de ativos e passivos, os compulsórios, a tolerância comabusos e as assimetrias de informação.
Há países como os Estados Unidos que estão pagando caro a complacência com as falhas da intermediação e os erros no seus ajustes; há outros, como a Islândia, que rapidamente corrigiram os problemas e colocaram os bancos a serviço do crescimento; e o Brasil?
MAMÃE ME AMA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 27/09
Xuxa está morena na capa da "Vogue Beleza", nas bancas amanhã; ela diz à revista que sua mãe sempre quis uma filha com cabelo preto
PRIORIDADE NACIONAL
O PMDB do Rio de Janeiro baixou em SP para ajudar na campanha de Gabriel Chalita. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é um dos principais reforços na equipe de conselheiros. "Ajudo de longe", diz.
IMPORTAÇÃO
O instituto GPP, que faz pesquisas para o PMDB do Rio, passou a trabalhar para Chalita no lugar do Ibope. E marqueteiros de lá vieram dar "opiniões sobre peças publicitárias", confirma Cunha. A ordem é intensificar ataques aos adversários.
COFRE NACIONAL
A pedido do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), o deputado estaria providenciando até recursos financeiros para Chalita. Ele diz que, na verdade, essa é uma missão de todo o partido. "O PMDB nacional ajuda o Chalita nesse sentido", diz.
QUEM FALA?
O PMDB quer turbinar a campanha de Chalita para que, caso ele não vá para o segundo turno -o que hoje parece o mais provável-, o partido seja valorizado no apoio a um dos finalistas. "Se o PT for para o segundo turno e nós não chegarmos a 12% dos votos, o Lula nem telefona para o Michel", diz um auxiliar do vice.
TÃO LONGE
Do bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal e dono da TV Record, em seu Twitter oficial: "As religiões usam os sentimentos para promover uma fé que não funciona. O resultado é um mundo religioso e, ao mesmo tempo, distante de Deus".
ASSIM VOCÊ ME MATA
Um projeto audiovisual sobre Michel Teló, inicialmente orçado em R$ 1,3 milhão, foi barrado pelo Ministério da Cultura. A Teló Produções Artísticas, produtora do cantor, havia inscrito o documentário "Michel no Mundo" na Lei Rouanet. A proposta foi readequada para R$ 681 mil por uma comissão. E, enfim, aparecia arquivada no dia 17 de setembro.
TE VEJO NA TV
Teló não poderá ser beneficiado com recursos incentivados para financiar o DVD. O material, que mostra viagens internacionais do artista, abastecerá programa do Multishow que começa na quarta. A assessoria do cantor não se manifestou.
PORTA REABERTA
A ministra Marta Suplicy, da Cultura, se reuniu há alguns dias com defensores do Creative Commons (licença que libera a divulgação de conteúdos na internet sem cobrança de direitos autorais). O ícone da organização foi retirado por sua antecessora Ana de Hollanda do site da pasta.
VOLTEI
Daniel Filho volta ao teatro após sete anos afastado da coxia, quando montou "As Mulheres da Minha Vida" (2005). Ele será o diretor-geral de "A Entrevista", com Herson Capri.
A peça estreia no dia 9 de novembro no teatro Vivo, em SP, integrada ao programa Vivo EnCena. A curadoria é de Expedito Araújo.
DATA VENIA
A Congregação da Faculdade de Direito da USP deve julgar hoje pedido de impugnação da candidatura do desembargador José Luiz Gavião de Almeida ao cargo de professor titular do Departamento de Direito Civil. Alessandro Hirata, da USP de Ribeirão Preto, que concorre à vaga, diz que tese apresentada por Gavião é um autoplágio. O desembargador alega em sua defesa que a conclusão da tese é original.
NA PAUTA
O governador Geraldo Alckmin telefonou para José Carlos Dias ontem. Em pauta, pedido do advogado, que integra a Comissão da Verdade, de tombamento do prédio onde funcionou o DOI-Codi. "Ele mostrou interesse. Nossa expectativa é muito boa", diz o ex-ministro.
FIGURINO DE NOVELA
As atrizes globais Thaila Ayala, Sophie Charlotte e Sheron Menezzes foram a lançamento de coleção da grife Bo.Bô, na rua Oscar Freire, anteontem.
ÁGUA BELA
O estilista Narciso Rodriguez veio ao Brasil lançar dois perfumes, na terça. Trouxe com ele Nathalie Helloin Kamel, francesa responsável por fragrâncias de vários estilistas. Barbara Kern, da RR Perfumes, foi ao hotel Unique.
CURTO-CIRCUITO
O governador Geraldo Alckmin e o secretário da Saúde Giovanni Cerri participam do Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos, às 10h, no Prêmio Destaque em Transplantes.
Heloisa Faria lança a nova coleção Afrodizzy em seu ateliê nos Jardins.
A Sociedade de Cultura Artística comemora cem anos com apresentação do Béjart Ballet Lausanne. No Theatro Municipal, às 21h.
O ministro Alexandre Padilha será homenageado hoj em coquetel oferecido por Priscilla de Arruda Camargo, no lançamento do portal Sentir Bem.
Lauro Cesar Muniz, Gustavo Villano e Oswaldo Alvarez debatem a obra de Plínio Marcos. Hoje, no teatro Maria Della Costa.
A Livraria da Vila promove, sábado e domingo, venda de livros infantojuvenis com 25% de desconto.
O escolhido e o mensalão - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 27/09
A primeira parte da sabatina de Teori Zavascki, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, anteontem, esvaziou a versão de que a presidente Dilma Rousseff o indicou para o Supremo Tribunal Federal (STF), passados "apenas" 11 dias da aposentadoria compulsória do ministro Cezar Peluso, para que pudesse participar do julgamento do mensalão e, quem sabe, beneficiar os principais réus do processo, a começar do presumível chefe do esquema, José Dirceu. O benefício se caracterizaria se, assumindo a vaga para a qual foi escolhido, Zavascki pedisse vista dos autos, a pretexto de se inteirar da matéria. Isso adiaria para se sabe lá quando a retomada do julgamento. Além disso, ou alternativamente, o novo ministro, recompondo o colegiado de 11 membros, poderia ser o fiel da balança na hipótese de empate de votos pela condenação e absolvição de acusados.
Segundo a teoria conspiratória abraçada pela oposição e setores da imprensa, ele tenderia a votar a favor dos mensaleiros. Foi a partir dessa perspectiva que os representantes oposicionistas na CCJ arquitetaram o estratagema de estender a sabatina até o início da votação do Código Florestal em plenário, na mesma tarde da terça-feira, quando a sessão teria de ser forçosamente interrompida. Antes, haviam solicitado ao presidente da Casa, José Sarney, que adiasse a data de inquirição. Foi uma iniciativa inédita em situações do gênero e, de resto, fútil. Afinal, Sarney já havia pinçado o correligionário do PMDB, Renan Calheiros, para relatar a indicação de Teori - tarefa da qual ele se desincumbiu em 48 horas. A oposição conseguiu efetivamente impedir que a sabatina se completasse numa única sessão. Ela será retomada na segunda semana de outubro, depois da primeira rodada das eleições municipais, portanto, e quando o julgamento talvez esteja perto do fim, se não concluído.
Na realidade, o próprio Teori deixou explícita a improcedência desses temores que o deixavam no papel de pau-mandado de uma presidente movida, supostamente, pela intenção de salvar a pele dos companheiros de partido no STF. Embora tivesse evitado responder se pretendia entrar no juízo do mensalão - "quem decide sobre a participação de um juiz é o órgão colegiado do qual vai fazer parte", esquivou-se -, foi taxativo em relação ao eventual pedido de vistas do processo. Ele invocou o regimento da Corte, segundo o qual o ministro que se declarar habilitado a julgar uma causa poderá fazê-lo, ainda que não tenha acompanhado a leitura do parecer do seu relator. Ora, argumentou, seria "contraditório" ele se declarar apto a participar da primeira votação que se seguir à sua posse e pedir para ler os autos, adiando-a.
Refutou também a suposição de que, em caso de empate, se manifestaria pela absolvição do acusado. Para ele, trata-se de uma impossibilidade manifesta. "O décimo primeiro voto jamais pode beneficiar o acusado, porque o acusado já está beneficiado pelo empate", raciocinou, numa alusão ao princípio jurídico in dubio pro reo. "O décimo primeiro voto só pode prejudicar o acusado." Por polidez ou para não antagonizar os senadores dos quais depende para chegar ao Supremo, o sabatinado guardou-se de comentar a suspeita sobre o seu facciosismo, implícita na própria questão. Em vez disso, fez um agrado aos políticos, sustentando a polêmica ideia de que a cassação do mandato de um parlamentar pelo STF, como a do mensaleiro João Paulo Cunha, deve ser ratificada pela Câmara ou o Senado para se efetivar.
Por fim, a propalada escolha de Teori "em tempo recorde" foi desmontada ontem pelo jornal Valor, que comparou o prazo transcorrido entre a abertura da vaga no Supremo e a indicação do substituto em 15 casos, a contar de 1994. A regra é a rapidez, a demora, a exceção, mostram as datas. O presidente Itamar Franco levou um dia para indicar Maurício Corrêa. Fernando Henrique levou dois para indicar Gilmar Mendes e quatro para indicar Ellen Gracie. Eros Grau foi indicado por Lula em cinco dias. Afinal, salvo imprevistos, presidentes sabem quando se abrirão as vagas que lhes tocará preencher e podem se preparar a tempo.
É 10, é 10 - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 27/09
Vencendo ou não a eleição para a prefeitura, o fenômeno Celso Russomanno deve instalar na Câmara bancada expressiva da coligação liderada pelo seu PRB e pelo PTB, do deputado estadual Campos Machado. Peritos no cálculo do quociente eleitoral apostam na conquista de 8 a 12 cadeiras para os aliados de Russomanno, que hoje têm 4 vagas na Casa. Apostando em votos na legenda do líder, que martela o número 10 na propaganda, a chapa lançou 111 nomes ao Legislativo.
Torre de Babel Na chapa de Russomanno se destacam os pastores Jean Madeira e Jéfferson Julião, ambos da Igreja Universal, celebridades como a cantora Angela Maria e a atriz Nani Venâncio, o ex-deputado Conte Lopes e o jornalista Chico Lang.
Sinal amarelo Temendo encolher, PSDB, PSD, DEM e PR escalaram deputados, secretários e dirigentes para eventos de seus puxadores de voto para Câmara. O QG do "chapão" também duplicou a carga de material impresso.
RSVP Convidado ontem para os dois comícios de José Serra no final de semana, Gilberto Kassab não confirmou presença. O prefeito afirma que "vai avaliar" a conveniência de comparecer aos eventos previstos para as zonas leste e sul da capital.
Surfando Fernando Haddad vai explorar o fato de tanto Serra quanto Russomanno não terem confirmado presença no debate da Record, o que inviabilizou o evento. Depois de divulgar nota, a campanha deve levar à TV filmes dizendo que o petista é o único "que não foge a debates".
Vem ou não? O PT aguarda com ansiedade a oficialização da ida de Dilma Rousseff ao comício do dia 29.
Jogada ensaiada Do secretário-adjunto de Esportes de São Paulo, Thiago Logo, sobre encontro de Serra com esportistas, realizado ontem: "Depois dessa reunião ele nunca mais vai soltar o sapato ao bater um pênalti".
Virando a... Depois de trocar o comando do Iphan, Marta Suplicy definiu a substituição na secretaria-executiva do Ministério da Cultura. A nova número dois da pasta será Jeanine Pires, que foi presidente da Embratur e trabalhou com a petista quando ela foi ministra do Turismo.
... página Marta elogia o estilo da escolhida, que é historiadora e tem atuação muito ligada à área de turismo. "Ela vai ajudar muito na inserção internacional da cultura brasileira", disse a ministra à coluna. Jeanine assume no lugar de Vitor Ortiz.
CEP Em meio a rumores de que Aloizio Mercadante assumiria a Casa Civil, aliados de Gleisi Hoffmann afirmam que a presidente não conversou sobre o assunto com a ministra e atribuem as informações à briga por espaço do PT de São Paulo se Haddad levar a prefeitura.
Boca de urna No STF, a ideia de sessões extras para o mensalão não deverá prosperar. A expectativa é que Cármen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, convoque as sessões no colegiado para agilizar matérias às vésperas do pleito municipal.
Estilo Além disso, integrantes da corte avaliam que o presidente Carlos Ayres Britto deveria ter convocado as sessões do STF, sem abrir debate, como fez Ellen Gracie no recebimento da denúncia, em 2007. A ex-ministra avisava ao final das sessões o cancelamento das pautas de turmas para convocar reuniões extras sobre o mensalão.
Visita à Folha Fábio Barbosa, presidente executivo da Abril S/A, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Meire Fidelis, diretora de Relações Corporativas.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Os atrasos do julgamento dificultam a vida de todos nós. A gente não tem só isso para fazer e os réus sofrem a conta-gotas."
DO ADVOGADO LUIZ PACHECO, que defende José Genoino no mensalão, criticando a demora na abertura das sessões e os intervalos dos ministros.
contraponto
Força do hábito
Esbaforido após um discurso veemente contra a Medida Provisória do Código Florestal, Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) assistiu anteontem à aprovação do texto em votação simbólica pelos colegas no Senado.
A despeito da derrota sofrida em plenário, o senador orgulhava-se de ter, nas suas palavras, "lutado até o último instante" por mudanças que reduzissem os danos ao meio ambiente. Ao deixar a sessão em direção ao Salão Azul da Casa, Rodrigues, que ganhou notoriedade na CPI do Cachoeira, confessou a um de seus assessores:
-Lutei como nunca. Perdi como sempre!
O PT quer ir à forra - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 27/09
O PT debate nota criticando o STF por causa do mensalão. A intenção é aprová-la no Diretório Nacional em 10 de outubro. A ideia é acusar a Corte de desrespeitar à Convenção Americana dos Direitos Humanos. Os mais radicais querem cobrar do Supremo que ele marque data e seja igualmente rigoroso no caso do mensalão mineiro, que envolve o ex-governador tucano Eduardo Azeredo.
As viradas no pleito de João Pessoa
O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) está exultante. Seu candidato em Campina Grande, o tucano Romero Rodrigues, caminha para vencer no primeiro turno. Mas os tucanos estão preocupados com a situação de João Pessoa. Cícero Lucena perdeu a liderança para o petista Luciano Cartaxo e, agora, está ameaçado pela socialista Estela Bezerra de ficar de fora do segundo turno. Os tucanos reconhecem que Estela, que tem o apoio do governador Ricardo Coutinho (PSB), está numa curva ascendente nas pesquisas. Enquanto isso, Cícero não sai do lugar. Os adversários o bombardeiam com sua prisão pela Polícia Federal, na Operação Confraria.
“Vossa Excelência não me dirá o que eu tenho que fazer. E, por favor, não me dê conselhos”
Ricardo Lewandowski Ministro (STF) revisor do mensalão, para o relator Joaquim Barbosa
Sonho de consumo dos petistas
O ministro Aloizio Mercadante (Educação) não é o único que sonha com a Casa Civil. O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) também. Mas a presidente Dilma não quer saber de nenhum outro ministro do estilo Antonio Palocci.
Passando o chapéu
Os candidatos estão usando nova modalidade de pedido de ajuda financeira nesta campanha: Torpedos de celular aos companheiros de partido. Ontem, no celular do senador Alvaro Dias (PSDB-PR) chegou mensagem de candidato a prefeito pedindo ajuda para pagar 800 litros de gasolina para a reta final da campanha.
Jefferson deixa a presidência do PTB
O presidente do PTB e réu no mensalão, Roberto Jefferson, vai se licenciar do cargo no próximo domingo até março do ano que vem. Vai tratar de um câncer. O vice Benito Gama vai assumir.
Nas mãos do Fisco
O Senado vai pagar à Receita Federal cerca de R$ 6 milhões por causa da omissão da declaração dos 14º e 15º salários pelos senadores. Os 120 que exerceram mandado no período de 2008 a 2012 foram notificados. A dívida é individualizada. Os que assumiram em 2010 vão pagar R$ 27 mil com multa. A conta é salgada para os que já exerciam o mandato em 2008: R$ 72mil mais multa.
Marcação homem a homem
Em nome do esporte nacional, o deputado Romário (PSB-RJ) quer que a presidente Dilma faça uma intervenção no COB. O motivo: o furto de informações das Olimpíadas, em Londres, por funcionários do Comitê Olímpico Brasileiro.
Contorcionismo político
Nas avaliações que os tucanos fazem do resultado do pleito municipal, a reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), está na contabilidade da oposição. Aliás, todas as vitórias do PSB são colocadas na coluna da oposição.
CANDIDATO à prefeitura de Joinville (SC), Udo Döhler (PMDB) promete entregar um tablet para cada um dos 49 mil alunos do ensino fundamental.
O PT debate nota criticando o STF por causa do mensalão. A intenção é aprová-la no Diretório Nacional em 10 de outubro. A ideia é acusar a Corte de desrespeitar à Convenção Americana dos Direitos Humanos. Os mais radicais querem cobrar do Supremo que ele marque data e seja igualmente rigoroso no caso do mensalão mineiro, que envolve o ex-governador tucano Eduardo Azeredo.
As viradas no pleito de João Pessoa
O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) está exultante. Seu candidato em Campina Grande, o tucano Romero Rodrigues, caminha para vencer no primeiro turno. Mas os tucanos estão preocupados com a situação de João Pessoa. Cícero Lucena perdeu a liderança para o petista Luciano Cartaxo e, agora, está ameaçado pela socialista Estela Bezerra de ficar de fora do segundo turno. Os tucanos reconhecem que Estela, que tem o apoio do governador Ricardo Coutinho (PSB), está numa curva ascendente nas pesquisas. Enquanto isso, Cícero não sai do lugar. Os adversários o bombardeiam com sua prisão pela Polícia Federal, na Operação Confraria.
“Vossa Excelência não me dirá o que eu tenho que fazer. E, por favor, não me dê conselhos”
Ricardo Lewandowski Ministro (STF) revisor do mensalão, para o relator Joaquim Barbosa
Sonho de consumo dos petistas
O ministro Aloizio Mercadante (Educação) não é o único que sonha com a Casa Civil. O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) também. Mas a presidente Dilma não quer saber de nenhum outro ministro do estilo Antonio Palocci.
Passando o chapéu
Os candidatos estão usando nova modalidade de pedido de ajuda financeira nesta campanha: Torpedos de celular aos companheiros de partido. Ontem, no celular do senador Alvaro Dias (PSDB-PR) chegou mensagem de candidato a prefeito pedindo ajuda para pagar 800 litros de gasolina para a reta final da campanha.
Jefferson deixa a presidência do PTB
O presidente do PTB e réu no mensalão, Roberto Jefferson, vai se licenciar do cargo no próximo domingo até março do ano que vem. Vai tratar de um câncer. O vice Benito Gama vai assumir.
Nas mãos do Fisco
O Senado vai pagar à Receita Federal cerca de R$ 6 milhões por causa da omissão da declaração dos 14º e 15º salários pelos senadores. Os 120 que exerceram mandado no período de 2008 a 2012 foram notificados. A dívida é individualizada. Os que assumiram em 2010 vão pagar R$ 27 mil com multa. A conta é salgada para os que já exerciam o mandato em 2008: R$ 72mil mais multa.
Marcação homem a homem
Em nome do esporte nacional, o deputado Romário (PSB-RJ) quer que a presidente Dilma faça uma intervenção no COB. O motivo: o furto de informações das Olimpíadas, em Londres, por funcionários do Comitê Olímpico Brasileiro.
Contorcionismo político
Nas avaliações que os tucanos fazem do resultado do pleito municipal, a reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), está na contabilidade da oposição. Aliás, todas as vitórias do PSB são colocadas na coluna da oposição.
CANDIDATO à prefeitura de Joinville (SC), Udo Döhler (PMDB) promete entregar um tablet para cada um dos 49 mil alunos do ensino fundamental.