quinta-feira, setembro 27, 2012
Senescência e senioridade profissional - SÉRGIO AMAD COSTA
O Estado de S.Paulo - 27/09
O envelhecimento da população brasileira gera preocupação quanto ao futuro do País. Mas, se, por um lado, ele se deve à redução da taxa de natalidade, por outro, também é resultado do aumento da expectativa de vida, em razão das melhorias no campo da saúde. Observa-se, agora, uma maior disposição das pessoas mais velhas a continuarem trabalhando e um reconhecimento, cada vez mais significativo, de empresas que valorizam a senioridade de profissionais que já alcançaram a época da aposentadoria.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, divulgada recentemente, mostra, de fato, o envelhecimento da nossa população. O segmento com 60 anos ou mais, em 2004, era de 9,7% da população total; em 2009, 11,3%; e, em 2011, já representava 12,1%. Como reflexo também do aumento da expectativa de vida, esse envelhecimento é acompanhado por mudanças nos padrões de trabalho.
No início da década de 1990, a expectativa de vida no Brasil era, em média, de 66 anos; em 2005, foi para 71,8 anos; e hoje está, em média, em 73,5 anos. O Brasil ocupa a 87.ª posição no ranking dos países em termos de expectativa de vida, enquanto o Japão lidera com uma média de 82,7 anos. Essa elevação no tempo de vida das pessoas faz com que sejam repensados os atuais conceitos de aposentadoria. O Japão é exemplo disso. Dos 28 milhões de japoneses com 65 anos ou mais, cerca de 6 milhões ainda trabalham, e depoimentos revelam que eles não pensam em parar. As projeções mostram, ainda, que esse número vai aumentar.
O Brasil, embora ainda timidamente, parece estar seguindo esse exemplo do país do sol nascente. Os números traduzem essa disposição de profissionais em idades mais avançadas de continuarem trabalhando. Segundo o IBGE, em 2000, 3,3 milhões de pessoas com mais de 60 anos faziam parte do mercado de trabalho e, em 2010, esse número subiu para 5,4 milhões de pessoas.
Essa mudança positiva no mercado de trabalho é revelada, também, em pesquisas que mostram que empresas no Brasil começaram a valorizar a experiência, contratando um número maior de profissionais mais velhos. Cerca de 20% das companhias - e a tendência é a elevação dessa porcentagem - empregam trabalhadores aposentados, tanto para cargos técnicos quanto para gerência e diretoria. Os principais motivos são a disposição e o amplo conhecimento técnico desses profissionais.
Razões para essa mudança no mundo corporativo são várias. Cito três. A primeira é que essas pessoas com idade mais avançada são profissionais qualificados, com senioridade para agregar à empresa. A segunda razão é que nesta fase da vida as pessoas, em geral, estão resolvidas socialmente. Ou seja, já constituíram família, criaram filhos e agora acabam se concentrando com mais facilidade nos desafios apresentados pelo trabalho. A terceira está nas novas tecnologias utilizadas nas empresas. Hoje, elas possibilitam que as tarefas sejam quase totalmente intelectuais. Muito pouco se exige em termos de esforço físico, facilitando, e muito, o trabalho para os mais velhos.
Estudos científicos demonstram que um dos principais fatores associados ao aumento da longevidade humana e uma vida mais saudável é o envolvimento com o trabalho. Sirvo-me, novamente, do exemplo do Japão. Nagano, uma província no centro do país, conta, proporcionalmente, com o maior número de idosos trabalhando entre todas as prefeituras do Japão e é onde se gasta menos com saúde. Já a cidade de Fukuoka apresenta um número bem pequeno de trabalhadores mais velhos e elevados custos com saúde.
Deveríamos começar a eliminar preconceitos em relação aos mais velhos. São necessárias mudanças de ordem cultural. E isso pode ser feito mediante campanhas educacionais, estimulando um número maior de empresas a abrir espaço para que pessoas com idades mais avançadas continuem trabalhando. É bom para os mais velhos, é bom para as companhias, é bom para a economia e é bom para o País.
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