sexta-feira, julho 13, 2012
Notório cartório - DORA KRAMER
O Estado de S. Paulo - 13/07
Muito admira a decisão da senadora Kátia Abreu de abrir dissidência assim como causa espanto o gesto do ex-deputado Roberto Brant de deixar o PSD em reação ao modo como o prefeito Gilberto Kassab conduz o partido.
Ambos consideraram "truculenta" a intervenção na seção mineira para propiciar o rompimento do compromisso firmado com a campanha à reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, e adesão à candidatura do petista Patrus Ananias.
Compararam o ato a ações de velhos coronéis, denunciaram desrespeito a políticos locais, reclamaram da ausência de diálogo, falaram em abuso de poder e, em carta enviada ao prefeito de São Paulo, qualificada pela autora como "desaforada", a senadora apontou "dano grave ao espírito do nosso partido".
Melífluo, Kassab preferiu o elogio ao confronto, reiterando voto de "respeito e admiração" à correligionária. Mas, se quisesse acirrar poderia perguntar a qual espírito partidário mesmo se referiu a senadora.
Tanto ela quanto Brant ou quem mais esteja insatisfeito com a condução que Kassab dá ao PSD sabiam muito bem onde estavam pisando quando se associaram a um projeto desprovido de sentido doutrinário, arquitetado com o explícito propósito de se inserir com rapidez no quadro partidário sob a égide do pragmatismo em sua feição mais extremada.
Aqui a cigana não enganou ninguém. Kassab nunca escondeu que criava uma legenda para dar continuidade à sua carreira política pós-prefeitura, já que via seu então partido, o DEM, como uma confederação de náufragos condenados ao abraço dos afogados.
A natureza do negócio sempre esteve muito clara: uma agremiação para servir de pau para toda obra, a depender dos interesses da ocasião. Um notório cartório no comando do qual Gilberto Kassab carimba alianças sob o único critério da obtenção da vantagem imediata.
Aderiu quem quis e não viu nada demais em migrar do dia para a noite da mais ferrenha oposição à profunda afeição ao governo federal.
Assinou embaixo quem não viu nada de esquisito no fato de o PSD ter se transformado em sublegenda de todos os governados de estado, à exceção de São Paulo e Rio Grande do Sul onde, no entanto, se abrigou em alianças para a eleição municipal de lógicas completamente díspares tanto em relação à afinidade com o PT no plano federal – ao ficar com o PSDB na capital paulista – quanto no tocante à origem da maioria centro-direitista dos sócios fundadores – ao se unir ao PCdoB gaúcho.
Não por outro motivo a não ser a ausência de balizas, o novo partido conseguiu rapidamente formar uma bancada tão robusta na Câmara que levou a Justiça a ignorar a legislação vigente e adotar uma "interpretação realista" para a concessão ao PSD de tempo de propaganda gratuita e acesso ao dinheiro do fundo partidário.
Embarcaram todos na norma pragmática de Kassab, celebrado como o mais novo gênio da raça da política nacional.
Uma vez atropelados os princípios e a prática sendo aceita como expressão de competência, reclamar agora do quê?
Queixaram-se os revoltosos de que em um ano e meio a executiva nacional não se reuniu uma única vez, que as decisões são tomadas de forma autocrática por Kassab, que não há democracia interna nem vida partidária.
Ora, uma legenda fundada nas bases em que se criou o PSD, sem a menor preocupação com o aperfeiçoamento dos costumes da nossa desgastada política, ao contrário, aprofundando todas as deformações existentes, não obedeceria mesmo aos preceitos de "lealdade e respeito" que foram infringidas no dizer da senadora Kátia Abreu.
Gilberto Kassab não cometeu infração alguma no tocante ao que se propôs. Não incorreu em desvio de rumo nem deveria surpreender ninguém. Muito menos os que viram no projeto dele uma janela de oportunidade.
Ademais, com todo respeito que merece a combatividade da senadora, considerar Gilberto Kassab "um rapaz moderno de São Paulo", francamente, não faz jus à perspicácia que sempre exibiu no exercício do mandato.
Um ovo e uma fritada - CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SP - 13/07
A lenda explicaria não apenas a complicada vida sexual do ditador, mas seus complexos de inferioridade
Um dos temas que mais me impressionaram quando na distante mocidade que passei num seminário foi o estudo da lei de causalidade nas aulas de lógica, tendo como base a tradicional doutrina aristotélica-tomista: posta a causa, posto o efeito; variada a causa, variado o efeito; "sublata causa, tollitur effectus", ou seja, suprimida a causa, acaba o efeito.
Alguns filósofos posteriores tiraram conclusões meio capciosas, incluindo a inexorabilidade do destino e do acaso, misturando as duas coisas de tal forma que nunca se sabe onde a causa é o destino, e o efeito, o acaso.
Moisés decidiu empreender o êxodo porque, ainda no Egito, viu um soldado do faraó açoitar um judeu? Newton descobriu a lei da gravidade porque, descansando à sombra de uma árvore, a maçã caiu em sua cara? Lord Sandwich estava com fome e botou uma fatia de carne dentro de um pão, criando sem querer o sanduíche?
Para explicar o DNA das coisas, dos muitos inventos e descobertas da humanidade ao longo dos séculos, os entendidos sentem-se obrigados a buscar as causas que determinaram os efeitos.
Causa: um estudante sérvio matou o arquiduque da Áustria em Sarajevo. Efeito: Guerra Mundial de 1914-1918. Causa: Nero incendiou Roma e botou a culpa nos cristãos. Efeito: os romanos tiveram de construir o Coliseu para que os leões da Númia comessem os cristãos.
Baseados nesta lei da causalidade, os historiadores procuram explicar fatos e versões obedecendo às regras da "posita, variata, sublata", causa que determina este ou aquele efeito da crônica humana.
Até hoje, por exemplo, psicólogos, historiadores e patologistas procuram explicar a causa que determinou o antissemitismo radical de Hitler. Falam em alguns teóricos, como Gobineau e Chamberlain.
Falam em Nietzsche e Wagner, falam principalmente no apócrifo "Protocolo dos Sábios de Sião", como fontes ou causas irracionais do ódio que provocou o holocausto dos judeus durante o regime nazista.
Os mais recentes biógrafos do ditador, depois de fuçarem documentos em posse dos russos e dos americanos, abriram duas hipóteses fantásticas. Um delas pode ter sido possível. Em seus anos de Viena, o jovem Adolf teve relações com uma prostituta judia e contraiu uma sífilis que nunca foi devidamente curada. Daí a sua teoria de que o povo judeu "infectava" o mundo.
Outra hipótese, levantada por alguns amigos de sua juventude, criou a teoria do "um ovo só". Que foi levada a sério até mesmo pelos patologistas soviéticos que, depois da guerra, examinaram os restos carbonizados do Führer.
Em seus tempos de jovem, ainda em Linz, Hitler teria apostado com os colegas que seria capaz de urinar na boca de um bode que vivia nos arredores do colégio. Desafiado, com uma das mãos abriu a boca do bode, com a outra, direcionou o jato, mas o animal reagiu, comendo um de seus testículos.
Por mais que pareça ridículo ou improvável, a lenda marcaria e explicaria não apenas a complicada vida sexual do ditador, mas seus complexos de inferioridade e sua insanidade social e política: o bode em questão pertencia a um judeu.
Os leitores poderão pensar que estou inventando coisas, mas estes dois fatos que lembrei estão narrados em biografias altamente respeitáveis, como a de John Toland e Ron Rosenbaum e alguns autores russos que confirmam a história do "ovo só", deixando para numerosos psicólogos e psiquiatras a explicação do desvio de personalidade de alguém que teve um testículo comido por um bode, que não era um bode judeu, mas pertencia a um judeu.
Bem, acredito que nesta crônica me superei em matéria de citações. Lembrei Moisés, Aristóteles, Tomás de Aquino, Isaac Newton, Lord Sandwich, Wagner, Nietzsche, Gobineau, Chamberlain, Nero, os leões da Númia, um estudante sérvio e dois autores contemporâneos.
Um prato cheio para leitores interessados no rigor histórico reclamarem inclusive da teoria do ovo só, que além de ter prejudicado a vida sexual do maior tirano da história, provou mais uma vez que pequenas causas podem produzir grandes efeitos.
A lenda explicaria não apenas a complicada vida sexual do ditador, mas seus complexos de inferioridade
Um dos temas que mais me impressionaram quando na distante mocidade que passei num seminário foi o estudo da lei de causalidade nas aulas de lógica, tendo como base a tradicional doutrina aristotélica-tomista: posta a causa, posto o efeito; variada a causa, variado o efeito; "sublata causa, tollitur effectus", ou seja, suprimida a causa, acaba o efeito.
Alguns filósofos posteriores tiraram conclusões meio capciosas, incluindo a inexorabilidade do destino e do acaso, misturando as duas coisas de tal forma que nunca se sabe onde a causa é o destino, e o efeito, o acaso.
Moisés decidiu empreender o êxodo porque, ainda no Egito, viu um soldado do faraó açoitar um judeu? Newton descobriu a lei da gravidade porque, descansando à sombra de uma árvore, a maçã caiu em sua cara? Lord Sandwich estava com fome e botou uma fatia de carne dentro de um pão, criando sem querer o sanduíche?
Para explicar o DNA das coisas, dos muitos inventos e descobertas da humanidade ao longo dos séculos, os entendidos sentem-se obrigados a buscar as causas que determinaram os efeitos.
Causa: um estudante sérvio matou o arquiduque da Áustria em Sarajevo. Efeito: Guerra Mundial de 1914-1918. Causa: Nero incendiou Roma e botou a culpa nos cristãos. Efeito: os romanos tiveram de construir o Coliseu para que os leões da Númia comessem os cristãos.
Baseados nesta lei da causalidade, os historiadores procuram explicar fatos e versões obedecendo às regras da "posita, variata, sublata", causa que determina este ou aquele efeito da crônica humana.
Até hoje, por exemplo, psicólogos, historiadores e patologistas procuram explicar a causa que determinou o antissemitismo radical de Hitler. Falam em alguns teóricos, como Gobineau e Chamberlain.
Falam em Nietzsche e Wagner, falam principalmente no apócrifo "Protocolo dos Sábios de Sião", como fontes ou causas irracionais do ódio que provocou o holocausto dos judeus durante o regime nazista.
Os mais recentes biógrafos do ditador, depois de fuçarem documentos em posse dos russos e dos americanos, abriram duas hipóteses fantásticas. Um delas pode ter sido possível. Em seus anos de Viena, o jovem Adolf teve relações com uma prostituta judia e contraiu uma sífilis que nunca foi devidamente curada. Daí a sua teoria de que o povo judeu "infectava" o mundo.
Outra hipótese, levantada por alguns amigos de sua juventude, criou a teoria do "um ovo só". Que foi levada a sério até mesmo pelos patologistas soviéticos que, depois da guerra, examinaram os restos carbonizados do Führer.
Em seus tempos de jovem, ainda em Linz, Hitler teria apostado com os colegas que seria capaz de urinar na boca de um bode que vivia nos arredores do colégio. Desafiado, com uma das mãos abriu a boca do bode, com a outra, direcionou o jato, mas o animal reagiu, comendo um de seus testículos.
Por mais que pareça ridículo ou improvável, a lenda marcaria e explicaria não apenas a complicada vida sexual do ditador, mas seus complexos de inferioridade e sua insanidade social e política: o bode em questão pertencia a um judeu.
Os leitores poderão pensar que estou inventando coisas, mas estes dois fatos que lembrei estão narrados em biografias altamente respeitáveis, como a de John Toland e Ron Rosenbaum e alguns autores russos que confirmam a história do "ovo só", deixando para numerosos psicólogos e psiquiatras a explicação do desvio de personalidade de alguém que teve um testículo comido por um bode, que não era um bode judeu, mas pertencia a um judeu.
Bem, acredito que nesta crônica me superei em matéria de citações. Lembrei Moisés, Aristóteles, Tomás de Aquino, Isaac Newton, Lord Sandwich, Wagner, Nietzsche, Gobineau, Chamberlain, Nero, os leões da Númia, um estudante sérvio e dois autores contemporâneos.
Um prato cheio para leitores interessados no rigor histórico reclamarem inclusive da teoria do ovo só, que além de ter prejudicado a vida sexual do maior tirano da história, provou mais uma vez que pequenas causas podem produzir grandes efeitos.
A era das periguetes - NELSON MOTTA
O Estado de S.Paulo - 13/07
Antes elas eram as abomináveis piranhas, cachorras e ratazanas, que devoravam os maridos e namorados alheios. Hoje são as adoráveis periguetes, queridas até entre as crianças, as famílias e o público mais conservador. Antes eram groupies de bandas de rock, ripongas calça-frouxa e marias-chuteira, que ganharam alforria com a pílula anticoncepcional, viraram grupo de risco depois da Aids e fizeram dos testes de paternidade por DNA um meio de vida.
Deborah Secco é a rainha das periguetes na televisão, temperando seu sex-appeal com um lado doce e vulnerável, como as putinhas românticas de Fellini, e ganhando sempre das moças de família na preferência do público. A Deborah discreta e tímida da vida real, com sua voz rouquinha e seu talento de atriz, vira um vulcão sexual sempre prestes a explodir, incendiando desejo e medo nos espectadores. Assim como Regina Duarte era a namoradinha, Deborah é a periguete do Brasil.
Mas não se iludam com a eventual doçura e os bons sentimentos da periguete. Como o próprio nome indica e o clássico das Frenéticas adverte, ela é bonita e gostosa, mas perigosa, no seu pacote está incluída a perspectiva de virar uma chave de cadeia. Mas, como tudo na vida, há periguetes do bem e do mal, as que têm amor à sua escolha e a exercem com alegria e sem culpa, e as sanguessugas vocacionais, as alpinistas sociais e as golpistas profissionais, que usam o corpo como arma. Como Mariana Ximenes em Passione.
Um dos maiores sucessos do megassucesso Avenida Brasil é Isis Valverde como a periguete boliviana Suélen, boa de cama e de mesa, que faz gato e sapato dos corações masculinos do Divino com seu mix de malícia e ingenuidade, espontaneidade e malandragem, e sua capacidade infinita de seduzir e de enganar. As novelas não vivem mais sem elas, que inspiraram Chico Buarque no Hino das Periguetes:
"Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem sim, por uma coisa à toa, uma noitada boa, um cinema um botequim (...) mas na manhã seguinte, não conta até vinte, te afasta de mim, pois já não vales nada, és página virada, descartada do meu folhetim."
A humilhante catraca - MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
FOLHA DE SP - 13/07
SÃO PAULO - Em "Um Homem Sem Profissão", o escritor, poeta e jornalista Oswald de Andrade (1890-1954) narra suas lembranças da chegada do bonde elétrico a São Paulo.
Era o ano de 1900. Uma multidão foi ao centro ver a "maravilha mecânica", que já circulava em Salvador, Manaus e no Rio de Janeiro. Partiria do largo de São Bento em direção à Barra Funda.
Para não perder o espetáculo, Oswald, um molecote de dez anos de idade, posicionou-se na então ladeira de São João com a Libero Badaró.
E lá veio o bicho, ao som de "uma campainha forte que tilintava abrindo as alas convergentes do povo". Passou apinhado e uma mulher exclamou: "Ota gente corajosa! Andá nessa geringonça!".
Hoje, os bondes desapareceram de São Paulo e de outras cidades brasileiras. Na Europa, eles ainda continuam a prestar bons serviços, em versão modernizada. Mas nós preferimos o ônibus, que em matéria de transporte público é um suplício.
Gente corajosa essa que passa no famoso "busão" da Pauliceia. Arranca, freia, chacoalha, faz curvas improváveis, é barulhento, poluidor e apertado. O horário é uma loteria. Natural que as novas linhas de metrô e trem, algumas realmente boas, logo tenham ficado superlotadas. Ônibus, só se não tiver jeito.
Seria, aliás, uma experiência instrutiva -além de divertida- se o senhor prefeito da cidade se dispusesse a entrar num ônibus, atravessar o corredor e tentar, com sua figura graúda, passar pela humilhante catraca -aquilo que no Rio se chama de borboleta. Estreita e opressiva, parece concebida como um brete para marcar gado. Um dispositivo que atualiza traços do Brasil escravocrata em plena cena urbana do século 21.
O ritual das meninas da padaria - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O Estado de S.Paulo - 13/07
Esperas em aeroportos são entediantes, principalmente para quem chega cedo como eu, para desespero de minha mulher que se irrita com aquele nada a fazer a não ser olhar lojas-pega-turistas, que se acham espertos ao comprar uma mercadoria que sairá "muitos mais barato" do que no Brasil. E carregam aqueles sacolões, tipo viajante de rodoviária no final de ano. Pois estava eu em Charles De Gaulle, Paris, e a brasileirada ruidosa ainda não tinha chegado. De repente, aquela senhora, com o rosto lacerado e uns bandaids enormes surgiu à minha frente. Não reconheci. Ela foi educada, ao contrário daqueles que insistem em que você identifique:
- Sou Heloisa. Uma das meninas.
Pronto, tudo se iluminou. O problema é quando retiramos alguém do contexto. Leva um tempo para identificar. Outro dia, o Nildo, chapeiro da CPL, passou por mim, se despediu. Quem é esse, tão cordial? Estava sem o uniforme da padaria, sem aquele bonezinho protetor, estava longe do balcão. O chapeiro que faz um chapado perfeito, no ponto, dourado. Estive frente a frente com conhecido jogador de futebol e não tinha a mínima ideia de quem era. Também, ele estava sem uniforme, fora do campo, não suado, nem ofegante, como eu ia saber?
Heloisa faz parte de um grupo que apelidei "as meninas" da CPL, a padaria da esquina, point do bairro, centro de convivência. Todos os domingos, pontualmente às oito, elas chegam. Passo em busca do pão e do meu "chapado" e indago:
- Já fizeram a chamada?
- Todas "bateram" o ponto, confirmam.
Anna Maria, Heloisa, Malu, Sonia, Rosely e Stella sentam-se sempre à mesma mesa, mais próxima ao autoelétrico do Pereira, que marca o limite do território da CPL. Porque uma delas fuma e não deseja incomodar. Se bem que a essa hora da manhã, as mesas estão quase todas vazias. Aos poucos chegarão casais com bebês; solitários com seus cães; os pintores Paulo Calazans e Genilsson (em momentos diferentes); o jornalista Maurício Kus, que teve uma das maiores assessorias de imprensa da cidade, e hoje curte um tempo sabático; Pedro e Gilvana, com quem todos fazemos molduras e encomendamos nossos vidros. Antes do almoço os motoqueiros, qual Marlon Brandos, ocuparão a esquina. Porém, as meninas são das primeiras. Gostam do sossego, precisam colocar os assuntos em dia.
Todas deram suas aulas, em faculdades, defenderam teses, mas a vida acadêmica ficou para trás. Uma, a Malu, foi radical, dedica-se hoje à gastronomia. O torpe aperto de mão entre Lula e Maluf, que virou o estômago do País, a novela Avenida Brasil, a volta da Gabriela, o tempo, os filhos, netos, as empregadas. Nunca ouvi ali uma palavra sobre futebol. Também não fico parado muito tempo, é a hora delas. Heloisa, a que me encontrou no aeroporto, explica que o rosto lacerado foi resultado de uma queda na rua, em Berlim. Um corte na testa, sangue, em minutos chegou o resgate, quando viu ela estava no hospital, cuidada.
De vez em quando, o assunto dos carros repletos de lixo e tralhas entra na pauta. O professor acumulador que tem seis ou oito automóveis lotados de tranqueiras muda o local de estacionamento. O mistério foi revelado entre uns poucos, o público continua se admirando, se indagando o que significa aquilo. As meninas são bem-humoradas (não é que não tenham seus problemas), insistem em manter a tradição que vem de anos. Aquele encontro dominical, longe do doméstico, da família, das obrigações cotidianas, do prosaico dia a dia.
É um instante todo delas, de liberdade, descontração, curtição, abobrinhas, troca de informações, novidades do bairro. Já ouvi sobre política. Elas esperam que a ministra, que é do bairro, apareça um dia, como já apareceu antes. Foram elas que me alertaram sobre a demolição noturna (covarde) da casa branca senhorial da esquina da Teodoro Sampaio. Até o escritor Milton Hatoum, que morou no bairro anos atrás, sofreu com a queda da mansão.
Assim, a cada domingo verifico que a paz permanece, o bairro continua o mesmo, os pequenos rituais estão mantidos, precisamos deles, para nos livrar da ansiedade. Os diálogos são invariáveis entre nós a cada domingo.
- Bateram ponto?
- O relógio quebrou, José mandou consertar.
José é o dono, torcedor fanático da Portuguesa
- Vieram todas?
- Duas faltaram, mas justificaram.
- Portanto não terão o dia descontado nem perderão um dia das férias.
- Uma viajou.
-Uma está de licença médica. Nada grave.
- E a pauta deste domingo?
- É livre, generalidades.
O café da manhã se inicia, chegam sucos, chapados. Vou com meus pães, meu pão de ló, e quase até chegar ao meu prédio, ouço os risos das meninas. É domingo, o mundo está em paz. Ao menos, nosso mundinho aqui.
A encomenda - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 13/07
Governadores, juros e Mantega
Os governadores do Nordeste estão falando cobras e lagartos do Ministério da Fazenda. Ocorre que a Fazenda autorizou o BNDES a baixar seus juros para 4% no financiamento de empreendimentos e da produção. Enquanto isso, o ministério mantém os juros do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste, liberado pela Sudene, e operado pelo Banco do Nordeste em 6,5%. Hoje, em Fortaleza (CE), na reunião da Sudene, os governadores vão reivindicar mudança desta política para o ministro Fernando Bezerra Coelho, da Integração Nacional. A região Nordeste é a que mais tem sentido os efeitos da crise econômica internacional.
“A CPI precisa desvendar todos os laços políticos da organização criminosa de Carlos Cachoeira. Não era só o Demóstenes (Torres)” — Paulo Teixeira, deputado federal (PT-SP)
REPÚDIO. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Domingos Dutra (PT-MA), critica o uso de "cânticos de estímulo à violência e à brutalidade em treinamentos de soldados das Forças Armadas". A Comissão pede explicações ao Ministério da Defesa e que sejam abolidos "tais "costumes" de apologia à barbárie". Ontem, a coluna relatou que soldados do 1º Batalhão da Polícia do Exército, no Rio de Janeiro, correm cantando: "Bate, espanca, quebra os ossos. Bate até morrer."
Faniquito
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), na sessão de quarta-feira, no plenário, acusou aos berros um de seus assessores de estar lhe dando "bola nas costas". O constrangimento entre os senadores foi geral.
De molho
A presidente Dilma não pretende ir à França tão cedo. O fará somente depois que a Dassault mandar nova proposta para a licitação dos caças da FAB. O governo brasileiro quer uma oferta como a que os franceses fizeram para a Índia.
O revisionismo e a História
Na Comissão de Relações Exteriores do Senado, quarta-feira, os senadores debatiam com o ministro Antônio Patriota o impeachment de Fernando Lugo no Paraguai. Fernando Collor (PTB-AL) presidia a sessão e Cristovam Buarque (PDT-DF) resolveu festejar o ex-presidente. No microfone, afirmou que no Brasil, as relações entre Executivo e Congresso são "espúrias" e que o impeachment de Collor só não foi evitado porque ele não cedera às pressões dos parlamentares.
Viva!
Cassado Demóstenes Torres, um grupo de senadores comemorou no restaurante Antiquarius de Brasília. No brinde com vinho: os peemedebistas Renan Calheiros, Eunício Oliveira, Romero Jucá e Eduardo Braga, e o petebista Gim Argello.
Ah! Eu sou maluco
O site Os Amigos do Presidente Lula tomou as dores de Roberto Brant, que deixou o PSD por causa da intervenção do prefeito Gilberto Kassab em Belo Horizonte. Virou piada. Kassab entrou em cena para apoiar o petista Patrus Ananias.
PETISTAS e aliados terminam o semestre dizendo que a desarticulação da bancada do governo na Câmara é ampla, geral e irrestrita.
CITAM como exemplo do desmazelo, a aprovação pela oposição da convocação, para depor, dos ministros Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento).
O QUE MAIS irritou a presidente Dilma foi a aprovação do projeto que destina 10% para a Educação. Sua reação: "Isso é pauta da oposição!"
PT desde criancinha - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 13/07
BRASÍLIA - Desde que a ministra Ideli Salvatti declarou que Dilma Rousseff não se meteria nas eleições municipais, a presidente não faz outra coisa. Com PT, PSB e PMDB disputando chapas e espaço a cotoveladas, ela entrou firmemente para preservar o equilíbrio do principal tripé de sustentação do governo.
Quando Dilma se reuniu com PT e PSB, dois de cada lado -os petistas Ideli e Paulo Bernardo e os socialistas Eduardo Campos e Cid Gomes-, as orelhas do PMDB arderam.
Mas, quando ela chamou em seguida PT e PMDB -Rui Falcão, presidente petista, e Michel Temer, o vice-presidente-, foram as orelhas do PSB que arderam. E muito.
Note-se que Dilma convocou o PT para as duas, mas não colocou juntos, lado a lado, olho no olho, o PSB e o PMDB. Isso sugere que: 1) Dilma tomou partido, literalmente, do PT; 2) o embate direto era entre PT e PSB, por conta de Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, mas Eduardo Campos desviou o alvo para o PMDB.
Campos só recuou por perceber que foi longe demais ao peitar o PT. Ao lançar candidato do PSB contra o petista Humberto Campos em Recife, irritou Lula. Ao fechar com o PSDB e empurrar o PT para a candidatura própria de Patrus Ananias em Belo Horizonte, pisou nos calos de Dilma.
Tão acusada de "não ser do ramo", ela foi rápida e eficaz. Chamou Temer numa segunda-feira para pedir ajuda em Belo Horizonte e, na terça, tudo estava resolvido: o PMDB retirou seu candidato, apoiou o petista Patrus e tornou a campanha mais equilibrada no Estado que, afinal, é o Estado natal da presidente.
O principal resultado dos movimentos e da ambição precoce de Eduardo Campos é que o PSB desceu e o PMDB subiu na avaliação de Dilma. Campos se afastou e Temer se aproximou mais dela.
Mas o mais importante de tudo isso é registrar que Dilma nunca foi tão petista quanto agora, apesar de não se meter, aí sim, no PT de São Paulo.
BRASÍLIA - Desde que a ministra Ideli Salvatti declarou que Dilma Rousseff não se meteria nas eleições municipais, a presidente não faz outra coisa. Com PT, PSB e PMDB disputando chapas e espaço a cotoveladas, ela entrou firmemente para preservar o equilíbrio do principal tripé de sustentação do governo.
Quando Dilma se reuniu com PT e PSB, dois de cada lado -os petistas Ideli e Paulo Bernardo e os socialistas Eduardo Campos e Cid Gomes-, as orelhas do PMDB arderam.
Mas, quando ela chamou em seguida PT e PMDB -Rui Falcão, presidente petista, e Michel Temer, o vice-presidente-, foram as orelhas do PSB que arderam. E muito.
Note-se que Dilma convocou o PT para as duas, mas não colocou juntos, lado a lado, olho no olho, o PSB e o PMDB. Isso sugere que: 1) Dilma tomou partido, literalmente, do PT; 2) o embate direto era entre PT e PSB, por conta de Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, mas Eduardo Campos desviou o alvo para o PMDB.
Campos só recuou por perceber que foi longe demais ao peitar o PT. Ao lançar candidato do PSB contra o petista Humberto Campos em Recife, irritou Lula. Ao fechar com o PSDB e empurrar o PT para a candidatura própria de Patrus Ananias em Belo Horizonte, pisou nos calos de Dilma.
Tão acusada de "não ser do ramo", ela foi rápida e eficaz. Chamou Temer numa segunda-feira para pedir ajuda em Belo Horizonte e, na terça, tudo estava resolvido: o PMDB retirou seu candidato, apoiou o petista Patrus e tornou a campanha mais equilibrada no Estado que, afinal, é o Estado natal da presidente.
O principal resultado dos movimentos e da ambição precoce de Eduardo Campos é que o PSB desceu e o PMDB subiu na avaliação de Dilma. Campos se afastou e Temer se aproximou mais dela.
Mas o mais importante de tudo isso é registrar que Dilma nunca foi tão petista quanto agora, apesar de não se meter, aí sim, no PT de São Paulo.
A cidade ideal - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 13/07
RIO DE JANEIRO - Em ótima entrevista a Vaguinaldo Marinheiro e Regiane Teixeira ("Cotidiano", 24/6), o ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, relacionou alguns problemas comuns às grandes cidades e suas soluções. Com 7,2 milhões de habitantes, a capital colombiana equivale mais ou menos ao Rio. Não seria mal adotar suas ideias por aqui. Eis algumas:
"Os carros são maravilhosos para passear, para sair à noite. Mas, se todos resolverem ir de carro ao trabalho, a cidade entra em colapso. Quando falamos de cidades sem carros, ou com poucos carros [...], estamos falando de cidades que já existem e que são as mais bem-sucedidas do mundo, como Nova York, Londres, Zurique. [...] Não defendo que as pessoas não tenham carro. Defendo que repensem como usá-lo.
"Não devemos proibir o carro, mas dificultar sua utilização. [...] A [maneira] mais fácil [de fazer isso] é a elevação do preço da gasolina. Outra é eliminar vagas nas ruas e cobrar mais nos estacionamentos. Há ainda pedágios urbanos [...]. O poder público deve cobrar bastante e usar esse dinheiro para subsidiar um sistema de transporte eficiente, rápido, confortável, com ar-condicionado. [...] A cidade avançada não é aquela em que os pobres andam de carro, mas aquela em que os ricos usam transporte público.
"Se o prefeito resolver acabar com áreas de estacionamento para ampliar calçadas e ciclovias, pode haver muita reclamação. Vão dizer: onde vamos estacionar? O prefeito, então, pode responder: Isso não é responsabilidade minha. É um problema privado. Eu também não digo onde você guarda sua roupa. O estacionamento não é um direito adquirido.
"Devemos pensar em cidades para os mais vulneráveis. Para as crianças, os idosos, os que se movimentam em cadeiras de rodas, os mais pobres. Se a cidade for boa para eles, será também para os demais".
Para que serve um ex-presidente? - MOISÉS NAÍM
FOLHA DE SP - 13/07
Não seria má ideia que Lula aprendesse com FHC, que não permite que os afetos lhe enevoem o juízo
A velha piada é que os ex-presidentes são como os vasos chineses: sabemos que são valiosos, mas ninguém sabe o que fazer com eles.
Alguns, como Bill Clinton, mantêm uma atividade frenética; outros, como Vladimir Putin, dão um jeito de nunca deixar o poder, e ainda outros, como Álvaro Uribe, brigam com seu sucessor. Alguns ganham prêmios mundiais e outros intervêm de modo inoportuno nas eleições de outros países.
Nos últimos dias, os dois mais famosos ex-presidentes brasileiros estiveram na arena pública mundial. O contraste entre suas atuações não poderia ter sido mais extremo.
Fernando Henrique Cardoso recebeu o prêmio mais importante do mundo como cientista social: o Prêmio Kluge, outorgado pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.
O prêmio tem um processo de indicação e seleção tão ou mais rigoroso que o Nobel, e seu valor -US$ 1 milhão- é superior. Quase ao mesmo tempo, Lula aparecia por videoconferência na reunião do Foro de São Paulo em Caracas.
Ele disse: "Apenas com a liderança de Chávez é que o povo realmente vem tendo conquistas extraordinárias. As classes populares nunca foram tratadas com tanto respeito, carinho e dignidade. Essas conquistas devem ser preservadas e consolidadas. Chávez, conte comigo, conte com o PT, conte com a solidariedade e o apoio de cada militante de esquerda, de cada democrata e de cada latino-americano. Tua vitória será nossa vitória".
É perfeitamente legítimo que Lula expresse seu afeto e admiração por Hugo Chávez. Os afetos -como o amor- são cegos e merecem respeito. Mas não é legítimo que Lula intervenha na campanha de outro país. Isso os democratas não fazem.
E Lula sabe disso. E já o tinha feito antes, quando, na véspera de um referendo importantíssimo na Venezuela, irrompeu no processo, afirmando que Chávez era o melhor presidente que o país tinha tido nos últimos cem anos.
Tampouco é legítimo distorcer a realidade venezuelana, como Lula fez -especialmente a realidade dos pobres. Chávez vem tendo um efeito devastador sobre a Venezuela, e os pobres são suas principais vítimas.
São eles que pagam as consequências de viver em um dos países mais inflacionários do mundo, são eles que são obrigados a virar-se com um salário real que caiu para o nível que tinha em 1966.
São eles que não conseguem trabalho a menos que seja no setor público e sob a condição de demonstrarem constantemente sua adoração e fidelidade ao "comandante".
São eles que veem seus filhos e filhas assassinados (o índice é dos mais altos do mundo. Não é de estranhar, portanto, que nas últimas eleições legislativas mais de metade dos votos tenha sido contra Chávez.
Na Venezuela, é impossível alcançar essa porcentagem sem milhões de votos dos mais pobres -que, segundo Lula, estão melhor que nunca.
Nesse sentido, não seria má ideia que Lula aprendesse um pouco com o FHC cientista social, que não permite que os afetos lhe enevoem o juízo. E com o FHC político, que não intervém de maneira abusiva nas eleições de outros países.Tradução de CLARA ALLAIN
PIB: nova rodada de revisões - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
FOLHA DE SP - 13/07
Os empresários pisaram no freio de seus gastos em máquinas, equipamentos e instalações físicas
As instituições financeiras que acompanham de perto o pulsar da economia brasileira vêm revendo para baixo suas previsões para o crescimento do PIB em 2012.
Uma série de dados decepcionantes, divulgados nos últimos dias, provocou esse movimento. Até mesmo as vendas no varejo -embora ainda cresçam a uma taxa real de 6% ao ano- foram atingidas.
O consumo das famílias -que corresponde a dois terços do PIB- se junta assim à queda importante dos gastos das empresas com itens ligados ao investimento. Por isso essa nova onda de pessimismo com o crescimento econômico neste ano.
A média das previsões já está abaixo dos 2%, com os mais pessimistas apontando uma taxa de 1,5% como o número mais provável. As atenções dos analistas estão se voltando agora para 2013.
Se a fraqueza da economia permanecer por mais tempo, não será possível manter as previsões de crescimento econômico acima de 4% para o próximo ano. Mas essa ainda é a aposta majoritária entre as instituições financeiras e consultores independentes.
Esta primeira metade do ano tem sido um período de grande perplexidade na comunidade de economistas. Afinal, quais as causas de uma desaceleração tão rápida em um ambiente de queda vigorosa dos juros e crescimento real, acima de 10%, da massa de salários no Brasil? Como o saldo do comércio externo brasileiro
-que está sofrendo com a crise internacional- tem pequena influência direta no nível de atividade econômica, temos que buscar no mercado interno as causas dessas mudanças de humor.
O primeiro e mais importante vilão está sendo certamente o investimento privado, que vem apresentando uma queda de mais de 8% nesta primeira metade de 2012.
Os empresários pisaram no freio de seus gastos em máquinas, equipamentos e instalações físicas. E não parecem dispostos a voltar às suas compras muito cedo.
Dois fatos chamam a atenção dos analistas nessa questão. De um lado o pessimismo internacional com o estado da economia mundial e a possibilidade de uma depressão econômica nos próximos meses. Do outro, as condições favoráveis para investir no Brasil, com os juros de mercado a níveis muito baixos e a existência de linhas de crédito abundantes e baratas nos bancos oficiais, principalmente no BNDES.
Mas, como ensinou Keynes, em momentos de pânico e de sumiço do chamado espírito animal das mentes dos empresários não existem estímulos que os faça mudar de atitude. E -infelizmente- essa crise de desconfiança em relação ao futuro chegou às empresas no Brasil.
Aliás, essa insegurança em relação ao futuro é a marca mais grave do momento em que vivemos.
Confesso a meu leitor que demorei mais do que devia para entender essa questão. Este meu erro de avaliação está certamente associado ao fato de que tenho uma posição otimista sobre as economias do mundo emergente e cínica em relação à crise na Europa.
Como já escrevi várias vezes, estou velho demais para acreditar no colapso do capitalismo, mesmo considerando os erros cometidos e que nos levaram à crise atual. Mas essa avaliação não é a opinião dominante hoje nos chamados mercados. Pelo contrário, a dinâmica dos preços dos principais ativos financeiros hoje é de que o colapso está iminente e dificilmente será evitado.
Dou um exemplo: os títulos de dez anos do Tesouro americano estão sendo negociados hoje a uma taxa de juros de 1,5% ao ano. Isso para um país que tem uma taxa de inflação histórica de 2% ao ano. Ou seja, quem está comprando esse papel está contratando uma perda de pelo menos 5% no período de seu investimento.
Por outro lado, se tomarmos uma média das previsões de lucro em 2013 para as ações do índice S&P da Bolsa de Nova York e os preços de hoje, o retorno esperado será de mais de 8% ao ano. Só a descrença em relação ao futuro, ou melhor, a certeza de que os resultados das empresas serão muito piores do que as previsões é que pode explicar essa situação esdrúxula de hoje.
Enquanto essa convicção prevalecer, os investimentos no Brasil vão continuar a deprimir nosso crescimento, não importando os estímulos que o governo colocar à disposição das empresas.
Os empresários pisaram no freio de seus gastos em máquinas, equipamentos e instalações físicas
As instituições financeiras que acompanham de perto o pulsar da economia brasileira vêm revendo para baixo suas previsões para o crescimento do PIB em 2012.
Uma série de dados decepcionantes, divulgados nos últimos dias, provocou esse movimento. Até mesmo as vendas no varejo -embora ainda cresçam a uma taxa real de 6% ao ano- foram atingidas.
O consumo das famílias -que corresponde a dois terços do PIB- se junta assim à queda importante dos gastos das empresas com itens ligados ao investimento. Por isso essa nova onda de pessimismo com o crescimento econômico neste ano.
A média das previsões já está abaixo dos 2%, com os mais pessimistas apontando uma taxa de 1,5% como o número mais provável. As atenções dos analistas estão se voltando agora para 2013.
Se a fraqueza da economia permanecer por mais tempo, não será possível manter as previsões de crescimento econômico acima de 4% para o próximo ano. Mas essa ainda é a aposta majoritária entre as instituições financeiras e consultores independentes.
Esta primeira metade do ano tem sido um período de grande perplexidade na comunidade de economistas. Afinal, quais as causas de uma desaceleração tão rápida em um ambiente de queda vigorosa dos juros e crescimento real, acima de 10%, da massa de salários no Brasil? Como o saldo do comércio externo brasileiro
-que está sofrendo com a crise internacional- tem pequena influência direta no nível de atividade econômica, temos que buscar no mercado interno as causas dessas mudanças de humor.
O primeiro e mais importante vilão está sendo certamente o investimento privado, que vem apresentando uma queda de mais de 8% nesta primeira metade de 2012.
Os empresários pisaram no freio de seus gastos em máquinas, equipamentos e instalações físicas. E não parecem dispostos a voltar às suas compras muito cedo.
Dois fatos chamam a atenção dos analistas nessa questão. De um lado o pessimismo internacional com o estado da economia mundial e a possibilidade de uma depressão econômica nos próximos meses. Do outro, as condições favoráveis para investir no Brasil, com os juros de mercado a níveis muito baixos e a existência de linhas de crédito abundantes e baratas nos bancos oficiais, principalmente no BNDES.
Mas, como ensinou Keynes, em momentos de pânico e de sumiço do chamado espírito animal das mentes dos empresários não existem estímulos que os faça mudar de atitude. E -infelizmente- essa crise de desconfiança em relação ao futuro chegou às empresas no Brasil.
Aliás, essa insegurança em relação ao futuro é a marca mais grave do momento em que vivemos.
Confesso a meu leitor que demorei mais do que devia para entender essa questão. Este meu erro de avaliação está certamente associado ao fato de que tenho uma posição otimista sobre as economias do mundo emergente e cínica em relação à crise na Europa.
Como já escrevi várias vezes, estou velho demais para acreditar no colapso do capitalismo, mesmo considerando os erros cometidos e que nos levaram à crise atual. Mas essa avaliação não é a opinião dominante hoje nos chamados mercados. Pelo contrário, a dinâmica dos preços dos principais ativos financeiros hoje é de que o colapso está iminente e dificilmente será evitado.
Dou um exemplo: os títulos de dez anos do Tesouro americano estão sendo negociados hoje a uma taxa de juros de 1,5% ao ano. Isso para um país que tem uma taxa de inflação histórica de 2% ao ano. Ou seja, quem está comprando esse papel está contratando uma perda de pelo menos 5% no período de seu investimento.
Por outro lado, se tomarmos uma média das previsões de lucro em 2013 para as ações do índice S&P da Bolsa de Nova York e os preços de hoje, o retorno esperado será de mais de 8% ao ano. Só a descrença em relação ao futuro, ou melhor, a certeza de que os resultados das empresas serão muito piores do que as previsões é que pode explicar essa situação esdrúxula de hoje.
Enquanto essa convicção prevalecer, os investimentos no Brasil vão continuar a deprimir nosso crescimento, não importando os estímulos que o governo colocar à disposição das empresas.
Ataque duplo à liberdade na América Latina - EDITORIAL O GLOBO
O Globo - 13/07
A liberdade de imprensa foi brutalmente cerceada nas décadas de 60 e 70 na América Latina, no ciclo das ditaduras militares. Com a redemocratização, o direito à informação passou a se consolidar. Nos últimos anos, porém, novos obstáculos têm se colocado no caminho dos que se propõem a praticar o jornalismo com o máximo de isenção e responsabilidade na região. São eles o surgimento de governos de cunho nacional-populista e o crescimento do crime organizado. Ambos têm em comum o objetivo de desmontar o estado de direito democrático e coibir o livre trânsito da informação, das opiniões.
O "pioneiro" na atual onda de repressão foi Hugo Chávez, caudilho que criou a vertente política denominada "bolivariana". Ele foi o primeiro a usar os meios democráticos para cercear a democracia via controle do Judiciário, do Legislativo e da oposição, numa grande sacada maquiavélica. Uma da características da "democracia" chavista é a reeleição ilimitada do presidente. Ou seja, algo muito mais próximo de uma ditadura populista, em que pese a risível afirmação em contrário do chanceler Antonio Patriota, no Congresso, repetindo a opinião de setores governamentais.
Em seus 13 anos no poder, Chávez persegue os meios de comunicação. Retirou do ar a rede RCTV em 2007 e, em 2010, o canal a cabo a que ela se resumira. Outra rede de TV aberta, a Globovisión, foi multada no equivalente a R$ 4 milhões por mostrar uma fuga de uma penitenciária superlotada. Enquanto os meios privados são perseguidos, a mídia estatal, que só veicula o que é de interesse do Palácio Miraflores, não para de crescer. A ONG Espacio Publico registrou 203 ataques a jornalistas no país em 2011.
São chavistas Rafael Correa, no Equador, e Evo Morales, na Bolívia, entre outros. No Equador, o Congresso debate uma nova Lei de Comunicação que reduz a participação privada na área de rádio e TV de 85% para 33%, abrindo espaço para a mídia estatal e "comunitária". Enquanto o projeto tramita, Correa , nas últimas duas semanas, tirou do ar cerca de 20 emissoras de rádio no país. Seu governo também proibiu ministros e autoridades de dar entrevistas a jornalistas de veículos considerados "não confiáveis".A imprensa independente passa, também, por maus momentos na Argentina, pois a dinastia K - alérgica a críticas -, influenciada por Chávez, declarou guerra aos dois principais grupos de comunicação independentes, "Clarín" e "La Nación". O Congresso, sob controle kirchnerista, aprovou a Lei de Meios com, entre outros, o objetivo de obrigar as empresas a se desfazer de veículos em nome da desconcentração do setor. Na verdade, uma ferramenta para enfraquecê-las.
Outro jogo bruto, com armas de fato, é jogado no México, onde os cartéis atacam empresas de comunicação, sequestram e matam jornalistas, numa situação que lembra a Colômbia da década de 90. Nos últimos dias, dois jornais mexicanos foram alvo de atentados dos cartéis. Desde 2000, 81 jornalistas foram mortos e 16, sequestrados no México.Tanto quanto o chavismo, em todas suas versões, o crime organizado ameaça a democracia na América Latina. Por caminhos diversos, visam ao mesmo alvo. Não é por acaso que as Farc colombianas se associaram aos carteis de traficantes.
Um convite a Contardo Calligaris - BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 13/07
Alguém consegue explicar a má vontade dos médicos tapuias em relação aos Alcoólicos Anônimos?
A COLUNA do Contardo Calligaris de ontem, que menciona seu amigo alcoólatra estimulado a voltar a beber pela mulher foi um clássico. Um clássico equívoco a ser evitado.
Costumo ler o Contardo de joelhos. Mas não ontem. Ali ele trivializou um assunto que não só conheço bem, como sou testemunha diária dos efeitos devastadores que produz, inclusive pela negligência com que é tratado. Não dá para entender a má vontade dos profissionais do país com os Alcoólicos Anônimos, uma irmandade reconhecida no mundo todo pelos excelentes serviços que presta.
O texto de Calligaris me remeteu ao hepatologista de Tarso de Castro, que chegou ao cúmulo de liberar o jornalista, dependente, para tomar uma taça de vinho ao dia.
Não sou especialista, apenas alguém que padece de uma doença que a Organização Mundial da Saúde define como "incurável, progressiva e mortal". E posso atestar que o texto serviu de luva para reafirmar o propósito de que problemas relativos ao álcool devem ser tratados dentro da sala dos Alcoólicos Anônimos, bem longe do divã do psicanalista.
Veja. Quem conhece minimamente os 12 Passos dos AA sabe que o programa não oferece garantias. Mas, a dada altura, por negligência ou mero infortúnio, Contardo diz o seguinte: "O homem frequentou os AA e deu certo". Ora, para nós, membros dos AA, ao contrário, o programa funciona, se muito, "só por hoje", nunca "dá certo", inexiste esse conceito. Eu posso voltar à ativa daqui a 20 minutos, corro esse risco, é da natureza da doença.
Um dos maiores predicados dos AA, inclusive, é esse. O de me colocar o tempo todo no presente para que eu consiga reduzir a angústia que a lembrança do passado me traz e diminuir a ansiedade que o peso do futuro pode vir a me causar.
Mas de que importa a filosofia dos AA? Bom mesmo é teorizar, não é para isso que serve psiquiatra? Calligaris menciona ainda que, aconselhado pelo seu grupo, o sujeito passou por uma "internação de um ano". De onde tirou um absurdo desses, só Deus sabe. Internação longa nos AA? Em 20 anos de Alcoólicos Anônimos nunca vi essa picaretagem. Aliás, é cada vez mais comum no país a prática criminosa da internação longa que isola o dependente da família e coloca o médico como intermediário todo-poderoso, sem que ninguém fiscalize.
Adoro ler o Contardo, ele me explica muitas coisas. Mas não me explica tudo. A psicanálise é aleijada da dimensão espiritual, um caminho muito indicado, senão imprescindível, para alguém como eu, que produz pouca endorfina, dopamina e outros opiatos naturais por conta dos anos que passei mamando destilados. Jung já advertia sobre isso a Bill e Bob, os dois sujeitos que fundaram os Alcoólicos Anônimos. Está documentado.
Fico me perguntando a quem Calligaris refere os casos mais graves de dependência. Não gosto nem de pensar na resposta. Em todo caso, uma atividade não interfere na outra, não é mesmo? O colunista é um, o médico é outro. Vamos deixar assim.
E deixar também um convite para que o amigo Contardo venha assistir a qualquer próxima edição que eu for dar da palestra "Do Fundo da Garrafa ao Domínio da Minha Vida", em que conto um pouco sobre meu trágico envolvimento com o álcool e como consegui sair desse inferno. Quem sabe ele não se anima a vir conhecer uma sala dos AA por dentro? Só por hoje. Funciona.
Costumo ler o Contardo de joelhos. Mas não ontem. Ali ele trivializou um assunto que não só conheço bem, como sou testemunha diária dos efeitos devastadores que produz, inclusive pela negligência com que é tratado. Não dá para entender a má vontade dos profissionais do país com os Alcoólicos Anônimos, uma irmandade reconhecida no mundo todo pelos excelentes serviços que presta.
O texto de Calligaris me remeteu ao hepatologista de Tarso de Castro, que chegou ao cúmulo de liberar o jornalista, dependente, para tomar uma taça de vinho ao dia.
Não sou especialista, apenas alguém que padece de uma doença que a Organização Mundial da Saúde define como "incurável, progressiva e mortal". E posso atestar que o texto serviu de luva para reafirmar o propósito de que problemas relativos ao álcool devem ser tratados dentro da sala dos Alcoólicos Anônimos, bem longe do divã do psicanalista.
Veja. Quem conhece minimamente os 12 Passos dos AA sabe que o programa não oferece garantias. Mas, a dada altura, por negligência ou mero infortúnio, Contardo diz o seguinte: "O homem frequentou os AA e deu certo". Ora, para nós, membros dos AA, ao contrário, o programa funciona, se muito, "só por hoje", nunca "dá certo", inexiste esse conceito. Eu posso voltar à ativa daqui a 20 minutos, corro esse risco, é da natureza da doença.
Um dos maiores predicados dos AA, inclusive, é esse. O de me colocar o tempo todo no presente para que eu consiga reduzir a angústia que a lembrança do passado me traz e diminuir a ansiedade que o peso do futuro pode vir a me causar.
Mas de que importa a filosofia dos AA? Bom mesmo é teorizar, não é para isso que serve psiquiatra? Calligaris menciona ainda que, aconselhado pelo seu grupo, o sujeito passou por uma "internação de um ano". De onde tirou um absurdo desses, só Deus sabe. Internação longa nos AA? Em 20 anos de Alcoólicos Anônimos nunca vi essa picaretagem. Aliás, é cada vez mais comum no país a prática criminosa da internação longa que isola o dependente da família e coloca o médico como intermediário todo-poderoso, sem que ninguém fiscalize.
Adoro ler o Contardo, ele me explica muitas coisas. Mas não me explica tudo. A psicanálise é aleijada da dimensão espiritual, um caminho muito indicado, senão imprescindível, para alguém como eu, que produz pouca endorfina, dopamina e outros opiatos naturais por conta dos anos que passei mamando destilados. Jung já advertia sobre isso a Bill e Bob, os dois sujeitos que fundaram os Alcoólicos Anônimos. Está documentado.
Fico me perguntando a quem Calligaris refere os casos mais graves de dependência. Não gosto nem de pensar na resposta. Em todo caso, uma atividade não interfere na outra, não é mesmo? O colunista é um, o médico é outro. Vamos deixar assim.
E deixar também um convite para que o amigo Contardo venha assistir a qualquer próxima edição que eu for dar da palestra "Do Fundo da Garrafa ao Domínio da Minha Vida", em que conto um pouco sobre meu trágico envolvimento com o álcool e como consegui sair desse inferno. Quem sabe ele não se anima a vir conhecer uma sala dos AA por dentro? Só por hoje. Funciona.
A hora de julgar - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 13/07
Começa em agosto o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. É uma boa notícia, embora cidadãos comuns possam perguntar por que demorou tanto. E muita gente distraída possa acrescentar: o que é mesmo esse tal mensalão?
Talvez seja um caso de memória curta; mas com certeza também estamos diante de mais um exemplo de que a Justiça no Brasil pode ter nível aceitável de eficiência, mas às vezes move-se com uma lentidão, digamos, desagradável. Ela tarda, mas não falha, dizem seus defensores, e costumam ter razão. Mas não haverá uma poção que transforme a tartaruga em lebre? Quando isso obviamente servir ao interesse público?
Seja como for, vale a pena lembrar esse curioso episódio, de sete anos atrás. Começou com uma denúncia de corrupção, feita pelo então presidente do PTB, Roberto Jefferson, para se vingar de um processo, também por corrupção, que atingia petebistas ocupando cargos importantes nos Correios. Ou seja: em vez de defender seus colegas de partido, ele preferiu—talvez porque eles fossem indefensáveis? — mostrar que a ladroagem era generalizada em Brasília.
E Jefferson mostrou mesmo. O país ficou sabendo que deputados federais recebiam uma mesada, proveniente de fundos nunca identificados, paravota-rem a favor de projetos de interesse do governo Lula. Nasceu daí o termo “mensalão”, que agora voltou às manchetes.
Sete anos parecem ser tempo suficiente — ou tempo demais, na opinião de cidadãos dotados de alguma preocupação com a lentidão da Justiça no Brasil — para que o destino dos mensaleiros seja decidido pelo Supremo Tribunal Federal. Mesmo assim, líderes do PT, como o presidente do partido, Rui Falcão, e o presidente da Câmara, Marco Maia, têm sustentado que o julgamento deveria ser adiado para depois das próximas eleições.
Alguns observadores ingênuos podem argumentar que, muito pelo contrário, a decisão da Justiça pode ser bastante esclarecedora, no que se refere à decisão de voto do eleitorado este ano. Também parece válido o argumento de que deixar a decisão do STF para depois das eleições seria dar aos réus que são candidatos uma vantagem que não merecem, caso sejam culpados.
E o julgamento da Justiça certamente pode servir para dar ao eleitor elementos para uma decisão de voto com, digamos assim, suficiente conhecimento de causa. No fim das contas, se os réus são inocentes, como alega o PT, a absolvição seria, com certeza, favorável àqueles que são candidatos.
E uma condenação, com mais certeza ainda, ajudaria os cidadãos a não desperdiçarem seus votos.
Começa em agosto o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. É uma boa notícia, embora cidadãos comuns possam perguntar por que demorou tanto. E muita gente distraída possa acrescentar: o que é mesmo esse tal mensalão?
Talvez seja um caso de memória curta; mas com certeza também estamos diante de mais um exemplo de que a Justiça no Brasil pode ter nível aceitável de eficiência, mas às vezes move-se com uma lentidão, digamos, desagradável. Ela tarda, mas não falha, dizem seus defensores, e costumam ter razão. Mas não haverá uma poção que transforme a tartaruga em lebre? Quando isso obviamente servir ao interesse público?
Seja como for, vale a pena lembrar esse curioso episódio, de sete anos atrás. Começou com uma denúncia de corrupção, feita pelo então presidente do PTB, Roberto Jefferson, para se vingar de um processo, também por corrupção, que atingia petebistas ocupando cargos importantes nos Correios. Ou seja: em vez de defender seus colegas de partido, ele preferiu—talvez porque eles fossem indefensáveis? — mostrar que a ladroagem era generalizada em Brasília.
E Jefferson mostrou mesmo. O país ficou sabendo que deputados federais recebiam uma mesada, proveniente de fundos nunca identificados, paravota-rem a favor de projetos de interesse do governo Lula. Nasceu daí o termo “mensalão”, que agora voltou às manchetes.
Sete anos parecem ser tempo suficiente — ou tempo demais, na opinião de cidadãos dotados de alguma preocupação com a lentidão da Justiça no Brasil — para que o destino dos mensaleiros seja decidido pelo Supremo Tribunal Federal. Mesmo assim, líderes do PT, como o presidente do partido, Rui Falcão, e o presidente da Câmara, Marco Maia, têm sustentado que o julgamento deveria ser adiado para depois das próximas eleições.
Alguns observadores ingênuos podem argumentar que, muito pelo contrário, a decisão da Justiça pode ser bastante esclarecedora, no que se refere à decisão de voto do eleitorado este ano. Também parece válido o argumento de que deixar a decisão do STF para depois das eleições seria dar aos réus que são candidatos uma vantagem que não merecem, caso sejam culpados.
E o julgamento da Justiça certamente pode servir para dar ao eleitor elementos para uma decisão de voto com, digamos assim, suficiente conhecimento de causa. No fim das contas, se os réus são inocentes, como alega o PT, a absolvição seria, com certeza, favorável àqueles que são candidatos.
E uma condenação, com mais certeza ainda, ajudaria os cidadãos a não desperdiçarem seus votos.
FUSO HORÁRIO - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 13/07
A reforma no Consulado da China, na rua Estados Unidos, nos Jardins, está tirando o sono dos vizinhos. A associação do bairro, a AME Jardins, enviou reclamação à Subprefeitura de Pinheiros alegando que o barulho ultrapassa o horário de 22h e que os pedreiros trabalham inclusive aos domingos. "Tentamos contato com o consulado. Não nos atenderam. É uma falta de respeito", diz o presidente da AME, Julio Serson.
MADE IN CHINA
Um funcionário do consulado que pede para não ser identificado informa que o barulho à noite ocorre porque os materiais de construção são importados da China. Como os caminhões saem do porto de Santos, só podem circular na marginal à noite, pós-rodízio. "Conseguimos licença especial da CET para os caminhões circularem à tarde. O barulho vai parar", diz. As obras acabam em janeiro. Até o fechamento da edição, a CET não confirmou a autorização.
BALANÇA
No post "Mamãe, Saí na Folha", o colaborador da Wikipédia Chico Venâncio explicava ontem os critérios de edição do perfil do ministro do STF Gilmar Mendes. Ele tirou da enciclopédia artigo de Carlos Velloso elogiando o ex-colega. Deixou declaração de Dalmo Dallari sobre Mendes no Supremo: "Não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil e o combate à corrução". Mendes questiona os "critérios" junto à Wikipédia.
FALA, PIB
A Casa do Saber vai editar o livro "Grandes Empresários - Estilos de Gestão" a partir de entrevistas realizadas durante curso na instituição. Terá depoimentos de Abílio Diniz, Marcelo Odebrecht e Roger Agnelli, entre outros.
COM AMOR
A TV Senado exibiu anteontem troca de gentilezas entre Marta e Eduardo Suplicy. Ele pediu a fala à ex-mulher, que comandava a sessão. Elogiou o texto que ela fez sobre "Para Roma com Amor", de Woody Allen, na Folha de sábado. Discordou do leitor que acusa Marta de "falar do que não entende".
'PAITROCÍNIO'
Luiza Almeida, 20, da seleção brasileira de hipismo, está em uma das duas capas da revista "Alfa" nas bancas hoje; "não tenho patrocínio, tenho 'paitrocínio'", diz a filha de Manuel Tavares de Almeida Filho, da Velho Barreiro e do Banco Luso-Brasileiro; ela afirma que vai competir com a marca do haras do pai
MUNDO CÃO
Chegou à Câmara projeto de lei que retoma a polêmica sobre a castração e a esterilização obrigatórias de pit bulls. "É provado que é uma raça estranha, não é de confiança. Dentro de alguns anos, vamos extingui-la", diz o autor do texto, o deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP). O governo bancaria as intervenções.
COM QUEM SERÁ
A festinha de três anos de Rafaella Justus, em 5 de agosto, vai ser no Hopi Hari. O parque será fechado para a comemoração da filha caçula do publicitário Roberto Justus. Rafa se esbaldou no aniversário da mãe, Ticiane Pinheiro, festejado no parque de diversões em junho.
Vai ser montado um esquema para transportar os VIPs de SP para Vinhedo.
DÓ-RÉ-MI
O ator Marcelo Serrado teve ontem a primeira aula de piano com o maestro João Carlos Martins. Ele começa a se preparar para encarnar o protagonista do filme de Bruno Barreto sobre a vida do pianista. "Ele sabe tocar piano, mas quer aprender o meu jeito", diz Martins. As filmagens têm início em fevereiro do ano que vem. O longa deve ser lançado em Nova York em setembro de 2013.
Brinde à música
João Bosco foi homenageado no Prêmio da Música Brasileira, que ganhou versão paulistana anteontem, no Teatro Abril. Ele cantou no evento com Mariana Aydar, entre outros. O ator Murilo Rosa foi o mestre de cerimônias da noite. Entre os convidados, a atriz Marisa Orth, a cantora italiana Mafalda Minnozzi e a ceramista Sonia Matarazzo.
CURTO-CIRCUITO
O fotógrafo Hênio de Souza faz vernissage hoje da exposição "Janelas Portuguesas" na galeria de artes da Casa de Portugal, no centro, às 20h.
A festa Talco Bells, com os DJs Guilherme e Filipe Luna, Elohim Barros e Bruno Torturra, acontece hoje no Estúdio Emme, às 23h. Classificação: 18 anos.
Fabio Diniz faz happy hour em homenagem ao Dia Mundial do Rock no Rock'n Cycles Bar & Burger, no Itaim, às 18h.
André Abujamra faz show hoje com o baixista Du Moreira. Na Casa do Núcleo, em Pinheiros, às 21h. Livre.
A festa Glória Brasil estreia no domingo, no clube Glória, na Bela Vista, às 15h. Classificação: 18 anos.
A TV Brasil estreia neste mês série sobre meio ambiente batizada de "Rio+20: Ponto de Partida" pelo ministro Aloizio Mercadante, do conselho curador da EBC. Os programas vão ao ar nos intervalos.
com LÍGIA MESQUITA (interina), ELIANE TRINDADE (colaboração), ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER e OLÍVIA FLORÊNCIA
Dissertação - você tem de fazer uma! E agora? - ALEXANDRE BARROS
O ESTADÃO - 13/07
Escrever uma tese ou dissertação para um curso de pós-graduação é um dos processos mais desgastantes da vida de uma pessoa. Primeiro, orientadores costumam ser vaidosos e autoritários: fazem demandas desnecessárias, trabalhosas e desgastantes para gente que só quer cumprir seus requisitos e seguir com a vida. Segundo, a preocupação com a dissertação permeia todo o curso e todos os orientadores dizem ao candidato que tem de fazer uma dissertação, raramente explicam como chegar lá.
Alguns dizem: "Vá à biblioteca, olhe algumas teses e você verá como é". Orientação tão útil quanto dizer a qualquer um de nós que pergunte a alguém como fazer um computador e receber esta resposta: "Tire a tampa, olhe lá dentro e você saberá como fazer um computador". É claro que tais respostas não levam a nada. Ver um produto pronto não nos diz como aquele monte de metal ou de plástico virou um automóvel ou como uns pozinhos químicos misturados e comprimidos viram remédios que curam desde uma dor de cabeça até uma complexa hepatite C.
Depois de ver o sofrimento de inúmeros estudantes com esses processos e tentar ensinar-lhes o pulo do gato, descobri que o alcance que eu podia ter era muito limitado. Durante a vida posso ter influenciado algumas centenas de estudantes, mas não acredito ter chegado ao primeiro milhar.
Conversei com alunos de várias universidades do mundo e lhes perguntei: "Alguém ensinou a vocês como fazer uma dissertação?" Resposta unânime: "Não, disseram-nos que nós tínhamos de fazer uma, mas nunca ninguém nos explicou como chegar lá".
Há algum tempo eu só conhecia o YouTube (que tem só 7 anos de idade) de referências, ou de receber links para gatos que tocavam piano ou violino, ou bebês fazendo acrobacias que rivalizam com Carlitos. Um dia me perguntei: por que não? Se escrever um livro gastarei muito tempo e, com muito sucesso, venderei 5 mil exemplares, mas só com muita sorte. O impacto que o livro poderá ter será minúsculo. Que tal testar o YouTube? Gravei um vídeo simples, há pouco mais de dois anos. Será que isso compete com gatos que tocam piano? Claro que não. Agora completou 20 mil exibições. Nada comparado a bebês acrobatas, mas, certamente, muito mais do que um livro. Benefícios adicionais: é grátis, todos podem ver, é infinitamente repetível. Não gasta papel nem tinta.
Recebi muitas mensagens, a maioria de estudantes agradecidos porque o vídeo lhes tirou um grande peso das costas. Nem todos gostaram. Uma moça me disse que punha o vídeo para adormecer seu bebê, de tão chato que era. Serendipity: feito para facilitar a vida de quem tinha de escrever uma dissertação, servia também para adormecer bebês! Como tudo o que se diz, escreve ou publica, cada um lê, ouve ou usa como bem lhe parece.
Após um ano, resolvi fazer um segundo. O primeiro era sobre como se relacionar com o orientador. O segundo, sobre como organizar ideias e material, enfatizando principalmente que quem ia escrever a dissertação tinha ideias e elas eram boas, o que raros orientadores dizem a seus estudantes. O propósito era duplo: ensinava e dava uma injeção de otimismo e segurança psicológica.
Também dei aulas sobre o método. Durante uma aula, um estudante me disse: "Professor, do jeito que o senhor ensina fica tão fácil que parece até conto do vigário". Respondi: "É fácil mesmo. Os orientadores complicam para resolver problemas psicológicos deles, pouco importando o dano que isso possa causar aos alunos".
Testei outra ideia: muitas cabeças pensam melhor e mais criativamente que poucas. O método era baseado em livre associação de ideias. Um aluno questionou: "Professor, o senhor acha que funcionaria se cada um de nós, perante a turma, dissesse sobre o que pretende fazer a sua dissertação e ouvisse as ideias dos colegas?" Ponderei que nunca tinha tentado, mas não custaria experimentar. Foi um sucesso. Cada um chegava lá, dizia seu tema e os colegas eram convidados a escrever em diversos papéis soltos os vários aspectos que abordariam se tivessem de fazer uma dissertação sobre aquele tema. Cada aluno saiu com uma pilha de ideias fornecidas pelos colegas e o trabalho dali para a frente era pôr todas aquelas ideias em ordem, usar as importantes e descartar as supérfluas.
Todos os estudantes fizeram isso e a produtividade aumentou muito. Princípio básico do capitalismo: se cada um contribuir um pouco, o produto final pode ser melhor e maior.
Tecnologias modernas podem ser um complemento para tecnologias antigas. Testar inovação, sobretudo se o preço for barato ou tender a zero, como é o custo de fazer e colocar um vídeo no YouTube, vale. Esta é a beleza do mercado: milhares de pessoas tomarão decisões independentemente de procurar, achar, decidir se vão ou não ver um vídeo, gostar ou não gostar, aproveitar ou não. Cada uma verá com os seus olhos, através de suas lentes, e fará o uso que bem entender.
Guttenberg não estava fazendo uma revolução quando inventou a imprensa, apenas produzindo um modo diferente de disseminar ideias. Outros usaram como bem entenderam e a imprensa trouxe progresso. James Watt também não estava fazendo uma revolução quando descobriu que o vapor podia ser usado para tocar máquinas. O mercado adaptou, para melhor. Depois chamou aquilo de Revolução Industrial, um nome mais elegante para um conjunto de técnicas que tornaram a vida das pessoas melhor.
Não tenho essa ambição, apenas fico feliz por saber que alguns estudantes estarão sofrendo menos porque decidi testar uma tecnologia nova para um propósito que me pareceu razoável. Se deu certo, tanto melhor, reforça o meu sentimento de ser um otimista a respeito do futuro da humanidade.
Rodízio! O Porco é campeão! - JOSÉ SIMÃO
Rodízio! O Porco é campeão! - José Simão
FOLHA DE SP - 13/07
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Corinthians Libertadores e Palmeiras Campeão. Onde é que aperta o botão do fim do mundo? Uma onda vai invadir tudo. Rarará! Parmera Campeão. Depois de dois séculos! Fogos com cheiro de mofo. São Paulo tá com cheiro de mofo até agora! Haja Porcoração! O Coritiba é Coxa e o Palmeiras é porco! Coxa, porco. É rodízio de carne ou futebol? Chupa, Coxa! Chupa, Porco! Chupacabra! E Chupa Demóstenes! Como disse um cara no meu Twitter: "Coxa hoje só da Gabriela mesmo". Rarará! E sabe o que uma palmeirense me disse? "Não estamos soltando muitos fogos aqui no Morumbi. Respeitamos o sono dos bambis." Rarará! E o Debóchenes! Diz que vai voltar em 2027. E vai dar de cara com o Sarney. Sentado na mesma cadeira. Firme e fortão! O Sarney é cenário do Senado!
E essa bomba: "Ex-marido da mulher do Cachoeira deve assumir vaga no Senado". Isso que se chama EFEITO CASCATA! Vai dar merda! Tudo que é ex dá problema: ex-mulher, ex-amante! E o cara é secretário de Infraestrutura de Goiás e dono de uma construtora. Pode, Arnaldo? Pode! Ele se contrata. Ele passa e-mail pra ele mesmo! Rarará! E adorei o torpedo que a afilhada mandou pelo celular pro careca Demóstenes: "Força na Peruca! A família unida com o senhor. Bjos". O quê? Força na peruca? Até a afilhada debochou? Que gente é essa? Além de ser cassado, levou uma zoada da afilhada! Não foi um bom dia mesmo. Então por isso que cassaram ele, foi sem peruca. Esqueceu a peruca em casa! Rarará! E a votação secreta: 59 senadores votaram "sim". Mas todos os senadores resolveram divulgar o voto no Twitter. Aí um amigo meu contou os votos divulgados e deu 70 votos "sim". Rarará! O cara votou não no Congresso e sim no Twitter! Rarará! Sobrou pro São Paulo! Sobrou pros Bambis! Corinthians Libertadores. Palmeiras campeão brasileiro. Santos campeão paulista! E o São Paulo? Terra da Garoa. Rarará! E o São Paulo? A maior cidade da América Latina. E o São Paulo? Vai ter show da Lady Gaga no Morumbi em novembro! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E essa bomba: "Ex-marido da mulher do Cachoeira deve assumir vaga no Senado". Isso que se chama EFEITO CASCATA! Vai dar merda! Tudo que é ex dá problema: ex-mulher, ex-amante! E o cara é secretário de Infraestrutura de Goiás e dono de uma construtora. Pode, Arnaldo? Pode! Ele se contrata. Ele passa e-mail pra ele mesmo! Rarará! E adorei o torpedo que a afilhada mandou pelo celular pro careca Demóstenes: "Força na Peruca! A família unida com o senhor. Bjos". O quê? Força na peruca? Até a afilhada debochou? Que gente é essa? Além de ser cassado, levou uma zoada da afilhada! Não foi um bom dia mesmo. Então por isso que cassaram ele, foi sem peruca. Esqueceu a peruca em casa! Rarará! E a votação secreta: 59 senadores votaram "sim". Mas todos os senadores resolveram divulgar o voto no Twitter. Aí um amigo meu contou os votos divulgados e deu 70 votos "sim". Rarará! O cara votou não no Congresso e sim no Twitter! Rarará! Sobrou pro São Paulo! Sobrou pros Bambis! Corinthians Libertadores. Palmeiras campeão brasileiro. Santos campeão paulista! E o São Paulo? Terra da Garoa. Rarará! E o São Paulo? A maior cidade da América Latina. E o São Paulo? Vai ter show da Lady Gaga no Morumbi em novembro! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 13/07
Grupo de Campinas investe em centro de convenções
Com aporte de R$ 120 milhões, o grupo Royal Palm construirá um centro de convenções em Campinas ao lado de seu resort.
O empreendimento terá 38 mil metros quadrados de área construída e capacidade para receber até 6.000 pessoas para shows ou 3.500 para refeições corporativas.
"Pelo porte, o centro deverá sediar eventos de todo o país", diz o diretor-executivo, Antonio Dias.
O projeto prevê também dois novos hotéis no mesmo local. Um econômico, para oferecer hospedagem às pessoas que participarem da organização dos congressos que acontecerem no local, e outro quatro estrelas.
A empresa irá administrar os dois hotéis. O aporte, porém, ficará por conta de uma incorporadora de capital aberto.
A previsão é que a Comissão de Valores Mobiliários seja comunicada do empreendimento no começo do próximo ano.
A incorporadora também será responsável pela construção de duas torres comerciais com 400 salas e de um centro de compras e serviços com 30 lojas. Nele, serão instalados restaurantes e lanchonetes para atender o público dos eventos.
O projeto vem sendo desenvolvido há um ano e meio e a expectativa do grupo é começar as obras em 2013. O início da operação está previsto para o segundo semestre de 2015.
CAMINHÕES E ÔNIBUS
5% é a queda projetada para a venda total de veículos pesados em 2012
6% é a retração estimada em caminhões
1,8% é a alta no segmento de ônibus
0,6% é a retração esperada para ônibus em 2013
12,0% é o aumento esperado em caminhões em 2013
CONSTRUÇÃO PAULISTANA
A incorporadora You,inc lançará entre cinco e sete empreendimentos em São Paulo até o final deste ano.
O número exato de lançamentos depende da prefeitura, que ainda não aprovou todos projetos.
"É um problema para o mercado como um todo. A prefeitura parou para arrumar a casa e está atrasando a aprovação de novos empreendimentos", diz o presidente da companhia, Abrão Muszkat, sobre as denúncias de irregularidades para emissão de alvarás.
O investimento nos sete projetos, cinco residenciais e dois comerciais, será de cerca de R$ 150 milhões, entre terrenos e financiamentos.
O investimento será feito em conjunto com o fundo americano Paladin Realty Partners, que comprou parte da incorporadora.
"Apesar da concorrência na cidade, ainda há boas oportunidades em bairros periféricos, como Pirituba, Santana e Vila Prudente."
Os principais concorrentes da You,inc no segmento são Gafisa, Helbor e Esser.
R$ 150 milhões serão investidos pela companhia até o final deste ano
7 é o número de projetos que a incorporadora pretende lançar até o final deste ano
R$ 450 milhões será o VGV dos sete empreendimentos
Medidas para veículos não devem reverter queda em pesados
O segmento de ônibus pode esperar queda de 0,6% nas vendas em 2013, segundo a consultoria Tendências.
O recuo representa uma ressaca ante 2012, ano em que as eleições municipais tendem a impulsionar vendas.
O alívio deve vir no longo prazo, com alta na demanda por ônibus devido à expansão da rede de transporte público e à necessidade de locomoção de grandes fluxos gerada pela Copa.
As recentes medidas de incentivo do governo para o segmento de pesados "não devem ser suficientes para reverter o fraco desempenho das vendas e da produção no ano", estima a consultoria.
"Projetamos para a venda total de veículos pesados queda de 5% em 2012, com retração de 6% em caminhões e alta de 1,8% em ônibus", diz Stefania Grezzana, economista.
Inglês e espanhol A rede de curso de idiomas YES! irá inaugurar seis escolas em São Paulo até o final de agosto. Localizadas nos bairros de Guarapiranga, Ipiranga, Itaquera, Sacomã, Tatuapé e Vila Mariana, elas receberam, juntas, cerca de R$ 10 milhões em investimentos.
Controle A Previsul Seguradora recebeu nesta semana autorização da Superintendência de Seguros Privados para finalizar a transferência de seu controle acionário para a Consulfac.
Urna A Sector, empresa de informática, acaba de lançar um sistema eletrônico de apuração de dados. A ferramenta contabiliza o resultado em cerca de uma hora, segundo a empresa.
Crédito... O Citi Brasil firmou parceria com a Associação Médica Brasileira para a criação de uma série de benefícios aos profissionais do setor.
...medicinal Entre os benefícios há uma linha de financiamento de até R$ 750 mil para reforma de consultórios e compra de equipamentos.
Aposentado O número de empresas brasileiras que praticam extensão do plano de saúde a aposentados cresceu cinco pontos percentuais em 2011, segundo estudo da Towers Watson. A parcela subiu para 42% ante o ano anterior.
Números
64% dos entrevistados ouviram falar das mudanças na poupança, mas não sabem detalhes
17% responderam que as alterações serão mais prejudiciais do que benéficas para a população
13% das pessoas que investem em poupança não conhecem outro tipo de aplicação
20% dos entrevistados dizem investir parte de seu dinheiro na poupança
MUDANÇAS NA POUPANÇA
Mais da metade dos brasileiros (53%) não se informou sobre as mudanças nas regras de remuneração da poupança, de acordo com levantamento da Fiesp.
Para 25% dos entrevistados, as alterações anunciadas pelo governo federal no início de maio causam insegurança na população.
Três em cada dez pessoas responderam que as mudanças na caderneta de poupança não devem contribuir para baixar a taxa de juros.
A pesquisa ouviu mil pessoas entre 19 e 31 de maio.
Transferência... Quatro diretores da estatal francesa LFB estão no Brasil nesta semana para tratar de assuntos ligados à construção de sua primeira fábrica no país de produtos farmacêuticos feitos a partir de sangue.
...de tecnologia O acordo, de cerca de 160 milhões de euros, também prevê treinamento e cooperação técnica da companhia com a filial brasileira e com a Hemobrás.
PUNIÇÃO na saúde
As recentes punições da ANS a 268 planos de saúde podem estimular consolidação no setor, com benefício para as grandes empresas, segundo analistas.
Por outro lado, ainda que as questões sejam resolvidas no curto prazo, a medida pode representar alta no preço dos planos para garantir a melhoria dos serviços.
Segundo a decisão da ANS, a partir de hoje, as 37 operadoras responsáveis não poderão mais vender os planos punidos por demora para agendamento de consulta, sob pena de multa de R$ 250 mil.
Em três meses, a agência voltará a avaliar.
Os planos de saúde que foram suspensos atendem a cerca de 3,5 milhões de pessoas, o que representa 7% dos brasileiros beneficiários.
PERFUME DE JACARANDÁ
Com o crescimento do papel do mercado brasileiro nos negócios da empresa, a Dior vai lançar no Brasil um perfume que homenageia Paraty. O produto, que deve chegar ao país em setembro, faz parte de uma linha inspirada em escalas, que já passou por destinos no Mediterrânio e na Polinésia.
Para atender o consumo no Brasil, mercado que, segundo o executivo Alexandre Nakano, "está na moda" e é considerado tradicional para a marca, foram usadas notas de jacarandá.
Os sem-voto - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 13/07
O caso do suplente do ex-senador Demóstenes Torres, que já chega ao Senado tendo que explicar seu relacionamento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e a ocultação de empresas em sua declaração de bens ao TSE, traz novamente à discussão um dos graves problemas da política brasileira.
Em qualquer reforma política que se faça, a definição do suplente de senador tem lugar destacado, pois, de um tempo para cá, ficou cada vez mais comum os suplentes assumirem o cargo, tendo havido ocasião, na legislatura anterior, em que nada menos que 1/3 das 81 vagas foi ocupado no mesmo momento por suplentes que não receberam um único voto dos eleitores.
Neste momento, com a chegada do empresário goiano Wilder de Morais, do DEM, a bancada atual do Senado contará com nada menos que 16 suplentes no exercício do mandato.
Cinco substituem senadores que viraram ministros de Dilma (como Edison Lobão, Gleisi Hoffmann, Garibaldi Alves, Crivella) e secretário estadual, caso de João Alberto, no Maranhão.
Outros sete em substituição aos que renunciaram, como Joaquim Roriz, para não ser cassado; e os outros seis para assumir governos estaduais e TCE, no caso de Marisa Serrano, no Mato Grosso do Sul.
Dois substituem senadores que morreram: Itamar Franco e Eliseu Resende, e outros dois, os que perderam mandato: Expedito Júnior (cassado pela Justiça Eleitoral em 2007) e Demóstenes Torres ontem.
Nos próximos dias, Valdir Raupp, presidente do PMDB, vai se afastar por quatro meses para cuidar da campanha, e aí teremos 17 senadores sem voto no exercício da senatoria.
Há casos de todos os tipos. Desde empresários que financiam as campanhas em troca de alguns momentos de glória até os que colocam parentes na suplência.
Bom exemplo de empresário que vira político sem receber um voto é Wellington Salgado, que reapareceu para o grande público justamente na cassação de Demóstenes Torres. Usando a prerrogativa de ter sido senador, circulava nos bastidores do Senado pedindo votos contra a cassação.
Ele faz parte da família que é proprietária da rede de ensino superior Universo (Universidade Salgado de Oliveira), que começou em São Gonçalo, no Estado do Rio, e hoje está instalada em 11 cidades do país e financiou a campanha de Hélio Costa, exercendo o mandato enquanto Costa era ministro das Comunicações no governo Lula.
Na parte familiar, o líder do governo no Senado, Eduardo Braga, tem como primeira suplente sua mulher, Sandra Backsmann Braga. Na atual legislatura, Edison Lobão Filho, do PMDB do Maranhão, está senador, enquanto o pai, Edison Lobão, está ministro de Minas e Energia, e Ivo Cassol, do PR de Rondônia, tem o pai, Reditário Cassol, de suplente.
Há também diversos exemplos de acordos políticos, sendo o mais polêmico o que envolveu o ex-senador Saturnino Braga e o ex- ministro do Trabalho Carlos Lupi.
Os dois combinaram dividir o mandato, mas Saturnino, tendo saído do PDT, decidiu continuar seu mandato pelo PT, sentindo-se liberado do acordo.
Outra questão mal resolvida na prática política brasileira é a da declaração de bens dos candidatos. A maioria prefere parecer aos olhos do eleitorado como pessoa sem grandes posses, e os gastos de campanha também são escamoteados, enquanto nos Estados Unidos o peso do dinheiro é tão grande na campanha eleitoral que uma das maneiras de revelar a força de uma candidatura é anunciar quanto arrecadou em doações.
Paradoxalmente, candidatos endinheirados podem ser afastados da disputa por falta de votos, como aconteceu em 2008, do lado democrata, com o advogado John Edwards, e, do lado republicano, com o ex-governador Mitt Romney, que colocou nada menos do que US$ 35 milhões do próprio bolso na campanha frustrada.
Hoje, Romney é o candidato republicano à sucessão de Obama e está conseguindo uma arrecadação de campanha maior do que a do presidente no cargo, o que é um dos indicadores da força de sua candidatura junto ao eleitorado republicano.
No Rio, temos o caso emblemático do ex-prefeito Cesar Maia, que se apresentou como candidato a vereador declarando não ter qualquer bem. A explicação oficial é que distribuiu seus bens entre a família ao fazer 65 anos.
O suplente de Demóstenes é um dos empresários mais ricos de Goiás e foi o segundo maior doador da sua campanha em 2010, mas omitiu boa parte de seus bens na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Foi colocado na chapa por interferência do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que também o colocou na Secretaria de Infraestrutura do governador de Goiás, Marconi Perillo, fatos hoje comprovados devido à gravação de uma conversa telefônica entre os dois feita pela Polícia Federal, em que o empresário Wilder Morais agradece a Cachoeira tê-lo colocado na política.
A conversa tem como pano de fundo um desentendimento entre os dois devido ao envolvimento da então mulher do empresário, Andressa, com o bicheiro. Os dois hoje estão juntos, e Wilder virou senador.
Um dos pontos de maior apelo popular nas propostas de reforma política é a definição de suplente de senador, devido ao verdadeiro escândalo que foi, na última legislatura, quase 1/3 do Senado ter sido ocupado por suplentes sem votos.
O suplente substitui o titular em caso de afastamento temporário para ocupar outro cargo ou de licença superior a 120 dias, e sucede a ele nos casos em que se afasta definitivamente.
Há propostas que estabelecem que o suplente substitui o titular, mas não sucede a ele, ou seja, só assumiria o cargo em caso de afastamento temporário do titular, não assumindo na ocorrência de afastamento definitivo.
Nesse caso, haveria novas eleições, exceto faltando menos de 60 dias para a eleição regular, quando o suplente assumiria a cadeira até o fim do mandato.
Há também proposta que estabelece que o suplente de senador será o deputado federal mais votado do mesmo partido, e outra ainda que determina que o candidato a senador derrotado com maior votação será o suplente.
Mas o assunto voltou para as gavetas da burocracia do Congresso, e não há previsão de ser retomado.
Uma coisa de cada vez - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 13/07
Antes de pavimentar a reedição da aliança ao Planalto em 2014, o chamado feito por Dilma Rousseff a Michel Temer anteontem teve como objetivo sinalizar à base governista o aval do Planalto ao compromisso de instalar um peemedebista na presidência da Câmara em 2013 -pleito prioritário da sigla aliada, ameaçado pelo apetite do bloco PSB-PSD. Para reafirmar o acordo, PT e PMDB farão ato público em agosto no qual se comprometerão a apoiar Henrique Alves (RN) ao posto.
Vacina Ao dar publicidade ao pacto, os dois maiores partidos da base tentam evitar que as disputas municipal e interna tomem conta da pauta após o recesso em plena crise econômica.
O piloto... Em novo round com o ministro Alexandre Padilha, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), garantiu à oposição que as emendas dos partidos na Saúde seriam empenhadas antes do recesso. Os pedidos foram brecados pela pasta, e a oposição obstruiu os trabalhos.
... sumiu A presidente Dilma Rousseff, que despachou ontem no Palácio do Alvorada, chamou Ideli Salvatti (Relações Institucionais) para discutir a situação de Chinaglia. Nas palavras de um interlocutor, o petista, que viajou para o exterior em plena crise, adotou "tática suicida'' e está na berlinda.
Sansão De um senador, sobre mensagem da afilhada de Demóstenes Torres recomendando "força na peruca" ao goiano, careca: "Quem sabe ele não adota um adereço comprido, como seu advogado, e volta à tribuna com a desenvoltura do Kakay?".
Paz e amor José Luis Oliveira Lima, advogado de Paulo Souza, o Paulo Preto, nega que mensagens mandadas por ele a políticos e empresários fossem de ameaça. Diz que o ex-diretor da Dersa vai explicar no depoimento à CPI do Cachoeira suas ações na autarquia paulista.
Realpolitik Nas conversas que mantém com o núcleo político de seu secretariado, Geraldo Alckmin tem cobrado dedicação absoluta às ações de governo, pelas quais será cobrado em 2014. O tucano diz que a atenção à campanha municipal é, por ora, questão secundária.
Disque-voto Ex-comandante da PM, Álvaro Camilo (PSD) será candidato a vereador em São Paulo com o número 55190, em alusão ao telefone usado para registrar ocorrências policiais. O tucano Paulo Telhada, que chefiou a Rota até o ano passado, não ficou atrás: será 45190.
Panorâmica De helicóptero, Haddad fez longo sobrevoo a São Paulo no início da semana. Confrontou alguns pontos do seu programa de governo com a disposição da mancha urbana da capital.
Rosa dos ventos O conselho político de Gabriel Chalita (PMDB) foi instalado ontem, com palestra da geógrafa Maria Adélia Aparecida de Souza. Ela explicou como pretende usar seu estudo "A Metrópole Invisível" no plano de governo do candidato.
Empurrão O encontro inaugural, que reuniu a cúpula peemedebista, Paulo Skaf e aliados do PSC, PTC e PSL, visava dar musculatura política à campanha de Chalita, que terá subexposição até a propaganda na TV.
Visita à Folha Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Marcus Vinícius Freire, superintendente-executivo de Esportes, Cláudio Motta, gerente de comunicação, Cezar Roberto Granieri, representante do COB em São Paulo, e Carina Almeida, assessora de comunicação.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Já fomos às ruas contra a ditadura, pelas Diretas e pelo impeachment de Collor, causas mais nobres que a defesa de mensaleiros."
DO DEPUTADO MARCUS PESTANA (PSDB-MG), sobre o presidente da CUT, Vagner Freitas, que defende mobilização pela absolvição dos réus do mensalão.
contraponto
Fórmula do sucesso
O ministro Alexandre Padilha (Saúde), torcedor fanático do Corinthians, foi convidado por um grupo de amigos para assistir ao jogo final da Libertadores contra o Boca Juniors, no Pacaembu, mas recusou:
-Obrigado, mas eu vou ver a partida no hotel mesmo.
Ele acompanhou todos os jogos do seu clube no mesmo sofá, com a mesma camisa, comendo pizza.
Um grupo de santistas apareceu no hotel bem na hora da decisão, mas Padilha, supersticioso, nem sequer atendeu o telefone.
-Graças a isso o Timão foi campeão! -, sentencia.
''É doce morrer no mar'' - MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE
O ESTADÃO - 13/07
Escarpas rochosas, entrecortadas e pontiagudas. Escarpas que se elevam do mar, seu relevo marcado por penhascos íngremes e ameaçadores. Ribanceiras dramáticas, despenhadeiros alcantilados. Há muitas formas de descrever essas formações geológicas, talhadas pela erosão, de aspecto áspero e sedutor. As escarpas estão na moda. Nos EUA, por exemplo, não se fala de outra coisa. O "penhasco fiscal" é a imagem usada para descrever os ajustes que estão programados para 2013 e que incluem cortes vultosos de gastos sociais e militares, além da extinção de benefícios. Um dos mais importantes e que tem ajudado a tépida "recuperação" americana é a redução de impostos da era Bush, que Obama quer prorrogar para sustentar a renda da classe média. O presidente não quer fazer o mesmo pelos ricos. Ao contrário, quer seguir a linha de François Hollande, que propôs, recentemente, a instituição de um tributo sobre as grandes fortunas para sustentar as combalidas contas públicas. Este pleito de Obama promete ser uma das principais frentes de batalha com os Republicanos ao longo da campanha eleitoral.
Mas as ribanceiras fiscais e os despenhadeiros que ameaçam o crescimento não são um privilégio das encostas americanas. Os países que margeiam o Mar Mediterrâneo têm lá a sua paisagem de falésias rochosas, quiçá fonte de inspiração para os seus infindáveis pacotes de austeridade. A cidade de Ronda, no sul da Espanha, tem um dos mais incríveis e belos precipícios, de quase 750 metros de profundidade, que divide o gracioso vilarejo em duas partes. A belíssima Costa Amalfitana, na Itália, é marcada por altíssimas escarpas que mergulham repentinamente no verde azulado do Mediterrâneo.
Tanto a Itália quanto a Espanha acabam de anunciar mais uma rodada de ajustes para tentar reconquistar a confiança dos investidores, que, entre idas e vindas, têm mantido os rendimentos dos títulos dos dois países em níveis que dificultam sobremaneira o financiamento dos governos. A mais recente promessa fiscal do primeiro-ministro Mariano Rajoy, da Espanha, teve contornos dramáticos. Embora os líderes europeus tenham recentemente concordado em conceder ao país mais tempo para alcançar suas metas - originalmente, a Espanha deveria reduzir o déficit de 2012 para 5,3% do PIB, após alcançar quase 9% no ano passado, além de convergir para 3% até o fim de 2013 -, as autoridades acabam de anunciar um pacote de ajustes que soma € 65 bilhões nos próximos dois anos. Esse é o quarto pacote em apenas sete meses de governo de Rajoy. Pior. Ao desvendá-lo, o primeiro-ministro teve de renunciar a uma de suas mais caras promessas de campanha, a de que não aumentaria os impostos, ao contrário do que fizeram seus adversários socialistas, os supostos "culpados" pela crise que assola o país. Cambaleante, Rajoy caminha na beira do precipício político. Sobretudo ao "assegurar" um socorro aos bancos do país, com os recursos dos fundos de resgate europeus, que envolverá perdas consideráveis aos acionistas e credores destas instituições. Como em alguns casos os acionistas e credores são os governos locais, as perdas recairão, de uma forma ou de outra, sobre o contribuinte.
Na Itália, a situação é um pouco melhor. Mas não muito. O primeiro-ministro Mario Monti, que periclitava no alto de uma falésia amalfitana, foi ligeiramente afastado do perigo devido ao seu suposto ato de bravura durante a última reunião de cúpula europeia, aquela em que enfrentou a chanceler Angela Merkel para que ela concordasse com o uso dos recursos dos fundos de resgate europeus, ainda que estes não disponham de um montante suficiente para auxiliar a Itália e a Espanha simultaneamente. Contudo, a economia está em recessão, o desemprego não dá trégua e mais um pacote de ajuste acaba de ser anunciado. Sem alternativa, Itália e Espanha caminham para a ribanceira. Talvez sejam capazes de driblar a morte. Talvez tenham de se contentar com os belos versos de Dorival Caymmi, perecendo docemente nas ondas verdes do Mediterrâneo.
Escarpas rochosas, entrecortadas e pontiagudas. Escarpas que se elevam do mar, seu relevo marcado por penhascos íngremes e ameaçadores. Ribanceiras dramáticas, despenhadeiros alcantilados. Há muitas formas de descrever essas formações geológicas, talhadas pela erosão, de aspecto áspero e sedutor. As escarpas estão na moda. Nos EUA, por exemplo, não se fala de outra coisa. O "penhasco fiscal" é a imagem usada para descrever os ajustes que estão programados para 2013 e que incluem cortes vultosos de gastos sociais e militares, além da extinção de benefícios. Um dos mais importantes e que tem ajudado a tépida "recuperação" americana é a redução de impostos da era Bush, que Obama quer prorrogar para sustentar a renda da classe média. O presidente não quer fazer o mesmo pelos ricos. Ao contrário, quer seguir a linha de François Hollande, que propôs, recentemente, a instituição de um tributo sobre as grandes fortunas para sustentar as combalidas contas públicas. Este pleito de Obama promete ser uma das principais frentes de batalha com os Republicanos ao longo da campanha eleitoral.
Mas as ribanceiras fiscais e os despenhadeiros que ameaçam o crescimento não são um privilégio das encostas americanas. Os países que margeiam o Mar Mediterrâneo têm lá a sua paisagem de falésias rochosas, quiçá fonte de inspiração para os seus infindáveis pacotes de austeridade. A cidade de Ronda, no sul da Espanha, tem um dos mais incríveis e belos precipícios, de quase 750 metros de profundidade, que divide o gracioso vilarejo em duas partes. A belíssima Costa Amalfitana, na Itália, é marcada por altíssimas escarpas que mergulham repentinamente no verde azulado do Mediterrâneo.
Tanto a Itália quanto a Espanha acabam de anunciar mais uma rodada de ajustes para tentar reconquistar a confiança dos investidores, que, entre idas e vindas, têm mantido os rendimentos dos títulos dos dois países em níveis que dificultam sobremaneira o financiamento dos governos. A mais recente promessa fiscal do primeiro-ministro Mariano Rajoy, da Espanha, teve contornos dramáticos. Embora os líderes europeus tenham recentemente concordado em conceder ao país mais tempo para alcançar suas metas - originalmente, a Espanha deveria reduzir o déficit de 2012 para 5,3% do PIB, após alcançar quase 9% no ano passado, além de convergir para 3% até o fim de 2013 -, as autoridades acabam de anunciar um pacote de ajustes que soma € 65 bilhões nos próximos dois anos. Esse é o quarto pacote em apenas sete meses de governo de Rajoy. Pior. Ao desvendá-lo, o primeiro-ministro teve de renunciar a uma de suas mais caras promessas de campanha, a de que não aumentaria os impostos, ao contrário do que fizeram seus adversários socialistas, os supostos "culpados" pela crise que assola o país. Cambaleante, Rajoy caminha na beira do precipício político. Sobretudo ao "assegurar" um socorro aos bancos do país, com os recursos dos fundos de resgate europeus, que envolverá perdas consideráveis aos acionistas e credores destas instituições. Como em alguns casos os acionistas e credores são os governos locais, as perdas recairão, de uma forma ou de outra, sobre o contribuinte.
Na Itália, a situação é um pouco melhor. Mas não muito. O primeiro-ministro Mario Monti, que periclitava no alto de uma falésia amalfitana, foi ligeiramente afastado do perigo devido ao seu suposto ato de bravura durante a última reunião de cúpula europeia, aquela em que enfrentou a chanceler Angela Merkel para que ela concordasse com o uso dos recursos dos fundos de resgate europeus, ainda que estes não disponham de um montante suficiente para auxiliar a Itália e a Espanha simultaneamente. Contudo, a economia está em recessão, o desemprego não dá trégua e mais um pacote de ajuste acaba de ser anunciado. Sem alternativa, Itália e Espanha caminham para a ribanceira. Talvez sejam capazes de driblar a morte. Talvez tenham de se contentar com os belos versos de Dorival Caymmi, perecendo docemente nas ondas verdes do Mediterrâneo.
O pior já passou, acredita o governo - CLAUDIA SAFATLE
Valor Econômico - 13/07
Apesar de não ser generalizada a esperança de um reaquecimento da atividade econômica no último trimestre do ano - o Banco Central e as pesquisas de mercado comungam da expectativa de expansão do PIB de 4,1% sobre igual período de 2011 - acredita-se, no governo, que o pior para a atividade econômica já passou. Inclusive para a indústria, que teria tido uma melhora puxada pelo aumento de 26% das vendas de automóveis em junho sobre maio e que prosseguem em crescimento, ainda que menor, em julho. A redução dos estoques não teve impacto, ainda, na produção. Espera-se que venha a ter.
Divulgado ontem pelo Banco Central, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) foi um pequeno alento para estancar a onda de pessimismo no país. Ele apurou que o nível de atividade teve recuo de apenas 0,02% em maio na comparação com o mês anterior, nos dados dessazonalizados. O índice veio melhor do que os dados da indústria (-0,9%) e do varejo (-0,8%) e, se estiver correto, indicaria que a economia reagiu e pode ter crescido, no segundo trimestre, cerca de 0,5%. Uma performance bem melhor do que os 0,2% do primeiro trimestre. Seria possível dizer, nesse caso, que não está de todo descartada a possibilidade de o PIB ficar em 2% este ano.
O quadro doméstico ainda é incerto e comporta prognósticos mais otimistas ou mais pessimistas. O externo continua sujeito a riscos imensos. E é nesse ambiente que o Comitê de Política Monetária (Copom) continua cortando a taxa básica de juros, a Selic.
Compras do governo devem ajudar o PIB em 0,2 ponto percentual
Não se confirmou, na quarta-feira, a expectativa de agentes do mercado de que haveria um sinal no comunicado do comitê - que baixou a Selic para 8% ao ano - indicando que o fim do ciclo de redução dos juros estaria próximo. O Copom optou por reproduzir integralmente o comunicado anterior. Aguarda-se, agora, o que será dito na ata.
Embora não esteja nítida a recuperação da economia, o governo coleciona uma série de medidas e indícios de que o segundo trimestre não foi ruim como se imagina, o terceiro será melhor do que o segundo e no quatro trimestre a atividade estará num ritmo mais condizente com o PIB potencial. A agricultura, que contribuiu negativamente no primeiro trimestre, reagiu bem e a safrinha que começa a ser colhida vai irrigar a renda do campo.
Há, também, todo o elenco de estímulos monetários e fiscais já concedidos e alguns elementos que podem dar sustentação à demanda doméstica, como o mercado de trabalho - a taxa de desemprego ainda é baixa, a despeito de alguns focos de desemprego, e a massa salarial continua em expansão - e o crédito, que cresce, embora de forma mais moderada.
A queda da inflação eleva o ganho real dos salários e nos próximos meses deverá ocorrer uma limpeza nos balanços das famílias, com redução do endividamento. Associado à diminuição da inadimplência, isso abriria espaço para novas contratações de crédito.
Apesar do corte da Selic ter começado em agosto de 2011, até maio deste ano os juros para o tomador final não tinham se alterado. De maio para junho, com a pressão do governo para redução dos spreads bancários, a taxa para o crédito às pessoas físicas caiu 7 pontos percentuais.
Com isso, está ocorrendo uma migração das dívidas mais caras, de cartão de crédito e cheque especial, para outras mais em conta. Um corte de 7 pontos percentuais numa dívida com prazo de um ano e meio reduz em cerca de 10% o valor das prestações em uma massa de crédito para pessoas físicas equivalente a 35% do PIB, calcula uma fonte do setor privado.
No próximo mês entram em vigor, se aprovada a medida provisória que está no Congresso, as desonerações da folha de pagamento de uma série de setores. A MP vence dia 1º de agosto e a oposição ameaça não votá-la, mas o governo tem suas armas.
A depreciação do câmbio real demora uns seis meses para animar a produção, até que vençam os contratos de exportação feitos com a taxa anterior.
As compras governamentais com margem de preferência para a indústria local devem movimentar a economia no último trimestre do ano. Se utilizados os R$ 6,6 bilhões para essas compras, elas podem dar uma contribuição em torno de 0,2 a 0,3 ponto percentual para o PIB, desde que seja dinheiro novo e não um mero remanejamento de despesa orçamentária.
Como se vê, não há uma medida de grande envergadura, mas um somatório de estímulos que o governo acredita que tem potencial para chacoalhar os ânimos de consumidores e investidores.
O pacote de concessões para o setor privado explorar portos, rodovias e aeroportos, que será divulgado em agosto, deve melhorar a taxa de investimentos, assim como a possibilidade de o governo praticamente zerar as alíquotas do PIS/Cofins para grandes consumidores de energia, reduzindo o custo de produção a partir de 2013.
Pode ser muito cedo para chegar a uma conclusão sobre os rumos da atividade econômica e o Copom ainda teria chão para cortar os juros - conforme os sinais que deu no comunicado da reunião de quarta-feira. Ou a recuperação está efetivamente contratada, é uma questão de tempo, pouco tempo, e o espaço para o comitê baixar os juros vai se esgotando.
A favor do presidente do BC, Alexandre Tombini, que está convencido de que o PIB estará rodando na casa dos 4% no último trimestre e em 4,6% no primeiro e segundo trimestres de 2013, estão os acertos da autoridade monetária nas previsões de inflação e na antecipação dos impactos da crise externa em agosto de 2011, quando poucos a dimensionavam.
Voo curto - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 13/07
A presidente Dilma garante que o governo vai virar o jogo do sistema produtivo, hoje perdedor. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aposta em que, até o fim do ano, o PIB do Brasil voltará à velocidade de 4% a 5% ao ano apenas em consequência do impulso proporcionado pelos sucessivos pacotes de incentivo, turbinados pela redução dos juros e pela desvalorização cambial, ambas da ordem de 20%.
Será? Como os motores da indústria e do resto da economia continuam a girar em falso, conforme ficou reforçado pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de maio, divulgado ontem (veja o Confira); como já há sinais de superendividamento em segmentos importantes do consumo; e como a economia global seguirá por muito tempo afundada na crise; não há elementos suficientes para acompanhar a aposta do governo.
Mas não sejamos ranzinzas. Vamos acreditar em que a presidente Dilma e o ministro Mantega têm muito mais elementos para prever melhor e para apostar na melhor opção. Isso posto, aceitemos que a projeção deles está correta e que, antes do final do ano, os indicadores apontarão para cima. Aí caberia a pergunta seguinte: esse crescimento mais vigoroso será sustentável ou tudo não passará de mais um medíocre voo de galinha?
Infelizmente, ainda não há razões para sustentar a hipótese de retomada forte. Por enquanto, o risco maior é o que foi denunciado na terça-feira pelo presidente do Goldman Sachs Asset Management, Jim O'Neill, de que os Brics possam perder o B do acróstico.
É o próprio ministro Mantega que vem sustentando que a paralisia do sistema produtivo do Brasil se deve ao agravamento da crise externa - que tem tudo para perdurar por mais alguns anos. Ela estaria amarrando os investimentos do setor privado. Ora, se o panorama econômico atual persistirá - como adverte o governo -, sua ação sobre o sistema produtivo brasileiro também.
Aos poucos vai sendo formado o consenso de que o bloqueio não está propriamente no desempenho da economia global, mas nos cada vez mais insuportáveis custos estruturais: imposto demais, energia cara demais, burocracia, infraestrutura deficiente, etc.
Isso já era assim antes e, no entanto, não foi até recentemente obstáculo suficiente para estancar o setor produtivo. Verdade. Só que é aí que entra a crise global, que baixou os preços do produto concorrente. Afora isso, em todo o mundo os governos seguem distribuindo incentivos. Os cofres estão sendo franqueados para distribuir às empresas subsídios, crédito farto e barato. E o desemprego concorre para reduzir o custo da mão de obra. Ou seja, ainda que venha respondendo com políticas protecionistas, o governo Dilma não consegue fazer o suficiente para incrementar a capacidade de competição da indústria brasileira. O setor têxtil, por exemplo, bem que vem conseguindo arrancar do governo medidas que contenham em alguma coisa a entrada do produto importado. Mas não consegue exportar nem para os sócios do Mercosul, até porque o governo vem tolerando as travas comerciais da Argentina.
Um depois do outro, analistas pedem do governo reformas estruturais. Mas a resposta obtida é essa política de puxadinhos feita de improvisações e distribuições de cala-bocas. Sem estratégia, não há voo de longo alcance.