sexta-feira, julho 13, 2012

O pior já passou, acredita o governo - CLAUDIA SAFATLE


Valor Econômico - 13/07


Apesar de não ser generalizada a esperança de um reaquecimento da atividade econômica no último trimestre do ano - o Banco Central e as pesquisas de mercado comungam da expectativa de expansão do PIB de 4,1% sobre igual período de 2011 - acredita-se, no governo, que o pior para a atividade econômica já passou. Inclusive para a indústria, que teria tido uma melhora puxada pelo aumento de 26% das vendas de automóveis em junho sobre maio e que prosseguem em crescimento, ainda que menor, em julho. A redução dos estoques não teve impacto, ainda, na produção. Espera-se que venha a ter.

Divulgado ontem pelo Banco Central, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) foi um pequeno alento para estancar a onda de pessimismo no país. Ele apurou que o nível de atividade teve recuo de apenas 0,02% em maio na comparação com o mês anterior, nos dados dessazonalizados. O índice veio melhor do que os dados da indústria (-0,9%) e do varejo (-0,8%) e, se estiver correto, indicaria que a economia reagiu e pode ter crescido, no segundo trimestre, cerca de 0,5%. Uma performance bem melhor do que os 0,2% do primeiro trimestre. Seria possível dizer, nesse caso, que não está de todo descartada a possibilidade de o PIB ficar em 2% este ano.

O quadro doméstico ainda é incerto e comporta prognósticos mais otimistas ou mais pessimistas. O externo continua sujeito a riscos imensos. E é nesse ambiente que o Comitê de Política Monetária (Copom) continua cortando a taxa básica de juros, a Selic.

Compras do governo devem ajudar o PIB em 0,2 ponto percentual

Não se confirmou, na quarta-feira, a expectativa de agentes do mercado de que haveria um sinal no comunicado do comitê - que baixou a Selic para 8% ao ano - indicando que o fim do ciclo de redução dos juros estaria próximo. O Copom optou por reproduzir integralmente o comunicado anterior. Aguarda-se, agora, o que será dito na ata.

Embora não esteja nítida a recuperação da economia, o governo coleciona uma série de medidas e indícios de que o segundo trimestre não foi ruim como se imagina, o terceiro será melhor do que o segundo e no quatro trimestre a atividade estará num ritmo mais condizente com o PIB potencial. A agricultura, que contribuiu negativamente no primeiro trimestre, reagiu bem e a safrinha que começa a ser colhida vai irrigar a renda do campo.

Há, também, todo o elenco de estímulos monetários e fiscais já concedidos e alguns elementos que podem dar sustentação à demanda doméstica, como o mercado de trabalho - a taxa de desemprego ainda é baixa, a despeito de alguns focos de desemprego, e a massa salarial continua em expansão - e o crédito, que cresce, embora de forma mais moderada.

A queda da inflação eleva o ganho real dos salários e nos próximos meses deverá ocorrer uma limpeza nos balanços das famílias, com redução do endividamento. Associado à diminuição da inadimplência, isso abriria espaço para novas contratações de crédito.

Apesar do corte da Selic ter começado em agosto de 2011, até maio deste ano os juros para o tomador final não tinham se alterado. De maio para junho, com a pressão do governo para redução dos spreads bancários, a taxa para o crédito às pessoas físicas caiu 7 pontos percentuais.

Com isso, está ocorrendo uma migração das dívidas mais caras, de cartão de crédito e cheque especial, para outras mais em conta. Um corte de 7 pontos percentuais numa dívida com prazo de um ano e meio reduz em cerca de 10% o valor das prestações em uma massa de crédito para pessoas físicas equivalente a 35% do PIB, calcula uma fonte do setor privado.

No próximo mês entram em vigor, se aprovada a medida provisória que está no Congresso, as desonerações da folha de pagamento de uma série de setores. A MP vence dia 1º de agosto e a oposição ameaça não votá-la, mas o governo tem suas armas.

A depreciação do câmbio real demora uns seis meses para animar a produção, até que vençam os contratos de exportação feitos com a taxa anterior.

As compras governamentais com margem de preferência para a indústria local devem movimentar a economia no último trimestre do ano. Se utilizados os R$ 6,6 bilhões para essas compras, elas podem dar uma contribuição em torno de 0,2 a 0,3 ponto percentual para o PIB, desde que seja dinheiro novo e não um mero remanejamento de despesa orçamentária.

Como se vê, não há uma medida de grande envergadura, mas um somatório de estímulos que o governo acredita que tem potencial para chacoalhar os ânimos de consumidores e investidores.

O pacote de concessões para o setor privado explorar portos, rodovias e aeroportos, que será divulgado em agosto, deve melhorar a taxa de investimentos, assim como a possibilidade de o governo praticamente zerar as alíquotas do PIS/Cofins para grandes consumidores de energia, reduzindo o custo de produção a partir de 2013.

Pode ser muito cedo para chegar a uma conclusão sobre os rumos da atividade econômica e o Copom ainda teria chão para cortar os juros - conforme os sinais que deu no comunicado da reunião de quarta-feira. Ou a recuperação está efetivamente contratada, é uma questão de tempo, pouco tempo, e o espaço para o comitê baixar os juros vai se esgotando.

A favor do presidente do BC, Alexandre Tombini, que está convencido de que o PIB estará rodando na casa dos 4% no último trimestre e em 4,6% no primeiro e segundo trimestres de 2013, estão os acertos da autoridade monetária nas previsões de inflação e na antecipação dos impactos da crise externa em agosto de 2011, quando poucos a dimensionavam.

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