O GLOBO - 06/06
A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, cujo interlocutor é o babalaô Ivanir dos Santos, organiza uma passeata de “todas as minorias perseguidas pelo governo iraniano” na Praia de Ipanema, dia 17. É protesto contra a vinda de Ahmadinejad à Rio+20.
Na terra dos Beatles
Monobloco e Sargento Pimenta, os blocos cariocas, vão se apresentar em Londres, nas Olimpíadas, com o apoio do ministro do Turismo, Gastão Vieira. Aliás, o Pimenta só toca Beatles, a célebre banda inglesa.
País doente
Quem conta é frei David dos Santos, o grande batalhador da causa dos negros no país. A prefeitura de Nova Iguaçu, RJ, fez concurso para contratar 1.232 médicos. Mas só 658 — ou seja, menos de um por vaga — se inscreveram. “Para os ricos de Ipanema, há médicos de sobra. Já para os pobres...”, lamenta frei David. Faz sentido.
O adeus da Delta
A saída oficial da Delta do consórcio das obras do Maracanã só aconteceu segunda, dia 4, por termo publicado no DO. A Odebrecht vai assumir a participação da enferma, passando de 49% para 79%. A Andrade Gutierrez mantém 21%.
De volta ao mundo
Depois da doença, Lula retomará as viagens internacionais. Vai a Buenos Aires este mês.
Sarah na Lapa
A José Olympio vai reeditar o livro “Eu, Sarah Bernhardt”, biografia da genial atriz francesa (1844-1923). Sarah se apresentou no antigo Teatro Apolo, na Lapa, hoje Escola Celestino da Silva, onde ainda há uma placa com seu nome.
ÍSIS VALVERDE, a formosa mineira de 25 anos que interpreta a periguete “Maria chuteira” Suelen, o terror das sogras, na novela “Avenida Brasil”, da TV Globo, exibe seu lado diva em pose para a revista “Quem”, hoje nas bancas. Na reportagem, a bela conta que “num relacionamento não gosta de coisas óbvias” e diz não ser muito romântica. “Acho que, às vezes, tenho uma atitude meio grossa, meio masculina. O cara está falando coisas de amor e você continua vendo televisão.” Malvada
Os novos velhos
Assim como no mundo rico, o turismo na terceira idade deslancha no Brasil. Pesquisa com cariocas entre 60 e 75 anos revela que 69% fazem planos de viajar. O estudo, batizado de Geração A (“A” de ativos, autônomos, antenados), foi mostrado ontem pelas diretoras Tatiana Soter (Quê) e Adriana Hack (Casa 7), no Rio.
Saçaricando...
A pesquisa também abordou a questão sexual. Um em cada dois (47%) tem vida sexual ativa, e 26% diz ter “ficantes”.
Velha é a...
Gente próxima a Marta Suplicy diz que a senadora ficou ainda mais magoada com Lula ao ouvir a explicação dele, no “Programa do Ratinho”, no SBT, para preferir Fernando Haddad, e não ela, como candidato a prefeito de São Paulo: “Era o momento de apresentar uma coisa nova”.
Morte de Dom Pedro Arno Wehling, presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, comprou de um colecionador carioca 50 jornais de 1891 — 45 brasileiros, quatro franceses e um argentino. Todos falam da morte de Dom Pedro II. Por pouco, osjornais não ficam aqui. O colecionador negociava as raridades com a Biblioteca do Congresso Americano.
Arte roubada
Darel, o gravurista, litográfo e pintor pernambucano de 86 anos, conta que lhe roubaram quase 200 gravuras. Algumas, diz, teriam aparecido num museu do Rio, onde vive.
Alô, prefeitura!
A prefeitura do Rio tem de fiscalizar essa reforma do antigo prédio do Scala, no Leblon, onde surgirá uma loja da Hyundai. A obra só pôs a rede para proteger os pedestres depois que a coluna denunciou, em abril. Segunda, como se sabe, o andaime desabou.
A roupa de Deus
Ontem, em Brasília, na cerimônia no Planalto que oficializou o Riocentro como território da ONU, para a Rio+20, o presidente do STF, Ayres Britto, entregou um bilhetete a Cabral com o seguinte mimo: “O Rio é Deus com sua melhor roupa de sair.” Eu apoio.
No mais
Ronaldinho é um jogador em franca decadência.Mas o Flamengo age com hipocrisia ao tentar satanizá-lo com um vídeo em que é visto saindo de seu quarto de hotel, numa concentração, para entrar no de uma moça. No meio esportivo, não chega a ser um crime hediondo. Além disso, a ideia de mobilizar outros atletas para caguetar o colega na Justiça é coisa feia e policialesca.
quarta-feira, junho 06, 2012
Ronaldinho Gaúcho - FRANCISCO BOSCO
O GLOBO - 06/06
Ronaldinho encarna os dois grandes sintomas da contemporaneidade: a depressão e o imperativo do gozo
Embora apaixonado por futebol e leitor dos jogos em suas dimensões técnicas e táticas, evito tratar do assunto nesta coluna. Escrevo no caderno de cultura, não no de esportes. Mas uma das dimensões do futebol é a cultura; quando algum acontecimento no mundo do futebol revela um problema do campo cultural, sinto-me convocado a interpretá-lo. Já disse mais de uma vez que quem pudesse compreender com precisão a transformação de Ronaldinho Gaúcho em algum momento de 2006 estaria tocando no ponto fulcral do espírito do nosso tempo. O que essa transformação tem de singular é precisamente sua recusa à legibilidade. Outros personagens fundamentais de nosso tempo dão-se a ler com maior clareza — a metamorfose infinita de Michael Jackson se revela uma passagem ao ato em consequência do preconceito racial americano, por exemplo. Mas Ronaldinho Gaúcho permanece um enigma. É desse enigma que vou tentar me aproximar aqui.
Antes de tudo, devo assinalar meu mal-estar em interpretar publicamente a subjetividade de alguém. Reconheço que isso é uma forma de violência. Mas se trata de um caso em que o interesse público está em jogo, na medida que lhe serve de espelho. De modo geral, considero que só deve ser tratado publicamente aquilo que um sujeito dispõe deliberadamente na esfera pública. A subjetividade de Ronaldinho aparece na esfera pública, como uma sombra inevitável, a cada vez que ele entra em campo (e como uma luz dura
de interrogatório nas informações extra-campo). Vou pensar essa sombra, repito, pelo que ela contém de segredo cifrado de nosso tempo. Mas tenho dúvidas sobre a correção moral da minha atitude.
O enigma, em si, é claro: qual o sentido da transformação de Ronaldinho em algum momento de 2006? De reencarnação exuberante dos valores brasileiros do ludismo, improviso e alegria, ele se tornou uma espécie de autômato desencarnado, duplo triste de si mesmo. Quando estava no auge, chegou a receber de Maradona a declaração de que era o único jogador do mundo a jogar sorrindo. Pouco tempo depois, o sorriso desapareceu, mas não deu lugar a uma paixão qualquer contrária, e sim à ausência absoluta de paixões. As paixões são legíveis. Ronaldo Fenômeno estourando o joelho, o rosto contorcido de dor, a lenta e desacreditada recuperação, a volta por cima na Copa de 2002, a nova contusão, a decadência física, os travestis com a suposta cocaína, a “traição” ao Flamengo, a nova volta por cima, a fúria no alambrado. A própria pança como signo das paixões desenfreadas.
As paixões não são apenas legíveis, elas são também preferíveis. Mesmo as piores paixões despertam mais identificações, mais paixões — pena, revolta, admiração pela superação — do que a ausência de paixões.
A ausência de paixões não produz nenhum tipo de identificação, e assim não pode ser convertida em valor moral pela publicidade. No Flamengo, Ronaldinho Gaúcho foi um fracasso absoluto nesse quesito; é irônico que a paixão da ruptura, terceirizada por ele ao irmão Assis, tenha como motivo justamente o pagamento dos direitos de imagem. O outro nome da ausência de paixões é depressão. Talvez a paixão de repúdio que Ronaldinho desperta venha de que ele traz à cena o que queremos esconder: a depressão como sintoma fundamental de nosso tempo. E isso tem um efeito intensificado por força do contraste: a ausência de paixões justo na ópera dos esportes, no palco das paixões sublimadas e primais.
A psicanálise considera a depressão uma resposta falhada ao excesso de demanda. Isso a explicaria como grande sintoma contemporâneo: diante das altas exigências de performance das nossas sociedades capitalistas, o sujeito recua, desiste, depõe as armas, renuncia ao desejo e ao falo. A convulsão de Ronaldo Fenômeno às vésperas da decisão da Copa de 1998 pode ser lida também por essa chave. Mas em Ronaldinho ela se tornou a resposta permanente. E no entanto dividida, sem deixar, talvez num esforço sobre-humano, de tentar responder desejosamente às demandas do mundo. Quando penso nisso sinto compaixão por ele. Todos nós estamos há anos reproduzindo as demandas opressivas — o que só pode ter como efeito o agravamento da resposta depressiva.
Por outro lado, Ronaldinho demonstra uma paixão desmedida pelas noitadas.
Não é contraditório. Às demandas de produtividade, de ascese, às pressões para corresponder ao desejo do mundo, que quer desejar por ele a todo custo, ele responde com improdutividade, ócio, dissolução, todas as formas da dépense. De modo que Ronaldinho acaba encarnando, intensamente, os dois grandes sintomas da contemporaneidade: a depressão e o imperativo do gozo. São os dois lados da mesma moeda. E a moeda talvez possa virar para qualquer um, a qualquer momento.
A entrevista de Ronaldinho ao “Fantástico” confirma mais uma vez essa leitura. Em postura não relaxada, mas indiferente, com aquele olhar perdido que é uma verdadeira janela da alma vazia, ele respondeu evasivamente às perguntas diretas do entrevistador: respostas acuadas, sem qualquer tipo de afirmação, sem revolta, sem inteligência, sem nada de ativo, sem paixão.
Se ele fosse capaz de nos mandar cuidar das nossas vidas, de recusar o massacre do desejo dos outros pesando sobre ele, talvez, depois de algum tempo, jogando uma pelada, entre amigos, sem as dezenas de câmeras e os milhares de olhos esperando dele uma resposta, talvez, a sós com a bola, pudesse abrir, sem se dar conta, aquele mesmo sorriso que encantou Maradona e o mundo
Ronaldinho encarna os dois grandes sintomas da contemporaneidade: a depressão e o imperativo do gozo
Embora apaixonado por futebol e leitor dos jogos em suas dimensões técnicas e táticas, evito tratar do assunto nesta coluna. Escrevo no caderno de cultura, não no de esportes. Mas uma das dimensões do futebol é a cultura; quando algum acontecimento no mundo do futebol revela um problema do campo cultural, sinto-me convocado a interpretá-lo. Já disse mais de uma vez que quem pudesse compreender com precisão a transformação de Ronaldinho Gaúcho em algum momento de 2006 estaria tocando no ponto fulcral do espírito do nosso tempo. O que essa transformação tem de singular é precisamente sua recusa à legibilidade. Outros personagens fundamentais de nosso tempo dão-se a ler com maior clareza — a metamorfose infinita de Michael Jackson se revela uma passagem ao ato em consequência do preconceito racial americano, por exemplo. Mas Ronaldinho Gaúcho permanece um enigma. É desse enigma que vou tentar me aproximar aqui.
Antes de tudo, devo assinalar meu mal-estar em interpretar publicamente a subjetividade de alguém. Reconheço que isso é uma forma de violência. Mas se trata de um caso em que o interesse público está em jogo, na medida que lhe serve de espelho. De modo geral, considero que só deve ser tratado publicamente aquilo que um sujeito dispõe deliberadamente na esfera pública. A subjetividade de Ronaldinho aparece na esfera pública, como uma sombra inevitável, a cada vez que ele entra em campo (e como uma luz dura
de interrogatório nas informações extra-campo). Vou pensar essa sombra, repito, pelo que ela contém de segredo cifrado de nosso tempo. Mas tenho dúvidas sobre a correção moral da minha atitude.
O enigma, em si, é claro: qual o sentido da transformação de Ronaldinho em algum momento de 2006? De reencarnação exuberante dos valores brasileiros do ludismo, improviso e alegria, ele se tornou uma espécie de autômato desencarnado, duplo triste de si mesmo. Quando estava no auge, chegou a receber de Maradona a declaração de que era o único jogador do mundo a jogar sorrindo. Pouco tempo depois, o sorriso desapareceu, mas não deu lugar a uma paixão qualquer contrária, e sim à ausência absoluta de paixões. As paixões são legíveis. Ronaldo Fenômeno estourando o joelho, o rosto contorcido de dor, a lenta e desacreditada recuperação, a volta por cima na Copa de 2002, a nova contusão, a decadência física, os travestis com a suposta cocaína, a “traição” ao Flamengo, a nova volta por cima, a fúria no alambrado. A própria pança como signo das paixões desenfreadas.
As paixões não são apenas legíveis, elas são também preferíveis. Mesmo as piores paixões despertam mais identificações, mais paixões — pena, revolta, admiração pela superação — do que a ausência de paixões.
A ausência de paixões não produz nenhum tipo de identificação, e assim não pode ser convertida em valor moral pela publicidade. No Flamengo, Ronaldinho Gaúcho foi um fracasso absoluto nesse quesito; é irônico que a paixão da ruptura, terceirizada por ele ao irmão Assis, tenha como motivo justamente o pagamento dos direitos de imagem. O outro nome da ausência de paixões é depressão. Talvez a paixão de repúdio que Ronaldinho desperta venha de que ele traz à cena o que queremos esconder: a depressão como sintoma fundamental de nosso tempo. E isso tem um efeito intensificado por força do contraste: a ausência de paixões justo na ópera dos esportes, no palco das paixões sublimadas e primais.
A psicanálise considera a depressão uma resposta falhada ao excesso de demanda. Isso a explicaria como grande sintoma contemporâneo: diante das altas exigências de performance das nossas sociedades capitalistas, o sujeito recua, desiste, depõe as armas, renuncia ao desejo e ao falo. A convulsão de Ronaldo Fenômeno às vésperas da decisão da Copa de 1998 pode ser lida também por essa chave. Mas em Ronaldinho ela se tornou a resposta permanente. E no entanto dividida, sem deixar, talvez num esforço sobre-humano, de tentar responder desejosamente às demandas do mundo. Quando penso nisso sinto compaixão por ele. Todos nós estamos há anos reproduzindo as demandas opressivas — o que só pode ter como efeito o agravamento da resposta depressiva.
Por outro lado, Ronaldinho demonstra uma paixão desmedida pelas noitadas.
Não é contraditório. Às demandas de produtividade, de ascese, às pressões para corresponder ao desejo do mundo, que quer desejar por ele a todo custo, ele responde com improdutividade, ócio, dissolução, todas as formas da dépense. De modo que Ronaldinho acaba encarnando, intensamente, os dois grandes sintomas da contemporaneidade: a depressão e o imperativo do gozo. São os dois lados da mesma moeda. E a moeda talvez possa virar para qualquer um, a qualquer momento.
A entrevista de Ronaldinho ao “Fantástico” confirma mais uma vez essa leitura. Em postura não relaxada, mas indiferente, com aquele olhar perdido que é uma verdadeira janela da alma vazia, ele respondeu evasivamente às perguntas diretas do entrevistador: respostas acuadas, sem qualquer tipo de afirmação, sem revolta, sem inteligência, sem nada de ativo, sem paixão.
Se ele fosse capaz de nos mandar cuidar das nossas vidas, de recusar o massacre do desejo dos outros pesando sobre ele, talvez, depois de algum tempo, jogando uma pelada, entre amigos, sem as dezenas de câmeras e os milhares de olhos esperando dele uma resposta, talvez, a sós com a bola, pudesse abrir, sem se dar conta, aquele mesmo sorriso que encantou Maradona e o mundo
CPI multiúso - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 06/06
Em política, o que vale é o símbolo. Um sujeito marcado por uma CPI leva tempo para se recuperar. Isso se for inocente. E, em se tratando de ano eleitoral, o desgaste pode ser sinônimo de derrota
No marasmo de uma semana curta, o deputado Giroto (PMDB-MS), pré-candidato a prefeito de Campo de Grande, chamou a atenção ontem, ao chegar irritado para uma conversa com o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), na sala de café dos senadores. Trazia em mãos o pedido de convocação dos governadores de Mato Grosso, Silval Barbosa, e de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, ambos do PMDB, para prestar depoimento na CPI que investiga os negócios de Carlinhos Cachoeira. O documento protocolado na CPI é assinado pelo deputado Filipe Pereira (PSC-RJ), filho do pastor Everaldo, ex-deputado. Foi formulado um dia depois de o PSC comunicar ao peemedebista que iria apoiar o PSDB na campanha para prefeito de Campo de Grande.
Não fosse o período eleitoral, o pedido poderia se tratar de mais uma simples tentativa para investigar a Delta Construções e suas obras pelo Brasil afora. Mas, na visão de um pré-candidato a prefeito, tudo muda de figura. Giroto está convencido de que a proposta de Filipe está diretamente relacionada com o fato de o PSC ficar fora da sua campanha. Especialmente pela data em que foi apresentada. Está claro, na visão do peemedebista, que existe aí uma tentativa de usar a CPI para desgastar o PMDB e, por tabela, seu pré-candidato. Conhecedor dos meandros da política, Raupp foi direto: “Se for assim, vamos chamar todos os governadores onde a Delta tem obras”, comentou, no velho estilo olho por olho. Se a proposta vingar, teremos um desfile de governadores ali.
Está cada vez mais claro que CPI e eleições começam a se sobrepor, como já dissemos aqui recentemente, sem um exemplo tão emblemático como o desses dois governadores. Em política, o que vale é o símbolo, a marca. E um sujeito marcado por uma CPI leva tempo para se recuperar. Isso, quando se recupera. E, em se tratando de ano eleitoral, o desgaste pode representar a derrota em outubro. Isso torna a CPI um cinto de mil e uma utilidades.
Por falar em uso eleitoral...
O primeiro a ingressar nessa seara foi o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ). Embora não haja uma citação que envolva o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), diretamente com Cachoeira, as imagens da turma do guardanapo na cabeça chamuscaram o governador ao ponto de ele ser vaiado em eventos públicos. É certo que o estrago teria sido menor se Cabral tivesse apresentado comprovantes de seus gastos no exterior. Como quem cala consente, ele agora paga sua cota escapando de convocações na CPI, mas sem tirar de si a dúvida sobre se a relação de amizade com o dono da Delta, Fernando Cavendish, ultrapassou limites compatíveis com o cargo de governador.
Cabral mergulhou, o que no jargão da política significa ficar longe dos holofotes. O mesmo tem feito o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição. Não será surpresa se, de agora em diante, Paes se distanciar de Cabral para, assim, evitar ser atingido por estilhaços. Não por acaso, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, é vista como a largada da campanha de Paes. Ali, ele estará cercado por Dilma Rousseff e autoridades de outros países. Diante de tantas personalidades, a imagem de Cabral ficará diluída.
Por falar em diluídos...
O problema é quando acabar a Rio+20 e todos voltarem à realidade da CPI. Há quem acredite no recesso de julho como um poderoso solvente para os trabalhos da comissão. Se a história se repetir, o efeito será inverso. Sem muita coisa funcionando no parlamento, a tendência é a de que os “perdigueiros” — aqueles políticos que investigam denúncias e cruzam informações — tenham mais tempo para se dedicar a esse serviço.
Não por acaso, um deputado fazia ontem as contas sobre quanto tempo de trabalho a CPI tem pela frente. Ele ainda não tinha se dado conta de que a comissão atravessará todo o período eleitoral. Mas já havia percebido que, com a chegada da temporada de convenções este mês, a fusão da CPI com as eleições já está em curso. E, não tenham dúvidas: novos pedidos de convocação de governadores e prefeitos virão. Caberá aos integrantes da comissão muita sabedoria para separar o que é jogo eleitoral do que realmente deve ser investigado. A nós, resta torcer para que não percam essa capacidade.
Não foi por falta de aviso - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 06/06
O ditado "quem sabe faz, quem não sabe ensina" é cruel com os professores, mas parece aplicar-se à presidente Dilma Rousseff. Ao receber o rei Juan Carlos da Espanha, anteontem, ela receitou uma "ação coordenada e solidária" para a superação da crise que sufoca as economias europeias. No entanto, a sua receita para a contração da economia brasileira - centrada no estímulo ao consumo - revelou-se um equívoco. A reprodução da bem-sucedida fórmula do então presidente Lula contra a contaminação do Brasil pelo colapso do sistema financeiro dos Estados Unidos, a partir da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, em 2008, ignorou o óbvio: a impossibilidade de promover o crescimento duradouro da economia com medidas puramente paliativas.
Incentivar o gasto das famílias mediante uma política agressiva de expansão do crédito e de retração das taxas de juros, e ainda recorrendo a incentivos fiscais para reativar as compras de carros, é um pobre substituto para o desatamento dos nós estruturais que bloqueiam o desenvolvimento do sistema produtivo, em particular da indústria, e inibem o investimento privado.
A prova está nos acabrunhantes números do desempenho da economia no primeiro semestre: crescimento do PIB próximo da estagnação, com acréscimo de 0,2% em relação aos três meses anteriores e de 0,8% em relação ao mesmo período de 2011. A realidade não só mandou para a proverbial lata de lixo da história a fantasiosa meta original do governo para este ano (4,5%), como também deixou em xeque a expectativa oficial, significativamente mais modesta, de repetir os 2,7% do ano passado.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, pode até ficar rouco de tanto repetir que fixar-se naqueles números equivale a "olhar pelo retrovisor", mas parece ignorar que o ritmo da atividade depende em larga medida das expectativas dos agentes econômicos. E elas descem a ladeira.
No mesmo dia em que a presidente dizia ao rei como os governos europeus devem lidar com a crise, o Banco Central divulgou o seu mais recente levantamento das projeções de uma centena de instituições financeiras sobre o comportamento da economia no ano. O prognóstico médio caiu de 2,99% para 2,72% (e, pior ainda, de 1,58% para 1,15% no caso da indústria). Mais soturnas são as previsões de empresas de grande porte citadas pelo jornal Valor. Entre essas, fala-se em ominosos 2%, com um décimo de ponto porcentual para cima ou para baixo.
É pedir demais ao consumidor brasileiro que reverta essa tendência. Mesmo com nível de emprego em patamar satisfatório, o endividamento familiar é um limite intransponível à capacidade aquisitiva da população, sobre a qual paira já a ameaça da inadimplência.
Em maio, o indicador de dívidas não pagas cresceu 4,3% em comparação com o mesmo mês de 2011. É a 15.ª elevação em 16 meses. Some-se a isso a dificuldade do setor produtivo - por falta de inovação e por baixa produtividade, entre outros fatores - de competir com o exterior na oferta de bens à altura das novas exigências do público.
A presidente pode dizer o que queira, menos que não foi avisada a tempo. Não é de agora que vozes credenciadas apontam para os pés de barro do monumento emergente brasileiro: a infraestrutura desesperadamente necessitada de modernização, a insuficiência de investimentos e a perversidade do sistema tributário.
Para promover a titular da Casa Civil que escolhera para lhe suceder, o presidente Lula fabricou o pretensioso PAC, cujas pífias realizações atestam a cada dia a continuada incompetência gerencial dos dois governos. Tentando superar o problema que ela permitiu que se eternizasse, Dilma convocou na segunda-feira uma reunião de emergência com 9 de seus 39 ministros e outras autoridades. Cobrou deles "um choque de gestão" para acelerar a execução dos projetos prioritários de sua alçada. De março para abril, os investimentos públicos totais caíram 8,5% - já não bastasse que a parte do leão do desembolso estatal corresponda aos subsídios ao programa Minha Casa, Minha Vida.
A presidente teve a coragem de enfrentar a barreira dos juros altos e, para isso, mexer na poupança. Tenha agora a força de pôr o governo a trabalhar.
Carisma e inocência - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 06/06
Nestes tempos em que originalidade é mercadoria em falta, em que quase nada nos surpreende, foi notícia fresca saber que o ator Wagner Moura iria se apresentar com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá em dois shows promovidos pela MTV para comemorar os 30 anos da Legião Urbana, banda de rock que embalou a adolescência e juventude de uma geração inteira (a minha, inclusive) e que muitos consideram como a melhor de todos os tempos.
Não são comuns essas substituições, menos ainda quando o substituído é um sujeito idolatrado e messiânico como Renato Russo, e muito menos ainda quando não é um cantor profissional que assume o microfone. Alguém imagina o Robert Downey Jr. cantando ao lado de Krist Novoselic num tributo ao Nirvana? Eu não me incomodaria se a moda pegasse.
Wagner Moura é vocalista de uma banda amadora chamada Sua Mãe, o que já demonstra que não está muito interessado em lançar-se a sério no mercado fonográfico, mas o convite não veio daí, e sim por causa da cena em que cantou Será no filme VIPs: o personagem protagonista dava uma canja num bar, entre um golpe e outro.
Foi o que bastou para acender a lampadinha sobre a cabeça dos idealizadores da homenagem. É ele.
Correndo todos os riscos que as comparações provocam, Wagner topou, e que bom que topou. Deve ter pensado: “Quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém”.
Dançou feito um possuído, incorporou maneirismos do Renato, amou a plateia como se não houvesse amanhã e desafinou uma barbaridade sem perder o sorriso no rosto e o olhar arrebatado. Se divertiu a valer, que é pra isso que serve a vida. Estava vivenciando cada verso das músicas que cantava: “Quem me dera ao menos uma vez, como a mais bela tribo, dos mais belos índios, não ser atacado por ser inocente”.
Vibro com os inocentes, torço pelo time deles. São pessoas que saem da sua zona de conforto e testam-se em novos papéis sem queimar os neurônios. Nessa hora, somos todos atores sem texto, sem direção e sem rede de segurança, agindo por instinto e abraçando loucuras – perder tempo calculando prós e contras já é uma maneira de dizer não.
Wagner gosta de cantar, é fã do Legião, tem familiaridade com o palco e viu no convite uma chance de fazer outro tipo de teatro. Não podia dar errado, mesmo com todas as desafinações previstas. Não podia porque as coisas feitas com espontaneidade, sem almejar algo além do momento vivido, já saem em vantagem. E porque Renato Russo havia cantado essa pedra quase três décadas atrás: “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?”.
Poesia. É ela que sempre nos salva do ridículo e dá à vida uma transcendência cada vez mais necessária.
Nestes tempos em que originalidade é mercadoria em falta, em que quase nada nos surpreende, foi notícia fresca saber que o ator Wagner Moura iria se apresentar com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá em dois shows promovidos pela MTV para comemorar os 30 anos da Legião Urbana, banda de rock que embalou a adolescência e juventude de uma geração inteira (a minha, inclusive) e que muitos consideram como a melhor de todos os tempos.
Não são comuns essas substituições, menos ainda quando o substituído é um sujeito idolatrado e messiânico como Renato Russo, e muito menos ainda quando não é um cantor profissional que assume o microfone. Alguém imagina o Robert Downey Jr. cantando ao lado de Krist Novoselic num tributo ao Nirvana? Eu não me incomodaria se a moda pegasse.
Wagner Moura é vocalista de uma banda amadora chamada Sua Mãe, o que já demonstra que não está muito interessado em lançar-se a sério no mercado fonográfico, mas o convite não veio daí, e sim por causa da cena em que cantou Será no filme VIPs: o personagem protagonista dava uma canja num bar, entre um golpe e outro.
Foi o que bastou para acender a lampadinha sobre a cabeça dos idealizadores da homenagem. É ele.
Correndo todos os riscos que as comparações provocam, Wagner topou, e que bom que topou. Deve ter pensado: “Quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém”.
Dançou feito um possuído, incorporou maneirismos do Renato, amou a plateia como se não houvesse amanhã e desafinou uma barbaridade sem perder o sorriso no rosto e o olhar arrebatado. Se divertiu a valer, que é pra isso que serve a vida. Estava vivenciando cada verso das músicas que cantava: “Quem me dera ao menos uma vez, como a mais bela tribo, dos mais belos índios, não ser atacado por ser inocente”.
Vibro com os inocentes, torço pelo time deles. São pessoas que saem da sua zona de conforto e testam-se em novos papéis sem queimar os neurônios. Nessa hora, somos todos atores sem texto, sem direção e sem rede de segurança, agindo por instinto e abraçando loucuras – perder tempo calculando prós e contras já é uma maneira de dizer não.
Wagner gosta de cantar, é fã do Legião, tem familiaridade com o palco e viu no convite uma chance de fazer outro tipo de teatro. Não podia dar errado, mesmo com todas as desafinações previstas. Não podia porque as coisas feitas com espontaneidade, sem almejar algo além do momento vivido, já saem em vantagem. E porque Renato Russo havia cantado essa pedra quase três décadas atrás: “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?”.
Poesia. É ela que sempre nos salva do ridículo e dá à vida uma transcendência cada vez mais necessária.
Quantas verdades ou... ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 06/06
Quantas mentiras, eis a questão deste Brasil que um dia foi de todos nós.
Que existem muitas verdades num país onde o real é o que está nos autos? Na terra na qual o que conta são as versões do fato, pois os fatos são sempre inatingíveis? No país onde a verdade é tão variável quanto o clima? Aprendi como a verdade tinha a ver com força e poder quando, pequeno, me obrigavam a sair de casa de capa num dia ensolarado. Que ela seja dependente de quem fala - os muitos que gostam de mim falam a verdade, os poucos que não me amam mentem - eu pesquisei, escrevi e hoje lamento que nem a esquerda tenha acabado com essa indecente relatividade.
Uma verdade de um lado e do outro dos Pirineus. Ou, como dizem os velhos ianques hoje quase todos esclerosados, uma verdade acima e outra abaixo do Rio Grande, onde começa a tal Latin America - antigo Terceiro Mundo, trocando de lugar com eles.
Uma verdade masculina e outra feminina como me explicava um taxista. Nós, homens, éramos ardentes e infiéis; elas, leais por índole. Não tendo contato direto com a juventude, como eu, o sábio machista não percebia quanto sua tese poderia ser posta de cabeça para baixo. Os atributos humanos são móveis e, por isso, sujeitos de crenças inabaláveis. Pois só o incerto é alvo de certezas.
Ninguém tem fé num ovo frito! Cremos em Cristo, não nos pregos que o supliciaram. Mas todos sentimos a sombra da superstição que é o apanágio dos livros sagrados diante de um fato incerto; ou de um evento insofismável, mas deformado pelo poder. Como decidir quando se trata de uma conversa entre um ex-presidente mandão, um ex-ministro da Justiça (que é cega) e da Defesa (que deve tudo ver) e um magistrado da mais alta corte de Justiça de um país - um juiz ciente de seu saber e das pompas do seu cargo? Num diálogo no mínimo complexo entre essas figuras - que dizem o certo por linhas tortas; ou o torto por linhas certas -, como não inventar algum tipo de convicção que ajude a suspender o juízo ou a enterrar a razão? Razão, aliás, que por sua vez, não existe neste nosso mundo submoderno onde nada - e só o nada - é plausível e real?
* * *
A verdade verdadeira só pode nascer por fé ou apoiada em critérios externos. Os meios de reprodução da vida seriam provas da verdade. Mas as coisas se complicaram porque tudo é possível por meio de montagens, de modo que se pode duvidar da prova fotográfica ou sônica. Um governador é filmado recebendo uma bolada; um sujeito é televisionado saindo com uma cesta de dólares de um elevador; uma senhora, esposa de um ilustre deputado, vai a um banco e é filmada pegando um dinheiro; ouvimos conversas fraternais entre um senador, um contraventor e seus associados; vemos fotos de um governador com um empresário com o qual se fizeram contratos de milhões. Em Júpiter e no Inferno, tudo isso seria um testemunho. Mas no Brasil do "tu é nosso e nós somo teu" - o velho Brasil do toma lá dá cá que transformou o governo numa casa-grande e a sociedade numa senzala -, isso é versão! A coisa mais inefável no Brasil de hoje é provar algo contra alguém que seja "nosso".
Temos fé ao contrário: acreditamos que a verdade não existe e que os fatos são fabricações. Pergunta-se: a bomba atômica e a goiabada cascão existem? O homem foi mesmo à Lua? Existe morte? Tivemos escravidão?
Falarei apenas sobre o homem na Lua. Sobre isso, ouvi do meu pai uma negação impetuosa: seria um truque dos americanos! Prova cabal: eles desceram na Lua e nela, conforme sabemos, não se desce, sobe-se. Ela está no céu, acima de todos nós!
* * * *
"Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado um com o outro. Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Não era que um via uma coisa e outro outra, ou que um via um lado das coisas e outro um outro lado diferente. Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao do outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão. Fiquei confuso desta dupla existência da verdade."
Essa meditação de Fernando Pessoa serve de epígrafe ao meu livro Carnavais, Malandros e Heróis (de 1979). Nele, eu argumento que o carnaval é uma expressão dessa sociedade nascida da duplicidade ética que, para o bem e para o mal, acasalou igualdade e hierarquia. Escrevi num momento em que as teorias somente contemplavam o falso e o verdadeiro, o conflito ou a paz, como queria Karl Popper e Karl Marx. Há um Brasil da casa e das amizades que não foi soterrado, como as ruínas de Roma, por um Brasil republicano, hoje, petista. Disseram que eu idealizava o Brasil tradicional. Eu pergunto: o Brasil de Lula e Dilma é tradicional ou moderno? Quem fala a verdade? O ex-presidente ou o magistrado do Supremo? Poderia haver uma verdade numa sociedade sem bom senso e sem um mínimo de decência? Essa decência das crianças que sabem quando os doces acabam, porque é no limite que se esconde a verdade?
Gilmar e o PT - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 06/06
Dilma manda ministros gastarem
A presidente Dilma está dando a seguinte orientação para o governo: pisem no acelerador e turbinem obras e projetos em execução. Anteontem, no Planalto, esse foi o recado transmitido aos ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Aguinaldo Ribeiro (Cidades), Paulo Sérgio Passos (Transportes) e Fernando Bezerra (Desenvolvimento Regional). Para estimular o mercado interno, e com o critério de privilegiar o que tem impacto na economia, a presidente pediu aos ministros uma lista de obras, projetos e programas que tenham impacto nos mercados consumidor e de trabalho. O objetivo é melhorar o desempenho da economia no segundo semestre.
"Se ele não está no laranjal do Cachoeira, ele tem um laranjal próprio” — Onyx Lorenzoni, deputado federal (DEMRS), sobre o empresário Walter Paulo Santiago
O CÓDIGO FLORESTAL E A RIO+20. O governo pediu aos líderes aliados que segurem a tramitação da MP do Código Florestal. A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) defendeu junto aos líderes do governo, senador Eduardo Braga (PMDB-AM) e Arlindo Chinaglia (PT-SP), na foto, que fique tudo parado até o final da Rio+20. Na avaliação do Planalto, mexer nesse assunto agora seria retomar um conflito com grande potencial de repercussão internacional negativa.
Crise e eleição
O Ministério da Saúde anuncia hoje a liberação de mais de R$ 1 bilhão para os municípios construírem Unidades de Pronto Atendimento e Unidades Básicas de Atendimento. Os prefeitos vão assumir projeto, licitação e construção.
Blá-blá-blá
Mesmo que o Senado vote a PEC do Voto Aberto, a mudança não deve ser aprovada a tempo de valer para o caso do senador Demóstenes Torres (GO). Ocorre que ela tem de ser apreciada em dois turnos na Câmara e no Senado.
Nos bastidores do PSDB
Está em curso no PSDB operação para evitar que o partido substitua a atual direção nacional. Contando com a simpatia do presidente tucano, deputado Sérgio Guerra (PE), e do líder na Câmara, Bruno Araújo (PE), trabalha-se nos bastidores por uma nova prorrogação do mandato da atual Executiva do partido. O argumento usado contra a alternância no poder é que não há um nome novo capaz de unir os tucanos.
Não pode mais
O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), ameaçou o empresário Walter Paulo Santiago com voz de prisão. Mas desde 2000, quando o STF julgou o Mandado de Segurança 236252/DF, que as CPIs perderam essa prerrogativa.
Telemarketing
Empenhada no êxito da Conferência Rio + 20, nos últimos 40 dias, a presidente Dilma ligou para chefes de Estado de todos os continentes. Segundo o Itamaraty, dos 193 países-membros da ONU, cerca de 102 confirmaram presença.
TIROTEIO. Os aliados do governador Marconi Perillo (PSDB-GO) acusam o senador Demóstenes Torres (GO) de não ter declarado à Justiça Eleitoral pagamentos feitos ao radialista Luiz Carlos Bordoni.
A ASSESSORIA do senador confirma que o programa de rádio de Demóstenes foi gravado por Bordoni, mas alegou que, pelo acerto das campanhas majoritárias, esse pagamento foi feito pelo caixa do governador.
SECRETÁRIO de governo em Brasília, Wilmar Lacerda (Administração) comanda a força-tarefa criada pelo governador Agnelo Queiroz para defendê-lo na CPI.
Adeus às cartas - ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 06/06
Que injusto é o mundo: tanta saliva gasta discutindo se o Kindle acabará com o livro e se o iPad engolirá o jornal, mas nem uma lágrima rolada pela carta, essa personagem central dos últimos séculos, que foi solapada pelo e-mail e sumiu sem que nos déssemos conta, sem que pudéssemos velá-la ou guardar luto. Partiu da vida para entrar na história e não deixou, vejam só, sequer uma carta de despedida.
Claro que ainda nos chegam envelopes por baixo da porta, todos os dias, mas isto que agora encontramos próximo ao capacho assemelha-se tanto a uma carta como umjingle a uma sinfonia. Contas, propagandas, cardápio de restaurante chinês: tristes arremedos das gloriosas folhas de papel que outrora relataram o descobrimento de continentes, alimentaram amores impossíveis, aproximaram amigos distantes; ringues nos quais travaram-se as mais apaixonadas pelejas intelectuais.
Não, não cederei à tentação barata da nostalgia dizendo que o mundo era melhor antes, que as emoções escritas à mão são mais verdadeiras que as digitadas no teclado. Uma longa carta que levou três semanas para chegar da Europa não bate todos os encontros que nos proporciona o e-mail numa única tarde...
Quem mais perdeu com a morte da carta não foi a amizade, meus caros, não foi o amor nem a profundidade: o grande órfão do declínio postal foi o carteiro. Esse distinto profissional, que em sua época áurea era um pouco enfermeiro, bombeiro, cupido -um serafim de baixo escalão, trazendo em sua bolsa verde a preciosa literatura cotidiana-, profanou-se, transformou-se em traficante, cobrador, garoto-propaganda de drenagens linfáticas e Chops sueys.
Havia uma ingenuidade na figura do carteiro, algo que pertencia essencialmente ao século 20 e que não cabe no 21: um homem a pé ou de bicicleta, um personagem do Jacques Tati, que vinha entregar à mão um bilhete escrito também à mão. Tudo isso se foi com um clique. Para o nosso bem, é verdade, mas se foi; era bonito e deve, portanto, ser lembrado.
É com este intuito que eu sugiro que a categoria processe a Microsoft por danos morais. Ou melhor, que processe os herdeiros de Samuel Finley Breese Morse, que por volta de 1835, em Poughkeepsie (NY) inventou o telégrafo, tornando possível enviar informações através de um fio -e deu no que deu.
O processo não visaria uma compensação material, mas simbólica (afinal, os carteiros não perderam os empregos, apenas a aura). Que seja construída, na praça mais simpática de cada cidade, uma escultura discreta, dedicada à memória de todo aquele que arriscou a vida pelo mundo, no frio cortante e no calor escaldante, perseguido por cachorros e à mercê de malfeitores, para que matássemos nossas saudades: um Monumento ao Carteiro Desconhecido. E -quem sabe?-, também ao século 20, que mal terminou e já nos parece tão estranhamente distante.
Que injusto é o mundo: tanta saliva gasta discutindo se o Kindle acabará com o livro e se o iPad engolirá o jornal, mas nem uma lágrima rolada pela carta, essa personagem central dos últimos séculos, que foi solapada pelo e-mail e sumiu sem que nos déssemos conta, sem que pudéssemos velá-la ou guardar luto. Partiu da vida para entrar na história e não deixou, vejam só, sequer uma carta de despedida.
Claro que ainda nos chegam envelopes por baixo da porta, todos os dias, mas isto que agora encontramos próximo ao capacho assemelha-se tanto a uma carta como umjingle a uma sinfonia. Contas, propagandas, cardápio de restaurante chinês: tristes arremedos das gloriosas folhas de papel que outrora relataram o descobrimento de continentes, alimentaram amores impossíveis, aproximaram amigos distantes; ringues nos quais travaram-se as mais apaixonadas pelejas intelectuais.
Não, não cederei à tentação barata da nostalgia dizendo que o mundo era melhor antes, que as emoções escritas à mão são mais verdadeiras que as digitadas no teclado. Uma longa carta que levou três semanas para chegar da Europa não bate todos os encontros que nos proporciona o e-mail numa única tarde...
Quem mais perdeu com a morte da carta não foi a amizade, meus caros, não foi o amor nem a profundidade: o grande órfão do declínio postal foi o carteiro. Esse distinto profissional, que em sua época áurea era um pouco enfermeiro, bombeiro, cupido -um serafim de baixo escalão, trazendo em sua bolsa verde a preciosa literatura cotidiana-, profanou-se, transformou-se em traficante, cobrador, garoto-propaganda de drenagens linfáticas e Chops sueys.
Havia uma ingenuidade na figura do carteiro, algo que pertencia essencialmente ao século 20 e que não cabe no 21: um homem a pé ou de bicicleta, um personagem do Jacques Tati, que vinha entregar à mão um bilhete escrito também à mão. Tudo isso se foi com um clique. Para o nosso bem, é verdade, mas se foi; era bonito e deve, portanto, ser lembrado.
É com este intuito que eu sugiro que a categoria processe a Microsoft por danos morais. Ou melhor, que processe os herdeiros de Samuel Finley Breese Morse, que por volta de 1835, em Poughkeepsie (NY) inventou o telégrafo, tornando possível enviar informações através de um fio -e deu no que deu.
O processo não visaria uma compensação material, mas simbólica (afinal, os carteiros não perderam os empregos, apenas a aura). Que seja construída, na praça mais simpática de cada cidade, uma escultura discreta, dedicada à memória de todo aquele que arriscou a vida pelo mundo, no frio cortante e no calor escaldante, perseguido por cachorros e à mercê de malfeitores, para que matássemos nossas saudades: um Monumento ao Carteiro Desconhecido. E -quem sabe?-, também ao século 20, que mal terminou e já nos parece tão estranhamente distante.
Candidatura empacada - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 06/06
Restam PSB e PCdoB como chances de aliança política para engordar o tempo de televisão e rádio na propaganda eleitoral gratuita. O PSB paulista, que fazia parte da base aliada do governador Geraldo Alckmin, prefere majoritariamente apoiar José Serra, e o governador Eduardo Campos está tendo que intervir para mudar essa tendência, atendendo ao pedido de Lula.
E o PCdoB tem em Netinho um candidato de fôlego curto, mas que pode ter uma base de votos importante para a eleição de vereadores e uma negociação no segundo turno. A tendência, no entanto, é que os dois partidos acabem aderindo à candidatura Haddad, mas o PSB fará isso sem entusiasmo.
Partidos da base aliada ou estão com o tucano José Serra, como o PV e o PR, ou estão tratando de suas próprias candidaturas, como o PMDB com Gabriel Chalita, o PP com Celso Russomanno ou até mesmo o PDT com Paulinho da Força.
É que, em circunstâncias como esta, é mais fácil ter uma candidatura própria para se resguardar para o segundo turno do que enfrentar diretamente Lula, negando-se a fazer a aliança, como fez o PR. Mas o PR tem razões próprias para demonstrar seu descontentamento com o governo.
O apoio do PR à candidatura à Prefeitura de São Paulo de José Serra, provocando lamentações no próprio ex-presidente Lula, que tentou em vão levar o partido para apoiar Fernando Haddad, o candidato petista que ele inventou, é exemplar da bagunça em que se transformou nosso sistema partidário.
O minuto e meio a que o PR tem direito na propaganda eleitoral gratuita de rádio e televisão faz com que o passado do partido seja absolvido em qualquer coligação partidária, seja do PSDB, seja do PT.
Afastado do governo Dilma por acusações de corrupção, o ex-ministro Alfredo Nascimento continua atuando como grande cacique político, barganhando os minutos que seu partido tem país afora, sem que o programa partidário ou a ideologia tenham alguma coisa a ver com as coligações que vai fechando.
O tucano Serra diz que faz acordos com partidos, não pessoas, para exorcizar a presença no PR do mensaleiro Waldemar da Costa Neto nos bastidores da negociação.
Já Lula considera estranho que o PR, estando na base aliada de Dilma, apoie um candidato tucano à prefeitura paulistana.
Enfim, uma verdadeira geleia geral que só pode resultar em governos sem espinha dorsal e, sobretudo, sem valores a defender.
O PMDB acredita que seu candidato, Gabriel Chalita, tem mais chances de ir para o segundo turno que Haddad e faz o jogo da coligação para contar com o apoio do PT num segundo turno contra Serra.
Se o caso é de apresentar um candidato "novo", então Chalita tem melhores condições do que Haddad, pois, além de ter um ar mais jovem que o do petista, tem mais experiência política, já tendo sido testado com sucesso nas urnas.
Essa estratégia de contrapor o "novo" ao "velho", tratando o candidato tucano como "desgastado", como disse Lula a seu respeito no "Programa do Ratinho", só tem despertado a indignação da senadora Marta Suplicy, barrada por Lula na pretensão de ser novamente candidata a prefeita justamente sob o argumento de que o partido precisaria de uma figura "nova" para sinalizar ao eleitorado que algo havia mudado.
Tudo isso para marcar a idade do candidato tucano, pois José Serra tem 70 anos, enquanto Fernando Haddad tem 49, mas atingindo a veterana senadora.
Acontece que a questão não deveria se resumir à idade do candidato, mas à maneira nova de fazer política, e isso até agora não se viu na campanha petista e, ouso dizer, não se verá, pois ela é fruto do mais antigo modelo de fazer política, a imposição pelo "cacique" de um nome de sua preferência, sem que as bases partidárias possam dar sua opinião.
Se uma prévia fosse feita, é provável que a senadora Marta Suplicy a vencesse com sobras, mesmo com Lula apoiando Haddad.
O PT fez em São Paulo o que está fazendo em Recife, onde desrespeitou as prévias para impedir a candidatura à reeleição do prefeito João da Costa.
Da conspiração para fazer do senador Humberto Costa o candidato oficial participa também o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que se oferece ao eleitorado como uma liderança jovem e renovadora, mas que tem hábitos de oligarca, seguindo a tradição de seu avô Miguel Arraes.
Hábitos, aliás, que Lula critica nos discursos de palanque, mas adota com grande gosto. Entre o que Lula diz e o que faz, apoiando as grandes oligarquias nacionais, como a dos Sarney no Maranhão, vai uma grande diferença.
Em São Paulo, Serra, o político "velho", que já concorreu três vezes à prefeitura, tendo sido eleito em uma delas, teve que disputar uma prévia dentro do PSDB pela primeira vez para concorrer, numa demonstração de que os "velhos" hábitos podem ser modificados, desde que se queira.
Na coluna de ontem, escrevi que a prescrição da pena por formação de quadrilha equivaleria a uma absolvição, o que só ocorreria se se tratasse da prescrição pelo máximo da pena cominada.
A hipótese que pode ocorrer é da chamada "prescrição retroativa", que considera a pena aplicada, a chamada "pena em concreto", se ela for de até dois anos.
Assim, deverão constar no acórdão a condenação e a seguir a declaração de extinção de punibilidade, o que não equivale a uma absolvição.
A situação do deputado João Paulo Cunha e dos demais mensaleiros, se condenados, é muito mais grave do que a inclusão na Lei da Ficha Limpa.
Eles terão seus direitos políticos suspensos enquanto perdurarem os efeitos da pena, nos termos do artigo 15, inciso III, da Constituição da República. Sequer poderão votar.
Matuto esperto - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 06/06
No depoimento marcado para o próximo dia 12, o governador de Goiás, Marconi Perillo, terá trabalho para convencer a CPMI que investiga as ilegalidades da organização comandada por Carlos Augusto Ramos sobre a versão apresentada por ele para a venda da casa na qual o acusado foi preso pela Polícia Federal em 29 de fevereiro último.
A julgar pelo que disse ontem o empresário Walter Paulo Santiago, proprietário oficial da casa, há muita coisa mal explicada naquela negociação. Segundo o governador, foi feita por intermédio de três cheques e, de acordo com Santiago, deu-se em dinheiro vivo.
Depois de quase sete horas, restaram duas suspeitas fortes no ar. Uma diz respeito ao verdadeiro comprador. Seria Carlos Cachoeira para quem Santiago teria atuado como testa de ferro.
Realmente, não é crível a história de que comprou a casa de Perillo em julho de 2011, emprestou ao intermediário do negócio por um prazo de 45 dias e oito meses depois ainda não havia tomado posse do imóvel no qual estava morando Cachoeira.
O "empréstimo" seria para o preposto fazer um favor a uma "amiga" enquanto a casa dela estava sendo construída no mesmo condomínio.
Ora, o dito corretor era Wladimir Garcez, também preso e apontado como braço direito de Cachoeira e a moradora temporária ninguém menos que Andressa, a nova mulher do principal alvo das operações policiais que deram origem à CPMI.
Muita coincidência, pois não?
A outra suspeita é relacionada ao preço e à forma de pagamento. Se o governador Perillo diz que recebeu R$ 1 milhão e 400 mil em três cheques (de uma empresa de Cachoeira, detalhe que ele afirmou desconhecer à época) e Walter Santiago declara que pagou R$ 1 milhão e 400 mil em dinheiro vivo, sobra uma de duas hipóteses: ou um dos dois mente ou a casa custou o dobro e o pagamento efetuado parte "por dentro" com os cheques, parte "por fora" em moeda sonante acondicionada "em pacotinhos" conforme descrição do depoente.
Com jeito de matuto, tropeçando no idioma, fazendo-se meio de bobo sem de bobo não ter nada além da intenção de assim ser visto, Walter Santiago foi o primeiro convocado a aceitar falar perante a CPMI e enrolou-se do começo ao fim.
Junto enrolou um pouco mais o governador Marconi Perillo ao desmentir uma versão que até então se apresentava como um álibi razoável para a venda da casa onde foi preso Cachoeira.
Do depoimento o governador pode até sair-se bem, inclusive porque tem uma semana para preparar a defesa à luz do depoimento de Santiago transformado pelas contradições em testemunha de acusação.
Mas a complicação poderá resultar do exame das provas técnicas. Ficou mais difícil o PSDB, que ontem procurou inutilmente conferir ao depoimento caráter de comprovação à versão de Perillo, impedir a quebra dos sigilos das contas do governador.
Óleo na máquina - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 06/06
O governo quer turbinar os gastos de ministérios que gerenciam diretamente obras, como Transportes e Cidades. As duas pastas, que comandam boa parte dos projetos do PAC, tiveram reduções drásticas de investimentos nos cinco primeiros meses do ano, comparados ao mesmo período de 2011. A ideia é abrir as comportas dos gastos agora, já que a lei eleitoral restringe transferência voluntária de verbas no segundo semestre.
Dilma Rousseff e a equipe econômica devem anunciar ainda algum refresco para Estados e municípios, desde que o dinheiro vá para investimentos e não para bancar aumento salarial ou gastos com custeios.
Sempre cabe... Com a adesão de DEM, PR e PP, José Serra vê aumentar a tensão em seu QG de campanha com as chapas de vereador. Além do já sabido pleito do PSD, as três siglas tratam a coligação proporcional com o PSDB como condicionante à aliança.
... mais um Além do risco de encolher a bancada tucana, o "chapão" tiraria, nas contas dos serristas, 200 candidatos das ruas. No entorno de Serra, há quem defenda a montagem de dois blocos menores dentro da coalizão.
BC Gabriel Chalita definiu o comitê financeiro, que será pilotado por Delfim Netto. Será composto pelos advogados Guilherme Amorim, que assumirá a tesouraria, Paulo de Barros Carvalho, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Tributários, Rubens Naves e Heleno Torres.
Copyright Paulinho da Força (PDT) registrou em cartório seu plano de governo, intitulado "Cada bairro, uma cidade". "Mesmo assim, já fui plagiado", diz, referindo-se ao imposto regressivo, lançado por Fernando Haddad.
Ah, é? Interlocutores de Marta Suplicy dizem que a gota d'água para sua decisão de não ir ao lançamento da candidatura de Fernando Haddad foi o pouco caso com que Lula a tratou na entrevista ao "Programa do Ratinho".
Mais um Rodrigo Garcia (DEM) deixa hoje a Secretaria de Desenvolvimento Social para postular a vice na chapa de Serra. Soma-se a Alexandre Schneider (PSD) e Eduardo Jorge (PV), que se afastaram da prefeitura.
Holerite A Assembleia paulista publica hoje ato da mesa diretora que tornará obrigatória a divulgação dos salários de deputados e servidores. O prazo para abertura dos dados é de 30 dias.
A conta... Em meio à guerra de versões sobre a compra da casa de Marconi Perillo, a CPI do Cachoeira reconstituiu, no inquérito da Monte Carlo, a cronologia da negociação pelo imóvel em 2011, por valores díspares aos relatados pelo governador tucano e o empresário Walter Paulo -R$ 1, 4 milhão.
...não fecha Uma semana antes de fechar o negócio, Cachoeira e Wladimir Garcez discutem a aquisição com Lúcio Fiúza, assessor do governo. "Carlinhos diz que é para fechar por R$ 2,2 milhões". Em 12 de julho, Cachoeira manda Garcez pegar o dinheiro, dar 500 para Lúcio e "pegar 100 logo''.
Banco imobiliário Filha de Walter Paulo, Eliane assistiu ao depoimento do pai em sala ao lado da comissão: "Não é essa mansão que vocês estão pensando! Casa lá é de R$ 3 milhões."
Geladeira Relatório do Coaf de 2001 a 2003 mostra movimentação atípica de Cachoeira de R$ 1,2 milhão, valor incompatível com seus rendimentos declarados. Ele recorreu à Fazenda. A CPI quer saber por que o recurso está parado há oito anos.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"O Votorantim já quebrou, o Panamericano também. E agora, o Cruzeiro do Sul. O pior é que o governo vai quebrar a Caixa Econômica Federal de novo, como já o fez no passado."
DO DEPUTADO RODRIGO MAIA (DEM-RJ), após ouvir relato do presidente do BC, Alexandre Tombini, durante reunião da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara que discutiu os efeitos da crise no sistema financeiro do país.
contraponto
Pior que está não fica
Durante ato que formalizou o apoio do PR à candidatura de José Serra, anteontem, o pré-candidato tucano à prefeitura paulistana cumprimentou o deputado federal Tiririca, campeão de votos para a Câmara em 2010:
-Eu nunca havia estado com ele. Até então, só o conhecia artisticamente.
No final do evento, o palhaço, questionado sobre o que achara do primeiro contato com Serra, respondeu:
-Se fosse um concurso de beleza, acho que ele se daria mal. Mas como é eleição para prefeito...
A fúria de Gibraltar - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 06/06
Que ideia maravilhosa foi a criação da União Europeia. Graças a ela, partes da Europa que passaram 2 mil anos se detestando aprenderam a amar. Mas o passado resiste. Alguns pequenos espaços teimam em detestar outros espaços. É o caso de Gibraltar, rochedo no sul da Espanha, pelo qual Madri e Londres seguem se atormentando.
Vale lembrar o status de Gibraltar: trata-se de um pequeno fragmento de 6 quilômetros quadrados, localizado ao sul do território espanhol, um simples penhasco, mas que guarda a passagem do Mar Mediterrâneo para o Oceano Atlântico. É o segundo estreito mais concorrido do mundo.
A Grã-Bretanha reina sobre esse ínfimo rochedo. Por que? Há três séculos, em 1713, a Guerra da Sucessão Espanhola acabava com o Tratado de Utrecht. Por esse tratado, a Espanha, vencida, cedeu aos britânicos a cidade, o castelo e o Porto de Gibraltar. Durante 300 anos, o acordo jamais foi contestado.
Este ano, no jubileu de diamante da rainha Elizabeth II, é novamente aberta, entre Espanha e Grã-Bretanha, a velha ferida infectada. O pretexto: o príncipe Andrew, filho mais novo da rainha, em razão do jubileu, deve ir a Gibraltar no dia 11. Furor na Espanha. Madri deu a conhecer "sua contrariedade e desconforto". E reagiu. A rainha Sofia, da Espanha, anulou a visita que faria à sua prima, a rainha Elizabeth, no castelo de Windsor. E a imprensa espanhola criticou a "indelicadeza" britânica, da rainha e dos príncipes.
O incidente vem se somar às tensões que persistem entre as duas grandes nações em razão desse rochedo. Por exemplo, Gibraltar proibiu que os pescadores espanhóis naveguem em seu entorno. À afronta, Madri respondeu vigorosamente, ordenando que a Guarda Civil espanhola escoltasse os pescadores. E a Espanha proclamou que "o tempo das humilhações acabou".
Às vezes, o conflito se intensifica. Em vez de ficar restritos aos insultos, os dois países chegam às vias de fato. Na sexta-feira, um grupo de espanhóis feriu levemente um policial de Gibraltar e atirou pedras contra seu carro. As autoridades britânicas estremeceram e instalaram uma segunda cerca para melhor separar o rochedo do continente.
A União Europeia tem tido muito trabalho. Pobres diplomatas de Bruxelas. Não só devem impedir a Grécia de morrer, mas também devem convencer os espanhóis a não atirarem pedras contra os carros de policiais britânicos. Será que Angela Merkel terá de cuidar do caso?
Os cientistas políticos estão inquietos e perguntam-se por quanto tempo a guerra se prolongará. As opiniões são divergentes. Os pessimistas não veem solução antes de dois ou três milênios. Outros, mais políticos, confiantes nos poderosos instrumentos diplomáticos da UE, acreditam que tudo se resolve em alguns séculos. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
O voto secreto no Congresso - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 06/06
BRASÍLIA - Poucas situações causam mais repugnância em Brasília do que as votações secretas nas quais deputados ou senadores absolvem colegas encrencados.
O caso mais recente foi o da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF). Flagrada colocando dinheiro de origem indefinida em sua bolsa, ela foi salva por duas razões. Primeiro, por uma malandragem travestida de argumento formal: o fato ocorreu antes de sua eleição (como se malfeitores pudessem limpar suas fichas no momento da posse). A segunda razão foi a votação ter sido secreta. Venceu o espírito de corpo.
Apesar do sobrenome tradicional da política de Brasília, Jaqueline Roriz é uma pobre coitada do baixo clero do Congresso. Não apita nada na política nacional. Muitos deputados me disseram à época não ter coragem de cassá-la por se sentirem constrangidos com a situação.
Se o voto não fosse secreto, o constrangimento por causa do vício insanável da amizade seria suplantado pela reação do público.
Ontem, deu-se um passo importante para corrigir tal anomalia corporativa. O presidente do Senado, José Sarney, anunciou a votação na semana que vem de propostas de emenda constitucional que sepultam o voto secreto no Congresso.
O assunto voltou à ordem do dia devido ao processo contra Demóstenes Torres, o senador de Goiás e sem partido (era do DEM). Mesmo se aprovada, a nova regra não chegará a tempo de valer na votação sobre o mandato de Demóstenes. Mas será um grande avanço para futuros episódios.
Há uma discussão correlata a respeito da amplitude da transparência do voto no Congresso. A aprovação da indicação de magistrados para tribunais superiores deve ser aberta? E o voto que mantém ou derruba vetos presidenciais?
Se o Congresso começar abrindo o voto em cassações de mandato, o passo já será enorme
O coletivo, teoria e prática - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADÃO - 06/06
O "projeto coletivo", que se resumiu na vontade do chefe, encontrou quem o "peitasse"
Batendo cabeça na campanha municipal paulistana, os petistas, que gostam de se ver como os únicos representantes legítimos do povo, deveriam levar em conta o dito popular: pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto. Todo mundo sabe que a candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo foi imposta, de modo imperial, pelo chefão do partido, o ex-presidente Lula, à aspirante natural à posição, Marta Suplicy. Esta jamais engoliu a decisão autoritária e deu a prova definitiva disso ao "peitar" Lula, não comparecendo ao ato de lançamento oficial do candidato e justificando sua ausência com uma lacônica nota que eloquentemente omitiu o nome do ungido. Foi publicamente repreendida pelo presidente do PT paulista, Edinho Araújo, para quem ela erra ao não levar em conta que ela própria "é também fruto de um projeto coletivo chamado Partido dos Trabalhadores". "Projeto coletivo" como o da imposição da candidatura Haddad? Diante dessa gritante contradição entre o que o PT prega e o que faz, desentortar o pau será tarefa desafiadora até para os superpoderes de que Lula se julga possuidor.
Qualquer previsão, feita a quatro meses do pleito, é arriscado exercício de futurologia. Mas a candidatura Haddad tem tudo para se revelar um retumbante fracasso, pelo simples fato - admitido por lideranças municipais do partido - de que a militância petista, habituada às "discussões de base", tem grande dificuldade para aceitar o fato de que foi marginalizada no processo em curso. Inclusive porque a intervenção autoritária de Lula foi feita em prejuízo da forte liderança de Marta na periferia da cidade, onde o PT tem seus redutos mais importantes. Diante do argumento de que, se conseguiu persuadir o partido a aceitar Dilma, Lula também logrará viabilizar Haddad, lideranças petistas inconformadas com a situação ponderam que o ex-presidente teve o tempo a seu favor, três anos para "trabalhar", diuturnamente, dentro e fora do partido, a imagem daquela que viria a ser sua sucessora. Agora, corre- se contra o relógio.
Nessas circunstâncias, Marta Suplicy, como é de esperar de seu temperamento voluntarioso, dificilmente se disporá a prestar ao chefão a vassalagem que Haddad não se constrangeu de praticar quando, criticando- a veladamente pela ausência no evento partidário, afirmou que "quem não compareceu" perdeu a oportunidade de "estar com a militância do PT e, sobretudo, com o presidente Lula". Fica fácil de entender por que a ex-prefeita preferiu não dar o ar de sua graça.
Da mesma forma perdeu uma oportunidade para ficar calado Edinho Silva, que em entrevista ao Estado (4/6), chamou Marta de "mulher inteligentíssima, extremamente capaz"; garantiu que o PT nunca abrirá mão "da participação (dela) por tudo o que ela representa"; classificou-a como "uma liderança de primeira grandeza" e "a melhor prefeita da cidade de São Paulo". Só não explicou por que, diante de tantas e tão exuberantes qualificações, o PT preferiu optar pelo "novo", representado por uma figura sem a menor expressão eleitoral e tradição de liderança partidária, cuja passagem pelo Ministério da Educação foi pontilhada por polêmicas e lambanças.
É possível que daqui a quatro meses a cúpula petista tenha que se dedicar ao doloroso exercício de descobrir - ou admitir - onde errou no pleito paulistano. Mas, para Edinho Silva, no momento está claro que quem erra é Marta: "Poucas vezes na minha vida dentro do PT vi uma liderança política cometer erros tão graves do ponto de vista da formulação política". E explorou o discurso do faça- o-que-digo- não-o-que-faço: "O PT representa um projeto coletivo. (...) Esse projeto é construído desde as nossas lideranças de maior grandeza até os militantes de base, que estão lá no diretório zonal defendendo a bandeira do PT. Evidente que a Marta faz muita falta nesse processo. (...) Se ela entrar, a candidatura do Haddad ganha outra musculatura. Mas se ela infelizmente não entrar, por mais que fiquemos sentidos, vamos buscar a superação dissona força do projeto coletivo". Estranho esse projeto coletivo, que se resume à vontade intransigente de um homem.
O "projeto coletivo", que se resumiu na vontade do chefe, encontrou quem o "peitasse"
Batendo cabeça na campanha municipal paulistana, os petistas, que gostam de se ver como os únicos representantes legítimos do povo, deveriam levar em conta o dito popular: pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto. Todo mundo sabe que a candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo foi imposta, de modo imperial, pelo chefão do partido, o ex-presidente Lula, à aspirante natural à posição, Marta Suplicy. Esta jamais engoliu a decisão autoritária e deu a prova definitiva disso ao "peitar" Lula, não comparecendo ao ato de lançamento oficial do candidato e justificando sua ausência com uma lacônica nota que eloquentemente omitiu o nome do ungido. Foi publicamente repreendida pelo presidente do PT paulista, Edinho Araújo, para quem ela erra ao não levar em conta que ela própria "é também fruto de um projeto coletivo chamado Partido dos Trabalhadores". "Projeto coletivo" como o da imposição da candidatura Haddad? Diante dessa gritante contradição entre o que o PT prega e o que faz, desentortar o pau será tarefa desafiadora até para os superpoderes de que Lula se julga possuidor.
Qualquer previsão, feita a quatro meses do pleito, é arriscado exercício de futurologia. Mas a candidatura Haddad tem tudo para se revelar um retumbante fracasso, pelo simples fato - admitido por lideranças municipais do partido - de que a militância petista, habituada às "discussões de base", tem grande dificuldade para aceitar o fato de que foi marginalizada no processo em curso. Inclusive porque a intervenção autoritária de Lula foi feita em prejuízo da forte liderança de Marta na periferia da cidade, onde o PT tem seus redutos mais importantes. Diante do argumento de que, se conseguiu persuadir o partido a aceitar Dilma, Lula também logrará viabilizar Haddad, lideranças petistas inconformadas com a situação ponderam que o ex-presidente teve o tempo a seu favor, três anos para "trabalhar", diuturnamente, dentro e fora do partido, a imagem daquela que viria a ser sua sucessora. Agora, corre- se contra o relógio.
Nessas circunstâncias, Marta Suplicy, como é de esperar de seu temperamento voluntarioso, dificilmente se disporá a prestar ao chefão a vassalagem que Haddad não se constrangeu de praticar quando, criticando- a veladamente pela ausência no evento partidário, afirmou que "quem não compareceu" perdeu a oportunidade de "estar com a militância do PT e, sobretudo, com o presidente Lula". Fica fácil de entender por que a ex-prefeita preferiu não dar o ar de sua graça.
Da mesma forma perdeu uma oportunidade para ficar calado Edinho Silva, que em entrevista ao Estado (4/6), chamou Marta de "mulher inteligentíssima, extremamente capaz"; garantiu que o PT nunca abrirá mão "da participação (dela) por tudo o que ela representa"; classificou-a como "uma liderança de primeira grandeza" e "a melhor prefeita da cidade de São Paulo". Só não explicou por que, diante de tantas e tão exuberantes qualificações, o PT preferiu optar pelo "novo", representado por uma figura sem a menor expressão eleitoral e tradição de liderança partidária, cuja passagem pelo Ministério da Educação foi pontilhada por polêmicas e lambanças.
É possível que daqui a quatro meses a cúpula petista tenha que se dedicar ao doloroso exercício de descobrir - ou admitir - onde errou no pleito paulistano. Mas, para Edinho Silva, no momento está claro que quem erra é Marta: "Poucas vezes na minha vida dentro do PT vi uma liderança política cometer erros tão graves do ponto de vista da formulação política". E explorou o discurso do faça- o-que-digo- não-o-que-faço: "O PT representa um projeto coletivo. (...) Esse projeto é construído desde as nossas lideranças de maior grandeza até os militantes de base, que estão lá no diretório zonal defendendo a bandeira do PT. Evidente que a Marta faz muita falta nesse processo. (...) Se ela entrar, a candidatura do Haddad ganha outra musculatura. Mas se ela infelizmente não entrar, por mais que fiquemos sentidos, vamos buscar a superação dissona força do projeto coletivo". Estranho esse projeto coletivo, que se resume à vontade intransigente de um homem.
Incertezas no setor de petróleo - ADRIANO PIRES
O ESTADÃO - 06/06
O segmento de exploração e produção de petróleo no Brasil experimentou um período de grande prosperidade ao longo do processo de abertura iniciado no final da década de 1990. Sob o modelo de concessão, foram realizadas dez rodadas de licitação, atraindo investimentos de gigantes internacionais como Shell, BG,Repsol e BP,fortalecendo através de parcerias a Petrobrás e possibilitando a criação de empresas privadas nacionais como a OGX, QGEP e HRT. As reservas provadas saltaram de 7,1 bilhões de barris para 14,2 bilhões de barris, enquanto a produção se elevou em 150% no período entre 1997/2011.
Com o anúncio da descoberta das reservas do pré- sal,o governo decidiu mudar o marco regulatório e, desde então, criou-se uma atmosfera de incertezas que vem paralisando a expansão do segmento de exploração e produção, o único que obteve sucesso com o modelo de abertura. A própria Petrobrás tem causado uma grande frustração no mercado, pelo fato de não vir cumprindo as suas metas de produção de petróleo.
A primeira grande incerteza trazida pelo novo marco regulatório foi a desestabilização do pacto federativo, criada a partir da emenda que propôs a redistribuição das receitas dos royalties do petróleo entre os Estados e municípios produtores e não produtores.Ao acabar com a participação especial,a nova regulação reduziu o montante de recursos a ser distribuído e ainda mexeu no passado aumentando a participação dos Estados e municípios não produtores. O impasse não se resolveu até agora.A presidente Dilma, recentemente, recebeu vaias na reunião com cerca de 3.500 prefeitos quando mencionou a questão dos royalties ao dizer: "Não acreditem que vocês conseguirão resolver a distribuição de hoje para trás.Lutem pela distribuição de hoje para a frente".
A segunda incerteza é o fato de a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) não realizar leilões desde 2008.Isso reduz a área em exploração,impede a descoberta de novas reservas e freia o crescimento da produção. Ao não realizar novos leilões, a União abre mão de receitas. Estima-se que a perda com bônus de assinatura seja de US$ 15 bilhões anuais, totalizando US$ 60 bilhões em quatro anos.
Outras questões regulatórias contribuem para aumentar as incertezas: a exigência de um porcentual mínimo de conteúdo local sem que a indústria nacional esteja preparada para atender à demanda,além da dúvida sobre a continuidade do Repetro, que permite a importação de equipamentos específicos, para serem utilizados diretamente nas atividades de pesquisa e lavra das jazidas de petróleo e gás natural, sem a incidência dos tributos federais (IPI, PIS e Cofins).
De fato, a indústria do petróleo tem grande capacidade de adaptação, operando nos ambientes mais adversos. No entanto,não são as novas regras a principal causa do afastamento dos investimentos das petroleiras, e, sim, as incertezas. Não saber se haverá nova rodada de licitação ou quando será realizada,se o pré-sal será licitado ou não, se há ou não os benefícios do Repetro impede o planejamento e retira o apetite das empresas em relação ao Brasil.
É importante ressaltar que as atenções da indústria do petróleo não estão mais exclusivamente voltadas para o Brasil, como ocorria no momento do anúncio do pré-sal. Hoje, existem outras alternativas de investimento em petróleo e gás, tanto em reservas convencionais, como os campos de Angola, da Colômbia e do Golfo do México, quanto na extração de gás e petróleo não convencionais nos EUA e no Canadá.
A produção canadense nas areias betuminosas (oil sands) aumentou 50% nos últimos 10 anos, chegando a 1,5 milhão de barris/dia com previsão de chegar a 3 milhões barris/dia em 2020. Já a produção de shale gas nos EUA,que era insignificante até 2005,vem aumentando muito desde então, sendo hoje responsável por 23% da produção americana de gás natural. Nos próximos 20 anos, deve alcançar 50% do total devido às reservas tecnicamente recuperáveis de 93 bilhões de barris equivalentes do petróleo.
O segmento de exploração e produção de petróleo no Brasil experimentou um período de grande prosperidade ao longo do processo de abertura iniciado no final da década de 1990. Sob o modelo de concessão, foram realizadas dez rodadas de licitação, atraindo investimentos de gigantes internacionais como Shell, BG,Repsol e BP,fortalecendo através de parcerias a Petrobrás e possibilitando a criação de empresas privadas nacionais como a OGX, QGEP e HRT. As reservas provadas saltaram de 7,1 bilhões de barris para 14,2 bilhões de barris, enquanto a produção se elevou em 150% no período entre 1997/2011.
Com o anúncio da descoberta das reservas do pré- sal,o governo decidiu mudar o marco regulatório e, desde então, criou-se uma atmosfera de incertezas que vem paralisando a expansão do segmento de exploração e produção, o único que obteve sucesso com o modelo de abertura. A própria Petrobrás tem causado uma grande frustração no mercado, pelo fato de não vir cumprindo as suas metas de produção de petróleo.
A primeira grande incerteza trazida pelo novo marco regulatório foi a desestabilização do pacto federativo, criada a partir da emenda que propôs a redistribuição das receitas dos royalties do petróleo entre os Estados e municípios produtores e não produtores.Ao acabar com a participação especial,a nova regulação reduziu o montante de recursos a ser distribuído e ainda mexeu no passado aumentando a participação dos Estados e municípios não produtores. O impasse não se resolveu até agora.A presidente Dilma, recentemente, recebeu vaias na reunião com cerca de 3.500 prefeitos quando mencionou a questão dos royalties ao dizer: "Não acreditem que vocês conseguirão resolver a distribuição de hoje para trás.Lutem pela distribuição de hoje para a frente".
A segunda incerteza é o fato de a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) não realizar leilões desde 2008.Isso reduz a área em exploração,impede a descoberta de novas reservas e freia o crescimento da produção. Ao não realizar novos leilões, a União abre mão de receitas. Estima-se que a perda com bônus de assinatura seja de US$ 15 bilhões anuais, totalizando US$ 60 bilhões em quatro anos.
Outras questões regulatórias contribuem para aumentar as incertezas: a exigência de um porcentual mínimo de conteúdo local sem que a indústria nacional esteja preparada para atender à demanda,além da dúvida sobre a continuidade do Repetro, que permite a importação de equipamentos específicos, para serem utilizados diretamente nas atividades de pesquisa e lavra das jazidas de petróleo e gás natural, sem a incidência dos tributos federais (IPI, PIS e Cofins).
De fato, a indústria do petróleo tem grande capacidade de adaptação, operando nos ambientes mais adversos. No entanto,não são as novas regras a principal causa do afastamento dos investimentos das petroleiras, e, sim, as incertezas. Não saber se haverá nova rodada de licitação ou quando será realizada,se o pré-sal será licitado ou não, se há ou não os benefícios do Repetro impede o planejamento e retira o apetite das empresas em relação ao Brasil.
É importante ressaltar que as atenções da indústria do petróleo não estão mais exclusivamente voltadas para o Brasil, como ocorria no momento do anúncio do pré-sal. Hoje, existem outras alternativas de investimento em petróleo e gás, tanto em reservas convencionais, como os campos de Angola, da Colômbia e do Golfo do México, quanto na extração de gás e petróleo não convencionais nos EUA e no Canadá.
A produção canadense nas areias betuminosas (oil sands) aumentou 50% nos últimos 10 anos, chegando a 1,5 milhão de barris/dia com previsão de chegar a 3 milhões barris/dia em 2020. Já a produção de shale gas nos EUA,que era insignificante até 2005,vem aumentando muito desde então, sendo hoje responsável por 23% da produção americana de gás natural. Nos próximos 20 anos, deve alcançar 50% do total devido às reservas tecnicamente recuperáveis de 93 bilhões de barris equivalentes do petróleo.
A importância que o mensalão merece - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 06/06
Não importam os veredictos, o julgamento tem de começar logo
Diante da proverbial lentidão da Justiça brasileira, deve-se considerar um feito os cinco anos de tramitação do processo do mensalão no Supremo. Poderia ter sido em prazo mais curto, para evitar prescrições de crimes — sempre lamentáveis quando se trata de um país em que um dos fatores mais eficazes no incentivo à delinquência é a impunidade. Mas, se levarmos em conta o número de réus (38, no final) e as vastas possibilidades de chicanas advocatícias permitidas por uma legislação ainda arcaica, apesar dos avanços nos últimos tempos, este tempo é razoável e reflete a dedicação com que o caso vem sendo tratado até aqui na Corte.
Para isso, houve providências adequadas tomadas pelo relator, ministro Joaquim Barbosa, como mobilizar juízes federais para ouvir réus e as incontáveis testemunhas listadas por eles e o Ministério Público. Outra decisão acertada de Barbosa foi, tão logo concluiu o voto, tê-lo colocado à disposição, em forma digital, para que todos, em especial demais ministros e principalmente o ministro responsável pela revisão do voto, Ricardo Lewandowski, pudessem começar a trabalhar.
Agora, na reta final para o agendamento do início do julgamento, há uma contaminação política indesejável do caso, devido à tentativa de interferência do ex-presidente Lula no processo, numa conversa com o ministro Gilmar Mendes, testemunhada por outro ex-presidente do STF, Nelson Jobim, reunião que jamais deveria ter acontecido.
Já existe eletricidade estática no ar demais em torno desse julgamento, em função de nomes que estarão no banco dos réus e pela proximidade da eleição municipal — o que não justifica qualquer adiantamento, como desejaria Lula, segundo Gilmar Mendes. A atrapalhada reunião dos três veio aumentar ainda mais os ruídos desnecessários no caso.
Não importa se é para condenar ou absolver. O processo precisa ser julgado o mais rapidamente possível, pela importância
que tem para o quadro político e até do ponto de vista institucional.
O presidente do STF, Ayres Britto, preocupado em liquidar logo o assunto, propôs, sem êxito, um regime de marcha batida para o julgamento: sessões diárias, pela manhã e à tarde. Não teve êxito. O próprio ministro Joaquim Barbosa, com seus conhecidos problemas de coluna, lembrou que não aguentaria jornadas duplas. Britto também não conseguiu convencer a Corte a usar o recesso de julho para ganhar tempo. Esbarrou em compromissos pessoais de ministros durante as férias.
Pelo menos por enquanto, ficou acertado dedicar ao mensalão sessões nas tardes de segundas, quartas e quintas. Pode ser, então, que os veredictos saiam na época da eleição, no início de outubro. Que seja. Mas, para o relógio do julgamento ser acionado, Lewandowski precisa entregar a revisão, prometida para antes do final do mês.
O cuidado da Justiça deve ser apenas levar a bom termo um julgamento histórico. Ministros não desejam conceder ao caso um tratamento de excepcionalidade, daí também por que não aprovaram alterações substanciais na rotina da Corte. Porém, é impossível diminuir a magnitude do processo.
Não importam os veredictos, o julgamento tem de começar logo
Diante da proverbial lentidão da Justiça brasileira, deve-se considerar um feito os cinco anos de tramitação do processo do mensalão no Supremo. Poderia ter sido em prazo mais curto, para evitar prescrições de crimes — sempre lamentáveis quando se trata de um país em que um dos fatores mais eficazes no incentivo à delinquência é a impunidade. Mas, se levarmos em conta o número de réus (38, no final) e as vastas possibilidades de chicanas advocatícias permitidas por uma legislação ainda arcaica, apesar dos avanços nos últimos tempos, este tempo é razoável e reflete a dedicação com que o caso vem sendo tratado até aqui na Corte.
Para isso, houve providências adequadas tomadas pelo relator, ministro Joaquim Barbosa, como mobilizar juízes federais para ouvir réus e as incontáveis testemunhas listadas por eles e o Ministério Público. Outra decisão acertada de Barbosa foi, tão logo concluiu o voto, tê-lo colocado à disposição, em forma digital, para que todos, em especial demais ministros e principalmente o ministro responsável pela revisão do voto, Ricardo Lewandowski, pudessem começar a trabalhar.
Agora, na reta final para o agendamento do início do julgamento, há uma contaminação política indesejável do caso, devido à tentativa de interferência do ex-presidente Lula no processo, numa conversa com o ministro Gilmar Mendes, testemunhada por outro ex-presidente do STF, Nelson Jobim, reunião que jamais deveria ter acontecido.
Já existe eletricidade estática no ar demais em torno desse julgamento, em função de nomes que estarão no banco dos réus e pela proximidade da eleição municipal — o que não justifica qualquer adiantamento, como desejaria Lula, segundo Gilmar Mendes. A atrapalhada reunião dos três veio aumentar ainda mais os ruídos desnecessários no caso.
Não importa se é para condenar ou absolver. O processo precisa ser julgado o mais rapidamente possível, pela importância
que tem para o quadro político e até do ponto de vista institucional.
O presidente do STF, Ayres Britto, preocupado em liquidar logo o assunto, propôs, sem êxito, um regime de marcha batida para o julgamento: sessões diárias, pela manhã e à tarde. Não teve êxito. O próprio ministro Joaquim Barbosa, com seus conhecidos problemas de coluna, lembrou que não aguentaria jornadas duplas. Britto também não conseguiu convencer a Corte a usar o recesso de julho para ganhar tempo. Esbarrou em compromissos pessoais de ministros durante as férias.
Pelo menos por enquanto, ficou acertado dedicar ao mensalão sessões nas tardes de segundas, quartas e quintas. Pode ser, então, que os veredictos saiam na época da eleição, no início de outubro. Que seja. Mas, para o relógio do julgamento ser acionado, Lewandowski precisa entregar a revisão, prometida para antes do final do mês.
O cuidado da Justiça deve ser apenas levar a bom termo um julgamento histórico. Ministros não desejam conceder ao caso um tratamento de excepcionalidade, daí também por que não aprovaram alterações substanciais na rotina da Corte. Porém, é impossível diminuir a magnitude do processo.
PEDIDO ESPECIAL - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 06/06
O chanceler Antonio Patriota recebe hoje representantes da comunidade judaica. Eles viajam a Brasília para protestar contra a possibilidade de Dilma Rousseff receber o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad em encontro bilateral na Rio+20. No governo do ex-presidente Lula, houve protesto semelhante -em vão.
PEDIDO ESPECIAL 2
Os iranianos já solicitaram formalmente um encontro com a presidente. O Itamaraty informa que vários pedidos semelhantes foram feitos (119 chefes de Estado vêm ao Brasil). Mas que nenhum ainda foi confirmado.
POR PERTO
E Patriota marcou para 10 de julho encontro das comunidades árabe e judaica. Quer ressaltar a convivência harmoniosa entre elas no país. Claudio Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil, que lidera hoje a visita a Brasília, deverá conversar também sobre o evento com o chanceler.
TÔ CHEGANDO
Dos presidentes de países da América do Sul, só Hugo Chávez, da Venezuela, ainda não confirmou presença. Mas a representação diplomática do país em Brasília já informou que ele "antecipa com entusiasmo" a possibilidade de desembarcar no Rio. Espera o ok de seus médicos.
NA LUA
Até anteontem, Fernando Cavendish, dono da Delta, não tinha percebido a urgência de a empreiteira entrar com pedido de recuperação judicial. "Tem outra solução?", perguntou a executivos e advogados.
NO CHÃO
Cavendish foi avisado de que, sem a recuperação, a empresa quebra até o fim do mês. Com ela, dificilmente ele conseguirá manter o patrimônio. O grupo terá que se desfazer de vários ativos para pagar credores.
SOMA ZERO
Na petição à Justiça, a Delta diz que, sem o fôlego da medida, seu rombo em dezembro chegará a R$ 470 milhões. Com o escândalo Cachoeira, credores declararam vencimento antecipado de dívida de R$ 566 milhões. E os devedores deixaram de pagar R$ 796 milhões que a empresa diz ter a receber.
SOB NOVA DIREÇÃO?
A CPI do Belas Artes começa hoje a aprovar os nomes que serão convocados para discutir o tombamento do espaço onde funcionou o cinema até 2011. Um dos caminhos estudados é que o governo desaproprie o imóvel. A administração, nesse caso, não iria automaticamente para o antigo sócio, André Sturm. Seria escolhida por convênio ou licitação.
CONVOCAÇÃO
A CPI busca uma saída para o veto de órgãos municipais ao tombamento do endereço. Deve chamar à discussão antigo e novo donos do lugar e secretarias da Cultura estadual e municipal.
VOZ DE MULHER
Graça Foster, presidente da Petrobras, a atriz Mariana Ximenes, a cantora Daniela Mercury e empresárias e executivas como Sonia Hess, da Dudalina, e Christine Borgoltz, relações-públicas da Cartier, participaram anteontem do coquetel de abertura do Women's Forum Brazil, no hotel Hyatt; o evento anual discute economia e sociedade do ponto de vista das mulheres.
CHEIAS DE CHARME
O show "A Voz da Mulher na Obra de Guilherme Arantes" reuniu 14 cantoras, anteontem, no Teatro Fecap. Entre elas, Marcia Castro, Adyel Silva, Daniela Procopio e Silvia Machete. O homenageado da noite e a modelo Ana Claudia Michels estavam na plateia. O espetáculo musical lançou a campanha "Apolônias do Bem", da ONG Turma do Bem, idealizada pelo dentista Fabio Bibancos.
DE NOVO
Mais um furto dentro da Casa Cor, no Jockey. O fotógrafo Maurício Piffer teve seu equipamento levado no dia 29 de maio. Sua mochila foi trocada por outra contendo folhetos e revistas. A Casa Cor afirma que imagens gravadas e periciadas serão encaminhadas às autoridades.
PARÁ NA PASSARELA
Ronaldo Fraga, que em dezembro declarou à coluna que "a moda acabou" e não participou da última SP Fashion Week, retorna à semana de moda na terça com o desfile "O Turista Aprendiz na Terra do Grão Pará". "O desfile deixou de ser o momento mais importante ao apresentar uma coleção. É só mais um momento. Vou apresentar essa coleção tranquilamente porque tive tempo. E me oxigena romper essa barreira do mercado, do industrial, com o Brasil do artesanal, do feito à mão."
CURTO-CIRCUITO
A comédia "Passional", baseada em conto de João do Rio, estreia hoje no teatro Augusta, às 21h. Classificação etária: 14 anos.
O projeto "Quintal do Pagodinho", de Zeca Pagodinho, ganhou disco de ouro e DVD de platina, com cerca de cem mil produtos vendidos no total.
A exposição "Sacralidade da Vida - Índios do Xingu e Médicos da Escola Paulista de Medicina" abre hoje, às 19h, no MuBE.
A pianista Vanessa Perez se apresenta hoje no Theatro São Pedro, às 21h, em prol de uma campanha de combate ao câncer de mama. Livre.
com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, LÍGIA MESQUITA e OLÍVIA FLORÊNCIA
Tempo esgotado - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 06/06
A estratégia da Europa de ganhar tempo para que os problemas do bloco sejam absorvidos pelo mercado financeiro não está dando certo. Com a Grécia, ainda poderia dar, mas não quando o país na alça de mira é a Espanha. A economia espanhola sozinha é duas vezes maior do que Grécia, Irlanda e Portugal somados. E ontem a Espanha pediu socorro. O ministro da Economia admitiu que as portas do mercado estão fechadas para o país.
A situação da Espanha é grave e, portanto, a da Europa. No fim de semana, a imprensa alemã passou a divulgar informações de planos do governo de Angela Merkel que vão além da receita habitual. Os remédios tradicionais não estão funcionando. Os economistas admitem que a situação é cada vez mais delicada.
- Tenho tido dificuldade de enxergar uma saída. O medo não é só pela saúde dos bancos espanhóis, mas também sobre se a Espanha vai continuar no euro. Os bancos estão arrastando o governo para a crise e o governo espanhol já tem déficit e dívida altos - diz José Júlio Senna, da MCM Consultores.
A Espanha vive os desdobramentos do estouro de uma crise imobiliária, e os bancos têm que fazer provisão de até 50% do valor desses ativos. A onda de desemprego torna ainda mais difícil manter o pagamento em dia. Se o governo espanhol tentar captar para capitalizar os bancos, estará assumindo que o sistema precisa de resgate. Se nada fizer, pode haver uma crise de confiança.
- Agora está impossível dizer o que vai acontecer. O problema espanhol não pode ser empurrado com a barriga. O FMI calcula que o sistema financeiro da Espanha precisaria de 250 bilhões a 300 bilhões para ser saneado - diz Monica de Bolle, da Galanto Consultoria.
A Irlanda aumentou drasticamente o endividamento público para apoiar seu sistema bancário que estava desmoronando. Monica acha que esse terá de ser o caminho da Espanha:
- Se a capitalização dos bancos for a conta-gotas não vai funcionar. O problema de capitalizar os bancos é que o problema é dinâmico. Um aporte hoje não significa que eles não precisarão de novos depósitos amanhã.
O país está num círculo vicioso: os preços dos imóveis caem e tornam a dívida mais cara que o valor do ativo; as pessoas perdem o emprego e param de pagar; os bancos entram em dificuldade; os preços dos imóveis caem mais. Diante da mesma situação, a Irlanda salvou os bancos, mas a um custo altíssimo: a dívida/PIB que havia sido derrubada de 90% para 25%, de 1994 até 2007, deu um salto para 110% do PIB.
Há fuga de capitais da Espanha. O Ibex, índice da bolsa de Madrid, recua 27% este ano e 40% em 12 meses. O sistema financeiro espanhol sofreu 31 bilhões em saques no mês de abril. No ano, 99 bilhões deixaram o país, com 66 bi apenas no mês de maio.
A Europa tem cerca de 100 bilhões no Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef). No início de julho, começa a funcionar o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), que irá incorporar o Feef e terá cerca de 500 bilhões. Mas esse mecanismo não pode emprestar para os bancos, apenas para os governos. A Espanha não quer pedir resgate porque isso submeteria o país à troica - o grupo de auditores do FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Ontem, no entanto, o ministro da Economia, Cristóbal Montoro, admitiu que "as portas do mercado estão fechadas para a Espanha". Isso significa que o país sozinho não poderá captar. É uma indicação de que pode vir a admitir ser resgatado pela Europa.
Enquanto isso, o rendimento dos títulos alemães continua em queda, num sinal de que os investidores consideram o país um porto seguro. Mas a divulgação de indicadores ruins da economia alemã levou a revista "Der Spiegel" a questionar a sustentabilidade do país num contexto de enfraquecimento dos vizinhos. A bolsa alemã acumula queda de 20% nos últimos três meses; a produção de automóveis caiu 17% em maio, na comparação com o mesmo mês de 2011; e as exportações recuaram 13%, na mesma comparação.
- Existe uma dependência forte da Alemanha em relação à Zona do Euro. Boa parte do superávit alemão foi construído a partir de déficits de seus parceiros. Quando o déficit é revertido, a Alemanha passa a perder o seu principal motor de expansão - explicou o economista-chefe da Tov corretora, Pedro Paulo Silveira.
Na tentativa de se preparar para o imprevisível, o banco Morgan Stanley traçou quatro cenários para a Zona do Euro. O primeiro é de aprofundamento fiscal e político na região, que seria o ideal para solucionar a crise, mas também é o mais difícil de acontecer. O segundo é o mais provável, segundo o banco, de continuação do quadro atual, com os governos fazendo reformas isoladas e apagando incêndios de crise. O terceiro reforça a união fiscal, mas não combate as desigualdades entre países que usam a mesma moeda. O quarto é o pior, de fracasso no combate à crise e ruptura da Zona do Euro.
O mês de junho apenas começou e a agenda na Europa será intensa. Há eleições parlamentares na França, que podem deixar o país politicamente dividido. Na Grécia, haverá uma nova tentativa para a formação de governo. Na Espanha, testes de estresse serão feitos para medir a solvência dos bancos. São eventos com enorme capacidade de causar turbulência nos mercados.
A situação da Espanha é grave e, portanto, a da Europa. No fim de semana, a imprensa alemã passou a divulgar informações de planos do governo de Angela Merkel que vão além da receita habitual. Os remédios tradicionais não estão funcionando. Os economistas admitem que a situação é cada vez mais delicada.
- Tenho tido dificuldade de enxergar uma saída. O medo não é só pela saúde dos bancos espanhóis, mas também sobre se a Espanha vai continuar no euro. Os bancos estão arrastando o governo para a crise e o governo espanhol já tem déficit e dívida altos - diz José Júlio Senna, da MCM Consultores.
A Espanha vive os desdobramentos do estouro de uma crise imobiliária, e os bancos têm que fazer provisão de até 50% do valor desses ativos. A onda de desemprego torna ainda mais difícil manter o pagamento em dia. Se o governo espanhol tentar captar para capitalizar os bancos, estará assumindo que o sistema precisa de resgate. Se nada fizer, pode haver uma crise de confiança.
- Agora está impossível dizer o que vai acontecer. O problema espanhol não pode ser empurrado com a barriga. O FMI calcula que o sistema financeiro da Espanha precisaria de 250 bilhões a 300 bilhões para ser saneado - diz Monica de Bolle, da Galanto Consultoria.
A Irlanda aumentou drasticamente o endividamento público para apoiar seu sistema bancário que estava desmoronando. Monica acha que esse terá de ser o caminho da Espanha:
- Se a capitalização dos bancos for a conta-gotas não vai funcionar. O problema de capitalizar os bancos é que o problema é dinâmico. Um aporte hoje não significa que eles não precisarão de novos depósitos amanhã.
O país está num círculo vicioso: os preços dos imóveis caem e tornam a dívida mais cara que o valor do ativo; as pessoas perdem o emprego e param de pagar; os bancos entram em dificuldade; os preços dos imóveis caem mais. Diante da mesma situação, a Irlanda salvou os bancos, mas a um custo altíssimo: a dívida/PIB que havia sido derrubada de 90% para 25%, de 1994 até 2007, deu um salto para 110% do PIB.
Há fuga de capitais da Espanha. O Ibex, índice da bolsa de Madrid, recua 27% este ano e 40% em 12 meses. O sistema financeiro espanhol sofreu 31 bilhões em saques no mês de abril. No ano, 99 bilhões deixaram o país, com 66 bi apenas no mês de maio.
A Europa tem cerca de 100 bilhões no Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef). No início de julho, começa a funcionar o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), que irá incorporar o Feef e terá cerca de 500 bilhões. Mas esse mecanismo não pode emprestar para os bancos, apenas para os governos. A Espanha não quer pedir resgate porque isso submeteria o país à troica - o grupo de auditores do FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Ontem, no entanto, o ministro da Economia, Cristóbal Montoro, admitiu que "as portas do mercado estão fechadas para a Espanha". Isso significa que o país sozinho não poderá captar. É uma indicação de que pode vir a admitir ser resgatado pela Europa.
Enquanto isso, o rendimento dos títulos alemães continua em queda, num sinal de que os investidores consideram o país um porto seguro. Mas a divulgação de indicadores ruins da economia alemã levou a revista "Der Spiegel" a questionar a sustentabilidade do país num contexto de enfraquecimento dos vizinhos. A bolsa alemã acumula queda de 20% nos últimos três meses; a produção de automóveis caiu 17% em maio, na comparação com o mesmo mês de 2011; e as exportações recuaram 13%, na mesma comparação.
- Existe uma dependência forte da Alemanha em relação à Zona do Euro. Boa parte do superávit alemão foi construído a partir de déficits de seus parceiros. Quando o déficit é revertido, a Alemanha passa a perder o seu principal motor de expansão - explicou o economista-chefe da Tov corretora, Pedro Paulo Silveira.
Na tentativa de se preparar para o imprevisível, o banco Morgan Stanley traçou quatro cenários para a Zona do Euro. O primeiro é de aprofundamento fiscal e político na região, que seria o ideal para solucionar a crise, mas também é o mais difícil de acontecer. O segundo é o mais provável, segundo o banco, de continuação do quadro atual, com os governos fazendo reformas isoladas e apagando incêndios de crise. O terceiro reforça a união fiscal, mas não combate as desigualdades entre países que usam a mesma moeda. O quarto é o pior, de fracasso no combate à crise e ruptura da Zona do Euro.
O mês de junho apenas começou e a agenda na Europa será intensa. Há eleições parlamentares na França, que podem deixar o país politicamente dividido. Na Grécia, haverá uma nova tentativa para a formação de governo. Na Espanha, testes de estresse serão feitos para medir a solvência dos bancos. São eventos com enorme capacidade de causar turbulência nos mercados.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 06/06
Empresa testa gás como combustível de caminhões de lixo em SP e RS
A Vega Engenharia Ambiental começa a desenvolver em julho novos testes para que caminhões movidos a gás natural veicular (GNV) atuem na limpeza de São Bernardo do Campo e Porto Alegre.
Os veículos, da montadora Iveco, serão um modelo europeu com motor próprio para esse combustível.
Até o ano passado, a Vega testou caminhões a diesel que eram adaptados a GNV.
"Essa ideia não deu certo devido à manutenção. Nosso sistema de trabalho exige uma rotação muito alta do motor para comprimir o lixo", diz o presidente da empresa, Carlos Alberto Almeida Júnior.
Os testes, que durarão seis meses, vão analisar também o mercado de abastecimento.
"Diesel é fácil de abastecer. Para gás, o processo de abertura de um posto próprio é complexo. Usar GNV acaba sendo um pouco mais caro, mas é importante para o futuro, com menos poluição."
Hoje a oferta de gás natural no Brasil é de 85 milhões de m3 por dia. Em 2020, esse número chegará a 200 milhões de m3, segundo a Gás Energy. "O Brasil não tem um plano para esse gás", afirma o diretor-presidente da consultoria, Douglas Abreu.
Com a dificuldade operacional para exportação, produtores pretendem usar o gás no mercado interno, diz o presidente do conselho da consultoria, Marco Tavares.
"Os veículos pesados são uma alternativa. Se 20% dos ônibus de São Paulo e Rio fizessem isso, já seriam 5 milhões de m3 de consumo."
DISTRIBUIÇÃO ELETRÔNICA
Pouco mais de dois meses depois de inaugurar um centro de distribuição em Cajamar (SP), a Sony Brasil já estuda abrir uma nova unidade no ano que vem.
A filial estará localizada na região Sul ou na Nordeste, segundo o gerente da companhia Carlos Paschoal.
"Precisamos de uma nova malha de distribuição no Nordeste, onde atendemos 80% das lojas", afirma.
"No Sul, porém, também há necessidade de atender melhor os varejistas, que estão inclusive contribuindo para a realização do estudo."
A decisão deve sair em setembro ou outubro.
O investimento no novo centro de distribuição não está incluído no plano divulgado pela companhia, que prevê aporte de R$ 500 milhões no Brasil até 2014.
LIXO ENERGÉTICO
Além dos testes de GNV em caminhões, a Vega investirá R$ 50 milhões para construir uma termoelétrica no Rio Grande do Sul.
A ideia é gerar energia com o biogás produzido nos aterros de lixo da empresa.
"Nossa expectativa é começar a produzir energia em um ano", afirma o presidente da Vega, Carlos Júnior.
Na Bahia, a empresa tem um projeto semelhante que gera 14 MW por hora.
A companhia também atua na Bolívia, onde pretende usar 30 caminhões movidos a GNV, e no Peru, em cinco cidades.
NÚMEROS
R$ 200 milhões foram investidos pela companhia em 2011
3,3 milhões de toneladas de resíduos são coletados por ano
MOTOQUEIRO NA ONDA
Parte da produção da fábrica da Honda Motos, em Manaus, começou a ser transportada por meio de navios de cabotagem.
O restante permanece por outros modais, como o rodoviário. A empresa estuda expandir esta modalidade de transporte para outros modelos produzidos no Amazonas.
Com a adoção do transporte, deixam de ser lançadas no ambiente cerca de 1,6 milhão de toneladas de CO2 por ano, segundo a empresa.
*Viajante...* Cresceu o uso de cartão pré-pago para compras e saques no exterior. Em 2011, a carga média registrada pelo Itaú no cartão foi de U$ 2.500. As compras são realizadas principalmente para vestuário, eletrônicos, tecnologia, hospedagem e restaurantes, segundo o banco.
...consumista Aproximadamente 64% dos gastos no cartão são feitos em dólar, seguido pelo euro (30%) e pela libra (6%), de acordo com Rose Del Col, vice-presidente das Américas para produtos pré-pagos da emissora American Express.
CRESCIMENTO FINANCIADO
A principal escolha de empresas brasileiras para financiar expansão nos próximos anos são bancos, segundo 62% dos executivos ouvidos em estudo da Grant Thornton com 11,5 mil empresas no mundo.
Uso de lucros (36%) e investimento de private equity (30%) também são citados.
Os IPOs são opção de 4%.
"O mercado está inseguro. As aberturas recentes mostram os preços caindo", diz Madeleine Blankenstein, sócia da Grant Thornton Brasil.
NÚMEROS
US$ 2.500 é a carga média registrada por cartão pré-pago
64% do total dos gastos feitos com os cartões são em dólar
30% é o volume de transações realizadas em euros
6% dos gastos são em libras
REAJUSTE
O salário dos profissionais de contabilidade e finanças no Brasil deve aumentar nos próximos 12 meses.
Pesquisa da empresa de recrutamento Robert Half mostra que 64% dos diretores financeiros acreditam no incremento. O número só não é maior que o da China, onde 77% esperam alta.
Entre os brasileiros ouvidos, 29% dizem que a expansão salarial ficará entre 9% e 10%. Foram entrevistadas 2.528 pessoas em 19 países.