O GLOBO - 31/05
O governo Cabral divulga hoje o relatório final de um estudo, apoiado pelo BID, com 700 jovens de 15 a 29 anos de favelas pacificadas. A principal fonte de renda de 54% são bicos feitos dentro da própria comunidade. Além disso, 45%, simplesmente, não trabalham.
Segue...
Veja que surpreendente: 42% dos jovens estudam ou estudaram em escolas da rede privada.
Bolsa Miami
A poderosa secretária de Segurança Interna dos EUA, Janet Napolitano, deve vir ao Brasil em julho assinar um acordo de facilitação de comércio e fluxo de viajantes entre os dois países. É mais um passo para o fim da exigência de visto.
Cuba libre
O cordão dos brasileiros solidários ao regime cubano já foi maior. Sei não. A 20+ Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, em Salvador, entre os dias 24 e 27 últimos, reuniu cerca de... 300 pessoas. No fim, o pessoal aprovou a Carta de Salvador, em que exalta a ditadura na ilha e pede liberdade para cinco cubanos presos por espionagem nos EUA.
No mais
Depois de tudo que ocorreu, com a palavra o ministro Ricardo Lewandowski.
Jesus salva
Depois de Anderson Silva, agora é Vítor Belfort quem lançará, em julho, um livro de memórias, pela Thomas Nelson Brasil. Nele, conta que superou dificuldades graças a seu mentor espiritual, o missionário evangélico americano Dan Duke.
O MÉIER, QUERIDO bairro do subúrbio do Rio, vai ganhar uma... parede da fama. Veja estas placas. São autógrafos, em cimento, de grandes artistas que se apresentaram na antiga casa de espetáculos Imperator. Nas obras para a reabertura (dia 12 agora) do velho espaço de shows, transformado pela prefeitura em Centro Cultural João Nogueira, as placas foram encontradas e recuperadas. Vão ficar numa parede do salão de entrada
Este papo voltou
Com a crise mundial batendo à porta do Brasil, cresce no governo, contra a opinião de Guido Mantega, a pressão para afrouxar a meta de superávit primário. Isto é: um naco da grana guardada para pagar os juros da dívida serviria para levantar o PIB.
Segue...
De janeiro a abril, este superávit somou R$ 45 bilhões, 46% da meta estipulada para 2012.
Saliência premiada
O romance “O senhor do lado esquerdo”, de Alberto Mussa (Record), que mistura crime e erotismo no Rio dos anos 1920, ganhou o prêmio da ABL de melhor livro de ficção de 2011. O júri foi formado por Ana Maria Machado, Nélida Piñon e João Ubaldo Ribeiro.
Culpa do cozinheiro
Quem tentou almoçar ontem no restaurante Cozinha de Anita, em Botafogo, no Rio, deu com este aviso na porta. O dono, invocado, avisou à freguesia que não ia servir almoço “pela falta irresponsável dos funcionários da cozinha”.
Mercado verde
Em tempo de Rio+20, a rede carioca de supermercados Zona Sul inicia agora em junho um sistema de sacolas retornáveis. O consumidor levará uma “ecobolsa” emprestada sem prazo para entrega. Mas um novo empréstimo só poderá ser feito se tiver devolvido a outra.
Filho de peixe
O presidente da Aktuell, agência que criou o slogan “Todos num só ritmo” para a Copa de 2014, Rodrigo Rivellino, é, como o sobrenome indica, filho do tricampeão mundial Roberto Rivellino.
Virou piada
Do bem-humorado desembargador Mário Santos Paulo, ontem, para os colegas da 4+ Câmara Cível do Rio:— Bem... Comunico a todos que o ministro Jobim me convidou para ir ao gabinete dele hoje à tarde, mas... eu não aceitei.
quinta-feira, maio 31, 2012
A onda da oposição - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 31/05
Com dificuldades de conquistar o eleitorado, a oposição por estes dias se agarra mais ao encontro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes do que ao atraso na execução das obras públicas ou mesmo à CPI que investiga as relações do contraventor Carlos Cachoeira. Isso porque, na visão de muitos, Lula extrapolou ao pedir a reunião com um ministro do Supremo que irá julgar o caso do mensalão dentro em breve.
Não por acaso, senadores como Aécio Neves (PSDB-MG), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e até Cristovam Buarque (PDT-DF) se revezaram ontem em pronunciamentos cobrando explicações de Lula. Jarbas chegou a dizer que não cabe mais a Gilmar falar sobre o tema. Ou seja, o recado está claro: “Agora é conosco”, leia-se a oposição.
A guinada dos oposicionistas tem um objetivo claro: Gilmar Mendes, na avaliação deles, integrante da mais alta Corte do país, não iria mentir ao falar de uma conversa com um ex-presidente da República. E, se ficar o dito pelo não dito — é importante frisar que Lula nega que tenha sido esse o teor da conversa —, o eleitor vai acreditar em quem quiser.
Mas alguns fatores devem ser levados em conta na hora de escolher um lado dessa história. Primeiro, são frequentes declarações de Lula sobre a necessidade de o PT vender a sua versão a respeito do que ficou conhecido como “mensalão”. Mostrar que isso não ocorreu, que houve apenas um caixa dois. Portanto, é plausível que uma conversa com Gilmar tenha ocorrido nos termos em que foi colocada pelo ministro do STF. Pelo menos, é por aí que a oposição guia suas declarações sobre o caso.
Por falar em guia...
A estratégia pode funcionar no sentido de desgastar a imagem do ex-presidente, mas, em termos eleitorais, os reflexos serão praticamente nulos. Isso porque nada disso envolve a presidente Dilma Rousseff, que não sofreu sequer um arranhão na CPI, muito menos em relação a Lula e o episódio do mensalão. Aliás, vale lembrar que ela virou candidata à Presidência da República justamente por não estar vinculada ao escândalo.
No caso da CPI, o máximo que se chegou até agora foi à convocação do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, e de Goiás, Marconi Perillo. Ou seja, PT e PSDB têm aí a sua quota de desgaste. E nada disso afeta Dilma.
Vale aqui um parêntese a respeito do governador do Rio, Sérgio Cabral, um peemedebista que trafega entre tucanos e petistas e ficou fora das investigações. Além de fazer a valer a mensagem que Cândido Vaccarezza enviou ao governador por celular dizendo que ficasse tranquilo, é sempre bom lembrar que não há nada ainda sobre as obras da Delta no Rio de Janeiro. O que está pendente em relação a Cabral é ele demonstrar o pagamento de suas viagens ao exterior para que não restem dúvidas, mas até a CPI chegar a esse ponto — e se chegar — muita água vai rolar sob a ponte. E nem cheiro de Dilma nessa história.
Quanto ao caso de Gilmar-Lula, Dilma não tem sequer um fio de cabelo. Portanto, mantidas as condições de temperatura e pressão sobre Lula, é bom Dilma se preparar para uma campanha pela reeleição. Afinal, entre os petistas já existe quem diga nos bastidores que Lula errou ao procurar Gilmar Mendes para conversar sobre qualquer assunto. E se foi sobre o mensalão, pior ainda. Vale lembrar que não é papel de um ex-presidente da República advogar em favor daqueles que afastou do seu governo à época por conta do escândalo.
Por falar em lembrar...
Em duas semanas, o ex-deputado Carlos Murilo Felício dos Santos (PSD-MG) lança o livro Momentos decisivos — contra o golpismo no Brasil. Carlos Murilo, primo de Juscelino Kubitschek que hospedava o ex-presidente em suas visitas secretas a Brasília no período da ditadura militar, conta passagens inéditas dos bastidores da história política do Brasil. A festa de lançamento será no Memorial JK, em 13 de junho, a partir das 19h30. Para quem gosta dos bastidores da política, especialmente, da história de Brasília, a obra, com prefácio do jornalista Mauro Santayana, é leitura obrigatória.
Mantidas as condições de temperatura e pressão sobre Lula, é bom Dilma se preparar para uma campanha pela reeleição
Coisas de doido - TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 31/05
A rapaziada está confusa! Afinal de contas, o cara que no futuro cultivar maconha para consumo próprio valendo-se das mudanças no Código Penal poderá ser multado com base no novo Código Florestal quando cismar de queimar toda a plantação numa social com amigos?
Por dúvida das vias, já tem maconheiro politicamente correto por aí - os da USP e do Posto 9 de Ipanema, em especial - reservando parte da gaveta onde pretende plantar sua ervinha particular para implementação das chamadas Áreas de Preservação Permanente (APPs) com pés de orégano, manjericão, alecrim e outras espécies nativas da horta.
Não deve ser fácil para quem fuma esse troço - ô, raça! - acompanhar o debate legislativo frenético em curso no Congresso, com todas essas questões discutidas simultaneamente ao bate-boca político em destaque no noticiário.
Se careta já é difícil entender, imagina chapado!
O suposto conflito de códigos aqui relatado não faz, evidentemente, qualquer sentido, mas também não parece nada tão absurdo de se imaginar quanto o último encontro entre Lula e Gilmar Mendes em Brasília. Acho que estamos todos ficando doidos!
Sorte de quem consegue esquecer, né não?
Meio a meioO Brasil está dividido: metade acha que o silêncio de Lula diz tudo; a outra metade pensa que isso não quer dizer nada. Dá até graças a Deus por ele estar calado!
Tem gente pra tudoO movimento "Mela Mensalão" denunciado pelo ministro Gilmar Mendes organiza na internet a primeira marcha de simpatizantes da ideia. Capaz de juntar mais gente do que a Marcha das Vadias da semana passada.
Preconceito de bêbadoOs cachaceiros - ô, raça! - estão em polvorosa! Não sabem explicar muito bem por que, mas desconfiam que a compra da Ypióca pelo fabricante multinacional do Johnnie Walker vai fazer mal à pinga. Os mais exaltados já falam em CPI da Ypióca.
Ah, tá! O Conselho de Direitos Humanos da ONU resolveu pedir o fim da Polícia Militar no Brasil. Depois reclama que ninguém lhe dá ouvidos!
Assim não dá! Não sei se você reparou, mas Gilmar Mendes gritou "pega ladrão" em Brasília e ninguém correu! Desse jeito fica difícil pegar os caras!
Nem é bom falarDemóstenes Torres lembrou bem no Conselho de Ética o verso de Ismael Silva "nem tudo que se diz se faz!" No caso do senador, inclusive, vice-versa!
Ninguém é perfeito
"WAGNER MOURA, PEDE PRA SAIR!"
Capitão Nascimento, ouvindo o tributo do ator a Renato Russo no bota-fora da Legião Urbana na MTV.
Bob espelhoLinda a homenagem que Bob Dylan prestou a Zé Bonitinho ao receber de Barack Obama a Medalha da Liberdade caracterizado como o famoso personagem do comediante Jorge Loredo!
A rapaziada está confusa! Afinal de contas, o cara que no futuro cultivar maconha para consumo próprio valendo-se das mudanças no Código Penal poderá ser multado com base no novo Código Florestal quando cismar de queimar toda a plantação numa social com amigos?
Por dúvida das vias, já tem maconheiro politicamente correto por aí - os da USP e do Posto 9 de Ipanema, em especial - reservando parte da gaveta onde pretende plantar sua ervinha particular para implementação das chamadas Áreas de Preservação Permanente (APPs) com pés de orégano, manjericão, alecrim e outras espécies nativas da horta.
Não deve ser fácil para quem fuma esse troço - ô, raça! - acompanhar o debate legislativo frenético em curso no Congresso, com todas essas questões discutidas simultaneamente ao bate-boca político em destaque no noticiário.
Se careta já é difícil entender, imagina chapado!
O suposto conflito de códigos aqui relatado não faz, evidentemente, qualquer sentido, mas também não parece nada tão absurdo de se imaginar quanto o último encontro entre Lula e Gilmar Mendes em Brasília. Acho que estamos todos ficando doidos!
Sorte de quem consegue esquecer, né não?
Meio a meioO Brasil está dividido: metade acha que o silêncio de Lula diz tudo; a outra metade pensa que isso não quer dizer nada. Dá até graças a Deus por ele estar calado!
Tem gente pra tudoO movimento "Mela Mensalão" denunciado pelo ministro Gilmar Mendes organiza na internet a primeira marcha de simpatizantes da ideia. Capaz de juntar mais gente do que a Marcha das Vadias da semana passada.
Preconceito de bêbadoOs cachaceiros - ô, raça! - estão em polvorosa! Não sabem explicar muito bem por que, mas desconfiam que a compra da Ypióca pelo fabricante multinacional do Johnnie Walker vai fazer mal à pinga. Os mais exaltados já falam em CPI da Ypióca.
Ah, tá! O Conselho de Direitos Humanos da ONU resolveu pedir o fim da Polícia Militar no Brasil. Depois reclama que ninguém lhe dá ouvidos!
Assim não dá! Não sei se você reparou, mas Gilmar Mendes gritou "pega ladrão" em Brasília e ninguém correu! Desse jeito fica difícil pegar os caras!
Nem é bom falarDemóstenes Torres lembrou bem no Conselho de Ética o verso de Ismael Silva "nem tudo que se diz se faz!" No caso do senador, inclusive, vice-versa!
Ninguém é perfeito
"WAGNER MOURA, PEDE PRA SAIR!"
Capitão Nascimento, ouvindo o tributo do ator a Renato Russo no bota-fora da Legião Urbana na MTV.
Bob espelhoLinda a homenagem que Bob Dylan prestou a Zé Bonitinho ao receber de Barack Obama a Medalha da Liberdade caracterizado como o famoso personagem do comediante Jorge Loredo!
Medo de cadeia - ROGÉRIO GENTILE
Folha de S. Paulo - 31/05
SÃO PAULO - O julgamento do mensalão assusta demais o PT e é isso que torna crível o relato de Gilmar Mendes sobre a tal pressão que Lula teria feito sobre o ministro do STF. É grande o risco de que algum figurão do partido saia algemado do Supremo Tribunal Federal.
José Dirceu, por exemplo, descrito na denúncia do procurador-geral "como integrante do núcleo central de uma complexa organização criminosa", é acusado por formação de quadrilha e corrupção passiva. Se for condenado, pode pegar vários anos de cadeia. Genoino, Delúbio e João Paulo podem ter o mesmo rumo.
Os próprios advogados dos réus já os alertaram sobre essa possibilidade. Qual o impacto de uma cena desse tipo na eleição de outubro, na imagem do PT e na do próprio Lula?
Preocupado, o ex-presidente mobilizou o partido em favor da CPI do caso Cachoeira. Imaginou que a investigação poderia desmoralizar os "autores da farsa do mensalão", como bem disse o presidente do PT, Rui Falcão, em vídeo do partido.
Até agora, no entanto, conseguiu apenas acirrar os ânimos e atrair mais holofotes para o julgamento. O mesmo efeito obteve com o tal encontro com Gilmar Mendes.
Pesa a favor de Lula a declaração de Nelson Jobim, que presenciou o encontro. O ex-ministro de Lula e ex-ministro do STF desmentiu Mendes, mas, dado o seu histórico, não é exatamente uma testemunha confiável.
Jobim, para quem não se lembra, fez parte de um dos episódios mais lamentáveis da história do Brasil quando, em 1988, participou de um acordo pelo qual foram incluídos no texto da Constituição artigos que não haviam sido votados.
De qualquer modo, tendo ou não havido pressão, o episódio esquentou ainda mais o clima. O julgamento do mensalão ganha cada vez mais ares de disputa política, com juízes pressionados e raivosos. E isso não é bom para ninguém. Mais do que o destino dos réus, está em jogo a credibilidade do Judiciário.
Parábolas italianas - CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP - 31/05
Evasão fiscal e trabalho informal são as reações da sociedade contra um Estado parasita e corrupto
ENTRE 12 e 20 de maio, Veneza hospedou a America's Cup -a competição dos catamarãs que são, hoje, a Fórmula 1 da navegação a vela. Houve regatas em mar aberto e outras na bacia de São Marcos.
Milhares de iates e barcos mais ou menos luxuosos se reuniram para assistir às regatas de perto, no meio do mar.
Mas quem fez mesmo a festa foi a polícia financeira italiana, que, ao longo da semana, parou e controlou mais de 1.400 embarcações, constatando irregularidades fiscais em 135. Um exemplo que repercutiu na imprensa local foi o de um barco de 14 metros (valendo R$ 350 mil), cujo dono, em sua última declaração de renda, dissera ganhar menos de R$ 15 mil por ano.
Como o atual governo considera que um dos grandes vícios italianos é a evasão fiscal, só resta celebrar a ação da polícia financeira.
No entanto, na semana de regatas, alguns venezianos mais humildes, donos de barcos pequenos (que aqui são o equivalente de um carro popular 1.0), arredondaram seu fim do mês alugando assentos a quem quisesse passar o dia no mar, no meio das competições.
A polícia financeira fez que não viu. Mas alguns desses venezianos, na hora do almoço, serviram a seus clientes um refrigerante e um sanduíche. Nesse caso, a polícia os parou e multou, por servirem bebidas e comida sem a necessária licença (como se tivessem aberto restaurantes flutuantes).
Outra parábola. O senhor Mário, meu vizinho, é incomodado pela presença crescente de trabalhadores clandestinos, sobretudo chineses, nos restaurantes e cafés de nossa rua. Ele suspeita que até alguns pequenos empreendedores sejam imigrantes ilegais.
Na hora em que saio para comprar o jornal, Mário está lá, na esquina, para comentar: "Você viu? No bar lá mais adiante, é uma família inteira...". Há, na sua inquietude, uma parte de xenofobia e há também uma preocupação com as consequências fiscais do trabalho clandestino: se ninguém paga as contribuições obrigatórias, de onde virá o dinheiro para as aposentadorias? Sem contar que os clandestinos aceitam salários de fome e estragam o mercado...
Mário gostaria de denunciar os clandestinos do bar perto de nossa casa. Pelas declarações do governo atual, ele seria assim um cidadão consciente, e não um dedo-duro. Note-se, aliás, que a Comissão da União Europeia critica o governo italiano por não estar fazendo tudo o que deveria para sair da crise e, especialmente, para acabar com a evasão fiscal e com a economia informal e clandestina.
Em contrapartida, eis outro fato de crônica local. Na semana passada, um vilarejo do Vêneto foi etapa do "Giro d'Italia". O bar ao lado da chegada da famosa competição do ciclismo mundial conheceria assim um de seus "grandes" dias; para esse dia, o casal que possui e administra o pequeno estabelecimento pediu ajuda a dois parentes próximos.
Pois bem, a polícia financeira multou o casal por ter usado trabalho informal e o obrigou a empregar formalmente os dois parentes por, no mínimo, um mês. O casal declarou falência e colocou o ponto à venda.
A primeira moral dessas histórias se aplica (em parte) ao Brasil: a Itália está perseguindo evasão fiscal e trabalho informal como se fossem os grandes responsáveis pela crise atual. A história é outra: que a gente ache isso edificante ou não, a evasão fiscal e o trabalho informal foram ingredientes cruciais da receita do crescimento italiano depois da Segunda Guerra, porque também foram as reações que a sociedade inventou contra um Estado gigantesco e, muitas vezes, parasita e corrupto.
Tratar a evasão fiscal e a informalidade como uma praga é ingênuo; tratá-los como a ÚNICA praga italiana significa proteger um Estado arcaico contra todas críticas e reformas possíveis.
O outro sentido dessas histórias é mais geral e diz que talvez regras e normas nunca mereçam ser absolutas. Mais um exemplo. No dia da final da America's Cup, domingo retrasado, não muito longe da bacia de São Marcos, enquanto os catamarãs competiam, dois corpos de pescadores profissionais boiavam na água.
Proibidos de pescar a menos de três milhas da costa e tendo perdido seu barco de pesca por causa de uma multa, sobrou aos dois, para tentar ganhar o pão para suas famílias, encarar o largo numa casca de noz.
Proibir a pesca perto da costa é certo e ecologicamente necessário. Mas, como disse antes, talvez as regras nunca mereçam ser absolutas.
Evasão fiscal e trabalho informal são as reações da sociedade contra um Estado parasita e corrupto
ENTRE 12 e 20 de maio, Veneza hospedou a America's Cup -a competição dos catamarãs que são, hoje, a Fórmula 1 da navegação a vela. Houve regatas em mar aberto e outras na bacia de São Marcos.
Milhares de iates e barcos mais ou menos luxuosos se reuniram para assistir às regatas de perto, no meio do mar.
Mas quem fez mesmo a festa foi a polícia financeira italiana, que, ao longo da semana, parou e controlou mais de 1.400 embarcações, constatando irregularidades fiscais em 135. Um exemplo que repercutiu na imprensa local foi o de um barco de 14 metros (valendo R$ 350 mil), cujo dono, em sua última declaração de renda, dissera ganhar menos de R$ 15 mil por ano.
Como o atual governo considera que um dos grandes vícios italianos é a evasão fiscal, só resta celebrar a ação da polícia financeira.
No entanto, na semana de regatas, alguns venezianos mais humildes, donos de barcos pequenos (que aqui são o equivalente de um carro popular 1.0), arredondaram seu fim do mês alugando assentos a quem quisesse passar o dia no mar, no meio das competições.
A polícia financeira fez que não viu. Mas alguns desses venezianos, na hora do almoço, serviram a seus clientes um refrigerante e um sanduíche. Nesse caso, a polícia os parou e multou, por servirem bebidas e comida sem a necessária licença (como se tivessem aberto restaurantes flutuantes).
Outra parábola. O senhor Mário, meu vizinho, é incomodado pela presença crescente de trabalhadores clandestinos, sobretudo chineses, nos restaurantes e cafés de nossa rua. Ele suspeita que até alguns pequenos empreendedores sejam imigrantes ilegais.
Na hora em que saio para comprar o jornal, Mário está lá, na esquina, para comentar: "Você viu? No bar lá mais adiante, é uma família inteira...". Há, na sua inquietude, uma parte de xenofobia e há também uma preocupação com as consequências fiscais do trabalho clandestino: se ninguém paga as contribuições obrigatórias, de onde virá o dinheiro para as aposentadorias? Sem contar que os clandestinos aceitam salários de fome e estragam o mercado...
Mário gostaria de denunciar os clandestinos do bar perto de nossa casa. Pelas declarações do governo atual, ele seria assim um cidadão consciente, e não um dedo-duro. Note-se, aliás, que a Comissão da União Europeia critica o governo italiano por não estar fazendo tudo o que deveria para sair da crise e, especialmente, para acabar com a evasão fiscal e com a economia informal e clandestina.
Em contrapartida, eis outro fato de crônica local. Na semana passada, um vilarejo do Vêneto foi etapa do "Giro d'Italia". O bar ao lado da chegada da famosa competição do ciclismo mundial conheceria assim um de seus "grandes" dias; para esse dia, o casal que possui e administra o pequeno estabelecimento pediu ajuda a dois parentes próximos.
Pois bem, a polícia financeira multou o casal por ter usado trabalho informal e o obrigou a empregar formalmente os dois parentes por, no mínimo, um mês. O casal declarou falência e colocou o ponto à venda.
A primeira moral dessas histórias se aplica (em parte) ao Brasil: a Itália está perseguindo evasão fiscal e trabalho informal como se fossem os grandes responsáveis pela crise atual. A história é outra: que a gente ache isso edificante ou não, a evasão fiscal e o trabalho informal foram ingredientes cruciais da receita do crescimento italiano depois da Segunda Guerra, porque também foram as reações que a sociedade inventou contra um Estado gigantesco e, muitas vezes, parasita e corrupto.
Tratar a evasão fiscal e a informalidade como uma praga é ingênuo; tratá-los como a ÚNICA praga italiana significa proteger um Estado arcaico contra todas críticas e reformas possíveis.
O outro sentido dessas histórias é mais geral e diz que talvez regras e normas nunca mereçam ser absolutas. Mais um exemplo. No dia da final da America's Cup, domingo retrasado, não muito longe da bacia de São Marcos, enquanto os catamarãs competiam, dois corpos de pescadores profissionais boiavam na água.
Proibidos de pescar a menos de três milhas da costa e tendo perdido seu barco de pesca por causa de uma multa, sobrou aos dois, para tentar ganhar o pão para suas famílias, encarar o largo numa casca de noz.
Proibir a pesca perto da costa é certo e ecologicamente necessário. Mas, como disse antes, talvez as regras nunca mereçam ser absolutas.
O crime do PGR - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 31/05
As razões do presidente Lula
Políticos experientes avaliam que o ex-presidente Lula gostou do vazamento de seu encontro com o ministro Gilmar Mendes (STF). Argumentam que Lula já sabia que não havia espaço para adiar o julgamento do mensalão. E que, diante disso, Lula precisava, como sustenta o próprio Gilmar, dessacralizar e fragilizar o STF. Ocorre que o julgamento do mensalão e as condenações serão transmitidas ao vivo pelas televisões. Isso tem potencial para provocar um grande prejuízo eleitoral para os candidatos petistas, especialmente junto aos setores médios, notadamente em São Paulo, onde Lula aposta tudo em Fernando Haddad.
"Vamos chamar o governador do Rio aqui porque ele colocou um guardanapo na cabeça e ficou dançando?” — Humberto
Costa, senador (PT-PE)
"NÓS É TEU!". Atendendo a apelo do governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) entrou em campo na CPI para que a convocação não fosse aprovada. Ele conversou com todos os tucanos e conseguiu os votos de Cássio Cunha Lima (PB), Carlos Sampaio (SP) e Domingos Sávio (MG). Aliás, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), anda reclamando que não é chamado para as reuniões que definem a estratégia de atuação dos tucanos na CPI do Cachoeira.
No purgatório
Após a cerimônia de lançamento do slogan da Copa de 2014, terça-feira, no Rio de Janeiro, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, convidou o ministro Aldo Rebelo (Esporte) para que eles fossem jantar. O brasileiro recusou o convite.
A verdade
Intrigado com versão que circula no Planalto, de que participou do acordo do Código Florestal fechado no Senado, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), diz que sua participação se restringiu ao tema apicuns e salgados.
Pimentel e o Ceará
Em viagem oficial à Coreia do Sul e ao Japão, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) registra que está empenhado em encontrar uma solução que permita a instalação de duas fábricas (automóveis e caminhões) no Ceará. Mas explica que está procurando uma fórmula capaz de atender o governador Cid Gomes dentro dos parâmetros do novo regime automotivo do país, que incentiva as empresas via conteúdo nacional.
Diretas já
Para delegação de advogados, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), garantiu que vai colocar em votação projeto que institui eleições diretas para a OAB. Ele recebeu pesquisa Ibope, na qual 84% dos advogados querem diretas.
Saca-rolha
O vice Michel Temer será recebido hoje pelo primeiro-ministro da Turquia, Recep Erdogan. Vai tratar da venda de aviões da Embraer para a Turkish Airlines. Na semana que vem, a Fiesp leva 60 empresários para negócios em Ancara.
O GRUPO Copa Sustentável, da Frente Parlamentar Ambientalista, começa por Brasília, no dia seis de junho, visitas a todos os estádios em obras.
COM O APOIO do Brasil, o sindicalista inglês Guy Rider foi eleito ontem diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão da ONU.
A SECRETARIA-GERAL da Presidência esclarece que o termo técnico adequado, no caso de funcionário suspeito de assédio sexual, é o de exoneração por quebra de confiança de seu superior. A demissão implicaria num processo administrativo formal.
Liberdades iradas - JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 31/05
Na sua exaltação, o ministro Gilmar Mendes ainda não reparou que tem municiado quem queira atacá-lo
O excesso de raiva e a aparente perda de controle em Gilmar Mendes talvez expliquem, mas não tornam aceitável, que um ministro do Supremo Tribunal Federal faça, para a opinião pública, afirmações tão descabidas.
Nem o próprio Supremo é poupado no ataque atual de Gilmar Mendes, que assim o define em entrevista ao "Globo": "Já é um Poder em caráter descendente". Não há por que duvidar desse sentimento particular de Gilmar Mendes, mas também não há como atribuir a tal afirmação, feita de público e plena gratuidade, um qualquer propósito respeitável.
Ali demolidor, pelo método da implosão, é também deste ministro, no mesmo dia, porém à Folha, a atribuição deste motivo para o que diz ter ouvido de Lula: "Dizer que o Judiciário está envolvido numa rede de corrupção", para "melar o julgamento do mensalão".
A afirmação sobre o Supremo, com provável sinceridade; a outra, uma ficção sem sequer um indício em seu favor. Lula, o PT e os réus do mensalão nada ganhariam com uma investida contra o Judiciário. Sabem disso na mesma proporção em que a imaginação ficcionista não sabe.
Na sua exaltação, o ministro Gilmar Mendes ainda não reparou que tem municiado quem queira atacá-lo. Já deu, por exemplo, três versões para o custeio da viagem em que se encontrou, na Europa, com Demóstenes Torres. A tal viagem das suas sensibilidades tocadas pelo que "pareceram insinuações" de Lula.
Na primeira referência feita (estão todas impressas e gravadas), disse haver respondido a Lula que viajou "com recursos próprios". Na segunda, fez viagem oficial, custeada pelo Supremo, para um evento na Espanha, e dali à Alemanha pagou ele mesmo. Na terceira (ainda na entrevista ao "Globo"): "Fui a Berlim em viagem oficial. Por conta do STF".
Afinal, não se sabe como a viagem foi paga nem isso está em questão. Mas é compreensível que estivesse em boatos. Como amanhã pode estar a história de que Lula planejava denunciar o Judiciário como uma rede de corrupção. Por haver boato sobre a viagem, e indagar a respeito, é "gangsterismo, molecagem, banditismo, a gente está lidando com gângsteres", como disse Gilmar Mendes? Não, não disse: vociferou, iradíssimo.
Com base em que fatos um ministro do Supremo Tribunal Federal faz a acusação pública de que Lula -no caso, importa sobretudo serem um ex-presidente da República e um magistrado- é "a central de divulgação" dos boatos infamantes? Acusação de tal ordem não precisa nem indícios, é só emiti-la?
O Congresso foi poupado da reação de Gilmar Mendes graças à falta, na inquirição de Demóstenes Torres, de uma pergunta que, normalmente, não faltaria. Logo no primeiro lote de telefonemas gravados de Carlos Cachoeira, apareceu o pedido do senador de que o contraventor pagasse os R$ 3.000 de um táxi aéreo. Gilmar Mendes, negando ter usado avião de Carlos Cachoeira, disse que foi a Goiás convidado por Demóstenes Torres, para um jantar. Foi "de táxi aéreo".
Ninguém perguntou a Demóstenes que voo seria pago por Cachoeira. Ninguém perguntou se Gilmar Mendes e outros ministros estavam no voo dos R$ 3.000. Nada demais se estivessem, nem poderiam saber quem viria a pagar pelo voo. Apesar disso, a encrenca resultante já estaria engatilhada, com a imagem institucional do Supremo a aguentar suas manifestações.
Com muita constância, somos chamados a discutir o decoro parlamentar. Não são apenas os congressistas, no entanto, os obrigados a preservar o decoro da função.
Na sua exaltação, o ministro Gilmar Mendes ainda não reparou que tem municiado quem queira atacá-lo
O excesso de raiva e a aparente perda de controle em Gilmar Mendes talvez expliquem, mas não tornam aceitável, que um ministro do Supremo Tribunal Federal faça, para a opinião pública, afirmações tão descabidas.
Nem o próprio Supremo é poupado no ataque atual de Gilmar Mendes, que assim o define em entrevista ao "Globo": "Já é um Poder em caráter descendente". Não há por que duvidar desse sentimento particular de Gilmar Mendes, mas também não há como atribuir a tal afirmação, feita de público e plena gratuidade, um qualquer propósito respeitável.
Ali demolidor, pelo método da implosão, é também deste ministro, no mesmo dia, porém à Folha, a atribuição deste motivo para o que diz ter ouvido de Lula: "Dizer que o Judiciário está envolvido numa rede de corrupção", para "melar o julgamento do mensalão".
A afirmação sobre o Supremo, com provável sinceridade; a outra, uma ficção sem sequer um indício em seu favor. Lula, o PT e os réus do mensalão nada ganhariam com uma investida contra o Judiciário. Sabem disso na mesma proporção em que a imaginação ficcionista não sabe.
Na sua exaltação, o ministro Gilmar Mendes ainda não reparou que tem municiado quem queira atacá-lo. Já deu, por exemplo, três versões para o custeio da viagem em que se encontrou, na Europa, com Demóstenes Torres. A tal viagem das suas sensibilidades tocadas pelo que "pareceram insinuações" de Lula.
Na primeira referência feita (estão todas impressas e gravadas), disse haver respondido a Lula que viajou "com recursos próprios". Na segunda, fez viagem oficial, custeada pelo Supremo, para um evento na Espanha, e dali à Alemanha pagou ele mesmo. Na terceira (ainda na entrevista ao "Globo"): "Fui a Berlim em viagem oficial. Por conta do STF".
Afinal, não se sabe como a viagem foi paga nem isso está em questão. Mas é compreensível que estivesse em boatos. Como amanhã pode estar a história de que Lula planejava denunciar o Judiciário como uma rede de corrupção. Por haver boato sobre a viagem, e indagar a respeito, é "gangsterismo, molecagem, banditismo, a gente está lidando com gângsteres", como disse Gilmar Mendes? Não, não disse: vociferou, iradíssimo.
Com base em que fatos um ministro do Supremo Tribunal Federal faz a acusação pública de que Lula -no caso, importa sobretudo serem um ex-presidente da República e um magistrado- é "a central de divulgação" dos boatos infamantes? Acusação de tal ordem não precisa nem indícios, é só emiti-la?
O Congresso foi poupado da reação de Gilmar Mendes graças à falta, na inquirição de Demóstenes Torres, de uma pergunta que, normalmente, não faltaria. Logo no primeiro lote de telefonemas gravados de Carlos Cachoeira, apareceu o pedido do senador de que o contraventor pagasse os R$ 3.000 de um táxi aéreo. Gilmar Mendes, negando ter usado avião de Carlos Cachoeira, disse que foi a Goiás convidado por Demóstenes Torres, para um jantar. Foi "de táxi aéreo".
Ninguém perguntou a Demóstenes que voo seria pago por Cachoeira. Ninguém perguntou se Gilmar Mendes e outros ministros estavam no voo dos R$ 3.000. Nada demais se estivessem, nem poderiam saber quem viria a pagar pelo voo. Apesar disso, a encrenca resultante já estaria engatilhada, com a imagem institucional do Supremo a aguentar suas manifestações.
Com muita constância, somos chamados a discutir o decoro parlamentar. Não são apenas os congressistas, no entanto, os obrigados a preservar o decoro da função.
De costas para o futuro - FERNANDO REINACH
O Estado de S.Paulo - 31/05
Preste atenção nestas três frases: 1) "Quando John Lennon morreu, 32 anos atrás, eu estava em Nova York." 2) "Quando John Lennon morreu, 32 anos na frente, eu estava em Nova York." 3) "Quando John Lennon morreu, 32 anos abaixo, eu estava em Nova York."
Essas frases são exemplos de como diferentes culturas relacionam a dimensão espacial e temporal da realidade. Na maioria das culturas ocidentais imaginamos o futuro como estando localizado à nossa frente e o passado, atrás ("A vida é longa, é preciso ir em frente."). Mas, para os mais de 2 milhões de habitantes da Bolívia, Peru e Chile que falam a língua aimará, o passado se encontra à nossa frente e o futuro, às nossas costas.
A palavra "nayra" é usada para descrever a posição de um objeto à nossa frente e também um acontecimento no passado. A palavra "qhipa" descreve algo no futuro e também algo que está atrás de nós. Nessa comunidade, quando alguém se refere ao futuro normalmente gesticula apontando para trás das costas e quando se refere ao passado aponta o espaço à sua frente.
Já os yupno, que habitam um vale isolado em Papua-Nova Guiné, quando se referem ao passado apontam para baixo e ao se referirem ao futuro, para cima.
Não há dúvida de que cada um de nós se localiza, a cada momento, em um local do espaço (estou sentado na frente de um computador) e em um determinado momento no tempo (são 10h15 do dia 30 de maio), mas não existe nenhuma relação física obrigatória entre essas duas dimensões de nossa existência. Por que associar o futuro à nossa frente ou às nossas costas ou a um plano mais baixo? Por que o Egito de Cleópatra estaria atrás de nós? Essa associação, em princípio, não seria necessária.
No caso da associação presente nas línguas ocidentais (futuro na frente e passado atrás), talvez a explicação esteja no ato de andar. Ao andar, olhamos para a frente, e o local onde estaremos no futuro próximo está na nossa frente. Já o local por onde passamos recentemente está nas nossas costas.
Mas os aimarás parecem ser mais sofisticados. Quando se pergunta a um deles por que o futuro está nas costas e o passado, na frente, ele tem uma boa explicação. O futuro é desconhecido, inacessível aos nossos sentidos, e ainda não presente na nossa memória. É lógico para eles que algo desconhecido e fora do campo de visão esteja atrás. Já o passado é conhecido, já foi vivido, está presente na nossa memória e disponível para exame. É natural que ele esteja no nosso campo de visão, na nossa frente.
No caso dos yupno, os antropólogos ainda estão tentando entender por que o passado está associado ao fundo do vale onde vivem e o futuro às partes mais altas das montanhas. Uma possibilidade é de que ao longo do tempo a tribo tenha habitando cada vez lugares mais altos.
O fato de nosso cérebro criar esse tipo de relação arbitrária entre duas dimensões físicas (tempo e espaço) nos leva a acreditar que essa relação é natural. A maneira como essa associação se cristalizou em diferentes culturas talvez tenha implicações importantes no desenvolvimento das sociedades e da estrutura de nossa memória. Será que a crença ocidental de que o futuro pode ser previsto (vislumbrado ainda que de maneira opaca na nossa frente) se originou da associação do tempo futuro ao espaço à nossa frente? Se imaginássemos que o futuro está atrás (como os aimarás) e indisponível para nossos sentidos, teríamos tanto interesse em desenvolver conhecimentos que permitem prever o futuro, como as leis da física e da química? E como seria nossa relação com a memória do passado se, para nosso cérebro, se ela estivesse colocada à nossa frente? Viveríamos mais ligados ao passado que ao futuro?
O mais interessante dessa descoberta é que ela demonstra, mais uma vez, que a realidade habitada pela nossa consciência é uma construção de nosso cérebro elaborada durante o processo evolutivo. É muito provável que essa associação tenha sido útil e vantajosa para nossos ancestrais que caçavam nas estepes africanas, se preocupavam com o alimento das próximas horas, mas não com a geometria euclidiana ou com a extinção dos dinossauros. Nossa percepção que o futuro está diante de nós é uma ilusão criada por um cérebro que durante milênios evoluiu dentro de um animal no qual o andar para frente era a atividade dominante. Nessas condições, frente e futuro ficaram associadas e por isso damos as costas para o passado e caminhamos para o futuro. Somos realmente um animal muito estranho, habitado por uma mente que, na melhor das hipóteses, recebe do cérebro uma visão distorcida da realidade.
Controle cambial na Argentina - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 31/05
Enredando-se ainda mais no cipoal de controles cambiais - que, por sua variedade e complexidade crescentes, mostram uma administração em dificuldades cada vez maiores para resolver os principais problemas econômicos do país -, o governo de Cristina Kirchner acaba de colocar em prática sua mais recente medida para tentar conter a desvalorização do peso e a disparada do dólar no mercado paralelo, de grande importância na Argentina. Todo argentino que comprar um pacote de viagens junto a uma agência de turismo agora precisa informar à Afip, a Receita Federal do país, a origem do dinheiro para o pagamento das despesas, o tempo e o objetivo da viagem, entre outros dados. Dificilmente, porém, a nova restrição cambial funcionará do modo desejado pelo governo.
Fruto, entre outros fatores, da crescente desconfiança de poupadores locais e de investidores nacionais e estrangeiros com relação aos rumos que a administração Kirchner - anteriormente chefiada pelo falecido marido da presidente - vem dando ao país, o problema cambial se tornou crítico. Na maioria dos casos, o governo é responsável pelas dificuldades do país na área cambial.
Desde novembro, pouco antes do início do segundo mandato de Cristina Kirchner, o governo argentino vem tomando medidas para restringir as compras de dólares. Os resultados não têm sido notáveis. No ano passado, saíram do mercado financeiro argentino US$ 23 bilhões. Estima-se que, em abril de 2012, os argentinos compraram US$ 1,2 bilhão, boa parte dos quais deve ter tomado o rumo do exterior.
O emprego nos postos da fronteira com o Uruguai - apontado como destino preferido das remessas ilegais para o exterior da moeda americana - de cães farejadores treinados para detectar a presença da tinta utilizada na impressão das notas de dólar é a caricatura perfeita da obstinação kirchneriana com a questão cambial e também da inutilidade de boa parte das medidas que vem tomando para evitar a fuga de divisas. Seriam necessárias muitas matilhas para conter a saída de dólares na proporção em que deve estar ocorrendo.
Mais do que cães ou obsessão governamental, a solução exige atitudes corretas das autoridades, mas estas têm sido muito raras. O que se vê com muito maior frequência são decisões temerárias que tornam ainda mais difícil a situação do país. Desde a selvagem moratória unilateral de sua dívida externa, em 2001, a Argentina é considerada um pária pelo sistema financeiro internacional, o que praticamente a impede de obter financiamentos externos para seus programas de crescimento econômico.
Outra fonte importante de recursos externos, os investimentos diretos na produção, tem sido constantemente desprezada pelas autoridades do país, com discursos, ações e medidas políticas de caráter nitidamente nacionalista e antiestrangeiro, como a recente expropriação da maior empresa petrolífera do país, até então controlada por um grupo espanhol.
A problemas deliberadamente criados pelo governo Kirchner somam-se outros, como a seca que prejudicou a safra de soja do país e que, neste ano, poderá resultar na quebra de até US$ 4,5 bilhões nas exportações do produto in natura ou derivados. As exportações estão caindo. Em abril, ficaram US$ 412 milhões abaixo das de abril de 2011 e US$ 475 milhões abaixo das de março passado.
Há um mês, o governo impôs aos exportadores a obrigatoriedade de negociar internamente os dólares das vendas externas no prazo máximo de 15 dias. Isso exigia mudanças de procedimentos e reprogramação financeira por parte dos exportadores, que, por cautela, reduziram seus negócios. As exportações, já em queda, diminuíram mais. Na segunda-feira, o governo ampliou o prazo para 30 dias.
Empresas importadoras têm sido pressionadas fortemente pelo governo Kirchner para comprar internamente o que antes importavam.
O intervencionismo excessivo no câmbio alimenta as desconfianças e torna o problema mais grave.
Enredando-se ainda mais no cipoal de controles cambiais - que, por sua variedade e complexidade crescentes, mostram uma administração em dificuldades cada vez maiores para resolver os principais problemas econômicos do país -, o governo de Cristina Kirchner acaba de colocar em prática sua mais recente medida para tentar conter a desvalorização do peso e a disparada do dólar no mercado paralelo, de grande importância na Argentina. Todo argentino que comprar um pacote de viagens junto a uma agência de turismo agora precisa informar à Afip, a Receita Federal do país, a origem do dinheiro para o pagamento das despesas, o tempo e o objetivo da viagem, entre outros dados. Dificilmente, porém, a nova restrição cambial funcionará do modo desejado pelo governo.
Fruto, entre outros fatores, da crescente desconfiança de poupadores locais e de investidores nacionais e estrangeiros com relação aos rumos que a administração Kirchner - anteriormente chefiada pelo falecido marido da presidente - vem dando ao país, o problema cambial se tornou crítico. Na maioria dos casos, o governo é responsável pelas dificuldades do país na área cambial.
Desde novembro, pouco antes do início do segundo mandato de Cristina Kirchner, o governo argentino vem tomando medidas para restringir as compras de dólares. Os resultados não têm sido notáveis. No ano passado, saíram do mercado financeiro argentino US$ 23 bilhões. Estima-se que, em abril de 2012, os argentinos compraram US$ 1,2 bilhão, boa parte dos quais deve ter tomado o rumo do exterior.
O emprego nos postos da fronteira com o Uruguai - apontado como destino preferido das remessas ilegais para o exterior da moeda americana - de cães farejadores treinados para detectar a presença da tinta utilizada na impressão das notas de dólar é a caricatura perfeita da obstinação kirchneriana com a questão cambial e também da inutilidade de boa parte das medidas que vem tomando para evitar a fuga de divisas. Seriam necessárias muitas matilhas para conter a saída de dólares na proporção em que deve estar ocorrendo.
Mais do que cães ou obsessão governamental, a solução exige atitudes corretas das autoridades, mas estas têm sido muito raras. O que se vê com muito maior frequência são decisões temerárias que tornam ainda mais difícil a situação do país. Desde a selvagem moratória unilateral de sua dívida externa, em 2001, a Argentina é considerada um pária pelo sistema financeiro internacional, o que praticamente a impede de obter financiamentos externos para seus programas de crescimento econômico.
Outra fonte importante de recursos externos, os investimentos diretos na produção, tem sido constantemente desprezada pelas autoridades do país, com discursos, ações e medidas políticas de caráter nitidamente nacionalista e antiestrangeiro, como a recente expropriação da maior empresa petrolífera do país, até então controlada por um grupo espanhol.
A problemas deliberadamente criados pelo governo Kirchner somam-se outros, como a seca que prejudicou a safra de soja do país e que, neste ano, poderá resultar na quebra de até US$ 4,5 bilhões nas exportações do produto in natura ou derivados. As exportações estão caindo. Em abril, ficaram US$ 412 milhões abaixo das de abril de 2011 e US$ 475 milhões abaixo das de março passado.
Há um mês, o governo impôs aos exportadores a obrigatoriedade de negociar internamente os dólares das vendas externas no prazo máximo de 15 dias. Isso exigia mudanças de procedimentos e reprogramação financeira por parte dos exportadores, que, por cautela, reduziram seus negócios. As exportações, já em queda, diminuíram mais. Na segunda-feira, o governo ampliou o prazo para 30 dias.
Empresas importadoras têm sido pressionadas fortemente pelo governo Kirchner para comprar internamente o que antes importavam.
O intervencionismo excessivo no câmbio alimenta as desconfianças e torna o problema mais grave.
STF em seu labirinto - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 31/05
O dano é evidente: julgue quando julgar, decida como decidir no caso do mensalão, o Supremo Tribunal Federal por ora é a primeira vítima do processo.
Não faz bem à confiança nacional ver ministros da Corte Suprema transitando pelo terreno dos mexericos, das intrigas, sendo alvo de ilações melífluas ou de acusações explícitas.
O ambiente exige respeito, já dizia Billy Blanco referindo-se a gafieiras. No caso da representação da guarda do Estado de Direito exige-se, sobretudo, respeitabilidade.
Não é o que inspira a cena.
Do aviso inicial do ministro Ricardo Lewandowski sobre a hipótese de seu voto revisor ser apresentado só no ano que vem, atrasando o julgamento e tornando alguns crimes passíveis de prescrição, até a revelação do tenebroso encontro entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes, o que se tem é o desgaste da imagem do Supremo.
Certo ou errado - provavelmente mais errado que certo - o cidadão olha para isso e fica no mínimo desconfiado de que os ministros do STF possam ser permeáveis a pressões.
Espera-se que não sejam como, aliás, vêm cuidando de esclarecer os magistrados. Por meio de negativas peremptórias sobre a possibilidade de sujeição a fatores outros que não os autos do processo, pela defesa da realização do julgamento o quanto antes ou por reações de repúdio à tentativa de pressão por parte do advogado "in pectore" dos réus.
Neste aspecto, a ofensiva do PT capitaneada por Lula tem obtido resultados, pois independentemente da data ou do resultado do julgamento, o Tribunal no momento está com sua confiabilidade posta em xeque.
Não quer dizer que não seja confiável, mas que se conseguiu incutir na sociedade uma dúvida quanto a isso, dando margem a questionamentos em relação ao preceito de que decisão da Justiça não se discute.
E a questão que surge na cabeça do "leigo" - ou seja, todos aqueles não familiarizados com o funcionamento do Tribunal e com o significado da função daqueles que ali estão para guardar a Constituição - é a seguinte: a coação influirá na decisão?
A interpretação de que a investida de Lula tenha tido efeito contrário ao pretendido, acabando por levar o Supremo a se apressar e os ministros a tender pela condenação como forma de reação, traz consigo a suposição da substituição do racional pelo emocional na conduta dos ministros.
Estaria aí quebrado o compromisso estrito com a legalidade. Da mesma forma se, por razões processuais, o julgamento atrasar mais que o desejado e/ou por ausência de provas suficientes houver absolvições, dar-se-á - e desde já assim se dá - como certo que houve êxito na pressão dos acusados.
O dano é evidente: julgue quando julgar, decida como decidir no caso do mensalão, o Supremo Tribunal Federal por ora é a primeira vítima do processo.
Não faz bem à confiança nacional ver ministros da Corte Suprema transitando pelo terreno dos mexericos, das intrigas, sendo alvo de ilações melífluas ou de acusações explícitas.
O ambiente exige respeito, já dizia Billy Blanco referindo-se a gafieiras. No caso da representação da guarda do Estado de Direito exige-se, sobretudo, respeitabilidade.
Não é o que inspira a cena.
Do aviso inicial do ministro Ricardo Lewandowski sobre a hipótese de seu voto revisor ser apresentado só no ano que vem, atrasando o julgamento e tornando alguns crimes passíveis de prescrição, até a revelação do tenebroso encontro entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes, o que se tem é o desgaste da imagem do Supremo.
Certo ou errado - provavelmente mais errado que certo - o cidadão olha para isso e fica no mínimo desconfiado de que os ministros do STF possam ser permeáveis a pressões.
Espera-se que não sejam como, aliás, vêm cuidando de esclarecer os magistrados. Por meio de negativas peremptórias sobre a possibilidade de sujeição a fatores outros que não os autos do processo, pela defesa da realização do julgamento o quanto antes ou por reações de repúdio à tentativa de pressão por parte do advogado "in pectore" dos réus.
Neste aspecto, a ofensiva do PT capitaneada por Lula tem obtido resultados, pois independentemente da data ou do resultado do julgamento, o Tribunal no momento está com sua confiabilidade posta em xeque.
Não quer dizer que não seja confiável, mas que se conseguiu incutir na sociedade uma dúvida quanto a isso, dando margem a questionamentos em relação ao preceito de que decisão da Justiça não se discute.
E a questão que surge na cabeça do "leigo" - ou seja, todos aqueles não familiarizados com o funcionamento do Tribunal e com o significado da função daqueles que ali estão para guardar a Constituição - é a seguinte: a coação influirá na decisão?
A interpretação de que a investida de Lula tenha tido efeito contrário ao pretendido, acabando por levar o Supremo a se apressar e os ministros a tender pela condenação como forma de reação, traz consigo a suposição da substituição do racional pelo emocional na conduta dos ministros.
Estaria aí quebrado o compromisso estrito com a legalidade. Da mesma forma se, por razões processuais, o julgamento atrasar mais que o desejado e/ou por ausência de provas suficientes houver absolvições, dar-se-á - e desde já assim se dá - como certo que houve êxito na pressão dos acusados.
O mais provável é que nenhuma dessas impressões correntes traduza com perfeição a realidade.
Mas, sendo assim o que parece, conviria ao Supremo enfrentar de uma vez o problema tratando de desanuviar o cenário e de se recompor com a majestade de suas funções.
Antes que se consolide a visão deformada de que em julgamento estão os juízes e não os 38 réus acusados de organizar um esquema de assalto - lato e estrito sensos - ao Estado.
Aos fatos. Não existe "guerra de versões" sobre a conversa de Lula com Gilmar Mendes no escritório de Nelson Jobim.
O ministro contou e reafirmou com detalhes o que foi dito. Lula e Jobim apenas o desmentiram, mas não apresentaram as respectivas versões a respeito do que foi dito naquele encontro.
Passo a passo. A decisão de chamar os governadores do Distrito Federal e de Goiás e deixar de fora Sérgio Cabral, do Rio, em princípio não pode ser atribuída a blindagens políticas.
Aloprados não justificam uma crise - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 31/05
No primeiro grande escândalo ocorrido depois do estouro do mensalão, o da tentativa de compra de um dossiê fajuto contra José Serra,em 2006, o presidente Lula repetiu o gesto da condenação pública que fez no ano anterior. Na descoberta dos mensaleiros, em 2005, ele foi a público pedir desculpas ao povo brasileiro. Já no final da campanha eleitoral do ano seguinte, quando a Polícia Federal desmantelou a trama do dossiê, e até apreendeu uma sacola repleta de dinheiro, Lula optou por desqualificar os militantes envolvidos na trapalhada. A ação rocambolesca, supõe-se, ajudaria o candidato petista Aloizio Mercadante.
Ali surgiram os “aloprados”, termo da lavra presidencial. Pois há muitas evidências de que eles reapareceram na barafunda em que se transformou esta investida supostamente para usar a CPI do Cachoeira a fim de atemorizar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e, por meio de pressões sobre o ministro Gilmar Mendes, do Supremo, emparedar a própria Corte — ou, quem sabe?, ganhar um voto para a causa da postergação do julgamento do mensalão, tema que atormenta a ala radical do PT.
Pelo menos até ontem, a rápida e cortante reação de Gilmar Mendes aos desdobramentos da revelação da “Veja” de que Lula propusera ao ministro ajudar no adiamento da entrada do processo em julgamento, em troca de proteção na CPI, ofuscou os desmentidos da versão confirmada por ele.
Em entrevista coletiva na terça- feira, na qual não permitiu a entrada de fotógrafos e cinegrafistas, Mendes distribuiu acusações a “gângsteres” que teriam espalhado que haveria provas, no material recolhido pela PF nas investigações contra o esquema Cachoeira/Delta/Demóstenes, de que o ministro do STF e o senador viajaram a Berlim em avião do contraventor e/ ou com as despesas pagas por ele. Talvez por isso, deduz-se, precisaria de proteção na CPI.
Mas o ministro provou com documentos que fora à Alemanha às expensas do STF, num primeiro trecho da viagem, e, no segundo, pago com o próprio dinheiro. Também na terça, Demóstenes, ao depor no Conselho de Ética do Senado, confirmou a explicação de Mendes.
Uma evidência de que aloprados agiram, com a incompetência revelada em 2006, é que, ao “Jornal Nacional” daquela noite, ao ser ouvido nos corredores da CPI, o deputado Jilmar Tatto (PT-SP) reconheceu que a prova documental de Gilmar Mendes era definitiva e admitiu que se pensava levar o suposto caso do ministro do Supremo à comissão. Desenhou-se, então, de forma nítida um plano para constrangê-lo, como foi feito com Roberto Gurgel, pelo fato de o procurador não ter dado sequência a um primeiro inquérito em que Demóstenes aparecia, para, explicou, não prejudicar novas investigações. Deu certo. A ligação de Gurgel com o mensalão é que será ele a encaminhar, pelo Ministério Público, as acusações contra os mensaleiros no julgamento do caso.
Frustrada a manobra — inspirada em comédias do tempo do cinema mudo —, é preciso esvaziar qualquer possibilidade de crise política, tampouco institucional. Não faz sentido deixar o andamento do processo do mensalão no STF e os trabalhos — por mais arrastados que estejam — da CPI serem prejudicados por mais uma ação de aloprados digna de “Os Trapalhões”.
No primeiro grande escândalo ocorrido depois do estouro do mensalão, o da tentativa de compra de um dossiê fajuto contra José Serra,em 2006, o presidente Lula repetiu o gesto da condenação pública que fez no ano anterior. Na descoberta dos mensaleiros, em 2005, ele foi a público pedir desculpas ao povo brasileiro. Já no final da campanha eleitoral do ano seguinte, quando a Polícia Federal desmantelou a trama do dossiê, e até apreendeu uma sacola repleta de dinheiro, Lula optou por desqualificar os militantes envolvidos na trapalhada. A ação rocambolesca, supõe-se, ajudaria o candidato petista Aloizio Mercadante.
Ali surgiram os “aloprados”, termo da lavra presidencial. Pois há muitas evidências de que eles reapareceram na barafunda em que se transformou esta investida supostamente para usar a CPI do Cachoeira a fim de atemorizar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e, por meio de pressões sobre o ministro Gilmar Mendes, do Supremo, emparedar a própria Corte — ou, quem sabe?, ganhar um voto para a causa da postergação do julgamento do mensalão, tema que atormenta a ala radical do PT.
Pelo menos até ontem, a rápida e cortante reação de Gilmar Mendes aos desdobramentos da revelação da “Veja” de que Lula propusera ao ministro ajudar no adiamento da entrada do processo em julgamento, em troca de proteção na CPI, ofuscou os desmentidos da versão confirmada por ele.
Em entrevista coletiva na terça- feira, na qual não permitiu a entrada de fotógrafos e cinegrafistas, Mendes distribuiu acusações a “gângsteres” que teriam espalhado que haveria provas, no material recolhido pela PF nas investigações contra o esquema Cachoeira/Delta/Demóstenes, de que o ministro do STF e o senador viajaram a Berlim em avião do contraventor e/ ou com as despesas pagas por ele. Talvez por isso, deduz-se, precisaria de proteção na CPI.
Mas o ministro provou com documentos que fora à Alemanha às expensas do STF, num primeiro trecho da viagem, e, no segundo, pago com o próprio dinheiro. Também na terça, Demóstenes, ao depor no Conselho de Ética do Senado, confirmou a explicação de Mendes.
Uma evidência de que aloprados agiram, com a incompetência revelada em 2006, é que, ao “Jornal Nacional” daquela noite, ao ser ouvido nos corredores da CPI, o deputado Jilmar Tatto (PT-SP) reconheceu que a prova documental de Gilmar Mendes era definitiva e admitiu que se pensava levar o suposto caso do ministro do Supremo à comissão. Desenhou-se, então, de forma nítida um plano para constrangê-lo, como foi feito com Roberto Gurgel, pelo fato de o procurador não ter dado sequência a um primeiro inquérito em que Demóstenes aparecia, para, explicou, não prejudicar novas investigações. Deu certo. A ligação de Gurgel com o mensalão é que será ele a encaminhar, pelo Ministério Público, as acusações contra os mensaleiros no julgamento do caso.
Frustrada a manobra — inspirada em comédias do tempo do cinema mudo —, é preciso esvaziar qualquer possibilidade de crise política, tampouco institucional. Não faz sentido deixar o andamento do processo do mensalão no STF e os trabalhos — por mais arrastados que estejam — da CPI serem prejudicados por mais uma ação de aloprados digna de “Os Trapalhões”.
Medo de cadeia - ROGÉRIO GENTILE
FOLHA DE SP - 31/05
SÃO PAULO - O julgamento do mensalão assusta demais o PT e é isso que torna crível o relato de Gilmar Mendes sobre a tal pressão que Lula teria feito sobre o ministro do STF. É grande o risco de que algum figurão do partido saia algemado do Supremo Tribunal Federal.
José Dirceu, por exemplo, descrito na denúncia do procurador-geral "como integrante do núcleo central de uma complexa organização criminosa", é acusado por formação de quadrilha e corrupção passiva. Se for condenado, pode pegar vários anos de cadeia. Genoino, Delúbio e João Paulo podem ter o mesmo rumo.
Os próprios advogados dos réus já os alertaram sobre essa possibilidade. Qual o impacto de uma cena desse tipo na eleição de outubro, na imagem do PT e na do próprio Lula?
Preocupado, o ex-presidente mobilizou o partido em favor da CPI do caso Cachoeira. Imaginou que a investigação poderia desmoralizar os "autores da farsa do mensalão", como bem disse o presidente do PT, Rui Falcão, em vídeo do partido.
Até agora, no entanto, conseguiu apenas acirrar os ânimos e atrair mais holofotes para o julgamento. O mesmo efeito obteve com o tal encontro com Gilmar Mendes.
Pesa a favor de Lula a declaração de Nelson Jobim, que presenciou o encontro. O ex-ministro de Lula e ex-ministro do STF desmentiu Mendes, mas, dado o seu histórico, não é exatamente uma testemunha confiável.
Jobim, para quem não se lembra, fez parte de um dos episódios mais lamentáveis da história do Brasil quando, em 1988, participou de um acordo pelo qual foram incluídos no texto da Constituição artigos que não haviam sido votados.
De qualquer modo, tendo ou não havido pressão, o episódio esquentou ainda mais o clima. O julgamento do mensalão ganha cada vez mais ares de disputa política, com juízes pressionados e raivosos. E isso não é bom para ninguém. Mais do que o destino dos réus, está em jogo a credibilidade do Judiciário.
SÃO PAULO - O julgamento do mensalão assusta demais o PT e é isso que torna crível o relato de Gilmar Mendes sobre a tal pressão que Lula teria feito sobre o ministro do STF. É grande o risco de que algum figurão do partido saia algemado do Supremo Tribunal Federal.
José Dirceu, por exemplo, descrito na denúncia do procurador-geral "como integrante do núcleo central de uma complexa organização criminosa", é acusado por formação de quadrilha e corrupção passiva. Se for condenado, pode pegar vários anos de cadeia. Genoino, Delúbio e João Paulo podem ter o mesmo rumo.
Os próprios advogados dos réus já os alertaram sobre essa possibilidade. Qual o impacto de uma cena desse tipo na eleição de outubro, na imagem do PT e na do próprio Lula?
Preocupado, o ex-presidente mobilizou o partido em favor da CPI do caso Cachoeira. Imaginou que a investigação poderia desmoralizar os "autores da farsa do mensalão", como bem disse o presidente do PT, Rui Falcão, em vídeo do partido.
Até agora, no entanto, conseguiu apenas acirrar os ânimos e atrair mais holofotes para o julgamento. O mesmo efeito obteve com o tal encontro com Gilmar Mendes.
Pesa a favor de Lula a declaração de Nelson Jobim, que presenciou o encontro. O ex-ministro de Lula e ex-ministro do STF desmentiu Mendes, mas, dado o seu histórico, não é exatamente uma testemunha confiável.
Jobim, para quem não se lembra, fez parte de um dos episódios mais lamentáveis da história do Brasil quando, em 1988, participou de um acordo pelo qual foram incluídos no texto da Constituição artigos que não haviam sido votados.
De qualquer modo, tendo ou não havido pressão, o episódio esquentou ainda mais o clima. O julgamento do mensalão ganha cada vez mais ares de disputa política, com juízes pressionados e raivosos. E isso não é bom para ninguém. Mais do que o destino dos réus, está em jogo a credibilidade do Judiciário.
Abstinência de poder - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 31/05
BRASÍLIA - Como escrito nas estrelas desde o encontro nada institucional entre Lula e Gilmar Mendes, Gilmar destrambelhou e se jogou no centro de uma fogueira que não era dele, enquanto Lula faz o caminho inverso: assume a condição de vítima, com direito a homenagem de Dilma em palácio, vídeo do presidente do PT e guerrilha da "militância abnegada" na internet.
Antes que o grave erro de Lula passe a contar a favor e não contra ele, registre-se que o fim do poder lhe fez muito mal. Desde que desceu a rampa do Planalto, Lula vem pisando em falso e botando os pés pelas mãos.
Impôs unilateralmente Haddad ao PT-SP, assim como impusera Roseana Sarney para o PT-MA. São Paulo, porém, não é o Maranhão e Marta Suplicy não é Domingos Dutra.
Haddad é, de fato, um bom produto eleitoral e, se ganhar, será um fenômeno à la Dilma. Mas, por enquanto, patina e custa cada vez mais caro na negociação com os aliados.
Lula também atropelou Dilma, o Congresso e meia bancada do PT ao exigir a criação de uma CPI que só interessava à sua sanha contra a oposição e para embaçar o mensalão.
Do ponto de vista prático, Cachoeira e seus comparsas já estavam presos, Marconi Perillo já tinha caído nos grampos da PF e Demóstenes já estava na lona. Agora, com a quebra de sigilo da Delta, muitos aliados e muitas obras do governo federal podem entrar na dança.
E, enfim, nada pode ser mais "faca no pescoço" do Supremo (como temem os advogados dos réus do mensalão) do que a pressão, orientação ou insinuação de um ex-presidente tão popular e que indicou 8 dos 11 ministros da corte. O que mais Lula pretenderia ao procurar Toffoli e Lewandowski diretamente e outros ministros via seus padrinhos?
Se despreza as regras republicanas, ele deveria ao menos usar sua intuição brilhante e sua habilidade política invejável para imaginar o estrago que Gilmar faria. Como fez.
BRASÍLIA - Como escrito nas estrelas desde o encontro nada institucional entre Lula e Gilmar Mendes, Gilmar destrambelhou e se jogou no centro de uma fogueira que não era dele, enquanto Lula faz o caminho inverso: assume a condição de vítima, com direito a homenagem de Dilma em palácio, vídeo do presidente do PT e guerrilha da "militância abnegada" na internet.
Antes que o grave erro de Lula passe a contar a favor e não contra ele, registre-se que o fim do poder lhe fez muito mal. Desde que desceu a rampa do Planalto, Lula vem pisando em falso e botando os pés pelas mãos.
Impôs unilateralmente Haddad ao PT-SP, assim como impusera Roseana Sarney para o PT-MA. São Paulo, porém, não é o Maranhão e Marta Suplicy não é Domingos Dutra.
Haddad é, de fato, um bom produto eleitoral e, se ganhar, será um fenômeno à la Dilma. Mas, por enquanto, patina e custa cada vez mais caro na negociação com os aliados.
Lula também atropelou Dilma, o Congresso e meia bancada do PT ao exigir a criação de uma CPI que só interessava à sua sanha contra a oposição e para embaçar o mensalão.
Do ponto de vista prático, Cachoeira e seus comparsas já estavam presos, Marconi Perillo já tinha caído nos grampos da PF e Demóstenes já estava na lona. Agora, com a quebra de sigilo da Delta, muitos aliados e muitas obras do governo federal podem entrar na dança.
E, enfim, nada pode ser mais "faca no pescoço" do Supremo (como temem os advogados dos réus do mensalão) do que a pressão, orientação ou insinuação de um ex-presidente tão popular e que indicou 8 dos 11 ministros da corte. O que mais Lula pretenderia ao procurar Toffoli e Lewandowski diretamente e outros ministros via seus padrinhos?
Se despreza as regras republicanas, ele deveria ao menos usar sua intuição brilhante e sua habilidade política invejável para imaginar o estrago que Gilmar faria. Como fez.
Sobriedade - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 31/05
Só não há uma crise institucional no país porque a presidente Dilma está tratando a disputa entre o ex-presidente Lula e o ministro do Supremo Gilmar Mendes de maneira equilibrada, sem envolver o governo. Da mesma maneira, o presidente do Supremo, Ayres Britto, está cuidando de não dar ao fato a dimensão que ele realmente tem, na tentativa de esvaziar suas consequências.
O ministro Gilmar Mendes foi apenas o que denunciou a manobra de Lula para adiar o julgamento do mensalão, mas pelomenos outros dois ministros do Supremo estiveram com Lula nos últimos meses: o ministro revisor Ricardo Lewandowski e o ministro Dias Toffoli.
E Lula, no relato da conversa por Gilmar Mendes, revelou o que tratou com os dois. Considero a essência do relato do ministro verdadeira, pois só os ingênuos podem acreditar que Lula convidasse um ministro do Supremo para um encontro sem que o assunto principal fosse o julgamento do mensalão.
Outros, que fingem acreditar na versão edulcorada de que a reunião foi uma conversa de amigos sobre generalidades, são militantes petistas, empenhados no mesmo movimento de Lula: constranger o Supremo a adiar o julgamento do mensalão, ou pôr em dúvida o seu resultado.
Junto a Toffoli, Lula defendeu a tese de que ele deveria participar do julgamento, quando setores jurídicos consideram que deveria se declarar impedido, pois boa parte de sua carreira foi feita no PT.
De 1995 até 2000 foi assessor parlamentar da Liderança do PT na Câmara. Nas campanhas presidenciais de Lula em 1998, 2002 e 2006, foi o advogado do partido. Foi subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil de 2003 a 2005, durante a gestão de José Dirceu, acusado pela Procuradoria Geral da República de ser o chefe da quadrilha do mensalão. Em 2007 assumiu a Advocacia Geral da União a convite de Lula, de onde saiu para ser ministro do Supremo.
Além de todo esse currículo petista, a namorada de Toffoli foi advogada de mensaleiros.
Lula se referiu a Lewandowski, dizendo que ele somente entregaria seu voto de revisor, sem o qual o processo não pode entrar em julgamento, no segundo semestre, mas está sendo pressionado a entregá-lo este mês. Como esteve com Lewandowski recentemente, depreende-se que Lula soube dessa mudança de atitude do revisor do mensalão através do próprio, cuja família tem relação de amizade com a da ex-primeira-dama dona Marisa, em São Bernardo do Campo.
O estrago está feito pelo voluntarismo de Lula, que não sabe fazer outra coisa a não ser politizar todas as relações.
Um julgamento no Supremo tem, na visão de Lula, só um lado, o do prejuízo que pode causar aos seus projetos políticos.
Ele não está preocupado do ponto de vista institucional com as consequências do mensalão, e muito menos com a preservação
do Supremo, mas teme que o PT seja atingido nas urnas em caso de condenação de seus membros mais importantes envolvidos no processo, como Dirceu, Genoino ou João Paulo Cunha.
Assim como primeiro pediu desculpas ao país pelo que acontecera, em cadeia de TV, para depois afirmar que o mensalão sequer existiu, sendo tentativa de golpe contra seu governo, Lula agora desmente o que prometeu ao sair do Planato. Disse que “desencarnaria” do papel de presidente e não se meteria em política, em crítica à atuação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Pois Lula não apenas não “desencarnou” do papel de presidente como está encarnando outro personagem, o do soberano que tudo pode.
Nunca esteve tão ativo politicamente, apesar de seu estado físico evidentemente precário. Como a confirmar que tudo para ele é política, ontem a única referência que fez aos últimos acontecimentos foi oblíqua, dizendo que tem “muita gente” que não gosta dele e que precisa “tomar cuidado” com essa “minoria”. Isso para explicar que falaria em pé para que não dissessem que estava doente. Como se fosse possível, e até desejável, unanimidade em torno de sua figura política, ou que os que são contra ele lhe desejam mal.
Tanto Dilma quanto Ayres Britto tiveram a sensatez de não alimentar a disputa pública em que se envolveram Lula e um ministro do Supremo. Ambos presidem Poderes que estão em confronto devido a uma atitude desastrada do expresidente Lula, que mais uma vez demonstra que não tem os cuidados que deveria com a separação e o equilíbrio de poderes, tentando usar sua força política para constranger ministros do STF.
Em vários momentos de seu governo, ele agiu assim, notadamente durante as campanhas eleitorais. A presidente Dilma, descrita normalmente como uma pessoa de pavio curto, está se revelando uma hábil política no exercício da Presidência da República.
Ao reverenciar as políticas sociais do presidente Lula, ela ressaltou o aspecto positivo da sua liderança política, deixando de lado as questões polêmicas em que anda se envolvendo.
A homenagem teve a justa medida de demonstrar sua solidariedade em um momento em que a liderança de Lula está fragilizada, por seus gestos temerários, e a lucidez de não envolver o governo no episódio.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, não tem razão para se indignar com a ilação de que a quebra de sigilo da empreiteira Delta pode justificar sua convocação para a CPI do Cachoeira.
Ele criou as condições para que essas ilações não sejam irresponsáveis, pois sua relação pessoal com Fernando Cavendish quando este era o presidente da Delta dá uma sensação de promiscuidade entre opúblico e o privado que seu
próprio governo critica no recentíssimo código de ética.
O Código da Alta Administração determina que funcionários do alto escalão devem guardar“distância social conveniente no trato com fornecedores de materiais ou contratantes de prestação de serviços ao Estado, abstendo-se, tanto quanto possível, de frequentar os mesmos lugares e de aparentar intimidade”.
Só não há uma crise institucional no país porque a presidente Dilma está tratando a disputa entre o ex-presidente Lula e o ministro do Supremo Gilmar Mendes de maneira equilibrada, sem envolver o governo. Da mesma maneira, o presidente do Supremo, Ayres Britto, está cuidando de não dar ao fato a dimensão que ele realmente tem, na tentativa de esvaziar suas consequências.
O ministro Gilmar Mendes foi apenas o que denunciou a manobra de Lula para adiar o julgamento do mensalão, mas pelomenos outros dois ministros do Supremo estiveram com Lula nos últimos meses: o ministro revisor Ricardo Lewandowski e o ministro Dias Toffoli.
E Lula, no relato da conversa por Gilmar Mendes, revelou o que tratou com os dois. Considero a essência do relato do ministro verdadeira, pois só os ingênuos podem acreditar que Lula convidasse um ministro do Supremo para um encontro sem que o assunto principal fosse o julgamento do mensalão.
Outros, que fingem acreditar na versão edulcorada de que a reunião foi uma conversa de amigos sobre generalidades, são militantes petistas, empenhados no mesmo movimento de Lula: constranger o Supremo a adiar o julgamento do mensalão, ou pôr em dúvida o seu resultado.
Junto a Toffoli, Lula defendeu a tese de que ele deveria participar do julgamento, quando setores jurídicos consideram que deveria se declarar impedido, pois boa parte de sua carreira foi feita no PT.
De 1995 até 2000 foi assessor parlamentar da Liderança do PT na Câmara. Nas campanhas presidenciais de Lula em 1998, 2002 e 2006, foi o advogado do partido. Foi subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil de 2003 a 2005, durante a gestão de José Dirceu, acusado pela Procuradoria Geral da República de ser o chefe da quadrilha do mensalão. Em 2007 assumiu a Advocacia Geral da União a convite de Lula, de onde saiu para ser ministro do Supremo.
Além de todo esse currículo petista, a namorada de Toffoli foi advogada de mensaleiros.
Lula se referiu a Lewandowski, dizendo que ele somente entregaria seu voto de revisor, sem o qual o processo não pode entrar em julgamento, no segundo semestre, mas está sendo pressionado a entregá-lo este mês. Como esteve com Lewandowski recentemente, depreende-se que Lula soube dessa mudança de atitude do revisor do mensalão através do próprio, cuja família tem relação de amizade com a da ex-primeira-dama dona Marisa, em São Bernardo do Campo.
O estrago está feito pelo voluntarismo de Lula, que não sabe fazer outra coisa a não ser politizar todas as relações.
Um julgamento no Supremo tem, na visão de Lula, só um lado, o do prejuízo que pode causar aos seus projetos políticos.
Ele não está preocupado do ponto de vista institucional com as consequências do mensalão, e muito menos com a preservação
do Supremo, mas teme que o PT seja atingido nas urnas em caso de condenação de seus membros mais importantes envolvidos no processo, como Dirceu, Genoino ou João Paulo Cunha.
Assim como primeiro pediu desculpas ao país pelo que acontecera, em cadeia de TV, para depois afirmar que o mensalão sequer existiu, sendo tentativa de golpe contra seu governo, Lula agora desmente o que prometeu ao sair do Planato. Disse que “desencarnaria” do papel de presidente e não se meteria em política, em crítica à atuação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Pois Lula não apenas não “desencarnou” do papel de presidente como está encarnando outro personagem, o do soberano que tudo pode.
Nunca esteve tão ativo politicamente, apesar de seu estado físico evidentemente precário. Como a confirmar que tudo para ele é política, ontem a única referência que fez aos últimos acontecimentos foi oblíqua, dizendo que tem “muita gente” que não gosta dele e que precisa “tomar cuidado” com essa “minoria”. Isso para explicar que falaria em pé para que não dissessem que estava doente. Como se fosse possível, e até desejável, unanimidade em torno de sua figura política, ou que os que são contra ele lhe desejam mal.
Tanto Dilma quanto Ayres Britto tiveram a sensatez de não alimentar a disputa pública em que se envolveram Lula e um ministro do Supremo. Ambos presidem Poderes que estão em confronto devido a uma atitude desastrada do expresidente Lula, que mais uma vez demonstra que não tem os cuidados que deveria com a separação e o equilíbrio de poderes, tentando usar sua força política para constranger ministros do STF.
Em vários momentos de seu governo, ele agiu assim, notadamente durante as campanhas eleitorais. A presidente Dilma, descrita normalmente como uma pessoa de pavio curto, está se revelando uma hábil política no exercício da Presidência da República.
Ao reverenciar as políticas sociais do presidente Lula, ela ressaltou o aspecto positivo da sua liderança política, deixando de lado as questões polêmicas em que anda se envolvendo.
A homenagem teve a justa medida de demonstrar sua solidariedade em um momento em que a liderança de Lula está fragilizada, por seus gestos temerários, e a lucidez de não envolver o governo no episódio.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, não tem razão para se indignar com a ilação de que a quebra de sigilo da empreiteira Delta pode justificar sua convocação para a CPI do Cachoeira.
Ele criou as condições para que essas ilações não sejam irresponsáveis, pois sua relação pessoal com Fernando Cavendish quando este era o presidente da Delta dá uma sensação de promiscuidade entre opúblico e o privado que seu
próprio governo critica no recentíssimo código de ética.
O Código da Alta Administração determina que funcionários do alto escalão devem guardar“distância social conveniente no trato com fornecedores de materiais ou contratantes de prestação de serviços ao Estado, abstendo-se, tanto quanto possível, de frequentar os mesmos lugares e de aparentar intimidade”.
SINAL DE FUMAÇA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 31/05
SINAL DE FUMAÇA 2
O estudo também indica que, se considerada a expectativa média de vida até os 80 anos no país, os homens podem perder até seis anos desse total, e as mulheres, até cinco, por conta dos tumores malignos ligados ao fumo. No Sul, essa estimativa passa para dez anos para os homens contra seis para as mulheres.
QUARTO ELEMENTO
Há alguns dias, José Serra ligou para o ex-ministro Nelson Jobim. Pediu a ele que falasse com a revista "Veja". Jobim atendeu ao pedido do amigo -e só então soube da reportagem sobre Lula e o ministro Gilmar Mendes. Escaldado, Jobim disse não ter presenciado nada beligerante na conversa entre os dois, que ocorreu em seu escritório, em Brasília.
MEMÓRIA
Mendes afirmou à revista que Lula tentou convencê-lo a adiar o julgamento do mensalão. Em troca, teria oferecido proteção na CPI do Cachoeira. Jobim contradiz o ministro. Lula também nega.
OUTRO LADO
Delúbio Soares foi um dos poucos réus do mensalão que não se irritou com Lula por causa do encontro com Mendes. Ele está do outro lado do mundo, em uma viagem à China.
TEMPO
Fernando Haddad (PT-SP) terá mais cinco comerciais, em cada emissora de TV, no fim de junho, em horário nobre. O PT considera o tempo fundamental para tornar o candidato mais conhecido, associando seu nome a Lula e Dilma Rousseff.
NO PAPEL
Reynaldo Gianecchini já escolheu o autor de seu livro de memórias: Guilherme Fiuza, de best-sellers como "Meu Nome Não É Johnny", já começa a colher depoimentos para a obra. O tema central, mas não único, é a superação do câncer.
DOIS EM AÇÃO
A dupla de artistas Gilbert & George fará uma performance no dia 3 de setembro, em SP, na mostra paralela à Bienal que acontecerá na Casa de Vidro, de Lina Bo Bardi, com curadoria de Hans Ulrich Obrist. Os dois, que vivem e trabalham na Inglaterra, vieram ao país em 1981.
NOSSA LÍNGUA
O acadêmico e filólogo Evanildo Bechara dará a conferência magna do "Seminário em Defesa da Língua Portuguesa", amanhã, às 9h, no auditório da Academia Paulista de Letras, em São Paulo. Participam do debate, organizado pela Academia Brasileira de Letras e pela Academia Paulista de Letras, Arnaldo Niskier, Paulo Nathanael Pereira de Souza, Fábio Lucas, Anna Maria Martins, Cícero Sandroni, Domício Proença e Dad Squarisi.
ABRE-TE SÉSAMO
A travessia do canal da represa de Guarapiranga ganhará uma ponte móvel (do tipo que se abre para embarcações passarem). Prometida desde 2005, a obra deve facilitar a implantação de uma ciclovia na margem oeste do rio Pinheiros e ligar a estação Santo Amaro da CPTM ao bairro do Socorro. O projeto será custeado por uma farmacêutica, parceria com a Secretaria de Energia de SP e a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia).
FORA DO CHUVEIRO
"Naquela época eu era mesmo fraquinho, confesso. Depois a gente aprende", diz o publicitário e apresentador da Record Roberto Justus sobre o "hobby" de cantar. Ele afirma que teria se aprimorado desde que lançou um CD, em 2008.
CANTA, CANTA
Hebe Camargo e Claudia Leitte cantaram com Roberto Justus em show para a ONG Arte de Viver Bem, de Valéria Baraccat, anteontem. O cantor Leo Maia, a apresentadora Ana Hickmann e seu marido, Alexandre Corrêa, também foram ao teatro Geo.
DA PRIMEIRA FILA
A ex-miss Minas Gerais Iara Jereissati, mulher de Carlos Jereissati, do grupo Iguatemi, posou para a revista "Harper's Bazaar" em sua fazenda, em Indaiatuba (SP). "Por conta da vida social e empresarial do Carlos, conheci e conversei com algumas das pessoas mais interessantes da atualidade. [...] Vejo a história acontecer da primeira fila", diz.
CURTO-CIRCUITO
Paulo Pasta abre a exposição "O Fim da Metade É o Começo do Meio", hoje, na galeria Millan, às 20h.
Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog, recebe convidados na abertura da mostra "Memória e Transformação", hoje, às 19h, na Cinemateca Brasileira.
A OAB-SP lança hoje a Rede Social dos Advogados, a ADV5/SP, no salão nobre da OAB, na praça da Sé.
com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, LÍGIA MESQUITA e OLÍVIA FLORÊNCIA
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 31/05
Ambev investe em ampliação de fábrica e em maltaria do RS
A Ambev está com novos investimentos no Rio Grande do Sul. Depois de ter aberto um centro de distribuição no Estado, em abril, a companhia vai investir R$ 85 milhões na ampliação da fábrica de Sapucaia do Sul.
Nessa unidade, serão realizadas obras para expandir em 40% a fabricação de refrigerantes. A planta receberá uma nova linha para embalagens PET, que poderá envasar 43 mil garrafas por hora.
No primeiro trimestre de 2012, o volume de refrigerantes vendidos pela Ambev cresceu 5,8% ante o mesmo período do ano passado.
A menina dos olhos da empresa no Estado, porém, é a maltaria de Passo Fundo, que será inaugurada no segundo semestre, provavelmente entre agosto e setembro, segundo João Castro Neves, presidente da companhia.
De início, a unidade que transforma cevada em malte terá capacidade de produzir 110 mil toneladas por ano. Até agora, foram investidos R$ 100 milhões na planta. Nos próximos dois anos, serão mais R$ 100 milhões.
"Para nós, a maltaria é muito importante porque estamos aumentando a transformação de cevada em malte aqui no Brasil. Há 15 ou 20 anos, quase toda a cevada maltada era importada e hoje estamos entre 30% e 40%."
Companhias no país reduzem aportes em ação sustentável
O investimento em práticas sustentáveis realizado pelas empresas brasileiras caiu, segundo estudo da Deloitte com um grupo de companhias que faturaram juntas R$ 700 bilhões em 2011.
O volume de empresas que aderem ao movimento, porém, aumentou.
Em 2009, 29% das empresas direcionavam entre 1% e 3% de suas receitas para ações sustentáveis. Em 2012, o índice caiu para 7%.
As empresas que destinam uma fatia menor, de 0,1% da receita para iniciativas na área aumentaram. Eram 15% em 2009 e passaram para 21% nos últimos meses.
"O investimento caiu, mas o interesse cresceu. Hoje há ações sociais, outros recursos vão para institutos ou fundações", afirma Fernando Ruiz, responsável pela pesquisa.
"Estamos em um momento mais de manutenção e maturidade do que foi injetado antes", acrescenta.
O volume de empresas interessadas no tema cresceu. Em 2009, 78% das companhias responderam que adotavam ações sustentáveis. Em 2012, subiu para 84%. Entre as que pretendem adotar a prática, a maioria são pequenas e médias.
Alta do dólar prejudica mais quem comprou viagem em sites
A recente valorização do dólar tem gerado consequências no turismo brasileiro.
Além da queda da procura para viajar a cidades europeias e americanas, com aumento dos destinos nacionais, as operadoras também esperam recuperar clientes que haviam passado a adquirir pacotes pela internet.
"Muita gente que comprou passagens pela internet tomou um susto com a fatura do cartão de crédito nos meses de abril e maio", afirma o diretor-geral da Nascimento Turismo, Plinio Nascimento.
"As pessoas acham que economizam ao buscar pela internet, mas ficam mais vulneráveis à oscilação do dólar. Vamos trazer parte do mercado de volta", diz Aldo Leone Filho, presidente da Agaxtur.
Entre os destinos que vêm sendo mais procurados para as férias de julho estão as cidades sul-americanas, como Buenos Aires e Santiago.
MUDANÇA DE HÁBITO
Altos executivos, como presidentes, diretores e altos gerentes, não mudaram muito seus costumes relacionados a sedentarismo, estresse e alimentação nos últimos anos.
O tabagismo, por outro lado, teve queda, de acordo com levantamento da operadora de saúde Omint com 18,5 mil executivos em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Em 2004, os fumantes representavam 18% do total da população avaliada.
Em 2011, eles correspondem a cerca de 11% do total.
"Hoje é proibido fumar em vários lugares. Isso faz com que a conscientização se torne uma mudança de hábito. Esse público tem acesso a informação", diz Caio Soares, diretor-médico da Omint.
ANTES Da farmácia
A gestão de negócios é a principal preocupação para 73% dos distribuidores de laboratórios brasileiros, de acordo com estudo da Abradilan (associação do setor).
Os custos logístico e de mão de obra são os mais importantes de se manterem baixos, dizem executivos do setor.
"Temos uma margem de lucro reduzida, pois o preço dos remédios é controlado e nós somos intermediários entre fabricantes e farmácias", diz o presidente da Total Comércio, Francisco Chagas.
A preocupação com a gestão dos negócios também tem o objetivo de minimizar o impacto de uma possível redução do consumo, que já é verificada nos medicamentos mais caros.
"As farmácias passam a comprar menos unidades de cada remédio, o que dificulta ainda mais a nossa logística", afirma Geraldo Monteiro, diretor-executivo da Abradilan, que atua em 82% das cidades do país.
Complicando a verdade - ALFREDO SIRKIS
O ESTADÃO - 31/05
Não vejo utilidade numa Comissão da Verdade que me conforte em seu maniqueísmo. Ela pode ser útil apenas se conseguir dar à nossa democracia e às futuras gerações elementos de reflexão para entender e evitar qualquer repetição - a História pode ser cíclica - do que aconteceu. Um governo democrático, falido, uma intervenção militar galopante que se transforma em feroz ditadura, uma resistência armada que a seu modo atiça essa ferocidade, mas cujo fracasso a exime do risco considerável de se tornar, também ela, liberticida.
Não nos coloco no mesmo plano dos que suprimiram a liberdade, perseguiram centenas de milhares por motivos políticos durante mais de duas décadas, torturaram sistematicamente e fizeram desaparecer resistentes. Os que transformaram instituições militares em máquinas de repressão, monopolizaram o poder, impuseram a censura, liquidaram as eleições e promoveram um modelo de crescimento injusto e concentrador de renda cujas sequelas persistem. Mas sustento que os nossos erros, suas consequências e tudo o que resultou da nossa ideologia de então, nos países onde chegou ao poder, são discussão legítima na Comissão da Verdade.
Não há muita serventia cívica em ficar repisando o que já se sabe há tanto tempo: que houve torturas e execuções, com desaparecimentos autorizados pela cadeia de comando daquele regime. Não é mistério quem as praticou.
A Argentina e o Chile decidiram julgar alguns dos seus torturadores e carrascos. Por outro lado, o Chile foi forçado a manter Augusto Pinochet, o ditador-comandante, à frente do Exército em toda a primeira fase de sua democracia. Outros países, como a Espanha pós-franquista e a África do Sul, optaram pelo caminho de não julgá-los. A África do Sul, em que pese a barbárie do apartheid, optou por uma Comissão da Verdade didática, catártica, com o arcebispo Desmond Tutu.
Com todo o respeito a quem sofreu o que eu não sofri - escapei da prisão e da tortura -, não vejo como politicamente positivo para o Brasil de hoje anular a "anistia recíproca" para julgá-los 40 anos mais tarde. Penso que isso, politicamente, oferece holofotes à extrema direita, facilitando o seu proselitismo no meio militar. Pavlovianamente potencializa a sua narrativa, faculta-lhe novos espaços. É um jogo de soma zero.
Para entender toda essa história é necessário também decifrar o que diabos sucedeu com a nossa democracia da Constituição de 1946. Meu amigo Darcy Ribeiro dizia que o governo de João Goulart fora "deposto por suas qualidades, não por seus defeitos". Tenho dúvidas.
É bom examinar historicamente como um governo democrático se torna de tal forma disfuncional, incompetente e fragilizado diante de uma ambição golpista à espreita desde 1954. Como consegue alienar a classe média, tornando politicamente viável a sua própria deposição. Como, num discurso insensato para suboficiais, sargentos e marinheiros no Automóvel Club do Rio de Janeiro, Jango promove a quebra da hierarquia, mas, depois, nem tenta seriamente resistir à quartelada, apesar de seu dispositivo militar legalista ainda poderoso. Enfim, como as ações desse homem bom acabam engendrando o mal.
E mais: como uma quartelada de um chefete distante do núcleo conspirador vence pelo telefone. Como um segmento extremista da oficialidade, sedento de poder em causa própria, por sucessivas e subsequentes quarteladas vai estabelecendo a ditadura: supressão das eleições presidenciais previstas para 1965, perseguições em massa, as primeiras torturas e, finalmente, a instituição de um poder ditatorial truculento e corrupto (lembrem-se de Yolanda Costa e Silva). Como a resistência a esse estado de coisas jamais logra unificar-se e mobilizar a maioria da população pelo restabelecimento da democracia perdida - isso só aconteceria duas décadas mais tarde -, mas parte para uma ação armada socialmente isolada.
Nesse contexto de isolamento social, a luta armada acabou favorecendo os segmentos mais duros do regime, que superestimaram, por vezes comicamente, o nosso poderio. Só para dar um exemplo, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) no Rio de Janeiro, na época de suas ações mais espetaculares - o sequestro dos embaixadores da Alemanha e da Suíça e sua troca por 110 presos políticos -, tinha menos de 20 combatentes... e duas metralhadoras.
Além dos erros políticos, da visão autoritária e das vítimas de nossas ações, em situação de confronto, podem-se também atribuir crimes à guerrilha urbana? Em alguns casos, sim. Um marinheiro inglês, de 19 anos, estupidamente "justiçado", na Praça Mauá. Um militante que queria deixar uma das organizações executado pelos companheiros por suspeita de poder vir a se tornar um "traidor". Dois exemplos. Não foram tantos assim, mas, a bem da verdade, aconteceram. E as dezenas de pessoas, alheias a todo aquele conflito, que estiveram em algum momento sob a mira de nossas armas quando "expropriamos" os bancos dos quais eram clientes, ou nos seus carros, tomados de empréstimo revolucionário para uma operação?
A verdade terá sua serventia se for para vacinar a sociedade brasileira contra o conjunto de erros cometidos no Brasil desde 1946, e não somente repetir, repisar e reiterar o que todos já sabemos desde os relatórios detalhados do Tortura Nunca Mais. Foi sábia, ao contrário do que pretendem alguns, a escolha do ano da Constituição pós-ditadura getulista como ponto de partida. Não faz sentido apenas apurar a verdade para concluir pela milésima vez que a ditadura militar, de 1964 a 1985, foi malvada. Faz mais sentido tentar entender por que ela durou tanto tempo, mas, sobretudo, por que antes dela havia fracassado a democracia.
Deixa disso - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 31/05
Em conversa ontem no Alvorada, Lula prometeu a Dilma Rousseff que não alimentará, por ora, a polêmica com Gilmar Mendes. Na noite anterior, o ex-presidente já havia domado o ímpeto de assessores que o pressionavam a redigir nova nota em resposta à declaração do ministro, segundo quem o próprio Lula estaria ajudando "bandidos" a intimidar o STF no mensalão.
Segundo aliados, a estratégia é deixar o contra-ataque a cargo do PT. "Mendes deveria ter demonstrado a mesma perplexidade frente a pressões de José Serra em recentes questões de cunho eleitoral", disse Marco Aurélio de Carvalho, do setorial jurídico do partido.
Memória 1 O dirigente petista refere-se ao telefonema do tucano ao ministro na campanha presidencial de 2010, negado por ambos.
Memória 2 Em conversas reservadas, Mendes lembra que Paulo Lacerda, que ele acredita prestar assessoria ao PT, chefiava a PF quando a casa do irmão de Lula, Genivaldo Inácio da Silva, o Vavá, foi vasculhada. À ocasião, o ex-presidente teria classificado de "humilhação'' a busca.
Ação... O PSDB referendou acordo para poupar o governador Sérgio Cabral (RJ) de convocação imediata à CPI do Cachoeira. Em troca, o PMDB atuou para adiar a votação de quebra de sigilos bancário e fiscal do tucano Marconi Perillo (GO). Peemedebistas atribuem ao senador Aécio Neves (MG) papel decisivo nas negociações.
...e reação Alheio às tratativas, o PT foi o principal derrotado da reunião de ontem, já que a comissão conseguiu convocar Agnelo Queiroz (DF) para depor.
Como assim? O PMDB não entendeu o voto do deputado e vice-líder do governo na Câmara, Hugo Leal (PSC-RJ), a favor da ida de Cabral.
Pechincha Presidente do STF, Carlos Ayres Britto pediu anteontem a Dilma aumento para o Judiciário em agosto.
Linha verde Por telefone, Dilma convidou o primeiro ministro do Japão, Yoshihiko Noda, para participar da Rio+20. A vinda do premiê, que depende do resultado de delicada votação sobre a carga tributária no parlamento, traria comitiva de 200 japoneses ao evento.
Blindagem Embora se empenhe em evitar a adesão de PSB e PC do B a Fernando Haddad (PT), Gilberto Kassab enxerga dividendos no iminente ingresso das duas siglas na coalizão petista. Instaladas em seu governo, ajudariam a suavizar os ataques de Haddad à gestão do PSD.
Operação... Na lista de soluções caseiras à mesa de Geraldo Alckmin para a vaga de Paulo Barbosa, que deixará a Secretaria de Desenvolvimento para disputar a Prefeitura de Santos, dois nomes contemplariam as aspirações da campanha de José Serra.
...casada A primeira opção é Silvio Torres, abrindo espaço na Habitação a Paulo Maluf (PP). A segunda é Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Social), tirando o DEM do páreo pela candidatura a vice na chapa tucana em SP.
Estrangeiro Mesmo após fazer as pazes com dirigentes da Juventude Tucana de São Paulo, com quem teve áspera discussão no início do ano, Serra delegou a Wesley Goggi, do Espírito Santo, o comando de seu "QG jovem".
Eu sou pop Logo após definir os rumos eleitorais do seu PSB nas principais capitais, Eduardo Campos (PE) irá a Nova York no dia 25. À ocasião, o governador receberá prêmio na ONU pela versão pernambucana do "orçamento participativo".
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"O alívio para Cabral será temporário. Virão por aí as conexões da Delta com escritórios de parentes de membros do governo e os grampos no caso Cachoeira de 2003."
DO EX-PREFEITO DO RIO CESAR MAIA (DEM), sobre a rejeição do requerimento de convocação do governador fluminense para depor à CPI do Cachoeira, que teve respaldo unânime dos deputados do PSDB que integram a comissão.
contraponto
Bola da vez
Em seminário sobre mobilidade urbana promovido pelo PT na Assembleia paulista, segunda-feira, o primeiro a discursar na mesa vespertina foi Fernando Haddad. Percebendo que jornalistas e convidados se dispersariam após a exposição do pré-candidato, o deputado Carlos Zarattini (SP), que falaria em seguida, pediu:
-Espero que vocês fiquem. Tenho dados importantes.
Na plateia, um deputado brincou, lembrando que Zarattini desistiu de ser candidato em favor de Haddad:
-Quem mandou abrir mão? Agora não reclame...