O GLOBO - 17/05
O pernambucano Luciano Coutinho, 65 anos, presidente do BNDES, dedica-se a um projeto de grande envergadura tecnológica. A ideia é montar em Minas, veja que legal, uma fábrica avançada de semicondutores com tecnologia da IBM.
A volta de Sauer...
A IBM ficaria com uns 16% do negócio. Os outros sócios seriam o próprio BNDES, o mineiro BMG, Eike Sempre Ele Batista e o alemão Wolfgang Sauer. A Finep entra com parte do financiamento. Sauer, 80 anos, foi o poderoso presidente da Autolatina, a finada joint venture que, nos anos 1980, reunia a Ford e a Volkswagen.
Ahmadinejad vem
A confirmação do Irã chegou ontem à noite. Mahmoud Ahmadinejad vem à Rio+20.
Protestos...
A comunidade judaica deve organizar protestos contra o iraniano.
À la Zózimo
E o Sérgio Machado, hein? Não é que o presidente da Transpetro decidiu fazer mais uma festa, dia 25, para o navio João Cândido? A primeira foi há dois anos, no dia 7 de maio de 2010, com a presença de Lula. Mas o navio nunca saiu do estaleiro pernambucano.
Refúgio de Coben
A Editora Arqueiro comprou os direitos de “Refúgio”, novo livro do mestre americano do suspense Harlan Coben. Traduzido para 41 idiomas, Coben já vendeu mais de 50 milhões de livros mundo afora, 500 mil só aqui.
PRETA GIL, 37 anos, a fogosa cantora, inicia em seu Twitter, hoje, Dia Internacional do Combate à Homofobia, uma campanha contra a discriminação. Veja a imagem que a artista vai postar no microblog, onde tem 2,2 milhões de seguidores. “Homofobia é crime, é desumano. Sou bissexual assumida, sou casada e estou lutando por igualdade”, desabafa. Aliás, desde que Obama deu seu apoio ao casamento gay, o tema ganhou as redes sociais. Eu apoio
Abandono afetivo
Depois da condenação de um pai pelo STJ por abandono afetivo, revelada aqui, a Justiça do Rio tomou decisão semelhante. A desembargadora Maria Regina Nova condenou um pai em R$ 50 mil por não ter reconhecido a paternidade nem dado apoio material ou emocional ao filho.
Segue...
Na ação, o pai confirmou saber da existência do menino, mas disse que não nutria nenhum sentimento por ele. Meu Deus...
Nome clonado
O Itaú/Unibanco ganhou ontem na Justiça a briga contra a Valdery dos Santos Decorações, que registrou os nomes de domínio itauunibancoholding.com.br e unibancoholding.com.br. A empresa terá de devolver os nomes e pagar R$ 12 mil. Causa do escritório Montaury Pimenta, Machado & Vieira de Melo.
Cobertura do Peixe
O ministro Luís Felipe Salomão, do STJ, negou o último recurso do Golden Green, condomínio de bacanas na Barra, no Rio, numa ação contra Romário. O condomínio queria que o Baixinho desfizesse uma obra em sua antiga cobertura, já leiloada, para pagar dívidas.
Diário de Justiça
O advogado Raphael Reimol Domenech, superintendente de relações comerciais de Docas e auditor-relator do STJD, é réu em uma ação por furto de energia num prédio comercial, onde era síndico. Corre na 36 Vara Criminal do Rio.
Viva a professora!
Dilma entrega hoje à economista Maria da Conceição Tavares, 82 anos, o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia.
O palhaço, o que é?
O Rio foi escolhido para receber o 1, Festival Internacional de Circo. Começa dia 21 de junho. Será realizado em todas as favelas com UPPs.
Ai, minha coluna
Terça, no Circuito Brasileiro de Degustação, evento de vinho, no Rio, Nelson Sargento ameaçava jogar uma bolinha de papel no lixo quando um intrometido duvidou: “Consegue fazer a cesta?" E o nosso Nelson: “Consigo. Mas... não vou tentar. Porque, se eu errar, vou ter de abaixar para pegar a bolinha. E, se abaixar, não levanto mais!” Maravilha.
quinta-feira, maio 17, 2012
As Diretas da Verdade - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 17/05
Faltou a senhora Verdade para acompanhar o senhor Diretas, nos anos 1980. Espera-se que agora, ela surja linda e majestosa por essa comissão que leva seu nome. Só assim fecha-se o ciclo aberto pelo Movimento Diretas Já
No ano que vem, o Movimento Diretas Já completa 30 anos. Ali, os personagens que tanto lutaram pela democracia encheram as ruas, as praças, os palanques. Eram brasileiros lutando de corpo e alma pelo direito de escolher seus representantes pelo voto direto e pôr um fim à farsa promovida pelos militares que indicavam o candidato e ponto. Naqueles palanques, estavam na linha de frente Ulysses Guimarães, conhecido como o “senhor Diretas”, e Tancredo Neves. Ao lado deles, dois personagens que ontem desceram a rampa interna do Palácio do Planalto, meio que escoltando a presidente Dilma Rousseff. À direita de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, a quem ela deu o braço. À esquerda, Fernando Henrique Cardoso.
Ok, você do PT vai dizer que os dois ex-presidentes estavam nos lugares errados em termos ideológicos, os petistas vão dizer que Lula está à esquerda e Fernando Henrique Cardoso, à direita. Isso hoje pouco importa. Os três sempre estiveram do mesmo lado da política, embora seus partidos tenham promovido um “divórcio” na luta pelo poder, que, invariavelmente, deixa em lados opostos quem deveria estar junto. Eles choraram juntos a derrota da Emenda Dante de Oliveira, no Congresso Nacional. O PT ficou tão revoltado que decidiu não votar em Tancredo no Colégio Eleitoral.
Mas voltemos ao simbolismo da solenidade de ontem no Planalto. Poucos passos atrás de Lula, Dilma e Fernando Henrique desceram José Sarney e Fernando Collor. Há 29 anos, quando começou o movimento das Diretas, não compunham aquele palanque com Ulysses e Tancredo. Sarney, entretanto, logo se juntaria ao grupo quando foi construído o Partido da Frente Liberal, o PFL. Foi o que deu a maioria que Tancredo precisava para vencer Paulo Maluf no Colégio Eleitoral. Ufa! Finalmente os militares estavam fora.
Por falar em Sarney…
O governo Sarney consolidou a democracia, mas não democratizou os arquivos. Collor saiu antes de poder pensar em qualquer atitude nesse sentido. Fernando Henrique Cardoso e Lula também não o fizeram. O máximo que se conseguiu até agora foi que cada um conhecesse a sua ficha no Dops ou documentos vazados aqui e ali que garantem prêmios a muitos jornalistas estudiosos do assunto. Mas fantasma das versões — tanto do lado daqueles que lutavam pela redemocratização, quanto daqueles escritos por quem comandava o país — continua perambulando. O Movimeto Diretas Já derrotou a ditadura — ainda que com a primeira eleição pós-militares tenha sido por vias indiretas —, mas não se concluiu. Faltou a senhora Verdade para acompanhar o senhor Diretas. Espera-se que agora, ela surja linda e majestosa por essa comissão que leva seu nome. Não por acaso, Dilma falou em liberdade para trabalhar, um recado aos militares dito de viva-voz pela chefe suprema das Forças Armadas, a presidente da República.
Por falar em militares…
A presença dos quatro ex-presidentes também é cercada de simbolismos. Eles fizeram questão de comparecer para que fique claro aos militares, em especial, os da reserva que não querem revelar o passado, que apoiam a Comissão da Verdade. Estavam ali como escudeiros de Dilma, um recado claro de que a Comissão da Verdade não é obra de uma ex-guerrilheira que, vez por outra, é irascível com alguns de seus ministros, assessores e presidentes de estatais. Mas é algo que vem de uma geração que precisa saber da sua vida. No Alvorada, ela aproveitou o almoço para agradecer e reforçar esse gesto. Juntos, os ex-presidentes também fizeram uma análise da situação mundial, das apreensões com a situação da Europa, da doença do venezuelano Hugo Chavez, oportunidade em que Lula aproveitou para dizer que sua saúde está em dia, salvo por uma tendinite no pé.
Por falar em irascível…
A presidente Dilma não consegue ficar seis meses sem mexer no primeiro escalão. Numa roda de políticos no Planalto, um deles deixou escapar que tinha ouvido de gente ali de dentro que o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, deixou de integrar a lista de preferidos. É fato que o PT sempre reclama que ele não é político como o era Celso Amorim, hoje ministro da Defesa. Diz-se que a sucessora — isso mesmo, mais uma mulher no governo! — viria de Washington. Se não for boato, em breve saberemos. Mas essa conversa rola nas salas onde muitos se encontram ao entrar e sair de audiências palacianas.
Faltou a senhora Verdade para acompanhar o senhor Diretas, nos anos 1980. Espera-se que agora, ela surja linda e majestosa por essa comissão que leva seu nome. Só assim fecha-se o ciclo aberto pelo Movimento Diretas Já
No ano que vem, o Movimento Diretas Já completa 30 anos. Ali, os personagens que tanto lutaram pela democracia encheram as ruas, as praças, os palanques. Eram brasileiros lutando de corpo e alma pelo direito de escolher seus representantes pelo voto direto e pôr um fim à farsa promovida pelos militares que indicavam o candidato e ponto. Naqueles palanques, estavam na linha de frente Ulysses Guimarães, conhecido como o “senhor Diretas”, e Tancredo Neves. Ao lado deles, dois personagens que ontem desceram a rampa interna do Palácio do Planalto, meio que escoltando a presidente Dilma Rousseff. À direita de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, a quem ela deu o braço. À esquerda, Fernando Henrique Cardoso.
Ok, você do PT vai dizer que os dois ex-presidentes estavam nos lugares errados em termos ideológicos, os petistas vão dizer que Lula está à esquerda e Fernando Henrique Cardoso, à direita. Isso hoje pouco importa. Os três sempre estiveram do mesmo lado da política, embora seus partidos tenham promovido um “divórcio” na luta pelo poder, que, invariavelmente, deixa em lados opostos quem deveria estar junto. Eles choraram juntos a derrota da Emenda Dante de Oliveira, no Congresso Nacional. O PT ficou tão revoltado que decidiu não votar em Tancredo no Colégio Eleitoral.
Mas voltemos ao simbolismo da solenidade de ontem no Planalto. Poucos passos atrás de Lula, Dilma e Fernando Henrique desceram José Sarney e Fernando Collor. Há 29 anos, quando começou o movimento das Diretas, não compunham aquele palanque com Ulysses e Tancredo. Sarney, entretanto, logo se juntaria ao grupo quando foi construído o Partido da Frente Liberal, o PFL. Foi o que deu a maioria que Tancredo precisava para vencer Paulo Maluf no Colégio Eleitoral. Ufa! Finalmente os militares estavam fora.
Por falar em Sarney…
O governo Sarney consolidou a democracia, mas não democratizou os arquivos. Collor saiu antes de poder pensar em qualquer atitude nesse sentido. Fernando Henrique Cardoso e Lula também não o fizeram. O máximo que se conseguiu até agora foi que cada um conhecesse a sua ficha no Dops ou documentos vazados aqui e ali que garantem prêmios a muitos jornalistas estudiosos do assunto. Mas fantasma das versões — tanto do lado daqueles que lutavam pela redemocratização, quanto daqueles escritos por quem comandava o país — continua perambulando. O Movimeto Diretas Já derrotou a ditadura — ainda que com a primeira eleição pós-militares tenha sido por vias indiretas —, mas não se concluiu. Faltou a senhora Verdade para acompanhar o senhor Diretas. Espera-se que agora, ela surja linda e majestosa por essa comissão que leva seu nome. Não por acaso, Dilma falou em liberdade para trabalhar, um recado aos militares dito de viva-voz pela chefe suprema das Forças Armadas, a presidente da República.
Por falar em militares…
A presença dos quatro ex-presidentes também é cercada de simbolismos. Eles fizeram questão de comparecer para que fique claro aos militares, em especial, os da reserva que não querem revelar o passado, que apoiam a Comissão da Verdade. Estavam ali como escudeiros de Dilma, um recado claro de que a Comissão da Verdade não é obra de uma ex-guerrilheira que, vez por outra, é irascível com alguns de seus ministros, assessores e presidentes de estatais. Mas é algo que vem de uma geração que precisa saber da sua vida. No Alvorada, ela aproveitou o almoço para agradecer e reforçar esse gesto. Juntos, os ex-presidentes também fizeram uma análise da situação mundial, das apreensões com a situação da Europa, da doença do venezuelano Hugo Chavez, oportunidade em que Lula aproveitou para dizer que sua saúde está em dia, salvo por uma tendinite no pé.
Por falar em irascível…
A presidente Dilma não consegue ficar seis meses sem mexer no primeiro escalão. Numa roda de políticos no Planalto, um deles deixou escapar que tinha ouvido de gente ali de dentro que o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, deixou de integrar a lista de preferidos. É fato que o PT sempre reclama que ele não é político como o era Celso Amorim, hoje ministro da Defesa. Diz-se que a sucessora — isso mesmo, mais uma mulher no governo! — viria de Washington. Se não for boato, em breve saberemos. Mas essa conversa rola nas salas onde muitos se encontram ao entrar e sair de audiências palacianas.
A crise europeia está em plena forma - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 17/05
O euro vai mal. Registrou uma queda em relação ao dólar, valendo agora US$ 1,2696. Desde as eleições gregas, no dia 6 de maio, a moeda única europeia perdeu quatro centavos. Não é uma queda catastrófica. Ela agrada os exportadores, prejudicados com o vigor do euro em relação ao dólar ou ao iene. Mas na realidade o recuo da moeda é sinal da péssima saúde da União Europeia e da zona do euro.
Os especialistas, claro, culpam a Grécia por essa debilidade do euro.
Esse país se dirige irremediavelmente para o abismo e atrai todos os seus parceiros europeus para baixo. De fato, é toda a Europa que se afunda no marasmo. Os últimos dados publicados pelo Eurostat são consternadores para a União Europeia e em especial para a zona do euro.
No primeiro trimestre de 2012, os 17 países que adotaram a moeda comum tiveram um crescimento nulo. Zero.
É verdade que o desempenho foi melhor do que no ano passado, quando o recuo foi de 0,3%. Mas todos os presságios eram de que o ano de 2012 seria o da retomada. A crise não seria mais do que uma triste lembrança. Mas não! A crise não é uma lembrança. Está em "plena forma".
E causa estragos.
Examinando mais de perto os dados, descobrimos uma outra razão de inquietação.
A zona do euro, essa entidade cujo objetivo é reunir as economias discrepantes do Velho Continente, está dividida em duas zonas: ao norte, os "virtuosos", com a Alemanha e a Finlândia, que prosseguem sua marcha para a frente. Ao sul, os "estropiados", Grécia, Itália, Portugal, Espanha, todos em recessão.
Entre essas duas zonas, e em igual distância uma da outra, a França, que registrou um crescimento nulo.
Esses resultados são angustiantes. Como relançar a máquina europeia se todos os indicadores estão no vermelho?
Mas há ainda pior: o instrumento que deveria permitir unificar pouco a pouco o nível de vida, as atividades, as trocas comerciais, das duas metades da Europa, a do norte e a do sul, mostrou-se incapaz de cumprir sua missão. Sem a moeda única, os países do sul capotam. E com a moeda única eles capotam da mesma maneira.
Outra constatação: a Grécia, que em parte está na origem do drama da zona do euro, é um país muito pequeno. Sua economia representa somente 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do conjunto da zona do euro.
Ora, os 98% foram incapazes de salvar os 2%. Ou seja, caso a Grécia seja obrigada a sair da zona do euro e retomar sua antiga moeda, o dracma, o resultado do combate que a zona do euro empreende há dois anos seria desastroso não só em termos de economia, mas em termos de imagem.
Se isso se produzir, o grande projeto da zona do euro sofrerá uma derrota psicológica. Que zona do euro é essa, que se apresenta como o futuro, que quer mostrar sua força, que incha o peito, mas se confessa impotente para socorrer um país cujo PIB é cinquenta vezes menor que o da própria zona do euro?
Será a pergunta levantada. É o que leva à reflexão dos especialistas que começam a imaginar a saída da Grécia, entre eles a própria Christine Lagarde, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em compensação, no contato menos rude do que o previsto, entre a chanceler alemã, Angela Merkel, e o novo presidente da França, François Hollande, em nenhum momento foi considerado que a Grécia pode levantar as amarras e zarpar - ou, mais exatamente, naufragar. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
Como apagar o desejo de consumir drogas - FERNANDO REINACH
O Estado de S.Paulo - 17/05
Cada vez que trazemos à consciência uma lembrança, ela passa a ter maiores chances de se manter em nossa memória. Cada vez que você se lembra do telefone da sua mãe, a memória do número é reforçada no seu cérebro. Se uma memória não é trazida à consciência, aos poucos ela vai se perdendo.
Há menos de um ano foi descoberto que o processo de trazer à consciência uma lembrança pode ser dividido em duas etapas. Na primeira, a informação é "copiada" para a consciência; na segunda, a informação, que está na consciência, é "reescrita" na nossa memória. Esse processo de "reescrever" apaga parcialmente a memória anterior e a substitui pela nova versão. É devido a esse fato que as memórias mudam com o tempo. Cada vez que elas são relembradas existe a chance de elas serem "reescritas" de forma ligeiramente modificada. Isso faz com que as memórias fiquem frágeis (sujeitas a modificação) por um breve período de tempo (alguns minutos), durante o qual elas estão sendo "reescritas" no nosso cérebro.
Essa descoberta abriu a possibilidade de modificar ou apagar memórias desagradáveis - conforme foi relatada na coluna de 5 de janeiro ("Como apagar memórias sem deixar traços").
Agora, um grupo de cientistas chineses e norte-americanos demonstrou que é possível apagar da memória de ratos lembranças relacionadas ao consumo de cocaína e heroína e dessa maneira diminuir o desejo de consumir drogas. E, mais impressionante, repetiram o experimento em pessoas dependentes de heroína e demonstraram que esse procedimento também é capaz de reduzir o desejo dos pacientes de consumir a droga.
O experimento em ratos é muito simples. Eles foram habituados a viver em uma gaiola com dois ambientes (diferentes formatos e diferentes pisos). Os ratos receberam durante 8 dias doses frequentes da droga. Sempre que recebiam uma dose eram colocados no ambiente 1 por algumas horas. Assim eles se habituaram a sentir os efeitos da droga nesse ambiente 1 - o qual associaram ao recebimento da droga, ficando mais tempo nessa parte da gaiola. Por mais que eles fossem colocados no ambiente 2, eles insistiam em voltar para o local onde poderiam receber a droga. Após dois dias sem acesso à droga, os ratos receberam uma única dose e foram colocados brevemente no ambiente 1 (este passo do experimento tem como função trazer para a memória as experiências relacionadas ao consumo da droga). Em seguida, eles foram divididos em três grupos. No primeiro grupo, os cientistas esperaram 10 minutos e colocaram os ratos no ambiente 2. No segundo grupo, os cientistas esperaram 1 hora antes de colocar os ratos no ambiente 2;. E, no terceiro grupo, a espera foi aumentada para 6 horas. Nos três casos, os ratos foram forçados a ficar 45 minutos no ambiente 2 (essa etapa tem como função fazer eles esquecerem a associação entre a droga e o ambiente 1). Dias depois os ratos foram soltos na gaiola com dois ambientes para testar se eles ainda preferiam o ambiente 1 (associado ao consumo de droga). O resultado foi claro. Os ratos que haviam sido submetidos ao ambiente 2 logo após receberam a droga (grupo de 10 minutos), haviam esquecido a associação entre o ambiente 1 e a droga, deixando de preferir o ambiente 1. Mas se a exposição ao ambiente 2 ocorria duas ou seis horas depois da experiência de receber a droga, a memória que associava o ambiente 1 às drogas não era apagada e os animais continuavam a preferir o ambiente 1. Isso demonstra que é possível remover a associação entre o ambiente 1 e o consumo da droga.
Experimento semelhante foi feito com ratos treinados para se autoinjetar drogas e o mesmo efeito, de apagar as associações de consumo de droga, foi obtido.
Um procedimento semelhante foi utilizado em 66 pacientes dependentes de heroína. Neste caso, o estímulo capaz de trazer à memória as lembranças relacionadas ao consumo da droga foi a apresentação de um filme de 5 minutos contendo cenas explícitas de consumo de droga. Quando apresentados ao filme, os pacientes reportavam um desejo muito alto de consumir a droga, um aumento no batimento cardíaco e na pressão sanguínea. Mas, se nos 10 minutos seguintes ao filme, os pacientes fossem colocados em contato com diversos objetos associados ao consumo de droga (como seringas, cachimbos e agulhas), mas na ausência da droga propriamente dita, a memória que era "reescrita" nos seus cérebros deixava de conter a lembrança da sensação causada pela heroína. Nos dias subsequentes estes pacientes, quando submetidos ao mesmo filme já não sentiam tanta vontade de consumir a droga e sua pressão e batimentos cardíacos não subiam tanto. O estímulo visual de pessoas consumindo drogas já não despertava um desejo tão forte.
Estes resultados são impressionantes pois mostram que um método relativamente simples e não invasivo pode alterar memórias associadas ao consumo de drogas e consequentemente o desejo de consumir drogas.
Contagem regressiva - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE - 17/05
Começaram a desaguar esta semana no STF memoriais do processo do mensalão, encaminhados por advogados dos réus. Como o documento comumente é entregue às vésperas dos julgamentos para, nas palavras de especialistas, "deixar a defesa mais fresca na memória dos juízes'', a movimentação fez crescer entre os ministros a expectativa de que Ricardo Lewandowski, responsável pela revisão do processo, entregue seu relatório até o fim da próxima semana.
A ansiedade aumentou depois do presidente Ayres Britto agendar para terça-feira nova sessão administrativa para discutir a logística do julgamento.
Vips Os advogados dos protagonistas do mensalão, no entanto, só pretendem entregar suas peças quando o STF definir a data do julgamento. Assim, esperam que os ministros deem atenção total aos seus argumentos.
Más notícias Prefeitos que foram a Brasília para a marcha aproveitaram para sondar caciques petistas sobre prognósticos do mensalão. Voltaram para a casa desanimados com o potencial de dano do caso nas eleições.
Econômica Na véspera da instalação da Comissão da Verdade, Lula quis convidar FHC para viajarem juntos a Brasília, mas desistiu quando soube que o avião colocado à sua disposição era pequeno.
Bem na foto Lula pediu para Marco Aurélio Garcia ampará-lo ao descer a rampa do Planalto com Dilma Rousseff e os demais ex-presidentes porque não queria usar bengala no ato histórico.
Não rola Petistas que integram a CPI do Cachoeira pediram apoio dos peemedebistas para convocar e quebrar o sigilo de jornalistas da revista "Veja", mas o partido aliado disse não topar a ideia.
Sobrevida Dilma deu carta branca para Graça Foster tirar Sergio Machado da Transpetro, mas a presidente da Petrobras pretende mantê-lo no cargo por ora e começar as mudanças pelas diretorias.
Plano B O governador Eduardo Campos (PSB-PE) disse a interlocutores que está disposto a reativar a candidatura do ministro Fernando Bezerra se João da Costa vencer a prévia do PT em Recife, marcada para domingo.
Palanque Aliados incentivam Aécio Neves (PSDB) a abraçar a causa municipalista no vácuo na vaia sofrida por Dilma. O tucano, que saiu em defesa dos prefeitos, quer se tornar mais conhecido nos rincões do país.
#oioioi O QG de Geraldo Alckmin viu como provocação de Gilberto Kassab nota informando que 103 pessoas foram atendidas em hospitais municipais devido ao acidente do metrô. O governo falava em 33 feridos.
Vuvuzela Além do estrago eleitoral, a colisão no metrô preocupou o Bandeirantes porque a linha 3 é a que levará torcedores ao Itaquerão, sede da abertura da Copa. As imagens do acidente correram o mundo ontem.
Arrastão Vereadores do PSDB paulistano preparam caravana para abordar José Serra hoje à noite na Associação Comercial de Pinheiros. Pedirão veto à coligação proporcional com o PSD, exigência de Kassab.
Rédea curta Pressionado a ajudar o PSDB nas 100 maiores cidades paulistas, Alckmin assumiu a costura onde o partido corre risco. No início da semana, recebeu Emanuel Fernandes, ex-secretário de Planejamento, e apelou para que se candidate em São José dos Campos.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Lula e Dilma nunca se negaram a atender a nenhum pedido de Serra e Alckmin. É que eles não querem o governo federal em São Paulo, porque têm uma mentalidade tacanha."
DO PRÉ-CANDIDATO A PREFEITO FERNANDO HADDAD (PT), que tem falado em "apagão dos transportes", ao responder ao argumento do PSDB de que o governo federal não investe na ampliação do metrô em São Paulo.
contraponto
Interpretação de texto
Durante sessão na Assembleia paulista, deputados discutiam a relação de Geraldo Alckmin com Dilma Rousseff. O petista Donisete Braga afirmou:
-O governador será envenenado pelo espírito republicano da nossa presidente.
José Bittencourt (PSD), da base governista, interveio:
-Dilma chama o governador de 'excelente parceiro'.
Braga tentou corrigir:
-Ela disse, na verdade, que teve excelentes encontros com o governador. É questão de semântica.
Querem salvar a Delta via BNDES - SÉRGIO GUERRA
O Globo - 17/05
Uma frase antiga ensina que, na política, para entender de verdade os fatos, é preciso esperar as ondas pararem de bater e analisar a espuma.
O que a espuma do escândalo Cachoeira revela é estarrecedor e ofende a integridade dos brasileiros.
Explico.
Existem na República dois cargos que são os mais importantes na definição de um governo, seja pelo seu caráter simbólico ou pelo que significam na realidade: o do ministro da Justiça e o do presidente do Banco Central. Cabem a esses dois cargos, mais do que a qualquer outro, zelar pela Justiça e pelos interesses maiores do país, manifestados nas decisões econômicas que afetam todos os brasileiros. São, portanto, cargos cujo exercício é indissociável da ética.
É, portanto, com perplexidade que os brasileiros são informados pela imprensa que o ex-ministro da Justiça do governo Lula, Márcio Thomas Bastos, se transformou, nada mais, nada menos, do que em advogado de defesa de Cachoeira pela bagatela, publicada, de 13 milhões de reais.
Não fosse essa aberração suficiente, o país é surpreendido com a revelação de que o ex-presidente do Banco Central, também no governo do PT, será o novo presidente da construtora Delta. E isso, numa operação absolutamente atípica, já que a imprensa revela que a holding que comandará a Delta assumirá seu controle sem fazer nenhum aporte financeiro.
Seria abusar muito da ingenuidade dos brasileiros acreditar que os dois teriam aceitado essas funções, sem antes consultar o governo federal e os líderes do PT, já que as biografias e credenciais no mercado de ambos estão certamente vinculadas às suas antigas funções no governo petista.
Mas se alguém ainda acreditasse - e antes que o governo diga que não tem como interferir na atuação profissional de ninguém -, a pá de cal na boa-fé foi dada com a informação divulgada de que a empresa que vai assumir a construtora Delta tem, na verdade, como maior acionista o BNDES. Em outras palavras, o dinheiro público dos brasileiros está sendo usado para salvar a construtora.
E confirmando a tese de que tudo que é ruim pode piorar, um dos donos da empresa controladora afirma em alto e bom tom que o governo federal foi previamente consultado e apoiou essa transação tapa-buraco porque "não quer que a construtora quebre". E arremata: "Imagina que o doutor Henrique Meirelles [ex-presidente do Banco Central e presidente do Conselho de Administração da holding J&F] vai fazer um negócio que o governo não quer! 99% da carteira da Delta é com o governo federal, estadual e municipal."
O tabuleiro de xadrez se fecha com a lembrança de que, após contratar José Dirceu como consultor, a Delta teve seus contratos com o governo federal ampliados de forma extraordinária.
A pergunta que se impõe é: quais são os verdadeiros elos que existem entre o PT e Cachoeira, que fazem com que alguns dos principais rostos do governo petista estendam a mão de forma tão urgente ao contraventor e à empresa acusada de manter relações ilícitas com ele? Como pode o governo federal se mobilizar - e mobilizar recursos públicos que tanta falta fazem em outras áreas da vida nacional - para salvar uma empresa acusada de superfaturamento e danos ao erário? Por que tanto interesse em ajudar Cachoeira e a Delta?
O que está se passando diante de nossos olhos e o país ainda não enxergou?
Tudo indica que existe um escândalo ainda maior dentro do escândalo gigantesco que já conhecemos.
O que a espuma do escândalo Cachoeira revela é estarrecedor e ofende a integridade dos brasileiros.
Explico.
Existem na República dois cargos que são os mais importantes na definição de um governo, seja pelo seu caráter simbólico ou pelo que significam na realidade: o do ministro da Justiça e o do presidente do Banco Central. Cabem a esses dois cargos, mais do que a qualquer outro, zelar pela Justiça e pelos interesses maiores do país, manifestados nas decisões econômicas que afetam todos os brasileiros. São, portanto, cargos cujo exercício é indissociável da ética.
É, portanto, com perplexidade que os brasileiros são informados pela imprensa que o ex-ministro da Justiça do governo Lula, Márcio Thomas Bastos, se transformou, nada mais, nada menos, do que em advogado de defesa de Cachoeira pela bagatela, publicada, de 13 milhões de reais.
Não fosse essa aberração suficiente, o país é surpreendido com a revelação de que o ex-presidente do Banco Central, também no governo do PT, será o novo presidente da construtora Delta. E isso, numa operação absolutamente atípica, já que a imprensa revela que a holding que comandará a Delta assumirá seu controle sem fazer nenhum aporte financeiro.
Seria abusar muito da ingenuidade dos brasileiros acreditar que os dois teriam aceitado essas funções, sem antes consultar o governo federal e os líderes do PT, já que as biografias e credenciais no mercado de ambos estão certamente vinculadas às suas antigas funções no governo petista.
Mas se alguém ainda acreditasse - e antes que o governo diga que não tem como interferir na atuação profissional de ninguém -, a pá de cal na boa-fé foi dada com a informação divulgada de que a empresa que vai assumir a construtora Delta tem, na verdade, como maior acionista o BNDES. Em outras palavras, o dinheiro público dos brasileiros está sendo usado para salvar a construtora.
E confirmando a tese de que tudo que é ruim pode piorar, um dos donos da empresa controladora afirma em alto e bom tom que o governo federal foi previamente consultado e apoiou essa transação tapa-buraco porque "não quer que a construtora quebre". E arremata: "Imagina que o doutor Henrique Meirelles [ex-presidente do Banco Central e presidente do Conselho de Administração da holding J&F] vai fazer um negócio que o governo não quer! 99% da carteira da Delta é com o governo federal, estadual e municipal."
O tabuleiro de xadrez se fecha com a lembrança de que, após contratar José Dirceu como consultor, a Delta teve seus contratos com o governo federal ampliados de forma extraordinária.
A pergunta que se impõe é: quais são os verdadeiros elos que existem entre o PT e Cachoeira, que fazem com que alguns dos principais rostos do governo petista estendam a mão de forma tão urgente ao contraventor e à empresa acusada de manter relações ilícitas com ele? Como pode o governo federal se mobilizar - e mobilizar recursos públicos que tanta falta fazem em outras áreas da vida nacional - para salvar uma empresa acusada de superfaturamento e danos ao erário? Por que tanto interesse em ajudar Cachoeira e a Delta?
O que está se passando diante de nossos olhos e o país ainda não enxergou?
Tudo indica que existe um escândalo ainda maior dentro do escândalo gigantesco que já conhecemos.
Um luxo - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 17/05
Para dar o caráter de ato de Estado, e não de um governo isolado, a presidente convidou os ex-presidentes dos últimos 28 anos, o mais longo período consecutivo de democracia que já experimentamos como nação, e se referiu aos dois falecidos, Tancredo Neves e Itamar Franco, reconhecendo o papel que cada um desempenhou nessa nossa caminhada de construção da democracia.
Em seu discurso, a presidente disse que se orgulhava de estar à frente do governo quando essas duas ações entram em vigor, permitindo que o Estado brasileiro se abra, mais amplamente, ao exame, à fiscalização e ao escrutínio da sociedade.
Mesmo que se saiba que muitas repartições públicas não estão ainda preparadas para dar acesso às informações tão amplo quanto o previsto na lei, e que muitos serão os obstáculos para sua plena realização, a Lei de Acesso à Informação é considerada uma das mais avançadas do mundo e permite ao cidadão o acesso a informações públicas não sigilosas, sem nem mesmo a necessidade de justificar a solicitação.
Essa "transparência obrigatória" funcionará, disse Dilma, como "o inibidor eficiente de todos os maus usos do dinheiro público, e também, de todas as violações dos direitos humanos". É o país consolidando seu pertencimento à moderna democracia digital, que permite que a sociedade acompanhe passo a passo a atuação dos funcionários públicos e, por conseguinte, dos governos como um todo.
Esta semana, por um desses acasos que o destino às vezes arma, Lula e Fernando Henrique Cardoso, dois desses ex-presidentes que mais incisivamente ajudaram a moldar a sociedade que está se organizando em torno de valores democráticos, estiveram em destaque no noticiário justamente pelo reconhecimento internacional de suas atuações à frente do governo brasileiro.
O ex-presidente Lula recebeu o "Prêmio Internacional das Quatro Liberdades" (Four Freedoms Awards 2012), homenagem da fundação holandesa Roosevelt Stichting em referência ao discurso proferido em 1941 no Congresso Americano por Franklin Roosevelt, no qual o presidente dos EUA definiu os tipos de liberdade necessários a um mundo seguro: de opinião e expressão, de culto, liberdade das privações e liberdade dos temores. O Four Freedoms Awards é concedido desde 1982 a pessoas e instituições que se engajaram para proteger a liberdade usando instrumentos pacíficos e já foi dado a Nelson Mandela, ao bispo Desmond Tutu, e ao ex-presidente americano Jimmy Carter.
Já a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, a mais antiga instituição cultural do país, concedeu o prêmio John W. Kluge 2012, considerado o Nobel das Ciências Humanas, ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, "por suas contribuições ao estudo de humanidades e pela liderança na transformação do Brasil".
O prêmio Kluge existe desde 2003, quando foi agraciado o filósofo polonês Leszek Kolakowski, e não tem periodicidade: desde 2008 não era concedido. Normalmente o prêmio de US$ 1 milhão, o mesmo valor do Prêmio Nobel, é dividido entre dois ganhadores, mas desta vez o ex-presidente brasileiro foi premiado sozinho.
O presidente Lula ganhou o Prêmio Quatro Liberdades "por ter demonstrado ao longo de toda a sua vida um compromisso com a justiça social e econômica, e por ter contribuído para promover um clima de paz e conciliação entre as nações do mundo". A Fundação Roosevelt Stichting considerou Lula uma inspiração para a comunidade internacional por sua "ascensão da pobreza abjeta à Presidência do Brasil, e sua determinação em livrar o país da extrema pobreza e da injustiça social que por tanto tempo flagelaram seus cidadãos menos afortunados".
Lula não pode comparecer à cerimônia, que contou com a presença da princesa Beatrix, por causa de sua saúde, mas enviou um vídeo no qual descreve as liberdades de opinião e expressão e a de culto, como "a cúpula de um edifício, devendo assegurar a todos o direito de pensar e crer". Mas salienta que "para levantar-se bem alto, o edifício deve contar com sólidos alicerces", que na imagem do ex-presidente seriam as "liberdades de base", a das privações e a dos temores.
"Estas devem assegurar uma vida digna a todos, acima da penúria, garantindo uma participação justa nos bens materiais".
Fernando Henrique Cardoso foi escolhido para o prêmio John W. Klkuge - um magnata americano do ramo das comunicações benfeitor da Biblioteca do Congresso - porque "aplicou políticas coerentes com seu trabalho acadêmico. Suas análises das estruturas sociais do governo, da economia e das relações raciais no Brasil assentaram as bases para sua liderança como presidente na transformação do Brasil de uma ditadura militar com alta inflação a uma democracia vibrante, inclusiva e com forte crescimento".
Segundo a Biblioteca do Congresso, a profundidade intelectual do ex-presidente, a quem classifica de um dos "maiores líderes do Brasil", fica clara no fato de seus sucessores na presidência terem mantido várias de suas políticas.
"O presidente Cardoso tem sido o acadêmico moderno que combina o estudo aprofundado com o respeito pela evidência empírica. Sua aspiração fundamental é buscar sobre a sociedade a verdade que melhor possa ser determinada, enquanto se mantém aberto à revisão de conclusões diante de novas evidências", disse James Billington, o presidente da Biblioteca do Congresso dos EUA, que considera FH "em termos puramente acadêmicos, o mais destacado cientista político do fim do século XX na América Latina".
Não é mesmo um luxo?
Projeção da receita não se confirma - RIBAMAR OLIVEIRA
Valor Econômico - 17/05/12
Apesar dos recordes de arrecadação anunciados pela Secretaria da Receita Federal (RFB), a luz amarela acendeu nos principais gabinetes da área econômica do governo, pois a receita obtida com tributos federais no primeiro quadrimestre deste ano é bastante inferior à projetada no decreto de programação orçamentária e financeira.
A frustração da receita - ou seja, a diferença entre o valor projetado pela RFB e o efetivamente obtido - ficou entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões no primeiro quadrimestre deste ano, segundo fontes do governo. A receita bruta é aquela antes das transferências constitucionais a Estados e municípios. A frustração decorreu, fundamentalmente, da redução da lucratividade das empresas, principalmente as industriais, pois o tributo mais afetado foi o Imposto de Renda (IR).
Se essa frustração não for compensada pelo aumento de outras receitas (como os dividendos e os royalties do petróleo, por exemplo) e se não houver reestimativa da projeção das despesas, o governo poderá até mesmo ser forçado a ampliar o contingenciamento das dotações orçamentárias para cumprir a meta de superávit primário. Essa questão será esclarecida nos próximos dias, quando for divulgado o relatório de avaliação de receitas e despesas relativo ao segundo bimestre.
Frustração da receita pode superar R$ 10 bilhões
A boa surpresa é que está ocorrendo um forte aumento da arrecadação da Previdência Social, mas as despesas nessa área também estão crescendo muito. Em abril, ao encaminhar o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), válido para 2013, o governo informou que trabalha com uma arrecadação estimada em R$ 274,1 bilhões para a Previdência neste ano. No último decreto de programação orçamentária e financeira, de março, o valor projetado para a arrecadação previdenciária era de R$ 269,3 bilhões. Ou seja, de um mês para o outro o governo ampliou em R$ 4,8 bilhões a sua estimativa para a receita da Previdência em 2012.
Do lado das despesas, a estimativa que consta do decreto de programação orçamentária e financeira de março é de gastos com benefícios previdenciários de R$ 308,4 bilhões neste ano. No PLDO, a projeção para essas despesas subiu para R$ 314,5 bilhões - um aumento de R$ 6,1 bilhões, em apenas um mês. Enquanto os gastos foram impactados principalmente pelo forte aumento do salário mínimo, as receitas estão sendo beneficiadas pelo crescimento da massa salarial neste ano, estimado em 12%.
Quando elaborou a sua projeção para este ano, a Receita Federal trabalhou com um crescimento nominal de 11,34%. A arrecadação bruta dos tributos administrados pela RFB (exceto a contribuição previdenciária) subiria de R$ 628,6 bilhões, em 2011, para R$ 699,9 bilhões neste ano. O comportamento registrado no primeiro quadrimestre mostra, no entanto, um crescimento de cerca de 10%.
Mesmo essa expansão de 10% está sendo influenciada pelo primeiro bimestre, quando a arrecadação foi melhor. O resultado obtido no segundo bimestre aponta alta em torno de 8,5%. Se a arrecadação administrada pela RFB crescer 10% neste ano, haveria uma frustração da receita em torno de R$ 8,5 bilhões. Mas se a tendência for a registrada no segundo bimestre, a redução em relação ao programado será muito maior.
É importante observar que um crescimento nominal de 10% da receita com tributos neste ano é um resultado excepcional, principalmente em virtude do fraco desempenho da economia. O problema é que a projeção feita pela RFB de crescimento de 11,34% da receita serviu para definir as despesas da União neste ano. Essa frustração poderá ter impacto negativo na administração financeira e orçamentária.
O fraco desempenho da economia brasileira em 2011 e no início deste ano afetou a lucratividade das empresas e, em decorrência disso, a arrecadação tributária. A frustração com a arrecadação do Imposto de Renda (receita projetada menos receita observada) é superior a R$ 4 bilhões no primeiro quadrimestre deste ano, de acordo com estimativas oficiais. A arrecadação com a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), que também reflete a lucratividade, apresentou uma frustração de mais de R$ 2 bilhões, no mesmo período.
Os tributos que refletem mais diretamente o ritmo da atividade econômica, como a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), também registraram frustração expressiva. A RFB esperava arrecadar R$ 28,6 bilhões com a Cofins no segundo bimestre, mas a previsão é de que essa receita não chegue a R$ 27 bilhões. No caso do IPI, a frustração da receita chega próximo a R$ 1 bilhão.
Ao contrário do que ocorreu no ano passado, quando a excepcional arrecadação permitiu que o governo fizesse um superávit adicional de R$ 10 bilhões, essa margem parece não existir neste ano. A menos que o governo consiga, nas numerosas ações judiciais que move para recuperar tributos não pagos, uma expressiva receita adicional. Na verdade, o governo poderá ter dificuldade em obter o superávit primário de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, se não houver recuperação do ritmo da atividade econômica.
De freio puxado - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 17/05
Crucificado por não dar andamento, durante quase três anos, ao inquérito contra o senador Demóstenes Torres, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, está há seis meses segurando outro caso. Trata-se do inquérito 650, que tramita no STJ e investiga o ex-governador de Brasília José Roberto Arruda. A Coordenadoria da Corte Especial expediu, dia 4, certidão que diz: "Certifico que os autos deste inquérito (650) permanecem no Ministério Público Federal desde 18/11/2011."
Os militares e a Comissão da Verdade
Os quatro comandantes militares se retiraram rapidamente do Salão Nobre do Palácio do Planalto após a instalação da Comissão da Verdade. Eles não queriam se manifestar. Mas militares presentes consideram que a presidente Dilma fez um discurso "provocativo". O que mais os incomodou foi este trecho: "A transparência funciona como o inibidor eficiente de todos os maus usos do dinheiro público, e também, de todas as violações dos direitos humanos." Neste momento, os comandantes Júlio Moura Neto (Marinha), Enzo Peri (Exército), Juniti Saito (Aeronáutica) e José Carlos De Nardi (Estado Maior) não bateram palmas.
"Se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulo, se existem túmulos sem corpos, nunca pode existir uma História sem voz” — Dilma Rousseff, presidente, na instalação da Comissão da Verdade
BARRADO NO BAILE. A presidente Dilma fez reuniões anteontem e ontem para debater os vetos ao texto do novo Código Florestal aprovado pelo Congresso. Participaram do processo de decisão os ministros Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário) e Luís Adams (advogado-geral da União). O ministro Mendes Ribeiro (Agricultura), na foto, não participou das conversas que tratam de tema de sua pasta.
Disfarça!
O ministro Gilmar Mendes (STF) e o procurador geral da República, Roberto Gurgel, conversavam antes do início da cerimônia da Comissão da Verdade. Trocavam impressões sobre CPI; quando perceberam que eram observados, mudaram de assunto.
A vaca e o bezerro
Depois, Gilmar foi cercado pelos senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP): "Como estão as coisas lá?", perguntou. "A situação está de vaca não conhecer bezerro, mas buscamos a verdade", respondeu Taques.
Rio+20: ensaio para a Copa do Mundo
A Infraero está montando um esquema especial no aeroporto do Galeão (RJ) para receber as delegações estrangeiras que virão participar da Rio+20. As mudanças serão um verdadeiro ensaio para a Copa de 2014. Os estrangeiros serão recebidos como delegações pela Receita Federal, com a criação de filas específicas para atendê-los. Está sendo planejado esquema especial para o pouso de aeronaves e o recebimento das malas.
O prazo
O procurador Roberto Gurgel achou "razoável" a solução encontrada pela CPI de ouvi-lo via questionário. Ontem, quando soube que tinha um prazo de apenas cinco dias para enviar as respostas, afirmou: "Então, vou usar todo".
A estrela sobe
As constantes idas do secretário-executivo da Previdência, Carlos Gabas, ao Planalto, nas últimas semanas, suscitam especulações entre os petistas de que ele está de malas prontas para assumir um cargo na Casa Civil no segundo semestre.
EGOS À FLOR DA PELE. A CPI do Cachoeira ainda não tem vice-presidente, nem o relator Odair Cunha (PT-MG) indicou nenhum sub-relator para ajudá-lo.
OS INTEGRANTES da CPI devem aprovar hoje requerimento para a quebra do sigilo bancário da Delta do Centro-Oeste e das empresas-fantasmas pertencentes ao contraventor Carlos Cachoeira.
A BANCADA DO PT já definiu os próximos passos da CPI do Cachoeira. "Onde há maior proximidade? O foco principal é a atuação de Cachoeira em Goiás", afirma o senador Humberto Costa (PT-PE).
Os militares e a Comissão da Verdade
Os quatro comandantes militares se retiraram rapidamente do Salão Nobre do Palácio do Planalto após a instalação da Comissão da Verdade. Eles não queriam se manifestar. Mas militares presentes consideram que a presidente Dilma fez um discurso "provocativo". O que mais os incomodou foi este trecho: "A transparência funciona como o inibidor eficiente de todos os maus usos do dinheiro público, e também, de todas as violações dos direitos humanos." Neste momento, os comandantes Júlio Moura Neto (Marinha), Enzo Peri (Exército), Juniti Saito (Aeronáutica) e José Carlos De Nardi (Estado Maior) não bateram palmas.
"Se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulo, se existem túmulos sem corpos, nunca pode existir uma História sem voz” — Dilma Rousseff, presidente, na instalação da Comissão da Verdade
BARRADO NO BAILE. A presidente Dilma fez reuniões anteontem e ontem para debater os vetos ao texto do novo Código Florestal aprovado pelo Congresso. Participaram do processo de decisão os ministros Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário) e Luís Adams (advogado-geral da União). O ministro Mendes Ribeiro (Agricultura), na foto, não participou das conversas que tratam de tema de sua pasta.
Disfarça!
O ministro Gilmar Mendes (STF) e o procurador geral da República, Roberto Gurgel, conversavam antes do início da cerimônia da Comissão da Verdade. Trocavam impressões sobre CPI; quando perceberam que eram observados, mudaram de assunto.
A vaca e o bezerro
Depois, Gilmar foi cercado pelos senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP): "Como estão as coisas lá?", perguntou. "A situação está de vaca não conhecer bezerro, mas buscamos a verdade", respondeu Taques.
Rio+20: ensaio para a Copa do Mundo
A Infraero está montando um esquema especial no aeroporto do Galeão (RJ) para receber as delegações estrangeiras que virão participar da Rio+20. As mudanças serão um verdadeiro ensaio para a Copa de 2014. Os estrangeiros serão recebidos como delegações pela Receita Federal, com a criação de filas específicas para atendê-los. Está sendo planejado esquema especial para o pouso de aeronaves e o recebimento das malas.
O prazo
O procurador Roberto Gurgel achou "razoável" a solução encontrada pela CPI de ouvi-lo via questionário. Ontem, quando soube que tinha um prazo de apenas cinco dias para enviar as respostas, afirmou: "Então, vou usar todo".
A estrela sobe
As constantes idas do secretário-executivo da Previdência, Carlos Gabas, ao Planalto, nas últimas semanas, suscitam especulações entre os petistas de que ele está de malas prontas para assumir um cargo na Casa Civil no segundo semestre.
EGOS À FLOR DA PELE. A CPI do Cachoeira ainda não tem vice-presidente, nem o relator Odair Cunha (PT-MG) indicou nenhum sub-relator para ajudá-lo.
OS INTEGRANTES da CPI devem aprovar hoje requerimento para a quebra do sigilo bancário da Delta do Centro-Oeste e das empresas-fantasmas pertencentes ao contraventor Carlos Cachoeira.
A BANCADA DO PT já definiu os próximos passos da CPI do Cachoeira. "Onde há maior proximidade? O foco principal é a atuação de Cachoeira em Goiás", afirma o senador Humberto Costa (PT-PE).
Para fazer a lei 'pegar' - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 17/05
Nas relações entre o Estado e a sociedade, a demanda gera a oferta. A Lei de Acesso à Informação que entrou em vigor ontem é prova desse determinismo. Ela dificilmente teria sido concebida não fossem as demandas da sociedade civil brasileira, entrelaçadas como um movimento praticamente global de cobrança dos governos por accountability - literalmente, o imperativo de prestar contas, ou, para usar o termo consagrado, transparência. Foi o que levou o Planalto a enviar à Câmara dos Deputados, em 2009, o projeto que, amalgamado a outras iniciativas parlamentares na mesma direção, resultou na lei sancionada em novembro último pela presidente Dilma Rousseff para vigorar daí a seis meses.
E será a demanda do público pelos dados oficiais a que tem direito, de agora em diante já não apenas como princípio abstrato, que fará a lei "pegar". Para se sobrepor à renitente cultura de resistência ao arejamento que impregna o Estado profundo - a burocracia cujo poder deriva em boa parte do seu controle quase monopolístico dos registros da intimidade das instituições - não basta que a Lei de Acesso tenha consagrado o conceito de que, no mundo oficial, a publicidade deve ser a regra, e o sigilo a exceção. Se os cidadãos, a título individual ou socialmente articulados, além de entidades profissionais, pesquisadores, ONGs e, em especial, a imprensa, não mostrarem interesse, intenso e constante, em saber o que faz o Poder quando a população está olhando para o outro lado, o noticiado despreparo da máquina para cumprir a nova lei se perpetuará com perversa naturalidade.
O Brasil é o 91.º país a obrigar formalmente o Estado a se expor. O primeiro foi a Suécia, há nada menos de 246 anos. Ali, as autoridades não desfrutam nem sequer de sigilo postal - a sua correspondência, quando tratar de assuntos públicos, é pública. Na América Latina, 12 países se anteciparam ao nosso na criação de leis de acesso. Mas os números podem enganar. Descontados os exemplos nórdicos e de outras nações avançadas, as engrenagens de operação do chamado Governo Aberto tendem a enferrujar por falta de uso. Elas deixam de ser acionadas devido a uma variedade de razões - desde a baixa escolarização das populações, que impede que percebam os nexos entre os seus problemas cotidianos e o desconhecimento dos atos governamentais que neles influem, até as deliberadas restrições que os interessados enfrentam nas tentativas de consulta a documentos públicos. Em tais países, a resposta pavloviana da burocracia aos pedidos tende a ser "não" - ou mañana.
A nascente legislação brasileira é tão avançada quanto se possa desejar, exceto, talvez, por não criar uma agência independente de última instância a que se possa recorrer quando um pedido de informação for negado duas vezes pelo órgão provocado. Essa função será exercida pela Controladoria-Geral da União, que não necessariamente terá no futuro um chefe cioso de sua autonomia como o atual ministro Jorge Hage. No mais, a lei é de uma amplitude rara. Sem precisar dizer por que, bastando se identificar, qualquer cidadão poderá - pessoalmente, por telefone ou pela internet - requisitar cópia de qualquer documento público do Executivo, Legislativo e Judiciário, na União, Estados e municípios, na administração direta e indireta e entidades privadas subsidiadas pelos governos, salvo quando envolvam a intimidade alheia ou sigilos constitucionais. O prazo para resposta é de até 20 dias, prorrogáveis por outros 10. Rito sumário, pois.
Esses são os parâmetros da transparência passiva - a que resulta de iniciativas da população. Mas outro mérito da Lei de Acesso - o mais abrangente instrumento de controle social do Estado já constituído no Brasil - é a ênfase na transparência ativa. Os entes públicos ficam obrigados a publicar, de forma clara e objetiva, dados básicos sobre receitas, despesas, licitações, contratos, recursos humanos, etc. Um ganho indireto da Lei de Acesso será a modernização do Estado, seja pela adoção de mecanismos eletrônicos de consulta na esfera municipal, seja - em qualquer nível - ao tornar os seus recessos menos opacos para os próprios governantes.
O significado da vaia de prefeitos - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 17/05
O sentido político da vaia recebida pela presidente Dilma de uma plateia de prefeitos, anteontem, em Brasília, extravasa a demonstração de deselegante intolerância. A presidente foi punida pelo apupo ao dizer uma verdade: se prefeitos, governadores e respectivas bancadas do movimento de reforma do sistema de royalties sobre o petróleo investirem na quebra de contratos, para auferir receita imediata, serão derrotados na Justiça. Terão deflagrado uma crise federativa, com todas as implicações negativas de um conflito desse teor - Congresso paralisado, retaliações -, e não obterão êxito.
O explosivo tema tem várias facetas. Uma delas, as deformações institucionais existentes no universo de 5.565 municípios, a grande maioria dos quais sem condições de sobreviver com receitas próprias. Com a liberalidade permitida após a promulgação da Constituição de 1988, surgiu uma indústria de criação de prefeituras apenas com objetivos políticos paroquiais. Em não muito tempo, fundaram-se quase 1.500 municípios. Poucos ou nenhum em condições de arrecadar o próprio sustento.
Vivem dos repasses de estados e da União. E veem na distribuição nacional dos royalties do petróleo mais uma fonte de dinheiro fácil para financiar seus projetos, nenhum de grande relevância. Pois, se fossem obras muito necessárias, o cenário do saneamento básico brasileiro não seria tão vergonhoso.
A vaia de terça-feira saiu de uma aliança política entre governadores, bancadas e prefeitos de estados não produtores de hidrocarbonetos interessados em abocanhar um dinheiro novo, sem qualquer preocupação com o aspecto legal da questão.
A responsabilidade do cargo leva a presidente Dilma a alertar prefeitos e a quem interessar para a impossibilidade de receitas de royalties de campos já em produção ou licitados, à espera do início da fase de exploração, serem repartidas segundo novas regras. Estará configurada a quebra de contrato, causa de insegurança jurídica, sem chances de passar pelo crivo do Supremo Tribunal Federal (STF). Como acontecerá, caso estados produtores (Rio de Janeiro, Espírito Santo à frente) sofram o esbulho no Congresso.
O presidente Lula conteve, uma primeira vez, o delírio no veto à emenda do deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) ao projeto da nova distribuição de royalties, a partir do novo modelo de exploração aprovado na Câmara. A questão foi ao Senado e está de volta à Câmara, em que o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) trabalha na relatoria de nova proposta.
Se não seguir as linhas de uma proposta ainda do governo Lula, pela qual só as receitas futuras poderão ser repartidas por novos critérios em benefício de estados não produtores, o impasse continuará. Como a União resiste a abrir mão de recursos, obtidos também dos royalties, para o restante da Federação, as chances de haver acordo que não fira qualquer direito das regiões produtoras se estreitam.
É positivo o entendimento do Palácio do risco da crise institucional que poderá ocorrer, e da qual toda a Federação sairá com prejuízos. O alerta feito pela presidente demonstra esta consciência. Mas é crucial a coordenação do Planalto, no Congresso, e junto a governadores, para evitar uma ruptura federativa.
Grécia, democracia e vampirismo - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 17/05
Se a Europa tivesse aceitado o plebiscito, economizaria seis meses de muito sangue
A chanceler alemã Angela Merkel e o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy deveriam telefonar hoje mesmo para George Papandreou e pedir desculpas por terem forçado a saída dele do governo grego no fim do ano passado.
Sumária recapitulação: Papandreou ameaçou tascar democracia no jogo da crise, na forma de um referendo para que o eleitorado grego decidisse se queria ou não o dinheiro europeu, acompanhado de rígida austeridade.
A sugestão surgiu quando os líderes do G20 começavam a se reunir em Cannes. Merkel e Sarkozy convocaram o então premiê grego ao agradável balneário francês para ouvir um pito em regra, sem nenhuma consideração pelo protocolo entre chefes de Estado ou pelos ralos cabelos brancos do colega.
Não restou alternativa a Papandreou a não ser renunciar. O que veio depois todo mundo sabe: um governo não eleito, comandado por um tecnocrata oriundo da banca e da burocracia internacional, a aceitação do pacotão europeu, o agravamento da crise, até a Grécia voltar exatamente ao ponto em que estava quando a Europa decapitou Papandreou.
Ou seja, de volta ao ponto em que tem que decidir se continua no jogo como está posto ou se sai do euro.
Se o plebiscito tivesse sido realizado seis meses atrás, haveria uma de duas hipóteses: ou os governantes gregos -legitimados pelo referendo- convenceriam os colegas europeus a dar pelo menos uma cenoura para que a sociedade grega aceitasse o imenso porrete a que está sendo submetida; ou preparar-se-ia a saída do euro de uma forma menos atabalhoada.
Economizar-se-iam seis meses de dor e sangue para os gregos e, de quebra, poupar-se-iam países como a Espanha de chegar ao limite da quebra.
Mariano Rajoy, o presidente do governo espanhol, apareceu ontem na TV aterrorizado e avisando que a Espanha está para ser cortada inteiramente do mercado de crédito, o que a obriga a viver só do que arrecada, o que é impraticável no curto e médio prazo.
Na Grécia, é pior: o presidente Karolos Papoulias contou aos líderes partidários com os quais vem se reunindo que, só na segunda-feira, fugiram dos bancos locais imponentes € 700 milhões, sem contar € 800 milhões em ordens de compra recebidas pela banca grega de títulos alemães.
Como, em março, os bancos gregos tinham em caixa meros € 165,36 bilhões, se esse vampirismo financeiro continuar no ritmo de segunda-feira, os fundos acabam em apenas oito meses e a banca quebra. O mais lógico é supor que, ante a instabilidade política, as retiradas só aumentem doravante -e a quebra virá antes.
Não quero dizer, como é óbvio, que o plebiscito teria resolvido todos os problemas e que os gregos, os espanhóis, todos os europeus seriam hoje felizes e assim ficariam para sempre. Claro que não há saída indolor para a crise.
Só quero dizer que, um, democracia é sempre melhor que a força -e há poucas coisas mais democráticas que referendos. Dois, que saudades dos grandes e visionários estadistas que construíram o sonho europeu, hoje um pesadelo.
Se a Europa tivesse aceitado o plebiscito, economizaria seis meses de muito sangue
A chanceler alemã Angela Merkel e o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy deveriam telefonar hoje mesmo para George Papandreou e pedir desculpas por terem forçado a saída dele do governo grego no fim do ano passado.
Sumária recapitulação: Papandreou ameaçou tascar democracia no jogo da crise, na forma de um referendo para que o eleitorado grego decidisse se queria ou não o dinheiro europeu, acompanhado de rígida austeridade.
A sugestão surgiu quando os líderes do G20 começavam a se reunir em Cannes. Merkel e Sarkozy convocaram o então premiê grego ao agradável balneário francês para ouvir um pito em regra, sem nenhuma consideração pelo protocolo entre chefes de Estado ou pelos ralos cabelos brancos do colega.
Não restou alternativa a Papandreou a não ser renunciar. O que veio depois todo mundo sabe: um governo não eleito, comandado por um tecnocrata oriundo da banca e da burocracia internacional, a aceitação do pacotão europeu, o agravamento da crise, até a Grécia voltar exatamente ao ponto em que estava quando a Europa decapitou Papandreou.
Ou seja, de volta ao ponto em que tem que decidir se continua no jogo como está posto ou se sai do euro.
Se o plebiscito tivesse sido realizado seis meses atrás, haveria uma de duas hipóteses: ou os governantes gregos -legitimados pelo referendo- convenceriam os colegas europeus a dar pelo menos uma cenoura para que a sociedade grega aceitasse o imenso porrete a que está sendo submetida; ou preparar-se-ia a saída do euro de uma forma menos atabalhoada.
Economizar-se-iam seis meses de dor e sangue para os gregos e, de quebra, poupar-se-iam países como a Espanha de chegar ao limite da quebra.
Mariano Rajoy, o presidente do governo espanhol, apareceu ontem na TV aterrorizado e avisando que a Espanha está para ser cortada inteiramente do mercado de crédito, o que a obriga a viver só do que arrecada, o que é impraticável no curto e médio prazo.
Na Grécia, é pior: o presidente Karolos Papoulias contou aos líderes partidários com os quais vem se reunindo que, só na segunda-feira, fugiram dos bancos locais imponentes € 700 milhões, sem contar € 800 milhões em ordens de compra recebidas pela banca grega de títulos alemães.
Como, em março, os bancos gregos tinham em caixa meros € 165,36 bilhões, se esse vampirismo financeiro continuar no ritmo de segunda-feira, os fundos acabam em apenas oito meses e a banca quebra. O mais lógico é supor que, ante a instabilidade política, as retiradas só aumentem doravante -e a quebra virá antes.
Não quero dizer, como é óbvio, que o plebiscito teria resolvido todos os problemas e que os gregos, os espanhóis, todos os europeus seriam hoje felizes e assim ficariam para sempre. Claro que não há saída indolor para a crise.
Só quero dizer que, um, democracia é sempre melhor que a força -e há poucas coisas mais democráticas que referendos. Dois, que saudades dos grandes e visionários estadistas que construíram o sonho europeu, hoje um pesadelo.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 17/05
Shoppings no Sul e no Sudeste terão aporte de R$ 340 mi
A 5R Shopping Centers, joint venture criada entre a 5R Properties e a Integra, investirá ao menos R$ 340 milhões na construção de três empreendimentos nas regiões Sul e Sudeste.
A companhia anuncia hoje um novo shopping na cidade de Alvorada (RS).
O projeto, que será construído em parceria com o grupo Pedra Branca, proprietário do terreno, está estimado em R$ 140 milhões.
"O terreno é muito perto da divisa com Porto Alegre. Se fôssemos construir na capital, a burocracia adiaria muito o início das obras", diz o presidente da empresa, Carlos Felipe Fulcher.
A inauguração do shopping center, que terá 80 mil metros quadrados de área construída, deve ocorrer no segundo semestre de 2014, após dois anos de obras.
Desde março de 2011, quando a joint venture foi criada, a companhia já anunciou cinco projetos, que, somados, representam investimentos de R$ 840 milhões. Nenhum deles em capitais.
"Dentro de 30 dias, lançaremos mais dois shopping centers, desta vez em capitais do Sul e do Sudeste", afirma o sócio Cesar Garbin.
Até o final do ano, o grupo também pretende finalizar negociações nas regiões Nordeste e Centro-Oeste.
"Já mapeamos cidades que representam boas possibilidades nesses locais, mas, até o momento, outras oportunidades adiaram esse nosso desejo", diz Garbin.
NÚMEROS
R$ 840 mi é o total investido nos cinco empreendimentos da companhia
80 mil m2 será a área construída em Alvorada (RS)
R$ 140 milhões será o investimento em Alvorada (RS)
15 meses é o tempo de operação desde que a joint venture foi criada
2.500 é o número de empregos que o empreendimento vai gerar
139 é a quantidade de lojas (cinco âncoras e quatro semiâncoras)
Alta do PIB no 1º trimestre não deve passar de 1,1%, diz banco
A expansão do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano deve ficar em 1,1% na comparação com mesmo período de 2011, segundo projeção do Credit Suisse.
Nos últimos três meses do ano passado, o crescimento foi um pouco maior (1,4%).
Diferentemente do que vinha acontecendo, o setor externo não contribuiu negativamente para a variação do PIB no começo deste ano.
O setor de serviços foi responsável pela expansão, enquanto a indústria contraiu, ainda de acordo com a análise. A agropecuária também recuou, após ter fortes altas nos trimestres anteriores.
A maior queda (-3,1%) foi registrada nos investimentos. A redução na fabricação de caminhões é apontada como uma das responsáveis pelo recuo.
Os analistas econômicos do banco acreditam que as atividades no país não irão se acelerar até junho.
A recuperação da confiança dos empresários do setor industrial deve ser lenta.
As vendas de bens duráveis no varejo serão baixas e a comercialização de veículos deve cair.
A probabilidade de o país crescer 2,5% no ano, como o banco havia previsto anteriormente, também reduziu.
OBRAS ENTRE PR E SC
Com R$ 120 milhões em investimentos, o grupo curitibano Balaroti prevê inaugurar seis lojas de material de construção até o final do ano que vem.
Apenas uma das novas unidades será instalada no Paraná. As outras ficarão em Santa Catarina.
As lojas precisam estar a no máximo 300 km de Curitiba, onde fica o centro de distribuição da rede.
"As cidades paranaenses em que temos interesse estão mais longe do que as catarinenses", afirma o presidente da empresa, Hélio Ballarotti Junior.
Para que a rede fosse ampliada, o centro de logística recebeu R$ 20 milhões e sua área construída passou de 30 mil metros quadrados para 45 mil.
Do total do capital investido, cerca de 35% é próprio. O restante é de parceiros do setor imobiliário.
DESACELERAÇÃO
A quantidade de novos registros de inadimplentes caiu 1,6% em abril, na comparação com o mês anterior, segundo dados da Boa Vista Serviços, administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).
Em relação a abril de 2011, no entanto, houve crescimento de 12% no mês.
Segundo análises da Boa Vista, a tendência de desaceleração deve se manter, com variação acumulada de 7% em 2012 ante 2011.
Contra o Estado-anunciante - EUGÊNIO BUCCI
O ESTADÃO - 17/05
No México, os meios de comunicação estão se vendendo - e se rendendo - à força do governo. O diagnóstico é de Rubén Aguilar, professor e jornalista mexicano que foi porta-voz da Presidência da República de seu país entre 2002 e 2006 (governo Vicente Fox). "Tudo está à venda", disse ele durante sua palestra no seminário Meios de Comunicação e Democracia na América Latina, realizado no Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo, no final da tarde de terça-feira. E arrematou: "Só o que se discute é o preço".
No México descrito por Aguilar, a tensão entre a imprensa e o poder, que é natural e desejável nos regimes democráticos, tende a desaparecer para dar lugar a uma relação de troca negocial, um toma lá, dá cá em que os governantes ganham poder (com o apoio dos veículos jornalísticos) e os empresários do setor ganham dinheiro (tendo no Estado um anunciante camarada). Assim, enquanto uns faturam votos e outros faturam lucros, a sociedade perde: a fiscalização do poder some de cena e a imprensa se converte em mercadoria política.
Diante desse cenário, o ex-porta-voz foi coerente e se declarou contrário ao uso de verbas públicas no mercado publicitário. O Estado, quando se converte em anunciante, passa a constranger, seduzir, cercear ou mesmo chantagear órgãos de imprensa, não necessariamente nessa ordem. O jornalismo investigativo perde fôlego - e a democracia, também.
Na abertura do mesmo seminário, Bernardo Sorj, diretor do Centro Edelstein de Pesquisa Social, professor titular aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro e organizador do livro Meios de Comunicação e Democracia: Além do Estado e do Mercado (publicado no ano passado pelo Centro Edelstein), tocou no mesmo ponto. Para ele, devemos considerar a necessidade de impor limites ao crescente investimento de dinheiro público em propaganda de governo. Aos que defendem a publicidade governamental com o tortuoso sofisma de que ela jogaria recursos em pequenos jornais e emissoras, contribuindo assim para a "diversidade" no debate público, Bernardo Sorj argumenta, corretamente, que, se for esse o objetivo, o Estado deveria abrir linhas de financiamento público, a partir de critérios democráticos, impessoais e transparentes. Essa seria a política adequada para apoiar veículos menores e fortalecer a pluralidade e a concorrência saudável.
Aos poucos, ainda que tardiamente, vai nascendo entre nós a percepção de que a publicidade governamental distorce, deforma e degrada o debate público. Ela, que sempre foi uma unanimidade entre os agentes políticos - basta ver que, no Brasil e em todos os países da América Latina, os governos anunciam cada vez mais, qualquer que seja o partido do mandatário -, começa finalmente a ser descrita como problema para os observadores mais críticos.
Já era tempo. Aqui mesmo, neste mesmo espaço, esse problema já foi denunciado mais de uma vez: o que existe hoje nas nossas democracias ainda precárias é uma simbiose promíscua entre Estado e meios de comunicação privados, gerando um ecossistema com o qual é muito difícil romper.
No Brasil, a prática avança numa progressão de enrubescer o erário. Na primeira década do século 21 será difícil encontrar, na administração pública brasileira, uma rubrica orçamentária que tenha crescido mais.
Comecemos pela Prefeitura de São Paulo: num intervalo de seis anos, o montante jogado em publicidade oficial praticamente decuplicou, saltando de R$ 12 milhões em 2005 para R$ 108 milhões em 2010. Na cidade do Rio de Janeiro, a evolução foi ainda mais estonteante: em 2009, ao menos de acordo com os dados oficiais, a soma aplicada em publicidade da prefeitura ficou na casa de R$ 0,47 milhão e, em 2011, o total alcançou a cifra de R$ 74 milhões. O governo estadual do Rio de Janeiro passou de R$ 70 milhões em 2005 para R$ 172,5 milhões em 2011. No governo federal, conforme cifras divulgadas no site da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, a Secom, os gastos da administração direta e indireta (contando, portanto, com as empresas estatais) vêm oscilando em torno da marca do bilhão de reais. No ano de 2009 houve um pico: R$ 1,7 bilhão. Também em 2009, o governo paulista alcançou um ápice de R$ 314,6 milhões, ante apenas R$ 33 milhões em 2003.
A que se destinam tantas fortunas? Elas não geram ambulatórios, não criam vagas nas escolas públicas, não abrem um só quilômetro de metrô, não aumentam o efetivo policial, não melhoram as estradas, nada disso. Nem sequer informação elas oferecem à sociedade. Só o que essa dinheirama produz é fetiche: uma boa imagem - imagem mercadológica - para aqueles que governam. É bom observar, a propósito, que a linguagem, a estética e a forma narrativa da propaganda oficial são idênticas - são as mesmas - às adotadas pelos filmetes partidários exibidos no horário eleitoral. A propaganda governamental é o prolongamento escancarado da propaganda eleitoral - e vice-versa. Ao contrário do que dizem os governantes, não sem cinismo, essas peças de comunicação não informam coisa alguma - apenas contam lorotas publicitárias.
O pior, o mais grave de tudo, é que elas esvaziam a independência dos órgãos jornalísticos de pequeno e de médio porte. Dizem as autoridades da comunicação oficial que, distribuindo seus milhões para os pequenos, os governos fortalecem os jornais locais ou "alternativos". É mentira. A verba pública transformada em verba anunciante nos jornais e nas emissoras locais produz neles uma dependência mortal. O dinheiro público entra pela porta e a independência crítica é expulsa pela janela. Também por isso, a figura novíssima e abrutalhada do Estado-anunciante só enfraquece a democracia.
Têm razão Rubén Aguilar e Bernardo Sorj. Mas que político terá coragem de romper com o ecossistema?
O mar não está para peixe - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 17/05
BRASÍLIA - Dilma Rousseff pode ter vivido ontem o grande momento de seus quatro (ou oito) anos de governo, com a instalação da Comissão da Verdade e o início da Lei de Acesso à Informação. São dois passos importantes para um país que há 27 anos tricota sua democracia.
A menina que lutou, foi presa e torturada por uma ditadura militar tornou-se a primeira presidente mulher do Brasil e, emocionada, mal contendo o choro, lembrou que a verdade não é retaliação nem perdão, é "memória e história".
E centrou no drama interminável dos desaparecidos, que é um drama também de cada um de nós: "É como se disséssemos que existem filhos sem pai, existem pais sem filhos, existem túmulos sem corpos".
Para dar um caráter histórico à cerimônia, Dilma se fez ladear pelos antecessores Sarney, Collor, Fernando Henrique e Lula, brindando com todos eles num almoço no Alvorada. Um momento, mais do que suprapartidário, republicano.
Quanto aos alvos e à extensão da Comissão da Verdade, seus sete membros refletem o que se discute na própria sociedade e divergem publicamente se é para investigar só os torturadores ou se é para vasculhar também a esquerda armada.
Diante do consenso de que a verdade é "memória", sem retaliação e sem a intenção de judicializar os resultados, a solução para o impasse -ou como se chamem as divergências- é simplesmente contar a história, com seus atores e seus momentos, sem cortes, sem trucagens.
Não se preocupem as vítimas, os familiares, a esquerda, porque essa história fala por si. Basta contá-la, sistematizando o que já há e acrescentando o quanto falta para que tenha um começo, um meio e (finalmente...) um fim.
Foi uma guerra desigual e desumana, com torturadores de um lado e torturados de outro. Não há nenhuma outra verdade a ser investigada que possa se impor a essa realidade.
A menina que lutou, foi presa e torturada por uma ditadura militar tornou-se a primeira presidente mulher do Brasil e, emocionada, mal contendo o choro, lembrou que a verdade não é retaliação nem perdão, é "memória e história".
E centrou no drama interminável dos desaparecidos, que é um drama também de cada um de nós: "É como se disséssemos que existem filhos sem pai, existem pais sem filhos, existem túmulos sem corpos".
Para dar um caráter histórico à cerimônia, Dilma se fez ladear pelos antecessores Sarney, Collor, Fernando Henrique e Lula, brindando com todos eles num almoço no Alvorada. Um momento, mais do que suprapartidário, republicano.
Quanto aos alvos e à extensão da Comissão da Verdade, seus sete membros refletem o que se discute na própria sociedade e divergem publicamente se é para investigar só os torturadores ou se é para vasculhar também a esquerda armada.
Diante do consenso de que a verdade é "memória", sem retaliação e sem a intenção de judicializar os resultados, a solução para o impasse -ou como se chamem as divergências- é simplesmente contar a história, com seus atores e seus momentos, sem cortes, sem trucagens.
Não se preocupem as vítimas, os familiares, a esquerda, porque essa história fala por si. Basta contá-la, sistematizando o que já há e acrescentando o quanto falta para que tenha um começo, um meio e (finalmente...) um fim.
Foi uma guerra desigual e desumana, com torturadores de um lado e torturados de outro. Não há nenhuma outra verdade a ser investigada que possa se impor a essa realidade.
Agricultura salva PIB - ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 17/05
Mais uma vez, a agricultura e o agronegócio estão salvando a economia e a balança comercial. Há produção e investimento. A safra agrícola atual, 2011/12, deve ser 1,7% menor que a anterior, de 160 milhões de toneladas, principalmente por causa da seca do Nordeste - uma quebra de 40%, mas o mercado interno continua plenamente atendido e as exportações aumentam.
Esse cenário contrasta com os demais setores, que recebem mais atenção da mídia. Serve de exemplo e merece ser destacado, pois é um exemplo de grande êxito a seguir.
Salva a balança. Com superávit comercial de US$ 20,8 bilhões de janeiro a abril e US$ 77,95 bilhões em 12 meses, o agronegócio continuou a ser o principal fator de segurança do setor externo. Sem ele, não haveria superávit, mas déficit. O Brasil tem 7% da produção mundial de grãos. No mundo, são 2,3 bilhões de toneladas e, no Brasil, 160 milhões.
Da reforma cambial, em 1999, até hoje, as vendas externas de alimentos e agroprodutos aumentaram velozmente, 200% (!), enquanto as cotações das commodities se valorizavam apenas 23%, lembra Rolf Kuntz em artigo neste caderno, em 14 de março. E isso, apesar de os produtos brasileiros sofrerem feroz competição de países competidores com subsídios, protecionismos, manipulação cambial e até discriminação.
O destaque para esse cenário positivo levou em conta o aumento na quantidade exportada, no período, dos três produtos do setor: soja em grão (36%); farelo de soja (8%) e óleo de soja (20%). No primeiro quadrimestre os preços médios de exportação da soja ainda estavam elevados, mas a cotação média de exportação tanto do farelo quanto do óleo de soja caíram 10% e 6%, respectivamente. A queda dos preços das commodities e dos produtos agrícolas foi compensada por maior agressividade do agricultor brasileiro, apoiada pelo governo, num mercado competitivo e em retração.
O que pesa. O agronegócio participava no ano passado com 22,15 % do PIB. Sozinha, a agricultura participa com 70% e a pecuária com 30 %. O setor emprega cerca de 30 milhões de pessoas - entre 16 e 17 milhões encontram-se no setor primário e o restante nos diversos segmentos que compõem o setor.
Não é de hoje que o Brasil vem investindo na diversificação de parceiros comerciais. Não dependemos de um ou dois mercados e, justamente por isso, não fomos afetados pela crise global da mesma forma que os Estados Unidos e os países europeus. O Brasil é hoje líder em café e suco de laranja, ou ocupa os primeiros quatro lugares no comércio mundial de alimentos.
A grande vantagem. O Brasil está numa posição única: tem terras desocupadas ainda por explorar. Há no País pelo menos 50 milhões de hectares. O coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, Roberto Rodrigues, lembra que entre 1990 e 2010 a produção de alimentos cresceu nada menos que 173%, enquanto a área apenas 36%. E isso porque a produtividade cresceu 100%, diz ele. Há um espaço enorme para avançar sem ferir o meio ambiente.
A OCDE coloca o Brasil entre os principais países para atender ao crescimento de 20% da produção mundial nos próximos 8 anos. E isso porque, diz a organização, sua produção de alimentos pode crescer 40% em média na década, enquanto o potencial da Austrália é de 17%, e do Canadá, Estados Unidos e União Europeia, apenas 4%.
Meia verdade, meia mentira - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 17/05
Estão dizendo, governo e bancos, públicos e privados, que nada mudou com a poupança. Mudou, sim. E para pior, do ponto de vista do poupador. Dizem que mudou "apenas" a fórmula de cálculo dos rendimentos para poupanças novas. Pois é, só que a nova fórmula dará um resultado menor para o poupador, sempre que a taxa básica de juros for de 8,5% para baixo.
A melhor verdade, digamos assim, seria dizer que a nova fórmula é positiva para o conjunto da economia, pois a regra velha estabelecia um piso informal para a taxa geral de juros. Esta não poderia cair abaixo de 8,5%, pois isto tornaria a poupança muito mais rentável que outros investimentos, desequilibrando o sistema. Com a alteração, a taxa geral pode ir mais baixo, beneficiando toda a economia.
Mas derrubar aquele piso significa, necessariamente, reduzir o rendimento da poupança. O que foi feito. Só para os novos depósitos, certo. Mas para o pequeno poupador, sobretudo, justamente agora quando a poupança ia pagar mais que as outras aplicações, não vai mais.
TORCIDA DO FLAMENGO
O dólar vai a R$ 2, e o ministro Mantega diz que ele e a torcida do Flamengo estão satisfeitos com isso.
No mesmo dia, a Petrobras divulga seu balanço - com queda no lucro e sem alcançar metas de produção - e diz que o dólar a R$ 2 prejudica a estatal.
A empresa tem uma dívida líquida em dólares - US$ 76 bilhões - a uma taxa de câmbio flutuante. Ou seja, com o dólar mais alto, a dívida medida em reais fica mais cara. A Petrobras precisa agora de mais reais para pagar as prestações.
Além disso, a empresa mais importa do que exporta. Logo, vai pagar mais caro também nessas compras externas.
Alguém poderia dizer que a Petrobras não faz parte da torcida do Flamengo. Mas faz. É patrocinadora, até.
Outro detalhe: Mantega é o presidente do Conselho da Petrobras e voltou a dizer que o preço da gasolina não vai aumentar. Já diretores da estatal dizem que estão amargando prejuízos e que o preço precisaria aumentar.
Também não devem ser flamenguistas os brasileiros que viajam para o exterior, especialmente as novas classes médias que se beneficiavam da tal "bolsa Miami".
Certo, o ministro tem uma meia verdade quando diz que o dólar caro beneficia uma parte da indústria brasileira, pois os importados ficarão mais caros e o produto local - que já era mais caro - fica mais competitivo. Sim, mas todos, nacionais e importados, vão sair mais caros para os consumidores, flamenguistas ou vascaínos.
Por outro lado, espera-se que o dólar mais caro turbine as exportações industriais brasileiras. Mas: o mundo está crescendo menos e, pois, comprando menos; a indústria brasileira continua não competitiva por conta do custo Brasil (impostos e infraestrutura); o governo brasileiro não consegue (nem quer) fazer acordos de livre comércio com nenhum país.
Periga a gente ficar mais com o lado negativo do dólar caro.
Resumo até aqui: tudo em economia tem verso e reverso. Pode-se dizer que mudança na poupança e no dólar têm efeitos positivos neste ou naquele setor. Mas é falso, muito falso, dizer que é bom para todo mundo.
CRÉDITO
O argumento parece simples: com taxas de juros menores, os consumidores tomarão mais dinheiro emprestado, comprarão mais, e isso movimentará a economia.
Dados da Serasa Experian, entretanto, mostram que em abril último diminuiu o número de pessoas que procuraram crédito e aumentou a inadimplência. Explicação: famílias já muito endividadas estão mais preocupadas em colocar os carnês em dia.
BAIXANDO A BOLA
Não faz muito tempo, o governo garantia que o país cresceria 4,5% neste ano, com inflação a 4,5% (a meta oficial), e tudo isso com o dólar mais caro e os juros mais baixos.
Agora, o ministro Mantega diz que um "piso" de crescimento de 2,7% (resultado do ano passado) já está muito bom num mundo difícil.
E o presidente do BC, Alexandre Tombini, lembra,
en passant, que a inflação ficou abaixo dos 5% em apenas três anos.
Combine os dois comentários, e o que se segue? Estão preparando o ambiente para menos crescimento e mais inflação, como no ano passado. E, de novo, a culpa é dos gringos, claro.
A única coisa que cresce mesmo no Brasil é a arrecadação de impostos. Ano bom, ano ruim, e a receita do governo sempre sobe acima da inflação.
A presidente Dilma reconhece que temos um problema de impostos altos, como na energia, por exemplo. Promete reformas pontuais, mas não propriamente uma redução da carga, pois há
A melhor verdade, digamos assim, seria dizer que a nova fórmula é positiva para o conjunto da economia, pois a regra velha estabelecia um piso informal para a taxa geral de juros. Esta não poderia cair abaixo de 8,5%, pois isto tornaria a poupança muito mais rentável que outros investimentos, desequilibrando o sistema. Com a alteração, a taxa geral pode ir mais baixo, beneficiando toda a economia.
Mas derrubar aquele piso significa, necessariamente, reduzir o rendimento da poupança. O que foi feito. Só para os novos depósitos, certo. Mas para o pequeno poupador, sobretudo, justamente agora quando a poupança ia pagar mais que as outras aplicações, não vai mais.
TORCIDA DO FLAMENGO
O dólar vai a R$ 2, e o ministro Mantega diz que ele e a torcida do Flamengo estão satisfeitos com isso.
No mesmo dia, a Petrobras divulga seu balanço - com queda no lucro e sem alcançar metas de produção - e diz que o dólar a R$ 2 prejudica a estatal.
A empresa tem uma dívida líquida em dólares - US$ 76 bilhões - a uma taxa de câmbio flutuante. Ou seja, com o dólar mais alto, a dívida medida em reais fica mais cara. A Petrobras precisa agora de mais reais para pagar as prestações.
Além disso, a empresa mais importa do que exporta. Logo, vai pagar mais caro também nessas compras externas.
Alguém poderia dizer que a Petrobras não faz parte da torcida do Flamengo. Mas faz. É patrocinadora, até.
Outro detalhe: Mantega é o presidente do Conselho da Petrobras e voltou a dizer que o preço da gasolina não vai aumentar. Já diretores da estatal dizem que estão amargando prejuízos e que o preço precisaria aumentar.
Também não devem ser flamenguistas os brasileiros que viajam para o exterior, especialmente as novas classes médias que se beneficiavam da tal "bolsa Miami".
Certo, o ministro tem uma meia verdade quando diz que o dólar caro beneficia uma parte da indústria brasileira, pois os importados ficarão mais caros e o produto local - que já era mais caro - fica mais competitivo. Sim, mas todos, nacionais e importados, vão sair mais caros para os consumidores, flamenguistas ou vascaínos.
Por outro lado, espera-se que o dólar mais caro turbine as exportações industriais brasileiras. Mas: o mundo está crescendo menos e, pois, comprando menos; a indústria brasileira continua não competitiva por conta do custo Brasil (impostos e infraestrutura); o governo brasileiro não consegue (nem quer) fazer acordos de livre comércio com nenhum país.
Periga a gente ficar mais com o lado negativo do dólar caro.
Resumo até aqui: tudo em economia tem verso e reverso. Pode-se dizer que mudança na poupança e no dólar têm efeitos positivos neste ou naquele setor. Mas é falso, muito falso, dizer que é bom para todo mundo.
CRÉDITO
O argumento parece simples: com taxas de juros menores, os consumidores tomarão mais dinheiro emprestado, comprarão mais, e isso movimentará a economia.
Dados da Serasa Experian, entretanto, mostram que em abril último diminuiu o número de pessoas que procuraram crédito e aumentou a inadimplência. Explicação: famílias já muito endividadas estão mais preocupadas em colocar os carnês em dia.
BAIXANDO A BOLA
Não faz muito tempo, o governo garantia que o país cresceria 4,5% neste ano, com inflação a 4,5% (a meta oficial), e tudo isso com o dólar mais caro e os juros mais baixos.
Agora, o ministro Mantega diz que um "piso" de crescimento de 2,7% (resultado do ano passado) já está muito bom num mundo difícil.
E o presidente do BC, Alexandre Tombini, lembra,
en passant, que a inflação ficou abaixo dos 5% em apenas três anos.
Combine os dois comentários, e o que se segue? Estão preparando o ambiente para menos crescimento e mais inflação, como no ano passado. E, de novo, a culpa é dos gringos, claro.
A única coisa que cresce mesmo no Brasil é a arrecadação de impostos. Ano bom, ano ruim, e a receita do governo sempre sobe acima da inflação.
A presidente Dilma reconhece que temos um problema de impostos altos, como na energia, por exemplo. Promete reformas pontuais, mas não propriamente uma redução da carga, pois há
A banda de música do mensalão - MARCUS PESTANA
O GLOBO - 17/05
Numa das mais belas passagens do “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles tece um trecho definitivo: “Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”
Boa parte da energia criativa de líderes políticos, filósofos, sociólogos, poetas, psicanalistas, economistas, escritores, juristas, cineastas, foi despendida com o debate sobre os limites que envolvem a liberdade humana. A grande ideia vitoriosa neste início de século XXI é a do império da liberdade, da democracia e da tolerância sobre todas as coisas. Ditaduras existem, na Síria, em Cuba, na Coreia do Norte, na China. A xenofobia e o extremismo crescem na Europa. Mas o vetor predominante no mundo contemporâneo conspira a favor da liberdade.
Em 1977, o grande cineasta sueco Ingmar Bergman realizou um filme marcante, “O ovo da serpente”. Em clima tenso são descritos o quadro da Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial, as consequências do Tratado de Versalhes, a hiperinflação, a humilhação e a autoestima no chão de todo um povo — traços que construíram a incubadora perfeita para o desenvolvimento do “ovo da serpente”, o nazismo.
A esquerda brasileira carregou até os 80 os traços autoritários típicos das inúmeras variações nascidas a partir do marxismo leninismo. Os ventos democráticos do eurocomunismo custaram a aportar em terras brasileiras. Talvez tenha sido Carlos Nelson Coutinho com seu texto “A democracia como valor universal”, de 1979, que tenha prenunciado uma ruptura de paradigma.
Hoje a esquerda se inseriu na dinâmica da democracia. A percepção de que a liberdade é um princípio permanente, inegociável e universal é hoje amplamente difundida e enraizada. As visões do caráter de classe da democracia residem em partidos políticos radicais, marginais e exóticos e na formulação de uns poucos teóricos ainda prisioneiros da ortodoxia marxista-leninista.
Mas os arroubos autoritários de parcela do PT preocupam. A insistência em denunciar uma suposta grande mídia “golpista”, a permanente intenção de criar “controles sociais” sobre a imprensa, a histriônica campanha contra a revista “Veja” parecem revelar um autoritarismo adormecido, prestes a agredir um dos pilares da democracia que é a mais ampla liberdade de imprensa. Somam-se as manobras de intimidação à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal, com o objetivo de criar um clima de desconfiança e desmoralização das instituições, ambiente julgado necessário para beneficiar os réus do mensalão. Que a ingenuidade e a passividade não gerem o calor necessário para que “ovos da serpente” germinem no Brasil.
Numa das mais belas passagens do “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles tece um trecho definitivo: “Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”
Boa parte da energia criativa de líderes políticos, filósofos, sociólogos, poetas, psicanalistas, economistas, escritores, juristas, cineastas, foi despendida com o debate sobre os limites que envolvem a liberdade humana. A grande ideia vitoriosa neste início de século XXI é a do império da liberdade, da democracia e da tolerância sobre todas as coisas. Ditaduras existem, na Síria, em Cuba, na Coreia do Norte, na China. A xenofobia e o extremismo crescem na Europa. Mas o vetor predominante no mundo contemporâneo conspira a favor da liberdade.
Em 1977, o grande cineasta sueco Ingmar Bergman realizou um filme marcante, “O ovo da serpente”. Em clima tenso são descritos o quadro da Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial, as consequências do Tratado de Versalhes, a hiperinflação, a humilhação e a autoestima no chão de todo um povo — traços que construíram a incubadora perfeita para o desenvolvimento do “ovo da serpente”, o nazismo.
A esquerda brasileira carregou até os 80 os traços autoritários típicos das inúmeras variações nascidas a partir do marxismo leninismo. Os ventos democráticos do eurocomunismo custaram a aportar em terras brasileiras. Talvez tenha sido Carlos Nelson Coutinho com seu texto “A democracia como valor universal”, de 1979, que tenha prenunciado uma ruptura de paradigma.
Hoje a esquerda se inseriu na dinâmica da democracia. A percepção de que a liberdade é um princípio permanente, inegociável e universal é hoje amplamente difundida e enraizada. As visões do caráter de classe da democracia residem em partidos políticos radicais, marginais e exóticos e na formulação de uns poucos teóricos ainda prisioneiros da ortodoxia marxista-leninista.
Mas os arroubos autoritários de parcela do PT preocupam. A insistência em denunciar uma suposta grande mídia “golpista”, a permanente intenção de criar “controles sociais” sobre a imprensa, a histriônica campanha contra a revista “Veja” parecem revelar um autoritarismo adormecido, prestes a agredir um dos pilares da democracia que é a mais ampla liberdade de imprensa. Somam-se as manobras de intimidação à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal, com o objetivo de criar um clima de desconfiança e desmoralização das instituições, ambiente julgado necessário para beneficiar os réus do mensalão. Que a ingenuidade e a passividade não gerem o calor necessário para que “ovos da serpente” germinem no Brasil.
Pêndulo da balança - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 17/05/12
A análise da balança comercial nos quatro primeiros meses do ano mostra que não é mesmo o valor do dólar que garante as exportações. As vendas brasileiras tiveram aumento pífio, apesar da desvalorização cambial. Os números dizem também que o comércio foi afetado pela política protecionista argentina e pela desaceleração da China, que diminuiu o preço do minério de ferro. O Brasil continua dependente de poucos produtos.
De janeiro a abril, o superávit comercial do Brasil caiu 35% em relação ao mesmo período de 2011. Só não recuou mais porque os Estados Unidos aumentaram a compra do nosso petróleo. A desaceleração chinesa derrubou o preço do minério de ferro, e a Argentina criou barreiras que impediram a entrada do produto brasileiro no país. Mesmo com a desvalorização do real, as exportações, pela média diária, subiram só 2% no período, e as importações cresceram 4,8%. O superávit caiu de US$ 5 bilhões para US$ 3,3 bilhões.
Com déficit em conta corrente desde o ano passado, uma indústria pouca competitiva e sem acesso a crédito internacional, o governo argentino resolveu buscar dólares na relação comercial com o Brasil. A ideia foi criar barreiras contra produtos brasileiros, para reduzir nosso superávit. A medida já deu resultado e o saldo nos quatro primeiros meses do ano caiu 54%, de US$ 1,3 bilhão para US$ 600 milhões. As vendas para a Argentina ficaram 11,7% menores, e isolando o mês de abril a redução foi de 27%.
A reação do Brasil começou esta semana, e, como informou O GLOBO na terça-feira, atinge cerca de 60% a 70% da pauta de exportações da Argentina para cá. Produtos como maçã, uva passa, batata, farinha de trigo e vinho deixaram de ter o licenciamento automático, que facilita a entrada de produtos. Na prática, ficarão mais tempo nas fronteiras, correndo risco de estragar.
A atitude da Argentina e a resposta brasileira enfraquecem o Mercosul. Elas vão diminuir a corrente de comércio entre os dois países justamente no momento em que o mundo está em crise e a demanda mundial está mais fraca. Mas, principalmente, porque é um sinal na direção exatamente contrária ao que se deve dar num bloco comercial. Por isso, o encontro ontem entre ministros de Brasil e Argentina, no Ministério de Relações Exteriores, foi positivo, o melhor caminho é negociar.
Segundo José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), quem se aproveita da disputa é a China. Enquanto a exportação do Brasil para a Argentina caiu 11,7% de janeiro a abril, a dos chineses caiu bem menos, apenas 3%.
- A China faz investimentos na Argentina e exige em troca que eles comprem produtos chineses. Então a Argentina está trocando o Brasil pela China - disse.
A crise na Europa tem reflexos sobre o crescimento chinês, e isso afeta o Brasil indiretamente. Para a China, nossas exportações subiram 5%, com um recuo forte no minério de ferro sendo compensado por uma alta no embarque de soja. O minério de ferro, que é o principal produto de nossa balança comercial, está com preço 20% menor este ano. Somente essa queda nos preços faria com que o valor exportado de minério em 2011, de US$ 40 bilhões, caísse para US$ 32 bi. Esse caso mostra a excessiva dependência que o Brasil tem da China e o risco que isso representa. O governo chinês tem dado sinais de que o país vai crescer menos, e pelas projeções do FMI a média de crescimento da China nos próximos seis anos será de 8,6%, contra um crescimento médio de 10,8% dos últimos seis anos. O Brasil precisa se preparar para essa mudança.
- A China vai passar a ter um modelo mais focado no consumo do que no investimento. O consumo das famílias representa só 30% do PIB chinês, enquanto no Brasil e nos Estados Unidos chega a 60%. Isso significa menos compras de minério de ferro - disse o analista Felipe Queiroz, da Austin Rating.
O que evitou que o comércio exterior brasileiro ficasse no vermelho foi a decisão americana de diversificar suas fontes de suprimento de energia. Houve um aumento de 88% na compra de petróleo do Brasil por parte dos americanos, e isso ajudou nossas exportações no período subirem de US$ 6,78 bilhões para US$ 9,01 bi. Um crescimento de 33%. Os americanos representaram 12% de nossa pauta comercial, enquanto os chineses ficaram com 15%.
- É bom aumentar as vendas para os Estados Unidos, porque eles são a principal economia mundial e também o maior importador, e isso dá status. Mas o que estamos vendo foi uma decisão unilateral dos americanos de comprar mais petróleo do Brasil, e não o resultado de uma política nossa de conquistar mais mercado por lá - explicou José Augusto de Castro.
O Brasil ainda não tem uma estratégia de comércio exterior. O governo não parece ter entendido a eloquência desses números. O país continua tendo uma política comercial pouco ofensiva. Se a China tiver uma queda forte no crescimento será o suficiente para um resultado negativo na balança comercial
A análise da balança comercial nos quatro primeiros meses do ano mostra que não é mesmo o valor do dólar que garante as exportações. As vendas brasileiras tiveram aumento pífio, apesar da desvalorização cambial. Os números dizem também que o comércio foi afetado pela política protecionista argentina e pela desaceleração da China, que diminuiu o preço do minério de ferro. O Brasil continua dependente de poucos produtos.
De janeiro a abril, o superávit comercial do Brasil caiu 35% em relação ao mesmo período de 2011. Só não recuou mais porque os Estados Unidos aumentaram a compra do nosso petróleo. A desaceleração chinesa derrubou o preço do minério de ferro, e a Argentina criou barreiras que impediram a entrada do produto brasileiro no país. Mesmo com a desvalorização do real, as exportações, pela média diária, subiram só 2% no período, e as importações cresceram 4,8%. O superávit caiu de US$ 5 bilhões para US$ 3,3 bilhões.
Com déficit em conta corrente desde o ano passado, uma indústria pouca competitiva e sem acesso a crédito internacional, o governo argentino resolveu buscar dólares na relação comercial com o Brasil. A ideia foi criar barreiras contra produtos brasileiros, para reduzir nosso superávit. A medida já deu resultado e o saldo nos quatro primeiros meses do ano caiu 54%, de US$ 1,3 bilhão para US$ 600 milhões. As vendas para a Argentina ficaram 11,7% menores, e isolando o mês de abril a redução foi de 27%.
A reação do Brasil começou esta semana, e, como informou O GLOBO na terça-feira, atinge cerca de 60% a 70% da pauta de exportações da Argentina para cá. Produtos como maçã, uva passa, batata, farinha de trigo e vinho deixaram de ter o licenciamento automático, que facilita a entrada de produtos. Na prática, ficarão mais tempo nas fronteiras, correndo risco de estragar.
A atitude da Argentina e a resposta brasileira enfraquecem o Mercosul. Elas vão diminuir a corrente de comércio entre os dois países justamente no momento em que o mundo está em crise e a demanda mundial está mais fraca. Mas, principalmente, porque é um sinal na direção exatamente contrária ao que se deve dar num bloco comercial. Por isso, o encontro ontem entre ministros de Brasil e Argentina, no Ministério de Relações Exteriores, foi positivo, o melhor caminho é negociar.
Segundo José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), quem se aproveita da disputa é a China. Enquanto a exportação do Brasil para a Argentina caiu 11,7% de janeiro a abril, a dos chineses caiu bem menos, apenas 3%.
- A China faz investimentos na Argentina e exige em troca que eles comprem produtos chineses. Então a Argentina está trocando o Brasil pela China - disse.
A crise na Europa tem reflexos sobre o crescimento chinês, e isso afeta o Brasil indiretamente. Para a China, nossas exportações subiram 5%, com um recuo forte no minério de ferro sendo compensado por uma alta no embarque de soja. O minério de ferro, que é o principal produto de nossa balança comercial, está com preço 20% menor este ano. Somente essa queda nos preços faria com que o valor exportado de minério em 2011, de US$ 40 bilhões, caísse para US$ 32 bi. Esse caso mostra a excessiva dependência que o Brasil tem da China e o risco que isso representa. O governo chinês tem dado sinais de que o país vai crescer menos, e pelas projeções do FMI a média de crescimento da China nos próximos seis anos será de 8,6%, contra um crescimento médio de 10,8% dos últimos seis anos. O Brasil precisa se preparar para essa mudança.
- A China vai passar a ter um modelo mais focado no consumo do que no investimento. O consumo das famílias representa só 30% do PIB chinês, enquanto no Brasil e nos Estados Unidos chega a 60%. Isso significa menos compras de minério de ferro - disse o analista Felipe Queiroz, da Austin Rating.
O que evitou que o comércio exterior brasileiro ficasse no vermelho foi a decisão americana de diversificar suas fontes de suprimento de energia. Houve um aumento de 88% na compra de petróleo do Brasil por parte dos americanos, e isso ajudou nossas exportações no período subirem de US$ 6,78 bilhões para US$ 9,01 bi. Um crescimento de 33%. Os americanos representaram 12% de nossa pauta comercial, enquanto os chineses ficaram com 15%.
- É bom aumentar as vendas para os Estados Unidos, porque eles são a principal economia mundial e também o maior importador, e isso dá status. Mas o que estamos vendo foi uma decisão unilateral dos americanos de comprar mais petróleo do Brasil, e não o resultado de uma política nossa de conquistar mais mercado por lá - explicou José Augusto de Castro.
O Brasil ainda não tem uma estratégia de comércio exterior. O governo não parece ter entendido a eloquência desses números. O país continua tendo uma política comercial pouco ofensiva. Se a China tiver uma queda forte no crescimento será o suficiente para um resultado negativo na balança comercial