O GLOBO - 26/04/12
Cacá Diegues, nosso cineasta que completa 50 anos de carreira em 2012, foi convidado para presidir o Júri da Caméra d’Or do Festival de Cannes, que começa dia 16 de maio. O Brasil é representado no festivalzão francês, este ano, pelo longa “Na estrada”, de Walter Salles. “A música segundo Tom Jobim”, de Nelson Pereira dos Santos, será exibido numa mostra hors-concours.
Slim no Rio
O magnata mexicano Carlos Slim, apontado pela revista americana “Forbes” como o homem mais rico do mundo, passa uns dias no Rio.
Silhueta
O deputado petista CândidoVaccarezza, 56 anos, médico, pretende fazer uma gastroplastia para reduzir o peso.
Rumo a Paris
Paulo César de Oliveira Campos será nosso novo embaixador em Paris.
Plástica
Elba Ramalho, a nossa querida cantora, pôs prótese de silicone nos seios.
Deus castiga
A Espanha, que ontem deportou mais 15 brasileiros, vive um inferno astral. Crise na economia, crise com a Argentina, crise com a Monarquia e derrotas do Barça e do Real Madrid.
História do Twitter
Pelo selo Portfolio Penguin, está para ser lançado em vários países — no Brasil, inclusive — um livro sobre a história do Twitter. É escrito por Nick Bilton, colunista de tecnologia do “New York Times”.
Calma, gente
O reitor Carlos Levi convocou uma reunião do Conselho da UFRJ para hoje. Vai insistir na concessão do título de doutor honoris causa para Lula, a ser entregue dia 4 com outras universidades fluminenses. Mas o assunto continua gerando polêmica.
Segue...
Um dos conselheiros da UFRJ distribuiu ontem uma carta aos colegas. Nela, ponderou que, apesar de todos os méritos do expresidente, o assunto em discussão não é do interesse da universidade, “mas de um partido que está no governo”.
Aliás...
O Conselho Universitário da UFF, em Niterói, aprovou ontem o título a Lula. Foram 56 “sim”, seis “não”, 12 votos em branco e um nulo.
Nem vem ao Rio
A 38ª Vara Criminal do Rio decidiu que o traficante Nem, da Rocinha, enjaulado em Campo Grande, MS, virá à cidade dia10. É que a ideia de a audiência ser feita por videoconferência esbarrou na Defensoria Pública do Mato Grosso do Sul, que se recusoua prestar o atendimento.
Dança dos microfones
A Rádio Globo está contratando Luiz Penido, da Tupi, para o lugar de José Carlos Araújo, que vai para a Rádio Bradesco/Band.
Volta ao samba
O cenógrafo Mário Monteiro vai assinar, com Kaká Monteiro e Cahê Rodrigues, o desfile da Imperatriz Leopoldinense.
Livro in Rio
Ziraldo reclama de Eduardo Paes por não ter autorizado o uso de galhardetes para divulgar o 13º Salão Brasileiro de Literatura Infanto-Juvenil: — Com os milhares de galhardetes que o Rock in Rio espalhou, parece que rock é mais importante do que livro...
Verba para congresso
A Riotur repassou R$ 150 mil à Associação dos Delegados Federais para a realização do congresso da classe, no Rio.
Garota de Ipanema
Ellen Gracie, ministra aposentada do STF, passeava ontem de vestido curto, por volta de 20h, com seu cachorrinho em Ipanema.
quinta-feira, abril 26, 2012
No chão - SONIA RACY
O ESTADÃO - 26/04/12
Kassab estaria sendo considerado culpado pelo atraso na liberação das licenças requeridas pela construtora.
Chão 2
Talvez seja porque ainda não veio a público fatos como o de a WTorre ter fracassado na compra de terreno necessário para construção do viaduto que liga a avenida JK à Marginal Pinheiros.
O dono simplesmente se recusa a vendê-lo. E sem isso…
Chão 3
E quem pedala pelos 2,4 km que a WTorre já construiu entre as estações Hebraica/Rebouças e Jaguaré/Villa-Lobos tem enfrentado um pequeno problema: sem passarelas de acesso, não há como sair do trecho.
Trovões
Firmino Sampaio deve ser o novo presidente da Light.
Contra vontade de Aécio.
Mantido
O PSDB bem que tentou, anteontem à noite, tirar do ar inserções de Chalita na TV.
A Justiça indeferiu a liminar.
Martelando
Assessores de Haddad comemoram a facilidade com que o ex-ministro vem repetindo frases de efeito.
Entre as prediletas, “tivemos quatro anos de governo progressista, com Marta, e oito de governo ‘regressista’, de Serra e Kassab”.
Estranho no ninho
Quem acompanha o organograma da campanha de Serra em SP reparou: Edson Aparecido, por enquanto, é o único alckmista num time formado por serristas de raiz.
Roqueiro erudito
Roger Waters volta ao Brasil no ano que vem. E não será com seu The Wall, mas com uma… ópera.
Sim, o moço – durante passagem por Sampa – procurou Beatriz Franco do Amaral, do Teatro Municipal, mostrando interesse em encenar sua Ça Ira, sobre a Revolução Francesa.
Erudito 2
O músico, que foi conhecer o teatro, passou anônimo pelo público e por funcionários presentes. A negociação é para que a apresentação aconteça na Virada Cultural do ano que vem.
$$$
Uma grande agência de publicidade fez proposta milionária para Silvio Santos pintar os cabelos.
O empresário-apresentador ainda não se decidiu.
Cheia de charme
Narcisa Tamborindeguy quer fazer o Mulheres Ricas 2, mas sob uma condição: “Sem gente do tipo da‘Valdirene do Frango’. Afinal, o programa é para mulheres ricas, não farofeiras!”, explica, em alusão mais do que clara aVal Marchiori.
Noite feliz
Ainda falta algum tempo, mas já está confirmado: São Paulo será sede da maior exposição de presépios a céu aberto do mundo – que serão espalhados pelas ruas da cidade. Abertura? Dia 5 de dezembro. Com apoio da Arquidiocese paulistana.
Na frente
Bertoldo Salum lança livro sobre sua trajetória e a saga de 135 anos da migração libanesa para o Brasil. Com renda revertida às sociedades Cedro do Líbano e A Mão Branca. Hoje, no Clube Monte Líbano.
Kat Maconie está no Brasil para firmar nova parceria. A designer de sapatos londrina fechou com a Triya e apresentará suas criações no próximo desfile da marca.
Fotos inéditas das obras de Niemeyer registradas por Jorge Sato. É a mostra que abre hoje na Tripolli Galeria.
Benoît Rivero, editor-adjunto da coleção francesa Photo Poche, e Eduardo Muylaert, advogado e fotógrafo, batem papo com o público sobre… fotografia. Terça-feira, no MIS.
Lúcio Carvalho abre a mostra Invasões. Hoje, na Monica Filgueiras & Eduardo Machado Galeria.
Luan Santana lança novo CD. Hoje, no Villa Country.
A TAM Viagens avança. Acaba de inaugurar duas franquias nos supermercados Pão de Açúcar: de Alphaville e da Vila Clementino.
O Hotel Fasano Boa Vista entrou na Hot List 2012 da edição americana de maio da Condé Nast Traveller. É o único brasileiro.
Indagado, segunda, no programa Jogo Aberto, da Band, se tem algum amuleto da sorte, Barrichello se desconcertou. Disse que não. E se tivesse?
A agulha da bússola nos bicos das pombas - FERNANDO REINACH
O ESTADÃO - 26/04/12
Tem sido mais difícil que achar uma agulha em um palheiro. Apesar de uma pomba ser bem menor que um monte de palha, identificar a agulha que controla a bússola no corpo delas tem tirado o sono de cientistas.
Quase 20% das espécies de aves voam grandes distâncias todos os anos. Muitos habitantes do Hemisfério Norte passam o verão no Sul, voando milhares de quilômetros. A orientação durante o voo é crucial. Se o animal não chegar ao destino correto, a morte é certa. Esses voos podem durar semanas e seu sucesso depende da capacidade de orientação durante o dia, a noite e quando o céu esta encoberto. E sem dispor das tecnologias básicas de navegação - astrolábio, bússola, relógio ou GPS.
Essa capacidade intrínseca de orientação das aves já despertava a curiosidade de Aristóteles e Homero. Na Bíblia já encontramos a dúvida: as aves são orientadas por Deus ou são capazes de identificar o Sul? Durante séculos, antes do telefone, a capacidade dos pombos de voltar para seu lugar de origem fazia parte de nossa sofisticada tecnologia de comunicação. Pombos-correios eram levados a cidades distantes, bilhetes eram amarrados nos seus pés e a ave era solta. Ao voltar para sua cidade de origem, levava notícias frescas. Todo general de destaque tinha seu pombo-correio.
Hoje sabemos que os pombos possuem dois mecanismos de orientação. Um depende do sistema visual. Avaliando a posição do Sol e das estrelas, ele pode orientar o voo. Outro é uma bússola que permite à ave determinar a orientação e a intensidade do campo magnético a cada instante. Ambos foram descobertos analisando o voo de pássaros em condições em que a posição do Sol e das estrelas foi modificada artificialmente (em um planetário) ou em que um campo magnético artificial (um forte ímã) foi colocado na proximidade do pombo.
Se por um lado os cientistas sabem que o primeiro sistema depende do olho e de processos visuais, o órgão responsável por detectar o campo magnético (a bússola) foi mais difícil de achar.
Há quase dez anos, duas descobertas levaram os cientistas a crer que a bússola estava no bico. Primeiro um grupo descobriu um nervo que leva informações do bico ao cérebro. Quando esse nervo é cortado, a pomba perde a capacidade de se orientar no campo magnético, indicando que a bússola estava no bico. Mas como a ave detectaria o campo magnético? Nas bússolas, ele é detectado por uma agulha imantada que muda de direção, orientando-se no campo magnético da Terra.
Em 2003, foi descoberto que no bico das pombas há seis locais (três de cada lado da parte superior) em que se concentravam células com minúsculos cristais de ferro. Era desse local que partiam os nervos que levavam a informação sobre o campo magnético para o cérebro. Isso sugeria que os cristais de ferro seriam as agulhas. A proposta era que esses cristais, que estariam dentro dos neurônios, funcionariam como uma agulha de bússola. Sua mudança de orientação seria detectada pelos neurônios e transmitida ao cérebro. Todos estavam felizes. A agulha da bússola da pomba havia sido encontrada.
Mas agora um grupo de cientistas resolveu investigar o local exato em que esses cristais de ferro (a suposta agulha da bússola) estão localizados. E, para surpresa geral, eles descobriram que os cristais de ferro não estão no interior de neurônios, mas no interior de macrófagos, um tipo de célula que até agora nunca foi envolvida com a transmissão de impulsos nervosos.
Ficou a dúvida: será que essas partículas de ferro são mesmo as agulhas da bússola ou será que uma outra estrutura presente no bico é capaz de detectar o campo magnético?
A frustração é grande. Quando tudo parecia fazer sentido, aparece um dado novo para estragar a festa. Mas o progresso da ciência é assim mesmo, dois passos para frente, um para trás. A vantagem é que agora o palheiro ficou menor. Se antes os cientistas estavam procurando a agulha em todo o corpo das pombas, agora a investigação esta centrada na parte superior do bico. Ele parece pequeno, mas fica enorme quando examinado com um microscópio. Só nos resta esperar...
Juntos, só por Lula - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 26/04/12
A chegada de Lula a Brasília soou como uma lufada de ar político para os petistas que andam com muita saudade dessa brisa. Foi tanta conversa que o lançamento do filme Pela primeira vez, do jornalista e fotógrafo Ricardo Stuckert, terminou em segundo plano. Foi esse lançamento que levou Lula à capital da República. Afinal, Stuckert acompanhou todo o período de governo do ex-presidente e, agora, retrata a eleição da primeira mulher eleita para comandar o país. Lula, invariavelmente leal ao amigos, não faria desfeita a ele.
O assunto principal da viagem, entretanto, foi bem outro. Primeiro, o almoço com Dilma Rousseff, onde discutiram a CPI do Cachoeira, a economia, a eleição municipal, a popularidade da presidente criada por Lula ao longo de seu segundo mandato presidencial. É fato que Dilma e Lula têm visões diferentes sobre vários pontos da administração pública e ela está mais popular do que seu próprio criador. Mas errará feio quem apostar num rompimento ou numa relação de desconfiança ou de profundo mal-estar entre os dois. Dilma e Lula vão muito bem, obrigado. Com mais alegrias do que dissabores na convivência.
O que "pega" nesse bolo é o PT. Ontem mesmo, Lula nem tinha desembarcado em Brasília, mas os petistas já estavam em festa à sua espera. Ficaram frustrados ao saber que o programado almoço com a bancada tinha sido cancelado em nome de um encontro restrito a poucos convidados, no Palácio da Alvorada. Em conversas reservadas, muitos no PT dizem que Dilma precisa tirar "a carranca". Comentam que, ao lançar o programa no Nordeste, ela não deixou de lado a expressão de impaciência. O mesmo ocorreu no Palácio do Planalto, quando do anúncio do PAC da Mobilidade Urbana, na última terça-feira.
Por falar em PT...
Diante de tanta expressão de mau humor, associada à falta de convites para aquela conversa mais descontraída, mas nem por isso menos importante, os petistas não negam a saudade que sentem de Lula e do seu jeito leve de se relacionar com os políticos. E, diante disso, eles chegam a confessar que hoje só estão ao lado de Dilma por causa de Lula. E por Lula. E, também porque é melhor alguém do PT, ainda que seja de mau humor, do que um governo de oposição.
De olho na permanência no poder, os petistas não negam fôlego na hora de defender o governo Dilma no plenário. Ontem, por exemplo, nos bastidores da sessão que tratou da votação do Código Florestal, muitos comentavam à boca pequena que estava cada vez mais clara a existência de uma disputa entre PT e PMDB. Enquanto os petistas cerravam fileiras em prol do texto aprovado no Senado, defendido pelo governo, Henrique Eduardo Alves, o líder do PMDB, bradava a plenos pulmões o voto em favor do texto do deputado Paulo Piau (PMDB-MG).
Por falar em PMDB...
A defesa do texto de Piau coloca Alves em sintonia com a expressiva bancada ruralista da Casa, que contará votos na hora de escolher o sucessor de Marco Maia (PT-RS) no papel de comandante. Mas o afasta de parte do PT e da presidente Dilma. Não por acaso, ontem no plenário da Câmara, houve quem avaliasse a votação do Código como um embate entre Dilma e o vice-presidente Michel Temer. Não vamos chegar a tanto, mas a distância entre PT e PMDB está cada dia maior.
De olho no esfriamento da relação, os peemedebistas vão marcar um jantar das duas bancadas para a semana seguinte ao feriado de 1º de maio. É hora de "amarrar os bigodes". Os peemedebistas também têm saudade dos tempos em que ocupavam melhores espaços na Esplanada: o governo Lula. Nesse sentido, PT e PMDB têm muito em comum: gostam do poder e estão com saudade de Lula. Não é à toa que a festa no Museu da República ontem à noite reuniu tanta gente. É saudade dos tempos em que a política cantava no Palácio da Alvorada. Agora, para os políticos, resta a CPI instalada ontem, um colegiado que ninguém ainda é capaz de dizer para onde irá.
Por falar em CPI...
Uma excelência comentava dia desses que iria dizer à "dona da pensão", no caso, Dilma, que a CPI seria um tiro no pé do PT. A resposta dela, depois da conversa foi: "E eu com isso?" O assunto CPI na sala presidencial terminou ali.
Os petistas não negam a saudade que sentem do ex-presidente e do seu jeito leve de se relacionar com os políticos. Alguns confessam que só estão ao lado de Dilma por Lula e por pragmatismo: melhor um presidente da República petista, ainda que seja de mau humor, do que um governo de oposição
PT na cabeça - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 26/04/12
Resistências técnicas
A redução dos juros determinada pela presidente Dilma não foi adotada sem resistências pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal. Os técnicos das duas instituições têm dúvidas sobre a sustentabilidade da decisão. Eles se perguntam de onde virão os fundos para garantir tal alavancagem de crédito. E estão prevendo que ela vai levar a perdas no resultado de ambos no final deste exercício. Num deles, a previsão é de uma queda nos lucros de R$ 3 bilhões. No caso do financiamento da casa própria, a queda dos juros vai reduzir drasticamente a margem da Caixa. Mesmo assim, fizeram o que a presidente mandou.
"Esta CPI está mais para uma CPI dos Anões do Orçamento” — Miro Teixeira, deputado federal (PDT-RJ), sobre os desdobramentos da CPI do Carlos Cachoeira
SOLIDARIEDADE. O presidente do PT, Rui Falcão, no encontro com o goverrnador Agnelo Queiroz (DF), na foto, garantiu que ele não será abandonado. Sobre a Delta em Brasília, Agnelo relatou que a empresa opera na cidade por decisão judicial e que o governo paga cerca de 50% abaixo do preço médio da coleta de lixo e 10% menos no caso da varrição. Falcão esteve com o governador para simbolizar publicamente que ele não está só.
Leitura
Para o PT, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, agiu em autodefesa ao abrir inquérito contra o governador Agnelo Queiroz. Ele demorou dois anos para tomar providências no caso do senador Demóstenes Torres (GO).
É sempre assim...
Até a eclosão do escândalo do contraventor Carlos Cachoeira, e a criação da CPI, a agenda política do governo era de temas relacionados ao pacto federativo. Agora, a investigação vai ditar o ritmo e amarrar o trabalho no Congresso.
Lula e os medos de Dilma
Durante o encontro, ontem no Alvorada, o ex-presidente Lula voltou a demonstrar que está despreocupado com a CPI. Mas a presidente Dilma continuou batendo na tecla de que ela pode ser desastrosa para seu governo. Seus temores são dois: a CPI pode levar o escândalo para dentro do governo via Ministério dos Transportes; e pode paralisar o Congresso, atrapalhando a calendário de votações.
PMDB 1 x 0 PT
O PMDB liderou o bloco de partidos que aprovou o novo Código Florestal. O PT, que queria manter o texto do Senado em detrimento do relatório do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), ficou no canto do ringue, alinhado ao PSOL e ao PV.
Governo x governo
Os governistas que derrotaram a posição da presidente Dilma na votação do Código Florestal reagem contra a afirmação de que o governo perdeu. "Perdeu como? Eu sou governo e ganhei", diz o líder do PMDB, Henrique Alves (RN).
OS SENADORES Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Pedro Taques (PDT-MT) e o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) fecharam posição comum ontem durante almoço. Serão contrários às tentativas de usar a CPI para promover acertos de contas políticos e regionais.
POLIGLOTA. O ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores) fez ontem uma intervenção em inglês na reunião da União Africana. Como o português é uma das línguas de trabalho da organização, os países lusófonos estranharam a sua escolha.
O PSB, o PDT e o PCdoB racharam na votação do Código Florestal. O PT ficou só.
Delírio e mau caráter - CONTARDO CALLIGARIS
Cada um é moralmente responsável pela qualidade da religião que escolhe ou do delírio que ele elabora
1) CONTINUO pensando em Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, o canibal do agreste. Ele tem uma visão do mundo que justifica sua vida e seus atos.
Com suas duas companheiras, ele era encarregado de uma missão divina: devia encontrar mulheres perdidas e purificá-las. Essa purificação passava pelo assassinato e pela ingestão da carne das escolhidas. A visão e a missão de Jorge eram delirantes, mas o que é um delírio?
O senso comum e a psicopatologia concordam: delírio é uma convicção inquestionável, incorrigível e muito pouco plausível. Além disso, um delírio não é apenas um exercício de fantasia, ele preenche a função (crucial) de dar sentido à existência do indivíduo que delira.
São poucas as pessoas saudáveis a ponto de conseguir viver sem se atormentar com a necessidade de resolver, como se diz, o enigma da vida. Ou seja, são poucas as pessoas para quem a experiência concreta se justifica por si só, pela alegria de viver. A maioria precisa recorrer a crenças que digam por que e para o que estamos aqui.
Ora, as crenças que explicam nossa razão de estar no mundo são todas inverossímeis. Claro, a "missão" canibalesca de Jorge nos parece mais estranha do que a crença de um cristão, mas isso pouco tem a ver com a verossimilhança. Como dizer o que é mais provável, que o filho de Deus tenha sido crucificado para nos redimir ou que Deus nos encoraje a redimir os pecadores filtrando-os pela nossa digestão? No fundo, a grande diferença é que as ideias de Jorge são só dele e de suas duas cúmplices, enquanto as ideias de um cristão são compartilhadas por 2 bilhões de pessoas. Por mais que seja pouco plausível, uma crença cessa de ser delírio quando ela se socializa.
A definição de delírio (no "Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais", DSM-IV) diz que uma pessoa não pode ser diagnosticada como delirante se sua crença é "normalmente aceita por outros membros da cultura ou da subcultura dessa pessoa" -"um artigo de fé religiosa" não pode ser um delírio.
Síntese paradoxal: uma religião individual é um delírio, e um delírio coletivo deixa de ser delírio e se torna uma religião.
É um pouco frustrante dispor só de critérios quantitativos para decidir o que é delirante. Mas talvez a capacidade de compartilhar uma crença com outros já seja o sinal de uma certa "normalidade".
2) Jorge e suas companheiras são loucos e delirantes. Será que a loucura e o delírio dispensam qualquer juízo moral? Será que, moralmente, todo delírio se vale?
Não estou convencido disso. Entendo que a urgência de dar sentido à vida leve alguém a escolher uma religião ou, se ele não conseguir, a elaborar um delírio próprio. Mas cada um é responsável pela qualidade da religião que escolhe ou do delírio que ele elabora.
Comparemos religiões. Posso acreditar que Deus me reconhecerá como seu filho à condição que eu leve uma vida ilibada e, a cada noite, eu me açoite, no silêncio do meu quarto. Ou, então, posso acreditar que ele me reconhecerá como filho à condição que eu desmascare, prenda e execute os pecadores, mundo afora.
Comparemos delírios. Posso acreditar que Deus quer que eu mude de sexo. Ou posso acreditar que Deus me encarregou de andar com pinças e bisturi no bolso, para mudar o sexo dos outros.
Conclusão: uma religião ou um delírio segundo os quais os outros deveriam pagar para que MEU mundo faça sentido são, no mínimo, provas de mau caráter.
3) Dúvida diagnóstica. Os canibais do agreste chamaram a atenção da polícia quando usaram o cartão de crédito de uma das vítimas. Isso era também parte do "ritual de purificação"?
Consideremos ainda uma frase do memorial de Jorge, descrevendo o fim da primeira das três vítimas: "Eu, Bel e Jéssica nos alimentamos com a carne do mal, como se fosse um ritual de purificação, e o resto eu enterro no nosso quintal, cada parte em um lugar diferente".
Em tese, um delírio diria que aquilo ERA, sem sombra de dúvida, o ritual de purificação -nada de "como se fosse".
Se o tribunal me consultasse como perito, talvez eu alegasse o estelionato e essa frase para afirmar que Jorge não é um louco, mas um perverso, que manipulou duas abobadas e deixou alguns escritos, tudo com a intenção de urdir crimes sinistros e de ser reconhecido (e assim "desculpado") como louco.
Carga pesada - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 26/04/12
A requisição para exame da CPI dos autos da Operação Vegas, iniciada pela Polícia Federal em 2007 e concluída no início de 2009, é tida como essencial por integrantes da comissão mista já instalada para investigar as ramificações do chamado esquema Cachoeira.
Considerada a "mãe" da Operação Monte Carlo, que resultou na prisão do bicheiro Carlos Augusto Ramos, pôs fim à carreira do personagem encarnado pelo senador Demóstenes Torres e motivou a criação da CPI, a Vegas pode levar à ampliação das investigações para caminhos ainda não explorados.
Especialmente no governo e no PT há evidente disposição a fazer carga sobre o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. A posição contrária do partido no momento é tática.
Por todo lado que se ande, com qualquer pessoa que se converse nos escalões elevados do Legislativo e do Executivo surge sempre a pergunta: por que Gurgel não tomou providência quando o inquérito da Vegas foi para o Ministério Público?
Ele poderia ter arquivado, requerido novas investigações ou encaminhado o material para o Supremo Tribunal Federal. Optou por não tomar nenhuma atitude e explicou que o fez no aguardo da conclusão da Operação Monte Carlo.
Esta, porém, não existia por ocasião da conclusão da primeira. Só começou em 2010.
Por isso a explicação do procurador é considerada insatisfatória. Não se lançam suspeições sobre sua conduta pessoal, mas existe sim a desconfiança de que alguma razão muito forte pautou a paralisia.
Os de boa-fé acreditam que o procurador simplesmente teria informações de que a PF iniciaria uma nova operação e, por isso, resolveu aguardar.
Os de má-fé disseminam a versão de que ele teria deliberadamente tentado proteger Demóstenes Torres pelo fato de o senador ser oriundo do Ministério Público.
Argumento frágil, na visão dos "neutros", porém igualmente curiosos a respeito: se fosse levar a questão esse lado, Roberto Gurgel teria mais motivos para expor que para resguardar o senador que por diversas vezes o atacou publicamente.
No ambiente de dúvidas, vicejam as especulações que só seriam dirimidas com eventual convocação de Roberto Gurgel à CPI. Não há nas conversas preliminares consenso quanto a isso.
No governo existe explícito desejo de que a comissão decida convocá-lo. Não se faz referência aberta ao fato, mas a realidade é que o procurador não ficou exatamente bem visto nesse setor ao ter qualificado no ano passado o mensalão como um "grave atentado à democracia".
Mas, deixando retaliações de lado, sobram desconfianças de que a cautela do procurador-geral possa indicar a existência de informações sobre contaminação do Poder Judiciário, ou mesmo do Ministério Público, no inquérito da Vegas.
E se houver base nessa suspeita, aí sim, haveria suporte para a ofensiva petista em defesa da CPI como tentativa de misturar nesse caldo o mensalão e atrapalhar o julgamento do processo.
Conjugado. Os trabalhos da CPI levarão seis meses. Terminam, portanto, em outubro, em cima das eleições municipais. Observados critérios de seriedade, para usar o mantra da estação, doerá em alguém.
No governo, na oposição ou em ambos.
No forno. Criada por lei aprovada no ano passado, a Comissão da Verdade deverá ser finalmente constituída em maio. No governo assegura-se que a demora nada tem a ver com a resistência de militares. Guarda, antes, relação com questões políticas.
Provavelmente relacionadas ao ajuste cirúrgico necessário à escolha dos sete nomes para o equilíbrio de forças na composição do grupo.
Redundância. Se o enriquecimento é "ilícito", a decisão da comissão de juristas que auxilia o Senado na reforma do Código Penal de torná-lo crime é um pleonasmo.
A requisição para exame da CPI dos autos da Operação Vegas, iniciada pela Polícia Federal em 2007 e concluída no início de 2009, é tida como essencial por integrantes da comissão mista já instalada para investigar as ramificações do chamado esquema Cachoeira.
Considerada a "mãe" da Operação Monte Carlo, que resultou na prisão do bicheiro Carlos Augusto Ramos, pôs fim à carreira do personagem encarnado pelo senador Demóstenes Torres e motivou a criação da CPI, a Vegas pode levar à ampliação das investigações para caminhos ainda não explorados.
Especialmente no governo e no PT há evidente disposição a fazer carga sobre o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. A posição contrária do partido no momento é tática.
Por todo lado que se ande, com qualquer pessoa que se converse nos escalões elevados do Legislativo e do Executivo surge sempre a pergunta: por que Gurgel não tomou providência quando o inquérito da Vegas foi para o Ministério Público?
Ele poderia ter arquivado, requerido novas investigações ou encaminhado o material para o Supremo Tribunal Federal. Optou por não tomar nenhuma atitude e explicou que o fez no aguardo da conclusão da Operação Monte Carlo.
Esta, porém, não existia por ocasião da conclusão da primeira. Só começou em 2010.
Por isso a explicação do procurador é considerada insatisfatória. Não se lançam suspeições sobre sua conduta pessoal, mas existe sim a desconfiança de que alguma razão muito forte pautou a paralisia.
Os de boa-fé acreditam que o procurador simplesmente teria informações de que a PF iniciaria uma nova operação e, por isso, resolveu aguardar.
Os de má-fé disseminam a versão de que ele teria deliberadamente tentado proteger Demóstenes Torres pelo fato de o senador ser oriundo do Ministério Público.
Argumento frágil, na visão dos "neutros", porém igualmente curiosos a respeito: se fosse levar a questão esse lado, Roberto Gurgel teria mais motivos para expor que para resguardar o senador que por diversas vezes o atacou publicamente.
No ambiente de dúvidas, vicejam as especulações que só seriam dirimidas com eventual convocação de Roberto Gurgel à CPI. Não há nas conversas preliminares consenso quanto a isso.
No governo existe explícito desejo de que a comissão decida convocá-lo. Não se faz referência aberta ao fato, mas a realidade é que o procurador não ficou exatamente bem visto nesse setor ao ter qualificado no ano passado o mensalão como um "grave atentado à democracia".
Mas, deixando retaliações de lado, sobram desconfianças de que a cautela do procurador-geral possa indicar a existência de informações sobre contaminação do Poder Judiciário, ou mesmo do Ministério Público, no inquérito da Vegas.
E se houver base nessa suspeita, aí sim, haveria suporte para a ofensiva petista em defesa da CPI como tentativa de misturar nesse caldo o mensalão e atrapalhar o julgamento do processo.
Conjugado. Os trabalhos da CPI levarão seis meses. Terminam, portanto, em outubro, em cima das eleições municipais. Observados critérios de seriedade, para usar o mantra da estação, doerá em alguém.
No governo, na oposição ou em ambos.
No forno. Criada por lei aprovada no ano passado, a Comissão da Verdade deverá ser finalmente constituída em maio. No governo assegura-se que a demora nada tem a ver com a resistência de militares. Guarda, antes, relação com questões políticas.
Provavelmente relacionadas ao ajuste cirúrgico necessário à escolha dos sete nomes para o equilíbrio de forças na composição do grupo.
Redundância. Se o enriquecimento é "ilícito", a decisão da comissão de juristas que auxilia o Senado na reforma do Código Penal de torná-lo crime é um pleonasmo.
Bancos ainda na retranca - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 26/04/12
O mercado faz muxoxo porque o lucro dos bancos caiu no primeiro trimestre e não deve ser muito melhor até ao menos a metade do ano.
Aumentou o risco de calote, e o governo Dilma Rousseff faz campanha para diminuir o ganho das instituições. O "efeito Dilma" nem apareceu ainda nas estatísticas -deve pesar mais a partir de abril.
A inadimplência já pesou, e os banqueiros tiveram de colocar mais dinheiro de lado a fim de cobrir possíveis perdas. O mercado estima que a inadimplência não vai baixar bastante tão cedo. Em março, os números de atrasos de pagamentos apenas pararam de piorar, segundo os dados consolidados e divulgados ontem pelo Banco Central.
Mas os "spreads" foram menores já em março. Isto é, diminuiu a diferença entre as taxas que os bancos cobram para emprestar e aquelas que pagam para tomar emprestado. Mais muxoxo do mercado, dos donos do dinheiro, que negociam o grosso das ações na Bolsa.
Apesar da quedinha de março, os "spreads" continuam tão altos quanto em setembro de 2011. Foi em agosto que a Selic, a taxa "básica" de juros da economia, começou a cair. Mas foi então que se notou que a inadimplência era persistente.
O pessoal do Itaú, que divulgou anteontem balanço trimestral, disse que o banco terá de ser mais seletivo na concessão de crédito e que vai ter de fazer mais provisões ("reservar") para cobrir eventuais calotes. O Bradesco atribui a pequena expansão do seu lucro também à necessidade de se proteger de calotes.
Os bancos privados brasileiros estão mesmo seletivos, faz tempo. No balanço geral do crédito divulgado ontem pelo BC, vê-se que o aumento do estoque de crédito (dinheiro emprestado) das instituições privadas de capital nacional foi de 13,9% em 12 meses. No caso dos bancos públicos, o avanço foi de 24,6%.
É uma diferença brutal. Mas, no conjunto do setor financeiro, o avanço do crédito não acelera quase nada, embora ainda corra a boa velocidade, aumentando 19,3% nos últimos 12 meses.
Não é por causa do BNDES, que está emprestando menos porque a demanda do setor privado vinha sendo fraca. Banco do Brasil e Caixa estão segurando a peteca do crédito. Aliás, estão chutando a peteca para muito alto. Desde julho do ano passado vêm roubando mercado dos bancos privados.
E daí?
Bem, o governo está feliz porque, na sua opinião, "dobrou" os bancos privados, obrigou-os a baixar taxas de juros. Ainda é preciso ver quanto dinheiro foi emprestado a taxas menores na estatística de abril. Porém, a julgar pelas entrevistas de diretores e banqueiros na divulgação de balanços, os grandes bancos privados brasileiros dificilmente vão "correr para a galera".
Desde que começou a grande querela dos juros, os bancos privados dizem que estão meio na retranca devido à inadimplência. O Banco Central acha que a retranca foi excessiva, mas não exagera na crítica. O resto do governo pega muito mais pesado com os bancões. Mas tal campanha vai fazer a banca privada jogar mais no ataque? Ou os bancos estatais vão apenas compensar a retranca privada?
As facetas da CPI - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 26/04/12
Sair das obras do Maracanã, no entanto, não desviará a atenção das implicações que porventura existirem com políticos do Rio, nem deixar as obras da Petrobras apagará o rastro da empreiteira Delta pelo governo federal, notadamente no PAC, para o qual, ao final de 2011, era a principal fornecedora do programa, com contratos avaliados em mais de R$ 2 bilhões.
A prisão de seu diretor para o Centro-Oeste, Claudio Abreu, que, pelas gravações de conversas telefônicas, mais parecia um empregado de Carlinhos Cachoeira, não vai ter o dom de desfazer os "malfeitos", nem de restringir a ele as acusações contra a Delta.
A CPI terá espaço, por exemplo, para investigar qual a verdadeira relação do bicheiro com a empreiteira, pois cada vez mais essa promiscuidade dos negócios de ambos sugere que Cachoeira tem mais a ver com a Delta do que se suspeita.
A CPI começa com todas as investigações já feitas, e muita gente presa, e tudo indica que será difícil que novas revelações surjam, a não ser que as investigações sejam aprofundadas justamente onde a Polícia Federal e o Ministério Público ainda estão começando, que é o caso da Delta.
Além de tornar oficial o conteúdo das investigações anteriores, muito do qual já vazou, a CPI pode aprofundar aspectos das investigações.
O fato de a Corregedoria Geral da União (CGU) ter aberto um processo que pode resultar na declaração de inidoneidade da empreiteira não significa que os órgãos encarregados da vigilância do dinheiro público estejam cumprindo com o seu dever.
Um dos primeiros requerimentos da CPI deverá ser para que os órgãos fiscalizadores, como o Tribunal de Contas da União e a CGU expliquem por que não têm a capacidade de se adiantar aos fatos que são denunciados permanentemente pela imprensa e, como no caso da Delta, estão sempre a reboque das denúncias.
A capacidade de prevenção desses órgãos é praticamente nenhuma, e há uma tendência dentro da CPI para que uma de suas vertentes mais importantes seja a que vai definir novos procedimentos para a fiscalização das obras públicas e das licitações, para que se saia desta CPI com medidas concretas de melhoria do controle. Outra decisão que parece estar ganhando força dentro da CPI é não repetir o que já foi investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público nas operações Vegas e Monte Carlo.
O senador Pedro Taques, do PDT, por exemplo, um novato no Congresso e em CPIs, imagina um procedimento ideal: acha que não se deve convocar ninguém, muito menos o bicheiro Carlinhos Cachoeira, antes de a CPI receber os processos relativos às operações Vegas e Monte Carlo, para que todos os membros da comissão estejam bem preparados na hora do interrogatório.
Isso não impedirá, por exemplo, que as convocações de praxe aconteçam, e já está havendo uma corrida para registrar os primeiros pedidos dos partidos, que vão desde a convocação das figurinhas carimbadas da investigação, como o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o empresário Fernando Cavendish, a até mesmo uma acareação entre o ex-diretor do Dnit Luiz Pagot com o bicheiro, a quem acusa de ter manobrado para tirá-lo do posto.
A preocupação formal com os trabalhos da CPI parece mais presente do que em outras ocasiões, pois o desejo é que essa não seja apenas mais uma comissão de inquérito, mas deixe sua contribuição para avanços na área de fiscalização do dinheiro público.
Por isso está ganhando corpo a proposta do deputado federal Miro Teixeira, representante do PDT na Comissão Mista, de bloquear os bens dos principais acusados nos processos da Polícia Federal e do Ministério Público, para que o dinheiro desviado possa ser ressarcido aos cofres públicos em caso de condenação.
Outro aspecto formal que terá muita importância no decorrer dos trabalhos é um pedido a todos os órgãos públicos para que enviem seus documentos digitalizados no mesmo formato, a ser definido pelos técnicos do Prodasen (serviço de processamento de dados do Senado Federal), para que seja possível montar um banco de dados de fácil acesso para seus membros.
Na próxima quarta-feira haverá a primeira reunião administrativa para definir os rumos que a CPI tomará. Há uma preocupação com a forma, para não perder o conteúdo. O grupo independente não quer deixar que as apurações se percam em brigas partidárias e pretende agir suprapartidariamente, "doa a quem doer".
O senador Jarbas Vasconcellos, do PMDB, por exemplo, só está na CPI por uma gentileza da oposição. Embora não se alinhe no bloco aliado, ele pretende trabalhar não com o objetivo de condenar o governo, mas de desbaratar o esquema criminoso que foi montado pelo bicheiro goiano, que vai muito além de seus domínios geográficos. Vai ser difícil, no entanto, impedir que a CPI sirva de trampolim político tanto para governistas quanto para oposicionistas, pois ela nasceu de um desejo de vingança, e esse traço negativo não desaparecerá mesmo que o ex-presidente Lula, que queria se vingar originalmente de seus adversários goianos, o governador Marconi Perillo e o senador Demóstenes Torres, já tenha compreendido que junto com eles poderão cair aliados diversos.
Lula parece empenhado em reorganizar suas forças para a batalha que ajudou a montar, mas já perdeu a primeira queda de braço com o Planalto, que vetou seu relator preferido, o deputado Cândido Vaccarezza.
A presidente Dilma, discretamente, como é de seu estilo na Presidência, não pretende ficar refém de manobras políticas alheias e tratou de montar sua própria estratégia, escolhendo um relator de confiança de seu grupo político.
Já que o desfecho é inevitável, pelo menos está tentando minimizar os danos.
Sarkozy, o destruidor de mundos - DEMÉTRIO MAGNOLI
O Estado de S.Paulo - 26/04/12
"Imagine a França, durante uma crise, sendo liderada pelo triunvirato Mélenchon-Joly-Hollande", bradou o presidente Nicolas Sarkozy, referindo-se às indicações de voto de Jean-Luc Mélenchon, da Frente de Esquerda, e de Eva Joly, dos Verdes, em favor de François Hollande, o desafiante do Partido Socialista. A visão, talvez perturbadora, nem se aproxima, porém, da perspectiva de uma França na qual a direção da oposição se transferirá para a Frente Nacional de Marine Le Pen. Entretanto, esse é um desenlace provável do ciclo eleitoral em curso, que abrange o segundo turno da disputa presidencial e as eleições parlamentares de junho. A responsabilidade cabe a Sarkozy - e à crise do euro.
Na sua campanha triunfante de 2007 o presidente aprendeu um truque político simples, que só demanda o desprezo pelos princípios sobre os quais se sustenta a democracia francesa. A artimanha consiste em reproduzir, um tom abaixo, o hino ultranacionalista da Frente Nacional, cantando as glórias da "França católica", articulando as noções de "identidade nacional" e "singularidade francesa", costurando sentenças trançadas em torno dos termos "imigrantes", "segurança" e "terrorismo". A operação funcionou cinco anos atrás, transferindo-lhe eleitores seduzidos pela extrema direita. Repetida nos últimos meses com alarido ainda maior, revelou-se inútil: Le Pen obteve 18% dos votos, superando o recorde histórico de seu pai, Jean-Marie, alcançado em 2002. A Frente Nacional concentrou sua campanha na promessa de ruptura com o euro e com a União Europeia, relegando a xenofobia a patamar secundário.
Pela primeira vez na História da Quinta República Francesa o presidente que busca a reeleição viu escapar a dianteira no turno inicial. Sob o impacto da crise do euro, o posto ficou com Hollande, que recebeu 28,6% dos votos, ante os 27,2% de Sarkozy. A diferença parece insignificante, ainda mais quando se compara o desempenho de Mélenchon com o de Le Pen: a Frente de Esquerda obteve 11% dos sufrágios, muito longe do que indicavam as pesquisas - e de sua meta de superar a extrema direita, recuperando o antigo eleitorado comunista. No domingo os estrategistas presidenciais adicionaram os votos de Le Pen aos de Sarkozy, chegando à soma de 45%, maior que o total do "triunvirato" da esquerda, de 42%. Segundo a aritmética, tudo dependeria do comportamento dos 9% de eleitores do candidato centrista François Bayrou. Política, contudo, não é aritmética.
O primeiro turno sugere somas mais pertinentes. A Frente Nacional e a Frente de Esquerda, linhas paralelas extremas da política francesa, encontram-se no pátio da rejeição à União Europeia (a "Europa libertina" de Le Pen, que é a "Europa neoliberal" de Mélenchon). Somados, Le Pen e Mélenchon representam 29% dos eleitores, mais que Hollande ou Sarkozy. A adição é eleitoralmente irrelevante, mas evidencia as dimensões da crise política emanada do tufão que se abate sobre a zona do euro.
A soma dos sufrágios do "triunvirato" da esquerda também tem sentido, pois Mélenchon e Joly indicaram o voto em Hollande. A missão do candidato social-democrata no segundo turno não é trivial: para atrair os eleitores da Frente de Esquerda, que rejeitam a "Europa neoliberal", ele se inclinará um pouco à esquerda, desenhando no ar a quimera de uma reforma da União Europeia. Na hipótese provável de sucesso, enfrentará como presidente o dilema insolúvel de se equilibrar entre os imperativos categóricos da Alemanha de Angela Merkel e as doces promessas que vendeu aos franceses.
A soma dos sufrágios de Sarkozy e da Frente Nacional é um exercício contábil impertinente. O partido da extrema direita, grande vitorioso do primeiro turno, consolidou as bases populares e operárias que no passado votavam nos comunistas, mas foram atraídas pelo ultranacionalismo de Jean-Marie após a queda do Muro de Berlim. Marine Le Pen, ao contrário de Mélenchon, classificou como equivalentes os dois rivais do turno final. Sua estratégia, proclamada publicamente, é alçar-se à condição de "chefe da oposição". Nas hostes de Le Pen nenhum dirigente oculta o desejo de assistir à falência política de Sarkozy e à fragmentação da coalizão de centro-direita.
Corretamente, Sarkozy interpretou o cenário do primeiro turno como "um voto de crise". Agora, sob o signo da crise, ele está condenado a radicalizar a estratégia que fracassou no turno inicial, caçando os eleitores de Le Pen com o laço da xenofobia. Na democracia, contudo, política é sobretudo linguagem. A renúncia a uma linguagem em nome de outra, estranha às próprias tradições, geralmente tem custos intoleráveis. Os sábios que cercam o presidente começam, tarde demais, a aprender essa lição, bem conhecida pelo ex-presidente Jacques Chirac, antecessor de Sarkozy no comando da centro-direita francesa.
Há uma década um desastre eleitoral tirou o socialista Lionel Jospin do segundo turno, provocando um embate direto entre Chirac e Jean-Marie Le Pen. Então Chirac se recusou a debater com o rival e concluiu com o Partido Socialista o acordo tácito do "cordão sanitário", pelo qual ambos rejeitariam alianças eleitorais com a extrema direita. O acerto funcionou: a Frente Nacional jamais conseguiu representação parlamentar e a centro-direita conservou suas credenciais democráticas.
Chirac foi o segundo herdeiro político de Charles de Gaulle. A complexa tradição gaullista tem um forte componente nacionalista, mas não combina com os impulsos quase fascistas da Frente Nacional. Sarkozy, o terceiro herdeiro, engajou-se no jogo perigoso da mistura, apropriando-se de elementos fundamentais da linguagem da extrema direita. Tudo indica que pagará o preço dessa opção. Entretanto, a fatura recairá também sobre o sistema político da democracia francesa e, em última análise, sobre as engrenagens fragilizadas da União Europeia.
SOM NA CAIXA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 26/04/12
A banda Jota Quest, do vocalista Rogério Flausino, fez festa de lançamento do CD e DVD "Folia & Caos", anteontem, no Beco 203, em São Paulo. Os músicos Kiko Zambianchi, Lobão, Marcelo Bonfá, Wilson Simoninha e Fiuk, entre outros convidados, passaram pelo evento.
era dilma
A representação das mulheres na configuração tradicional da política continuou "irrisória" em 2010, quando Dilma Rousseff foi eleita a primeira presidente do país. Há dez anos, só 11% dos candidatos a deputado federal eram mulheres. No ano passado, o número saltou para 21,7%. O percentual de eleitas, no entanto, não se alterou: ficou na faixa dos 8%.
MESMO LUGAR
Nas Assembleias Legislativas o fenômeno se repetiu: o percentual de candidatas passou de 14,7% para 21%. O de deputadas estaduais eleitas no país permaneceu na faixa de 12%. Os números foram tabulados por Lúcia Avelar, professora da Unicamp.
HIERARQUIA PÚBLICA
Em palestra no Centro Ruth Cardoso, nesta semana, Avelar revelou, por outro lado, números que mostram que, fora de partidos e do crivo eleitoral, a situação melhorou. O percentual de funcionárias públicas em cargos com os maiores salários, por exemplo, saltou de 13% em 1998 para 22% em 2010.
DEPOIS DO SUSTO
A defensora pública-geral de SP, Daniela Cembranelli, tentou visitar na manhã de ontem o prédio do órgão onde um homem armado com faca e martelo atacou dois seguranças. Não conseguiu, devido à confusão na porta. Destacou então o 1º subdefensor-geral, Davi Depiné Filho, para o hospital onde um dos seguranças foi internado. "Minha preocupação era com o rapaz [ferido]", diz ela.
CONVIDADO ESPECIAL
O cineasta Spike Lee pode acompanhar hoje parte do julgamento sobre as cotas raciais no STF (Supremo Tribunal Federal). Ele vai entrevistar o ministro Joaquim Barbosa às 12 horas, em seu gabinete na corte. O magistrado quer levá-lo depois ao plenário para que assista à sessão. Lee tem especial interesse sobre o tema.
CONVIDADO ESPECIAL 2
Lee, que está fazendo um documentário sobre o Brasil, tem amigos em comum com Barbosa nos EUA, como jornalistas e professores universitários.
THE BOOK
Rafaella Justus, 2, filha dos apresentadores Roberto Justus e Ticiane Pinheiro, entrará no meio do ano na escola americana Graded, em São Paulo. A garota está tendo aulas particulares de inglês e já fala os nomes das cores, entre outras coisas.
ENGRAÇADINHA
Cleyde Yáconis, 87, retorna aos palcos em julho. Ela participará das homenagens ao centenário de Nelson Rodrigues no Auditório Ibirapuera. Fará leituras de textos do dramaturgo com direção de Marco Antonio Braz.
APERTE O PLAY
O MIS (Museu da Imagem e do Som) exibirá pela primeira vez, em julho, 15 filmes do festival de audiovisual "Hors Pistes", do Centro Georges Pompidou de Paris.
PRA TU BATER
O ator Bruno Mazzeo vai discotecar na festa Bailinho, em São Paulo, amanhã. O evento terá homenagens a Chico Anysio, pai dele, e a Millôr Fernandes.
TOM SOBRE TOM
A Sociedade Cultura Artística, que tem na diretoria Pedro Herz e Gérald Perret, abriu anteontem a temporada 2012 de concertos, na Sala São Paulo. A atriz Irene Ravache e a urbanista Marta Grostein conferiram a apresentação da Orquestra Nacional Russa com participação especial do pianista Nelson Freire.
CURTO-CIRCUITO
O Instituto Nextel inaugura unidade hoje, às 9h30, no Instituto Tomie Ohtake.
O perfumista Jacques Huclier, da Givaudan, dará palestra hoje, às 20h, na faculdade Santa Marcelina.
Os DJs Edu Lopes e Edu Barbeiro tocam no sábado no Café de La Musique de Bertioga. 18 anos.
O arquiteto Luiz Eduardo Indio da Costa dará aula inaugural de MBA da FGV-SP, no dia 4.
O Oi Futuro do Flamengo, no Rio, abrigará, nos dias 2 e 3, a Mostra de Teatro Acessível. Serão apresentadas as peças "Ninguém Mais Vai Ser Bonzinho - Em Esquetes" (livre) e "O Filho Eterno" (12 anos).
com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY
O assalto - só por uns dias - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O Globo - 26/04/12
Bancos ganham dinheiro, mas muito dinheiro com o cheque especial. E contam para isso com a falta de educação financeira do brasileiro e uma certa tolerância com taxas elevadas, que deve ser ainda herança da superinflação.
Em circunstâncias normais, ninguém toparia pagar uma taxa de juros de 185% ao ano, sabendo, como todo mundo sabe, que a inflação roda na casa dos 5% a 6%. Reparem bem: 185% ao ano! Imagine o que você diria se o gerente do banco oferecesse essa taxa para um empréstimo pessoal. Agressão seria quase legítima defesa.
Acrescente que pessoas bem informadas deveriam saber que os bancos pagam 9% pelo dinheiro. Isso mesmo, tomam a 9% e emprestam a 185%. Não faz sentido.
Mas um número imenso de brasileiros paga essa taxa, efetivamente. Em março, por exemplo, a taxa média de juros caiu, menos a do cheque especial. As pessoas continuaram sacando no vermelho, normalmente, mesmo sabendo disso. Sim, é possível que o cliente comum não conheça exatamente o tamanho da taxa, os 185% ao ano. Mas certamente sabe que é um absurdo.
Como topam pagar?
Porque é só um diazinho, não é mesmo? Vá lá, uns três ou quatro dias. O salário vai cair na conta na próxima terça, hoje ainda é quinta, o saldo já era, mas tem aquele jantar... Cheque especial é para isso mesmo, certo? Resultado: você entra e paga os juros mais escorchantes do mundo por cinco dias.
Agora multiplique os cinco dias por milhões de clientes e entenderá por que os bancos adoram o cheque especial e fazem o possível para atrair o freguês. Lembra aquelas propagandas que oferecem cinco dias sem juros no cheque especial? Pois é, da próxima vez verifique quanto vai pagar no sexto dia no vermelho.
No movimento de redução de juros, forçado pelo governo, todos os bancos anunciaram queda nas taxas para o cheque especial. Atenção, porém. Há pisos e tetos, estes ainda escorchantes. E quem consegue os níveis mais baixos?
Conforme têm mostrado as reportagens do GLOBO, a taxa mínima vai para os clientes que mantêm um bom saldo em conta-corrente, fazem aplicações, pagam taxas de administração, têm seguro, talvez um plano de capitalização e que, por isso mesmo, nunca usam o especial.
Para o cliente que está sempre ali apertado, todo mês faltando alguns dias no fim do salário, ou seja, para quem precisa do especial, a taxa vai lá para cima. Se você está nesse caso, vá ao banco tentar saber os seus juros.
Na avaliação geral dessa história, será preciso observar as taxas médias efetivamente aplicadas.
A queda real e duradora das taxas depende de uma mudança de comportamento. Os brasileiros não podem aceitar esses juros, nem que seja por um dia. Sim, muitas pessoas enfrentam dificuldades inesperadas - uma doença, perda de emprego, batida de carro -, mas a maioria utiliza o cheque especial porque não consegue suspender ou ao menos adiar um jantar, um vestido novo. Isso dá para mudar.
Quando a tentação vier, pense nisso: 185% ao ano!
NO VAREJO E NO ATACADO
São contratos de milhões de reais, a soma passando do bilhão nesses negócios do grupo Cachoeira com as diversas instâncias de governo. Naturalmente, as negociações em torno disso envolvem empresários, parlamentares e funcionários do governo.
Pois não é que Cachoeira recorreu à mesma teia de contatos para um, digamos, varejinho? Mobilizou dois senadores, um deputado federal, um ex-prefeito e um secretário de Estado, em pelo menos sete telefonemas, para colocar sua prima num emprego no governo de Minas, com salário de dois mil reais. E ainda tiveram que afastar o funcionário que estava lá, para abrir a vaga.
O senador Aécio Neves, que patrocinou o emprego a pedido do senador Demóstenes Torres, este agindo a pedido de Cachoeira, não viu nada de mais na nomeação. Qual o problema? O senador Demóstenes, na época, era um paladino da ética, seu pedido era qualificado. Depois, quando soube que o padrinho era o Cachoeira e que Demóstenes era o outro, Aécio sentiu-se traído.
É, pode ser. O governo está aí mesmo para empregar o pessoal dos correligionários, certo?
Mas se mobilizam tudo isso por um emprego de dois mil, com quem seria preciso falar para o contrato de uma superobra?
Ueba! O Messi quebrou o salto! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP 26/04/12
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchete do Sensacionalista: "Sarney tem alta, mas não sai do quarto. A vaga é do PMDB". Rarará!
E a piada pronta do dia é notícia de basquete: "Jogador que mudou de nome para Paz Mundial dá cotovelada e é expulso da NBA". A Paz Mundial não se comportou. Tá na base da cotovelada! Expulsaram a Paz Mundial!
E o Messi? O Messi quebrou o salto! Caiu do salto! Vai virar pipoqueiro. Com aquela cara dele de galã de querMessi! Perdeu até pênalti! O que? Perdeu pênalti? Vai ser contratado pelo Flamengo. Vai acabar no Flamengo! Se fosse gordo, ia pro Corinthians. E a manchete do "Meia Hora": "Fica triste, não, Messi. Vem passar férias no Rio com o Ronaldinho". Rarará!
Acho que a Espanha vai devolver o Messi pra Cristina Kirchner! Fica com a petroleira e, de brinde, o Messi. ARREMESSI no Rio da Prata! E o Piqué levou uma pancada em campo e outra pancada em casa. Da Shakira. Foi dormir no sofá!
O Barça foi pra lona, BarçaLona! Como disse o Tostão: "Grandes times começam a perder quando perdem o medo da derrota". Tradução: salto alto. E como dizia aquela bibinha de língua plesa: "Messeu com o Messi, Messeu Comigo!".
E ontem foi Dia do Corno. Devia ser feriado. Feriado Nacional! Belo dia pra nascer! Rarará!
O chifre é próprio do homem, o boi usa de enxerido. E o pensamento do dia: caixão de corno não tem tampa.
E em Salvador teve a 2ª Festa dos Cornos Felizes. Com direito a um prato de feijão.
E esta: "Egípcio procura pornografia na internet e encontra vídeos com a sua mulher". É o corno egípcio! Vira múmia! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
Ou, como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
E essa:"Teixeira e Havelange receberam suborno, revelam documentos". Descobriram a pólvora!
E o Havelange é uma mistura de Ramsés 2º com o Picapau! E o Teixeira parece uma almôndega suada! Rarará!
E a Cristina Kirchner precisa nacionalizar o botox. Ela tá a cara da Maga Patalógica. Precisa de umas dicas da Christiane Torloni e da Susana Vieira! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O bom combate - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 26/04/12
Ao longo do belo voto do ministro Ricardo Lewandowsky, ontem, a favor das cotas raciais nas universidades brasileiras, foram sendo desmontados, um a um, os argumentos que nos últimos dez anos tanto espaço tiveram na imprensa brasileira. O ministro mostrou que o princípio da igualdade evoluiu do simplesmente declaratório para a fase em que se trabalha para a construção de um país menos desigual.
Joaquim Nabuco, um dos fundadores da pátria brasileira - já citado aqui nesta mesma coluna, neste mesmo tema - disse em frase insuperável: "Não basta acabar com a escravidão, é preciso destruir sua obra." No voto do ministro Lewandowski o que se vislumbra é a possibilidade de dar mais um passo na destruição do resquício desse passado que temos carregado como bola de ferro atada aos pés da Nação.
O julgamento foi suspenso ao fim da apresentação do voto do relator e só hoje será retomado. É aguardar o amanhã. Foi um longo caminho até aqui. Foram mais de dez anos de intensos debates e inúmeras experiências de ação afirmativa pelo país. Os argumentos se enfrentaram intensamente. Nem sempre com a honestidade intelectual exigida por questão desse porte. Houve manifestos contra e a favor.
Ontem, o voto do relator foi pela constitucionalidade da política de cotas e do critério racial. Alguns apartes e o elogio do presidente do tribunal, ministro Ayres Brito, definindo o voto como corajoso, vigoroso e consistente, mostram que há chances de que as ações afirmativas tenham a maioria dos votos.
Atualmente, segundo o Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj, são setenta as universidades federais e estaduais nas quais as políticas de ação afirmativa favorecendo negros, índios e pobres foram implementadas, com diferentes métodos. A prática demoliu os temores levantados pelos críticos das cotas: que haveria conflito nas universidades, que haveria queda da qualidade, que os cotistas não teriam bom desempenho, que se quebraria o princípio do mérito.
A realidade provou o contrário. Não houve conflito, a qualidade não caiu, os cotistas tiveram desempenho semelhante aos não cotistas, o princípio do mérito não deixou de existir.
O ministro relator demoliu outros sofismas. Houve quem dissesse que não se poderia adotar cotas raciais porque não há raças. De fato, não há, mas a sua inexistência não impediu que houvesse racismo. "Se o critério de raça foi usado para se construir hierarquia deve ser usado para desconstruí-la." O temor de que a política quebrasse o princípio constitucional da igualdade começou a ser enfrentado pela vice-procuradora-geral da República, Débora Duprat, que mostrou que esse princípio evoluiu na Constituição de 1988 com o tratamento diferenciado aos desiguais. "É preciso analisar com o coração aberto por que as ações afirmativas de recorte racial provocam tanto desassossego." A vice-procuradora questionou o mito da democracia racial: "Não precisamos de dados estatísticos, basta um olhar na composição dos cargos do alto escalão do Estado brasileiro ou nas grandes corporações e, na contrapartida, olhar para a população carcerária desse país, e para quem é parado pela polícia nas cidades brasileiras." Ela chamou de "reducionismo inaceitável" a tese de que a redução da desigualdade social resolveria o racismo. Lewandowski completou dizendo que "o modelo constitucional brasileiro contempla a justiça compensatória".
Lewandowski derrubou também - e com a ajuda do aparte do ministro Joaquim Barbosa - a ideia sempre repetida no Brasil de que a Suprema Corte americana julgou as ações afirmativas inconstitucionais. Eles disseram que por duas vezes o que a Suprema Corte fez foi o oposto: garantiu sua constitucionalidade.
O ministro esclareceu que a política não nasceu nos Estados Unidos, mas na Índia, de Mahatma Ghandi, na luta contra o odioso - e ainda presente, ainda que ilegal - sistema de castas no país. Sobre o risco de se quebrar o princípio do mérito que é usado no vestibular, Lewandowski lembrou que "mérito de quem está em desigualdade não pode ser linear". Um sistema de ingresso na universidade pretensamente isonômico pode acabar consolidando as distorções existentes no país e reproduzindo a mesma elite dirigente, disse o ministro.
A Ação Direta de Inconstitucionalidade que questiona o sistema de cotas, e foi considerada improcedente pelo relator, é de autoria do Democratas. O grande defensor da tese do DEM hoje está às voltas com outros problemas, o senador Demóstenes. Ele conquistou muitos admiradores entre os adversários das cotas com argumentos pedestres, como o que culpava os africanos pela escravidão. Na época, eu o chamei de "sem noção". Isso, sabe-se hoje, é dizer o mínimo.
O combate ainda não acabou. Será preciso concluir o julgamento no Supremo para retirar a insegurança jurídica sobre a política que já aumentou a diversidade nas universidades brasileiras. Mesmo se o sistema for aprovado, ainda não será o fim do combate, mas antes um novo início. Há um longo caminho a andar na busca de um país mais plural e mais justo. Mas o voto do ministro Lewandowski ilumina a estrada.
Ao longo do belo voto do ministro Ricardo Lewandowsky, ontem, a favor das cotas raciais nas universidades brasileiras, foram sendo desmontados, um a um, os argumentos que nos últimos dez anos tanto espaço tiveram na imprensa brasileira. O ministro mostrou que o princípio da igualdade evoluiu do simplesmente declaratório para a fase em que se trabalha para a construção de um país menos desigual.
Joaquim Nabuco, um dos fundadores da pátria brasileira - já citado aqui nesta mesma coluna, neste mesmo tema - disse em frase insuperável: "Não basta acabar com a escravidão, é preciso destruir sua obra." No voto do ministro Lewandowski o que se vislumbra é a possibilidade de dar mais um passo na destruição do resquício desse passado que temos carregado como bola de ferro atada aos pés da Nação.
O julgamento foi suspenso ao fim da apresentação do voto do relator e só hoje será retomado. É aguardar o amanhã. Foi um longo caminho até aqui. Foram mais de dez anos de intensos debates e inúmeras experiências de ação afirmativa pelo país. Os argumentos se enfrentaram intensamente. Nem sempre com a honestidade intelectual exigida por questão desse porte. Houve manifestos contra e a favor.
Ontem, o voto do relator foi pela constitucionalidade da política de cotas e do critério racial. Alguns apartes e o elogio do presidente do tribunal, ministro Ayres Brito, definindo o voto como corajoso, vigoroso e consistente, mostram que há chances de que as ações afirmativas tenham a maioria dos votos.
Atualmente, segundo o Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj, são setenta as universidades federais e estaduais nas quais as políticas de ação afirmativa favorecendo negros, índios e pobres foram implementadas, com diferentes métodos. A prática demoliu os temores levantados pelos críticos das cotas: que haveria conflito nas universidades, que haveria queda da qualidade, que os cotistas não teriam bom desempenho, que se quebraria o princípio do mérito.
A realidade provou o contrário. Não houve conflito, a qualidade não caiu, os cotistas tiveram desempenho semelhante aos não cotistas, o princípio do mérito não deixou de existir.
O ministro relator demoliu outros sofismas. Houve quem dissesse que não se poderia adotar cotas raciais porque não há raças. De fato, não há, mas a sua inexistência não impediu que houvesse racismo. "Se o critério de raça foi usado para se construir hierarquia deve ser usado para desconstruí-la." O temor de que a política quebrasse o princípio constitucional da igualdade começou a ser enfrentado pela vice-procuradora-geral da República, Débora Duprat, que mostrou que esse princípio evoluiu na Constituição de 1988 com o tratamento diferenciado aos desiguais. "É preciso analisar com o coração aberto por que as ações afirmativas de recorte racial provocam tanto desassossego." A vice-procuradora questionou o mito da democracia racial: "Não precisamos de dados estatísticos, basta um olhar na composição dos cargos do alto escalão do Estado brasileiro ou nas grandes corporações e, na contrapartida, olhar para a população carcerária desse país, e para quem é parado pela polícia nas cidades brasileiras." Ela chamou de "reducionismo inaceitável" a tese de que a redução da desigualdade social resolveria o racismo. Lewandowski completou dizendo que "o modelo constitucional brasileiro contempla a justiça compensatória".
Lewandowski derrubou também - e com a ajuda do aparte do ministro Joaquim Barbosa - a ideia sempre repetida no Brasil de que a Suprema Corte americana julgou as ações afirmativas inconstitucionais. Eles disseram que por duas vezes o que a Suprema Corte fez foi o oposto: garantiu sua constitucionalidade.
O ministro esclareceu que a política não nasceu nos Estados Unidos, mas na Índia, de Mahatma Ghandi, na luta contra o odioso - e ainda presente, ainda que ilegal - sistema de castas no país. Sobre o risco de se quebrar o princípio do mérito que é usado no vestibular, Lewandowski lembrou que "mérito de quem está em desigualdade não pode ser linear". Um sistema de ingresso na universidade pretensamente isonômico pode acabar consolidando as distorções existentes no país e reproduzindo a mesma elite dirigente, disse o ministro.
A Ação Direta de Inconstitucionalidade que questiona o sistema de cotas, e foi considerada improcedente pelo relator, é de autoria do Democratas. O grande defensor da tese do DEM hoje está às voltas com outros problemas, o senador Demóstenes. Ele conquistou muitos admiradores entre os adversários das cotas com argumentos pedestres, como o que culpava os africanos pela escravidão. Na época, eu o chamei de "sem noção". Isso, sabe-se hoje, é dizer o mínimo.
O combate ainda não acabou. Será preciso concluir o julgamento no Supremo para retirar a insegurança jurídica sobre a política que já aumentou a diversidade nas universidades brasileiras. Mesmo se o sistema for aprovado, ainda não será o fim do combate, mas antes um novo início. Há um longo caminho a andar na busca de um país mais plural e mais justo. Mas o voto do ministro Lewandowski ilumina a estrada.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 26/04/12
Braskem coloca R$ 200 mi em tecnologia e inovação
A Braskem pretende colocar cerca de R$ 200 milhões em seus projetos de tecnologia e inovação neste ano, de acordo com previsões da companhia.
Em 2008, o volume injetado na área era de aproximadamente R$ 55 milhões.
Grande parte dos esforços de inovação será destinada aos projetos de biopolímeros, como o plástico verde.
Entre os principais destinos estão os setores de embalagens, automobilístico e eletroeletrônico.
"O portfólio é muito grande, desde aditivos para gasolina até itens para a construção civil", afirma Luis Cassinelli, diretor de inovação da empresa.
"No ano passado, foram investidos R$ 155 milhões. Agora deve alcançar a cifra de R$ 200 milhões. Isso torna a Braskem um dos maiores investidores privados nesta área no país", afirma Edmundo Aires, vice-presidente de tecnologia e inovação da companhia.
A empresa deve acertar nos próximos meses a decisão de construir uma nova planta de polipropileno.
Com os investimentos, passa a contar com mais um tipo de plástico verde, segundo a empresa.
Além do polietileno verde, que já é fabricado desde 2010, terá o polipropileno de origem renovável. O plástico, mais resistente, é muito usado na indústria automobilística e em outros setores.
Eólicas têm projeto para participar mais no mercado livre
A Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) está desenvolvendo um projeto para poder atuar de forma mais expressiva no mercado livre.
A associação pretende criar uma espécie de clube, no qual um parque que estiver com dificuldade devido à falta de ventos poderá "emprestar" energia de outro.
"Estamos negociando isso entre as empresas, mas ainda é preciso conversar com a agência reguladora", afirma o novo presidente do conselho de administração da associação, Otavio Silveira.
A participação das eólicas no total comercializado no mercado livre em 2011 foi de apenas 0,54%, de acordo com a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).
O setor não tem grande participação por causa da sazonalidade do vento. "É difícil encontrar um comprador que consiga absorver essa sazonalidade, por isso precisamos de um mecanismo que permita a negociação."
A Abeeólica também está fazendo um levantamento para saber quantas linhas de transmissão não serão concluídas até julho de 2013, quando as usinas que venceram o leilão de 2009 entram em operação.
REFLEXOS POSITIVOS
Executivos de bancos do Qatar e de Abu Dhabi, que é um dos sete emirados que compõem os Emirados Árabes Unidos, dizem que sentiram, sim, reflexos da Primavera Árabe. Benéficos.
Principalmente sírios passaram a trazer para essas instituições financeiras suas aplicações e a comprar ativos e imóveis na região.
A maioria não acredita que os movimentos cheguem até aqui.
Cerca de dois terços da população desses Estados é composta de estrangeiros.
O PIB cresce a dois dígitos há muitos anos. Há obras por toda a parte.
Da enviada especial ao Oriente Médio
MULTIPLICAÇÃO
A rede de fast-food Bob's vai seguir com seu plano de expansão, com a abertura de 200 unidades por ano até 2015, segundo Marcello Farrel, diretor-geral da marca.
Em 2011, os investimentos foram de R$ 107 milhões. Para 2012, serão R$ 170 milhões em construção de novas unidades, reforma de cem endereços e comunicação.
Hoje a rede tem cerca de 900 unidades no país, em diferentes formatos, como grandes lojas e quiosques.
Farrel evita associar a expansão do Bob's como reação ao avanço da Burger King no país.
"O crescimento é atrelado ao momento econômico do Brasil. Não fizemos plano de ação olhando para o concorrente B, C ou D", diz. No evento que marca 60 anos da rede, em maio, a empresa lançará outro sanduíche.
Prorrogação... O prazo para recolhimento do ICMS que incidir em saídas de mercadorias com origem em negócios fechados na Apas 2012 (feira de negócios em supermercados) foi prorrogado por 30 dias pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A feira acontecerá entre os dias 7 e 10 de maio, no Expo Center Norte, em São Paulo.
...fiscal A Associação Paulista de Supermercados espera gerar R$ 5 bilhões em negócios com o congresso. A expectativa da entidade é receber 72 mil visitantes durante os dias de evento -empresários e executivos do setor tanto do Brasil quanto do exterior. Haverá mais de 550 expositores nacionais e internacionais em 68 mil metros quadrados de área.
Expansão... O escritório de advocacia TozziniFreire tem um novo sócio, Reinaldo Guang Ruey, escolhido para corresponder à expansão das relações comerciais entre Brasil e China e à maior demanda por assessoria de empresas brasileiras que atuam no país asiático.
...chinesa Ruey tem dez anos de experiência na área corporativa e foi coordenador do Conselho Empresarial Brasil-China. Ele será um dos coordenadores do China Practice Group, equipe da empresa criada para atuar em casos que envolvam o país asiático.
Procura-se poliglota
Embora quase 40% dos empregadores procurem por pessoas que falem pelo menos uma outra língua, um quarto deles só acha essa habilidade importante para cargos específicos, aponta pesquisa feita pela Economist Intelligence Unit.
O estudo também mostra que apenas 13% das empresas não levam esse aspecto em consideração nos processos seletivos.
Dentre as regiões que mais exigem candidatos com fluência em outra língua, está a Escandinávia, onde 64% das companhias consideram esse aspecto relevante, na esteira dos altos níveis educacionais da região.
A Espanha também é citada, com 49%, mas o motivo apontado é a percepção dos empresários de que a barreira linguística atrapalha a expansão dos negócios no exterior (89% dos ouvidos).
O estudo teve a participação de 572 executivos dos cinco continentes.
As águas turvas de uma CPI imprevisível - EDITORIAL O GLOBO
O Globo - 26/04/12
A CPI que agora começa em Brasília ameaça transformar-se em pororoca, engolindo nomes e reputações. O governo conseguiu nomear o relator, deputado Odair Cunha, que promete manter o foco das discussões sobre o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Não se trata, diz ele, de uma investigação que vá para cima do Planalto, ou de qualquer membro do governo. Mais fácil de dizer do que de fazer.
A CPI pode, e deve, prestar um favor à política brasileira. Com tudo o que se sabe de Cachoeira, e de sua parceria com a empreiteira Delta, fica evidente que chegou a um extremo insuportável, no Brasil, a confusão entre práticas públicas e interesses privados. E esse tumor precisa ser lancetado.
O problema é que o processo político, neste caso, tem origens turvas, em que pesem as boas intenções do relator governista. Ele foi escolhido, como se sabe, contra a vontade do ex-presidente Lula, que queria para o lugar o deputado Cândido Vaccarezza, indisposto com o governo desde que foi afastado da liderança na Câmara.
Lula aparece, assim, como grande ator por trás desse processo. Até as pedras de Brasília sabem que sua primeira intenção, quando arquitetou a CPI, foi turvar as águas para perturbar o julgamento do mensalão. Outro objetivo era complicar a vida do governador de Goiás, seu adversário político, em cujo território Cachoeira se espalhou. Ainda um outro seria mostrar que todos os gatos são pardos, que há corrupção dentro e fora do governo. E ele também gostaria de identificar supostas intimidades entre a imprensa e os vilões da história.
Se são essas mesmo as motivações de Lula, feliz por retornar de seu jejum político, o primeiro e principal objetivo vai-se transformando em quimera. Semanas de revelações sobre malfeitores e seus modos de agir açularam a opinião pública, e isto chegou aos ouvidos do Supremo. É o ministro Lewandowski, por exemplo, que se sente pressionado a entregar com a possível rapidez o seu relatório, para que o julgamento do mensalão possa começar. Tanto Lewandowski quanto o novo presidente do STF, Ayres Britto, acham que o julgamento pode, sim, começar este ano, talvez ainda neste semestre.
Ainda mais vã é a insistência com que o ex-presidente bate na tecla da "farsa" para caracterizar o mensalão. Se fosse farsa, nela estariam envolvidos o procurador-geral da República, que falou de "organização criminosa" para descrever aquele momento infeliz da nossa vida pública, e o STF, que acolheu a denúncia.
Lula deixou sua marca na história do Brasil. Foi o mais popular de todos os nossos presidentes - e isto não aconteceu por acaso. Seu prestígio internacional está fora de questão, não só por seu sucesso político, mas porque se considera, com razão, que em seu período de governo diminuiu a desigualdade, que sempre caracterizou o Brasil, e multidões entraram para o que é agora uma nova e pujante classe média.
Mas em seus dois mandatos não houve um só momento em que se decretasse um limite para os "malfeitos". Passou-se a mão na cabeça de todos os espertos, de todos os deslizes. É essa herança obscura que explode agora numa sequência atordoante de revelações. Antes que isso tudo termine, muita água vai rolar por debaixo da ponte. E o resultado é imprevisível.
Diplomacia dilmista - CLAUDIA ANTUNES
FOLHA DE SP - 26/04/12
RIO DE JANEIRO - Já foi dito que a popularidade de Dilma deriva, em parte, da tolerância com que a velha classe média trata seus atos, em contraste com a aversão a quase tudo o que Lula fazia. Essa tendência marca também a avaliação da política externa dilmista.
A diferença entre os dois governos nessa área nada tem a ver com uma suposta prioridade da presidente aos direitos humanos. Depois de um voto contra o Irã na ONU, a posição no tema retomou o fio discreto de antes. O que mudou, de fato, é que Dilma passa sem-cerimônia sobre os punhos de renda da diplomacia, resistente a ações bruscas -e medidas potencialmente controvertidas decididas por ela avançam sem polêmica.
Um exemplo foi sua ameaça de romper o acordo automotivo com o México, que seria um ato inédito na Associação Latino-Americana de Integração. Os críticos do protecionismo, sobretudo o da Argentina, dessa vez não levantaram a voz contra a proteção à indústria nacional.
O mesmo silêncio obsequioso cercou a imposição a turistas espanhóis de controles iguais aos aplicados à entrada de brasileiros na Espanha. Recorde-se, para comparação, a gritaria contrária em 2004, quando o país decidiu tomar as digitais de americanos, sob idêntico argumento de reciprocidade.
Dilma mantém afastado o embaixador brasileiro na Organização dos Estados Americanos, em represália a pedido para que suspendesse a construção de Belo Monte. Ninguém a acusou de minar a única entidade regional em que os EUA estão presentes. Tampouco houve reparos, do lado dos que veem antiamericanismo em tudo, à falta de gestos simpáticos dela na entrevista com Obama na Casa Branca.
Dilma fez do pavio curto parte da marca de gerente, e também na diplomacia foi bem-sucedida em esvaziar seus atos de conteúdo político explícito.
A diferença entre os dois governos nessa área nada tem a ver com uma suposta prioridade da presidente aos direitos humanos. Depois de um voto contra o Irã na ONU, a posição no tema retomou o fio discreto de antes. O que mudou, de fato, é que Dilma passa sem-cerimônia sobre os punhos de renda da diplomacia, resistente a ações bruscas -e medidas potencialmente controvertidas decididas por ela avançam sem polêmica.
Um exemplo foi sua ameaça de romper o acordo automotivo com o México, que seria um ato inédito na Associação Latino-Americana de Integração. Os críticos do protecionismo, sobretudo o da Argentina, dessa vez não levantaram a voz contra a proteção à indústria nacional.
O mesmo silêncio obsequioso cercou a imposição a turistas espanhóis de controles iguais aos aplicados à entrada de brasileiros na Espanha. Recorde-se, para comparação, a gritaria contrária em 2004, quando o país decidiu tomar as digitais de americanos, sob idêntico argumento de reciprocidade.
Dilma mantém afastado o embaixador brasileiro na Organização dos Estados Americanos, em represália a pedido para que suspendesse a construção de Belo Monte. Ninguém a acusou de minar a única entidade regional em que os EUA estão presentes. Tampouco houve reparos, do lado dos que veem antiamericanismo em tudo, à falta de gestos simpáticos dela na entrevista com Obama na Casa Branca.
Dilma fez do pavio curto parte da marca de gerente, e também na diplomacia foi bem-sucedida em esvaziar seus atos de conteúdo político explícito.
Como imaginar uma orgia - LUIZ FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 26/04/12
A minicâmera e o grampo telefônico ainda podem fazer mais pela moral na política do que toda a fiscalização e todos os mandamentos cristãos juntos. Supõe-se que depois dos escândalos recentemente grampeados as pessoas fiquem mais cautelosas, ou mais reticentes. Corruptos e corruptores continuarão a existir mas não agirão nem falarão mais tão livremente, pelo menos não antes de procurar a câmera e o microfone escondidos. O que deve no mínimo dificultar os negócios.
Os avanços da técnica revolucionaram o registro histórico. Imagine se quando o Kennedy foi assassinado já existissem as gravadoras e os celulares que hoje substituem as câmeras fotográficas até no aniversário do cachorro. Em vez daquele precário filme em 8mm do atentado, estudado e reestudado quadro a quadro na busca de vestígios de uma conspiração, haveriam
teipes e fotos de todos os ângulos e com todas as respostas, como a cara, o nome e o CIC dos possíveis conspiradores.
Mas a técnica, ao mesmo tempo que desestimula a falcatrua, comprova a denúncia, desmancha o mistério e enriquece a notícia, pode empobrecer nossa percepção dos fatos. As grandes batalhas e os grandes eventos da era pré-fotográfica foram registrados em quadros épicos em que o artista ordenava a cena em função do efeito, não do fato, ou não exatamente do fato. A Primeira Guerra Mundial não foi mais terrível do que muitas guerras anteriores, só foi a primeira guerra filmada, a primeira com a imagem tremida e sem cor, e por isso parece tão mais feia do que as guerras heroicamente pintadas. A Guerra do Vietnã foi a primeira transmitida pela tevê, a primeira em que o sangue respingou no tapete da sala. Por isso deu nojo. Os americanos aprenderam a lição e transformaram sua invasão do Iraque num videogame.
Até surgir a possibilidade de ser tecnicamente denunciado, o político corrupto podia contar com a condescendência do público. Mesmo quando não havia dúvidas quanto à sua corrupção, havia sempre a suspeita de que não era bem assim. Sua culpa – até se ouvir sua voz gravada combinando a divisão dos milhões, ou ver sua imagem forrando os sapatos com dinheiro – era sempre uma conjetura. Imaginávamos o que acontecia nos bastidores do poder corrupto mas era um pouco como imaginar uma orgia romana, ou visualizar uma orgia romana através da imaginação de um artista. Agora não. Com a banalização do grampo telefônico e da minicâmera escondida, temos o que faltava no quadro. Temos todos os sórdidos detalhes e a orgia às claras. Temos o que enoja.
A minicâmera e o grampo telefônico ainda podem fazer mais pela moral na política do que toda a fiscalização e todos os mandamentos cristãos juntos. Supõe-se que depois dos escândalos recentemente grampeados as pessoas fiquem mais cautelosas, ou mais reticentes. Corruptos e corruptores continuarão a existir mas não agirão nem falarão mais tão livremente, pelo menos não antes de procurar a câmera e o microfone escondidos. O que deve no mínimo dificultar os negócios.
Os avanços da técnica revolucionaram o registro histórico. Imagine se quando o Kennedy foi assassinado já existissem as gravadoras e os celulares que hoje substituem as câmeras fotográficas até no aniversário do cachorro. Em vez daquele precário filme em 8mm do atentado, estudado e reestudado quadro a quadro na busca de vestígios de uma conspiração, haveriam
teipes e fotos de todos os ângulos e com todas as respostas, como a cara, o nome e o CIC dos possíveis conspiradores.
Mas a técnica, ao mesmo tempo que desestimula a falcatrua, comprova a denúncia, desmancha o mistério e enriquece a notícia, pode empobrecer nossa percepção dos fatos. As grandes batalhas e os grandes eventos da era pré-fotográfica foram registrados em quadros épicos em que o artista ordenava a cena em função do efeito, não do fato, ou não exatamente do fato. A Primeira Guerra Mundial não foi mais terrível do que muitas guerras anteriores, só foi a primeira guerra filmada, a primeira com a imagem tremida e sem cor, e por isso parece tão mais feia do que as guerras heroicamente pintadas. A Guerra do Vietnã foi a primeira transmitida pela tevê, a primeira em que o sangue respingou no tapete da sala. Por isso deu nojo. Os americanos aprenderam a lição e transformaram sua invasão do Iraque num videogame.
Até surgir a possibilidade de ser tecnicamente denunciado, o político corrupto podia contar com a condescendência do público. Mesmo quando não havia dúvidas quanto à sua corrupção, havia sempre a suspeita de que não era bem assim. Sua culpa – até se ouvir sua voz gravada combinando a divisão dos milhões, ou ver sua imagem forrando os sapatos com dinheiro – era sempre uma conjetura. Imaginávamos o que acontecia nos bastidores do poder corrupto mas era um pouco como imaginar uma orgia romana, ou visualizar uma orgia romana através da imaginação de um artista. Agora não. Com a banalização do grampo telefônico e da minicâmera escondida, temos o que faltava no quadro. Temos todos os sórdidos detalhes e a orgia às claras. Temos o que enoja.