terça-feira, março 27, 2012

Voz das trevas - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 27/03/12

STJ decide hoje quem manda na antiga TFP, cujo controle é disputado por dois grupos. A entidade tradicionalista e anticomunista teve grande atuação durante a ditadura militar.

Medo do grampo

Está em fase de recurso o pregão 48/2011 para contratar a empresa que fará uma varredura para detectar escutas ilegais nos três prédios da Alerj. No edital, o teto foi de R$ 3,5 milhões por ano. Uma empresa ofereceu seus serviços por R$ 640 mil, e a outra entrou com recurso alegando que com esse valor é impossível atender à demanda dos deputados do Rio.

Meu Deus!

José Júnior, coordenador da ONG AfroReggae, desde que acusou o pastor Marcos Pereira, da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, de tramar sua morte, tem andado de carro blindado. Ontem, a campainha da casa dele foi acionada e, quando sua mãe abriu a porta, uma pessoa desconhecida saiu correndo.

É muita arrogância

O professor da FGV Aloisio Pessoa de Araújo foi à Espanha participar de um debate sobre economia a convite de Andreu Mas-Colell, ministro de Economia da Catalunha. Não chegou a ser barrado em Madri. Mas teve que ouvir desaforo do pessoal da imigração como se estivesse mentindo sobre o motivo da viagem.

Eu sou a mosca

O filme “Raul: o início, o fim e o meio”, de Walter Carvalho, que estreou sexta, já foi visto por 25.660 espectadores.

História de Martinho 
Martinho da Vila planeja um CD/DVD contando sua história através de seus sambas-enredo. Seria gravado ao vivo em três shows no Rio e dois em São Paulo. O projeto foi autorizado a captar pela Lei Rouanet R$ 1.120.630.

O MONUMENTO A D. Pedro I, omais antigo do Brasil, na Praça Tiradentes, começou a ser limpo ontem pela Secretaria municipal de Conservação do Rio. Feita em bronze pelo escultor francês Louis Rochet, a obra tem 15 metros de altura e completa sexta-feira agora 150 anos. A operação de faxina, que dura até amanhã, vai contar com mais de dez mil litros d’água e detergente neutro

Banco do cinema
A Ancine, a pedido da própria Finep, vai trocar o gestor do Fundo Setorial do Audiovisual, que financia o cinema. Assume o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul. A turma do cinema, que reclamando de atrasos no desembolso, sempre foi um pote até aqui de mágoas com a Finep.

Mas...

A Finep também não estava à vontade atuando nesta função.

Defesa de Bento

O padre Paul Schweitzer, da PUC-Rio, defende Bento XVI das críticas de que ele, quando dirigia a Congregação para a Doutrina da Fé, antes de ser Papa, demorou a investigar os abusos sexuais do padre mexicano Marcial Maciel: — A decisão de investigar cabia ao Papa João Paulo II, e não ao cardeal Ratzinger.

José Cinema José Wilkerdoou 2.600 cópiasde filmes parao acervo daEscola de CinemaDarcy Ribeiro.Não é fofo?

Com o meu dinheiro
A 13a- Câmara Cível do Rio condenou o ex-presidente da Câmara de Vereadores de Teresópolis (RJ) Nelson da Costa Durão a devolver R$ 6 mil. É acusado de usar o meu, seu, nosso dinheiro em anúnciosnos jornais da cidade
com fotos dos vereadores.

De tipoia

Depois de uma temporada no estaleiro, Ruy Castro, de braço na tipoia, faz hoje palestra sobre Carmen Miranda no Miranda, a nova casa da Lagoa, que terá ainda show de Soraya Ravenle e Alfredo Del-Penho.

Diário da Justiça

Está nas mãos da juíza Paula Fernandes, da 9a- Vara Cível do Rio, a ação da FSB Comunicações, através do advogado Raphael Miranda, contra a FGV. Cobra uns R$ 3 milhões.

Retratos da vida

Domingo, num bar da Praça Varnhagen, na Tijuca, no Rio, o que era para ser uma felizdespedida de solteiro acabou em fim de casamento. Os noivos, moradores do Méier, fizeram suas despedidas na mesma noite e, sem saber, no mesmo bar. Ela, já de pileque, de orelhinha de oncinha, não imaginava que era vista e... beijou outro rapaz. Rebu armado, alianças voaram, e o noivado acabou.

Gestos petistas - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 27/03/12


Chegou a hora de o PT sacrificar alguns pré-candidatos espalhados pelo país para conquistar aliados em São Paulo. Se não for assim, Fernando Haddad não terá grandes apoios na largada



Se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não entra em campo no último domingo, o PT tinha jogado por terra o apoio do PSB a Fernando Haddad, pré-candidato a prefeito de São Paulo. Foi o ex-presidente que, na última hora, evitou imposições severas para seu partido compor a chapa com o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, do PSB. Os petistas de BH se preparavam para dizer que não aceitariam o PSDB na aliança. No fim, ficou restrito à chapa, ou seja, prefeito ou vice. Menos mal para Fernando Haddad.

Até agora, excluída São Paulo, das 15 capitais que o PSB tem candidato a prefeito, apenas Belo Horizonte conta com a declaração oficial de apoio ao prefeito-candidato e, ainda assim, querendo impor condições. Nas demais, o PT ainda não fez um só gesto em favor das candidaturas do PSB. Eis a lista: Curitiba, Boa Vista, Cuiabá, Manaus, Aracaju, Maceió, Belém, Porto Velho, Macapá, João Pessoa, Natal, São Luís, Palmas e Teresina.

E o que os socialistas interpretam como falta de consideração não para por aí. Dos 12 deputados federais candidatos a prefeito, só um tem a simpatia do PT: Ribamar Alves, da pequena Santa Inês, no interior do Maranhão. Foi esse o mapa discutido nas últimas reuniões entre PSB e PT que trataram de alianças municipais. Inclusive com o ex-presidente Lula. Embora tudo tenha ficado para junho, o recado está claro: se o PT quer apoio em São Paulo, que faça gestos de apreço aos aliados em outros pontos do Brasil.

Por falar em apreço...
O PT hoje tem plena consciência de que ninguém jogará seus projetos pela janela porque os petistas querem eleger Fernando Haddad prefeito de São Paulo. Embora todos gostem do ex-ministro e o considerem um "cara legal", sem votos, não dá. Tudo o que se tem até agora, dizem os aliados, é um candidato "concretado" em 3%, conforme já mencionei aqui em outras oportunidades.

E não basta apenas, como deseja o presidente do PT, Rui Falcão, criar comissões para avaliar as situações. Em política, todos sabem que, quando não é para resolver uma questão, ou protelar ao máximo a solução, cria-se uma comissão. É assim que muitos aliados avaliam a proposta do PT.

O mapa do PSB va le para todos os demais integrantes da base do governo Dilma Rousseff. Cada aliado tem uma cidade que considera prioritária e vê o PT lhe dando as costas. Um exemplo é Porto Alegre, onde a deputada Manuela D"Ávila (PCdoB), muito bem colocada nas pesquisas, não recebeu um só gesto dos petistas. E sem apoio, não tem São Paulo, onde quem está bombando hoje é a oposição.

Por falar em oposição...
O ingresso de José Serra mudou o cenário da eleição paulistana e nem o fato de ter tido pouco mais da metade dos votos na prévia pode ser visto como um revés. Afinal, ele entrou de última hora, deixando vários correligionários irritados com o ingresso tardio na pré-campanha depois de várias negativas. Agora, caberá a Serra unir seu partido e, paralelamente, tirar parte do potencial volume de apoios que Haddad — ou quem sabe Gabriel Chalita, do PMDB — pode angariar. E, do jeito que está difícil o PT abrir mão de alguns dos seus para acolher candidatos de outros partidos em vários estados, a pescaria de Serra pode ser para lá de proveitosa. A ver.

No mais...
A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, aproveita a semana com a presidente Dilma Rousseff fora do país para ver se consegue baixar a poeira da crise política com a base aliada no Congresso. Se tiver sucesso, ganha mais fôlego no cargo. E, justiça seja feita, a ministra está trabalhando muito para isso. Nos últimos dias, abriu os ouvidos a vários aliados para tentar entender o que precisa ser feito para resolver as insatisfações, sem precisar ceder nos cargos que Dilma resiste a entregar. Tarefa difícil.

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV


12h - Masters 1.000 de Miami, tênis, Sportv 2

14h - Torneio de Miami, tênis, Bandsports

15h45 - Benfica x Chelsea, Copa dos Campeões, ESPN Brasil e ESPN HD

15h45 - Apoel x Real Madrid, Copa dos Campeões, ESPN

19h15 - Nacional (URU) x Alianza Lima (PER), Taça Libertadores, Fox Sports

20h30 - Torneio de Miami, tênis, Bandsports

21h - Vôlei Futuro x Rio de Janeiro, Superliga fem. de vôlei, Sportv

21h30 - Dep. Táchira (VEN) x Nacional (PAR), Taça Libertadores, Fox Sports

22h30 - Masters 1.000 de Miami, tênis, Sportv 2

Visão distorcida - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 27/03/12


Há uma visão distorcida na prática política brasileira sobre as prévias partidárias para a escolha de um candidato. Enquanto nos Estados Unidos as prévias são um fato corriqueiro, e quase sempre o vencido apoia o vencedor, aqui no Brasil tem-se a percepção de que o partido sai rachado do embate interno.

O candidato tucano à Prefeitura de São Paulo, José Serra, saiu com uma vitória de 52% dos votos das prévias partidárias, mas está sendo visto como o grande derrotado.

Para se ter uma ideia do que isso significa, Serra teve a maioria absoluta dos convencionais que votaram, mais votos que seus dois adversários somados, quando precisaria ter pouco mais de 33% para sagrar-se vencedor da disputa.

Na disputa de 2008 nos Estados Unidos, Barack Obama ganhou de Hillary Clinton com pouco mais de 53% dos votos dos convencionais democratas e custou a fechar um acordo com Hillary. Hoje, ela é sua secretária de Estado, com grande prestígio político.

Mesmo tirando o caráter partidário da maior parte dos que adotam a análise de que a vitória de Serra foi uma derrota, é verdade que na cultura brasileira um candidato só sai consagrado de uma prévia se vencer pelo menos com 70% dos votos.

Será preciso sair de uma disputa interna com votação de ditador africano, que ganha as eleições com quase 100% dos votos, para ser considerado um candidato consagrado pelas urnas.

Mas, se por acaso Serra vencesse por 70% ou 80% dos votos, seria acusado de ter manipulado a eleição com a ajuda do governador Geraldo Alckmin.

Como sempre, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vocalizou a oposição, colocando o dedo na ferida petista.

Ressaltou a realização de prévias como uma vantagem do PSDB em relação ao PT na escolha do candidato a prefeito de São Paulo, deixando em segundo plano a votação em si.

A democracia interna tucana se impôs como fato político, enquanto o dedaço de Lula escolhendo o ex-ministro Fernando Haddad seria a demonstração de que o PT se transformou em um partido de um dono só.

O partido que escolhia seus candidatos "ouvindo as bases" deixou de fazê-lo quando chegou ao poder. Já ao PSDB, diante de um quadro partidário fragmentado e sem grandes nomes para disputar a Prefeitura de São Paulo, não restou alternativa que não fossem as prévias.

Quando o ex-governador José Serra decidiu concorrer à prefeitura, não havia mais como desistir das prévias e aclamá-lo candidato único, como era vontade da direção nacional no início do processo.

O próprio Serra e o governador Geraldo Alckmin chegaram à conclusão de que não realizar as prévias seria um mau começo para uma eventual campanha de Serra.

As prévias, embora existam ainda no estatuto do PT, assim como a defesa do socialismo, foram se tornando um modelo que não serve mais.

O ministro Gilberto Carvalho, representante formal de Lula no governo Dilma, chegou a dizer que seria "um desastre" a realização de prévias para escolher o candidato petista à prefeitura, como chegou a defender o senador Eduardo Suplicy, que finge ainda acreditar que os princípios petistas continuam intactos.

Não ouviu o aviso de Lula tempos atrás: chega de principismos. Com isso, Lula queria dizer que o tempo de seguir os princípios que teoricamente nortearam a criação do PT teriam que ser trocados pelo pragmatismo para manter o poder.

Lula, com o tempo, foi ganhando tanta hegemonia dentro do PT que passou a centralizar as decisões partidárias, até que a escolha de Dilma Rousseff para sua sucessão deu-lhe ares de mágico político.

Daí a tomar a iniciativa de organizar a tentativa de tomada de poder em São Paulo foi uma consequência lógica.

O projeto começou pela renovação dos quadros políticos petistas, alijando a senadora e ex-prefeita Marta Suplicy do páreo para a Prefeitura de São Paulo.

Caso o partido resolvesse a escolha de seu candidato através de prévias, tudo indica que, mesmo com o apoio de Lula, o ex-ministro Fernando Haddad perderia a indicação para Marta, o tal "desastre" previsto por Gilberto Carvalho.

O PSDB, ao contrário, foi buscar Serra para defender seu nicho eleitoral, na certeza de que uma renovação de quadros forçada daria a Lula um espaço político para se transformar no centro da disputa paulistana.

A disputa não seria entre Fernando Haddad e uma liderança tucana nova como José Anibal, por exemplo, ou Andrea Matarazzo, mas entre Lula e o comando do PSDB, transferindo o embate do âmbito local para o nacional.

Nada indica que Serra terá problemas dentro do PSDB para unir o partido, mesmo porque seria suicídio político os seguidores de José Anibal ou Tripoli se colocarem na dissidência partidária, abrindo mão de um poder local que já exercem.

O centro da disputa agora passa a ser o PSB, o partido do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que procura um caminho próprio, dividido entre a lealdade ao projeto do ex-presidente Lula e sua vontade de transformar-se em protagonista da cena política, e não coadjuvante eterno do PT.

Por isso mesmo, Eduardo Campos insiste em que seu partido só se definirá em julho, o que lhe dará tempo suficiente para encontrar uma saída que não o prenda definitivamente a um dos lados em disputa, mesmo porque pretende ser um dia a alternativa à polarização PT-PSDB.

Mantega, o longa vida improvável - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 27/03/12


Ministro faz hoje seis anos na Fazenda e acabou por mudar a política econômica que vinha dos anos 1990
 

"A POLÍTICA ECONÔMICA não mudará. A política econômica é a política econômica do presidente Lula. O presidente Lula é o fiador dessa políticaeconômica. Além disso, a política econômica não deve mudar porque é a política econômica mais bem-sucedida dos últimos 15 ou 20 anos no Brasil."

Era o que dizia Guido Mantega em sua primeira entrevista coletiva como ministro da Fazenda. Hoje, faz seis anos que Mantega está no posto. Em longevidade, perde apenas para Pedro Malan (1995-2002), ministro durante todo o governo FHC, e para Artur de Souza Costa (1934-1945), que teve a administração cortada por algumas interinidades. Mas Mantega durou mais que Delfim Netto e Mário Henrique Simonsen, que fizeram história no cargo, durante a ditadura militar.

Mantega assumiu sob grande descrédito, embora a indústria tenha ficado contente com sua nomeação.

Sob Lula, havia sido ministro do Planejamento e presidente do

BNDES. Substituiu Antonio Palocci, frito por escândalos. Economistas padrão, o pessoal da finança, "organismos internacionais", a mídia financeira global, todos fizeram luto. Queriam Murilo Portugal, vice de Palocci, como novo ministro.

Portugal ocupou vários cargos públicos na vida, mas era quase um embaixador tucano no ministério. Aliás, a equipe de Palocci poderia ser a de um governo tucano -atenção, não há insulto nesta frase.

O paloccismo era arroz com feijão fiscal (controle de gastos), aliança com o Banco Central "falcão" e um programa de execução de reformas ditas "liberais" -as de fato executadas eram apenas racionais e foram um fator importante na retomada do crescimento que viria.

A política econômica de fato não mudou em 2006-07. Mas deixou de pender para o lado "liberal".

Sob inspiração de seus assessores (Portugal, Marcos Lisboa, Joaquim Levy), Palocci propunha redução de gastos públicos mais permanente, menos gasto social, desvincular reajustes da Previdência do salário mínimo (e reforma da Previdência), mais abertura comercial e mais reformas microeconômicas.

Mantega combatera Palocci, entrara em atritos públicos com os secretários da Fazenda e diretores do BC, fritava Henrique Meirelles (presidente do Banco Central), reclamava do dólar barato (a R$ 2,20, quando assumiu) e queria bancos estatais como motores do crescimento.

Em 2007, começou a falar em "social-desenvolvimentismo", "crescimento com distribuição de renda", o que ocorrera, de forma minguada, entre 2004 e 2006, e que ficaria mais importante em 2007-08.

A mudança da política econômica começou a aparecer na forma de "desenvolvimentismo acidental", a enxurrada de intervenções estatais que foi a resposta do governo Lula à crise mundial, em 2008.

Dados o contexto econômico global, o grande desastre de políticas ditas "liberais", o experimentalismo macroeconômico nos centros econômicos mundiais (mais por precisão, não por boniteza), a força da "heterodoxia" chinesa e o relativo sucesso brasileiro de curto prazo, ao menos, Mantega venceu.

Sob Dilma Rousseff (que combatera o paloccismo quando ministra), o enterro da política econômica de matriz tucana tornou-se programa explícito. E "o mundo não acabou", como dizia o "establishment".

A língua e o poeta - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 27/03/12
SÃO PAULO - Hoje eu peço vênia para discrepar do grande Ferreira Gullar, que, no domingo, escreveu um artigo defendendo o "modo correto" de usar a língua portuguesa.

Longe de mim propor que o poeta, eu e o leitor comecemos a dizer "nós vai" ou "debateu sobre as alternativas", mas não dá para comparar violações à norma culta com um erro conceitual como afirmar que tuberculose não é doença, para ficar nos exemplos de Gullar. Fazê-lo é passar com um "bulldozer" sobre o último meio século de pesquisas, em especial os trabalhos de Noam Chomsky, que conseguiram elevar a linguística de uma disciplina entrincheirada nos departamentos de humanidades a uma ciência capaz de fazer previsões e articular-se com outras, como psicologia, biologia, computação.

Chomsky mostra que a capacidade para a linguagem é inata. É só lançar uma criança no meio de uma comunidade que ela absorve o idioma local. O fenômeno das línguas crioulas revela que grupos expostos a "pidgins" (jargões comerciais que misturam vários idiomas, geralmente falados em portos) desenvolvem, no espaço de uma geração, uma gramática completa para essa nova linguagem. Mais do que de facilidade para o aprendizado, estamos falando aqui de uma gramática universal que vem como item de fábrica em cada ser humano. Foi a resposta que a evolução deu ao problema da comunicação entre caçadores-coletores.

Nesse contexto, o único critério para decidir entre o linguisticamente certo e o errado é a compreensão da mensagem transmitida. Uma frase ambígua é mais "errada" do que uma que fira as caprichosas regras de colocação pronominal.

Na verdade, as prescrições estilísticas que decoramos na escola e que nos habituamos a chamar de gramática são o que há de menos essencial e mais aborrecido no fenômeno da linguagem. Estão para a linguística assim como a pesquisa da etiqueta está para o estudo da história.

Uma persistente apatia - LUIZ GUILHERME SCHYMURA

O GLOBO - 27/03/12

Osetor manufatureiro tem se queixado de perda de competitividade. Com o recuo de 2,1% da produção industrial em janeiro de 2012 frente a dezembro de 2011, as reclamações ganharam mais força. Os motivos alegados são a valorização do real e o alto custo Brasil. Em relação ao câmbio, as notícias são pouco alvissareiras. O PIB da China cresce na faixa de 8% ao ano, o que mantém as commodities em alta. Além disso, a situação europeia e americana aponta para a manutenção da elevada liquidez internacional, o que significa mais pressão no ingresso de divisas. Assim, o foco da análise deve se dirigir para o alto custo-país e as maneiras de reduzi-lo. Contudo, há, de fato, razões palpáveis para tanta apreensão com o momento atual das nossas manufaturas?

Ao se analisar o setor, observa-se que a indústria de transformação, que já representou 15,3% de nosso PIB em 1996, viu sua participação cair para 14% do PIB, em 2007. O declínio nos últimos quatro anos foi ainda mais acentuado, atingindo 12,4% do PIB em 2011. Apesar de os números indicarem uma queda inconteste da participação das manufaturas na produção nacional, a experiência internacional mostra que no processo de desenvolvimento de um país a indústria de transformação, inevitavelmente, cede espaço para o setor de serviços. Mas o que chama a atenção no caso das manufaturas brasileiras é essa persistente apatia refletida pelos números. A produção industrial em janeiro de 2012 é, grosso modo, a registrada em dezembro de 2007 e também em dezembro de 2009. O país cresce, mas as manufaturas não.

No que tange à macroeconomia brasileira, os principais indicadores não sugerem sinais de maiores preocupações: o crescimento do PIB médio anual será menos vigoroso do que gostaríamos - dificilmente será superior a 4% -, mas não chega a ser desolador. A nossa balança comercial tem exibido saldos positivos, enquanto a de transações correntes, mesmo que negativa, não assusta. Os juros internos, ainda elevados, estão se reduzindo. A despeito do tamanho do Estado, tem-se obtido, sistematicamente, superávit fiscal primário. A inflação está acima da meta proposta, mas ainda dentro de uma margem de conforto.

Neste contexto, a pergunta imediata a ser formulada é: na medida em que a situação econômica é satisfatória e a indústria não vai tão bem, o que fazer?

Ao relembrarmos o esforço feito para que a indústria atingisse o status atual, o receio de uma rápida desindustrialização é compreensível. Durante décadas, governos de diferentes matizes políticos e ideológicos adotaram ações de grande incentivo ao soerguimento da indústria nacional. Embora existam críticas à condução deste processo de industrialização, não se pode negar que o Brasil montou um parque manufatureiro eficiente e competitivo em muitas áreas. A nossa pauta exportadora ficou mais diversificada, e, com isso, o país menos suscetível à variação no preço de uma ou outra mercadoria. A produtividade cresceu a taxas maiores na manufatura do que nos demais setores da economia, além de ter gerado empregos para uma mão de obra, em média, mais qualificada.

Considerando o abatimento da indústria, as incertezas daí decorrentes e a comprovada dificuldade de desvalorização do real, as soluções devem passar por uma análise criteriosa do custo-país. As medidas que me parecem apropriadas são aquelas que facilitam a operação da indústria nacional, sem, com isso, comprometer a ação das concorrentes estrangeiras. Há que se priorizar, portanto, políticas que levem à queda nos custos de produção das firmas brasileiras. Aliás, a desoneração da folha de salários de setores específicos vem sendo implantada pelo governo e vai exatamente ao encontro desse princípio. É importante ressaltar, por fim, que políticas que levem à criação de barreiras à entrada de competidores do exterior não são recomendáveis, pois trazem um efeito perverso ao fomentar ineficiências acobertadas pela prática de preços abusivos.

Mais do que um processo - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 27/03/12

A declarada intenção de Ivan Sartori excede em muito o propósito de punição para o uso de uma palavra
O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivan Sartori, quer mais do que processar a Folha. Sua declarada intenção de obter a adesão dos 354 desembargadores ao processo e, ainda, a de associações de magistrados, excede em muito o propósito de punição para o uso de uma palavra, que considerou inaceitável. E excede em dois sentidos: como iniciativa, com características de movimento, e ao atingir, muito além da Folha, todos os jornalistas.

Mesmo sem admitir que haja diferença essencial entre o título questionado -"Corregedoria vai investigar todos os juízes do TJ-SP"- e o tolerável pelo desembargador Sartori -"Corregedoria vai inspecionar todos os juízes do TJ-SP"-, é irrelevante discutir equivalências e dessemelhanças verbais. Se o presidente do TJ vê na palavra "investigar" uma conotação de suspeita, pode-se até dizer mais.

Um dos traços marcantes na elaboração do jornalismo, desde que expor notícias sobrepujou o objetivo inicial de proselitismo partidário, é o de recorrer às palavras mais fortes dentre as cabíveis nos seus títulos principais. Em princípio, um fator de atração de leitores. Muito frequente, opinião dissimulada. Na atualidade, por sinal, frequente demais, quase regra.

Investigar e inspecionar, como milhares de outras palavras aparentadas, podem servir, ambas, de palavra mais forte, a depender das circunstâncias. Não tenho indicação nem sugiro, porém, que a construção do título questionado buscasse mais força ou qualquer outra função além da notícia em si. Nada indica que o leitor tivesse reação diferente com a segunda palavra. O mais importante, no caso, nem está aí, que apenas exemplifica modalidades de elaboração dos jornalistas. Como a contagem de letras para adequar as linhas de um título ao seu espaço, o número de linhas dos textos, o tempo indisponível, tanto mais.

Nesse fazer, as formas de pressão objetiva e subjetiva são muitas e insaciáveis (até hoje, só encontraram uma forma de contrapressão: o desleixo). E sempre surgem novas pressões, outras atenuam-se ou desaparecem. O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo traz mais uma. Forte e portadora de uma exigência sem precedente.

Aos jornalistas não bastaria mais, se têm que atender à iniciativa do desembargador Ivan Sartori, elaborar títulos e textos com as palavras mais precisas da linguagem jornalística. A linguagem que têm em comum com os segmentos de leitores a que os diferentes modos de jornalismo se dirigem. Seria preciso o impossível: o uso dos termos técnicos. O conhecimento e a prática das especificidades existentes entre uma palavra como a comum "investigar" e o termo judicialmente técnico, no caso, "inspecionar".

Condenada a linguagem usual nas notícias do Judiciário e seu vetusto jurisdiquês, estariam todos os jornalistas sujeitos, primeiro, à nova pressão perturbadora do escrever. Depois, às repetidas sentenças que a iniciativa do presidente do TJ-SP inaugurasse. Ou, como alternativa, calamos a respeito do Judiciário, seus atos judiciais e suas peculiaridades. Ou pecunialidades, que parecem estar na origem do problema verbal e de outros problemas.

Saudáveis senadores - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 27/03/12

Como deve ser remunerado o exercício de um mandato legislativo? A resposta óbvia deveria caber num único advérbio: adequadamente. Ou seja, o suficiente para garantir um razoável padrão de vida e - o que é indispensável - manter à distância feias tentações.

Mandato - é quase absurdo ter de lembrá-lo - não é emprego. Senadores, deputados e vereadores não são convocados para a vida pública. Dela participam por iniciativa própria. Pelo menos em tese, porque têm a vocação de servir ao país e à sociedade.

É natural e óbvio que devem ser pagos pelo seu trabalho. Na verdade, pode-se dizer que é indispensável que isso aconteça. Representantes do povo sem remuneração adequada correm o risco de ceder à tentação de buscarem fontes ilícitas de renda. Na verdade, esse risco existe de qualquer maneira - pelo menos em países onde o regime democrático não tem a sofisticação e a solidez que, graças a Deus, existe por aqui. Ninguém ria, por favor. Inclusive porque temos mesmo uma democraciazinha bem razoável.

Mas, por isso mesmo, é motivo de decepção e tristeza a gente ver no jornal a revelação de que o Senado trata seus membros com uma generosidade de pai rico. Cada senador - isso já se sabia - recebe uma verba indenizatória (sem explicação da necessidade de indenização) de R$ 15 mil.

Tem mais: os senadores podem contratar até 72 funcionários para seus gabinetes - e ninguém imagina que esse batalhão seja usado exclusivamente para permitir o exercício adequado do mandato legislativo. E mais ainda: eles têm direito à assistência médica pelo resto da vida. Como se fossem senadores perpétuos. Em alguns casos, como ficou apurado, isso chega a mais de R$ 100 mil por ano. Trata-se de uma mordomia exclusiva do Senado. Nem ex-presidentes da República têm essa vida boa.

Há poucos dias, o presidente do Senado, José Sarney, disse num discurso que a universalização da saúde pública ainda é um desafio para o Brasil. Esqueceu-se de acrescentar que os senadores da República já venceram esse desafio. Com o nosso dinheiro.

Política monetária - ANTONIO DELFIM NETTO


Valor Econômico - 27/03/12


Com as recentes medidas tomadas pelo Copom, tem havido uma salutar discussão entre os economistas brasileiros sobre a natureza e a qualidade da política monetária que ele está implementando. De um lado, o avanço mais notável é o aumento dos cuidados de alguns participantes com relação às posições ideológicas apoiadas na religiosa devoção às misteriosas "forças" do mercado. De outro, é o aumento da desconfiança dos que acreditam que o Estado é habitado por seres privilegiados, para os quais a incerteza essencial do futuro é suspensa pela onisciência que aquele lhes confere.

Ninguém hoje, nem os mais extravagantes libertários (a não ser os candidatos do Partido Republicano nos EUA!), propõe o fim dos bancos centrais ou defendem sua "independência" da política. E por três motivos: 1) porque seria um escândalo o poder incumbente eleito por dezenas de milhões de votos entregar o destino dos seus cidadãos a uma dúzia de supostos portadores da "verdadeira" (inexistente) ciência monetária; 2) porque mesmo com poderosos instrumentos econométricos, não foi possível provar de forma convincente que os bancos centrais "independentes" produzem menor taxa de inflação (e maior bem-estar), pela simples e boa razão que hoje sabemos: o conjunto dos bancos centrais "realmente" independentes é vazio; e 3) porque a profissão, a despeito de suas múltiplas "escolas", introjetou a verdade expressa pelo competente economista, professor Alan Blinder, vice-chairman do Board do Fed, de 1994 a 1996, no último parágrafo do seu extraordinário livro "Central Banking in the Theory and Practice" (The MIT Press, 1998): "... o banco central moderno deve assumir sua independência dos mercados financeiros tão vigorosamente quanto deve fazê-lo com relação ao poder político".

O livro de Blinder é resultado de palestras proferidas em 1996. Hoje, 15 anos depois, continua no estado da arte. Na página 22, nos informa que "trabalhando em sua reclusão universitária, Tinbergen, Theil, Brainard e outros ensinaram valiosas lições abstratas, que têm uso prático e direto nos bancos centrais"... "entretanto não dão respostas às suas questões centrais e suas técnicas não podem ser aplicadas mecanicamente. O mundo é muito mais complicado do que elas supõem. Portanto, deve haver arte e ciência na ação dos bancos centrais, mas a ciência é útil. Pelo menos foi o que aprendi no Board do Fed".

Com relação às contribuições teóricas que em condições especiais permitem determinar uma "política monetária ótima", da qual se deduz a regra pedestre que, com um único instrumento (a taxa de juros de curto prazo), pode-se controlar apenas um objetivo (a taxa de inflação), o pensamento de Blinder é muito crítico.

"O que está errado com essa estrutura" pergunta ele? (página 4). A resposta é "nada e tudo"! E passa a enumerar a lista de objeções à simplicidade do modelo. "Exceto pelos instrumentos da política monetária que você controla, você tem de aceitar a economia como ela é. Você tem múltiplos objetivos - os seus e os ditados pelo poder incumbente - e deve ponderá-los de alguma forma..."

Blinder é cético com relação ao próprio conceito e à estimativa da "taxa de juros neutra", definida como "a taxa de juros real de curto prazo que é consistente como uma taxa de inflação constante" (página 50).

Um dos pontos altos do livro de Blinder é a análise que ele realiza da proposição demonstrada por Brainard (1967). Este sugeriu que, em condições adequadas dentro do modelo simples acima referido, quando há incerteza sobre os parâmetros do modelo (o que sempre há), o formulador da política monetária deve computar a "taxa de juros ótima", mas fazer um pouco menos, isto é, ser mais "conservador".

Com isso, potencialmente, ele reduz a variança do PIB. Com relação a essa norma, Blinder é enfático (página. 12) "Minha intuição é que a regra é mais geral, ou pelo menos mais sábia, no mundo real, do que sugere sua matemática. E eu espero que seja assim, pois nunca a tive longe de meu pensamento enquanto fui vice-chairman do Fed."

Alan Blinder esteve no Brasil em maio de 2001, a convite do Credit Suisse First Boston (CSFB). Em palestra em São Paulo, afirmou que "as longas (e variáveis) defasagens entre decisões sobre a política monetária e seus efeitos na economia, estão entre os principais fatores que tornam difícil, na prática, determinar a reação retardada das taxas de juros de longo prazo às variações das taxas de curto prazo"... e acrescentou que "o controle monetário, afinal de contas, é uma arte imprecisa".

Nos últimos 15 anos, os economistas não se cansaram de explorar as consequências da regra de Brainard e suas limitações. A maior prova desse fato é o extraordinário e interessantíssimo artigo de Gadi Barlevy ("Robustness and Macroeconomic Policy", na Annual Review of Economics, vol. 3, 2011), onde se explora e critica uma nova forma de enfrentar o problema da incerteza sobre os parâmetros com a adoção do comportamento "mini-max", ou seja, minimizar a perda máxima que as políticas monetárias podem impor à sociedade. A conclusão importante é que a nova norma "não contraria, essencialmente, a regra de atenuação descoberta por Brainard", que parece ter sido levada em conta na última decisão do Copom.

Prévia das prévias - SONIA RACY

O ESTADÃO - 27/03/12

Além de FHC, Sérgio Guerra também defende prévias em 2014. Anteontem, na Câmara paulistana, o presidente do PSDB revelou que, para tanto, está organizando o cadastro nacional de militantes. “Sem a atualização, as prévias são irreais. O exemplo aqui em São Paulo foi excelente.”

Aloysio Nunes também aprova a ideia. Aécio aceitaria? “Acho que sim”, disse. E Serra? “Como assim? Ele ficará na Prefeitura até o fim”.

Prévias 2
Embaraço na hora da divulgação do resultado das prévias. Tripoli e Aníbal tiveram de esperar entre os militantes antes de subir ao palco. “Um absurdo”, reclamou o primeiro.

Já todos no palco, aguardando o veredicto, Nunes, corintiano roxo, só queria saber do jogo Palmeiras e Corinthians. E na falta de Serra a seu lado, resolveu provocar um assessor do palmeirense: “Vê aí quanto tá!”.

Prévias 3
Não será fácil unir os tucanos. Militante pró-Aníbal interrompeu discurso de Julio Semeghini, do PSDB municipal, para pedir que o vice também seja do partido.

Por quê? Edvaldo Oscar, do diretório de Vila Matilde, explicou: “Depois ele sai e entrega a Prefeitura para o turco. Não dá”

Nos trilhos
Fim de semana de intenso boato sobre saída de Sérgio Avelleda do Metrô.

Assessoria de Alckmin rebate: “O governador está absolutamente contente. Ele só sai se quiser ou tiver oportunidade melhor de emprego.” Da parte de Avelleda, fica o recado: “Ele não quer sair. O clima está ótimo”, afirma seu assessor.

Design sertanejo
E Michel Teló, quem diria, será um dos homenageados da… Casa Cor. Com direito a ambiente especialmente projetado para ele.

“Edutenimento”
Será anunciada hoje a chegada a São Paulo do KidZania – parque que simula uma cidade em proporções infantis. Onde crianças podem brincar de adultos.

Presente em Tóquio, Seul, Lisboa e Dubai, entre outras, será aberto em março de 2013, no Shopping Eldorado – onde ficava o Parque da Mônica. Investimento? Cerca de R$ 30 milhões.

Entrave
Larry Gagosian, dono da rede de galerias que leva seu sobrenome (três em Nova York e outras em Los Angeles, Londres, Roma, Paris, Genebra, Atenas e Hong Kong), teria, sim, interesse em montar algo no Brasil.

Entretanto, segundo Serena Cattaneo Adorno, responsável pela galeria parisiense, o problema fiscal é gigante. Para entrar no País, paga-se 40% de imposto sobre qualquer obra de arte comprada lá fora. Mesmo que seja brasileira. E para saírem, estrangeiras ou nacionais, também se paga.

No opinião de Serena, isso prejudica o Brasil em sua intenção de integração no mercado de arte mundial.

Unhas e dentes
Obama se superou. Foi incluída na lista de produtos à venda para sua campanha presidencial uma linha de… esmaltes.

O kit com três cores custa US$ 40.

“O que você vê?”

Ricardo Ohtake tinha um brilho especial nos olhos, sábado, pouco antes da pré-estreia de Vermelho no recém-inaugurado Teatro Geo: “É a realização de mais um sonho”, disse o diretor do Instituto Tomie Ohtake. “E a peça não poderia ser mais perfeita”.

Vermelho, que narra a relação do pintor Mark Rothko (Antônio Fagundes) com seu inexperiente assistente (Bruno Fagundes), é uma ode à arte. E Tomie sempre se disse devota do pintor.

“É um dos melhores momentos da minha carreira”, comemorava o diretor, Jorge Takla.

Um dos mais assediados era Silvio de Abreu, que estreia, em outubro, nova versão de sua Guerra dos Sexos, na Globo. “As filmagens começam em abril”, avisou. Se vai ter a cena pastelão celebrizada por Fernanda Montenegro e Paulo Autran? “Claro, mas com diálogos mais modernos. O mundo e os sexos mudaram muito desde 1983”. Sobre Vermelho, foi rápido: “Se um Fagundes é bom, imagine dois…”

Gabriela Duarte deixou o pequeno Frederico (de 3 meses) em casa, enfrentou a insistente garoa paulistana e foi prestigiar os amigos. “Eu atuei ao lado da minha mãe, e essa experiência é muito forte!”

Gabriel Chalita também adorou: “A energia dentro de um teatro é inigualável, né?” E o teatro eleitoral? “Ah, esse depende de muitos atores…”

Depois do espetáculo, Fagundes era só sorrisos para o filho: “Tenho aprendido muito com ele no palco”. Nervoso? “Sim… mesmo depois de 48 anos. Mas parece que as pessoas gostaram”, completou.

É, parece que sim. /DANIEL JAPIASSU

Na frente

Hoje, aniversário de um ano da rádio Estadão/ESPN, os dados do Ibope atestam: a audiência cresceu 34% na AM e 49% na FM. A emissora também ganhou prêmios como o da revista Propaganda, de lançamento do ano.

Denise Fraga, Silvia Afif e Wanderléa são algumas das homenageadas de prêmio da Fiesp-Ciesp. Hoje, no Esporte Clube Sírio.

Ferreira Gullar comanda curso hoje. Na Casa do Saber.

Reynaldo Mapelli Jr., Mário Coimbra e Yolanda de Matos lançam o livro Direito Sanitário. Dia 3, na Escola Superior do Ministério Público.

Thomas Baccaro acumula mais de 20 exposições em seu histórico artístico, expondo na França, no Canadá e, recentemente, em NY. Portanto, não é a primeira que abre sábado, no A Estufa, conforme informou a coluna no domingo.

Tsunami não é guerra - CELSO MING


O Estado de S. Paulo - 27/03/12


O governo brasileiro conseguiu pautar reunião de alto nível no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) para discutir o câmbio como fator de concorrência desleal no comércio exterior, que começa nesta terça-feira.Por ser a organização que cuida da lisura do comércio global, a OMC é o fórum mais adequado para definir quando e em que condições o câmbio poderia ser considerado instrumento de práticas condenáveis no comércio.

O governo Dilma tem feito denúncias sobre a manipulação do câmbio pelos países ricos contra interesses comerciais do Brasil. Até agora, essas reclamações vêm sendo sistematicamente rechaçadas por autoridades dos países centrais, em parte pela falta de foco do próprio governo brasileiro.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, foi o primeiro a denunciar a tal guerra cambial. A presidente Dilma prefere outro termo: tsunami monetário, provocado pelos grandes bancos centrais que inundam os mercados com liquidez – algo que, por sua vez, tende gerar a valorização das moedas dos países emergentes (alta do dólar). Em entrevista publicada neste final de semana pela Veja, ela pareceu recusar o diagnóstico do ministro Mantega. Reconheceu que a atuação dos grandes bancos centrais (Fed e BCE) não pode ser vista como "agressão proposital" às demais nações.

Guerra cambial e tsunami monetário parecem troca de seis por meia dúzia, mas não o são. Uma coisa é manipular o câmbio, ou seja, intervir diretamente nos mercados de moeda para provocar desvalorização da própria moeda e, assim, tirar competitividade do produto estrangeiro. Está mais para o que fazem o Banco do Japão, o Banco Nacional da Suíça e o Banco do Povo da China, que se põem a comprar moeda estrangeira em seus próprios mercados, aumentam a oferta e evitam a megavalorização da própria moeda, o que tira competitividade do produto nacional.

E coisa bem diferente é o tal tsunami monetário de que fala a presidente Dilma. Trata-se da emissão de dólares pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) ou de euros pelo Banco Central Europeu (BCE). O objetivo do Fed é recomprar títulos do Tesouro americano nos mercados para melhorar o crédito interno e reativar a economia. E a intenção do BCE é criar mais mercado para os títulos dos Tesouros europeus, que vinham sendo rejeitados. São decisões que pouco têm a ver com guerra cambial.

Não dá para dizer que essas enormes emissões de moeda, do Fed e do BCE, estejam provocando desvalorização do dólar e do euro, respectivamente, em detrimento do real ou, eventualmente, de outras moedas. Ao contrário, estancaram a crise tanto dos Estados Unidos como da área do euro e reverteram notórias perdas de valor, tanto do dólar como do euro. Em vez de desvalorização, estão provocando valorização do dólar e do euro. Não podem ser consideradas manobras de guerra cambial. Mas produziram enorme liquidez global – boa parte desembarcada no Brasil – e que ajudam a afundar o real.

O sucesso das operações do Fed e do BCE como políticas estancadoras da crise global mostra a baixíssima probabilidade de que essa atuação dos grandes bancos centrais seja tida como desleal e condenável no comércio exterior, como desejaria o governo Dilma.

A morte em debate - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 27/03/12


As grandes campanhas eleitorais têm a vantagem de ressaltar problemas fundamentais jamais resolvidos. É o caso das eleições presidenciais deste ano na França. A ignomínia dos atentados de Toulouse permitiu à França interrogar-se sobre assuntos capitais e jamais examinados a fundo, ou seja, a eficácia da polícia antiterrorismo, a ausência de integração dos imigrantes nos subúrbios das grandes cidades, os odores do antissemitismo, a xenofobia etc.

Uma outra questão veio à tona. Há alguns dias, multiplicam-se os cartazes nas paredes de Paris representando alguns candidatos (entre eles Nicolas Sarkozy e Marine Le Pen) num leito de hospital, entubados, claramente em coma. Com os dizeres: vamos reformar a legislação para permitir abreviar o terrível sofrimento das pessoas que agonizam, quando toda esperança de vida se esgotou?

Há 30 anos esta questão vem sendo colocada. A França jamais conseguiu dar uma resposta. Em 2005, uma lei (Léonetti) autorizou a "eutanásia passiva". A lei prevê que, no fim da vida, um gesto pode ser feito (ou ao contrário, nenhum gesto), cujo efeito será apressar a morte sem o desejo de matar.

O texto da lei foi criticado por sua "hipocrisia". É vago, impreciso e dá margem a todo tipo de interpretação. Por isso a Associação pelo Direito de Morrer com Dignidade pleiteia que a eutanásia passiva dê lugar à eutanásia ativa, ou seja o direito de abreviar voluntariamente a vida humana em determinados casos estritamente contemplados pela lei.

Todos os candidatos nas próximas eleições presidenciais foram chamados a se definir sobre o assunto. Sarkozy e Marine Le Pen, e o candidato cristão François Bayrou, declararam-se contrários à "eutanásia ativa".

A esquerda socialista, a Frente de Esquerda e os ecologistas, pelo contrário, são favoráveis a uma mudança da lei.

Entre os adversários da eutanásia ativa estão inúmeros católicos (mas não todos, há mesmo padres que defendem a eutanásia) e também redes de cuidados paliativos, como a sociedade francesa de acompanhamento e cuidados paliativos, que reúne pessoas da área médica e voluntários, para quem este debate não deve existir. Há também uma sociedade laica que prefere os sons paliativos em lugar da eutanásia. Esta sociedade chama-se "Até a morte, acompanhar a vida". / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Novo paradigma? - JOSÉ PAULO KUPFER


O Estado de S.Paulo - 27/03/12


Impulsionado pelo avanço do setor de serviços, pelas novas tecnologias e, finalmente, pela crise que constrange o crescimento econômico, um movimento de mudanças no mercado de trabalho das economias maduras, sobretudo na Europa, avançou, na última década, o suficiente para sair das sombras em que se desenvolveu. Começa-se agora a perceber que o fenômeno da difusão do trabalho em tempo parcial pode ser mais do que uma saída temporária e emergencial para tempos difíceis.

O trabalho em tempo parcial ainda está longe de ser predominante, mas sua abrangência cresce em escala consistente. Na Alemanha, por exemplo, onde o processo anda mais rápido - e a taxa de desemprego, apesar da crise, é a mais baixa em 20 anos -, um em cada cinco trabalhadores já exerce funções em tempo parcial. Na última década, enquanto os empregos em tempo integral recuavam 2%, o "kurzarbeit", trabalho em tempo parcial, explodia com um incremento de 46%.

É um quadro que se repete no resto da Europa. Entre 2000 e 2010, a força de trabalho na região registrou um aumento de 7% - dos quais apenas 4% nos empregos em tempo integral e 26%, nas ocupações part time. Um estudo do Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas (DIW, na sigla em alemão), uma organização independente, mas mantida em grande parte por fundos públicos, apoiado em dados atualizados até 2011, faz uma análise detalhada da evolução recente do trabalho parcial. A principal hipótese levantada é a de que o trabalho part time, na Alemanha e na Europa, está passando por mudanças estruturais. Resumindo, antes considerado um "quebra-galho", as atividades em tempo parcial podem vir a expressar um novo paradigma no mundo do trabalho.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores alemães notaram que, embora a presença feminina é dominante nas funções part time, o crescimento mais acelerado do grupo masculino nessa forma de trabalho está reduzindo rapidamente a diferença. Observa-se também uma concentração de trabalho em tempo parcial na população mais velha, um dado que pode ser considerado estrutural, na medida em que a população, especialmente na Europa, envelhece.

Mais do que isso, no entanto, o que dá sustentação à hipótese de que o trabalho tende a ocupar lugar de destaque e veio para ficar é um outro fato: ainda que trabalhadores com baixa qualificação continuem a maioria, é também crescente o número de pessoas com média e até alta qualificação entre os que trabalham em tempo parcial. Na União Europeia, 24% dos trabalhadores part time detêm alta qualificação - um incremento de seis pontos porcentuais em dez anos.

Os impactos dessas mudanças tendem a ser, obviamente, imensos. Sabe-se que, pelo menos na Alemanha e, provavelmente, no resto da Europa, há, nos dias de hoje, mais gente trabalhando em períodos cada vez mais curtos. Mas, como esses possíveis novos paradigmas estão ganhando forma em meio a uma crise profunda, as conclusões ainda não estão francamente disponíveis. O quanto de ocupações precárias, por exemplo, esse novo mundo do trabalho de tempo curto estaria dando guarida?

Detalhes do estudo do DIW e dados de outras pesquisas ajudam a demarcar diferenças entre as modalidades englobadas no trabalho em tempo parcial. A categoria reúne desde trabalhadores por conta própria e gente que auxilia nos negócios familiares a mulheres que escolhem o trabalho part time por questões familiares - em geral, cuidar de crianças ou de idosos. Na Europa como um todo, porém, um terço dos homens trabalha em tempo parcial por falta de oportunidades no mercado full time.

Mais de um terço dos trabalhadores em tempo parcial são considerados "mini jobbers". Estes, por definição, trabalham até cerca de 12 horas semanais, com direito ou não a benefícios sociais, recebendo remunerações baixas, em torno de 400 mensais. É preciso, no entanto, cuidado ao analisar a situação desses trabalhadores. Há o caso dos realmente precários, vindos de longos períodos de desemprego, pouco qualificados, que aceitam ocupações de baixa remuneração e sem acesso a benefícios sociais. Mas há também os que aliam emprego em tempo integral a algum "mini job"para aumentar a renda.

Na conclusão do levantamento, o DIW diz que a transição para economias centradas no setor de serviços é um fenômeno que sustenta a ascensão do trabalho em tempo parcial. Até que ponto, porém, um novo paradigma, replicável para outras economias, se instala no mundo do trabalho, só o desenrolar do processo e mais estudos poderão responder.

Independência ou morte? - JAIRO MARQUES

FOLHA DE SP - 27/03/12

Estava com o pé do ouvido no rádio, quando o locutor começou a entrevistar um defensor de mudanças nas regras de não punição ao aborto, hoje restritas a salvar a vida da gestante ou para preservar a honra da mulher após um estupro.
Em um dos pontos da fala, encafifei: dar direito a retirar o feto nos casos em que houver comprovação de que ele padece de "graves e incuráveis anomalias que inviabilizem sua vida independente".
O procurador da República que defendia a proposta foi categórico ao dizer que não há subjetividade possível no conceito e que ninguém irá morrer a troco de nada (uia!).
Catei meu bloquinho de repórter e fui atrás de doutores ninjas sobre o tema. Se for pela objetividade, minha turma "mal-acabada" está na roça sem jegue e sem enxada.
O conceito de vida independente na medicina é "a realização de atividades -motoras ou cognitivas- sem a necessidade de outras pessoas ou de instrumentos de apoio, desde que de forma segura".
De maneira empírica, digo que a perspectiva do que seja "independência" é fatalmente contaminada e imposta por experiências alheias àquelas de quem aprende a se virar, a criar mecanismos de compensação de não conseguir desenvolver uma tarefa física, sensorial ou intelectual.
Digo isso a bordo de uma cadeira de rodas, veículo onde já me despejam fracassos e impossibilidades diversas que, para mim, são risíveis. O mesmo atrevo a estender às pessoas com síndrome de Down, paralisadas cerebrais, vítimas de doenças raras, prejudicados dos cromossomos e demais "anômalos".
Qual a expectativa de autonomia para gente que nasce só o "cotoco"? Há más-formações de nascença que fazem bebês darem as caras ao mundo sem as pernocas e sem os bracinhos.
Ligeiramente, a tendência é achar que ficarão a vida toda em caixas de sapato recebendo papinha da mamãe e bilu, bilu do papai. Mas nada mais espetacular do que o poder da natureza, que cria atalhos no sentido lógico de viver.
Há "cotocos" que, com o apoio da tecnologia, da reabilitação, do estímulo familiar, se transformam em mestres, em procuradores, em jornalistas, em plenos cidadãos.
Mara Gabrilli, primeira deputada federal tetraplégica do Brasil, tem uma frase "maraviwonderful": "Quanto mais tecnologia se oferece para a pessoa com deficiência, menos deficiências ela tem".
A medicina genética galopa em um puro-sangue na descoberta de genes que vão determinar até quantas vezes na vida a gente vai ter dor de cabeça, se o indivíduo vai gostar de coelhinho da Páscoa.
Penso que os avanços são salvaguardas para preparar o porvir, para buscar soluções antecipadas. Não servem para determinar quem deve viver, quem deve morrer.
Dar o devido poder à mulher sobre seu corpo me parece ir ao encontro de uma sociedade moderna e justa, assim como poupá-la de gerar uma cria com chance nula de sobrevivência.
Mas assusta o bumbo do discurso pró-aborto para caminhos em que só os perfeitinhos serão aceitos. Ter um bebê fora da curva da normalidade é de chorar pelado no asfalto, mas diversidade humana tem de ser defendida além da cor da pele ou do tamanho do pé.

Dilma entre boas intenções e a realidade - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 27/03/12
A entrevista da presidente Dilma Rousseff à revista "Veja" foi concedida depois de alguns dias de grande tensão na área política. A afronta que lhe foi feita por Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, ao se omitir na rejeição da indicação dela de recondução do diretor-geral da ANTT, agência de transportes terrestres, foi um evidente gesto de rebeldia, e que teve resposta adequada: Jucá caiu do posto de líder, substituído por Eduardo Braga (PMDB-AM). A presidente aproveitou e ainda substituiu Cândido Vacarrezza por Arlindo Chinaglia, dois petistas, na liderança do governo na Câmara.

Mas a troca do Senado é que tem relação com um grande contencioso entre a presidente Dilma e a chamada base aliada, com tendência a crescer, caso ela, como afirma na entrevista, cumpra a promessa de rejeitar negociações pela cartilha da baixa política, impregnada de fisiologismo. Literalmente: "Não gosto desse negócio de toma lá dá cá. Não gosto e não vou deixar isso acontecer no meu governo."

Podem ainda persistir dúvidas. Afinal, nomear o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para o desnecessário Ministério da Pesca, apenas usado para atender a interesses políticos menores, aponta em direção contrária. O engenheiro Crivella assumiu o posto não pelos conhecimentos sobre a piscosidade da costa brasileira, mas para o seu partido ajudar o petista Fernando Haddad nas eleições paulistanas, ao não lançar candidato próprio, o deputado Celso Russomano.

Mas temos, agora, um compromisso formal da presidente de renegar o fisiologismo, algo que ficara subentendido em alguns momentos da série de trocas de ministros ocorridas no primeiro ano de governo. Foi assim, por exemplo, na resistência a devolver a pasta dos Transportes ao esquema do PRB de ordenha de dinheiro público, e na substituição de Orlando Silva por Aldo Rebelo, os dois do PCdoB, no Ministério do Esporte.

A entrevista ocorreu quinta-feira, depois da reunião da presidente com quase três dezenas dos maiores empresários brasileiros. Ela declarou concordar que os impostos são elevados e não deixou de também assumir compromissos: "Temos de baixar nossa carga de impostos. E vamos baixá-la." Dilma demonstrou ter consciência que os investimentos privados não deslancham sem melhorar o ambiente de negócios: ou seja, menos impostos e burocracia, entre outros avanços.

Mesmo o programa de substituição de importações na área de petróleo, de inspiração geiseliana, não é intocável, no entender da presidente. Se o mínimo de 65% de nacionalização dos equipamentos exigido no programa do pré-sal começar a prejudicar a produção de petróleo - o que há grande chance de acontecer -, a regra será rompida. Outra opinião sensata da presidente. E para ser coerente, afastou a possibilidade de, numa ação defensiva em função da crise mundial, erguer elevadas barreiras protecionistas e fechar o país. Lembrou o erro que foi a malfadada reserva de mercado para computadores. Sem dúvida.

O conjunto de boas intenções listadas pela presidente na entrevista, nos campos político e econômico, produziria um bom governo. O problema é colocá-las em prática com a base parlamentar com que conta e as resistências à modernização da economia existentes no PT e aliados. Mas Dilma precisa tentar.

Filmes de Páscoa - JOÃO PEREIRA COUTINHO


FOLHA DE SP - 27/03/12

1. Brandon é um viciado. Não em drogas, não em bebida, nem sequer em pastilhas socialmente aceitáveis. O negócio dele é sexo.
O leitor sorriu com essa possibilidade: sexo é vício que não mata ninguém. E a ciência médica tem dúvidas sobre isso. "Dependência sexual" será uma compulsão patológica ou a melhor forma de aliviar a consciência da mulher traída?
Deixemos de lado essas discussões. Voltemos a Brandon. No início de "Shame", filme de Steve McQueen, ele está deitado sobre uma cama. Tronco despido. Pele branca. Rosto pálido, magro, seco. Lençóis muito azuis.
McQueen, o diretor, é também artista plástico. O plano não é inocente: uma evocação perfeita de um Cristo nas suas mortalhas, como os maneiristas o pintaram repetidamente. Aquele homem está morto. Difícil saber se haverá ressurreição.
Existe uma sequência do filme que exprime esse óbito -e peço desculpa aos leitores por revelá-la aqui (os interessados podem sempre saltar alguns parágrafos): acontece quando Brandon, o supremo predador sexual, não consegue ter relações com uma colega de escritório.
A sequência vale o filme porque é, no duplo sentido da expressão, um "turn off". Os dias de Brandon são o avesso desse fracasso: prostitutas, orgias, encontros casuais em bares -o homem é um garfo insaciável. Tão insaciável que a pornografia e a masturbação servem de aperitivo e sobremesa para os pratos principais.
Só que Brandon falha naquele prato. A razão é tão simples e trágica que qualquer admiração adolescente por ele morre ali, na cama: a moça era a única mulher com quem Brandon tivera uma sombra de envolvimento emocional.
Jantaram antes. Conversaram trivialidades. Beijaram-se, acariciaram-se. E, quando finalmente chegam aos finalmentes, há um olhar trocado entre os dois -um olhar de desejo, sim, mas sobretudo de vulnerabilidade- que acaba com o nosso garanhão.
Ele se afasta, cobre o rosto e sente vergonha, a vergonha de que fala o título. Não a vergonha de ter brochado -Brandon encarrega-se, logo a seguir, de contratar uma profissional para mostrar que ainda é homem.
Mas nós, testemunhas de tudo, sabemos que ele não é. E que a vergonha maior é esta mesma: a vergonha de ser incapaz de estabelecer com qualquer ser humano uma ligação substancial.
Essa incapacidade será amplificada pela irmã de Brandon, que chega a Nova York e instala-se no seu apartamento por uns dias. Sissy é o avesso do irmão: envolve-se muito, sente muito, magoa-se muito.
Brandon não gosta do estilo. Não por se preocupar com a irmã -isso é pedir muito para quem deixou atrofiar a linguagem básica da afeição. Mas porque a irmã devolve-lhe o reflexo da seu incomensurável vazio. "Você me encurrala", grita, na noite em que a expulsa do apartamento. Brandon precisa do seu espaço imaculadamente vazio.
"Shame" é um dos filmes do ano. Porque há muitos anos o cinema não mostrava, de forma tão sem piedade e adulta, a intransponível solidão de um homem.
2. Michael Fassbender, em "Shame", é um prodígio de representação dramática que Hollywood, na sua temporada de prêmios, não foi capaz de suportar. Mas existe um lugar "ex aequo" para Michel Piccoli em "Habemus Papam".
Sou espectador de Piccoli há vários anos e só ele me faria assistir a um filme de Manoel de Oliveira (no caso, "Vou Para Casa", em 2001).
Em "Habemus Papam", Piccoli é o cardeal Melville, eleito papa no conclave, que, na hora de apresentação aos fiéis, é acometido por um pânico paralisante.
Piccoli é magistral nessa combinação de medo, tristeza e doçura infantil. E o filme de Nanni Moretti, contrariamente ao que foi escrito na Europa, não é um ataque à igreja -ou, mais amplamente, ao cristianismo.
Arrisco mesmo dizer que, ao filmar a fragilidade de um homem sobre quem os seus pares (ou o Espírito Santo?) colocaram tão ciclópica tarefa, Moretti realizou uma obra cristã por excelência.
"Pai, por que me abandonaste?", teria suspirado Cristo nos momentos finais da sua agonia na cruz.
Se ao filho de Deus foi permitido um tal momento de fraqueza, por que não a um mero filho de homens?

Serra sem PSB - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 27/03/12

O governador Eduardo Campos (PE) assegurou ontem ao ex-presidente Lula que o PSB não apoiará a candidatura de José Serra (PSDB) à Prefeitura de São Paulo, a despeito de os socialistas participarem dos governos Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab. O PSB tentará viabilizar candidatura própria antes de pensar em fechar com o petista Fernando Haddad. Mas seu melhor nome, a ex-prefeita Luiza Erundina, não se entusiasma com a ideia.

Frateschi e Amaral vão acertar ponteiros
Ficou acertado que Paulo Frateschi (PT) e Roberto Amaral (PSB) tentarão compatibilizar os palanques. Campos reclamou que, em muitos lugares onde os socialistas estão bem, não têm o apoio do PT. Mas Lula lembrou que foi duro para o PT apoiar a reeleição de Márcio Lacerda (PSB) em Belo Horizonte. E foi citado o compromisso, por escrito, de que o PT teria prioridade para lançar candidato a prefeito de Macapá (AP), mas agora o PSB optou por apostar em Cristina Almeida. Campos ofereceu apoio ao PT em São Bernardo, Diadema, Mauá, Osasco e Guarulhos. Ficou claro que o PSB venderá caro, se for o caso, o apoio a Haddad.

"O presidente Marco Maia tem que criar uma comissão de notáveis na Câmara. Não podemos deixar esse protagonismo com o Senado” — Hugo Leal, deputado (PSC-RJ), sobre a discussão do pacto federativo

BARRIGA DE ALUGUEL. É grande a irritação no PMDB com a eventual filiação do secretario-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. Se o ministro Edison Lobão, na foto, virar presidente do Senado, Zimmermann poderia assumir no lugar de um peemedebista de carteirinha. Sua filiação é comparada à de José Temporão, que se filiou para ser ministro da Saúde, e à do ex-presidente do BC Henrique Meirelles, que ingressou na expectativa de ser o vice da presidente Dilma.

Petróleo
Relator da Lei dos Royalties, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) deve apresentar hoje seu relatório. Ele mexe no já licitado. O Rio manteria sua receita de 2011. O excedente seria dividido entre os não produtores já a partir deste ano.

Baixando a bola
A expectativa do Ministério da Defesa é que o STF confirme, quarta-feira, que a Lei da Anistia vale para os sequestros continuados. E, para a Defesa, essa decisão contribuiria para serenar os ânimos em torno da Comissão da Verdade.

Balançou e caiu
Demitido do cargo de editor da "Revista de História da Biblioteca Nacional", Luciano Figueiredo sofreu desgaste depois que o site da publicação veiculou, em fevereiro, o texto "O jornalismo não morreu", que afirmava: "Privataria Tucana prova que a reportagem de investigação está viva e José Serra, aparentemente, morto." O artigo dizia que era mérito do livro "jogar uma pá de cal na aura de honestidade de certos tucanos".

Enrosco
A decisão do PSDB sobre a eleição em Salvador só deve sair em abril. O DEM condiciona coligação com José Serra (SP) ao apoio à candidatura de ACM Neto (DEM) na capital baiana. O PSDB também tenta atrair o PMDB em Salvador.

Eclético
A festa de 90 anos do PCdoB reuniu os ministros Gilberto Carvalho e Marcelo Crivella, o vice-governador Pezão, o governador Marcelo Déda (SE), o prefeito Eduardo Paes, o presidente do PT, Rui Falcão, e o ex-ministro José Dirceu.

NA VISITA à Coreia do Sul, o vice Michel Temer acertou a entrada da Hyundai no programa Ciência Sem Fronteiras. A montadora vai patrocinar bolsas de estudo para brasileiros naquele país.

MORDAÇA. Por causa das revelações da operação Monte Carlo, o líder do DEM, Demóstenes Torres (GO), foi orientado por seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, a não falar com jornalistas.

A CUT iniciou ontem um "Plebiscito Nacional Sobre o Fim do Imposto Sindical", bandeira histórica da central. As outras entidades sindicais, como a Força, são a favor da contribuição compulsória.

Falta combinar com os russos - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 27/03/12

Antes de se lançarem a coordenar a economia global, os cinco precisam coordenar-se entre si



NOVA DÉLI - Bem que avisa Peter Draper, pesquisador sênior do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais: "Os Brics podem ser uma grande força no gerenciamento de mudanças estruturais na política econômica global, mas, antes, eles têm que gerenciar suas próprias diferenças internas".

A quarta cúpula do grupo formado por Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul, que começa amanhã, é a prova da correção da frase. Trata-se de mais um ensaio do projeto Brics, que é "pura e simplesmente desafiar a posição privilegiada da comunidade do Atlântico Norte e de seu aliado oriental, o Japão, no gerenciamento da interdependência global", para Nitin Desai, ex-subsecretário-geral da ONU.

Mas o ensaio colide com as diferenças internas. É o caso, por exemplo, da proposta de criação de um banco de investimento dos Brics, uma espécie de BNDES do grupo. Seria um contraponto ao Banco Mundial, sempre acusado de ser excessivamente controlado pelos EUA.

O ministro chinês do Exterior, Yang Cheji, já fez saber a seu colega Somanahalli Krishna que a China quer presidir o eventual futuro banco, contrariando a proposta da Índia de presidência rotativa.

O Brasil, por sua vez, acha que uma presidência chinesa transformaria o banco em instrumento de sua política econômica, o que não interessa ao Brasil.

É uma visão coincidente com a de Sreeram Chaulia, vice-reitor da Escola Jindal de Assuntos Internacionais (Índia): "O problema de a China se transformar em outra Alemanha, isto é, um super-Estado que controla a agenda financeira dos Brics assim como Berlim domina a União Europeia, precisa ser gerenciado de forma a forçar Pequim a aceitar um compromisso".

A criação do banco, que a Índia chegou a dar como certa na cúpula, se transformará apenas em grupo de trabalho para estudá-lo.

Vale idêntico raciocínio para outra proposta, a de um acordo para a concessão de empréstimos em yuan, a moeda chinesa, para os parceiros do grupo.

Parece uma iniciativa simpática, mas "é importante lembrar que os empréstimos chineses vêm atados a condicionamentos", diz Samir Kapadia, pesquisador do Conselho Indiano de Relações Globais.

O Brasil já sentiu o peso dos condicionamentos: a Vale recebeu, em 2010, empréstimo chinês de US$ 1,23 bilhão para a construção de 12 cargueiros. Aceitou que fossem fabricados na China, para ira do então presidente Lula, na esperança de que os chineses retribuíssem com a permissão para que os navios transportassem grandes quantidades de minério de ferro para a China.

A primeira tentativa fracassou, por pressão das concorrentes chinesas, uma delas a poderosa estatal Cosco.

O tema ainda está em negociações entre os dois governos.

Como estão em negociação, entre os cinco, os termos da declaração final de Nova Déli sobre a Síria.

São essas diferenças internas que levam Jagannath Panda, pesquisador do Instituto Indiano para Estudos e Análises de Defesa, a dizer que "coordenar políticas não será fácil, dado que os interesses políticos dos Brics colidem em vários níveis".

Sem pressão, sem "lide" - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 27/03/12

BRASÍLIA - Entrevistas exclusivas de presidentes costumavam ter títulos fortes e repercutir, virar assunto no Congresso, nas Redações, na academia, nos meios empresariais. Pelo menos quando os presidentes eram políticos. Não mais com uma presidente técnica.

Dilma falou por duas horas para a revista "Veja", com um roteiro óbvio, um discurso pronto, praticamente sem questionamento. Sob pressão, "minha filha", ela costuma irritar-se. Sem pressão, deu uma entrevista correta, equilibrada, mas sem emoção e sem novidades. No jargão da imprensa, sem "lide" (uma abertura forte, marcante, que puxa o título).

Na economia, afora ter chamado o presidente do Banco Central Europeu de "companheiro", Dilma tucanou: a culpa é nossa e é deles. Reclamou que a Europa "está inundando os mercados com dinheiro" e que os investidores pegam empréstimo barato lá e se aproveitam dos altos juros daqui. Sim, e daí? Qualquer um faria a mesma coisa. Que tal a redução dos juros brasileiros?

Quanto à também altíssima carga de impostos, prometeu, valente: "Vamos baixá-la". Vale lembrar que "promessa é dívida".

Na questão da "faxina" (expressão que classificou indiretamente de machista), saiu pela tangente, citando Montesquieu: "Os processos no governo precisam ser tão claros e os resultados de avaliação tão lógicos que não sobre espaço para as fraquezas dos indivíduos". Não deve, porém, subestimar os indivíduos aliados que herdou de Lula. Eles são craques em descobrir brechas para exercitar suas fraquezas.

Ao chamar os problemas com o Congresso de "questiúnculas", Dilma ensinou que "as grandes crises se originaram da perda de legitimidade do governante". Mas ninguém fala em crise institucional e perda de legitimidade, e sim que a relação do Planalto com a base aliada vai de mal a pior. Sobre isso, nada foi dito, nada mais lhe foi perguntado.

A incompetência virou elogio - MARCO ANTONIO VILLA


O Globo - 27/03/12


O governo Dilma Rousseff lembra o petroleiro João Cândido. Foi inaugurado com festa, mas não pôde navegar. De longe, até que tem um bom aspecto. Mas não resiste ao teste. Se for lançado ao mar, afunda. Não há discurso, por mais empolgante que seja, que consiga impedir o naufrágio. A presidente apresenta um ar de uma política bem-intencionada, de uma tia severa e até parece acreditar no que diz. Imagina que seu governo vai bem, que as metas estão cumpridas, que formou uma boa equipe de auxiliares e que sua relação com a base de sustentação política é estritamente republicana. Contudo, os seus primeiros 15 meses de governo foram marcados por escândalos de corrupção, pela subserviência aos tradicionais oligarcas que controlam o Legislativo em Brasília e por uma irritante paralisia administrativa.

Inicialmente, a presidente vendeu a ideia que o Ministério não era dela, mas de Lula. E que era o preço que teria pagado por ser uma neófita na política nacional. Alguns chegaram até a acreditar que ela estaria se afastando do seu tutor político, o que demonstra como é amplo o campo do engodo no Brasil. Foi passando o tempo e nada mudou. Se ocorreram algumas mudanças no Ministério, nenhuma foi por sua iniciativa. Além do que, foi mantida a mesma lógica na designação dos novos ministros.

Confundindo cara feia com energia, a presidente continuou representando o papel de hábil executiva e que via a política com certo desprezo, como se os seus ideais de juventude não estivessem superados. Como sua base não é flor que se cheire, acabou até ganhando a simpatia popular. Contudo, não se afastou deste jardim, numa curiosa relação de amor e ódio. Manteve o método herdado do seu padrinho político, de transformar a ocupação do Estado em instrumento permanente de negociação política. E ainda diz, sem ficar ruborizada, que não é partidária do toma lá dá cá. Dá para acreditar?

O Ministério é notabilizado pela inoperância administrativa. Bom ministro é aquele que não aparece nos jornais com alguma acusação de corrupção. Para este governo, isto basta. Sem ser enfadonho, basta destacar dois casos. Aloizio Mercadante teve passagem pífia pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Se fosse demitido na reforma ministerial - aquela que a presidente anunciou no último trimestre do ano passado e até hoje não realizou -, poucos reclamariam, pois nada fez durante mais de um ano na função. Porém, como um bom exemplo do tempo em que vivemos, acabou promovido para o Ministério da Educação. Ou seja, a incapacidade foi premiada. O mesmo, parece, ocorrerá com Edison Lobão, que deve sair do Ministério de Minas e Energia para a presidência do Senado, com o beneplácito da presidente. O que fez de positivo no seu ministério?

Numa caricata representação de participação política, Dilma patrocinou uma reunião com o empresariado nacional para ouvir o já sabido. Todas as reclamações ou concordâncias já eram conhecidas antes do encontro. Então, para que a reunião? Para manter a aura da Presidência-espetáculo? Para garantir uma fugaz manchete no dia seguinte? Será que ela não sabe que não tem o poder de comunicação do seu tutor político e que tudo será esquecido rapidamente?

Uma das maiores obras da atualidade serve como referência para analisar como o governo trata a coisa pública. Desde quando foi anunciada a transposição de parte das águas do Rio São Francisco, inúmeras vozes sensatas se levantaram para demonstrar o absurdo da proposta. Nada demoveu o governo. Além do que estava próxima a eleição presidencial de 2010. Dilma ganhou de goleada na região por onde a obra passaria - em algumas cidades teve 92% dos votos. Passaria porque, apesar dos bilhões gastos, os canteiros estão abandonados e o pouco que foi realizado está sendo destruído pela falta de conservação. Enquanto isso, estados como a Bahia estão sofrendo com a maior seca dos últimos 30 anos. E, em vez de incentivar a agricultura seca, a formação de cooperativas, a construção de estradas vicinais e os projetos de conservação da água desenvolvidos por diversas entidades, a presidente optou por derramar bilhões de reais nos cofres das grandes empreiteiras.

A falta de uma boa equipe ministerial, a ausência de projetos e o descompromisso com o futuro do país são evidentes. O pouco - muito pouco - que funciona na máquina estatal é produto de mudanças que tiveram início no final do século XX. A ausência de novas iniciativas é patente. Sem condições de pensar o novo, resta ao governo maldizer os países que estão dando certo em vez de aprender as razões do êxito, reforçando um certo amargor nacional com o sucesso alheio. No passado a culpa era imputada aos Estados Unidos; hoje este papel está reservado à China.

Como em um conto de fadas, a presidente acredita que tudo terá um final feliz. Mas, até agora, o lobo mau está reinando absoluto na floresta. Basta observar os péssimos resultados econômicos do ano passado quando o Brasil foi o país que menos cresceu na América do Sul. E a comparação é com o Paraguai e o Equador e não com a Índia e a China.

Não é descabido imaginar que a presidente foi contaminada pelo "virus brasilienses". Esta "espécie", que prolifera com muita facilidade em Brasília, tem uma variante mais perigosa, o "petismus". A vacina é a democracia combinada com outra forma de governar, buscando a competência, os melhores quadros e alianças programáticas. Mas em um país marcado pela subserviência, a incompetência governamental se transformou em elogio.

A crise viajou? - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 27/03/12

O raciocínio desenvolvido pela presidente Dilma Rousseff sobre os recentes conflitos com o Congresso, em sua entrevista à revista Veja, é institucionalmente irretocável."Perder ou ganhar votações faz parte do processo democrático. Você não pode ganhar todas. Em alguma circunstância sempre vai emergir uma posição de consenso no Congresso que não necessariamente será a do Executivo. A tensão é inerente ao presidencialismo de coalizão", disse ela, ressaltando o imperativo do respeito às posições do Legislativo para concluir pela inexistência de crise.

"Crise existe quando se perde a legitimidade", acrescentou a presidente, em análise particularmente feliz e, sobretudo, ponderada da situação. Infeliz, porém, apresenta-se a realidade em que a teoria não rende homenagens à prática. Nos atos Dilma contradiz as próprias palavras quando deixa transparecer que em seu modo de operação a única possibilidade de expressão do Parlamento é dizer "sim" a tudo que emana do Palácio do Planalto. Ou, então, o que pensa a presidente não é o que dizem nem o que fazem seus

Auxiliares. Se o caso for de erro de tradução, as coisas podem muito bem se ajeitar.Começando por Dilma mandar que parem de usar expressões como "faca no pescoço", de dizer que ficou "irritada" com isso ou "furiosa" com aquilo e que não vai admitir ser contrariada em votações.

Mas, se a discrepância for entre o discurso eventual e a prática cotidiana da presidente, complica. A realidade é exatamente aquela descrita por ela na entrevista: a despeito da fragilidade do Legislativo - gerada por uma deformação de conduta, é verdade - o Executivo não pode se valer dela para sobressair-se junto à opinião pública nem para estabelecer uma conexão baseada na intimidação, na lógica da luta do bem contra o mal.

Entre outros motivos porque denota deliberada aposta no desequilíbrio entre os Poderes. E por mais que o grosso da opinião pública não entenda direito o significado disso, cabe ao governante evitar cair na tentação de jogar na confrontação entre políticos e sociedade.

A se exacerbarem os ânimos nessa direção, amanhã ou depois aparecem os pregadores da inutilidade do Congresso e, a depender de como esteja o clima, pode prosperar um ambiente que não interessa a ninguém. Nem aos atuais condôminos do poder.

A presidente Foi à Índia. Ficará ausente por uma semana. Nesse período haverá tempo para conferir se a ela se aplica a frase do então senador Fernando Henrique Cardoso quando José Sarney era presidente - "A crise viajou" - ou se a confusão toda decorre de uma enorme falha de comunicação.

Provisórias. Por determinação do Supremo Tribunal Federal, nesta semana o Congresso começa a cumprir o rito de tramitação de medidas provisórias conforme manda a Constituição, instalando uma comissão especial para examinar se uma MP é mesmo urgente e/ou relevante.

A primeira é a medida de número 562 sobre repasse dos recursos do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) para instituições comunitárias da área rural.

Relevante? Sem dúvida. Caberá aos deputados e senadores examinarem se é urgente. Não do ponto de vista da necessidade do Executivo de resolver da maneira mais fácil a questão, mas na perspectiva da necessidade real.

Será um teste. Dependendo do resultado, o exame de medidas provisórias poderá servir como triagem eficaz o suficiente para levar o Executivo a reduzir o uso do instrumento, ou funcionar apenas como instância formal de homologação da vontade do Planalto por meio da ação da maioria governista.

Uma notícia recente sinaliza que o governo não acredita na mudança real de sistemática, pois estaria estudando a edição de uma MP pouco antes da Copa para liberar a venda de bebidas alcoólicas nos estádios.

Não há relevância muito menos urgência como atesta a antecedência com que é examinada a hipótese de edição da medida.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 27/03/12
Mercado livre de gás avança pouco sem consumidores

A abertura de um mercado livre de gás no Brasil, em que consumidores industriais possam escolher seus próprios fornecedores, deu mais um passo neste mês.

São Paulo autorizou dois agentes que poderão atuar como comercializadores.

Segundo especialistas, entretanto, o mercado livre ainda está longe de se tornar praticável para o gás, como hoje ocorre com a energia elétrica.

Embora tenham sido criadas em 2009, com a publicação da Lei do Gás, as figuras do consumidor livre, autoprodutor e importador são raras.

Para ser um consumidor livre em São Paulo, é preciso ter consumo mínimo diário de 10 mil m3. Nenhum consumidor pediu ainda autorização para se tornar livre, mas existem 212 em potencial, segundo a Arsesp.

No Rio, onde o piso é 100 mil m3, a quantidade dos que podem entrar é baixa, segundo a Abrace (associação de consumidores).

São necessários 35 mil m3 no Espírito Santo, "onde o mercado se tornará livre a partir de 2013", diz Luiz Schettino, da agência Aspe.

"Ainda são poucos os que exploram e produzem", diz Ricardo Pinto, da Abrace.

"O pré-sal é uma promessa que pode trazer mais oferta", diz Silvia Calou, da agência reguladora paulista Arsesp.

"Além da Petrobras e das importações de Bolívia e Argentina, é preciso que avancem as construções de estações de regaseificação", diz.

Para a ANP, há desafios que devem ser transpostos.

"É um mercado que ainda engatinha. Precisa aumentar os ofertantes"

SILVIA CALOU

diretora-presidente da Arsesp

Custo médico-hospitalar pago por plano de saúde sobe 11%

A variação dos custos médicos e hospitalares (VCMH), calculada pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (Iess), foi de 11,6% entre dois períodos de 12 meses. O último período encerrou-se em setembro de 2011.

O VCMH/Iess continuou superior à variação da inflação geral de preços medida pelo IPCA, que foi de 6,36% nos mesmos períodos.

O cálculo dos custos médicos e hospitalares inclui todas as despesas assistenciais pagas pelas operadoras de planos e seguros de saúde para uma amostra de beneficiários de planos individuais.

O superintendente do instituto, Luiz Augusto Carneiro, afirma que as causas do aumento ainda não foram mapeadas por completo.

"De certo, houve aumento da frequência da utilização dos procedimentos, terapias e exames, de um lado, e elevação dos preços de cada serviço, de outro", diz.

O Iess tem como associados cinco grandes operadoras do país.

Adoção de pagamento em moeda local não deslancha

Mesmo com o apoio dos governos de Brasil e Argentina, o SML (Sistema de Pagamentos em Moeda Local) ainda não deslanchou no comércio entre os dois países.

Em fevereiro deste ano, 398 operações foram pagas em real ou em peso, número mais baixo desde março de 2011.

"A vantagem para o exportador é não pagar tanta corretagem, mas a moeda argentina tem menos liquidez e é menos aceita internacionalmente. Isso limita um pouco o desenvolvimento desse processo", afirma Paulo Bastos Tigre, professor do Instituto de Economia da UFRJ.

Para Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, mudanças no valor do dólar podem produzir oscilações na adoção do SML.

"É uma medida que tende a não se desenvolver muito nos próximos meses, pois há excesso de dólar no Brasil."

Desde que o sistema passou a ser usado, em outubro de 2008, o recorde de operações ocorreu em setembro de 2011, com 500 negociações.

Na ocasião, o valor comercializado foi de cerca de R$ 154,5 milhões.

HOSPEDAGEM CORPORATIVA

O Transamérica Hospitality Group investirá cerca de R$ 120 milhões nos próximos 12 meses para o lançamento de quatro empreendimentos voltados para o público corporativo.

A companhia escolheu o segmento, pois suas vendas nesse setor registraram alta de 72,9% no ano passado, em relação a 2010.

"A indústria de hotelaria corporativa está perto do teto, com ocupação máxima de segunda a quinta-feira", diz o principal executivo do grupo, Heber Garrido.

Os hotéis estarão localizados na cidade de São Paulo, no interior do Estado de São Paulo e no Nordeste.

Os empreendimentos não serão construídos do zero: a companhia negocia três projetos que já estão em obras e pretende realizar uma troca de bandeira.

Entre os principais concorrentes do grupo estão Accor, Atlantica, Estanplaza, Sol Meliá, Blue Tree, Slaviero e Intercity.

R$ 137 mi foi o faturamento do grupo em 2011

20 hotéis são administrados pela companhia

EUA CONFIANTES

A confiança do consumidor americano atingiu o patamar mais elevado desde o começo da crise econômica, em setembro de 2008.

O índice Ipsos/RBC ficou em 47,5 pontos em março (2,4 pontos a mais que em fevereiro).

A queda da preocupação com a situação financeira do país e a melhoria no mercado de trabalho elevaram a confiança, segundo a Ipsos.

Dos 1.008 entrevistados, 34% afirmaram ter um conhecido que perdeu o emprego recentemente -o menor nível nos últimos 12 meses.

Estrada A empresa Guerra, de implementos rodoviários, vai investir R$ 10 milhões neste ano para modernizar suas quatro fábricas -90% do valor deve ir para a planta de Caxias do Sul (RS). A companhia faturou cerca de R$ 500 milhões em 2011.

Farmacêutico A Panvel planeja abrir mais cinco farmácias em Curitiba em 2012. Uma filial na cidade tem vendas 30% acima do registrado em unidades em SC ou RS. Neste Estado, de origem da rede, a empresa prevê mais 12 lojas até o mês de outubro.