quinta-feira, fevereiro 02, 2012

O Rio melhorou - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 02/02/12


O índice de homicídios no Estado do Rio, ainda não divulgado, desabou 35,5%. Em 2011, fechou em 26,5 por 100 mil habitantes (em 2006, por exemplo, era de 41 por 100 mil).
Resultado: o Rio caiu do 2o-para o 17 o- lugar no ranking nacional da violência. Viva!

Cabeça de Elvio
Há uma articulação no PT paulista para destronar Élvio Gaspar da diretoria do BNDES.
A favor de sua permanência, estão o PT carioca e Cabral. O governador teme que o Rio fique sem representante no banco.

Justiça do Trabalho
A Polícia Federal investiga Rogério Figueiredo Vieira como o funcionário do TRT-RJ que teria movimentado R$ 282 milhões em 2002, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Dono da Mixtrade, empresa de informática, Rogério foi preso em 2004, acusado de lavagem de dinheiro.

Diário da Justiça
A juíza Simone Lopes da Costa, da 10a- Vara de Fazenda Pública do Rio, suspendeu por cinco anos os direitos políticos do ex-prefeito Luiz Paulo Conde e o condenou a pagar multa de 100 vezes o valor de seu último salário no cargo.
É acusado de ter autorizado, sem licitação, a instalação de painéis de publicidade nas ruas. Cabe recurso.

Três listras
A quem interessar possa: Fidel Castro continua usando agasalhos da Adidas.

Gato, a missão
Vem aí uma continuação de “Qualquer gato vira-lata”, filme com Cléo Pires, Malvino Salvador e Dudu Azevedo, que levou 1,3 milhão de pessoas aos cinemas em 2011.
O elenco será o mesmo, com direção de Tomás Portella.

Imposto sobre mérito
Enrico De Paoli, um dos maiores engenheiros de som do Brasil, ganhou o Grammy Latino 2011 pelo CD “Ária”, do nosso Djavan. E daí?
Daí que recebeu a estatueta agora pelos Correios com um Darf para... recolher 60% sobre a importação e 15% de ICMS. Parece punição por elevar o nome do Brasil lá fora. E é.

Adeus, batucada
O compositor Synval Silva, que teria feito 100 anos em 2011 e compôs músicas para Carmem Miranda, como “Adeus, batucada”, será enredo do bloco Nem Muda, Nem Sai de Cima, da Tijuca, no Rio.

Ana & Juca
Ana de Hollanda, ministra da Cultura, resolveu também ir à festa de Iemanjá, hoje, na Bahia.
Jaques Wagner, como se sabe, aproveitará para filiar ao PT o antecessor de Ana, Juca Ferreira, que quer voltar ao posto.


SABRINA SATO, a linda apresentadora que completa 31 anos sábado agora, faz a festa de garis que, terça à noite, recolhiam o lixo em frente a um restaurante de Ipanema. Repare nas cenas registradas pelo boa-praça David Brazil. A toda-toda, que surgiu no “Big Brother”, da TV Globo, brilha no “Pânico”, da Rede TV!, e vai enfeitar a Marquês de Sapucaí como madrinha de bateria da Vila Isabel, saía da comemoração de aniversário do diretor de TV Maurício Sherman. Ao ser surpreendida pelo grupo de trabalhadores, distribuiu simpatia e encantamento. Encanta eu...

Efeito 13 de Maio
Segunda, um parceiro da coluna entrou no elevador já lotado de um edifício na Av. Rio Branco, no Rio. Como a rebimboca não subia (a porta fechava e abria), o porteiro alertou: “Olha o edifício que desabou aqui perto! Tem gente demais no elevador!”
Desceram três — o nosso parceiro, inclusive.

Holocausto sanitário
Cabral indenizará em um salário mínimo mensal 500 pessoas que trabalharam no Hospital Estadual Tavares de Macedo e no Instituto Estadual de Dermatologia Sanitária. Ambos cuidavam de pacientes isolados compulsoriamente por terem hanseníase.
Em 2007, Lula ao conceder pensão especial a portadores da doença, definiu a situação como “holocausto sanitário”.
Crime e castigo
O juiz Joaquim Domingos Neto, do 9o- Jecrim, na Barra, no Rio, condenou Filippo Monteiro Johansson Neves a indenizar em R$ 15 mil Fernanda Aor, que atropelou em 2010.
Sua carteira foi suspensa por seis meses, a pedido do promotor Márcio Almeida.

Bilau simpático
Acredite. O clube gay Point 202, em Copacabana, faz o concurso “Megaman” para premiar o homem mais bem dotado.
É às terças. Mulher não entra. O bofe com maior bilau ganhará R$ 25 mil. O júri julga “tamanho”, “espessura” e... “simpatia”. No caso, bilau simpático é... sei lá.

MARIA FLOR, a atriz, empresta seu charme, sua simpatia e, por que não dizer?, sua formosura à abertura da
exposição “Vivendo no vermelho”, com pinturas, gravuras, fotos e esculturas, na Graphos:Brasil, em Copacabana

EDUARDO PAES dá ao mestre Niemeyer a caneta no- 1 das 200 feitas com material de demolição das obras do Sambódromo

PONTO FINAL
No mais É um direito do cidadão que pagou pela construção da Cidade da Música poder desfrutá- la,independentemente de a obra ter sido “desnecessária e superfaturada”, como diz Eduardo Paes. Com todo o respeito.

Brasil, Índia e o novo Tratado de Tordesilhas - RAKESH VAIDYANATHAN

VALOR ECONÔMICO - 02/02/12



Há mais de 500 anos, a Europa vivia um momento único, com as grandes navegações e a descoberta de novos continentes. Espanhóis e portugueses, sem medo do que estava por vir, foram pioneiros e lançaram-se ao mar em busca do desconhecido. Para crescer e ganhar força, já naquela época, sabia-se da necessidade de buscar novos mercados. Era impossível tornar-se uma potência sem conquistar novos territórios.

O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, foi um marco para as conquistas do então reino de Portugal e do reino da Espanha. O objetivo era dividir as terras, tanto as já descobertas como as por descobrir, entre os dois países. Pelo Tratado, as terras situadas até 370 léguas a oeste de Cabo Verde seriam da Espanha e à leste de Portugal, evitando assim conflitos entre potências católicas.

Hoje, mais de cinco séculos depois, o conceito e a necessidade de se buscar novos mercados prevalecem, ainda mais forte, principalmente no mundo corporativo. Para ser grande e tornar-se uma potência, é preciso cruzar as fronteiras e ir cada vez mais longe.

No atual momento da economia mundial, diante das crises americana e europeia, a inovação e as descobertas ficam a cargo dos países emergentes. Entre eles, além da China, destacam-se Brasil e Índia. Os dois países, além de promissores, possuem particularidades interessantes pelas quais já começamos a vislumbrar as condições de um novo Tratado de Tordesilhas.

Atualmente, nos países onde há influência indiana, percebemos uma menor penetração do Brasil, como em comunidades da África, países da Commonwealth britânica (formada pelo Reino Unido e por suas antigas colônias), no Oriente Médio ou no Sudeste da Ásia. A influência indiana vem devido à diáspora dos indianos, como publicou recentemente a revista britânica "The Economist". Já o Brasil possui mais influência em toda a América Latina e no Sul da Europa, além de Moçambique e Angola, regiões nas quais os indianos não estão presentes.

É como se as influências desses dois países estivessem relacionadas e divididas entre as igrejas católica (Brasil), devido à colonização portuguesa, e a anglicana (Índia), devido à colonização inglesa, formando uma grande linha imaginária que os separam, como se fosse um novo Tratado de Tordesilhas.

Assim, as empresas brasileiras que desejam entrar em diferentes países devem considerar uma aliança com a Índia. A partir de uma base indiana e um parceiro local, essas companhias podem ter acesso a vários países que contam com a presença e influência dos indianos.

Da mesma forma, as empresas indianas que desejam explorar a América Latina, Moçambique e Angola, ou buscam parcerias com bancos e companhias espanholas ou portuguesas, podem usar as conexões brasileiras. E já existem alguns exemplos dessa divisão estratégica. Montadores de ônibus indianos preferem a tecnologia brasileira à coreana ou chinesa. Isso porque, daqui a alguns anos, esses países competirão no Sudeste Asiático, ou seja, no próprio quintal. Para evitar possíveis conflitos, é viável aproveitar a tecnologia brasileira, que está conseguindo olhar a Ásia como mercado. Mesmo longe, essa distância geográfica permite maior sinergia e alinhamento de interesses, analisando Brasil e Índia como parceiros no âmbito do novo Tratado de Tordesilhas.

Nos mercados ricos, esse novo Tratado também pode funcionar. As commodities de chá e de café são exemplos de novos impérios. O Brasil é o maior exportador de café do mundo, mas não possui uma marca que o represente mundialmente e não retém o maior valor desse negócio. Por sua vez, a Índia é a maior exportadora de chá e só possui uma marca expressiva da bebida, que pertence ao Grupo Tata. Diante dessa realidade, e enxergando Brasil e Índia como parceiros, é possível supor que, se ambos juntassem forças, dividissem investimentos, compartilhassem operações de logística e criassem valores, uma nova potência de bebidas quentes poderia nascer.

Além desse, outros exemplos dessa sinergia existem e podem acontecer, como com os sapatos femininos que, com marca, design e know-how brasileiros e custo indiano, podem reconquistar o mercado europeu. Os agropecuaristas brasileiros, especificamente a EMBRAPA, também têm muito a ensinar aos indianos. A experiência brasileira com sementes pode resolver problemas graves de produtividade na Índia e, quem sabe, essa colaboração crie um gigante de sementes como a companhia americana Monsanto ou como a suíça Syngenta, que tem filiais espalhadas em 96 países, inclusive no Brasil.

O Brasil, em particular, vive às vésperas de uma década de prosperidade com grandes acontecimentos, como as descobertas de reservas de petróleo e a ascensão de nova classe média. Com o superávit econômico gerado por tudo isso, o país poderá financiar a expansão global de empresas nacionais e poderá fazer grandes investimentos em inovação. Olhando as outras potências emergentes como parceiros, não apenas como concorrentes, adotando a competição cooperativa e conhecendo sobre a cultura dos países parceiros, o Brasil fará com que este superávit renda ainda mais.

É possível afirmar, portanto, que esse novo Tratado de Tordesilhas entre Brasil e Índia, com valores democráticos e sociedades diversas, é um arcabouço, é uma colaboração para que estes outros negócios aconteçam de forma estratégica. Ao contrário do primeiro Tratado de Tordesilhas, que era sobre conquistas, o novo Tratado será sobre comércio. A nova religião que será propagada não será o catolicismo, mas, sim, a democracia e uma espécie de capitalismo que permite que o talento empresarial prospere. Considerando que muitas nações emergentes estão em busca de modelos para ir além do oeste e da China, cuja economia é dirigida pelo Estado, um novo Tratado de Tordesilhas beneficiará o mundo todo, uma vez que enfatizará um modelo colaborativo entre duas democracias emergentes que promovem o capitalismo de livre mercado.

Rakesh Vaidyanathan é sócio diretor da The Jai Group, consultoria especializada em mercados emergentes.

Cacoete ideológico em Cuba - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 02/02/12

Na primeira visita a Cuba, a presidente Dilma Rousseff foi traída pelo passado. Não se esperava que abordasse o tema dos direitos humanos em público. Mas decidiu fazê-lo, numa cerimônia no Memorial José Martí, e cometeu o grave erro de tentar relativizar os fartos e conhecidos crimes cubanos nesta área, incluindo numa infeliz pensata os delitos cometidos pelos americanos na base de Guantánamo, na ilha, uma nódoa, de fato, na História dos Estados Unidos. Mas misturou coisas diferentes, na visível tentativa de, como é praxe em parte da esquerda brasileira, passar a mão na cabeça dos irmãos Castro. Dilma pontificou que não se deve usar direitos humanos como arma política.

De fato, mas, dito isto, incorreu neste mesmo erro.

Ali, logo no início da viagem oficial, transformou- se em decepção a esperança que dissidentes tinham de que Dilma não repetiria a desastrada passagem de Lula pela ilha, no mesmo dia da morte de Orlando Zapata, um dos presos políticos de Fidel e Raúl em greve de fome. De volta ao Brasil, comparou-os a prisioneiros comuns. O fato de o Brasil ter concedido visto à dissidente Yoani Sánchez, para ela vir ao país ao lançamento de um filme sobre a resistência em Cuba, alimentou as expectativas otimistas. Não que Dilma fosse discursar a favor dos cubanos perseguidos. Mas o silêncio em público poderia até levar a supor que o tema seria tratado em contatos privados.

— Ela agiu como Lula e não se interessou pelo povo cubano — desabafou Berta Soler, porta-voz das Damas de Branco, grupo formado por mulheres e familiares em geral de presos políticos.

Foi mais forte, infelizmente, o cacoete ideológico da extrema esquerda brasileira do final da década de 60 e início dos anos 70. Há neste grupo, marcado pela luta armada apoiada por Cuba, uma paixão cega e juvenil pelo castrismo.

Não importa para eles que a ilha seja, ao lado da Coreia do Norte, o último bolsão de stalinismo medieval, quase um pleonasmo.

Contaminado, também, por antiamericanismo atávico, o cacoete levou a presidente a tentar equiparar um regime brutal com uma das mais sólidas democracias do mundo, que carrega, é verdade, a mancha de Guantánamo. É risível tentar colocar no mesmo verbete os EUA e uma ditadura de mais de meio século, com inúmeros crimes cometidos contra os direitos humanos — fuzilamentos, greves de fome e mortes, perseguições, etc — no currículo.

O Brasil como nação e Estado pode e deve ajudar Cuba na transição para um regime mais arejado. Com a subida de Raúl Castro, na doença do irmão, ocorrem tentativas de alguma liberação na economia, mas ainda aquém do necessário a que alguns ingredientes do livre mercado possam aumentar a produção de alimentos, para livrar os cubanos de um já histórico racionamento.

Investimentos como os em curso na infraestrutura cubana, com apoio financeiro e tecnológico brasileiro, são ações também bem-vindas.
Mas de nada adianta fingir que Cuba não continua a ser uma ditadura violenta. A relativização na leitura da História é sempre perigosa. Por meio dela termina-se até "entendendo" por que Hitler fez o que fez com judeus, ciganos, homossexuais e artistas .

É o sistema - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 02/02/12

Ricos envergonhados são assim: quanto mais dinheiro ganham, mais adotam posições políticas contra o capitalismo em geral e o sistema financeiro em particular. O patrono da categoria é George Soros, que, aliás, continua lucrando com seus fundos especulativos, mas há representantes espalhados por toda parte. O número cresceu exponencialmente depois da erupção da crise global.

É como se fosse uma defesa antecipada. Reparem: a era de prosperidade do final do século passado e início deste trouxe um aumento da desigualdade. Centenas de milhões de pessoas deixaram a pobreza, formaram-se novas classes médias nos países emergentes, mas os ricos se deram melhor no mundo todo. Ganharam mais, aumentaram sua participação no bolo na fase de expansão e, se perderam muito no auge da crise, conseguiram melhor recuperação.

Logo, se os ricos foram os principais beneficiários disso tudo, então necessariamente são os culpados ou pelo menos os principais suspeitos, certo? Errado, respondem seus representantes. O problema está no sistema capitalista, explicam, apresentando-se como apenas uma peça da engrenagem. Vai daí, engrossam o coro anticapitalista e clamam por reformas.

Exagero? Pois então leiam sobre os debates no Fórum Econômico Mundial, em Davos, o tradicional encontro de líderes globais, públicos e privados, para ajustar os rumos da economia de mercado. O modelo faliu, procuram-se alternativas - foi o mote principal.

Terminou sem respostas. Ocorre que a alternativa ao capitalismo, o socialismo, morreu antes. A rigor, há apenas um regime socialista sobrevivente, o de Cuba, estagnado, pobre, com imensa dificuldade de crescimento. Por isso, está em reformas, mas em qual direção mesmo? Pois é, redução do Estado, incluindo demissão de funcionários públicos, e ampliação de áreas abertas à iniciativa privada estrangeira. A brasileira Odebrecht, por exemplo, vai produzir açúcar e etanol na ilha, com a bênção da presidente Dilma.

A presidente não foi a Davos. Foi a Porto Alegre, para o Fórum Social, a versão socialista, e lá lançou mais um ataque ao neoliberalismo, que não é bem um sinônimo de capitalismo, mas é quase.

De onde o leitor pode imaginar o tamanho da confusão. As reformas em Cuba são, nesse sentido, neoliberais. Menos Estado, mais mercado. Além disso, vamos dar uma olhada no noticiário local recente.

Está em curso o leilão de privatização de três grandes aeroportos brasileiros. OK, o governo e seus aliados de esquerda juram que não se trata de privatização, mas de concessão, porque nada será vendido. (Os demais aliados não dizem nada e muitos deles esperam obter alguma vantagem nesses grandes negócios).

Mas o mundo todo chama de privatização quando o governo pega um bem público e o concede, mediante pagamento, a empresas privadas por 30 anos, prorrogáveis. De novo, portanto, o que temos? Menos Estado, mais mercado. Aliás, membros do governo disseram isso mesmo sobre o leilão: teremos mais capital, nacional e estrangeiro, mais competição, mais tecnologia de fora. E menos Infraero, espera-se.

Também nesta semana, a área econômica do governo Dilma comemorou o superávit primário de 2011 e a redução do endividamento público como porcentagem do PIB. Alardearam: viram como este governo faz ajuste fiscal?

Ora, superávit primário, redução da dívida, ajustes, tudo isso é herança neoliberal. Mas a presidente Dilma disse em Porto Alegre que toda a América Latina, antineoliberal, vai muito bem, ao passo que os desenvolvidos, neoliberais, vão mal. E que a Europa vai cair no desemprego e na ditadura se insistir no ajuste "conservador" de redução das dívidas públicas.

Mas quais países europeus passam melhor por esse turbilhão? Alemanha e Holanda, por exemplo, justamente aqueles que cumpriram mais à risca a cartilha de ajuste conservador. Também foram os europeus que mais avançaram em reformas com o objetivo de destravar suas economias e abrir o mercado. Na Alemanha, houve até uma redução real de salários para tornar os produtos locais mais competitivos.

E a América Latina? Os países que vão bem são justamente aqueles que avançaram as reformas neoliberais dos anos 90. Podem reparar, todos têm as mesmas bases econômicas: responsabilidade fiscal, superávit primário, regime de metas de inflação, câmbio mais ou menos flutuante, privatizações, muita exportação para a China, acúmulo de reservas e, sim, programas tipo Bolsa Família. (Aliás, transferir dinheiro diretamente para os mais pobres foi uma ideia nascida no campo liberal.)

Finalmente, qual o país rico que está saindo mais depressa da crise? Os Estados Unidos, onde, aliás, há o maior número de ricos envergonhados. Ah! O sistema!

Mentalidades, surtos e manias - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 02/02/12

VEZ E OUTRA, há preocupação em espinafrar economistas que erraram tanto ou quanto nas previsões de desempenho econômico. Os economistas em geral são vítimas de "Schadenfreude" (alegria com a desgraça alheia) bem mesquinha.

Não se pode dizer que sejam vítimas inocentes, pois não raro fazem alaridos de arrogância juvenil quando seus modelos botam ovos econométricos que indicariam o destino inelutável da humanidade.

Menos comentados são os surtos e manias de ideias temporariamente fixas (sic) que dominam o debate econômico mais comum, em geral alarmismos ideológicos.

Quem acompanha essa conversa deve se lembrar, por exemplo, de quando se dizia que o aumento do salário mínimo causaria elevação do desemprego e da informalidade (uma conversa recorrente até por volta de 2006, mais ou menos).

Não aconteceu nada disso no Brasil, claro, embora seja bom observar que, em certas condições, a teoria acerta ao prever que tabelamentos de salários resultam em degradações do mercado de trabalho.

Mais recentemente, ano passado, ouvia-se que os sindicatos conseguiriam tanto reajuste de salários que haveria uma explosão inflacionária. Não aconteceu, claro, embora a oferta em geral escassa de trabalho (desemprego baixo) segure a inflação em nível mais alto. O alarmismo, porém, era miopia ou coisa pior.

A categorias mais organizadas, afora bancários e petroleiros, estão na indústria. Faz anos, uns quatro, que a indústria não consegue repassar custos para preços (na média). E quem fez o alarido da espiral preços-salários em 2011 se esqueceu de observar que o número de pessoas ocupadas crescia mais devagar, assim como a massa salarial etc.

Outro surto foi o dos alertas sobre a "explosão da dívida bruta" do governo, em 2009. O governo fez muita dívida para emprestar dinheiro para o BNDES. Mas, na dívida líquida (a mais publicada e debatida), esse endividamento adicional não aparecia: o empréstimo para um banco público também é um dos haveres do governo.

A dívida líquida do governo é a bruta afora haveres como, pela ordem, reservas internacionais, empréstimos ao BNDES (que passaram de 0,2% do PIB em 2007 para 7,3% em 2011) e dinheiro do FAT.

Dizia-se que o governo começaria a perder o crédito, dado o aumento da dívida bruta etc. Bem, a dívida bruta cai desde 2009.

Claro que o governo fazer dívida para financiar os empréstimos subsidiados do BNDES é um problema. Primeiro, trata-se de um dinheiro que não é discutido no Orçamento. Segundo, essa dívida é cara (o governo paga juros altos, o BNDES empresta a juros menores).

Isto posto, a dívida brasileira é um caso sério, por qualquer critério (afora a comparação com os governos superendividados do mundo rico): é das mais caras do mundo e é quase inteira rolada a cada três anos, entre outras aberrações custosas e potencialmente perigosas.

O resumo da ópera é que tais conversas e desconversas são politizadas de modo rasteiro, servem a propaganda barata e carecem do básico de prudência analítica.

Pior ainda, distorcem a compreensão de problemas que, em si sérios, são esquecidos depois que passa o período da marola ideológica que distorce toda a discussão.

Consequências das alianças eleitorais - RAQUEL ULHÔA


Valor Econômico - 02/02/12


As composições partidárias feitas pelo PT nas eleições majoritárias de 2010 para garantir uma boa bancada no Senado podem custar caro à sigla. Dos 14 senadores petistas - aí incluída Gleisi Hoffmann (PR), no momento licenciada para chefiar a Casa Civil da Presidência da República-, nove têm o primeiro suplente de outro partido. A saída do titular, para ocupar ministério ou disputar eleição, reduziria a bancada, já que o substituto é de outra legenda.

A cadeira de Gleisi, por exemplo, ministra desde junho de 2011, vem sendo ocupada desde então pelo pemedebista Sérgio Souza, o que contribui para a robustez do PMDB, maior partido da Casa (18 integrantes). Com 13 senadores no exercício do mandato, o PT é o segundo.

Essa preocupação veio à tona, entre lideranças petistas, com as articulações em torno da reforma ministerial. A ida de Marta Suplicy (PT-SP) para o governo foi cogitada e até defendida por setores do partido que querem vê-la prestigiada, para que se sinta estimulada a participar da campanha de Fernando Haddad a prefeito de São Paulo.

Bancada do PT sem reposição na suplência

Outra vantagem é que uma eventual nomeação de Marta para a equipe de Dilma Rousseff também teria aberto caminho para o colega José Pimentel (CE) substituí-la na primeira vice-presidência do Senado. Mas a bancada do PT seria reduzida. Seu primeiro suplente é Antonio Carlos Rodrigues (PR), presidente da Câmara Municipal de São Paulo.

Na legislatura passada, o Senado impôs derrotas importantes ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como a derrubada da CPMF. Embora a oposição tenha voltado fraca na atual legislatura, o enfraquecimento do PT na Casa ainda preocupa o partido - especialmente porque o PMDB de José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL) é um aliado sempre visto com desconfiança.

Cada senador é eleito com dois suplentes na chapa, mas o segundo tem menos chance de assumir. Dos 11 eleitos ou reeleitos pelo PT em 2010 (incluindo Gleisi), com mandato até 2019, sete têm primeiros suplentes de outros partidos. E quase todos com projetos eleitorais para 2012 e 2014.

Humberto Costa (PE), líder até ontem, é considerado eventual "tertius" do PT na disputa entre o prefeito de Recife, João da Costa, e o ex-prefeito João Paulo, pela candidatura à prefeitura da capital. Em caso de afastamento de Costa para concorrer, o substituto direto é o ex-governador Joaquim Francisco (PSB). Na hipótese de uma vitória do petista, Francisco se torna titular por metade do mandato.

Também dividido, o PT de Fortaleza tem uma ala que cogita lançar José Pimentel candidato, se o grupo não tiver nome competitivo. Caso isso ocorra, o PSB ganha um senador: Sérgio Novais, primeiro suplente.

Nas eleição estaduais, em 2014, o problema se repetirá. São quatro os senadores do PT com planos de concorrer: Walter Pinheiro (BA), Delcídio Amaral (MS), Lindbergh Farias (RJ) e Wellington Dias (PI). Desses, apenas Dias tem a primeira suplente do próprio partido (Regina Sousa). O substituto imediato de Pinheiro é Roberto Muniz (PP), o de Delcídio é Pedro Chaves (PSC) e o de Lindbergh, Olney Botelho (PDT).

Desses 11 eleitos ou reeleitos em 2010, apenas Jorge Viana (AC), Ângela Portela (RR) e Paulo Paim (RS) têm petistas na primeira suplência - respectivamente Nelson Mourão, Nagib Lima e Veridiana Tonini.

Outros três senadores do PT estão cumprindo a segunda metade dos mandatos, que terminam em 2015: Eduardo Suplicy (SP), Ana Rita (ES) e Aníbal Diniz (AC). Ex-suplentes, os dois últimos assumiram nas vagas de Renato Casagrande (PSB) e Tião Viana (AC) - eleitos governadores - e não são considerados competitivos numa eventual disputa à reeleição. Já Suplicy não tem garantia da legenda para disputar.

Por outro lado, nas outras bancadas de partidos aliados, apenas quatro senadores foram eleitos em 2010 com suplentes do PT. Isso diminui a possibilidade de eventuais nomeações de titulares de outras siglas abrirem vagas para o PT no Senado. Um dos casos emblemáticos é o de Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), cujo primeiro suplente é José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT e ex-senador. O nome de Valadares já circulou entre os ministeriáveis no início do governo.

Esse quadro recomenda que a presidente pense bem antes de nomear um senador petista para o governo, em eventuais mexidas na equipe. Ou que alguns petistas revejam projetos pessoais.

Por falar no assunto, o Senado começa o ano com 15 dos seus 81 parlamentares exercendo o mandato sem terem sido eleitos para tal. Chegaram à Casa como suplentes. Desses, dez ganharam definitivamente as vagas, por motivo de morte ou renúncia dos titulares. Os outros a ocupam temporariamente, enquanto os donos estão afastados por diferentes razões, podendo retornar a qualquer momento.

Comissão especial de reforma política do Senado aprovou Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que reduz para um o número de suplentes e proíbe que ele seja cônjuge ou parente do titular por consanguinidade, adoção ou afinidade, até o segundo grau. A substituição teria caráter temporário. Em caso de afastamento definitivo do titular, o suplente ocuparia o cargo somente até a eleição de novo senador.

Na atual legislatura, há filho substituindo pai - Lobão Filho (PMDB-MA) é suplente do ministro Edison Lobão - e houve irmãos dividindo vaga - antes de perder o mandato para João Capiberibe (PSB), liberado pelo Supremo Tribunal Federal, Gilvan Borges (PMDB-AP) cedeu boa parte dele a Giovani, seu irmão e suplente. E pode haver mulher ganhando vaga do marido, se Eduardo Braga (PMDB-AM) disputar e ganhar a Prefeitura de Manaus. A suplente é Sandra Braga, sua mulher.

Portos - a ação necessária - WILEN MANTELI


O Estado de S.Paulo - 02/02/12

Notícias veiculadas pela imprensa nos dois últimos meses têm assinalado a intenção da Presidência da República de promover uma reestruturação do setor portuário, que passaria pela possível extinção da Secretaria Especial de Portos (SEP) e retorno de suas atribuições ao Ministério dos Transportes.

Se assim proceder, o governo corre o risco de perder o foco, realizando mudanças meramente institucionais em vez de dar solução efetiva aos crônicos problemas portuários por meio de medidas práticas, que estimulem o investimento privado e a eficiência nos portos.

Tais medidas envolvem, basicamente, prioridade nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para eliminar gargalos nos acessos rodoviários e ferroviários aos portos; reestruturação das administrações portuárias públicas, que, na grande maioria, estão endividadas e incapacitadas para responder aos atuais desafios do setor; estabilização do marco regulatório para dar mais segurança ao investidor privado; redução da burocracia; e equacionamento dos problemas trabalhistas.

A regulamentação do arrendamento de áreas públicas para o setor privado tem caminhado na contramão do desenvolvimento dos portos. A Resolução da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) n.º 1.642/2010 instituiu como pré-requisito para a aprovação de qualquer investimento em terminal portuário arrendado a apresentação de um Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE) nos mesmos moldes do exigido a um novo empreendimento.

Longe de se restringir a comprovar viabilidade, esse instrumento funciona como um limitador da taxa de retorno. Lucros auferidos acima de certo patamar previamente estabelecido, de acordo com o EVTE, deverão ser repartidos com o governo. Ou seja, a eficiência passa a ser punida.

Talvez no intuito de amenizar os efeitos dessa norma desestimulante do apetite do setor privado, a Antaq baixou outra resolução, n.º 2.240, que, a pretexto de flexibilizar o sistema de outorgas, criou instrumentos contratuais de discutível legalidade e conflitantes com o princípio da isonomia.

Esses instrumentos - uso temporário, cessão de uso com e sem ônus, passagem e autorização de uso - não passam de medidas casuísticas, soluções precárias que só servem para disfarçar o grave problema da inibição do investimento produtivo de longo prazo no sistema portuário.

A inovação, designada como "contrato de passagem", fere direitos contratuais ao prever que uma empresa localizada atrás de um terminal arrendado possa obter acesso direto ao cais operado por esse terminal, mesmo à revelia do seu titular.

No que concerne aos arrendamentos, o mais importante a fazer é adaptar os contratos de arrendamento firmados antes da Lei dos Portos (n.º 8.630/1993) às regras por ela estabelecidas.

A manutenção de um real valorizado requer o aumento da competitividade nos corredores de exportação, o que não será alcançado sem pesados investimentos em infraestrutura portuária.

Mas, no momento, o Brasil segue na direção contrária. A cada remendo no sistema de regras do setor o governo gera mais ambiguidade, mais instabilidade no marco regulatório e mais insegurança jurídica, inibindo investimentos de longo prazo.

Na área trabalhista o governo deve se fazer mais presente, não somente tomando as medidas que lhe cabem para enxugar o excesso de contingente de mão de obra nos portos, especialmente na área previdenciária, como também coibindo o grevismo na atividade portuária, que tem efeito dominó sobre toda a cadeia do comércio exterior.

A sustentabilidade do desenvolvimento do sistema portuário brasileiro, que em breve estará movimentando 1 bilhão de toneladas anuais, depende de um choque de gestão, e não de uma reestruturação apenas organizacional. Já temos todas as leis, normas e órgãos executivos necessários.

Falta aplicar integralmente as leis e fazer a estrutura funcionar. E com urgência, pois o crescimento da economia gera, além de boas oportunidades, novas ameaças.


Dilma desandou - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S. Paulo - 02/02/12


São improcedentes as críticas à presidente Dilma Rousseff por sua recusa em abordar as violações dos direitos humanos sob a ditadura que vigora em Cuba há meio século. Mas ela merece ser criticada - duramente - pelo palavrório com que tentou justificar em Havana o seu silêncio em face da política repressiva do regime dos irmãos Castro.

Dilma foi a Cuba, na sua primeira visita de Estado à ilha, para promover os interesses econômicos brasileiros. Por intermédio do BNDES, o País banca 70% do mais ambicioso empreendimento privado ali em curso - a transformação do Porto de Mariel em um dos maiores da América Latina, ao custo aproximado de US$ 1 bilhão. A obra é tocada pela construtora brasileira Odebrecht. O Brasil, apenas o quarto parceiro comercial de Cuba, só tem a ganhar com a ampliação da sua presença econômica na ilha, a exemplo do que fizeram, sobretudo no setor de turismo, a Espanha e o Canadá. Ganhará tanto mais - e esse deve ser o raciocínio estratégico de Brasília - se e quando se normalizarem as relações entre Havana e Washington. Trata-se de estar desde logo ali onde a concorrência virá com tudo.

Nesse quadro, não se deveria esperar que a presidente usasse a mesma mão com que assinou, metaforicamente, os cheques do novo espaço que o empresariado brasileiro ambiciona ocupar em Cuba para investir de dedo em riste contra os seus anfitriões. Nos últimos dois anos, o ditador Raúl Castro iniciou um programa de abertura econômica que, embora tropeçando na pachanga local, pretende ser uma versão caribenha do modelo chinês: economia de mercado com mordaça política. A propósito, desde que a China se abriu, a nenhum chefe de governo brasileiro ocorreu condenar as suas políticas liberticidas - e a nenhum comentarista ocorreu condená-lo por isso.

É também descabida a evocação da visita ao Brasil, sob a ditadura militar, do então presidente americano Jimmy Carter - que não só fez chegar ao homólogo Ernesto Geisel seu protesto pelo que se passava nos porões do regime, como ainda recebeu um dos maiores defensores dos direitos humanos no País, o cardeal dom Paulo Evaristo Arns. É verdade que militantes como Dilma Rousseff, que sentiram literalmente na carne o que era se opor aos generais, devem ter se regozijado com a iniciativa de Carter. Logo, ela deveria imitá-lo em Havana. Lembre-se, no entanto, que o que trouxe Carter ao Brasil foi o contencioso desencadeado pelo acordo nuclear do País com a Alemanha, tido em Washington como o atalho aberto pelos militares para chegar à bomba atômica. Sem falar nas pressões das entidades americanas de direitos humanos pela condenação ao Brasil - o que inexiste aqui em relação a Cuba.

Critique-se Dilma não pelo que calou, mas pelo que falou. Exprimir-se, como se sabe, é uma peleja para a presidente - talvez por isso seja tão avara com as palavras em público. (Há quem diga que quem não fala bem não pensa bem, mas esse, quem sabe, é outro assunto.) Perguntada pelos jornalistas que a acompanhavam sobre direitos humanos em Cuba, Dilma desandou. Poderia ter respondido protocolarmente que, dada a sua condição de chefe de Estado visitante, não poderia se manifestar sobre questões internas do país anfitrião, como seria inadmissível que um hóspede oficial do governo brasileiro fizesse algo do gênero em relação ao País - e ponto final. Em vez disso, saiu-se com um bestialógico sobre o "telhado de vidro" sob o qual estaria o mundo inteiro, democracias e ditaduras, nessa matéria.

Ainda na linha da "primeira pedra", disparou incongruentemente um torpedo contra os Estados Unidos, pela "base aqui que se chama Guantánamo". À parte a trôpega retórica, ao se referir à instalação americana em Cuba, onde 171 acusados de terrorismo mofam sem direito a julgamento, a incontinência verbal levou Dilma a virar contra si a "arma de combate político-ideológico" que, segundo ela - neste caso com razão - não deve predominar no debate sobre direitos humanos seja onde for. Resta ver, na hipótese de lhe perguntarem sobre Guantánamo na visita que um dia fizer aos Estados Unidos, em retribuição à do presidente Obama, se ela falará dos presos políticos cubanos.

Cuba e Guantánamo - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 02/02/12

Vou seguir ao pé de letra a recomendação da nossa presidente, Dilma Rousseff, que, em Cuba, disse que é para "falar de direitos humanos em todos os lugares".

De pleno acordo, Dilma. Podemos começar por Cuba? Afinal, um país que não permite o direito básico de ir e vir para seus cidadãos viola um direito humano essencial, não é mesmo, presidente?

Qualquer relatório da Anistia Internacional e/ou da Human Rights Watch forneceria material para vários dias de falatório sobre direitos humanos em Cuba.

E não seria "arma de combate político ideológico" como Dilma parece considerar as críticas a Cuba: essas duas organizações criticam Cuba e Guantánamo, a Venezuela de Chávez e a Colômbia de Uribe, a Rússia de Putin e a Arábia Saudita, firme aliada dos Estados Unidos.

Em vez de falar de "direitos humanos em todos os lugares", Dilma preferiu especificar Guantánamo. A prisão que os Estados Unidos montaram nessa parcela do território cubano é de fato uma aberração.

Mas por que a presidente não falou de Guantánamo diretamente a Barack Obama, quando este visitou o Brasil, em vez de fazê-lo quando está visitando outra aberração, que é o conjunto de violações aos direitos humanos na totalidade da ilha?

Fica parecendo que a presidente, assim como a diplomacia brasileira, segue um raciocínio torpe, que é o de não criticar um dado país porque outro não está sendo criticado. Ora, o correto para quem disse que pretendia colocar os direitos humanos no centro de sua política externa não é calar sobre Cuba porque existe Guantánamo, mas falar de Cuba E de Guantánamo.

E, se é para tratar do assunto em "todos os lugares", qual é a política brasileira para a Síria, país no qual nem o chanceler Antonio Patriota pode negar que as violações aos direitos humanos são "emergenciais", ao contrário do que ele acha de Cuba? OK, o governo brasileiro é contra o uso da força externa para resolver um problema interno.

Até aí, dá para defender. O problema começa quando se verifica que, na Síria, o uso da força nem é cogitado, mas fracassaram todas as gestões diplomáticas até agora desenvolvidas.

A carnificina aumenta, o risco de guerra civil é cada vez mais evidente, e não se sabe o que o governo brasileiro tem a dizer, por mais que toda a Síria tenha se transformado em uma mega Guantánamo.

A força do Brasil para influir na questão síria pode ser perto de zero, mas é também perto de zero em relação a Guantánamo, o que não impediu a presidente de tocar no assunto. Força à parte, ter uma política para direitos humanos, em vez de frases soltas, é algo que engrandece toda democracia.

Seria útil, portanto, que o Itamaraty seguisse a sugestão do lúcido especialista Matias Spektor, professor de relações internacionais da FGV, na Folha.com, e reunisse "numa praia deserta do Nordeste" os cerca de 20 diplomatas brasileiros que trabalharam no Conselho de Segurança, nos dois anos em que o Brasil foi membro rotativo, para sugerir como sair da retranca, em Cuba, Guantánamo ou Síria, e adotar posição pró-ativa consequente com a pregação da presidente.

Drible - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 02/02/12


Para vencer as resistências à suspensão da Lei Seca nos estádios que abrigarão jogos da Copa, o ministro Aldo Rebelo (Esporte) vai propor restrições à venda de bebidas alcoólicas. Os torcedores só poderão consumir nos pontos de venda, antes, depois e no intervalo das partidas. Eles não poderão levar bebida para a arquibancada, nem ambulantes poderão circular vendendo o produto.

Agenda paralela
Na comitiva da presidente Dilma, os ministros Fernand Pimentel (Desenvolvimento) Alexandre Padilha (Saúde aproveitaram a visita a Cuba para negociar a implantação de indústria de fármacos brasileira na ilha, em associação com laboratórios cubanos.A ideia é aproveitar a experiência de Cuba na produção de remédios bioativos, considerados uma nova fronteira no setor. Pimentel também discutiu com seu contraparte, Rodrigo Mamierca, a associação de empresas dos dois países para entrar no mercado africano. Cuba, por exemplo, administra hospitais em Angola, e o Brasil poderia fornecer equipamentos e remédios.

“ A presidente queria um técnico e nomeou um político” — André Vargas, secretário de Comunicação do PT e deputado (PR), sobre a relação do ministro Marco Antonio Raupp (Ciência e Tecnologia) com o PMDB

PROCUREM O PALOCCI.Os líderes do PT no Senado, Humberto Costa (PE), e no Congresso, José Pimentel (CE), foram ao ex-presidente Lula tentar convencê-lo a apoiar o acordo que previa rodízio na vice-presidência do Senado e na presidência das comissões. Lula ouviu e depois deu de ombros, dizendo: “Quem articulou esse acordo?” Os petistas responderam: “Foi o (ex-ministro) Antonio Palocci.” Então, o ex-presidente deu aos senadores petistas o seguinte conselho: “Procurem o Palocci”.

Pelé

Em visita às obras do Museu Pelé, em Santos, o ministro Gastão Vieira (Turismo) propôs ao ex-jogador realizar uma exposição itinerante, com o acervo, pelas cidades-sedes da Copa. Seria uma forma de estimular o turismo regional.

Plantão médico
O ex-presidente Lula anda irritado nesta semana com os feitos colaterais da radioterapia. O tratamento afetou um pouco sua voz, e ele está falando baixo. Lula reclama de dores na garganta. Ele está combatendo um câncer na laringe.

Royalties e eleição municipal
Os líderes dos partidos do governo querem que o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), anuncie logo o relator da Lei dos Royalties do Petróleo. Eles querem agilizar as articulações e a votação de uma proposta. Avaliam que, quanto mais próximo das eleições municipais, mais tortuosa será a negociação. Aliás, em março, a Confederação Nacional dos Municípios fará marcha de prefeitos cobrando a votação dessa lei.

Tucanos pasmos
A Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional, que edita a “Revista de História”, onde os tucanos foram alvo de críticas, tem como um de seus diretores-executivos Winston Fritsch. Ele foi secretário de política econômica no governo FH.

Mea-culpa
O presidente da Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional, Jean-Louis de Lacerda Soares, enviou nota. Ela diz que a Revista de História “cometeu um erro ao publicar o artigo ‘O jornalismo não morreu’”. E pede “desculpas aos ofendidos”.

O EX-MINISTRO de Direitos Humanos Nilmário Miranda (PT) vai integrar a Comissão de Anistia. Ele vai compor também a coordenação executiva do comitê de implantação do Memorial de Anistia.

BENZEDEIRA. De mudança para o gabinete que era ocupado pela então senadora Marinor Brito (PSOL-PA), o líder do PTB, senador Gim Argello (DF), pediu para um padre ir lá fazer uma reza.

AGORA VAI. O ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP) desembarca em Niterói na sexta-feira. Vai pedir votos para o deputado Chico D’Ângelo nas prévias de domingo para a candidatura a prefeito

Satisfação garantida - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 02/02/12

Chama atenção em alguns ministros, aliados políticos e auxiliares da presidente Dilma Rousseff a reverente, e de certo modo até prazerosa, placidez com que se submetem a humilhações públicas.

Não é raro relatarem - entre si e a jornalistas - como vantagem episódios em que foram alvos da truculência verbal da presidente da República.

Tornou-se quase um motivo de deleite levar uma "bronca" de Dilma. Outro dia mesmo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, fez muito sucesso em cerimônia no Palácio do Planalto, relatando como a chefe costuma "espancar" projetos apresentados a ela.

Eis que, assim, o exercício da descortesia de defeito passou a ser visto como qualidade.

Nesse aspecto, o ainda ministro das Cidades, Mário Negromonte, ocupa uma espécie de tribuna de honra no quesito orgulho de apanhar.

Negromonte já se configura um problema desde o ano passado, quando foi acusado por deputados do próprio partido de distribuir mesadas em troca de apoio na bancada do PP, e também apontado como responsável pela adulteração de parecer técnico em obra de infraestrutura da Copa, por causa de conveniências políticas.

Sua cerimônia do adeus se dá ao estilo Dilma: arrastado, tortuoso e torturante. Ela mesma não diz nada, vai deixando a vítima cair de podre. No caso em questão, poder-se-ia acrescentar com requintes de crueldade, não fosse a maneira impávida com que o alvo recebe o que para qualquer ser humano normal seria uma afronta à dignidade.

Dilma já fez de tudo com Negromonte: demitiu-lhe o chefe de gabinete, o chefe da assessoria parlamentar, mandou espalhar que o considera um mau gestor, permitiu que a assessoria caprichasse nos detalhes sobre a repulsa que a presença dele no ministério lhe provoca, e o homem, ali, fazendo-se de surdo no desfrute da condição de saco de pancadas.

Já viu seu partido lhe retirar apoio, já assistiu à cena de seu padrinho, o governador da Bahia, Jaques Wagner, ser prestigiado com convite para integrar a comitiva presidencial na viagem ao Caribe logo após deixá-lo ao sol e à chuva, já recebeu todos os sinais, mas não faz concessão alguma ao amor-próprio.

Problema dele? Em parte. O método de demitir fala também sobre da sistemática de admitir e isso diz respeito à Presidência da República, ao governo, ao País.

As cenas patéticas de apego à boquinha, as frituras degradantes, a administração de insatisfações que geram também soluções insatisfatórias, as próprias contrariedades da presidente em relação ao desempenho de sua equipe, tudo poderia ser resolvido de forma mais digna.

Se o critério para ocupação de cargos fosse o mérito e não o Quem Indica. Vale para quem sai e vale para quem fica, conforme atestam as permanências dos ministros "Fernandos", Bezerra e Pimentel, e a desistência da presidente de demitir o presidente da Transpetro ao se inteirar das implicações de se livrar de um afilhado de alguém tão notório quanto o senador Renan Calheiros.

Nada com isso. As constantes trocas de ministros têm servido, entre outras coisas, para levar ao arquivo morto "os malfeitos" causadores das demissões.

É a lógica da página virada combinada à teoria da responsabilização zero.

Exemplo é o caso, agora denunciado pelo Estado, do Ministério do Esporte que pagou de R$ 4,6 milhões (sem licitação) a título de consultoria a uma fundação sobre a Empresa Brasileira do Legado Esportivo - estatal extinta antes de ser criada.

O ministro Aldo Rebelo não quer nem ouvir falar no assunto. Sugere que embalem Mateus seus genitores.

"Não estava no ministério quando houve a decisão de fazer a estatal, nem estava quando houve a decisão de extingui-la", diz, acrescentando que as explicações devem ser dadas por aqueles "que tomaram as duas decisões".

Como se o governo não fosse o mesmo, o ministério idem, o atual titular da pasta pertencente ao partido do antecessor e a presidente da República uma implacável zeladora da excelência da gestão

Imigração na gaveta - CLAUDIA ANTUNES

FOLHA DE SP - 02/02/12

RIO DE JANEIRO - Dorme em alguma gaveta do governo federal uma proposta de Política Nacional de Imigração e Proteção ao Trabalhador Migrante que foi posta em consulta pública em 2010.

O debate voltou à tona com o afluxo recente de haitianos, um dos temas que seriam tratados ontem na visita de Dilma a Porto Príncipe.

No caso dos haitianos, o governo improvisou uma solução com vistos especiais de trabalho, mas ainda não deu conta dos que já estavam a caminho e chegaram à Amazônia sem documentos. Tendo pago os coiotes que os trouxeram, eles resistem a voltar para o país mais pobre do hemisfério.

Elaborada pelo Conselho Nacional de Imigração, ligado ao Ministério do Trabalho, a proposta lançada há dois anos é coerente com a convenção da ONU sobre o tema. À espera de ratificação pelo Congresso, o texto internacional baseia-se na defesa da livre circulação de trabalhadores.

Hoje, o assunto é regido no Brasil pelo Estatuto do Estrangeiro, de 1980, que proíbe, por exemplo, que estrangeiros se envolvam em atividade política, incluindo a difusão de programas partidários do seu país de origem. Um projeto de lei para substituí-lo tramita no Legislativo, mas é considerado restritivo por defensores dos direitos dos imigrantes.

Segundo especialistas como Deisy Ventura, da USP, o assunto não sai do limbo porque há divergências significativas. A visão mais tolerante está em confronto com outras que privilegiam enfoques de segurança ou de mercado, incluindo a que advoga a seleção só de profissionais qualificados.

O problema é que, pelo peso crescente em sua região, o Brasil tende a atrair imigrantes pobres em maior número, ainda que comecem a surgir candidatos fugidos da crise no sul da Europa. É preciso buscar meios de conciliar os dois movimentos, fazendo jus à tradição de acolhimento que o país vende como parte do seu "poder brando".

HOMENS ou MULHERES? - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 02/02/12


Em matéria de gênero e orientação sexual, os caminhos não são fixos e claros desde a infância



Há três anos, Laerte, 60, cartunista da Folha, usa roupas femininas e maquiagem em seu dia a dia. Na terça retrasada, pelo protesto de uma cliente que o reconheceu como Laerte (e, portanto, como homem), ele foi proibido de ter acesso ao banheiro feminino de uma pizzaria paulistana.

Quem está certo, Laerte ou a cliente que protestou? A questão é, no mínimo, complexa.

Em regra, na nossa cultura, na hora de usar um banheiro público, a gente se divide em HOMENS e MULHERES. Por quê? Perguntei ao meu redor e obtive dois tipos de respostas.

1) Na hora em que nos dedicamos a funções que são naturais, mas das quais nos envergonhamos, é mais confortável saber que não seremos objetos de desejo sexual.
Problema: segundo esse princípio, os homossexuais masculinos deveriam frequentar os banheiros femininos e vice-versa. E os bissexuais fariam xixi em qual banheiro?

2) A divisão dos banheiros públicos não teria a ver com o sexo, mas com o gênero. Seja qual for o objeto de nosso desejo, na hora de exercer as funções excretórias, preferiríamos estar entre pessoas com uma anatomia igual à nossa. Nesse caso, Laerte, que só se veste de mulher, não poderia usar o banheiro feminino.

Problema: o que aconteceria com um(a) travesti ou com um(a) transexual, ou seja, com alguém que transforma seu corpo até encarnar o gênero oposto? Yasmin Lee, Lea T ou um transexual de mulher para homem iriam para qual banheiro?

Simplificando ao máximo, na esperança de esclarecer:

"Cross-dresser" é quem gosta de se vestir com roupas do outro sexo -ocasionalmente ou, como Laerte, o tempo inteiro. Isso não implica uma preferência sexual específica. Muitos "cross-dressers" masculinos desejam só mulheres. Outros se mantêm castos, porque seu único prazer está no fato de habitar, por assim dizer, a pele do outro gênero.

"Travesti" implica uma transformação do corpo (hormônios, implantes) e a presença de uma fantasia sexual, que é diferente para cada um, mas na qual a "ambiguidade" do travesti funciona como um fetiche (para ele mesmo e para os outros).

Ser "transgênero" ou "transexual" significa ter a clara sensação de que seu corpo é inconciliável com seu sentimento profundo de identidade: você nasceu num corpo errado, que você odeia, sobretudo a partir da puberdade, quando ele desenvolve seus atributos de gênero. Os primeiros capítulos do livro de João Nery, "Viagem Solitária, Memórias de um Transexual 30 Anos Depois" (Leya), são perfeitos para entender o drama de quem descobre que ele discorda de seu próprio corpo.

A condição de transexual é independente de orientação ou preferência sexuais. Posso nascer num corpo de mulher e desejar homens, mas viver esse corpo como uma prisão e querer (ou melhor, precisar) me tornar homem; mudando de gênero, continuarei desejando homens. No fim, nascido mulher, eu me tornarei homem homossexual. Só para atrapalhar: qual banheiro frequentarei?

Na realidade complexa (e confusa) de sexo, gênero e orientação sexual, as categorias que descrevi se misturam e não designam destinos -ainda menos destinos claramente reconhecíveis desde a infância.
No lindo, delicado (e imperdível) filme de Céline Sciamma, "Tomboy" (maria-rapaz), a jovem Laura (extraordinária Zoé Héran) se vale de sua bonita figura andrógina (a puberdade ainda não chegou) para passar por menino entre seus novos amigos.

No fim, o espectador decide: o que foi que a gente viu? O começo de um mal-estar transexual? O nascimento de uma homossexualidade? Ou apenas a brincadeira de um verão, que permanecerá como uma lembrança divertida num futuro heterossexual e sem incertezas? Não sabemos e, de fato, nada permite dizer.

Aos nove anos, a menina que seria João Nery foi levada a uma terapeuta. A razão era que ela agia e pensava como um menino, e a mãe gostaria que lhe explicassem o porquê dessa conduta e lhe dissessem como ela deveria se comportar diante disso.

Nery escreve: "O diagnóstico indicou que era fixado no meu pai, com uma necessidade de imitá-lo por ser a filha do meio. Assim, tentava me sobressair para ter mais atenção e afeto. Minha mãe não deveria me forçar, impingindo-me roupas femininas ou coisas do gênero, pois tudo passaria com a idade".

Com a idade, nada passou. A terapeuta se enganou? Não exatamente: ela não tinha mesmo como saber.

Questão de autoridade - ROGÉRIO GENTILE


FOLHA DE SP - 02/02/12


SÃO PAULO - "Ninguém vai me fazer refém dentro do meu gabinete." Geraldo Alckmin, pelo jeito, se esqueceu da lição que ouviu em 2000 de Mário Covas, seu padrinho polí tico, quando o então governador paulista foi questionado por jornalistas sobre o motivo de ter ido à sede da Secretaria da Educação, mes mo sabendo que havia um protesto de professores no local.

Diferentemente de Covas, Alckmin (PSDB) modificou por duas vezes nos últimos dias sua agenda a fim de se desviar -para usar um eufemismo- de manifestantes.

Primeiro, deixou de participar da missa na catedral da Sé pelo aniversário da cidade, ao saber que estava previsto um ato contra a reintegração de posse do Pinheirinho, em São José dos Campos. Achou melhor solicitar ao seu vice, Guilherme Afif, que o representasse. Foi na saída dessa missa que o prefeito Kassab acabou virando alvo de ovadas e palavrões.

Depois, Alckmin preferiu faltar à inauguração da nova sede do MAC (Museu de Arte Contemporânea da USP), um dos principais projetos de seu governo na área da cultura, por temer um novo protesto. Andrea Matarazzo, seu secretário, pagou o pato, sendo alvejado por frutas e legumes.

É óbvio que ninguém precisa bancar o machão, como Covas, que, à época dos protestos, resolveu intempestivamente furar o cerco organizado pelos professores acampados na frente da Secretaria da Educação, na praça da República, e acabou covardemente agredido. Mas será que simplesmente abdicar de seus compromissos resolve o problema?

Como já é praxe no Brasil, em ano de eleição, os protestos ditos populares se multiplicam, instrumentalizados por partidos políticos. Manifestações pacíficas fazem parte do jogo. As agressivas, claro, são um problema para a polícia resolver.

Se optar simplesmente por evitá-las, Alckmin corre o risco de se apequenar no cargo e acabar como uma espécie de anti-Covas, sem poder sair do seu próprio gabinete.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 02/02/12
Diante da crise, europeus querem emprego no Brasil

Para fugir de uma taxa de desemprego de 23%, os espanhóis passaram a procurar emprego no Brasil e hoje são umas das principais nacionalidades a enviar currículos.

No início de 2011, eles eram responsáveis por 4,5% do total de cadastros estrangeiros feitos na companhia de recrutamento Monster. Hoje, eles representam 8,2%.

"O número de currículos recebidos de outros países europeus cresceu, mas foi a Espanha que teve um incremento considerável", diz a gerente de marketing da empresa, Andreza Santana.

Grande parte dos trabalhadores espanhóis cadastrada no site é formada em engenharia, ainda segundo Santana. A Espanha sofre hoje as consequência do estouro de uma bolha imobiliária.

A vinda de grandes grupos do país para o Brasil também alavancou a procura por trabalho, de acordo com Rodrigo Vianna, diretor da empresa de recrutamento Hays.

O número de indianos em busca de vagas aqui também cresceu. "É consequência da entrada das companhias da Índia no Brasil, principalmente do setor de tecnologia", afirma Vianna.

Ainda há os franceses, que ampliaram as buscas consideravelmente, e os italianos, que aparecem de forma mais tímida. Os americanos, tradicionalmente os que mais procuram ocupação aqui, reduziram o envio de currículos.

No total, a Monster tem hoje 400 mil currículos de estrangeiros. Durante 2011, cerca de 86 mil pessoas de outros países se cadastraram.

Empresa baiana de laticínios investe R$ 40 mi em fábrica

Com aporte de R$ 40 milhões, a empresa de laticínios Davaca, de Ibirapuã, no sul da Bahia, irá dobrar o tamanho de sua fábrica para aumentar a produção de queijos, manteiga e requeijão.

A industrialização de leite deve passar de 200 mil litros por dia para 400 mil litros, segundo o diretor da companhia, Lutz Rodrigues Júnior.

A expectativa é que esse volume seja produzido a partir do final de 2013.

"Com a planta trabalhando em sua capacidade máxima, o faturamento anual deve chegar a R$ 150 milhões", afirma Júnior.

O número de produtores fornecedores terá um incremento de 47% e atingirá 2.400, ainda de acordo com o empresário. Do total investido, 70% são recursos da empresa e 30% de financiamento. No ano passado, a companhia faturou R$ 89 milhões.

DUAS FRANQUIAS POR HORA

O número de franquias abertas no Brasil no ano passado aumentou 44,4% em relação a 2010, de acordo com levantamento da consultoria Rizzo Franchise.

Em 2011, foram inauguradas, em média, 48 franquias por dia, com a abertura de 275,3 mil vagas de emprego. No Brasil, há cerca de 180 mil franquias e cada uma delas tem renda mensal média de R$ 131 mil, segundo o estudo.

BANQUEIROS NA ÁSIA

Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, trocou neste ano o Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), pelo encontro do BIS (Banco para Compensações Internacionais) na Ásia.

A instituição, considerada o BC dos bancos centrais, faz todos os anos uma reunião no Extremo Oriente. A deste ano, intitulada reunião especial de 'governors' ( banqueiros centrais) será em Hong Kong, no sábado e no domingo próximos.

Assumido o compromisso com o BIS, Tombini aproveitou para aceitar também o convite do Reserve Bank of India para uma conferência em Mumbai, que começou anteontem e termina hoje. Tema: "Política Monetária, Dívida Soberana e Estabilidade Financeira: o Novo Trilema".

PEQUENO SÓ NO TAMANHO

A Pitti Bimbo, sofisticada feira italiana para o setor de moda infantil, onde roupa de criança de grife chega a custar mais caro do que a de adulto, registrou crescimento do mercado externo e a presença de 10 mil visitantes.

Entre os compradores na edição de janeiro, destacou-se o desempenho de japoneses (alta de 80%), coreanos (20%), ucranianos (18%), americanos (17%), além de brasileiros e turcos (15%). Foram 61 visitantes do Brasil e 151 da Turquia.

O aumento da demanda de fora da Europa compensou o previsível recuo de executivos do continente, de acordo com Rafaello Napoleone, CEO da Pitti Immagine.

"Apesar da esperada queda de italianos, sabemos da situação do país, vieram à Florença todas as marcas importantes, de grifes a lojas. Esperamos a próxima estação com mais otimismo", afirma.

DA AMAZÔNIA PARA OS EUA

A Beraca, especializada no desenvolvimento de tecnologias para tratamento de água e fornecedora de ingredientes naturais e orgânicos da Amazônia para as indústrias de cosméticos e de alimentos, abrirá filial nos EUA, em Nova Jersey.

A companhia já contratou uma executiva local para comandar a nova unidade, que será lançada oficialmente neste mês.

"A escolha de Nova Jersey se deve ao fato de 70% do mercado de cosméticos dos EUA se concentrar a no máximo 200 milhas [320 km] da cidade", diz Ulisses Sabará, sócio da empresa.

A nova filial será aberta com o objetivo de agilizar a entrega de produtos aos clientes norte-americanos, de acordo com Sabará.

Em 2011, o faturamento da companhia, que também tem filial na França e exporta seus produtos para mais de 40 países, foi de R$ 118 milhões.

REGRAS E IMPOSTOS

Mais da metade dos executivos (60%) consideram a política tributária e a regulação financeira como as principais dificuldades ao comprar uma empresa em um país estrangeiro, segundo a Intralinks, que faz armazenamento de informações sigilosas.

A integração após a aquisição e a retenção de funcionários aparecem entre as outras preocupações, com 38% e 35%, respectivamente.

Para 39% dos entrevistados, os setores de energia e de óleo e gás são os mais prováveis para a realização de fusões e aquisições neste ano.

O estudo foi feito com 160 executivos de América Latina, EUA, Ásia e Europa.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

O descompasso - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 02/02/12


Há sinais de que as vendas do comércio perderam fôlego nos últimos dois meses. As vendas no Natal vieram abaixo do esperado, as lojas anteciparam promoções em janeiro e a confiança dos consumidores e dos empresários do comércio caiu. Ainda assim, o ano para o varejo pode ser tão bom quanto 2011, com um ritmo mais forte no segundo semestre.

A crise de 2008 atingiu em cheio a indústria e ela estagnou, mas o consumo das famílias foi um pilar importante de sustentação do PIB. O gráfico abaixo mostra como o varejo voltou rapidamente a crescer, e a indústria continuou patinando. Por isso, tem chamado atenção os últimos dados do comércio, que têm decepcionado. Ontem, a CNC divulgou queda de 2,3% na confiança dos empresários do setor. O que forçou a queda foi o item expectativas, que recuou 3,3%. A intenção de investir caiu 4,5% e a de contratar funcionários despencou 10,8%.

Por trás da queda do otimismo, há alguns fatos. As vendas no Natal não atingiram a meta esperada. Em janeiro, as promoções começaram mais cedo porque os estoques estavam elevados. É bom lembrar que o setor calculou uma meta para crescimento em relação ao ano anterior, que havia sido de forte alta. Portanto, crescer menos do que o projetado não é exatamente um problema. E é consistente com o quadro geral da economia que foi mesmo de desaceleração.

Segundo o presidente da CNC, Carlos Thadeu de Freitas, o esfriamento da economia no terceiro e no quarto trimestres também atingiu o varejo. Ele lembra que 2011 foi ano de inflação alta, que chegou a passar de 7%. Isso tirou renda dos consumidores:

- A economia andou devagar a partir do terceiro trimestre. O Natal foi mais fraco e a projeção de crescimento de 7,5% não foi atingida. Ficamos em 6,5%, o que é um ótimo resultado. Para este ano, prevemos o mesmo ritmo, com um primeiro semestre mais fraco sendo compensando por um segundo semestre mais forte.

A FGV mostrou uma queda forte na confiança dos consumidores em janeiro. O quesito que mais caiu foi a intenção de compras de bens duráveis. O economista Aloisio Campelo, coordenador de pesquisas da FGV, explica que o indicador de duráveis já havia caído nos dois meses anteriores, em faixas de renda mais baixas e nas capitais. Em janeiro, caiu nas faixas de renda mais altas e nas cidades com maior peso: Rio e São Paulo. Ele acha que pode estar diminuindo a demanda por bens duráveis, depois de dois períodos fortes de vendas, entre os anos 2007 e 2008; 2010 e 2011:

- Em dezembro, fizemos uma sondagem para entender o que as pessoas fariam com o dinheiro extra. Aumentou o percentual dos que iriam pagar dívidas ou fazer poupança, e caiu a taxa dos que iriam gastar com duráveis. Há uma postura maior de cautela por parte dos consumidores.

O presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), Fernando de Castro, também enxerga uma desaceleração ao longo de 2011. Mas acredita que ela foi interrompida pela redução do IPI de linha branca, adotada pelo governo em novembro, e pela antecipação das promoções em janeiro:

- Nossos indicadores fechariam o ano em 4% não fosse a redução do IPI. Fechou em 5,5%. A antecipação das promoções deve levar a taxa para 6,5% em janeiro. Houve uma quebra no processo de desaceleração.

A redução do IPI sustentou a venda de itens de linha branca e ajudou os resultados das grandes redes. O presidente do conselho de administração da Máquina de Vendas, Luiz Carlos Batista, holding que controla as marcas Ricardo Eletro, Insinuante, City Lar e Eletro Shopping, conta que o grupo não notou redução de consumo neste início de ano:

- O segmento de eletroeletrônicos teve em janeiro deste ano um crescimento muito superior a janeiro de 2010, na casa de 7%. No Natal, também batemos a nossa meta. O crescimento da classe C tem mantido o consumo forte desses itens, as pessoas estão montando a casa.

O presidente da Associação dos Lojistas de Shoppings, Nabil Sahyoun, espera um crescimento entre 5% e 6% do setor este ano, mantendo a tendência de uma alta duas vezes maior que o PIB . Ele explica que alguns setores estão com ritmo mais forte, como calçados, perfumaria e cosméticos e eletroeletrônicos. Em ritmo mais fraco, Sahyoun aponta o vestuário:

- O setor têxtil está sofrendo pelo aumento de custos e também pelos gastos dos brasileiros no exterior. O real forte estimula as viagens e gasta-se muito com roupas fora do país. Esse dinheiro deixa de ser gasto aqui.

Mas quem realmente está com passo preocupante é a indústria. Veja abaixo o descolamento entre varejo e indústria. A distância tem aumentado, mostrando um crescimento sustentado pelo incentivo ao consumo e não à produção.

De olho nas Cidades - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 02/02/12
Seja qual for o representante do PP colocado nas Cidades, o Planalto trabalha para alçar Inês Magalhães, atual secretária de Habitação, ao segundo posto na hierarquia do ministério. A petista, que na prática carregou a pasta durante a longa agonia de Mário Negromonte, daria maior segurança ao palácio na condição de secretária-executiva. O PP já decidiu que, se for esse o desejo de Dilma Rousseff, não oporá resistência.

Uma saída dada como certa na cúpula do ministério é a do secretário de Mobilidade Urbana, Luiz Carlos Bueno, herança do deputado pepista José Janene, expoente do mensalão que morreu em 2010.

Barba e cabelo Prestes a virar ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PB) conseguiu fechar o nome do aliado Arthur de Lira (AL) para substituí-lo na liderança da bancada do PP na Câmara.

Do coração 1 Perfil de Roberto Kalil Filho publicado na revista "Piauí" que chega amanhã às bancas relata a indignação de Dulce Figueiredo (1928-2011), mulher do último presidente militar e íntima da família do cardiologista, por vê-lo atender Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Guiomar Kalil, mãe do "médico do poder", este costumava explicar à ex-primeira-dama: "Dona Dulce, eu sou médico. Fiz um juramento, preciso atender todo mundo".

Do coração 2 Na reportagem, o renomado cardiologista Fúlvio Pileggi, tio de Kalil, lembra de como, no início dos anos 90, o sobrinho incluiu Lula entre seus clientes: "Ele tem uma percepção muito grande, deve ter pensado: 'Deixa eu pegar esse cara, ele vai ser presidente'. E pegou".

Cabeceira Em encontro anteontem, Fidel Castro disse a Dilma que está lendo "A Vida Quer É Coragem", biografia da presidente escrita pelo jornalista Ricardo Amaral.

Na foto O governador Jaques Wagner (PT-BA) participou de todos os encontros de Dilma em Cuba -inclusive os com Raúl Castro e Fidel.

Veja bem Observação de quem assistia ao julgamento sobre os limites da atuação do CNJ: ao suspender a sessão, Cezar Peluso garantiu destaque para sua declaração de que não há crise no Judiciário. Para registro: pela lei, o presidente o Supremo precisava interromper os trabalhos de modo a permitir que o TSE realizasse sua primeira sessão de 2012.

Capitania O secretário de Governo de Minas, Danilo de Castro, disse que a irmã de Aécio Neves, Andrea, é "opção real" para a sucessão de Antonio Anastasia (PSDB). A declaração foi dada em entrevista que iria ao ar ontem à noite na TV Assembleia.

Protocolar Horas depois de anunciar sua pré-candidatura a prefeito, anteontem, Guilherme Afif se reuniu com Geraldo Alckmin. Entre um e outro item de agenda administrativa, o governador elogiou a declaração pública do vice em defesa da agonizante aliança PSD-PSDB na capital.

Data-limite Se o projeto Afif decolar, ele terá de se desincompatibilizar no final de março do comando do Conselho Gestor de PPPs. O órgão gerencia fatia expressiva dos investimentos estaduais em mobilidade e infraestrutura programados até 2014.

Laboratório O início dos trabalhos na Câmara paulistana testará o humor petista em relação à possibilidade de aliança com o PSD. Na escolha do seu líder, o PT optou por Chico Macena, combativo na oposição a Gilberto Kassab, em detrimento de Arselino Tatto, simpático ao prefeito. Hoje, Macena atua no QG de Fernando Haddad, em namoro com kassabistas.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"O clima é de esbórnia, e a farra agora é na Casa da Moeda. Felizmente, não temos moedeiro falso, apenas mais uma autoridade do governo petista envolvida em corrupção."
DO PRESIDENTE DO PPS, ROBERTO FREIRE, sobre a demissão do presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci, investigado sob suspeita de cobrar propina de fornecedores e remeter U$ 25 milhões para o exterior.

Contraponto

Bala perdida

Em evento no Rio Grande do Sul, o governador Tarso Genro e o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) deram juntos a martelada para destruir uma pistola, gesto que marcaria o início de campanha pelo desarmamento.
A dupla fracassou na primeira tentativa. Na segunda, a arma foi jogada tão longe que quase atingiu deputados aliados da administração petista. Preocupado, Tarso virou-se para Cardozo e disse:
-Você está inovando mesmo nesta campanha! Não só acaba com as armas como faz vítimas na base aliada!