quinta-feira, janeiro 26, 2012

Terra em transe - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 26/01/12


A orelha de Geraldo Alckmin deve ter ardido ontem. O ministro Gilberto Carvalho aproveitou a missa na Sé pelos 458 anos da cidade de São Paulo para cobrar do cardeal Dom Odilo Scherer uma posição da Igreja contra a “truculência” da polícia paulista ao desalojar 1.600 famílias da área invadida de Pinheirinho, em São José dos Campos.

Futebol S.A.
A CBF está fechando seu balanço do ano passado. Faturou R$ 296,5 milhões em 2011 e recolheu impostos que totalizam R$ 91,4 milhões.

Mamãe, sou forte
Arnold Schwarzenegger, o ator que virou político nos EUA, vai organizar um festival de esportes no Rio, provavelmente no Riocentro, em 2013, com modalidades como fisiculturismo. Aliás, fez sucesso no início da internet um vídeo do fortão no carnaval carioca atolado em mulatas.

Volta de Landim
A Mare Investimentos fechou ontem o primeiro fundo de “private equity” sob sua gestão — o FIP Brasil Petróleo e Gás 1, de R$ 585 milhões. A empresa foi fundada por Rodolfo Landim (ex-presidente da BR) e Demian Fiocca (ex-presidente do BNDES), além de Nelson Gutti e Cláudio Coutinho.

Coisa civilizada
Lula fez outro dia uma visita ao empresário Roberto Civita, da Editora Abril, que estava internado no mesmo hospital onde o ex-presidente se trata.

Da lenha à internet
O desenho da capa do novo CD do maranhense Zeca Baleiro, que vai se chamar “O disco do ano”, será escolhido em votação na internet. A eleição começa segunda. A Som Livre prepara o lançamento para março.

ADRIANA RATTES, secretária de Cultura, esclarece que o reformado coreto de Sepetiba, onde o prefeito Odorico Paraguaçu, “com a alma lavada e enxaguada de emoção”, discursava, já é tombado. Além dele, 13 outros foram tombados, em 1985, nas cidades do Rio, de Campos, Cantagalo, Niterói, Paraíba do Sul, Quissamã e São Francisco de Itabapoana. O maior é este, no Campo de São Cristóvão, construído com material importado da Europa e inaugurado (veja a festa na foto menor) em 1906. No início do século XX, quase toda cidade brasileira ganhou um coreto, permitindo que a cultura saísse de ambientes fechados e fosse até a praça. Aliás, no coreto de Frei Paulo, meu pai tocava trompa na Lira Paulistana. Como se vê, eu sou da lira... não posso negar 

Governo virou banco 
O economista José Roberto Afonso disse ontem, na Cepal, no Chile, que uma singularidade brasileira foi Dilma elevar a concessão de crédito após a crise: — O tesouro tem um total de empréstimos a receber superior a R$1 trilhão, ou seja, na prática, o próprio governo virou banco.

João no cinema
João Gilberto, como se sabe, não liberou suas imagens para o filme “A música, segundo Tom Jobim”, de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim. Mas o gênio faz, sim, uma rápida aparição no documentário. Gente como Sérgio Natureza, o compositor, reparou que João surge numa cena bem novinho, ao violão, acompanhando Elizeth Cardoso.
Grande hotel
A Rádio Camareira diz que a nova bandeira do Hotel Nacional, em São Conrado, no Rio, deve ser a do velho intercontinental, que agora é Royal Tulip Rio.

Guarda fofo
Tino Marcos, o coleguinha da TV Globo, chegou com sua moto no Aeroporto Santos Dumont, dias atrás, e reparou que o baú (aquele porta-malas das motos) havia caído com mochila, laptop, iPhone, documentos, cartões, óculos...
Um tempo depois, recebeu a ligação de um PM. O baú se desprendera na Perimetral, e o policial o recolheu. O herói é o cabo M. Eduardo, que diz ter feito isso “de coração”. Não é fofo?

Corredor do Fórum
O desembargador Mário Guimarães Neto, da 12a- Câmara Cível do Rio, condenou Márcio Moraes a indenizar Érika da Costa em R$ 15 mil. Segundo a ação, Érika, numa roda de amigos, no campus da UFRJ, foi xingada e levou uma garrafada no rosto ao discordar de Márcio. Teve trauma facial.

Procon eletrônico
O Procon do Rio será o primeiro do país todo eletrônico. O carioca vai poder reclamar por telefone ou pela internet.
O projeto, segundo Solange Amaral, secretária de Defesa do Consumidor, estreia em 60 dias.

Ai, não me pega
Terça, ao exibir imagens de uma lontra que apareceu numa praia de Portugal e driblou a polícia até escapar, a RTP, TV da terrinha, usou como áudio... (adivinhou) o sucesso de Michel Teló, “Ai, se eu te pego”.

CAETANO VELOSO e Rodrigo Santoro trocam um chamego na pré-estreia do filme “Reis e ratos”, no Complexo Lagoon, na Lagoa

SÉRGIO RICARDO, nosso grande compositor, posa para a posteridade no Instituto Cravo Albin, na abertura das homenagens que receberá em 2012 por seus 80 anos de idade. Merece

PONTO FINAL
Quem notou foi o ministro Luiz Sérgio, da Pesca. Repare no homem à esquerda de Michelle Obama. Não é a cara de Lula neste pós-tratamento? O ministro, ao ver a foto, brincou: “Esse Lula não é mole. Estava em Brasília à tarde e, à noite, foi ouvir o discurso do Obama em Washington. O homem é incansável!” 

Pé fora? - SONIA RACY

 O ESTADÃO - 26/01/12


Cresce a pressão contra João Sayad. O economista poderá ser informado, dia 13, durante reunião do Conselho de Administração da Fundação Padre Anchieta, que seu mandato à frente da TV Cultura não será prorrogado. Segundo se apurou, é grande a animosidade de conselheiros e parte do tucanato.

Fala-se até em seu futuro: participação na campanha do petista Fernando Haddad, de quem é amigo.

Pé fora 2?
Consultado pela coluna, Sayad se limitou a dizer que está dedicando 100% de seu tempo à grade de 2012 e a melhores resultados de audiência.

Se sair mesmo, terá a companhia de Claudia Otoni e Ronaldo Bianchi.

Pif-paf
Quem diria! Conhecidos como negociadores duros e agressivos, Pércio de Souza, da Estáter, e Ricardo Lacerda, da BR Partners, viraram bombeiros da crise entre Abilio Diniz e Jean-Charles Naouri.

Buscam soluções para as próximas semanas.

Headquarter
A FGV/Direito quer criar modelo de pesquisa que responda aos desafios da globalização. Para tanto, reunirá, dia 8, diretores de universidades de peso do mundo inteiro.

Entre outras, vão debater a criação de rede multilateral de ensino jurídico. “Mas do ponto de vista dos interesses brasileiros”, explica a professora Maria Lúcia Pádua Lima, organizadora do encontro.

Tarantela
A exposição Tutto Fellini desembarca no Brasil em março – no IMS do Rio.

Com curadoria de Sam Stourdzé, diretor do Museu Elysée Lausanne, a mostra inclui fotos, cartazes, entrevistas gravadas e... documentos inéditos.

Muitas mulheres e nenhum segredo
Até os 30 anos, Hillary Clinton não podia ter cartão de crédito próprio: era obrigada, pelos bancos, a adquiri-lo em nome do marido. Com histórias como esta sobre o papel da mulher na sociedade - – e esbanjando simpatia –, a Secretária de Estado dos EUA abriu a reunião inaugural de seu Conselho Internacional de Liderança Feminina em Negócios.

O encontro, que aconteceu anteontem, em Washington, contou com a participação de poderosas, como Indra Nooyi, CEO da Pepsico, Cherie Blair (mulher do ex-premiê Tony Blair), do Reino Unido, e a única representante da América do Sul, Wanda Engel, superintendente do Instituto Unibanco.

Da capital norte-americana, por telefone, Wanda contou à coluna que foi a primeira a relatar experiências positivas – no caso, do Brasil. Destacou a estratégia de focar na mulher os programas de transferência de renda condicionada: citando a Rede de Proteção Social e, depois, o Bolsa Família como métodos efetivos de diminuição da desigualdade socioeconômica no País.

Como resultado do encontro internacional, foram criados quatro grupos de estudos voltados à população feminina: um de acesso ao crédito; outro ao mercado de trabalho; o terceiro de lideranças; e, por fim, o de capacitação, treinamento e educação – do qual abrasileira, agora, faz parte.

Entre uma apresentação e outra, nos corredores do Departamento de Estado, as líderes perguntavam a Wanda sobre Dilma Rousseff. E ficaram impressionadas com os índices de aprovação da presidente (59%, segundo pesquisa do Datafolha). Wanda, que foi secretária de Estado de Assistência Social na gestão FHC, garantiu que divulgou a notícia “com muito orgulho”.
/DÉBORA BERGAMASCO

Na frente
Atenção: a Comissão de Erradicação do Trabalho Escravo Estadual fará sua primeira reunião. Amanhã.

Alex Atala pilotou, esta semana, almoço no Plaza Athéné e de Paris. A convite de... Alain Ducasse, que inicia seus Encontros Essenciais para trocas culinárias.

Valdemar Iódice, da Associação Brasileira de Estilistas, participa do Fórum de Davos. Convidado da Apex.

Karina Buhrfazshowde lançamento de seu segundo disco solo. Dia 4, no Auditório do Ibirapuera.

Ziraldo ataca de pintor. Após três anos de trabalho, decidiu expor nada menos que 44 telas. O tema? Super-heróis. Dilma, sua amiga pessoal, é esperada na abertura da mostra - – a partir de março, em Brasília. Dúvida cruel: será a presidente personagem de algum dos quadros?

Porque morrem morcegos - FERNANDO REINACH

O ESTADÃO - 26/01/12


Desde 2008 morcegos que habitam o leste da América do Norte vêm sendo dizimados. Diversas espécies correm o risco de desaparecer. As narinas destes animais ficam brancas e eles morrem. A doença foi chamada de síndrome do nariz branco, e a corrida para descobrir a causa vem tirando o sono dos especialistas.

Os cientistas descobriram que o material branco que crescia no nariz destes mamíferos voadores era um fungo desconhecido, que recebeu o nome de Geomyces destructans. Inicialmente, os cientistas imaginaram que o fungo causava a doença, afinal todos os morcegos mortos estavam infectados. A correlação era perfeita. Mas logo surgiram dúvidas. A maioria dos fungos são agentes infecciosos oportunistas que atacam seres vivos vulneráveis. Em seres humanos uma grande parte das infecções por fungos ocorre quando as defesas do corpo estão enfraquecidas. Será que a correlação era evidência suficiente de que o fungo causava a doença?

A suspeita de que a causa da morte dos morcegos se devia a um outro patógeno ficou mais forte quando se descobriu que o G. destructans habitava o nariz da maioria dos morcegos da Europa e nem por isso eles morriam da síndrome do nariz branco. O fungo era a causa da doença ou sua presença somente estava perfeitamente correlacionada à presença da doença? Toda pessoa com resfriado espirra, mas o espirro não é a causa da doença.

Este era mais um caso em que seria necessário separar correlação de causa. Uma correlação perfeita não implica obrigatoriamente em uma relação causal. Há alguns anos, cientistas demonstraram que a frequência com que as garças sobrevoam as cidades europeias é maior na primavera, quando também nascem mais crianças. Nem por isso acreditamos que garças deixam crianças nas chaminés.

Em 1890, Robert Koch, o cientista que descobriu o bacilo causador da tuberculose, foi o primeiro a postular as condições necessárias para demonstrar que um microrganismo era a causa de uma doença e não uma consequência com alta correlação. Ele propôs que quatro condições tinham de ser cumpridas para demonstrar a relação causal. O organismo deve estar presente nos doentes. É necessário isolar e obter amostras puras do organismo. Estas amostras puras devem ser usadas para infectar pessoas sadias, que devem ficar doentes. É necessário isolar o organismo destes doentes e demonstrar que ele era idêntico ao organismo presente nos doentes originais.

Agora, finalmente, um grupo de cientistas conseguiu isolar o fungo de morcegos doentes, infectar morcegos sadios com o fungo e demonstrar que eles ficaram doentes. O grupo isolou novamente o fungo dos morcegos doentes. Com estes quatro experimentos, ele cumpriram os postulados de Koch e demonstraram que o fungo é o patógeno que causa a doença. Ainda não se sabe porque os morcegos europeus não ficam doentes quando infectados com o fungo, mas isto não é mais um motivo de distração e polêmica. É um primeiro passo. Agora é tentar descobrir como controlar a doença.

Este é um caso clássico da aplicação dos postulados de Koch, um procedimento que vem sendo usado faz mais de um século para separar correlação e causa. Mas é bom lembrar que nem sempre é possível aplicar o postulado. O caso mais recente é o da descoberta do HIV, o vírus causador da aids. Ele foi descoberto em todos os pacientes com a doença (alta correlação), mas devido à sua letalidade ficava impossível realizar o terceiro passo do postulado: injetar o vírus em pessoas sadias e verificar que ele causava a doença. Foi esta impossibilidade ética que levou alguns cientistas a questionar se o vírus era realmente a causa da aids. Um dos virologistas descrentes chegou ameaçar injetar o vírus em si próprio para demonstrar que ele não causava a aids (por sorte desistiu da ideia). A polêmica retardou a adoção de medidas de prevenção.

Separar relações de correlação e causalidade, causa de efeito, é um problema que aparece em todos os ramos da atividade humana. Toda padaria sabe que pão fresco vende rápido. Mas o pão vende rápido porque é fresco ou está sempre fresco porque vende rápido?

Kassab, a esfinge - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 26/01/2012


Algo crucial para o prefeito é não estar fora do segundo turno da eleição paulistana, seja como padrinho da vitória, ou como seu parceiro desde o início. Do jeito que joga hoje, criando laços com todos os partidos, trabalha para estar nesse barco vencedor, seja ele qual for



Vale parar e observar o jogo do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Ele é, no momento, quem reuniu mais cartas para jogar na eleição do sucessor. O prefeito não tem apoio popular capaz de mover montanhas — ontem enfrentou manifestantes ao sair da missa de ação de graças pelo aniversário da cidade. Mas tem em mãos várias opções. Como disse o vice-presidente da República, Michel Temer, só o prefeito para reunir tanta gente "diferenciada". Na festa comandada por Kassab, coube quase todo o espectro da política brasileira. Estavam ali todos os ensaios que ele faz para a prefeitura paulistana, além da Igreja e do Judiciário, braços importantes da vida pública.

No mundo ideal, Kassab queria reunir os "amigos" presentes àquela festa em torno da candidatura de Guilherme Afif Domingos, do PSD, dando aos tucanos o direito de indicar o candidato a vice. Em troca, Kassab adiaria o projeto de concorrer ao governo do estado em 2014 e se colocaria como candidato a vice de Geraldo Alckmin, quando o tucano for concorrer à reeleição, ficando assim "na boca" para 2018. Só nessa condição Kassab se renderia aos projetos de Alckmin, se for o atual governador o grande mentor da candidatura tucana a prefeito, o que até agora não está claro.

A única forma de Kassab apoiar "de graça" os tucanos, ou seja, sem exigir nada em troca em relação ao futuro, é se o candidato for José Serra. Como Serra não se move — e nem Alckmin dá sinais de que está disposto a ter Kassab na vice —, o prefeito joga o capital político adquirido com seu o novo partido em favor de outros atores. O mais visível é Fernando Haddad, ungido por Lula. Mas, ainda assim, não é o jogo mais atrativo para o prefeito.

A candidatura de Haddad é hoje o plano "C" de Kassab para a própria sucessão. O prefeito lutou para fundar o PSD, fazer dele um partido "independente" do governo Dilma Rousseff. Portanto, sabe que não pode, no primeiro movimento eleitoral de peso do PSD — caso da prefeitura de São Paulo —, correr para se aliar ao primeiro petista candidato que aparece na sua frente. Até porque Haddad ainda não disse a que veio.

O prefeito sabe que, se indicar o vice na chapa de Haddad, estará fadado a ficar em segundo plano na política paulistana. E o prefeito planeja ser peça-chave no jogo de 2014. Ao indicar um candidato a vice-prefeito para a chapa do PT à prefeitura, reduziria o seu poder de fogo. Portanto, essa hipótese é considerada remota, embora não seja totalmente descartada diante das opções em estudo pelo PSD.

Por falar em peça-chave...
O único ator que se mantinha imperceptível até ontem no jogo de Kassab era o PMDB. Ao colocar Michel Temer como responsável pela distribuição das medalhas na cerimônia de ontem, o prefeito tratou de estender a mão ao padrinho da candidatura de Gabriel Chalita (PMDB-SP). Atualmente, Kassab não descarta sequer essa possibilidade de aliança. Afinal, Chalita, se não estiver no segundo turno, será fundamental para quem chegar lá. Por isso, o deputado peemedebista é cortejado tanto por Kassab quanto pelo PT de Haddad. E não está afastada a hipótese de, passando a um segundo turno, Chalita obter ainda um apoio dos tucanos capitaneados por Alckmin.

Ciente dessa possibilidade, Kassab tratou de aproximar o PMDB do seu quintal. Afinal, se tem algo crucial para o prefeito é não estar fora do segundo turno da eleição paulistana, seja como padrinho da vitória ou como seu parceiro desde o início. Do jeito que joga no momento, ele estará nesse barco vencedor, seja qual for. E errará feio quem subestimar as qualidades políticas de Kassab. Afinal, ele comanda a terceira maior máquina arrecadadora do Brasil. Do nada, fundou um partido que tem hoje quase 50 deputados. E montou tudo isso mantendo laços com os tucanos, se aproximando do PSB, do PT e, agora, do PMDB. A esfinge da mitologia tinha cabeça humana, corpo de leão e asas de águia. Se observamos a forma política do PSD, veremos que não é muito diferente, guardadas as devidas proporções. Kassab vive hoje o seu momento de "decifra-me ou devoro-te". Resta saber por quanto tempo terá condições de surfar nessa onda. Afinal, na política, elas não são eternas e, se Kassab optar pela canoa errada, corre o risco de perder tudo, assim como aconteceu com o DEM. Mas essa é outra história.

Cortina de fumaça - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 26/01/12


A cúpula do PMDB segurou temporariamente o presidente do Dnocs. O partido cobrou do ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração) reciprocidade, pois o defendeu quando ele esteve para cair. Para a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), foi dito que era inaceitável a desmoralização de seu líder, Henrique Alves (RN). Ficou combinado assim: quando a poeira baixar, Elias Fernandes deixará o cargo. A ideia é diluir a queda com trocas também na Sudene e na Codevasf.

Mais turbulência pela frente
Depois do Dnocs, a próxima crise do PMDB com o governo será a substituição do superintendente da Sudene, Paulo Sérgio Fontana. Ele é apadrinhado do peemedebista Geddel Vieira Lima, atual vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa. A maioria dos atuais diretores do Dnocs, da Sudene e da Codevasf vem do governo Lula. A bancada do Nordeste sugeriu nomes, ano passado, para a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), mas nada aconteceu. "O pior de tudo é a não definição. Ficar com interinos gera lentidão na tomada de decisões", disse o senador Wellington Dias (PT-PI). A presidente Dilma quer nomes técnicos.

"Meu projeto é concluir a construção das linhas de transmissão de energia para o Paraguai. A minha candidatura a prefeito de Foz de Iguaçu está mais para marola” — Jorge Samek, presidente de Itaipu

EFEITO MARTA. Como a senadora Marta Suplicy (PT-SP) se recusa a cumprir o acordo para ceder a vice-presidência do Senado a José Pimentel (PT-CE), Delcídio Amaral (PT-MS) também não pretende fazer um rodízio com Eduardo Suplicy (PT-SP) na presidência da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Tampouco Paulo Paim (PT-RS) vai deixar a presidência da Comissão de Direitos Humanos para Ana Rita (PT-ES).

Cabo de guerra
O PT quer reduzir o poder do PMDB na Funasa. Quer derrubar os superintendentes na Bahia, no Amazonas, no Pará e em São Paulo, ligados ao PMDB. No Amapá, o presidente do Senado, José Sarney, manteve o seu.

Saído
Apesar da pretensão de disputar o governo da Bahia, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli não pretendia deixar a estatal tão cedo. Ele foi substituído porque perdeu autoridade e não tinha mais o comando da diretoria.

Até tu, Dilma?
Na inauguração de uma creche em Angra, na semana passada, o governador Sérgio Cabral aproveitou para fazer propaganda do Rio para a presidente Dilma. "Não há cidade no mundo como o Rio onde, em meia hora, você sai do trabalho e está de bermuda na praia", disse ele. E a presidente: "O Rio e Paris, né?". O governador, que não perde uma oportunidade para dar uma escapada para aquela cidade, caiu na risada.

Bastidor
Desde a transição de governo que a presidente Dilma pretendia mudar a direção do Dnocs. O cargo só ficou com o PMDB porque seus dirigentes fizeram uma troca com o PT, pelo qual este manteria um dos seus à frente da Embratur.

Lambendo a ferida
Setores do PMDB estão irritados com o noticiário negativo provocado pela crise do Dnocs. Reclamam que o partido foi parar na lata do lixo, reabilitando o ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional), que assumiu a condição de faxineiro.

DIANTE do pedido do presidente Barack Obama para que seja facilitada a concessão de vistos para brasileiros, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) diz que o Brasil devia abolir o visto para americanos.

O SUPERINTENDENTE de Comunicação de Itaipu, Gilmar Piola, é pré-candidato à prefeitura de Foz de Iguaçu. Ele tem 13% nas pesquisas do PT. Nelas, a presidente Dilma, a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Jorge Samek (Itaipu) são grandes eleitores.

O DEPUTADO Otávio Leite (PSDB-RJ) quer que a nova presidente da Petrobras, Graça Foster, dê apoio para sua emenda que proíbe privatizar a empresa.

Por trás do plebiscito - DORA KRAMER


O Estado de S. Paulo - 26/01/12


À primeira vista, a ideia de transferir a decisão sobre a reforma política à população por meio de um plebiscito parece o melhor caminho para se começar a mexer num assunto sobre o qual o Congresso não consegue ou não quer se entender.

O deputado Miro Teixeira apresentou um projeto e o vice-presidente Michel Temer encampou a proposta, iniciando conversas a respeito no PMDB e no PT.

Seriam dois os pontos postos a voto em consulta popular a ser realizada junto com as eleições de 2014: sistema de votação - proporcional, distrital, distrital misto etc - e financiamento público de campanha.

Diante da resistência dos políticos em mudar as regras que os elegem embora distorçam a qualidade da representação, de fato o plebiscito soa como uma boa (talvez a única) solução.

Mas, há outra maneira de olhar a cena. Dois políticos, o senador Aloysio Nunes e o ex-deputado Arnaldo Madeira, ambos do PSDB, estudiosos do tema e defensores do voto distrital, discordam veementemente.

Acham que a tarefa do Congresso é intransferível e consideram, no caso da reforma política, o plebiscito não apenas desaconselhável como completamente inadequado, podendo até ser prejudicial.

O ponto-chave é a complexidade do assunto. "Como explicar à população de maneira correta todas as implicações decorrentes dos diversos sistemas de voto?", questiona Madeira.

Aloysio Nunes considera a missão impossível. Para ele, a tendência seria ocorrer uma simplificação por conta da campanha publicitária que, no lugar de esclarecer, resumiria tudo ao embate entre forças políticas. Como ocorreu no plebiscito sobre sistema de governo, em 1993, quando o debate sobre presidencialismo e parlamentarismo ficou reduzido a uma guerra de slogans.

Na visão de Aloysio e Madeira, no plebiscito sobre reforma política venceriam os interesses dos mais fortes, no caso PT e PSDB, que não conseguem fazer passar no Congresso suas propostas em prol do financiamento público e do voto em lista fechada, mas com campanha publicitária bem feita conseguiriam aprová-las no plebiscito.

Sem corrigir os defeitos reais do sistema, mas com a chancela da escolha popular.

Pia batismal. O diretor-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes, está para ser demitido porque, entre outras irregularidades, direcionou verbas da Defesa Civil para o Estado dele, o Rio Grande do Norte.

Acusação semelhante pesa sobre o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, chefe de Elias.

Se a questão é de padrinho, o de Bezerra (governador Eduardo Campos) é forte, mas o de Elias também: o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves.

Talvez a diferença esteja no apreço que Dilma dedica ao PSB de Bezerra e o desapreço que não disfarça em relação ao PMDB de Alves, Michel Temer e José Sarney. Os dois últimos responsáveis pelas indicações de Wagner Rossi e Pedro Novais, demitidos dos ministérios da Agricultura e do Turismo sob acusação de tratar o dinheiro público como propriedade privada.

Ainda no ar. Anunciado como novo integrante do governo da Bahia e futuro candidato ao governo do Estado pelo PT, o ex-presidente da Petrobrás Sérgio Gabrielli não tem nada garantido.

Duas de três secretarias que poderia assumir (Fazenda, Indústria e Comércio ou Planejamento) estão ocupadas por homens da extrema confiança e estreita relação pessoal com o governador Jaques Wagner.

Quanto à legenda para concorrer ao governo, o senador Walter Pinheiro postula a vaga e o governador só vai se movimentar mais à frente, de acordo com o que decidir para seu futuro: candidatura ao Senado, à Câmara ou tornar-se uma das hipóteses do PT para a Presidência em 2018.

Gabrielli contava sair da Petrobrás só depois do carnaval quando poderia obter dividendos dos patrocínios que distribuiu para blocos e trios de Salvador, conforme levantamento da equipe da sucessora Graça Foster.

Mesmo em crise, Europa compra - ALBERTO TAMER


O ESTADÃO - 26/01/12

A crise na zona do euro não afetou até agora o comércio entre o Brasil e a União Europeia. No ano passado, o Brasil exportou mais 22,7% e o superávit aumentou 6,1%. Isso pode mudar se nada for resolvido quanto à dívida soberana, que se discute há quase dois anos, e se a recessão se intensificar. Mas, por enquanto, não há sinais de desaceleração mais forte no comércio bilateral.

São números oficiais e definitivos divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, todos positivos para o Brasil. Eles surpreendem por dois motivos: a economia europeia não só está em forte desaceleração - deve ter crescido pouco mais de 1%- e, principalmente porque a Europa não está importando só produtos básicos, mas industrializados também.

A pauta mudou. Ao analisar esses números para a coluna, a secretária de Comércio Exterior do ministério, Tatiana Lacerda Prazeres, ressalta que "os produtos industrializados responderam pela metade das exportações brasileiras destinadas ao bloco europeu", contrastando com outros parceiros, inclusive os Estados Unidos.

É um comércio bilateral mais equilibrado que favorece a indústria nacional. Tatiana aponta que das exportações para o bloco europeu, 35,7% foram manufaturados e 14,2% de semimanufaturados. Uma tendência que vinha desde 2010 e se acentuou no ano passado. A União Europeia é hoje o segundo destino das exportações brasileiras de produtos industrializados, com vendas no valor de US$ 25,4 bilhões, o que representou 19,8% das exportações totais do setor que foram de US$ 128,3 bilhões.

O bloco ficou atrás somente de América Latina e Caribe,com exportações de industrializados de US$ 43 bilhões.

Ressalva. "Esses números mostram que a relação comercial com a União Europeia foi especialmente positiva em 2011 para o Brasil, em particular quando se leva em conta o contexto da crise econômica internacional.

Ainda assim, é importante registrar que o ritmo de crescimento das exportações para a Europa diminuiu 8,7% em comparação com igual período do ano anterior, o que nos leva a observar com interesse os desdobramentos da crise europeia e com preocupação sobre o seu impacto no fluxo comercial", diz Tatiana à coluna.

Urgência. Em reunião com o ministério, a presidente Dilma afirmou que há urgência para aumentar as exportações, principalmente, de produtos industrializados que criam mais empregos.

Exigiu da equipe econômica, Ministérios da Fazenda, Relações Exteriores, Banco do Brasil e BNDES propostas urgentes, para mais financiamento, dinamização do Proex e do Fundo de Financiamento às Exportações, aprovado pelo Congresso no fim do ano passado. E não é para março ou abril, mas em dez dias, na primeira semana de fevereiro, afirmou a presidente na reunião ministerial. O comércio com a UE vai bem, mas a forte desaceleração econômica do bloco, que se acentua, poderá anular os efeitos positivos da recuperação dos Estados Unidos, registrada nas últimas semanas. É um risco que, de acordo com Dilma, o governo está decidido a evitar.

Comércio bilateral também.

O comércio bilateral, importações e exportações, também não sentiu ainda os efeitos da crise na zona do euro. Ao contrário, aumentou nada menos que 20,8%, totalizando US$ 99,4 bilhões.

As importações brasileiras cresceram 18,6% no ano passado, mas as exportações aumentaram mais, 22,7%. Isso proporcionou um aumento de mais de 60% no superávit comercial que passou de US$ 4 bilhões para US$ 6,5 bilhões.

No ano passado, 8.203 empresas haviam exportado para a União Europeia e 22.402 importado o que se pode explicar pela maior facilidade que as pequenas e medias empresas têm para comprar do que vender, um processo ainda complicado.

O que eles compram? De tudo, principalmente produtos industrializados, informa o Ministério do Desenvolvimento (a lista completa está em www.mdic.gov.br.). Mas a liderança continua sendo minério de ferro e concentrados US$ 5,7 bilhões e 13,3% do total das exportações E os alimentos? Pesam, mas nem tanto. Os de sempre, tendo a frente o café cru em grão, US$ 2,8 bilhões, Neste item, os europeus estão importando grão e fabricando café solúvel e já se chegou a dizer, com alguma ironia, que eles "podem se tornar os maiores produtores de café do mundo... A pauta de commodities agrícolas não mudou muito nos últimos anos e também não ganhou mais peso.

O rombo e o marisco - CELSO MING



O Estado de S. Paulo - 26/01/12


O resultado das contas do Brasil com o exterior (exceto fluxos de capital) é negativo desde 2008. Mais do que isso, esse déficit vem crescendo e tende a aumentar.

Por enquanto, a cobertura desse rombo é feita, com folga, por meio da entrada de capitais de longo prazo – como se presume serem os Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs). Como são capitais de boa qualidade, digamos assim, não sujeitos a retiradas súbitas, caso dos capitais especulativos, não há, até onde a vista alcança, nenhum perigo de hemorragia de moeda estrangeira, o que deixaria a economia a descoberto.

Além disso, as reservas externas são de US$ 353 bilhões, altas suficiente de modo a desencorajar movimentos de fuga de capitais – risco que pode correr uma economia que gasta mais do que fatura com o resto do mundo.

Em princípio, um país em desenvolvimento como o Brasil tende a ter déficits em Conta Corrente – conjunto de transações com o exterior que englobam o fluxo de mercadorias (comércio), de serviços (transportes, turismo, seguros, juros, royalties, etc.) e de transferências de dinheiro entre parentes.

Déficits crônicos em Conta Corrente refletem, em princípio, consumo interno de bens e serviços além do conveniente. O governo Dilma não trabalha com a hipótese de que essa forte elevação do consumo prejudique o equilíbrio das contas externas, por estar mais interessado em impedir a valorização excessiva do real (alta do dólar) – fator que pode tirar competitividade do produto nacional. Mais despesas pagas ao fornecedor externo impulsionam a demanda de moeda estrangeira no câmbio interno e, pela lei da oferta e da procura, atuam contra a alta do real – consequentemente, a favor do pretendido.

Mas, a longo prazo, a perspectiva de ampliação do rombo nas Contas Correntes com o exterior não é a maior tensão que prevalece sobre as contas externas. Dentro de alguns anos, o País expandirá substancialmente receitas no exterior com exportações de matérias-primas (sobretudo minério de ferro e celulose); alimentos (soja, café, milho, açúcar e carnes); e petróleo. A médio prazo, a tendência à alta dessas commodities deverá multiplicar receitas em moeda estrangeira e reforçar a valorização do real.

O marisco, que ficará entre o rochedo e as ondas, será a indústria, com cada vez mais dificuldades para competir não só lá fora, mas também aqui dentro.

O problema de fundo não é, como tantos pensam ingenuamente, o câmbio adverso, que encarece o produto nacional e barateia o importado. É, sim, a falta de competitividade do setor produtivo brasileiro (não só o da indústria, como mostra o caso do etanol). E, por trás dessa baixa competitividade, está o alto custo Brasil: imposto demais; infraestrutura cara e ruim; juro escorchante; a quarta mais onerosa eletricidade do mundo; Justiça ineficiente; excesso de encargos sociais sobre a folha de pagamentos; burocracia; etc.

E, decididamente, o governo Dilma não está fazendo o suficiente para enfrentar essa enorme debilidade da indústria.

Embaixo do edredom do "BBB" - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 26/01/12


Indiciar Daniel é como a polícia prender um ator que teria realizado os crimes previstos no roteiro


Na madrugada entre sábado e domingo retrasados, o "brother" Daniel Echaniz, 31, e a "sister" Monique Amin, 23, deitaram-se numa cama do "Big Brother Brasil 12". Ao que parece, ambos estavam para lá de Bagdá.

Graças a câmaras hipersensíveis, os assinantes do "BBB" 24 horas entreviram assim uma movimentação sugestiva debaixo do edredom de oncinha que cobria Daniel e Monique. Alguns se indignaram porque, aparentemente, Daniel se agitava, enquanto Monique ficava parada.

Mais tarde, Monique disse se lembrar de beijos e amassos, e só: se Daniel tivesse feito mais, ele seria "mau-caráter", pois ela tinha desmaiado. Daniel afirmou que não houve relação sexual. Mesmo assim, ele foi expulso do "BBB" por "comportamento inadequado" e encara agora, "no mundo real", uma acusação de estupro (caso seja provado que ele transou com Monique enquanto ela estava inconsciente).

Quando eu era criança, durante um verão na Espanha, eu insistia para assistir a todas as touradas.

Não é que eu fosse um "aficionado" da cruel e requintada arte de tourear; eu só queria ver sangue na arena, esperava que, ao menos uma vez, o touro enfiasse seu corno na pança do toureador. Depois de um mês vendo cavalos de picador sendo feridos, tive "sorte": vi um toureador esventrado por um majestoso Miúra, da Andaluzia.

O espectador do "BBB" não é diferente de mim naquelas férias espanholas, e a Globo, no caso, aposta em sua curiosidade um pouco mórbida: a possibilidade que haja comportamentos inadequados é a razão para alguém ficar acordado de madrugada, assistindo ao "BBB" 24 horas. Tanto faz, você dirá: que os espectadores queiram comportamentos inadequados ou se indignem por causa deles, de qualquer forma, Daniel teria ido longe demais -transar com uma mulher inconsciente é crime.

Concordo. Mesmo assim, quando li que a polícia tinha indiciado Daniel, achei bizarro, como se as forças da ordem se metessem num palco de teatro ou num set de cinema, para prender um ator que teria realizado o crime previsto no roteiro.

Espere aí, alguém objetará, o "BBB" não é uma ficção! Esse, de fato, é o argumento de venda de todos os reality shows. No entanto, segundo, por exemplo, Scott Stone (roteirista de "The Mole", "The Man Show" etc.), os reality shows, antes de serem escrotos, são, sobretudo, escritos. Obviamente, eles não seguem um roteiro acabado, com cenas e diálogos detalhados, mas se alimentam numa sinopse escrita de situações, conflitos e alianças desejáveis entre personagens.

Daniel e Monique podem não ser atores, e o episódio do edredom pode não ser dramaturgia. Mesmo assim, as ações entre "brothers" e "sisters" do BBB não são propriamente "realidade".

No mínimo, os reality shows são parentes da "commedia dell'arte": improvisações a partir de um "canovaccio" (roteiro rudimentar), com personagens escolhidos porque eles correspondem às máscaras estereotipadas das quais o "canovaccio" precisa. De muitas dessas máscaras, aliás, espera-se que produzam comportamentos inadequados.

Então, se Daniel for acusado e processado, o "BBB" deveria ser acusado e processado com ele, por instigar o crime, ou seja, por ter, de uma certa forma, "roteirizado" o suposto estupro de Monique.

Em suma, a "realidade" produzida pelos "reality shows" é duvidosa, e considerar crime o "comportamento inadequado" de Daniel não é muito diferente de a polícia invadir o set de "Dormindo com o Inimigo" para salvar Julia Roberts e prender Patrick Bergin, o marido espancador.

Mas talvez eu esteja me preocupando por nada; talvez, nessa confusão entre realidade e ficção, a chegada de polícia e procuradoria ao "BBB" seja apenas mais um artifício dramático, para convencer o público de que o show é mesmo "de verdade".

Bom, nesta semana, além de Daniel e Monique, tivemos a grávida de quadrigêmeos factícia e a Luiza que está no Canadá. Não sei se Daniel e Monique se darão mal ou bem. Luiza ganhou vários contratos comerciais "reais". Resta que a mulher dos quadrigêmeos pode ser acusada de falsidade ideológica.

Será que é justo? Ela inventou uma história, que se tornou pauta e nos entreteve. Ganhou um dinheiro com isso? E por que não? Afinal, foi menos do que ganha um ficcionista médio.

Seja como for, Zé Simão é sortudo: sem querer desmerecer seu talento, é óbvio que o mundo (ou é só o Brasil?) faz de tudo para facilitar seu trabalho.

A política brasileira vai ao entretenimento - EUGÊNIO BUCCI



O Estado de S. Paulo - 26/01/12


No início, ainda no século 18, a imprensa criticava o poder. Aprendeu a influenciar e derrubar governos. Ao final do século 19 os magnatas da imprensa criaram pontes que os levaram pessoalmente ao poder. O americano William Randolph Hearst (1863-1951) foi um dos precursores. Dono de grandes diários espalhados pelos Estados Unidos, elegeu-se deputado. Na primeira década do século 20 tentou a prefeitura de Nova York e, depois, o governo do Estado de Nova York. Perdeu as duas disputas, mas abriu o caminho. Depois dele vieram outros, como o bilionário Michael Bloomberg, dono do canal de TV com o mesmo nome, que é o atual prefeito de Nova York.

Ao longo do século 20, como sabemos, os jornais cresceram e deixaram de ser apenas jornais. Misturaram-se ao rádio, ao cinema, à televisão, aos espetáculos em geral, e tudo isso se converteu na portentosa indústria do entretenimento, dentro da qual a imprensa é um reles departamento. Hoje essa indústria entra e sai dos gabinetes do Estado na hora que bem entende, do jeito que bem quer, a tal ponto que as fronteiras entre os dois mundos às vezes se esfumaçam. Veja-se a epopeia bufa de Silvio Berlusconi, o imperador da televisão comercial italiana, que governou o seu país como se os shows de TV e as salas de despacho fossem um palco só.

A imbricação entre política e entretenimento foi tão longe que até mesmo atores medíocres conseguiram ser levados a sério pelas urnas. Ronald Reagan foi um paradigma histórico na presidência dos Estados Unidos, enquanto Arnold Schwarzenegger se realizou no papel de governador da Califórnia. Palhaços pouco letrados viraram campeões de voto, como Tiririca. Foi nesse embalo globalizado que a nossa República, também ela, que um dia teria sido a "República dos Bacharéis", se foi tornando calmamente a "República dos Comunicadores". O político dos nossos dias aprendeu a ser star. O texto que ele recita é secundário, o conteúdo não pesa tanto: o texto, na política, está subordinado ao regime do estrelato.

Resumindo: se antes os donos dos jornais queriam uma ponte que os levasse aos palácios do poder, hoje os políticos é que querem atrair os holofotes do entretenimento, querem ser amados como animadores de auditório. Fazer política, na nossa era, é fazer parte da festa ininterrupta da famigerada "grande mídia".

Não que a coisa toda tenha piorado. Até que melhorou. Aquela "República dos Bacharéis", convenhamos, era tudo menos republicana. Hoje, pelo menos, podemos falar numa democracia menos elitista, menos encastelada, uma democracia um pouco mais "de massa", ainda que popularesca.

Mas há problemas, e como. Na longa remodelação da linguagem política, a ideologia deu lugar à eficiência publicitária e o ideólogo foi aposentado pelo "marqueteiro". Agora, a comunicação política não copia apenas os trejeitos típicos do entretenimento, ela copia também o seu vocabulário, deixa-se pautar pela indústria da diversão e olha para ela, a diversão industrializada, como quem olha para o próprio mundo real.

Três episódios recentes ilustram esse quadro.

O primeiro aconteceu em dezembro, quando a atriz Lília Cabral recebeu da revista IstoÉ o prêmio de Personalidade do Ano de Televisão. A presidente Dilma Rousseff, que também foi premiada na mesma noite, quis entregar pessoalmente o troféu à atriz. "É uma emoção muito grande receber o prêmio das mãos da presidente que é quem conhece melhor do que ninguém as Griseldas desse país", comoveu-se a atriz.

Em tempo: Griselda é a personagem que Lília Cabral interpreta na novela das 9 da Globo, Fina Estampa, escrita por Aguinaldo Silva. É a heroína da classe C por excelência, ou, melhor, a heroína de uma classe C idealizada: tem um forte senso moral, põe a família acima de tudo, batalha para crescer na vida e, evidentemente, ganha na loteria. Mais que a pessoa física da atriz, quem ganhou o prêmio foi a protagonista da novela. Foi também à personagem - e ao que ela simboliza - que Dilma Rousseff rendeu homenagens. Mais uma vez, a política reverenciou a ficção em troca de popularidade.

O segundo episódio veio da mesma novela Fina Estampa. Na trama, o ator Marcelo Serrado representa um mordomo afeminado, que por vezes se exalta, num tom soprano aspirado, com tiques e contratiques caricatos. O nome dele é Crô. Lá pelas tantas, o ator, não o personagem, resolveu dar qualquer declaração a respeito de beijo gay na televisão. Parece que ele falou contra o beijo gay, algo assim. Pois foi o que bastou para que o assunto explodisse na internet e mesmo nos artigos de opinião em grandes jornais, em debates acalorados. A ficção, de novo, liderou a agenda do espaço público.

O terceiro evento foi a entrada em cena da ministra Iriny Lopes (Políticas para as Mulheres). Na semana passada ela enviou um ofício ao Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro pedindo providências diante de uma suspeita de abuso sexual dentro do programa BBB, também da Globo. Pela primeira vez o poder público participou ativamente do maior reality show em exibição no Brasil. O circo pautou o ministério.

Há quem diga que é por oportunismo que os políticos reagem solícitos aos estímulos do espetáculo. Não é. Mais que oportunismo, cristalizou-se um deslocamento nos fundamentos mesmos do discurso político. A política não tem outra saída. Hoje, no que chamamos de Ocidente, os domínios da emoção popular não pertencem mais à religião, assim como já não pertencem ao fulgor das mobilizações de massa: elas foram monopolizadas pelas formas de representação típicas da indústria do entretenimento. A política, que precisa tocar a emoção do povo, teve, então, de virar entretenimento. Os sintomas aí estão. Todos eles. Os efeitos mais perversos é que ainda estão por vir.

Redução de danos - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 26/01/12


FÁBIO ZAMBELI (interino) 

Com a atuação da PM paulista na reintegração de posse do Pinheirinho contestada pelo Planalto, Geraldo Alckmin tentará se antecipar a Dilma Rousseff na oferta de moradias para os sem-teto expulsos da área. O tucano pretende apresentar hoje plano emergencial para acolher as famílias desalojadas sem que elas necessariamente entrem na fila do cadastro habitacional de São José dos Campos, seguindo critérios sociais.

A medida foi precipitada pela intervenção da Secretaria-Geral da Presidência, que programou para amanhã reunião com técnicos do Ministério das Cidades na qual discutirá o reassentamento dos invasores.

Censo Os detalhes do programa serão anunciados no Bandeirantes pelo secretário Silvio Torres (Habitação), que receberá do prefeito Eduardo Cury (PSDB) a lista definitiva de moradores atendidos nos alojamentos oficiais.

Tira-teima Seis cinegrafistas do governo paulista registraram a operação policial no terreno invadido. Compiladas, as imagens serão usadas na investigação interna de eventuais abusos e violações dos direitos humanos.

Melhor não Ao tomar conhecimento dos protestos no entorno da Catedral da Sé ontem pela manhã, Alckmin foi aconselhado por assessores a evitar a missa festiva de aniversário de São Paulo.

Alvo errado Gilberto Kassab, acossado pelos manifestantes na saída da celebração, reclamou reservadamente da ausência do governador. E deixou claro que o movimento era "contra o governo do Estado".

Ronda Depois da visita-relâmpago de carro à cracolândia, Alckmin volta hoje à região para acompanhar obras de escola técnica.

Conectado Xico Graziano, coordenador do programa de governo de José Serra na campanha presidencial de 2010, foi nomeado ontem assessor especial de FHC, com salário de R$ 8.988. Ele pilota o site Observador Político, mantido pelo ex-presidente.

Baixa A Força Sindical desistiu de participar do encontro das centrais com Dilma, previsto para hoje no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. A entidade quer ser recebida em Brasília.

Ideia fixa Na maratona de reuniões com sua equipe, Dilma lembrou que a "nova classe média" é mais exigente com os serviços públicos. A presidente cobrou atenção redobrada no atendimento das demandas do segmento. Em seus discursos, ela repete que não quer um país rico, mas "de classe média''.

Porteira fechada Fernando Bezerra procurou Michel Temer para manifestar desejo de montar sua própria equipe nos órgãos subordinados ao Ministério da Integração Nacional, como Dnocs e Codevasf.

Padrinho Com a iminente saída de Elias Fernandes do comando do Dnocs, o PMDB tenta convencer o Planalto a aceitar nova indicação de seu líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), para o posto.

Cobiça Negando pretensão de assumir a direção-geral de Itaipu, Paulo Bernardo (Comunicações) arrisca: "A verdade é que tem gente querendo a minha cadeira''.

Bandeirada A Infraero estenderá para o terminal 2 do aeroporto do Galeão, no Rio, o sistema de monitoramento de táxis que restringe a atuação de motoristas sem credenciamento. A empresa mudou a sinalização na rampa de desembarque para orientar os passageiros.

com ANDRÉIA SADI e DANIELA LIMA

tiroteio

"Tentam de tudo para fazer a candidatura de Haddad deslanchar. Mas ele parece mesmo o comandante do naufrágio na Itália. Afundou o Enem e saiu de fininho."
DO PRESIDENTE DO PPS PAULISTANO, CARLOS FERNANDES, sobre a festiva despedida do ex-ministro da Educação, pré-candidato à prefeitura, em meio ao anúncio do cancelamento de edição do Exame Nacional do Ensino Médio.

contraponto

Frota secreta

Em encontro com o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento), dirigentes de centrais sindicais elencaram categorias que, segundo eles, teriam os empregos ameaçados caso a política de importações do governo seja mantida. Paulinho da Força, presidente da Força Sindical, lembrou que até o carro oficial do ministro seria produzido no exterior. E anunciou:
-Vamos fotografar e mostrar para os trabalhadores!
Na saída da reunião, o sindicalista notou que o veículo de Pimentel havia sido retirado do estacionamento.

Como ser rico, livre e justo? - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O Globo - 26/01/12



Os Estados Unidos têm a maior economia do mundo e, em renda per capita, estão entre os dez mais ricos. Considerando apenas os países grandes, os EUA são os mais ricos. Além disso, trata-se de uma democracia. Logo, é esse o modelo a ser copiado, certo?

Mas olhem o momento: uma baita crise financeira e a evidência de que os mais ricos sempre se saem melhor. Na prosperidade, ganham mais, na queda, perdem menos. Além disso, empresas e bancos, na liberdade de mercado, só pensam nos seus lucros, dane-se o povo. Não, esse sistema não serve mais, nem para os americanos.

Passemos, então, para a segunda maior economia do mundo, a China. Crescimento médio anual de 10% ao longo de três décadas! Há empresas privadas, nacionais e estrangeiras, mas as estatais e o governo controlam firmemente os negócios, impondo limites à ganância do mercado. Para os países emergentes, em especial, esse capitalismo de estado seria o modelo ideal para o crescimento rápido e mais equilibrado, certo?

Mas é uma ditadura - e provavelmente o modelo só para de pé nesse ambiente autoritário. O controle do governo gera muitas ineficiências e corrupção, pois os negócios dependem sempre do "apoio" de um governante ou de um dirigente do Partido Comunista. Além disso, além de salários baixos, há muita desigualdade, sim. Em Shangai, o padrão de vida é europeu. No interior, há regiões mais pobres que a África. Não, esse tipo de crescimento não justifica uma ditadura.

Passemos, então, para a Europa, a ocidental, onde se pratica o capitalismo do bem-estar social ou a economia social de mercado. A Alemanha, terceira maior economia do mundo, é o exemplo acabado: democracia, empresas privadas pujantes, mas com forte regulação, e um governo que fornece serviços universais de qualidade. São ricos, livres e têm a proteção do Estado - eis o modelo, certo?

Mas custa muito caro. Isso exige uma carga tributária cada vez mais elevada e, mesmo assim, a dívida dos governos já chegou a níveis insuportáveis. Esse custo e mais o excesso de regulação e de governo retiram competitividade das empresas. Resultado: baixo crescimento, níveis elevados de desemprego, especialmente entre os jovens. As gerações atuais estão protegidas, mas os mais jovens percebem que o futuro não garante a boa vida dos pais. Não, o modelo parece não servir nem para os próprios europeus.

Eis o debate que ocorre mundo afora, inconcluso. Voltaremos ao tema, claro.

Vitória brasileira?

E por falar em modelo, a inflação aqui fechou o ano passado exatamente no teto da margem de tolerância, 6,50% - e isso foi considerado uma vitória do governo.

A meta de inflação no Brasil é de 4,5% - que, em si, já é elevada para os padrões mundiais. Além disso, admite-se que ela seja estourada em até dois pontos para cima, em situações excepcionais e fora do controle do BC.

No caso de 2011, o BC brasileiro sustentou que a disparada da inflação no fim de 2010 e início do ano passado decorria fortemente de um "choque de alimentos" - com seca ou excesso de chuva prejudicando colheitas mundo afora e, assim, provocando uma inflação global.

Pela regra do regime de metas de inflação, se os índices estão acima do ponto, o BC usa sua arma principal, a alta de juros. Isso funciona quando consumo e investimentos estão muito aquecidos.

Mas por que fazer isso quando a culpa pela inflação não está em um excesso de demanda, e sim em desastres climáticos?

Acrescente-se ao quadro que a economia mundial está em queda - e a história parece fechada. O BC não apenas não precisa subir juros, mas pode reduzi-los, como está fazendo, afirmando que a inflação voltará à meta de 4,5% em algum ponto deste ano, certo?

Convém reparar: a inflação bateu no teto com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) quase certamente abaixo dos 3%. Em 2010, a inflação havia sido menor (5,91%), com PIB acelerado, a 7,5%. Ou seja, em 2011, tivemos menos crescimento, com mais inflação - e esta é uma combinação ruim em qualquer perspectiva.

Considerando o período 2008/11, a economia brasileira cresceu menos de 4% ao ano. Já a inflação, sempre medida pelo IPCA, registrou média anual de 5,58%, acima da meta. De novo, crescimento baixo com inflação elevada.

Resumo da ópera: inflação de 6,5% pode ser um alívio, não uma vitória.

Olhando para a economia real, é claro que não teria feito a menor diferença se o IPCA tivesse alcançado, digamos, 6,6%. Mas com ou sem variações nas casas depois da vírgula, o fato é que o Brasil continua com capacidade de crescimento limitada e com um nível de inflação perigosa e persistentemente elevado. Ao comemorar os 6,5%, o governo passa uma imagem equivocada.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 26/01/12


Brasil deve desenvolver papel mais ativo no G20

DIRIGENTE DE BANCO CENTRAL ITALIANO AFIRMA ACREDITAR QUE PROBLEMA DE FINANÇA PÚBLICA DE SEU PAÍS ESTÁ SOB CONTROLE

"Não ficou muito claro o que [emergentes] querem fazer com esse maior peso no G20. Creio que é muito importante que desenvolvam um papel mais ativo", disse em entrevista exclusiva à Folha Fabrizio Saccomanni, diretor-geral do Banca d'Itália, o banco central italiano.

Sorridente e muito à vontade, algo raro entre dirigentes de bancos centrais, Saccomanni comentou que se questiona se o Brasil mudou a política monetária.

Muito ligado ao presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi, Saccomanni criticou a Alemanha e afirmou que "os EUA não estão fazendo quase nada para reduzir o desequilíbrio fiscal".

Saccomanni defende uma discussão global sobre taxas de juros e diz que exageram a crise europeia.

"Não é um problema só da Europa. Os últimos dados mostram que o crescimento do Brasil foi zero. A quem servem essas taxas?" A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Os remédios usados na crise estão funcionando?

Fabrizio Saccomanni - Acreditamos que o problema da finança pública italiana esteja sob controle. A Itália já está tendo superavit primário para pagamento de juros da dívida. Em 2013, a balança estará em equilíbrio. Naquele ponto, a relação entre dívida e PIB começará a cair.

Outras medidas estão sendo estudadas para reforçar o crescimento econômico, mas as medidas fiscais já estão reduzindo as taxas de juros no mercado internacional e o 'spread' com a Alemanha. Este chegou a 570 pontos e agora é de 450. A taxa de juros foi a 7,2% e está em 6,3%.

As perspectivas são de que, se o processo continuar, irá sustentar o crescimento e compensar os efeitos negativos das medidas fiscais. Esperamos que esse efeito negativo se concentre no primeiro semestre.

Há muita confusão e exagero em relação à crise europeia. A Europa tem seus problemas, mas creio que os dados da economia, como grande área integrada, são bons. Não tem problema de balança de pagamentos com o resto do mundo nem problemas fiscais, se compararmos com EUA, Japão, Inglaterra.

Qual a projeção para o PIB?

Para 2012 é redução de 1,5%. Para 2013, zero.

O pior passou? Há sinais de algum alívio nos mercados...

Sim. A estabilização também depende de expectativas da parte de operadores. De resto, uma indicação muito simples é a taxa de câmbio do euro, que continua a ser uma moeda forte. Apesar da polêmica sobre a crise da moeda, que ela iria acabar, operadores do mercado não pensam assim. O euro retornou a 1,30 ante o dólar. Quando o euro foi criado, valia 1,18.

Depois, com a queda de confiança, foi a 0,82 porque diziam que essa era uma moeda exaurida. O euro se apreciou ante quase todas as moedas. Então, as críticas à Europa são exageradas.

Os bancos italianos estão no topo da lista de tomadores de recurso do fundo do BCE.

É verdade. Os bancos italianos antes não tomavam recursos da Europa porque as taxas internas eram mais baixas do que as do BCE. Agora, todo mundo pede para o banco expandir a liquidez e os bancos italianos estão aproveitando. Temos muitos títulos para apresentar como garantia dessas operações e me parece normal usar os instrumentos de política monetária do BCE.

O sr. está confiante em relação ao refinanciamento das dívidas que vencem neste ano?

Sim, mas o problema é administrar expectativas de mercado. Criamos um clube de especialistas para gestão do débito público. Isso assegurou liquidez ao mercado e a colocação dos títulos. Agora, pensamos que o mercado retornará ao normal. A perspectiva é que o débito italiano cairá nos próximos anos e o refinanciamento não apresentará problemas.

Que pensa das iniciativas da Alemanha na crise?

No nível político, há forte empenho do governo alemão de reforçar a União Europeia, o controle de mecanismos de política fiscal e instrumentos da gestão da crise.

A Alemanha está preocupada com o risco de o BCE financiar o desequilíbrio público dos Estados. Precisa fornecer assistência aos países sem criar expectativa de que qualquer política, mesmo errada, será premiada ou perdoada.

É difícil, mas não há dúvida do empenho da Alemanha. O primeiro-ministro Mario Monti disse isso recentemente, teve ótima relação com a chanceler Angela Merkel.

Que pensa da discussão: injetar moeda na economia ou buscar austeridade fiscal acima de tudo. Ou as duas coisas?

O que se quer são as duas coisas. No longo prazo, uma economia não pode avançar só acumulando dívida. Um pouco é necessário para crescer, mas deve ser sobretudo para investimentos, para criar infraestrutura, atividades produtivas. Hoje, a Europa foi golpeada por uma crise financeira que não nasceu aqui e, sim, nos EUA. Creio que o modelo social europeu é mais estável que o americano, que, com essa ênfase no crescimento, cria períodos de grande expansão aos quais podem suceder períodos de contração. O europeu nos últimos 50 anos tem menos crescimento, mas mais estabilidade. E isso é o que os eleitores europeus pedem.

Que pensa do sistema monetário alemão, que separa política monetária e supervisão?

Creio que o sistema alemão tem mais pontos fortes. Mas não foi reformado. Tem grandes bancos privados, mas também muitos pertencentes a governos locais que são ineficientes. Então, a supervisão não tem sido tão eficiente como em outros países.

Como ter mais eficiência?

O sistema bancário precisa ser reformado e privatizado. Os bancos alemães tomaram muito risco e talvez tenham sido um dos canais da crise europeia. Creio que a supervisão bancária na Alemanha deve retornar mais em direção ao Bundesbank do que em direção à BaFin (autoridade de supervisão financeira federal). Houve um momento em que virou moda separar a supervisão dos bancos centrais. Agora penso que estamos voltando atrás. Na Itália, a supervisão sempre foi feita pelo Banco Central.

Há necessidade de mudanças no modelo?

Não, o modelo italiano funcionou bem, mesmo na crise. Os bancos italianos têm agora um problema de liquidez.

E o sistema brasileiro?

Parece que o BC mantém-se, depois de reformas no período de Fernando Henrique, um órgão independente. Seguiu uma boa política nos anos Lula, tem tido ótima performance. Agora alguns se perguntam se a presidente Rousseff é mais intervencionista. Acredito que a linha de fundo se mantém.

Houve surpresa e algum questionamento quando os juros começaram a cair sem muita comunicação...

Mas o fato é que há um fenômeno de tensão relativa ao crescimento global, de desaceleração. Estes países tiveram grande saída com o comércio internacional, com EUA e Europa, que estão se desacelerando.

O papel importante do Brasil será o do G20. É importante que países como Brasil, China e México desenvolvam papel mais ativo. Até agora, os emergentes viram o G20 como reconhecimento de sua importância no sistema internacional e pedem para ter mais peso. Mas não ficou claro o que querem fazer.

Quando se trata de estratégias de cooperação internacional, vejo que países emergentes como a China, mas também o Brasil, são sempre negativos, não querem influência externa.

O que sugeriria?

O Brasil deve estimular um equilíbrio do desequilíbrio internacional, em resumo. Os desequilíbrios que existem são certamente o problema do deficit americano, do superavit da China, de países produtores de petróleo etc. Precisa encontrar um modo de reduzir esses problemas. Uma das causas da recessão na Europa é que estamos fazendo política fiscal muito severa, certamente mais severa que nos EUA. O Brasil precisa manter aberto seu comércio exterior, não precisa tomar medidas protecionistas.

"Dizem que a presidente Rousseff é mais intervencionista que o presidente Lula, mas o pano de fundo da política monetária permanece"

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

Força da mudança - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 26/01/12
Há um ano, numa hora dessas, o mundo estava ainda de boca aberta com a Praça Tahrir. Cinquenta mil egípcios tinham atendido à convocação de protestar contra a ditadura de Hosni Mubarak. O espanto aumentaria nos 18 dias seguintes. O protesto chegou a reunir um milhão de pessoas e, nele, o país mostrou ao mundo a dimensão da sua persistência.

Mubarak foi deposto, preso, eleições foram convocadas e já há um parlamento eleito. No aniversário comemorado ontem os egípcios continuavam protestando. O que mais eles querem? Ora, o que pediram: democracia. O governo mudou um pouco para não mudar muita coisa. Mubarak sempre teve seu poder assentado sobre a força dos militares, que agora governam eles mesmos o país.

Leis de exceção continuam em vigor; os militares que não aceitaram a ordem de Mubarak de atirar na população permanecem presos, acusados de incitação à revolta e deserção; há muitas dúvidas sobre a possibilidade de haver uma eleição democrática para presidente. Pelo menos foi isso o que disse o prêmio Nobel Mohamad El-Baradei quando desistiu recentemente de disputar a presidência.

O mundo é que não é o mesmo depois daquele 25 de janeiro. O movimento que havia começado na Tunísia explodiu na Praça Tahrir e de lá contaminou uma série de outros países, derrubando governos e arrastando convicções.

A maioria dos analistas não tinha a menor ideia de que eventos dessa natureza poderiam mudar tão rapidamente o mapa político do Norte da África. Em um artigo na "Foreign Affairs", um desses especialistas no tema, F. Gregory Gause III, faz autocrítica. O título do artigo é bem sugestivo: "Por que os estudos de Oriente Médio perderam a Primavera Árabe. O mito da Estabilidade Autoritária". Nele, o cientista político admite que estava "totalmente errado" quando defendia que os Estados Unidos não deveriam incentivar a democracia no mundo árabe, porque as ditaduras eram aliados mais estáveis. Gregory Gause é há 20 anos professor de Oriente Médio em grandes universidades americanas.

Toda correção de rota foi feita depois dos eventos. Só então se descobriu que uma juventude mais educada que seus pais, mas desempregada, em redes de relacionamento de mídia social tem um alto poder de mobilização. Os especialistas haviam se dedicado a explicar a permanência dos ditadores, e subestimaram as forças da mudança.

Na Líbia, ninguém se surpreendeu com a ferocidade com que Muamar Kadhafi reagiu aos protestos, mas foi surpresa que seu porta-voz tenha sido o filho que foi mandado estudar em Londres, e que era supostamente a face suave do regime. Não há face suave em ditaduras sanguinárias. É a lição que Saif al Islam deu aos mais ingênuos. Hoje, o filho favorito está preso, e Kadhafi, morto.

A revolução que derrubou governos de três décadas, ou mais, na Tunísia, Iêmen, Egito e Líbia, continua inquieta. Novas mudanças virão. É um movimento em curso. A guerra civil permanece na Síria e há dúvidas em cada país sobre se a dinâmica dos acontecimentos levará a governos democráticos ou a novas formas de tiranias. O Egito sequer conseguiu se livrar completamente da velha tirania militar, ainda que seja difícil negar que o país já fez uma grande jornada.

A economia não tem ajudado. O Egito teve um crescimento do PIB de apenas 1%, para uma inflação de 11%, no ano passado, e que deve ficar, segundo previsão do FMI, no mesmo nível em 2012. O diretor de Oriente Médio do Fundo, Masood Ahmed, visitou o país recentemente atendendo a um pedido do governo para que apoiasse um plano de estabilização que incentive o crescimento econômico e a criação de empregos. A missão do FMI falou também com os grupos políticos diversos e com representantes da sociedade civil para ter uma visão dos vários lados da atual realidade política do país.

O Egito está fazendo uma transição histórica. A sociedade ganhou força. Mas construir democracia não é fácil, como nós bem sabemos. Aqui também temos trabalhado há 27 anos na longa tarefa de aperfeiçoar o regime democrático.

O Egito terá agora que lidar com suas diferenças. O movimento era por um governo civil e leigo. A eleição consagrou a Fraternidade Islâmica que, com o Partido Salafista, mais radical, conseguiu a maioria no novo parlamento. O Partido Salafista chegou defendendo a Sharia, o código religioso, que, se adotado, começa por tolher a liberdade das mulheres.

O que é fascinante na Praça Tahrir é tentar entender uma vez mais que mistério é esse que detona os processos de mudanças. Aquele protesto não era o primeiro a ser convocado. Pelo contrário, vários outros foram, com pouco sucesso. O dia foi escolhido porque era um feriado, o Dia da Polícia, quando os policiais estavam de folga. Tendo o protesto da Tunísia como inspiração - que 11 dias antes tinha derrubado Zine El Abidine Ben Ali - e a enorme insatisfação como motivo, os egípcios rumaram para a Praça Tahrir. E de lá não saíram nos 18 dias seguintes, mesmo quando a polícia de Mubarak chegou com seus cavalos. Eles voltaram ontem e querem mais mudanças.

SE QUISER FUMAR, EU FUMO, SE QUISER BEBER, EU BEBO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 26/01/12


"Vou tuitar: Sorry, Demi! Tô a um metro dele!", diz uma modelo no cercadinho VIP improvisado no festival Summer Soul, anteontem. "Ele" é Ashton Kutcher, recém-separado da atriz Demi Moore.

O ator chega ao Anhembi às 21h40, no show da banda Florence and The Machine. Está acompanhado de Bia Antony e das modelos Alessandra Ambrósio, Ana Beatriz Barros e Fernanda Motta.

No palco, Florence entoa o hit "Dog Days are Over" ["Os dias de cão acabaram"]. Kutcher, no Brasil para clicar a campanha de uma grife com Ambrósio, pula sem parar, canta e tira fotos.

Um segurança sai para comprar cerveja para Kutcher. O ator bebe, abaixa a cabeça e fuma escondido. Em 2011, quando também veio para a São Paulo Fashion Week, fumou em uma boate -prática proibida por lei-, e o local foi multado.

Ana Beatriz Barros pergunta a altura do ator. Pede pra ele se virar de costas e faz o mesmo. A irmã dela, Patrícia, decreta: Kutcher é mais alto. "Ele tem 1,90 m", diz Ana, que mede 1,82 m.

Ele recebe outro copo de cerveja. Um espectador, do lado de fora do cercadinho, pede uma "breja" pro guarda-costas e ouve que "não tem". "Mas que camarote é esse que não é 'open bar'?"

Seu Jorge sobe ao palco e várias modelos são autorizadas a entrar na área VIP. Kutcher troca olhares com algumas. Faz uma pausa na paquera para arriscar passos de samba com Bia Antony. Suas amigas Alessandra e Ana Beatriz decidem ir embora.

Kutcher pede para o empresário Marcos Campos convidar uma das mulheres que estão ali para ir embora com eles. Ela diz à coluna que se chama Gabriela e não é modelo. "Sou amiga do Marquinhos." Segue Kutcher e seu grupo até o backstage do cantor Bruno Mars. Todos ficam por lá meia hora. Às 23h30, Kutcher vai embora. Gabriela segue em outro carro. Enquanto isso, a ex-mulher Demi Moore era internada nos Estados Unidos por, oficialmente, "cansaço".

PEDINDO SOCORRO
Chegaram a 137, até o início da tarde de ontem, as internações de usuários de drogas após a operação na cracolândia, deflagrada no dia 3. Todas foram voluntárias. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, a taxa já supera a média mensal dos últimos 30 meses, de 96 encaminhamentos. Entre julho de 2009 e dezembro de 2011, houve 2.888 internações -182 involuntárias, das quais 85 foram de menores.

PRÓPRIAS PERNAS
A secretaria afirma ainda que também aumentou a busca espontânea por tratamento, sem encaminhamento de agentes de saúde.

GARFO E FACA
O governador do Rio, Sérgio Cabral, almoçará com o vice-presidente, Michel Temer, em Brasília, no dia 3. Vão discutir a aliança do PMDB com o PT nas cidades fluminenses para as eleições de outubro, que enfrenta resistências de grupos de ambas as legendas.

DEDICATÓRIA
Depois de citar "Capital da Solidão", de Roberto Pompeu de Toledo, em discurso no aniversário de São Paulo, ontem, a presidente Dilma Rousseff comentou com o tucano José Aníbal, secretário estadual de Energia: "Poxa, elogiei o livro, mas não disse que foi você quem me deu".

E O SALÁRIO, Ó
Os funcionários da Imprensa Oficial de SP estão sem receber o aumento referente ao dissídio coletivo, fechado em novembro. É o segundo ano seguido em que o reajuste atrasa.

A Imprensa Oficial diz que, por ser uma empresa de economia mista, as políticas salariais precisam ser aprovadas pelos órgãos de controle do Estado, onde a proposta de aumento ainda está tramitando.

DE BRINQUEDO
Bia Antony, mulher de Ronaldo, está tentando parar de fumar. Anteontem, no festival Summer Soul, no Anhembi, ela ficou o tempo todo usando um cigarro eletrônico. O aparelho emite uma luz que imita a brasa queimando e faz a pessoa inalar vapor de água.

MUSEU GALISTEU
Adriane Galisteu contou a João Doria Jr. no programa "Show Business" (Band), que vai ao ar no sábado, que a casa onde passou a infância, na Lapa, em SP, virou "museu" após a morte do irmão, em 1996.

"Mandei demolir a casa. Derrubei e construí outra igual, com tudo novo. Hoje, é lá que eu guardo os presentes que recebo de fãs. É um museuzinho nosso. Não vou vender, alugar. Vai ficar lá!", disse a apresentadora.

CURTO-CIRCUITO

O cantor Zé Renato se apresenta amanhã, às 21h, no Sesc Belenzinho. 12 anos.

O restaurante Villa Cioè reabre hoje em Higienópolis.

A Dior promove liquidação a partir do dia 28.

Os ingressos para "Priscilla - A Rainha do Deserto" começam a ser vendidos no dia 6.

A loja Montenapoleone faz liquidação até sábado.

com DIÓGENES CAMPANHA (interino), LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY