terça-feira, janeiro 03, 2012

Ai, se eu te pego - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 03/01/12

Uma irmã da coleguinha Mônica Hauser que vive em Israel é testemunha. Ontem, em Jerusalém, por volta de 14h, uns soldados entraram num ônibus com um som alto no celular, tocando... “Ai, se eu te pego”, do brasileiro Michel Teló. Os jovens de farda, acredite, cantavam a versão em hebraico e até arriscaram a coreografia.

Caravana rolidei

Desembarca semana que vem no Brasil, para um giro por Brasília, Rio e São Paulo, uma missão do Congresso dos EUA, chefiada pelo deputado John Boehner, presidente da Câmara de lá e terceiro homem mais poderoso de Washington. Deve ser terrível viver num país onde político adora viajar.

Deputado Romaric

A Assembleia Nacional do Palais Bourbon, em Paris, pode ter um deputado “brasileiro”. Romaric Büel, o produtor cultural e ex-adido, que vive no Brasil há mais de 20 anos, vai se lançar candidato pela esquerda. Pretende ser um dos 11 deputados que representarão os franceses fora da França.

Eleição municipal

Orlando Silva, o ex-ministro, será candidato a vereador em São Paulo pelo PCdoB.

Eu bebo sim

Pesquisa da agência Frog sobre o perfil do consumidor de cerveja premium no Brasil mostrou que 39% são... jornalistas ou publicitários. Os coleguinhas consomem seis vezes mais a bebida do que arquitetos e designers, por exemplo. A razão é... não sei.

Justiça, ó pá
Paulo Rocha, o galã português que vive Guaracy na novela “Fina estampa”, da TV Globo, será julgado quinta, em Lisboa, acusado de ter espancado o cantor conterrâneo Gonzo, em 2007. Pode ser condenado a três anos de prisão.

ESTE TRIO DE negões, formado pelos craques Lázaro Ramos, nosso ator, Hélio de La Peña, o
humorista boa-praça, e pelo cineasta Jeferson De, juntou-se para produzir um filme sobre futebol,
paixão nacional. O longa é baseado num texto do casseta Hélio. O protagonista será vivido por
Lázaro, sob a direção de Jeferson, também diretor do premiado “Bróder”

Primeira República
A equipe do CPDoc/FGV, coordenada pela socióloga Alzira Abreu, concluiu a redação do “Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro da Primeira República (1889-1930)”, com mais de 3 mil verbetes. A obra complementa seu famoso “irmão” dedicado ao período pós-1930, um dos principais livros já editados no país.

República Velha...

Alzira, depois de anos mergulhada nessa pesquisa, compra briga com quem chama aquele período de “República Velha”: — Não tem nada de velha. Foi um período estruturante da sociedade, marcado por movimentos importantes no sindicalismo e em defesa da mulher, por exemplo.

Mas...

Vai demorar uns meses até que os três volumes do “Dicionário da Primeira República” cheguem às livrarias e à internet.

Ameaça chinesa
Veja como é dura a recuperação econômica da Região Serrana do Rio, que voltou a ser castigada por fortes chuvas. A feirinha de Itaipava vendia, no fim de semana, calcinhas chinesas a R$ 5. Só que uma das bases da economia da área, mais precisamente de Nova Friburgo, é exatamente a moda íntima.

Por ti, Portinari

Elza Soares será uma cabrocha de Portinari no desfile da Mocidade Independente. A cantora virá como destaque do carro que representará as belas negras dos morros.

Turco Abravanel

Tiago Abravanel, que nunca teve destaque na emissora do vovô Sílvio Santos, vai fazer um turco na próxima novela de Glória Perez, na TV Globo.

No andar de cima

Hélio Viana, ex-sócio de Pelé, fez um desabafo no Facebook contra os convidados de uma festa que promoveu. É que pediu a cada um a doação de 5kg de alimentos em troca do convite. Mas só recebeu pouco mais de 100kg. — No próximo ano, não vou dar festa, vou doar o dinheiro direto para as crianças necessitadas e comemorar com elas.

Cabelo afro

Em dezembro, o Instituto Beleza Natural, rede de salões especializada em cabelos afro, tratou das madeixas de 4.000 clientes em suas filiais do Rio, do Espírito Santo e de Salvador. A rede recebeu, acredite, 55 caravanas lotadas de moças de estados em que não há filiais.

Condenado a torcer por Obama - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 03/01/12

Se Mitt Romney ganhar o "caucus" de Iowa hoje, tende a consolidar-se como o pré-candidato mais sólido para ser o nome da oposição republicana a Barack Obama.

Azar do Itamaraty: Romney será uma verdadeira usina de problemas para a diplomacia brasileira, a julgar por suas posições a respeito de América Latina.

James Bosworth, blogueiro do Latin America Monitor, incrustado no "Christian Science Monitor", levantou alguns dos pontos que Romney já colocou no papel.

Escreveu o blogueiro: "Estrategicamente, Romney vê duas grandes ameaças na região". A primeira: "Venezuela e Cuba estão liderando um movimento 'bolivariano' virulentamente antiamericano na América Latina, que busca minar as instituições de governança democrática e as oportunidades econômicas".

Sabendo-se o tratamento que os Estados Unidos, com governos democratas ou republicanos, dão a Cuba, fica fácil imaginar o problemão que será equiparar a Venezuela de Chávez à ilha caribenha. Chávez nem precisa de ações norte-americanas para sentir-se permanentemente ameaçado pelo "imperialismo". Imagine então se houver de fato alguma ação.

Ele fatalmente pedirá solidariedade a seus pares da Unasul e da recém-lançada Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe), ambas concebidas, pelo menos aos olhos de Chávez, como maneira de afastar a ingerência norte-americana em assuntos do subcontinente.

Segunda ameaça: "A região está também testemunhando uma epidemia de gangues criminosas violentas e de cartéis de droga, que espalharam morte e desgraça por México, América Central e Caribe".

A resposta de Romney, se eleito, seria criar uma Força-Tarefa Conjunta para Crime e Terrorismo no hemisfério, que "coordenará o trabalho de inteligência e de aplicação da lei". A força-tarefa seria o instrumento para "cortar todas as conexões financeiras, logísticas e materias" entre a região e os grupos terroristas externos, como o Hizbollah.

Parece desnecessário lembrar que essa iniciativa é uma revisita ampliada ao plano de usar bases na Colômbia pelos militares norte-americanos, que foi uma fonte de atrito direto com o Brasil. Se aconteceu assim com um projeto menos ambicioso, imagine a confusão que dará a tentativa de colocar todos os países da região em uma ação conjunta, que, fatalmente, teria a liderança dos EUA, dada a formidável disparidade de meios entre Washington e qualquer um dos países latino-americanos/caribenhos.

Por fim, Romney pretende, nos primeiros cem dias no cargo, lançar uma "Campanha para Oportunidade Econômica na América Latina", destinada a "contrastar os benefícios de democracia, livre-comércio e oportunidades econômicas com os males causados pelo modelo autoritário de Venezuela e Cuba".

Tem todo o jeito de ser uma retomada da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), posta em hibernação, aparentemente definitiva, justamente pelos desentendimentos entre Estados Unidos e Brasil.

O potencial de atritos é, portanto, enorme, em forte contraste com a placidez das relações Lula/Bush, Obama/Lula e Dilma/Obama.

Viver sempre também cansa - JOÃO PEREIRA COUTINHO


FOLHA DE SP - 03/01/12

O milenarismo pós-moderno é semelhante ao milenarismo antigo. Vaidade, tudo é vaidade



E PRONTO: aqui estamos nós em 2012, o ano em que o mundo vai acabar. Existem cenários para todos os gostos. O mais conhecido foi fornecido pelos maias, uma encantadora civilização bárbara que marcou encontro com o fim para dia 21 de dezembro próximo. Se o leitor gosta de comprar os seus presentes de Natal com alguma antecedência, o melhor é segurar as rédeas. O gasto pode ser inútil.

Até porque há muito por onde escolher: se o mundo não acabar a 21 de dezembro, pode acabar antes. Sem aviso prévio. Um cometa. Uma explosão solar. Um terremoto. Um maremoto. Uma guerra mundial (e nuclear). O primeiro pensamento inteligente de Hugo Chávez -tudo pode acontecer. Mas a humanidade não chega a 2013.

Deprimido, leitor? Não esteja. Ninguém está: lemos páginas e páginas dessas apocalípticas visões, espalhadas pela internet ou pela imprensa da virada do ano, e o tom é expectante, febril. Quase festivo.
E então concluímos como o milenarismo pós-moderno é bastante semelhante ao milenarismo antigo. Vaidade, tudo é vaidade.

Norman Cohn, um gigante do pensamento político contemporâneo (hoje esquecido), escreveu há mais de meio século uma obra fundamental sobre o assunto. Intitula-se "Na Senda do Milénio: Milenaristas Revolucionários e Anarquistas Místicos da Idade Média" (Editorial Presença, 1981, 334 págs.) e a ambição de Cohn foi, precisamente, mostrar o que havia de soberbo nas seitas revolucionárias e milenaristas da Europa medieval.

Os textos bíblicos anunciam a segunda vinda de Cristo e a instituição de um reino milenar antes do Julgamento Final? Amém.

Mas as seitas milenaristas, recrutadas no lúmpen da sociedade medieval por autointitulados profetas, não estavam dispostas a esperar que a história humana cumprisse o seu curso inexorável.
Tal como os bolcheviques na Rússia de 1917, era preciso "apressar" essa vinda redentora, o que implicava "remover" os obstáculos "impuros" (leia-se: judeus, membros do clero, grupos abastados etc.) que impediam a consumação da escatologia cristã.

Os massacres que se cometeram na Europa do Norte entre os séculos 11 e 16, e que Cohn recria magistralmente no livro, acabariam por ter a sua réplica, com o mesmo espírito utópico, mas uma redobrada violência e apuro técnico, pelos movimentos totalitários do século 20.

Hoje, o homem pós-moderno já não está interessado em precipitar "o paraíso na Terra", talvez por ainda ter presente os resultados pavorosos da última tentativa.

E, verdade seja dita, também não espera que, no termo da sua caminhada mundana, haverá a salvação dos justos e a perdição dos injustos.

Mas persiste ainda, na sua alma rigorosamente descrente, essa fagulha de vaidade milenarista: a vaidade típica de quem se considera um sujeito único na história; e, por isso mesmo, merecedor de assistir ao maior espetáculo do mundo sentado na primeira fila.

Fantasiar o fim do mundo é uma forma de nos fantasiarmos a nós como testemunhas desse fim do mundo.
E, além disso, é também uma forma conveniente de sacudirmos um pouco o tédio existencial da nossa condição pós-moderna, da mesma forma que os nossos antepassados medievais procuravam libertar-se da miséria material que os rodeava pela violência utópica.

Vaidade e tédio, eis a combinação dos nossos namoros apocalíticos. Que, às vezes, divertem.
A esse respeito, lembro-me bem do Réveillon de 1999, quando soaram as doze badaladas. A ansiedade estava ao alto: foram meses e meses com notícias tenebrosas de que um "bug" informático iria paralisar o mundo na chegada do ano 2000.

E, quando 2000 chegou, nada de nada. Ou, melhor dizendo, tudo de tudo: a mesma vida para viver; o mesmo trabalho para fazer; as mesmas contas para pagar; a mesma mulher, ou o mesmo homem, para suportar.

Na festinha onde me encontrava, lembro-me até da pergunta de um colega pasmo: "Era isso o bug?" Pergunta de desânimo, não de alívio.

Razão tinha o poeta. Viver sempre também cansa.

2012: a implosão! - TUTTY VASQUES

O ESTADÃO - 03/01/12

Sempre à frente de seu tempo, o prefeito Gilberto Kassab teve lá seus motivos para ficar feliz da vida com a meia-implosão do antigo Moinho Central de São Paulo logo no alvorecer de 2012. O Rio pode até se gabar dos fogos de véspera em Copacabana, mas nenhuma outra cidade do mundo tem know-how com explosivos para destruir dois andares inteirinhos de um prédio, sem detonar o resto da edificação.
No futuro, imagina-se, todo morador de apartamento vai pensar duas vezes antes de arrumar briga com o vizinho de cima – e vice-versa! –, sob risco de não ter para onde voltar de um feriadão com a família na praia. 
A vizinhança do velho moinho do bairro de Campos Elíseos voltou pra casa frustrada no domingo muito provavelmente por causa da sidra do réveillon. De ressaca, convenhamos, nenhuma implosão faz a cabeça de quem é retirado da cama num raio de 500 metros do epicentro da demolição planejada. 
Ninguém por lá parou pra pensar que a dor de cabeça teria sido muito pior se a Prefeitura tivesse utilizado a quantidade de dinamite necessária para por abaixo toda a construção.
Coisa de gente que não sabe beber, né não?

Faça humor…! Jader Barbalho deve ter, enfim, desistido de tentar fazer o filho caçula sucedê-lo na política. 
Depois da performance hilária do pequeno Daniel na cerimônia de posse do pai no Senado, cá pra nós, tá na cara que ele vai seguir os passos profissionais do tio Lúcio Mauro e do primo Lúcio Mauro Filho. 
O garoto é um comediante nato! 
Graças a Deus!

O futuro já começou Uma boa notícia para você que ainda não foi apresentado pessoalmente a um tablet: 
Já tem orangotango de zoológico americano treinado para operar a engenhoca. 
Ou seja, logo chegará sua vez!

Só o que faltava! A que ponto chegamos: 
Já tem camelô por aí vendendo prótese de seios de silicone francês dizendo que o produto é do Paraguai. 

Elementar A polícia carioca não encontrou dificuldades para esclarecer antes da virada do ano o caso da moça que deu um tiro na própria mão e tentou botar a culpa em Adriano.
O Imperador, como se sabe, só dá tiro no próprio pé.

Sol no ralo Se não faz a menor questão de ir à praia, francamente, Dilma Rousseff devia passar as férias no Rio em vez de ficar desperdiçando Sol na Bahia. 
A oposição já fala até em CPI!

Concorrência desleal Propaganda de protetor solar na TV pede aos consumidores moderação com as redes sociais e os videogames durante o verão. 
Ou vão acabar quebrando a Sundown!

Rescaldo da festa Quinze minutos de queima de fogos é como filme de três horas de duração: Por melhor que seja, cansa assistir até o final!

A dor de cabeça - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 03/01/12


O ex-ministro Ciro Gomes é uma fonte permanente de preocupações no Planalto. A presidente Dilma trabalha com a hipótese de que o aliado pode criar confusão na sucessão de 2014. Mesmo que ele não tenha o apoio do PSB, o fato de ele já ter disputado a Presidência e ser um nome forte o habilita para voltar a concorrer por um outro partido. Para os estrategistas do governo, o ideal é que a confusão fique apenas no campo da oposição.

São Paulo na linha de tiro
Os governadores da maioria dos estados estão cobrando da presidente Dilma o envio, no primeiro semestre, de uma reformulação do processo de arrecadação do ICMS produzido pelo comércio eletrônico. Pelas regras atuais, a parte do Leão fica com o estado de São Paulo, que hospeda a maioria dos sites de venda do país. As mudanças ainda estão em análise, mas esses governadores já receberam a garantia de que uma parcela desse ICMS será repassada para o estado do consumidor. Os paulistas, no governo Dilma e fora dele, petistas ou tucanos, fazem pressão e estão segurando a edição de nova regulação do e-comércio.

"O PSD é um partido feito por pessoas que não têm uma história” — José Agripino, senador e presidente do DEM (RN), partido que perdeu 17 deputados federais, um senador, e um governador para o PSD

PROMOVIDO. O ministro Luiz Sérgio (Pesca) teve um dia de ministro da Aviação Civil. Passageiros irritados com o caos aéreo ontem, no Santos Dumont, reconheceram Luiz Sérgio e passaram a reclamar com ele da situação do aeroporto. Ele até tentou se esconder atrás de um livro, mas não teve jeito. Foi reconhecido. E acabou saindo de fininho. A chuva e o grande movimento da volta do feriado provocaram os atrasos.

Passivo
O governo vê na briga por terras das comunidades quilombolas uma das pautas mais explosivas da área social. Ontem, integrantes de uma comunidade protestaram na entrada da base naval onde a presidente Dilma passa as férias.

Embate adiado
A discussão sobre o reajuste dos aposentados, que quase derrubou a votação do Orçamento, volta à pauta em fevereiro. A negociação será conduzida pelos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) e Garibaldi Alves (Previdência).

Sem chance de poupar Kassab
Apesar de uma corrente do PT paulistano defender um pacto de não agressão com o prefeito Gilberto Kassab (PSD), de olho em uma aliança em eventual segundo turno nas eleições do ano que vem, dirigentes do partido afirmam que é impossível fazer uma campanha para a prefeitura de São Paulo sem bater em sua administração. A cautela também se deve ao fato de o PSD ser aliado do PT Brasil afora.

Carga petista
Uma ala do PT está trabalhando ativamente para fazer do deputado Newton Lima Neto (PT-SP), ex-reitor da Universidade de São Carlos, o ministro da Ciência e Tecnologia. Se isso ocorrer, o ex-deputado José Genoino volta à Câmara.

Enigmático
O secretário de Assistência Social do Rio, Rodrigo Neves, fala das eleições para a prefeitura de Niterói: "Estou focado no trabalho na secretaria. Candidaturas só se definem em junho. Acho que chegaremos a um candidato sem disputa".

FECHADO PARA BALANÇO: Aproveitando as férias da presidente Dilma, os ministros debandaram. Não há vivalma na Esplanada dos Ministérios.

O GOVERNADOR Sérgio Cabral (RJ) escreve dizendo que "não se candidatará ao Senado novamente". Ele diz que cumprirá todo seu mandato com o objetivo de reconstruir o Rio e garantir a pacificação, comandada pela Segurança Pública.

BANDEIRA. De olho nas eleições do ano que vem, o PMDB organiza o lançamento de uma Frente Parlamentar de Fortalecimento da Gestão Pública.

País gasta muito com seguro-desemprego - JOSÉ PASTORE


O Estado de S. Paulo - 03/01/12


O Brasil é o único país no mundo em que o emprego cresce e as despesas com seguro-desemprego disparam. O paradoxo decorre de instituições de má qualidade no campo do trabalho. Explico-me.

Para fazer jus ao seguro-desemprego, o empregado precisa ter trabalhado pelo menos seis meses com registro em carteira. Para poder sacar os recursos depositados no FGTS, o empregado necessita completar um ano de serviço, desde que dispensado sem justa causa.

Vejamos o que ocorre com um empregado que ganha R$ 1 mil por mês e que completa um ano na mesma empresa. As estimativas a seguir são feitas com aproximações e sem considerar os descontos de lei.

Se ele for dispensado sem justa causa, terá acumulado R$ 1.040 na sua conta do FGTS (inclusive a parcela do 13.º salário). No caso de ser desligado da empresa sem justa causa, sacará esse montante e receberá R$ 400 a título de indenização de dispensa, perfazendo R$ 1.440. Além do salário do mês, como parte das verbas rescisórias, ele terá direito a R$ 1 mil de 13.º salário e R$ 1.333 a título de férias e abono, o que no agregado soma R$ 3.773. Uma vez despedido, ele receberá quatro parcelas no valor de R$ 763,29 a título de seguro-desemprego, ou seja, R$ 3.053,16. Em resumo: para viver nestes quatro meses, o empregado em tela disporá de R$ 6.826, o que dá uma média mensal de R$ 1.706, ou seja, 70% a mais do que ganhava quando estava trabalhando.

Até aqui foi tudo legal. Mas, com a atual falta de mão de obra, o referido trabalhador pode se reempregar com facilidade. Para não perder o benefício do seguro-desemprego, muitos procuram um emprego informal. Digamos que o protagonista do exemplo consiga ganhar R$ 1 mil nessa atividade, ou seja, R$ 4 mil durante os quatro meses. O ganho total no período subirá para R$ 10.826, que dá uma média de R$ 2.706 mensais! Além disso, há o abono salarial.

Numa realidade desse tipo, não é à toa que tanta gente utilize esses expedientes. Isso ocorre principalmente entre os empregados de baixa renda. Os dados mostram que, em 2010, 85% dos saques do FGTS foram feitos em contas cujo saldo médio era de apenas R$ 1 mil (tendo totalizado R$ 12 bilhões). Para quem ganha R$ 1 mil por mês, um acréscimo de renda de 170% é de extrema valia.

É assim que se explica por que os pedidos de seguro-desemprego aumentam numa hora em que (ainda) são abundantes as oportunidades de emprego. As despesas explodem. O pagamento do seguro-desemprego e do abono salarial consumiu em 2011 cerca de R$ 32 bilhões - quase 20% acima do que se gastou em 2010.

Uma parte do estouro das despesas foi devida à elevação do salário mínimo em 2011. E o que ocorrerá em 2012? O salário mínimo será de R$ 622 mensais - um aumento de 14% em relação a 2010. O governo que se prepare. As despesas com seguro-desemprego e abono salarial explodirão.

Mas essa é só uma parte da história. A outra, de maior impacto, vem da combinação das estratégias acima descritas e ganha força num mercado de trabalho aquecido. A rotatividade aumenta porque muitos empregados "provocam" sua demissão (sem justa causa) e entram na ciranda das benesses.

Esse é um bom exemplo de como más instituições induzem a perigosas distorções. Está na hora de fazer uma boa revisão das leis que dão suporte a essas manobras. A exigência de aceitar um emprego oferecido pelo Ministério do Trabalho (criada em setembro de 2010) é uma boa medida, mas ainda é tímida. Uma reforma de profundidade exige a combinação do seguro-desemprego e do FGTS com programas de treinamento e com a própria aposentadoria. Mas esse é um assunto complexo que fica para outra oportunidade. Ademais, os recursos do FGTS pertencem aos trabalhadores, que já vêm sendo expropriados por uma taxa de juros ridícula, e a eles cabe a primeira palavra.

PÃO E FERMENTO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 03/01/12
O Memorial da América Latina pagou cachê de R$ 38 mil para uma apresentação beneficente que Fafá de Belém fez no local, no último dia 18. O ingresso era um quilo de farinha para o projeto Padaria Artesanal, que a primeira-dama Lu Alckmin comanda no Fundo Social de Solidariedade.

QUEM DERA
O cachê de Fafá equivale ao preço de 18.181 sacos de farinha vendidos no Pão de Açúcar. "Ninguém cede cachê para ação beneficente de final de ano", diz Fernando Calvoso, diretor de atividades culturais do Memorial. "Devem ceder para coisas como [eventos da] Rede Globo, que têm divulgação. Mas para nós, nunca houve." A assessoria de Fafá diz que ela não foi informada de que o show era beneficente.

PARA TODOS
A OAB-SP vai aproveitar a revelação dos pagamentos de retroativos de até R$ 1 milhão para desembargadores do TJ-SP para pedir urgência na criação de um Comitê Gestor de Precatórios. "Enquanto milhares de credores passam anos tentando receber, fica a dúvida se foi seguido o rito judicial e a ordem cronológica de pagamentos para esses magistrados", diz Flávio Brando, da Comissão de precatórios da OAB.

FILA DE ESPERA
Uma resolução de 2010 do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) instituiu os comitês gestores de precatórios no país. O grupo deve ter representantes do Estado, dos credores, dos tribunais e da OAB. A Ordem quer discutir o tema com o novo presidente do TJ-SP, Ivan Sartori.

TONELADAS A MENOS
O Vigilantes do Peso contabilizou que seus associados paulistanos perderam, no total, 59,3 mil quilos em 2011. O Tatuapé lidera, com 8.000 kg, seguido por Santa Cruz, com 6.000 kg. O emagrecimento no Estado foi de 106 mil quilos.

ANO NOVO, VIDA NOVA
As atrizes Lília Cabral, Christiane Torloni, Julia Almeida e Monique Alfradique passaram o Réveillon na festa do Copacabana Palace. O dramaturgo Manoel Carlos também festejou o Ano Novo no hotel, no Rio de Janeiro.

PÉ DIREITO
A modelo Alessandra Ambrósio comemorou o Ano Novo em Jurerê Internacional, ao lado da DJ Tatiana Fontes. Matheus Mazzafera e Thiago Viana também passaram a virada em Florianópolis.

BELAS ARTES - parte 2
André Sturm, do Belas Artes, está "otimista" quanto à reabertura do cinema, após decisão judicial que retoma o processo de tombamento. "Já temos parecer técnico favorável do Condephaat." Com a disputa, R$ 1 milhão de aluguéis e de IPTU deixaram de ser transferidos ao dono do imóvel.

TELA CLEAN
Se conseguir reabrir o Belas Artes, Sturm quer refazer toda a decoração. "Penso numa coisa mais clean, inspirada em arte contemporânea. E instalar projetores e iluminação de melhor qualidade." Ele diz que os patrocinadores com quem tinha fechado contrato para manter o cinema aberto continuam interessados. O dono do imóvel não atendeu a coluna.

POESIA
A nova âncora do "Jornal Nacional", Patrícia Poeta, tirou folga no Réveillon, mas não deixou a simpatia em casa. Ela passou alguns dias no resort Nannai, em Porto de Galinhas (PE), com o marido, Amauri Soares, e o filho. Tirou fotos com fãs na virada de ano, fez ginástica na academia do hotel e desfilou de biquíni pela piscina.

ONDA
Ronaldo e Bia Antony festejaram a virada para 2012 na festa que o empresário Henrique Pinto deu em uma fazenda de búfalos de Trancoso, onde o casal tem casa. Nas picapes, Pierre Sarkozy, filho do presidente da França, Nicolas Sarkozy.

CURTO-CIRCUITO

A banda britânica The Sisters Of Mercy faz show no dia 10 de março, às 22h, no Via Funchal, em São Paulo. 12 anos.

O festival de teatro Repertório - O Masculino da Cia. Suno começa no sábado, no Sesc Pinheiros, às 16h. Classificação: livre.

A peça "Turma da Mônica no Mundo do Circo" reestreia no sábado, no Circo dos Sonhos. Livre.

Três alunos da faculdade Santa Marcelina farão estágio na grife de moda praia Yamamay, em Milão.

O espetáculo "Festim Diabólico" estreia no dia 20, no teatro Nair Bello. Classificação: 16 anos.

O Prêmio Rio Moda Hype acontecerá nos dias 10 e 11, às 22h, no Píer Mauá.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Além dos números - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 03/01/12
Mais importante que definir que ter o sexto Produto Interno Bruto (PIB) do mundo não significa ter um país melhor - estamos em 84º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); em 88º no Índice de Desenvolvimento Educacional; ainda somos um dos mais desiguais na distribuição de renda do mundo, apesar dos avanços recentes - é entender que, para deixarmos de ser o 73º país no ranking de renda per capita, temos que encarar as reformas estruturais de que o país necessita para crescer sustentavelmente, principalmente na educação.
Mesmo porque a previsão de que passamos o Reino Unidos se baseia em expectativas de crescimento e câmbio que estão sujeitas a alterações que podem mudar novamente o ranking, embora a crise financeira internacional torne quase inexorável a ascensão dos países emergentes.
A Goldman Sachs, que "inventou" o acrônimo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para tornar palpável o crescimento dos emergentes, considera que é possível que dentro de 18 anos a economia da China venha a ser tão grande quanto a dos Estados Unidos.
Desde o início da crise financeira internacional, em 2007, os Brics respondem por cerca de 45% do crescimento global.
A soma do PIB dos Brics pode alcançar a dos países que compõem hoje o G-7 por volta de 2032, sete anos antes do previsto inicialmente.
Com relação ao Brasil, um estudo do empresário Paulo Cunha mostra que, se a renda per capita brasileira tivesse crescido até hoje à mesma taxa do período de 1900 a 1980, estaríamos com 35% da renda dos americanos - próximos do Chile e melhores que o México.
E se tivéssemos crescido mais aceleradamente, ao ritmo registrado entre 1950 e 1980, quando crescemos a uma média anual de 7%, (nosso PIB registrou médias asiáticas: 7,15% de 1950 a 1959; 6,12% de 1960 a 1969; e 8,78% de 1970 a 1979), estaríamos hoje com 48% da renda americana, semelhante à de Portugal.
Ao contrário, se de 1900 a 2004 a renda per capita tivesse crescido no ritmo dos últimos 25 anos, nossa renda seria equivalente a 18% da renda atual, o que corresponderia às rendas do Quênia e da Nigéria - estaríamos entre os 15 países mais pobres do mundo.
O PIB per capita do Brasil em 1980 equivalia a 30,5% do dos Estados Unidos; em 2009, essa relação caiu para 22,7%.
Ao contrário, no mesmo período, o PIB per capita da Coreia do Sul em Paridade de Poder de Compra (PPC) equivalia a 18,8% do norte-americano, quase a nossa situação hoje, e era 60% menor do que o PIB per capita brasileiro naquela ocasião.
Mas nesses 30 anos a Coreia do Sul conseguiu aumentar o percentual em relação aos Estados Unidos para 60,3%. Esse avanço tem a ver principalmente com o salto de qualidade no ensino que o país deu nos últimos anos.
Até 1980, o Brasil cresceu mais que a média mundial: de 1900 a 1980, a renda per capita brasileira cresceu em média 3,04%, enquanto a renda mundial cresceu 1,92%.
O período de maior crescimento foi o de 1950 a 1980, que alguns classificam como os "anos dourados", quando o país cresceu em média 4,39% sua renda per capita, para um crescimento médio mundial de 2,83%. Nesse período, o Brasil figurou entre os dez países mais dinâmicos do mundo.
A partir daí, assistimos a uma redução de 90% do ritmo de crescimento per capita - de 4,39% para 0,43% de 1980 a 2004.
No trabalho "Redução da desigualdade da renda no governo Lula - Análise comparativa", o professor Reinaldo Gonçalves, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostra que no período de 2001-10 o Brasil teve uma taxa média anual de crescimento do PIB real per capita de 2,2%, inferior à média de um painel composto por 12 países da América Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Honduras, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
O crescimento médio anual do país no período de 1995 a 2009 foi de 2,9%, fazendo com que a elevação da renda tenha sido de apenas 22%, contra 100% na Índia e 226% na China no mesmo período.
Mesmo crescendo a apenas 3% ao ano (previsão que já está sendo reduzida pelos especialistas), o PIB brasileiro aumentará mais que o dos países europeus e o dos Estados Unidos nos próximos anos, o que coloca o país no G-6 da economia mundial.
Mas crescerá menos que emergentes como China e Índia. Devido ao baixo índice educacional e à falta de infraestrutura, Brasil e Índia crescerão em velocidade menor que Rússia e China nos próximos 20 anos, segundo estudo da Goldman Sachs, criadora dos Brics.
Mas, mesmo a lista das dez maiores economias do mundo devendo ser bastante diferente da de hoje nos próximos anos, há um detalhe fundamental: as maiores economias, medidas pelo Produto Interno Bruto (PIB), provavelmente continuarão não sendo as mais ricas em termos de renda per capita.
Pelas projeções, os cidadãos dos Brics continuarão sendo mais pobres na média que os cidadãos dos países do G-6 de hoje, com exceção talvez da Rússia.
O Brasil, se conseguir manter uma média de crescimento do PIB de 3,5% ao ano, chegará a 2050 com uma renda per capita de US$26.500, próximo à de Portugal hoje, muito longe do que já têm hoje França e Alemanha (cerca de US$44 mil), menos do que o Japão (cerca de US$45 mil) e os Estados Unidos hoje (cerca de US$48 mil).
Para piorar a perspectiva, mesmo com a crise financeira internacional, o PIB per capita dos maiores países continuou crescendo, mesmo o do Japão, que está em recessão há quase 20 anos.
Portanto, mesmo que chegue a ser a 5ª economia de um mundo conturbado, o país continuará tendo desvantagens competitivas sérias.
Os países que fazem parte da OCDE, os mais avançados do mundo, aplicam cerca de 7% do PIB em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil não passa de 1%, sendo suplantado largamente por Coreia do Sul e China, países que estavam atrás de nós nesse setor nos anos 1980.
A participação brasileira na produção mundial caiu de 3,1%, em 1995, para 2,9%, em 2009, o que denota falta de competitividade. No mesmo período, a China saltou de 5,7% para 12,5%, e a Índia foi de 3,2% para 5,1%.
Em 1960, a Coreia já tinha escolaridade média superior à do Brasil em 1,4 ano de estudo, e essa diferença só fez aumentar de lá para cá, estando atualmente em mais de seis anos.

Ideias e acontecimentos - VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE SP - 03/01/12

Em "Antropologia do Ponto de Vista Pragmático", o filósofo Immanuel Kant apresenta sua considerações a respeito do caráter dos povos. Lá encontramos páginas sobre os ingleses, alemães, franceses, espanhóis, turcos, entre outras nacionalidades.
Mas há nisso tudo um detalhe intrigante. Kant nunca saíra de sua cidade, Köninsberg (hoje, Kaliningrado). Não por outra razão, as tais páginas são um conjunto bisonho de lugares-comuns.
Esta pequena anedota diz muito a respeito de uma certa maneira de pensar que consiste em acreditar que a experiência nunca fornecerá nada capaz de reorientar uma ideia clara. O acesso à experiência acumulada em livros e relatos já forneceria o embate necessário para nos orientarmos no pensamento.
Qualquer coisa que eu, enquanto particularidade, experimente seria parcial, limitado e restrito a um contexto. Por essa razão, seu valor seria muito frágil.
Quase 200 anos depois, outro filósofo, Michel Foucault, resolveu fazer um caminho inverso. "Há muitos acontecimentos do mundo que forçam o pensamento a se reorientar", dirá Foucault. "Devemos ir lá onde tais acontecimentos estão."
E com tal ideia na cabeça, o filósofo francês foi ao Irã acompanhar de perto a revolução que acabou por levar o aiatolá Khomeini ao poder. Vários artigos seus sobre tal processo apareceram no jornal "Corriere dela Sera".
As análises de Foucault não passaram à posteridade como o melhor exemplo de acuidade. De fato, ele compreendeu posteriormente os riscos nos quais a revolução tinha entrado, mas espera-se de um filósofo que ele consiga apreender os riscos antes deles estarem evidentes a todos.
Se a força da ideia, assim como a crença de que não há nada de novo sob o sol, pode nos cegar, o mesmo vale para o entusiasmo pelo acontecimento.
Entre estes dois polos, encontramos uma peculiar afirmação feita por um terceiro filósofo, Theodor Adorno. Logo após a audição de uma peça de John Cage, "Concerto para Piano", Adorno volta para casa e escreve: "Eu não sei exatamente o que pensar".
Diante de um acontecimento tal como a obra de Cage, Adorno reconhecia que o melhor a fazer era dizer: "Eu não sei o que isto significa, só sei que precisarei de tempo para o pensamento voltar a se orientar". Abdicar deste tempo devido ao medo diante da angústia da indecisão seria o pior de todos os erros.
Este é o erro que cometemos com mais facilidade. Ele é o que mais fere. Às vezes, a indecisão prolongada é o tempo que o pensamento exige para se reconstruir diante dos acontecimentos.

Hora de regulamentar o Terceiro Setor - RODRIGO BAGGIO


O ESTADÃO - 03/01/12
As organizações não governamentais (ONGs) ganharam força, no nosso país, a partir do processo de redemocratização política que se deu após o período da ditadura militar (1964 a 1985). Mas foi no final dos anos 80 que se intensificou o debate nacional e internacional sobre a incapacidade do Estado de atender às demandas sociais da população e a necessidade de fortalecimento da sociedade civil nesse processo, ampliando a difusão dos conceitos de Terceiro Setor e responsabilidade social corporativa.
Nessa época crescia no Brasil a consciência do empresariado a respeito da necessidade de se promoverem transformações sociais que fossem muito além do assistencialismo e atendessem às reais necessidades da população. E foi assim que, no início da década de 1990, surgiram importantes iniciativas voltadas para os campos da educação, da inclusão digital, do meio ambiente e da sustentabilidade.
Não podemos deixar de mencionar iniciativas importantes, como a Ação da Cidadania, criada em 1993 pelo sociólogo Herbert de Souza, o saudoso Betinho, a partir do movimento pela ética na política; e a Pastoral da Criança, fundada em 1993 pela médica pediatra e sanitarista brasileira Zilda Arns (falecida em 12 de janeiro de 2011 em Porto Príncipe, vítima do terremoto que devastou o Haiti). Em seu trabalho, a doutora Zilda aliou o conhecimento científico à cultura popular, valorizou o papel da mulher pobre na transformação social e mobilizou a sociedade civil e empresários na luta por uma vida digna para todos.
Além disso, organizações globais como a Skoll Foundation, a Schwab Foundation e a Ashoka desenvolvem um amplo trabalho de apoio e incentivo ao empreendedorismo social.
A Ashoka, por exemplo, é pioneira no campo da inovação social e há mais de 30 anos vem indicando e premiando profissionais desse segmento de atuação. Para eles, o Brasil, sem dúvida, pode e deve ser visto como terreno fértil para iniciativas voltadas para essa categoria. Os seus empreendedores sociais fazem parte de uma rede mundial de intercâmbio de informações, de colaboração e de disseminação de projetos. Essa rede é composta por mais de 2.700 empreendedores localizados em 70 países - incluindo o Brasil, com 320 profissionais.
As recentes denúncias que estamparam as páginas dos jornais e revistas brasileiros sobre a participação de organizações não governamentais em esquemas de desvio de verbas públicas não podem ser interpretadas de maneira simplista. Segundo dados da Organização Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), com base nos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem cerca de 340 mil ONGs no Brasil. E como fundador do Comitê para Democratização da Informática (CDI), ONG que atua há 16 anos na área de inclusão digital, com recursos oriundos do setor privado, posso garantir que a grande maioria dessas instituições sem fins lucrativos atua de forma séria e comprometida.
Essas notícias, que acabaram provocando a queda de três ministros do governo Dilma Rousseff - Carlos Lupi, do Trabalho, Orlando Silva, do Esporte, e Pedro Novais, do Turismo -, levaram a presidente da República a suspender no final de outubro, por 30 dias, todos os repasses de verbas federais para ONGs. O Decreto n.º 7.592, de 28 de outubro de 2011, determinava uma devassa em todos os convênios firmados entre o governo federal e essas organizações até o dia 16 de setembro do ano passado, quando foram estabelecidas regras mais rígidas para contratos dessa natureza. Somente foram preservados do bloqueio contratos ligados a programas de proteção a testemunhas, serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) e convênios com histórico de idoneidade, pelo menos, nos cinco anos anteriores.
Ainda segundo a Abong, as entidades civis sem fins lucrativos protestaram contra os danos morais que o decreto acarretou a milhares de organizações que desenvolvem projetos e ações relevantes para a sociedade. Além disso, a medida desviou o foco do problema para as organizações não governamentais, e não para os políticos que utilizam os seus cargos para efetuar práticas ilícitas.
De acordo com o Portal da Transparência, em 2010, do total de R$ 232,5 bilhões de transferências voluntárias do governo federal, R$ 5,4 bilhões destinaram-se a entidades sem fins lucrativos de todos os tipos, incluídos partidos políticos, fundações de universidades, etc. Ao todo, 100 mil entidades foram beneficiadas, 96% delas com transferências de menos de R$ 100 mil. Se juntarmos todas as denúncias contra ONGs publicadas na imprensa nos últimos 24 meses, as entidades citadas não passariam de 30.
Para evitar os excessos cometidos é fundamental e inadiável aprovar, e urgentemente, um marco regulatório que tangencie a atuação das organizações não governamentais - uma demanda já antiga das instituições que atuam no Terceiro Setor - e contemple o perfeito cumprimento das normas, por meio de auditorias técnicas eficazes e do estabelecimento de indicadores transparentes de qualidade e de fiscalização.
Na verdade, os escândalos que envolvem as organizações não governamentais têm sua origem num grupo de políticos corruptos que abusam de sua autoridade para desviar dinheiro público em benefício próprio. E esse quadro só vai melhorar quando a Lei da Ficha Limpa for devidamente aplicada e o Congresso Nacional acabar de vez com o voto secreto, que exime deputados e senadores de cumprirem suas responsabilidades.
A hora é esta e o Terceiro Setor precisa se unir e mobilizar todos os meios legítimos para defender essa causa. Chegou o momento de o governo federal tomar posição assertivamente e combater a corrupção de forma técnica e transparente.

O custo dos desvios - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 03/01/12
Mapeamento de R$ 3,2 bilhões de verbas desviadas em 2011, segundo dados da PF, mostra que é preciso reforçar combate à corrupção
No ano em que seis ministros se viram obrigados a deixar seus cargos sob suspeita de irregularidades, a Polícia Federal contabilizou em suas operações, de acordo com dados que constam em relatórios internos, desvios de verbas públicas de cerca de R$ 3,2 bilhões.
A cifra -um recorde- representa mais do que o dobro do valor apurado em 2010. Seria suficiente para construir 30 km de linhas de metrô ou liquidar quase metade do valor das obras de transposição das águas do rio São Francisco.
Não é tarefa simples quantificar perdas causadas pela corrupção, mas estudos, mesmo parciais, apontam para valores elevados. De acordo, por exemplo, com estimativas do economista Marcos Fernandes da Silva, da Fundação Getulio Vargas, as finanças públicas teriam sido subtraídas ilegalmente em R$ 40 bilhões, no período de 2002 a 2008.
A quantia, equivalente ao PIB da Bolívia, foi levantada com base em informações colhidas de órgãos públicos de controle -e refere-se apenas a dinheiro federal.
Não há, por certo, relação direta entre as demissões em série ocorridas no ministério em 2011 e o aumento do volume de desvios apurado pela PF, mas os dois fatos contribuem para ressaltar o quanto ainda resta a caminhar no aperfeiçoamento do combate à corrupção.
Causa surpresa que apenas no ano passado a PF tenha produzido e enviado às sedes regionais seu primeiro manual de investigação de desvios de verbas. A tardia criação desse instrumento, não obstante, é uma das iniciativas do que pode vir a ser um auspicioso progresso na capacidade da corporação de identificar ilícitos na máquina estatal.
Faz parte desse esforço a formação de equipes especializadas em Estados como São Paulo, Bahia, Ceará, Maranhão e Rio Grande do Sul. Anuncia-se para breve a instalação, em Brasília, de uma unidade específica para combater essa modalidade de crime.
É comum que se associe a incidência da corrupção no Brasil a deformações históricas de uma sociedade marcada pela informalidade e pela excessiva porosidade entre as esferas pública e privada.
Observações dessa ordem podem ter interesse para a compreensão das origens do problema, mas considerações sociológicas ou sermões éticos não são as melhores armas para enfrentá-lo.
A corrupção não é um pecado brasileiro. Verifica-se em países variados e é fruto de situações que o Estado tem o dever de coibir.
Uma polícia preparada e treinada para investigar é um dos requisitos. Outro, indispensável, é a atuação célere e efetiva do Judiciário no julgamento e punição dos culpados -pois a impunidade é a principal aliada dos que se sentem estimulados ao enriquecimento fácil à custa do contribuinte.

Que potência é essa? - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 03/01/12

BRASÍLIA - A grande (e ótima) novidade anunciada durante as minhas férias foi que o Brasil passou o Reino Unido e é agora a sexta economia do mundo. Uau! Somos uma potência! Mas que potência é essa?
A infraestrutura é sofrível. Os "apaguinhos" são quase rotina, os portos estão cheios de gargalos, as estradas são péssimas, ferrovias praticamente inexistem.
Chegar de uma viagem internacional é um inferno no Galeão e em Guarulhos, as grandes portas de entrada, e até mesmo em aeroportos menores, como o de Natal, onde há três (isso mesmo: três) esteiras de bagagem até que a ampliação seja concluída.
Quanto à educação: Será que o país tem boas escolas para a maioria e profissionais de ponta para enfrentar os desafios do crescimento e da competitividade em todos os setores? Há dúvidas.
E o país consegue ser a sexta economia mundial com um IDH ainda vexaminoso. Quando você passeia pelo interior do Nordeste, onde as coisas vêm melhorando, é verdade, assusta-se com os ainda extensos bolsões de miséria atolados em dois ou três séculos atrás.
Povoados sem asfalto, um atrás do outro, com crianças barrigudinhas e descalças correndo na poeira, entre mulheres de ar sofrido e pele encarquilhada e homens trôpegos pela cachaça e pelo cansaço de uma vida inteira de trabalho duro, debaixo de sol a pino e em regime de semiescravidão.
Não consta que haja gente e cenários assim no Reino Unido e na França, o próximo país a ser, bem antes do que se previa, ultrapassado pela economia emergente do Brasil.
O que está em pauta não é (só) o ritmo da economia e o complexo equilíbrio entre crescimento mais baixo e inflação debochada, mas principalmente a qualidade do desenvolvimento. Há que se discutir por que, para que e para quem o Brasil assume ares de potência.
Ótimo 2012!

Ao mestre, com carinho - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 03/01/12


Antes de se despedir do MEC rumo à eleição paulistana, Fernando Haddad (PT) deverá faturar com o derradeiro gesto de visibilidade de sua gestão: até o dia 15 o ministro planeja anunciar o patamar de reajuste do piso nacional dos professores, que pode atingir 22% -de 2010 para 2011, o salto foi de 15,85%.

Embora afague categoria numerosa do funcionalismo, o novo valor intimida os governadores. Quando o tema foi discutido no Congresso, políticos dos mais diversos matizes entraram em campo na tentativa de reduzir o percentual, já que 17 Estados descumprem hoje a remuneração mínima, de R$ 1.187.

Onde pega Outro item da agenda educacional que deixa governadores de cabelo em pé é o já aprovado calendário nacional de greves da categoria. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, ligada à CUT, programou para a segunda quinzena de março rodada de paralisações por todo o país. Além do piso, os sindicatos vão cobrar adequação de jornada extraclasse.

Intramuros Em privado, Cândido Vaccarezza (PT-SP) atribui sobretudo a Paulo Teixeira (PT-SP) e seu grupo a tentativa de desestabilizá-lo na liderança do governo. Embora não tenha afinidade com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), o líder diz a aliados que o movimento tem nascedouro na bancada petista na Câmara.

Timing O anúncio, feito no apagar das luzes de 2011, de que BTG Pactual e Caixa Econômica Federal farão aporte de R$ 1,8 bilhão no PanAmericano terá reflexo no Congresso. Na esteira da disputa entre PT e PMDB por postos de comando na Caixa, deputados recolocarão na pauta a convocação do presidente, Jorge Hereda.

W.O. Dirigentes do banco envolvidos na transação foram chamados recentemente à Comissão de Fiscalização, mas não apareceram.

Parabólica André Barbosa Filho, assessor da Casa Civil que cuida da implantação da TV digital no país, deve assumir o projeto de expansão das redes públicas de televisão na EBC. A ideia é permitir que os canais comunitários, legislativos e educativos operem em sinal aberto digitalizado sem custos adicionais.

Que fase! Do deputado Simão Pedro (PT), sobre a controversa operação que derrubou parcialmente prédio condenado no centro de São Paulo: "A popularidade do Kassab está caindo tanto que nem implosão dá certo."

Eu avisei Na semana passada, circulou na prefeitura paulistana estudo que apontava restrições técnicas à implosão do imóvel do Moinho. À ocasião, um método alternativo para a demolição chegou a ser avaliado.

Jogando... Com a cassação de Demétrio Vilagra, o PT lançou campanha pela eleição direta do novo prefeito de Campinas. A Justiça determinou votação indireta para o mandato-tampão de um ano.

...para a plateia O movimento, apoiado por PC do B e PSOL, é uma tentativa petista de evitar polarização precoce na disputa de outubro entre os grupos do interino Pedro Serafim (PDT) e do deputado Jonas Donizette (PSB).

Bloco na rua PT, PMDB e PC do B farão caravanas por 20 cidades do interior de Minas para expor gargalos do governo de Antonio Anastasia (PSDB) e protestar contra o que chamam de "herança maldita" de Aécio Neves no funcionalismo estadual. A maratona começa em 11 de fevereiro, em Araxá.

tiroteio

"Num momento de turbulência entre o Judiciário e a sociedade, chamar a atenção para outra regalia só expõe a magistratura do país a novos e desnecessários ataques."
DO DEPUTADO EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ), sobre a defesa feita pelo novo presidente do TJ-SP, Ivan Sartori, do período de dois meses de férias por ano para os juízes. Segundo ele, a medida preserva a "sanidade mental" da classe.

contraponto

Voz de ninar

Na penúltima semana de dezembro, Aldo Rebelo se preparava para conceder entrevista coletiva na qual faria o balanço de suas ações à frente do Ministério do Esporte. Um assessor passou a explicar a dinâmica do evento.
-O ministro vai falar por uns 20 minutos e depois teremos mais um período de 20 a 30 minutos para as perguntas formuladas pelos jornalistas.
Contrariado, Rebelo interrompeu:
-Não sei se precisarei disso tudo... Quando derem o primeiro cochilo, eu paro, prometo.

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

Tragédias com aviso-prévio - GIL CASTELLO BRANCO


O Globo - 03/01/12


O verão e as calamidades estão apenas começando, tal como acontece no Brasil há anos. No início do século XIX, as cartas de um funcionário da Secretaria de Estado do Rio de Janeiro a seu pai, o bibliotecário da Livraria da Ajuda, Francisco José dos Santos Marrocos, já registravam fatos relacionados às enchentes na Bahia. Em um dos trechos o autor comenta: "S. A. R. (Sua Alteza Real) mandou daqui a toda a pressa o Architecto José da Costa com hum grande numero de outros Architectos e Engenheiros, para alinharem huma Cidade nova fóra da eminencia dos morros e montanhas, de que ainda agora continuão a despegar-se pedaços, que arrazão tudo que encontrão."

Desde o Império, portanto, a natureza anda de braços dados com a falta de planejamento e o improviso, em níveis municipal, estadual e federal. Os desastres são considerados fatalidades pelos governantes, como se nenhuma culpa lhes coubesse.

Em 2011, levantamento do Serviço Geológico do Brasil constatou que em 251 municípios brasileiros existem possibilidades de acidentes. Em 28 dessas cidades residem 178,5 mil pessoas, com risco alto ou muito alto de serem afetadas por enchentes ou desabamentos. Na raiz do problema está o fracasso da política habitacional, o que propiciou ocupações precárias e invasões, sob a vista grossa das autoridades públicas. Apesar da crescente preocupação com as questões sociais, na última década a quantidade de pessoas que vivem em favelas quase dobrou, passando de 6,5 milhões em 2000 para 11,4 milhões em 2010. Nesse cenário, as catástrofes naturais são previsíveis.

O governo federal, por exemplo, possui programa com o sugestivo título de "Prevenção e Preparação para Desastres". Nos últimos 8 anos, as dotações autorizadas pelo Congresso Nacional para esta rubrica somaram R$2,8 bilhões, mas apenas R$695,4 milhões foram aplicados. Em outras palavras, de cada R$4 previstos em orçamento, apenas R$1 foi gasto. Além disso, o ditado "é melhor prevenir do que remediar" é praticado às avessas. No mesmo período, o programa "Resposta aos Desastres e Reconstrução" consumiu R$5,9 bilhões, 7 vezes mais do que o aplicado na prevenção.

No ano passado, não foi diferente. Foram autorizados R$508,5 milhões para o programa de prevenção, porém somente R$155,6 milhões (30,6%) foram pagos. Em contrapartida, R$1 bilhão foi desembolsado com o programa de reconstrução. A explicação do Ministério da Integração Nacional é que os estados e os municípios não apresentaram propostas de obras preventivas, o que levou a Pasta a editar "cartilha" sobre intervenções em áreas de risco. Curiosamente, dos R$155,6 milhões pagos, a maior parte (R$34,2 milhões) foi destinada a Pernambuco, estado do atual ministro, Fernando Bezerra. O fato pode levar à conclusão irônica que os projetos que podem evitar tragédias, assim como o frevo, são tipicamente pernambucanos.

É certo que obras de macrodrenagem, de urbanização de assentamentos precários e, ainda, o Minha Casa, Minha Vida, também contribuem para minimizar as tragédias. De qualquer forma, a incompetência no uso dos recursos do programa de "Prevenção e Preparação para Desastres" é impressionante.

Alguns avanços, porém, devem ser reconhecidos. Entre eles, o uso do Cartão de Pagamento de Defesa Civil, que dará transparência e celeridade aos gastos. Ademais, a implantação do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad) - cogitada desde 2004 - sairá do papel. Até novembro passado, o que existia eram alguns servidores, sem um meteorologista sequer, atuando precariamente em três salas do Ministério da Integração Nacional.

Agora, o grupo irá trabalhar em local adequado tecnicamente, inclusive em plantão de 24 horas, até porque os fenômenos climáticos não respeitam o horário comercial. Entretanto, o concurso destinado à contratação de 52 profissionais para o Cenad só acontecerá em março. Até lá, estão sendo recrutados servidores de outros órgãos, verdadeiro "exército de Brancaleone", que irá monitorar as chuvas deste início de ano.

Diante dos fatos, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, admitiu o óbvio, ou seja, que o governo não será capaz de impedir as mortes decorrentes das chuvas, neste e nos próximos verões. Assim, é provável que os morros e as montanhas continuem a desabar aos pedaços, arrasando tudo o que encontram pelo caminho, tal como há 200 anos.

Linha de frente - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 03/01/11

A corrente de comércio exterior do Brasil continua crescendo, mas permanece concentrada em alguns produtos e algumas empresas. A Vale sozinha representa 13% das exportações. As previsões são de continuar em 2012 sendo o carro-chefe das vendas ao exterior. Mesmo com a crise, a China iniciou programa de construção de 36 milhões de casas populares e há escassez de minério de ferro no mundo.

O diretor de Relações com Investidores da Vale, Roberto Castelo, disse que mesmo com as dificuldades econômicas do mundo, na Europa e nos Estados Unidos, e até com uma pequena desaceleração na China, a demanda por minério de ferro continuará alta:

- A China é muito relevante na demanda mundial e lá não houve queda. O programa de construção de casas populares dará um forte impulso ao mercado imobiliário. É para construir 36 milhões até 2015. No ano passado, foram apenas iniciadas as 10 milhões previstas no ano, e em 2012 a meta é construir outras 10 milhões de residências. A economia deve crescer menos, de 7% a 8%, mas mesmo assim com demanda firme por metais, até pelo início do décimo segundo plano quinquenal.

Segundo Castelo, há falta no mundo de novos projetos de expansão de produção de minério de ferro e escassez de oferta de qualidade, o que beneficia o Brasil. Os preços que caíram um pouco no ano passado devem se recuperar ligeiramente. Mas mesmo quando caíram permaneceram em nível alto. O que significa que o carro-chefe da exportação brasileira continuará em movimento.

O Brasil exportou dez vezes mais minério de ferro que carros; seis vezes mais soja que aviões; três vezes mais açúcar em estado bruto do que refinado. A Europa mesmo em crise comprou mais de nós. A China se consolidou como o principal parceiro. O comércio exterior brasileiro mostra que o país tem uma carteira de clientes diversificada e portanto o país nunca ganha com a crise. Japão, China, Estados Unidos, Europa e América Latina são grandes compradores do Brasil. O país ainda é altamente dependente das vendas de matérias-primas agrícolas e metálicas.

O total exportado e importado pelo Brasil ficou 25% maior este ano e o saldo fechou em US$29,79 bi. As previsões feitas no ano passado e registradas no Boletim Focus erraram redondamente. Na primeira semana de 2011, a média do mercado previa: US$8,7 bilhões de saldo. A propósito, previa 4,5% de PIB e 5,3% de inflação. Com essa cautela colocada sobre a capacidade de previsão dos economistas é que se registra aqui que a projeção do Focus para o saldo de 2012 é US$10 bilhões menor do que 2011.

Ano passado, até com a Europa, centro da crise, o Brasil aumentou em volume e em valor suas exportações. De janeiro a novembro, comparado com o mesmo período de 2010, houve um salto de US$10 bilhões.

No total dos dados, o que mais impressiona é que as exportações da Vale aumentaram mais de 50%. A Petrobras também tem um naco grande das exportações brasileiras, mas também aumentou em 2011 as importações, principalmente de gasolina, e o resultado foi um déficit de US$7,6 bilhões de janeiro a novembro. Isso sim é espantoso. Que o Brasil tenha que importar gasolina e álcool, abrindo um déficit deste tamanho em produto que poderia estar sendo produzido no país da autossuficiência e do biocombustível.

Há uma tendência antiga do Brasil de considerar que a exportação de minerais e produtos agrícolas, como minério de ferro, soja, carne, café, açúcar, não são suficientemente nobres para um país que quer ser primeiro mundo. Não há nada de errado nas exportações de produtos nos quais temos oferta e competitividade. O que precisa ser olhado com cuidado é o que está acontecendo com as exportações de manufaturados.

A indústria da transformação cresceu menos do que o resto do país nos últimos anos. Segundo José Roberto Mendonça de Barros, em artigo no "Estado de S. Paulo" neste fim de ano, o PIB total do país cresceu 16% nos últimos quatro anos, e o PIB da indústria cresceu apenas 4%. Ela não tem demonstrado capacidade de competição forte nem no mercado interno e pelos resultados se vê que os remédios usados não estão funcionando. Benefícios fiscais e elevação do protecionismo para algumas áreas não estão aumentando a competitividade da economia.

Em favor do que o Brasil tem de competitivo, como nos minerais e agronegócio, e no que o Brasil está demonstrando não conseguir competir, que é a maior parte da indústria de transformação, o melhor é tornar a economia como um todo mais eficiente. Se houver uma redução do custo tributário para as empresas e pessoas através de uma reforma tributária, se o governo reduzir o volume de impostos que as empresas pagam sobre a folha salarial, se houver investimentos certos na infraestrutura de transporte, todos os setores serão beneficiados. Ajudar o produtor de carro ou o empresário do setor têxtil é menos importante do que tornar a logística do país mais eficiente. Isso ajudará o produtor de soja, que perderá menos com o custo do transporte do seu produto, ou o empresário do setor industrial que também precisa de estradas mais rápidas.

Os bilhões emprestados e de capitalização transferidos aos frigoríficos não aumentaram a exportação de carne. Em volume, as exportações caíram 1,5% de janeiro a novembro. A venda externa de carne bovina industrializada, em volume, caiu 15%. Em vez de pensar em solução para cada setor, e ficar oscilando de lobby em lobby, o governo tem que encarar o que precisa ser feito para tornar a economia como um todo mais capaz de ocupar espaço nos mercados interno e externo. A escolha de setores, empresas, os benefícios setoriais não vão transformar o país em grande exportador.

Compras pela internet - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 03/01/12



Se nos shoppings e no resto do varejo as vendas de Natal decepcionaram, a incorporação de novos consumidores à internet e ao comércio eletrônico trouxe resultados melhores.

Enquanto a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping aponta crescimento de apenas 5% em suas vendas de Natal em relação às do ano anterior; o e-commerce brasileiro elevou em 20% seu faturamento entre 15 de novembro e 24 de dezembro do ano que passou ante o mesmo período de 2010 - como aponta a consultoria E-bit.

O volume ainda é relativamente pequeno. Corresponde a 18% do faturamento dos shopping centers. Ao longo de todo o ano de 2011, o total (recorde) não deve ter ultrapassado os R$ 18,7 bilhões (veja o gráfico). Mais significativo foi o fato de que, em 2011, nada menos que 9 milhões de brasileiros (50% são da classe C) fizeram sua primeira compra pela web.

Para Cristina Rother, diretora da E-bit, cresceu em 2011 o número de consumidores que antes recorriam aos crediários das grandes redes (como Casas Bahia, Magazine Luiza e Ricardo Eletro) e migraram para seus sites. Além do mesmo parcelamento, encontram lá preços quase sempre mais baixos.

Os segmentos online mais procurados em 2011 foram: eletrodomésticos; informática; saúde, produtos de beleza e medicamentos; livros e assinaturas de jornais e revistas; e eletrônicos. Neste ano, com novas padronizações, a área de moda e acessórios tende a se juntar a esse grupo. Uma camisa M, por exemplo, terá sempre a mesma medida, seja de qual marca for. Ou seja, provar algo antes de levar não será mais tão necessário e essas vendas devem ser alavancadas.

Por outro lado, os tão badalados downloads pagos de músicas e filmes ainda são inexpressivos - e assim devem ser por um bom tempo. Lojas virtuais como Itunes Store (da Apple) ou Netflix (de filmes), recém-chegadas por aqui, servem só a uma fatia ínfima das classes A e B.

Para o presidente executivo da Livraria Cultura, Sergio Herz, a internet ajuda a suprir a grande carência do varejo, que é a incapacidade de se reinventar. No entanto, a venda de livros virtuais (e-books) ainda é irrisória, correspondem a somente 0,5% de todos os livros comprados.

Um dos problemas ainda à espera de solução é a baixa eficiência nas entregas. Em novembro, o Procon tirou do ar por 72 horas os sites Americanas, Submarino e Shoptime.

O presidente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, Ludovino Lopes, reconhece que as falhas nos despachos são um dos grandes entraves do setor. Em todo o caso, maiores investimentos em logística reduziram os atrasos nas entregas de final de ano de 17% (em 2010) para 13% (em 2011), mesmo com o crescimento de 27% dos pedidos - garante Lopes.

Mas o obstáculo mais importante ainda não foi removido. Nada menos que 58% dos clientes dos bancos que não se sujeitam a fazer operações financeiras pela internet não se sentem seguros em passar dados pessoais pela rede. / COLABOROU GUSTAVO SANTOS FERREIRA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 03/01/12



Disputa por investimentos fica mais acirrada

A batalha do Brasil para atrair investimento de grandes empresas multinacionais, que no passado era com México, Argentina, China e outros, agora é com Indonésia e Malásia.

"Percebemos que as empresas que estão começando a fazer estudos para investir estão falando em Indonésia e Malásia. Hoje há concorrência com novas fronteiras", afirma Luciano Almeida, presidente da agência de promoção de investimento Investe São Paulo.

Além de novos competidores, o sombrio cenário econômico global traz perspectivas menos otimistas para 2012.

"A entrada de novos projetos começa a escassear. Meu sentimento é que para 2012 devam entrar novos projetos, mas talvez não com tamanha magnitude. Temos a sensação de que o volume de entradas está diminuindo."

Por enquanto, só um investidor disse que pode rever seu projeto por conta da crise na Europa, segundo Almeida.

O ano de 2011 não decepcionou, segundo o presidente da Investe São Paulo, que afirma que na carteira de projetos da entidade há mais de R$ 34 bilhões, planos que devem se concretizar agora.

Em 2010, foram identificados 678 anúncios de investimento no território paulista, que alcançaram US$ 49,9 bilhões, segundo pesquisa de investimentos anunciados da Fundação Seade, que aborda recursos públicos e privados.

Empresas nacionais são responsáveis pela origem de maior parte do capital anunciado. A região metropolitana de SP recebe a maior concentração de recursos.

"A entrada de novos projetos começa a escassear. Meu sentimento é que para 2012 devam entrar novos projetos, mas talvez não com tamanha magnitude. Temos sensação de que está diminuindo"

LUCIANO ALMEIDA

presidente da Investe São Paulo

PESO NA BALANÇA

A balança comercial de bens de capital por encomenda teve saldo negativo acumulado de US$ 1,06 bilhão em novembro. Apesar do deficit, o resultado é melhor que o de igual período de 2010, quando importação superou exportação em US$ 1,4 bilhão.

As importações de equipamentos pesados de janeiro a novembro de 2011 somaram US$ 5,8 bilhões, valor 11% superior a igual período de 2010. As exportações subiram 24%, segundo a Abdib (associação de infraestrutura e indústria de base).

O setor registra recuperação da venda externa de equipamentos pesados.

As vendas para indústrias de base, fundição, papel e celulose e siderurgia no exterior, entre outros, cresceram 30% no acumulado até novembro, ante o mesmo período de 2010. Cresceram também as exportações de tratores e grandes caminhões.

RENDA FIXA POSITIVA

O ano de 2011 fechou bem na gigante do mercado de administração de recursos. A BB DTVM, distribuidora do Banco do Brasil, encerrou o ano de crise com cerca de R$ 420 bilhões em gestão.

O setor de previdência complementar foi o que mais cresceu em termos percentuais, diz Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM.

"O investidor se mostrou mais avesso a risco, daí o crescimento de fundos de investimento de renda fixa, vinculados a títulos públicos."

A diretora da Anbima (que representa entidades do mercado financeiro) Luciane Ribeiro também afirma que o mercado de renda fixa foi bom em 2011. Já o de fundos multimercados registrou saída de R$ 51,8 bilhões.

"A queda da taxa de juros deve favorecer os investimentos em renda fixa em 2012."

Recorde... O número de protestos de títulos alcançou o recorde do ano em novembro, segundo pesquisa do Instituto de Estudos de Protesto de Títulos da Seção São Paulo.

...de protestos Foram 70,9 mil títulos -incrementos de 23,2 % em relação ao mês anterior. Do total de títulos protestados na capital, 8,8% foram cheques.

Meia novidade - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 03/01/12

Não é só o PSDB que se repete em São Paulo; o PT também o faz, mas sua repetição contém promessa


O PSDB paulista agita-se, ou melhor, mexe-se, acompanhado pelo jornalismo político como solução contra o marasmo (não o do PSDB, o do calendário político). Novidade à vista? Sem dúvida, em certo sentido.

Mais uma vez os peessedebistas discutem a conveniência partidária de esperar, ou não, que José Serra se defina com clareza entre o que parece que vai e não vai. E assuma a candidatura à prefeitura paulistana, dando início à atividade já atrasada, ou libere o partido para encaminhar alguma perspectiva.

A disposição do PSDB de ainda reviver tal situação, e com calma e cuidados, pode não ser surpreendente, mas é uma novidade na luta das pretensões eleitorais viáveis. Nelas, a procura é a de amarrar o máximo possível com a melhor antecedência.

Há uma particularidade a mais nesse PSDB. O traço marcante na atual atividade dos partidos, considerados como base da vida política, é a perda, por dispensa, de suas identidades. Já em estágio final, como no PMDB, ou em avanço acelerado, como no PSB e no PPS, entre outros. O DEM, que fugia à regra e mudara de nome sem mudar a face, teve facilitada pelo PSD de Kassab, com tantos raptos de demistas, a superação de sua perplexidade.

Em tudo isso, o PSDB manteve-se o PSDB, com suas eminências dizendo as mesmas coisas de ontem, de anteontem e de antes; alheio à grande maioria eleitoral; com as aparências resguardadas no Congresso pelo oposicionismo sem oposição, útil só para lembrar uma ou outra de suas conhecidas concepções. Mas daí não decorreram demonstrações seguras de que tenha reduzido a sua forte potencialidade eleitoral: continua como a oferta mais próxima e confiável para os conservadores em geral. Dilapida-a, porém.

O PSDB volta a discutir o que não pode mais discutir. Ficou evidente, na última eleição presidencial (para não ir mais longe), o seu prejuízo com o tempo perdido enquanto José Serra bloqueava Aécio Neves e não se decidia. E Lula aproveitava para apresentar Dilma a cada recanto do país. Depois, nem bolinha de papel salvaria mais.

Não é só o PSDB, no entanto, que se repete em São Paulo. O PT também o faz -mas, em vez de risco, sua repetição contém promessa. Em boa parte, proporcionada pelo PSDB.

INCORREÇÃO

Em parágrafo sobre a "produção" do livro "Privataria Tucana", do repórter Amaury Ribeiro Jr., atribuída ao Palácio do Planalto por Marco Antonio Villa, dei nome incorreto ao professor de história da Universidade Federal de São Carlos. Mas, por sorte, mantive-o entre seus pares do Império Romano: chamei-o Marco Aurélio Villa. Se bem que o imperador Marco Aurélio, antes de falar e de escrever, tinha o hábito da reflexão -e com isso legou à literatura e ao pensamento suas veneradas "Meditações".

DOIS TIROS

Técnicas da Guerra Fria: no Ocidente foi publicada foto, fornecida por agência, de um foguete provocadoramente disparado por "navio do Irã" no mar de Omã, em frente ao estreito de Hormuz. E mais tarde o comando iraniano informava não haver ainda iniciado o exercício com disparos.