domingo, dezembro 02, 2012

Primeiros passos - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 02/12


Embora mantenha suspense sobre uma candidatura presidencial, o PSB parte nos próximos meses à montagem de um projeto de governo voltado ao fortalecimento da federação e da prestação de serviços de qualidade ao cidadão. A ordem é estar pronto para, se houver a chance, se apresentar já em 2014.

Em 6 de março deste ano, escrevi aqui que o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, caminhava de costas para seu objetivo — a sala principal do Palácio do Planalto, com direito às instalações residenciais no Alvorada. A passagem dele por Brasília no seminário de prefeitos do partido deixou alguns sintomas de que ele permanece nessa posição, embora, de vez em quando, se coloque de forma mais incisiva como potencial candidato.

O PSB anda com a pulga atrás da orelha sobre tudo. Até as notícias que contam suas vitórias eleitorais são vistas com desconfiança. Os socialistas se consideram vitoriosos, mas não vêem o espaço adquirido em 2012 com toda essa amplitude anunciada pelos jornais. Sendo assim, acham que existe um grupo que incensa o partido exatamente para enfraquecer o que eles chamam de “projeto de poder com viés de esquerda”, leia-se Lula/Dilma.

Diante disso, todos os movimentos daqui para frente, dizem eles, serão feitos com um dos olhos no gato e outro no peixe. Isso significa que os socialistas não aceitam servir de degrau para ajudar o PSDB a quebrar a hegemonia petista no nível nacional, tampouco querem ficar a reboque do PT. Mas, se o cavalo passar encilhado, leia-se, tudo levar a uma candidatura presidencial consistente, Eduardo Campos não se furtará em segurar as rédeas e sair em disparada em busca de votos ao Planalto.

Enquanto esse cavalo não passa, vale a cautela, sem ansiedade. Antes de mais nada, é preciso montar um discurso que credencie e justifique uma candidatura. Em 1994, o PSDB se apresentou à Presidência da República em defesa do Plano Real e da estabilidade econômica como fundamental para promover o desenvolvimento. Oito anos depois, foi a vez de o PT se mostrar como uma opção mais forte, defendendo prioridade a programas sociais e à indústria nacional — o primeiro programa de Lula, para quem não se lembra, era a imagem de um estaleiro brasileiro à deriva. A julgar pelo discurso de Eduardo há dois dias para o seu partido, a ordem agora é buscar um projeto relacionado à prestação de serviços de qualidade ao cidadão e de promoção dos estados e municípios como indutores desse processo. Não por acaso, o discurso de Eduardo levanta a hipótese de desoneração de setores que gerem mais empregos, com menção à indústria alimentícia, deixando transparecer uma certa crítica à desoneração de impostos da indústria automobilística.

Paralelamente à montagem desse projeto ao longo de 2013, o PSB aproveitará para servir de contraponto ao PMDB dentro da base governista. Nesse contexto, o próximo passo pode ser a candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) à Presidência da Câmara.

Por diversas vezes, Eduardo conclamou o partido a não eleitoralizar o debate de 2013 — ano em que ele define como a hora de ajudar a presidente Dilma a tomar as decisões necessárias ao crescimento da economia. Afinal, se a recessão chegar, não ajudará qualquer partido que hoje integre a base governista.

Com esses projetos, ele não colocará o cavalo na frente dos bois, nem na frente do PT pelos próximos 12 meses. Quanto a 2014, ele deixa no ar e apenas diz que tudo seu tempo. Mas, no geral, está cada vez mais claro que o PSB tem candidato a presidente e constrói essa opção antes mesmo de partidos maiores que integram o portfolio nacional, caso do PMDB e do novo PSD, que hoje se encontra no meio da caminho entre o PT e o PSB.

Enquanto isso, no Planalto…

A Operação Porto Seguro deixou nas autoridades palacianas a sensação de que é preciso reforçar os critérios de escolha de dirigentes das agências reguladoras e os mecanismos de controle do Poder Executivo sobre esses órgãos. Não se surpreendam se a presidente apresentar algum projeto nesse sentido no início do ano que vem, em meio à reforma ministerial.

Por falar em reforma ministerial…

Chamou a atenção a desenvoltura do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, para explicar os vetos à lei que distribuiu os royalties do petróleo do pré-sal. A cada dia, ele ganha mais destaque no governo da presidente Dilma Rousseff, embora todos continuem jurando que ele não mudará de pasta.

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