terça-feira, dezembro 04, 2012

O tamanho da encrenca - JOSÉ PAULO KUPFER


O Estado de S.Paulo - 04/12


O choque com o crescimento econômico muito abaixo do previsto, no terceiro trimestre, desencadeou um movimento instantâneo de revisão das projeções para este ano e o próximo, mas não ficou só nisso. A surpresa com o resultado decepcionante destampou a caixa das análises do fim do mundo. Da volta dos parâmetros mais rígidos do famoso "tripé" ao reforço das atuais políticas, com ações mais agressivas no câmbio e nas isenções fiscais, variadas receitas para fazer o bolo crescer mais rápido voltaram a ser oferecidas.

É bem claro que o pessimismo se alastrou com os erros evidentes de previsão sobre o desempenho da economia. Os desvios entre as projeções e os números divulgados pelo IBGE pegaram, no mesmo contrapé, tanto analistas de mercado quanto o governo, com a insigne liderança do Banco Central. Havia se formado um consenso de que a recuperação da economia ganharia fôlego no terceiro trimestre, com uma expansão de pelo menos 1% - taxa que anualizada apontaria um ritmo de crescimento de 4%. O avanço de 0,6% - 2,42% anualizados - não só jogou água fria na fervura, mas também lançou sérias dúvidas sobre a qualidade dos modelos de previsão. O que levou à falha chocante? Aguardam-se explicações.

O susto com a evolução do crescimento na metade do previsto deixou sem chão qualquer tentativa de avaliar a conjuntura do momento com lentes mais rosadas. Sim, a curva do Produto Interno Bruto (PIB) trimestral é ascendente, a indústria voltou a crescer e os fundamentos macroeconômicos encontram-se relativamente em ordem. Apesar de não se encontrarem em zonas confortáveis, nem inflação nem contas públicas mostram sinais de descontrole. Mas a perspectiva de que o governo Dilma, em seus quatro anos, não consiga entregar crescimento médio anual melhor do que um máximo de 3% produziu a percepção imediata de que a política econômica não está funcionando.

Pode-se localizar esse desconforto no fato de que os investimentos, apesar do ativismo do governo, teimam em não deslanchar. Já se sabia - ou, pelo menos, já se devia saber - que não seria fácil fazer a taxa de investimento despregar dos pouco mais de 17% do PIB em que ancorou ao longo dos oito anos do governo Lula. A economia cresceu, no período, a uma média anual razoável de 4,3%, mesmo com baixo investimento, então concentrado na importação de máquinas e equipamentos. Mas essa sopa acabou.

A cena econômica mundial não é propícia à liberação comercial que ensejou, juntamente com um câmbio valorizado, o impulso importador de bens de capital. Foi na onda de modernização das fábricas, via importação, que o investimento se segurou como deu, nos últimos anos.

Agora, a coisa mudou. O desafio, para Dilma, é duplamente mais complicado. O governo precisa não só acelerar o investimento, mas fazê-lo atendendo a uma nova prioridade, que se concentra em inversões nas áreas de infraestrutura, sobretudo energia, transporte e construção habitacional. Trata-se de algo muito mais difícil de concretizar.

Não é difícil entender o tamanho da encrenca. Para começar, essas são atividades que se caracterizam pelas mais altas relações capital-produto, o que significa que os investimentos, além de exigirem mais tempo de maturação, exigem também a aplicação de mais capital para cada unidade de produto gerado.

Acontece que essa é apenas a parte mais visível do problema. Sem marcos regulatórios bem definidos, projetos bem desenhados e cálculos de retorno realistas, as engrenagens dos investimentos continuarão travadas.

É visível a dificuldade do governo em promover um ambiente mais atraente para o investimento, diante dessas novas e mais complicadas necessidades. Mesmo sem desconsiderar as resistências de diversos grupos de interesse - dos ambientais aos financeiros -, os atrasos constantes na definição dos projetos, no lançamento das concessões, na definição das regras de operação e na execução do programado expõem a incapacidade governamental de desenhar e gerir grandes projetos básicos.

Ainda que continue aceso o debate sobre as condições macroeconômicas vigentes no País, não são elas, mas essa incapacidade de gestão, o grande entrave atual do crescimento da economia brasileira.

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