terça-feira, dezembro 04, 2012

O custo de uma condução equivocada da economia - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 04/12


A frustração dos meios econômicos diante da divulgação dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre passou ao largo de um aspecto importante, a saber, das consequências de um modelo de desenvolvimento baseado no consumo e a responsabilidade do governo na escolha de um modelo inadequado para enfrentar a atual conjuntura.

Os dados do lado das despesas mostram que essa política econômica conseguiu o que o governo queria: o consumo das famílias cresceu mais do que o PIB no trimestre - 0,9%, para um aumento de 0,6% do PIB -, enquanto, pela quarta vez consecutiva, a Formação Bruta de Capital Fixo apresentou o pior resultado de cinco trimestres, com queda de 2,8%.

Para entender esse resultado, temos de examinar os dados do PIB do ponto de vista da oferta. O setor industrial, no seu conjunto, apresentou queda de 0,9%, assim composta: mineração, -2,8%; transformação, -1,6%; construção civil, +1,7%; e eletricidade, +2,1%. Vê-se, claramente, que a oferta da indústria de transformação ficou bem abaixo da demanda doméstica, embora as contas nacionais apresentem uma redução bastante grande, de 6,5%, das importações. Isso porque as importações de gasolina não foram incluídas nas estatísticas, o que mereceria, aliás, explicação do governo. Outra explicação seria por que a mencionada queda de 6,5% nas importações de bens e serviços não aparece nas estatísticas do comércio exterior nem nas dos serviços.

O mais importante se registra nos serviços de intermediação financeira, que, com uma queda de 1,3%, responderam pelo resultado pífio do PIB, o que surpreendeu os analistas.

Trata-se de um setor em que a intervenção do governo foi profunda, com a queda da taxa Selic, que se traduziu em recuo das taxas efetivamente praticadas pelas instituições financeiras, embora continuemos com taxas de juros muito elevadas. Pode-se perguntar se a intervenção não foi excessivamente rápida e não apresenta um risco de desestabilização das instituições financeiras.

Porém, o que mais preocupa é que as contas nacionais estão mostrando uma queda dos investimentos. Se eles fossem maiores, teriam efeito mais sadio sobre a demanda, sem afetar a balança comercial nem os preços, e permitiriam à indústria brasileira dispor de melhor infraestrutura para aumentar a competitividade dos bens oferecidos nas exportações, a um preço muito mais baixo do que agora, com a redução dos custos de transporte terrestre, portuário e marítimo.

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