domingo, dezembro 16, 2012

No país dos comerciários - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 16/12


Tabulação de microdados da última Pnad, consideradas só as ocupações com mais de 100 mil trabalhadores, revela um Brasil interessante. Vendedor de loja e mercado, terceira maior ocupação em 2004 (atrás de trabalhadores agrícolas e domésticas), passou a ser o principal emprego do país em 2011. No período, foram criadas 2,5 milhões de vagas no setor.

Já os camelôs...
A mesma viagem pela Pnad, feita por quem sabe das coisas, mostra que, entre 2004 e 2011, o total de ambulantes teve queda de 31%. Quer dizer que, em sete anos, o Brasil deixou de ter 500 mil camelôs nas ruas.

Segue...
Quase todas as ocupações ligadas a atividades agrícolas também encolheram. Já o total de professores com nível superior, sobretudo na educação infantil, teve aumento significativo. Faz sentido com a política pública de diminuir o número de profissionais sem formação universitária em toda a educação básica.

A cara do Brasil...
Nesses sete anos, o Brasil mudou de cara. Entre as ocupações que tiveram aumento de renda de mais de 40%, várias são ligadas à construção civil. Algumas: entregadores (exceto carteiros), operários de montagem de estruturas de madeira, metal etc., ajudantes de obras, vendedores em domicílio, pintores de obras, atendentes de creche, acompanhantes de idosos e trabalhadores em serviços de higiene e beleza.

Abismo fiscal
A Rádio Imobiliária diz que o Consulado dos EUA no Rio vai vender a casa do cônsul no Alto Leblon. O motivo seria contingência. 

O DOMINGO É...
...de Isis Valverde, 25 anos de tão formosa existência, atriz mineira que seduziu o Brasil no papel da sapeca Suellen na novela “Avenida Brasil”. A bela voltará à telinha em janeiro. Emprestará o corpo (e que corpo, com todo o respeito) a Sereia, musa pop e rainha do axé, na microssérie da TV Globo “O Canto da Sereia”. Canta pra eu 

No país do nepotismo
Veja o que o historiador José Murilo de Carvalho pescou no seu mergulho diário nas memórias do Brasil. Na página 287 de “Quando eu era vivo”, Medeiros e Albuquerque (1867-1934), o jornalista, escritor e político pernambucano, conta que, quando era deputado, ouviu um pedido de Lúcio de Mendonça, do STF. Mendonça queria apoio a um projeto de... aumento dos salários dos ministros.

Segue...
Albuquerque disse que gostaria de dar aos ministros dinheiro bastante para os tornar “insolentemente independentes”. Mendonça retrucou que, nisto, o amigo perdia tempo, e explicou: “Basta que tenham filhos, sobrinhos, genros ou noivos de filhas a empregar, e prestam-se às maiores baixezas.” Albuquerque concluiu no livro: “E Lúcio tinha razão...”

No mais...
Medeiros e Albuquerque também foi autor da letra do Hino da Proclamação da República (“Liberdade! Liberdade!/ Abre as asas sobre nós!/Das lutas na tempestade/Dá que ouçamos tua voz!...”), sobre melodia de Leopoldo Miguez (1850-1902).
Mas aí é outra história.

Zona Franca
Abre quarta a exposição Vieira da Silva, que celebra o Ano de Portugal no Brasil, no MAM. A Rádio Globo transmite hoje a final do “The Voice Brasil”, em rede com a TV Globo.

O professor Marcos Vinícius Torres faz palestra na XXVI Conferência Mundial da Associação Internacional de Gays e Lésbicas, em Estocolmo. Cláudia Danienne Marchi, diretora de RH da Amil, será homenageada quarta, no Sofitel. Curso Guerra tem turmas para o TRT.

O Casal Garcia faz promoção de kits em facebook.com/casalgarciabolos.

O bloco Mulheres da Vila abre inscrições para o Rei da Bateria 2013 (mulheresdavila@gmail.com). Nelson Sargento lança livro quarta e é homenageado por Paulo Betti no Sesc Casa da Gávea. José Grimberg, do Bergut Vinho, recebe Piero Incisa Della Rochetta, da Bodega Chacra.

O leitor do GLOBO
O boa-praça Breno Silveira, ainda às voltas com o tremendo sucesso de “Gonzaga, de pai pra filho”, não definiu seu próximo filme. Mas o também diretor de “Dois filhos de Francisco” se emociona com três histórias humanas: as de Amyr Klink, o navegante solitário, Éder Jofre, para muitos o maior pugilista brasileiro de todos os tempos, e Lampião, o Rei do Cangaço.

Aliás...
O fotógrafo libanês Benjamin Abrahão Botto (1890-1938), que fez várias fotos de Lampião e seu bando, é autor deste registro do cangaceiro, que era analfabeto, fingindo ler O GLOBO.

William da Rocinha
Pode haver uma reviravolta no caso de William Oliveira, da Rocinha, acusado de intermediar a venda de armas para o traficante Nem. A Justiça deve ouvir amanhã uma testemunha que saberia como foi montado o vídeo em que o ex-líder comunitário, supostamente, negocia um fuzil com Nem. 

A guerra continua
A 5ª Câmara Cível do Rio penhorou o passe de três jogadores do Vasco, mais cotas de TV e de patrocínio para pagamento de dívidas com Romário.

O tesouro de Hermínio
A equipe que cuida do acervo de Hermínio Bello de Carvalho, a Olhar Brasileiro, entregou ao Museu da Imagem e do Som, do Rio, o restante da coleção do querido poeta, compositor, escritor e pesquisador. Assim, está complementada a doação ao museu, iniciada no início do ano, de cerca de 5 mil LPs.

EIKE BATISTA DE SAIA
Mais dois livros que estão chegando às livrarias retratam Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930), a fluminense rica de marré-deci, primeira mulher a pisar no pregão da Bolsa de Paris, onde viveu por 50 anos e tinha casa de cinco andares perto do Arco do Triunfo. São eles: “Eufrásia e Nabuco”, de Neusa Fernandes (Editora Mauad), e “A sinhazinha emancipada”, de Miridan Britto Falci e Hildete Pereira de Melo (Editora Vieira e Lent).

Herdeira de uma fortuna forjada no mercado financeiro equivalente à dotação pessoal de Dom Pedro II na época, a dinheirama multiplicou em suas mãos várias vezes, a ponto de deixar, ao morrer, ações de 297 empresas em dez países.

Eufrásia, para Neusa Fernandes, foi uma uma mulher inatual para o século XIX: “Ela não está nem no século XXI, está no século XXIII.” Foi preparada pelo pai para ser uma grande capitalista e honrou os ensinamentos. Integrante de uma família escravocrata e capitalista, apaixonou-se pelo abolicionista

Joaquim Nabuco. “Eles se conheceram numa corrida de barcos na Enseada de Botafogo. Anos depois, em 1873, eles se reencontraram num navio rumo à Europa. No percurso, teriam se apaixonado e marcado o casamento. Porém, ao aportarem, os dois já tinham terminado o casamento.”

“A sinhazinha Eufrásia foi uma mulher diferente”, diz Hildete Pereira de Melo. “A posse de uma fortuna possibilitou-a fugir do tradicional papel feminino que a sociedade do século XIX reservava às mulheres, subjugadas aos pais, maridos e sociedade. O usufruto da riqueza garantiu-lhe emancipação econômica e sentimental. Bela, autoritária, refinada, culta, apaixonada e solitária. Apesar da declarada paixão por Nabuco, optou por permanecer só a se tornar apenas a senhora Nabuco. Viveu a plenitude do amor, sem os compromissos familiares.”

Num país de ricos sovinas, incapazes, como se diz em Niterói, de abrir a mão até para dar adeus, Eufrásia deixou em testamento toda sua fortuna para instituições assistenciais nas áreas de educação e saúde, construção de colégios e hospital na terra onde se originou a riqueza de sua família — Vassouras, RJ. De lá para cá, quase todo esse patrimônio foi dilapidado. Mas aí é outra história.

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