segunda-feira, dezembro 17, 2012

Juros x mínimo - GEORGE VIDOR

O GLOBO - 17/12


A trajetória dos juros agora depende de fatores como o impacto que o novo salário mínimo terá sobre os preços


Os juros básicos no Brasil continuam entre os mais altos entre as principais economias do planeta, porém como a inflação por aqui, devido a diversas razões, resiste na faixa de 5,5% ao ano, precisaremos de um pouco mais de paciência e esperar por uma conjuntura que possibilite novo ajuste. A política de valorização do salário mínimo foi necessária, com vários aspectos positivos, mas sem dúvida também contribuiu para encarecer os serviços, segmento que mais vem pressionando a inflação. Em 2013, a fórmula usada para indexação do mínimo fará com que o aumento real do salário não seja tão significativo. Na prática, será possível avaliar o quanto desse reajuste tem sido responsável por manter a inflação brasileira acima dos indesejáveis 5% ao ano.

Oscar Niemeyer

Tive o privilégio de ser convidado, há poucos anos, para um almoço, em pequeno grupo, no escritório de Oscar Niemeyer. A aproximação foi feita por José Carlos Sussekind, o calculista que transpôs para a engenharia as criações do genial arquiteto nas últimas três décadas. Embora se falassem assiduamente, Sussekind e Niemeyer tinham o hábito de trocar cartas nas quais comentavam diversos assuntos (algumas dessas cartas estão imortalizadas em um livro). E foi nesse período de correspondência mais intensa entre os dois que nos reunimos no célebre escritório da avenida Atlântica, onde Niemeyer trabalhou quase até seus derradeiros dias. Além do próprio Sussekind, esse pequeno grupo era formado pelo presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, e a mulher, Cristina, Heloisa Magalhães (com quem tenho compartilhado várias coisas nos últimos 30 anos, inclusive os mesmos endereços), do Valor Econômico,acompanhada deste colunista - não lembro se fomos convidados como casal ou como jornalistas independentes um do outro.

Durante o almoço a conversa girou sobre generalidades, mas sempre que havia uma brecha derivávamos para matar curiosidades sobre as obras e a vida de Niemeyer. Ele gostava de falar de política (e num desses preâmbulos lembro que se referiu a Gorbachev, sem citar o nome dele, como "aquele que traiu" , talvez responsabilizando-o pelo fim da União Soviética e a derrocada do comunismo; creio que como a maioria dos seus interlocutores, preferíamos não entrar nesse campo sabidamente esdrúxulo das opiniões do arquiteto). Indaguei dele o que tinha achado da nova ponte de Brasília, e a resposta foi : "um horror". Niemeyer gostava de servir comida bem caseira aos que ele convidava para almoçar no escritório (e que vista, da praia e do Pão de Açúcar, ele podia desfrutar de lá!). Vera, que ainda não estava formalmente casada com Niemeyer, cuidava para que lhe fossem servidos alimentos em porções e pedaços muito pequenos, atenção com a saúde bem compreensível para alguém na idade dele.

Além da conversa super agradável, o mais sensacional do almoço foi quando ele desenhou no quadro branco de uma das paredes do escritório a concepção das futura catedral de Niterói (ele projetou também outra para a igreja protestante na mesma cidade). Pena que esse testemunho só esteja gravado na minha memória e não posso reproduzi-lo além dessas palavras. Saímos de lá com livros autografados por ele, agradecidos a Sussekind pelo privilégio do encontro, e com a sensação que Niemeyer, embora enxergando com dificuldade, ainda tinha muito o que fazer na vida. Tempos depois, visitei o interior da igrejinha da Pampulha, em Belo Horizonte, o que me deixou mais curioso em relação ao enigma Niemeyer: por que um ateu, declaradamente admirador de Lenin, Stalin, Fidel Castro et caterva , dedicou o melhor de sua genialidade para projetar templos religiosos? Pura coincidência?

Corujão e Galo da Madrugada

Os nomes poderiam batizar blocos de carnaval, mas assim chamados os cursos que o Senai de São Gonçalo passou a ministrar para trabalhadores da indústria da construção naval. Os horários habituais não davam conta da demanda e então foram abertas vagas à noite (cursos que ganharam o apelido de Corujão). Mesmo assim, o próprio Senai percebeu que havia necessidade de estender esses cursos para um horário que antecedesse o primeiro turno de trabalho nos estaleiros. Foram criados então os cursos que começam antes do alvorecer, apelidados de "Galo da Madrugada".

A construção naval continuará empregando muita gente nos próximos anos. As mulheres estão tendo participação crescente no setor, antes um reduto masculino. A equipe de soldas do Estaleiro Atlântico Sul, em Suape, hoje é chefiada por uma mulher, que começou lá no quadro de iniciantes.

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