domingo, dezembro 09, 2012

Faxina ética na polícia é crucial - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 09/12


Expurgo de agentes corruptos, que deu certo na Colômbia, é modelo para o Brasil também combater a ação deletéria da banda podre que compromete as corporações



A prisão de 65 policiais militares fluminenses, acusados de cobrar propinas de traficantes de drogas, encerra nova evidência do preocupante grau de infiltração do crime organizado em organismos de Estado. A operação desarticulou um operoso núcleo da banda podre que contamina os organismos estaduais de segurança. E confirmou o acerto de um dos protocolos a seguir no front interno da guerra contra a criminalidade: ações levadas a efeito com a decisiva participação da Polícia Federal e do Ministério Público, órgãos blindados contra reações corporativistas de dentro das polícias, e precedidas de operações de inteligência para apontar, sem equívocos, os integrantes do bando.

A fórmula é acertada. Mas o fundamental é que faça parte de uma política de desmobilização da banda podre que não se limite a ações tópicas. Prender maus policiais e puni-los de forma exemplar é remédio contra uma enfermidade que já está instalada no organismo de segurança do Rio, e ameaça comprometê-lo irreversivelmente. Mas é preciso extirpar todo o nódulo e restituir às polícias a credibilidade e eficiência empanadas pela atuação deletéria de grupos corruptos e criminosos travestidos de agentes públicos. Não há outro caminho, para o resgate dessas corporações como órgãos de defesa da sociedade, que não seja uma radical, profunda faxina ética e moral.

Na Colômbia, flagelada nos anos 90 pela trágica associação do terrorismo do narcotráfico com a corrupção policial, deram-se os exemplos mais cristalinos de que é possível derrotar a banda podre. Bogotá e Medellín promoveram profundas faxinas nos seus organismos de segurança. Somente em Bogotá, entre 1992 e 1995, cerca de 17 mil policiais foram expulsos por envolvimento com esquemas de corrupção. Paralelamente ao expurgo, criaram-se critérios mais rígidos de arregimentação dos agentes que ocupariam os postos dos que foram afastados (e, como decorrência, levados a prestar contas à Justiça). Deu resultado: os índices de confiança da população nas polícias, que pouco passavam de 10%, chegaram a 90%.

Este foi um dos vieses do combate à criminalidade em geral. As ações se estenderam a outras áreas, como a urbanização de bairros e favelas, e ampliação do acesso à educação, entre outras. Hoje, Bogotá e Medellín são conhecidas como laboratórios de paz, modelos para superar graves problemas de segurança, dos quais a corrupção policial é uma das mais condenáveis manifestações.

O desmantelamento da quadrilha de policiais no batalhão da PM de Caxias parece indicar que o Rio, em processo de pacificação, está maduro para também mudar as polícias. À semelhança do que ocorreu na Colômbia, aqui é irreversível promover uma profunda faxina ética nas corporações. Em Bogotá e Medellín a receita deu resultado. Não há por que não funcionar aqui.

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