quarta-feira, dezembro 26, 2012

Desafios dos Brics - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 26/12



Não está fácil nem para os Brics. Os dirigentes da China deram um sinal de que ficou para trás a era de crescimento em dois dígitos; o Brasil amarga o segundo ano de baixo crescimento; índia e Rússia vão crescer menos; e a África do Sul tem 25% de desemprego. Em níveis diferentes, essas economias enfrentam problemas. O desafio comum é a desaceleração dos países ricos.

Os cinco países — se for incluída a África do Sul — têm problemas diferentes. Mas todos têm. O governo chinês avisou que o país re­duzirá o ritmo porque o importante é a "qualidade" do crescimento. Entre os desafios, a China tem um desconcertante: as chamadas "cidades fantasmas" São distritos que tiveram fortes investimentos na construção imobiliária e agora estão vazios. Há residencias, prédios comerciais, rodovias, ferrovias, re­des de energia, sistemas de saneamento básico e es­paço para lazer. Só falta gente.

Isso e uma contradição em um país populoso, com bolsões de pobreza e com muita gente querendo ir para as cidades. O que explica as cidades vazias?

— A população chinesa não pode se deslocar li­vremente pelo país. É preciso autorização do gover­no, um passaporte interno. Sem ele, o cidadão não pode trabalhar, não tem acesso a sistema de saúde. Para o regime, esses bolsões de pobreza são um es­toque de mão de obra barata para a indústria e para a construção civil — explica a professora Adriana Abdenur, coordenadora do Centro de Estudos e Pes­quisas Brics, ligado à PUC-Rio.

A China quer um crescimento puxado mais por consumo do que por investimento. Lá, a taxa de poupança é muito elevada. A falta de um sistema eficiente de proteção social e previdência pública fortaleceu o hábito cultural de poupar. Já no Brasil, o desafio é aumentar a taxa de poupança.

Como nós, a Rússia é grande exportadora de commodities, mas as suas exportações se concentram em gás natural e petróleo. A Europa é o principal destino dessas expor­tações. A crise reduziu o consumo e os euro­peus diversificaram fornecedores, impor­tando gás por navios, e não só pelo gasoduto russo.

Os sul-africanos en­frentam uma taxa gre­ga de desemprego: 25%. A indústria sul- africana tem perdido mercado dentro da África para produtos chineses. Além disso, tem exportado menos minério de ferro por causa da desaceleração da China. Um em cada quatro dólares exportados pela África do Sul vem de lá.

Na índia, o crescimento caiu de 8,2%, em 2011, pa­ra 5,3%, este ano, no cálculo do economista indiano Rakesh Vaidyanthan, do Brics Institute. A inflação está acima de 7%. O país tem problemas sérios de abastecimento de energia. Em julho, 50% dos india­nos, cerca de 600 milhões de pessoas, ficaram sem luz. A balança comercial tem um déficit de US$ 100 bilhões e as contas públicas, um rombo enorme, de 5,9% do PIB.

— Cerca de 60% da mão de obra indiana está no campo, mas a produtividade agrícola é muito baixa. O país precisa importar alimentos. Há carência de petróleo e carvão, para a matriz energética, e muitos problemas de infraestrutura. O país precisa acelerar o processo de reformas — disse Rakesh.

Rakesh avalia que os Brics precisam agora de au­mento de produtividade:

— A montanha do crescimento ficará mais íngre­me. Os países chegaram a um novo estágio de de­senvolvimento que exige reformas internas. Esse processo é demorado e muito mais difícil.

Os Brics não são um bloco e têm desafios diferen­tes. Nem integrados estão. Só a China tem forte co­mércio com todos. Esse é um ponto que poderia aju­dar, segundo os especialistas: aumento de comércio entre esses grandes países.

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