domingo, dezembro 09, 2012
Demite Mantega. E daí? - SUELY CALDAS
O Estado de S.Paulo - 09/12
Depois de um PIB no chão e cinco trimestres seguidos de queda nos investimentos, o governo Dilma anuncia mais dois pacotes - regras de regulação para portos e mais R$ 100 bilhões para o BNDES financiar investimentos. Quantos são os pacotes em dois anos? Já se perdeu a conta. O Ministério da Fazenda inventou o empacotamento em série, e a cada resultado econômico negativo tira mais um pacote do armário, onde outros estão prontinhos aguardando o próximo fiasco do PIB. E, junto com o mais novo pacote, o ministro Guido Mantega repete a mesma ladainha: agora vai, os investimentos vão explodir, o futuro sorri, é promissor. Nestes dois anos, o futuro promissor não chegou. E ninguém mais nele acredita.
Dentro e fora do governo crescem as pressões políticas pela demissão de Guido Mantega. Na edição desta semana, a revista inglesa The Economist deu voz a essas pressões: argumenta que ele perdeu a confiança dos investidores e sugere à Dilma que nomeie um novo ministro capaz de recuperá-la.
Não faltaram tentativas de virada, mas no jogo do crescimento econômico Dilma só acumulou derrotas nestes dois anos. Restam-lhe mais dois anos para virar o jogo no segundo tempo e não sair com o placar de mais baixa taxa de investimento e crescimento mais medíocre desde Collor. Porém, é preciso reconhecer que desgastado e desacreditado não está só Mantega, mas o modelo escolhido pela presidente para desenvolver o País. É certo que não faltaram nela ânimo e disposição para acelerar a economia, e a queda da taxa de juros Selic para 7,25% foi a jogada mais acertada. Mas, no resto, o modelo já deu provas e provas de equívocos.
No campo dos investimentos, o exemplo mais evidente vem das primeiras rodovias e aeroportos licitados. Pelas regras do leilão, venceram os grupos que apresentaram custo de operação mais baixo e tarifa mais barata. Todos os demais fatores foram submetidos a esses dois objetivos. Só que, ao definir o preço da tarifa, é preciso calcular custos de investimentos futuros em ampliação e manutenção. Sem obras, as rodovias se deterioram, como aconteceu na Região Sul. E, na licitação dos Aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos, o governo só conseguiu atrair grupos de segunda linha, sem experiência em operar grandes terminais. Agora, para os Aeroportos de Confins (MG) e Galeão (RJ), ele tenta corrigir o erro com regras capazes de atrair as operadoras dos maiores aeroportos do planeta, mas submetendo-as ao comando da Infraero. Óbvio, todas avisaram que não aceitam.
Se o governo não tem dinheiro e precisa do investidor privado, ele deve vê-lo como amigo, não como inimigo, e definir regras que conciliem os interesses do País e dos usuários do serviço com as necessidades do negócio.
Trabalhar em parceria implica negociação e diálogo, não imposição. Recusar esse princípio de boa convivência tem sido outro equívoco do governo Dilma. Por falta de negociação com as geradoras elétricas, a redução de 20% nas contas de luz ameaça parar na Justiça, ou todos os brasileiros (o Tesouro) bancarão a queda da tarifa que eles próprios vão usufruir. Que vantagem Maria leva?
O cacife de manter a taxa de desemprego baixa e a ascensão salarial, ao longo de seu mandato, está se esgotando. Dilma precisa reagir com urgência e tentar virar o jogo no segundo tempo. Afastar a equipe econômica identificada com o modelo fracassado, e buscar um ministro de fora do governo, pode ser uma saída. Mas não é suficiente. Ao escolher um país para sediar seu negócio, o investidor precisa de certas previsibilidades de que o governo Dilma tem descuidado. Previsões certeiras do governo dos indicadores econômicos são uma delas. Ao projetar um crescimento de 4,5% e entregar 1%, o governo gera descrença e afasta o investidor. Decisões de investimento dependem também de segurança jurídica e estabilidade de regras - e as miúdas mudanças do governo só alimentam desconfiança.
Dilma tem dois anos para acelerar o PIB, elevar a medíocre taxa de investimentos (18,7%) e aproximá-la do Peru (30%) e do Chile (27%). A ver.
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