quinta-feira, dezembro 13, 2012

Compasso Eleitoral - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 13/12


Enquanto os petistas se veem às voltas com as últimas declarações do réu Marcos Valério a respeito de Lula e o Congresso vira palco de uma guerrilha entre governo e oposição, a presidente Dilma Rousseff discute intramuros a reforma ministerial como quem monta uma válvula para calibrar o apetite de aliados que têm demonstrado vontade de seguir caminhos alternativos distantes do projeto do PT. Nada que dê discurso para justificar afastamentos definitivos. O objetivo é não aumentar o poder de quem deseja virar adversário. E esse raciocínio tem endereço claro: o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

A reforma passou a ter essa perspectiva depois de dois discursos de Campos. O primeiro foi para o PSB, em Brasília. O outro, em São Paulo, há menos de 15 dias, num seminário promovido pelo jornal Valor Econômico. Eduardo Campos foi incisivo ao criticar o modelo que o governo Dilma adotou para tentar contornar a crise econômica. Praticamente acusou o governo de proteger determinados segmentos ao reclamar que o corte de impostos não pode beneficiar apenas “setores que têm acesso a Brasília”. Deveria, para ele, ser usado para setores que pudessem promover avanços econômicos em todas as regiões do país.

O Planalto registrou a palestra de Eduardo Campos da seguinte forma: o governador não estava ali falando de seu estado. Tampouco foi sutil ao mencionar as medidas do governo. Logo, a conclusão palaciana cristalina foi a de que o governador falou ali como alternativa de poder, alinhavando um olhar diferente para as questões econômicas, uma maneira de se contrapor à presidente Dilma Rousseff.

Feita esta leitura, a hora é de monitorar o aliado. Embora não tenha meios de impedir que Campos caminhe em busca de espaço, as ferramentas para asfixiar esse projeto são visíveis. O primeiro passo foi a aproximação com o PMDB paulista e o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab — que já abre a porta para apoiar Dilma daqui a um ano e meio. O governo acredita que Campos, sem fôlego em solo paulista, ficaria restrito ao Nordeste e, ainda assim, não teria, na avaliação do PT, combustível suficiente para suplantar a presidente na região. A única decisão que ainda não está tomada e depende da eleição para presidentes da Câmara e do Senado é que pasta caberá ao PSD. Mas não será nada tão periférico ao ponto de deixar Kassab livre para apoiar Eduardo Campos.

Enquanto isso, no Congresso…

Enquanto Dilma cuida da reforma, os congressistas travam suas batalhas com a guerrilha aberta. Jilmar Tatto pede CPI das privatizações e aprova convite para Fernando Henrique Cardoso ir ao Congresso dar explicações. A oposição, por sua vez, quer convocar Marcos Valério para que ele exponha Lula ao vivo e a cores em horário nobre. 2014 nunca esteve tão antecipado. Nesse clima, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) participa de um seminário sobre gestão pública, fala de gerenciamento e apresenta um projeto de redução de tarifa de energia em moldes bem diferente daqueles sugeridos pelo governo da presidente Dilma. Eduardo Campos, por sua vez, falta a uma palestra em Brasília, em seminário de gestão pública, sob a justificativa de que precisava ficar em Pernambuco por causa do agravamento da seca no semiárido. Afinal, alguém tem que ser preservado para assinar o tratado de paz. O problema é que 2014 está tão antecipado que, talvez, não sobre tempo nem espaço para que alguém empunhe a bandeira branca.

E no PT…

O deputado André Vargas, do Paraná, conquistou a vaga para concorrer a vice-presidente da Câmara pelo PT. Para muitos, é sinal de que o crescimento de outros grupos dentro do partido não foi suficiente para criar um novo núcleo de coordenação capaz de suplantar o Construindo um Novo Brasil, leia-se, a ala mais ligada ao ex-ministro José Dirceu.

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