domingo, dezembro 02, 2012

As inquietantes crises de gestão do projeto Copa - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 02/12


CBF mostra falhas na preparação da competição e ações amadorísticas no comando da seleção que representará o Brasil em 2014



O episódio da mudança da comissão técnica da seleção brasileira pareceu novo lance de um jogo — no caso, a realização da Copa do Mundo no Brasil — que a CBF correr o risco de perder de véspera. Nada contra o currículo dos novos comandantes. Vitoriosos individualmente em suas passagens anteriores no banco da seleção, Felipão e Parreira já conquistaram a taça e ajudaram a engrandecer a história do futebol brasileiro. Mudar comissão técnica e definir o perfil de quem estará à frente do time são prerrogativas da entidade. O que está em questão é a maneira como a CBF tem encaminhado o projeto Copa.

Uma vez tendo tornado vitorioso o pleito de trazer a competição para o Brasil, a CBF e o país comprometeram-se com um caderno de encargos com a finalidade de deixar as sedes em condições ideais para os jogos e dar conta das demandas de mobilidade urbana que costumam acompanhar eventos internacionais desse porte. Falhas de planejamento, demora no início de obras fundamentais, insegurança quanto ao atendimento de prazos e orçamentos imprecisos levaram a Fifa, como dona do espetáculo, a puxar as orelhas dos dirigentes brasileiros, cobrando-lhes mais eficiência administrativa. Não têm sido poucos os atritos entre as duas entidades, dos quais resta uma certa insegurança, não totalmente dissipada, sobre como o país se sairá em 2014 neste quesito.

As dúvidas, agora, alcançam o viés que, em última análise, interessa de fato à torcida e lhe fala à paixão: será que os erros de gestão estariam se estendendo à administração da seleção a ponto de colocar em risco aquilo que, dentro de campo, dela esperam os torcedores — qual seja, a conquista do hexa? Os lances desenrolados na saída de Mano Menezes não ajudaram a dissipar este temor. Ao contrário, consolidaram a desconfiança que tem tomado conta da arquibancada.

Ficou a impressão de que também neste aspecto faltou profissionalismo à CBF. Afastou-se um técnico (e nem se coloca em questão se o seu cartel seria positivo ou não) sem, supõe-se, que já houvesse negociações anteriores para anunciar imediatamente o substituto. Deixou-se um vácuo no comando da seleção, um agravante para o inquestionável — e preocupante — fato de que, a pouco mais de um ano e meio do pontapé inicial de 2014, a preparação do time que representará o Brasil na Copa voltou à estaca zero.

Como ainda mais angustiante pano de fundo, os equívocos de gestão na preparação da Copa e da seleção não surgem como problemas pontuais. Eles fazem parte de um contexto mais amplo de crise do futebol brasileiro, que se traduz na falência de grandes clubes e na indigência técnica dos times brasileiros, inclusive a seleção (uma contrafação no país do futebol).

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