quinta-feira, dezembro 20, 2012

A última negociata - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 20/12


CPI que investigou ligações de políticos com Cachoeira foge de pedir indiciamento de suspeitos, desfecho lamentável, mas previsível


Quem acompanha o noticiário da política brasileira não poderá se dizer surpreendido pelo final vergonhoso da CPI do caso Cachoeira. Havia meses que ninguém mais esperava que a comissão parlamentar pudesse produzir alguma investigação proveitosa.

Nem por isso deixa de ser consternador que o relatório que encerra oito meses de trabalho da CPI não chegue a preencher duas páginas. O documento, elaborado pelo deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) e aprovado por 21 a 7, não pede nenhum indiciamento.

Produzida como relatório alternativo, a peça de Pitiman foi a opção dos parlamentares diante do texto de Odair Cunha (PT-MG), que pecava pelo desequilíbrio, mas sugeria o indiciamento de 29 pessoas e a responsabilização penal de 12 políticos com foro privilegiado.

Na lista de Cunha estavam, por exemplo, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), o ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e o empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta.

Ficava de fora pelo menos um personagem que mereceria mais averiguações: o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Apesar de ter sido investigado pelo Superior Tribunal de Justiça, terminou blindado na CPI.

Cunha procurava, assim, manter a comissão dentro do plano traçado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que via no inquérito uma oportunidade de apurar ligações de membros da oposição com Carlos Augusto Ramos, o famigerado Carlinhos Cachoeira.

A ideia era fustigar oposicionistas e desviar a atenção do julgamento do mensalão. Entretanto, não deram certo as maquinações de Lula, já que os tentáculos de Cachoeira, revelados por operações da Polícia Federal, também alcançavam aliados do governo.

Dado esse caráter eclético, não estranha que os deputados tenham não só esterilizado os instrumentos de investigação como também interrompido os trabalhos da comissão por mais de um mês. Vê-se, ainda, por que um relatório desequilibrado estava fadado a ser substituído por um documento inócuo.

PMDB e PSDB ainda se entregaram a uma derradeira negociata. Em troca do apoio tucano à eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado no ano que vem, uniram votos contra o relatório de Cunha e livraram Marconi Perillo e Fernando Cavendish.

Após ter seu texto rejeitado, Cunha vociferou: "[A CPI] se nega a fazer aquilo que é a sua missão essencial. Levantar provas, identificar indícios e apresentar conclusões. As conclusões aqui são nada, um vazio, uma pizza geral".

Cunha tem razão. Mas ele não pode dizer que não tenha contribuído para esse desfecho lamentável.

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