sexta-feira, novembro 23, 2012

Trégua no Oriente Médio é possibilidade de futuros avanços - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 23/11


Hamas sai do conflito com Israel com moral elevado entre os palestinos, e o presidente Mursi, do Egito, assume papel de negociador confiável



Após oito dias de conflito sangrento, o cessar-fogo entre Israel e o Hamas, movimento islâmico palestino que governa a Faixa de Gaza, abre algumas chances de evolução política. Os dois lados parecem ter atingido seus objetivos. Israel destruiu a maior parte dos locais de lançamento de foguetes e mísseis feitos pelo Hamas ou fornecidos pelo Irã, além de ter arrasado a infraestrutura governamental do enclave palestino e matado número considerável de militantes. O número de vítimas em Israel, quatro civis e dois militares, foi pequeno devido ao sucesso do sistema de defesa Domo de Ferro. Assim, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não precisou arriscar seu prestígio numa invasão por terra de Gaza, que poderia provocar baixas e afligir o eleitorado a dois meses das eleições.

E, apesar disso, o Hamas ganhou no plano da legitimidade. Entre os palestinos, passou a ser visto como capaz de ameaçar Tel Aviv e Jerusalém com seus mísseis, e de levar Israel a aceitar um cessar-fogo. É um modo de se sentir respeitável, em que pesem os mais de 160 mortos em consequência do bombardeio israelense. O Hamas foi ainda o interlocutor de todos os envolvidos no esforço para obter o cessar-fogo, inclusive Israel, algo impensável antes deste conflito. Como consequência, perdeu ainda mais espaço o moderado Mahmoud Abbas, que dirige a Cisjordânia, o outro território palestino.

Relevante nesta trégua foi o surgimento de um negociador aparentemente confiável — o governo egípcio, e islâmico, do presidente Mohamed Mursi, pertencente à Irmandade Muçulmana, da qual nasceu o Hamas. Mursi condenou duramente os ataques israelenses, e mandou a Gaza seu primeiro-ministro para prestar solidariedade ao Hamas. Mas também teve a coragem de assumir a responsabilidade pelo êxito do cessar-fogo, costurado por ele com a ajuda da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. É um início promissor para um líder pós-Primavera Árabe, movimento que jogou no lixo da História ditaduras laicas brutais, abrindo espaço para novos estilos de governo.

Igualmente relevante foi o papel dos EUA, que, no primeiro mandato Obama, se mantiveram relativamente distantes da questão Oriente Médio. Com a força de um novo mandato, Obama poderá, se quiser, assumir o papel (necessário) de parteiro de um novo quadro político. Pois a verdade é que, no quadro de agora, não se pode raciocinar com uma simples volta ao status quo anterior. Isto seria apenas contratar um novo conflito, em prazo curto, e provavelmente mais grave. O cessar-fogo de agora prevê negociações sobre o abrandamento das restrições impostas por Israel aos moradores de Gaza. Acoplado à garantia de que Gaza não voltará ser plataforma para o lançamento de mísseis, isso poderia reabrir a discussão para um entendimento mais amplo entre israelenses e palestinos.

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