domingo, novembro 25, 2012

Sinais da festa - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 25/11


No Brasil, ainda é preciso lutar muito para que os Joaquins Barbosas sejam fatos naturais e lógicos


A FESTIVIDADE pela posse de Joaquim Barbosa na presidência do Supremo tem, a meu ver, sentido inverso ao que lhe está sendo dado. É a evidência, creio, do muito que ainda está por ser feito para extirpar-se o racismo entremeado na vida brasileira.

Como os seus antecessores no cargo, Joaquim Barbosa não chegou à presidência levado por seus saberes, seja qual for a extensão deles. O Supremo seguiu a sua tradição de sucessões presidenciais por ordem de chegada ao tribunal. Um tratamento igualitário, ornamentado por um escrutínio apenas convencional. Fosse outro o indicado quando Lula nomeou Joaquim Barbosa, seria aquele o presidente de agora.

Um negro na presidência do Supremo -que fato extraordinário! E por quê? Porque na vida brasileira ainda é preciso lutar muito para que os Joaquins Barbosas sejam fatos naturais e lógicos. Possam chegar a cargos e exercê-los com a normalidade vista em quaisquer dos seus antecessores. Enquanto forem fatos extraordinários, é óbvio que só podem ser assim por contrariarem as condições vigentes em torno de suas vidas.

Se e quando deixar de ser assim, a evolução se refletirá, forçosamente, sobre os tratamentos discriminatórios -referidos no discurso de Joaquim Barbosa- sofridos por tantos milhões no Brasil. Realidade em que o Judiciário é um dos destaques aberrantes.

AINDA MAIS

A denúncia feita pelo delegado-geral de São Paulo, de que a consulta a fichas policiais sugere eliminações deliberadas pela polícia, é importante mas está longe do principal. O que desencadeou e sustentou a atual onda de homicídios e ataques na Grande São Paulo não foi a eliminação de vítimas já com ficha policial. Foi a morte, conforme um dos diferentes números publicados, de 92 PMs.

A probabilidade das eliminações planejadas é grande, sim. As polícias brasileiras são adeptas contumazes de grupos de extermínio. São Paulo, por exemplo, tem até certa tradição na matéria. Há uns 40 anos, ganhou notoriedade nacional a luta valente de um frágil moço, Hélio Bicudo, contra esquadrões da morte formados na polícia paulista. Há pouco, foi notícia a morte do Cabo Bruno. Notabilizado como matador individual, foi, de fato, integrante de esquadrão da morte composto por policiais em São Paulo, em período de grande mortandade na cidade e sua periferia.

Os ataques a gente fichada podem explicar alguma coisa, mas descobrir a causa dos demais ataques -como os feitos a PMs- será mais decisivo para derrubar o crescimento da criminalidade. E o histórico dessas ondas dá uma pista.

Os ataques sistemáticos a policiais, sobretudo os que surgiram de movimentos repentinos, em geral foram respostas à apropriação, por grupos da polícia, de esquemas de extorsão ou de outras explorações vitais para a bandidagem. Não que os policiais mortos sejam parte da apropriação, mas são parte do contingente a ser atingido como pressão da vingança.

Já que ocorrem mudanças pessoais na busca de segurança em São Paulo, admitir que o problema policial seja ainda mais grave do que apenas o dos homicídios será, talvez, um bom início de resultados.

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