terça-feira, novembro 06, 2012
Pesadelos - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 06/11
O combate ao chamado crime organizado - que costuma ganhar esse adjetivo quando se revela mais diabolicamente eficiente do que os órgãos públicos que devem combatê-lo - é um dos pesadelos das grandes cidades de todos os continentes. No momento, ele tira o sono das autoridades de São Paulo, a ponto de provocar pesadelos também na esfera federal.
Ainda bem. A criminalidade em larga escala - principalmente no estado mais rico do país e que, por isso mesmo, deveria ser o mais eficiente na manutenção da ordem pública - é um problema nacional. Se existe em São Paulo, deve-se considerar, sem qualquer exagero, que estamos diante de um pesadelo para o país inteiro.
Até alguns dias atrás, como não é raro acontecer, autoridades estaduais e federais aparentemente tinham como prioridade jogar a culpa para o outro lado da cerca. Mas a semana terminou com um acesso de bom-senso, justificado pelos números recentes da violência. Desde o começo do ano, 88 policiais militares foram assassinados por bandidos. E o número de cidadãos mortos nos confrontos entre marginais e policiais chegou a quase 80.
Certamente estava mais do que na hora de autoridades federais e estaduais descobrirem que não poderia continuar desorganizado o combate ao crime organizado. A presidente Dilma Rousseff telefonou para o governador Geraldo Alckmin e ofereceu participação federal na guerra aos bandidos.
Antes disso, ocorrera apenas uma troca de versões: o ministro da Justiça disse que desde junho oferecera ajuda federal para enfrentar um esperado agravamento da violência em São Paulo. Curiosamente, não se informou como as autoridades de Brasília sabiam disso e a polícia local nem desconfiava. Mais espantoso ainda, o secretário de Segurança de São Paulo nega ter recebido a oferta de ajuda. Pode ser um simples mal-entendido. Na verdade, um desastroso mal-entendido.
Agora, pouco importa: Brasília e São Paulo finalmente estão falando a mesma língua e já está decidido que bandidões hoje presos no estado serão transferidos para penitenciárias federais. Se isso contribuir para diminuir a violência local, convém que ninguém se esqueça: é óbvio que as prisões estaduais estão precisando de uma limpeza em regra. Pelo menos, para ficarem tão eficientes quanto o chamado - com boas e lamentáveis razões - crime organizado.
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