domingo, novembro 25, 2012

O domínio de Dirceu - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 25/11


Em sete anos, o PT teve seis presidentes e nenhum obteve do partido as honras de José Dirceu. Enquanto não houver um nome capaz de empolgar os militantes, ele continuará com o poder nos bastidores


Chamou a atenção de muitos políticos o périplo de José Dirceu por Brasília justamente na semana em que o relator do processo da Ação Penal 470, Joaquim Barbosa, assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). Logo depois dessas conversas de Dirceu, começaram os atos de desagravo aos condenados pelo Supremo — eventos que não deixam de causar uma certa preocupação ao governo, porque esbarram no limite do desacato à mais alta Corte do país. Mas essas movimentações virão, no mínimo, para derrubar a máxima de que decisão judicial não se discute, cumpre-se — discussão, aliás, deflagrada há duas semanas, quando da nota do PT sobre o processo.

Todas essas atitudes deixaram aos atores da política a certeza de que o partido ainda não encontrou um quadro político capaz de substituir José Dirceu, um dos principais artífices da eleição de Lula em 2002. Antes de assumir a Casa Civil, presidiu a legenda por sete anos. Saiu quando passou o bastão para Genoino. À exceção de Lula, ninguém presidiu o PT por mais tempo que Dirceu até hoje.

Desde a queda da antiga direção petista em 2005, o que houve foram alguns acertos para recompor a cabeça da legenda. O primeiro foi o atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, que assumiu como interino. O deputado Ricardo Berzoini (SP) ficou um ano, saiu para a campanha de 2006, sendo substituído interinamente por Marco Aurélio Garcia, fiel escudeiro de Lula. Berzoini voltou e ficou até 2010, quando o comando partidário passou para o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, um dos condutores da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República. No ano passado, Dutra se viu obrigado a deixar a direção do PT nacional para cuidar da saúde. Foi quando, por acordo, o grupo majoritário do PT apoiou a eleição de Rui Falcão, uma grata surpresa para muitos dentro da legenda.

Esse histórico nos mostra que ao longo dos últimos sete anos, o PT teve seis presidentes. E nesse período, nenhum dirigente petista arrancou dos militantes palavras de ordem do tipo “guerreiro do povo brasileiro” — frase dedicada a Dirceu em todas as plateias petistas. No geral, muitos desses ex-presidentes reclamaram em suas épocas a dificuldade de ter voz de comando seja diante de uma legenda com tantas peculiaridades, seja perante os aliados do governo, seja o de Lula ou o de Dilma. Falcão, que nesse último período vem conduzindo o PT com aprovação interna, tem dificuldades com os aliados. No caso do presidente do PSB, Eduardo Campos, por exemplo, o grau de estremecimento por conta da eleição municipal foi tão grande que os dois só voltaram a se falar há poucas semanas durante jantar no Alvorada promovido pela presidente da República.

Enquanto isso, no Poder Executivo…
Diante desse terreno vazio de lideranças, é o ex-presidente Lula e, guardadas as devidas proporções, sua sucessora, Dilma Rousseff, a quem os aliados procuram em momentos de crise ou dificuldades. Agora, nessa temporada de Lula na África, quem comanda é ela. O peso do cargo que ocupa lhe dá essa prerrogativa perante aos aliados e ao próprio PT, que, sem opções, pensa duas vezes antes de desafiá-la. Ela, por sua vez, cumpre o papel que se espera nesse cenário. Chama os aliados para jantar e os recebe em conversas. Em nome dessa base aliada e do próprio PT, adotou também a cara de desconforto na posse de Joaquim Barbosa no STF. Na ausência de Lula, é ela que se coloca de público. Mas, nos bastidores, Dirceu não perdeu espaço. Enquanto o partido não obtiver um nome que empolgue seus militantes, é ele que brilhará e terá todas as honras.

Uma curiosidade nesse processo todo é que as tendências que se sentiram patroladas por Dirceu quando da eleição de Lula, em 2002, são aquelas que hoje lhe dão todas as honras nessa hora do julgamento. Por incrível que pareça, a condenação no STF surge como um fator de união dos petistas. Até então, só Lula conseguia unir todas as tendências do Partido dos Trabalhadores. Diante dessa perspectiva, será muito interessante acompanhar o que virá pela frente dentro do PT, um partido que passa pelo período de reconstrução de líderes.

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