quinta-feira, novembro 29, 2012

Formam-se tempestades no Mar da China - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 29/11


Pequim mostra poderio naval para enfatizar reivindicações territoriais e leva Japão a se aproximar de países vizinhos, mas única saída é a negociação



A China deu tratamento de herói ao engenheiro Luo Yang, que comandou a adaptação do caça-bombardeiro J-15 para aterrissar em porta-aviões. Luo morreu do coração ao presenciar o primeiro pouso de um J-15 no porta-aviões “Liaoning”. Este que seria o mais moderno porta-aviões soviético foi atropelado pelo fim da URSS e abandonado num porto da Ucrânia. Pequim o comprou, e o transformou no primeiro porta-aviões chinês, e que acaba de entrar em operação.

Por trás do drama de Luo Yang está a disposição chinesa de demonstrar poderio bélico e ampliar a presença no Mar do Sul da China e ao longo de sua costa leste, diante de contenciosos com outros países como Japão, Vietnã e Filipinas. A manifestação de força levou o ministro da Defesa, Liang Guanglie, a afirmar que o poderio militar chinês não representa ameaça ao mundo. Mas a afirmação é relativizada por fatos como o novo mapa que Pequim decidiu imprimir nos passaportes, mostrando como chinesas ilhas disputadas com Vietnã e Filipinas, o que provocou protestos desses países. Taiwan aparece na mesma condição, bem como terras disputadas com a Índia .

Um dos motivos de tensão entre as duas principais potências asiáticas é o pequeno arquipélago desabitado chamado de Senkaku pelos japoneses e de Diaoyu pelos chineses — pouco maior que as Cagarras, em frente à Ipanema. Ele foi incorporado ao Japão em 1895, pois seriam terra de ninguém. Em 1971, depois que pesquisas apontaram a possível existência de petróleo na região, tanto China como Taiwan declararam soberania sobre ela e, desde então, o caso virou um problema diplomático. Diante de recentes escaramuças sobre o arquipélago, a China incentivou uma série de protestos contra o Japão.

Uma das consequências foi levar Tóquio a mudar a postura defensiva, imposta pela Constituição de 1947, elaborada durante a ocupação americana. Pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os militares japoneses treinam tropas de outros países, equipam guardas costeiras da região e participam de exercícios navais com outras forças, como Austrália e Índia. Segundo o “New York Times”, a estratégia não é iniciar uma disputa por influência com a China, mas fortalecer as relações com outros países igualmente preocupados com a crescente assertividade chinesa. Essa preocupação tem se revelado mais forte que as desavenças históricas de algumas dessas nações com o Japão.

A China exibe seu porta-aviões, o Japão tem destróieres porta-helicópteros que podem ser adaptados para levar caças de decolagem vertical. Mas a diplomacia das canhoneiras não é o modo mais indicado para uma região tão sensível. O melhor é resolver as pendências entre ambos e com países vizinhos via negociação, de forma bilateral ou multilateral, em fóruns apropriados como Asean, Apec e ONU.

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