quinta-feira, novembro 01, 2012
EUA lideram investimentos - ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo - 01/11
Os Estados Unidos são os maiores investidores e importadores do Brasil, com exceção dos períodos de embarque de commodities para a China, US$ 20,6 bilhões de janeiro a setembro, 11% do total. E vem aumentando. No mesmo período do ano passado, representavam 10,1%.
São os maiores importadores não só do Brasil, mas do mundo. As vendas para o mercado americano desaceleraram fortemente na crise financeira. Totalizavam 18% do total em 2006, recuaram para 14% em 2008, mas voltaram a crescer este ano ao contrário da China.
O mesmo ocorre com os investimentos diretos, onde os Estados Unidos mantêm a liderança, representando mais de 18%. Mas a liderança não é só no Brasil. Eles são também os maiores importadores e investidores mundiais. A economia mundial só vai reagir se a americana voltar a crescer. Daí a importância da eleição nos Estados Unidos na próxima semana. É preciso que o novo governo não caia na armadilha da União Europeia, de austeridade pela austeridade, em plena recessão ou tentando se livrar dela. Nada de aumento de impostos, redução de gastos e de investimentos quando o PIB recua, o desemprego é alto, a demanda interna não reage, o comércio mundial desacelera e não há sinais de pressão inflacionária. Os Estados Unidos, como maior economia mundial isolada tem de voltar a crescer. Ou isso, ou se confirmará que 2013 poderá ser mais um ano perdido.
A recessão nos Estados Unidos, provocada pela crise financeira terminou tecnicamente em junho de 2009. Durou um 1 ano e meio. Foi a maior nos últimos 70 anos.
No Brasil, durou seis meses porque o governo reagiu aos primeiros sinais. O sistema financeiro foi mais afetado pela redução na entrada de recursos externos, rapidamente enfrentada pela injeção de liquidez do Banco Central, e a economia vinha sendo sustentada apenas pelo consumo interno. No fundo, a economia brasileira sentiu de forma menos intensa os efeitos retardados da recessão mundial. Recessão que volta a se instalar na Europa, onde não só nada se fez, mas se faz tudo ao contrário. Os países da zona do euro criaram a própria crise da dívida, não estimularam a demanda e desde o Eurotrem, em 1994 não realizaram nenhuma obra importante. Não apenas isso, em plena crise da zona do euro, que já dura três anos, a Comissão Europeia estuda um corte de 50 bilhões no orçamento do próximo ano em que se volta à recessão.
Depende deles. É neste clima que vai se realizar a eleição presidencial nos Estados Unidos, na próxima semana. Quem assumir, receberá uma economia com leve sinal de reação. No terceiro trimestre do ano o PIB cresceu à taxa anualizada de 2%, contra 1,3% do anterior. Esse resultado poderia servir de lição para o próximo presidente. Os 2% foram sustentados pelo aumento dos gastos governamentais de 3,7%. As compras dos consumidores, principalmente de carros, também ajudaram, mas não foram decisivas e se explicam mais pela antecipação das pessoas a um possível aumento de impostos no próximo ano. Isso mostra a importância do papel dos governos - americano, europeu e brasileiro também - em fases de recessão ou forte e desaceleração econômica, como aconteceu aqui.
É para isso que existe o instrumento da política fiscal para superar crises. Ao contrário do que aconteceu em 2008, no Brasil se demorou alguns meses para entender isso. Como lembra o economista-chefe do Oportunity, em artigo no Valor, Alessandro Bassoli. "Não há nada de errado em se usar a política fiscal para suavizar as flutuações da atividade econômica (como Dilma e Obama estão fazendo e a União Europeia, não). Déficits mais elevados em momentos difíceis, porém, devem ser compensados com reduções de gastos e aumento de impostos nas fases de expansão."
O problema nos EUA é que Obama enfrentou um Congresso liderado pelos republicanos hostil às medidas que ele propunha para reanimar a economia e reduzir o déficit. Hoje, seja quem assumir, republicano ou democrata, encontra o país em meio ao que se chama de "abismo fiscal", o desafio de dívida pública e déficit elevados que vão dificultar a adoção de medidas - que são urgentes - para que a economia volte a crescer.
E o mundo precisa disso. O que se pode esperar? Pouco. Ou como diz Alexandra Bassoli em seu artigo, "o mais provável é que se faça (republicanos e democratas) o suficiente se evite o cataclismo na maior economia do mundo". O retorno à recessão que já se instala na Europa.
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