quinta-feira, novembro 01, 2012

Depois da tempestade - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 01/11


A tormenta que nos últimos dias sacudiu e inundou Nova York deixa várias lições que têm que estar na reflexão de todos. Adianta pouco perguntar aos climatologistas se Sandy é ou não um evento produzido pela mudança climática. Mais proveitoso é ler os sinais dos tempos. No futuro, haverá mais tormentas como esta, e o mundo todo, não apenas NY, precisa se preparar.

Quando perguntados, os cientistas costumam dizer que é preciso fazer mais estudos antes de garantir que qualquer desastre natural faz parte do cenário que eles estão descrevendo para o planeta. Mas o mais relevante não é saber a natureza do último evento, mas ter em mente que os próximos serão assim e mais frequentes.

O mais inusitado de Sandy foi atingir a costa leste dos Estados Unidos. Normalmente, furacões e tempestades ocorrem no Caribe e no Golfo do México. É o segundo ano que isso acontece, porque em 2011 a área foi sacudida pelo furacão Irene. Antes de chegar a Nova York, e ocupar a manchete dos jornais, ele provocou destruição e mortes no Haiti e em Cuba.

Em Nova York, há infraestrutura de qualidade. No Haiti, ainda há quem more em tendas e habitações precárias desde o terremoto. O que é preciso ter em mente é que, seja um país pobre ou a mais rica cidade do maior país do mundo, todos são vulneráveis à fúria da natureza quando ela vem. É com essa realidade que as cidades, principalmente as costeiras, têm que trabalhar.

Isso tem que estar no planejamento estratégico das empresas e nas análises de risco das grandes seguradoras e resseguradoras. Hoje, as empresas de seguro têm sistema de acompanhamento de eventos naturais e climáticos extremos. Trabalham com seus principais clientes na gestão de riscos climáticos, seja em termos de prevenção ou de relocalização da empresa para sair das áreas de risco. Algumas chegam a se recusar a segurar certas empresas localizadas em áreas vulneráveis.

É difícil saber onde há risco num cenário de mudanças climáticas, mas instalar empreendimentos industriais em áreas costeiras de alta probabilidade de furacões ou de atividade tectônicas não é hoje aconselhável. Mas isso tem implicações logísticas importantes. Levar a empresa mais para o interior, longe dos portos, é mais caro. A opção passa a ser áreas costeiras, mas de baixo risco.

Desde o acidente de Fukushima, ficou claro que ter usina nuclear que precisa da água do mar para a refrigeração não é uma boa opção. As usinas nucleares da costa leste americana foram desligadas, a começar do mais velho reator nuclear comercial dos EUA, que fica em Nova Jersey, Oyster Creek.

Outra lição do Sandy é que será necessário desenvolver novos sistemas de armazenamento de energia, novas soluções e energias não convencionais. O mundo do futuro dependerá de baterias de alta duração e de alta carga. Carregador solar para celulares, por exemplo. Esse cenário pode ser um estímulo para as novas tecnologias. O que ficou claro é que o mundo ficou mais vulnerável a eventos que interrompem o abastecimento de energia.

Na campanha eleitoral americana, o Sandy iluminou o debate. Ficou evidente o pensamento completamente ultrapassado do candidato republicano, Mitt Romney. Na terça-feira, ele não respondeu às insistentes perguntas feitas a ele sobre o fato lembrado no editorial do jornal "New York Times". Ele havia proposto que o serviço nacional de gerenciamento de desastres fosse devolvido aos estados ou privatizado. Os gastos públicos serão cortados, mas quem for eleito terá que saber quais são as áreas prioritárias. Proteção contra desastres naturais certamente é uma delas.

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