domingo, novembro 25, 2012

Amor de pessoa - FABRÍCIO CARPINEJAR

ZERO HORA - 25/11


“Carpinejar, socorro! Conheci uma mulher pela internet, houve muitas conversas, ela estava extremamente empolgada sempre com a situação, assuntos diversos, inclusive intimidades. Finalmente fui conhecê-la pessoalmente, porém a empolgação dela parece que desapareceu, rolaram uns beijos e carinhos de ‘adolescente’, fiquei na casa dela, conheci a família. Em público, nada além de segurar as mãos discretamente. Segundo ela: ‘Sou um amor de pessoa’. Mas ela se afastou e não sabe explicar. Como devo reagir sem ser um chato? Como manter a história sem perder para seus medos? Abraço Xico”

Querido Xico,

Quando uma mulher nos chama de amor de pessoa, ela já não tem nenhum interesse.

Amor de pessoa é o mesmo que chamá-lo de simpático, é um esforço educado. Não traduz encantamento, atração, enamoramento.

Amor de pessoa é criação de tia, tem uma carga assexuada.

Amor de pessoa é uma declaração de amizade.

Amor de pessoa é dizer que a família lhe adorou, só que não houve química.

Amor de pessoa é a afirmação de que não ficarão juntos, apesar dela gostar de sua companhia.

Não existe como namorar por antecipação, por dote na linguagem. Impossível acertar um relacionamento antes de se conhecerem.

Sei que vocês tiveram uma longa troca de mensagens e de conversas virtuais. Sei que confessaram suas vidas como se fossem feitos um para o outro.

Mas escrever é amizade, só se encontrar pode ser amor. Escrever é vontade de ser feliz, não significa felicidade.

A palavra não é fiadora da eternidade.

Ela criou uma expectativa contigo que não se confirmou. Ficou desapontada com a própria idealização. Ainda tentou experimentar a possibilidade com beijos e carinhos.

É muito natural a frustração após demorado e sonhado envolvimento. Não é problema seu, não é fácil mesmo criar uma ligação apaixonada de pele, de rosto, de beijo.

As coisas são simples: quem ama não se explica e permanece ao lado, quem não ama também não se explica porém se afasta.

A falta de explicação no caso é que ela desejava evitar a grosseria do fim abrupto. Está constrangida das promessas românticas que escreveu e não levou a cabo. Prometeu namoro e não contou com resposta do corpo.

Todos afirmam que a aparência não faz diferença, faz sim, escolhemos nosso par por aquilo que ele representa.

Ela tem o direito de se desagradar. De voltar atrás. De recuar. De mudar de opinião. Não tem como convencer alguém a gostar da gente.

O melhor para nós talvez não seja de nosso agrado.

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