quinta-feira, novembro 08, 2012

Agora, enfrentar a economia - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 08/11

A demografia explica a reeleição do presidente Barack Obama, mas só a economia vai garantir que ele tenha sucesso no segundo mandato. Obama tem encontro marcado com uma encruzilhada que definirá esse destino econômico: o “abismo fiscal”. Ele precisará de mais habilidade do que teve até agora para evitar os cortes automáticos de gastos do dia primeiro de janeiro.

Se conseguir tirar essa incerteza do caminho, o governo estará abrindo as portas para investimentos, que vão elevar o patamar de crescimento. A economia dos EUA cresce entre 1,5% e 2% ao ano, mas pelos cálculos do Financial Times as grandes corporações estão com US$ 1,7 trilhão em caixa para investir. Não o fazem porque esperam ambiente de maior certeza e previsibilidade.

Obama se reelegeu desafiando alguns dogmas políticos e econômicos. Quando seu oponente começou a campanha, apresentando-se com o mérito de ser administrador de empresas, a economia crescia pouco e 23 milhões de americanos estavam desempregados ou subempregados. Um dogma político é que ninguém consegue um segundo mandato nos EUA com uma taxa de desemprego acima de 7,2%. Ainda assim, ele ganhou.

A explicação do fenômeno está na rápida transformação da sociedade norte-americana. Ele teve 55% dos votos das mulheres. Ganhou na faixa da população com menos de 45 anos. Entre quem tem 18 e 29 anos, chegou a 60% de preferência. Ficou com 62% dos votos urbanos, das grandes cidades. Conquistou 71% dos votos de hispânicos; 73%, de asiáticos; e 91%, de negros. Foi a vitória da diversidade.

Essa coalizão pode não ter ficado completamente satisfeita com seu primeiro governo, nem ter recebido o que lhe foi prometido na campanha de caráter motivacional de 2008, mas o candidato derrotado assustou demais esses grupos.

Mitt Romney foi muito para a direita durante as primárias ao ter que competir com oponentes como Newt Gingrich e Rick Santorum. Ao fazer esse movimento, perdeu parte dos independentes que votariam nele se tivesse consolidado uma imagem de conservador moderado. Seu vice, Paul Ryan, escolhido para agradar a ala radical, também não ajudou. As declarações do próprio Romney, de que 47% dos americanos vivem do Estado e não assumem responsabilidade sobre suas vidas, fizeram o resto.

Apesar disso, o Partido Republicano teve volume expressivo de votos e ganhou a maioria na Câmara. Pode dizer que o mandato das urnas é para que ele continue na mesma linha que vinha mantendo, de veto às iniciativas do governo. Foi essa polarização que levou ao impasse do ajuste fiscal. Como fracassou a saída negociada, entram em vigor no primeiro dia do ano que vem cortes de gastos e aumentos de impostos no valor de US$ 600 bilhões. Isso tem o poder de jogar o país de volta à recessão.

A primeira tarefa de Obama é construir canais de diálogo com a oposição para evitar o cenário catastrófico de cortes de gastos indiscriminados.

Uma das formas de fazer um ajuste fiscal alternativo será o aumento de impostos, ideia com a qual os eleitores demonstraram concordância. Ontem, o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, admitiu que isso pode acontecer. Entre os vários pontos sobre os quais os eleitores foram chamados a opinar está a Proposição 30 da Califórnia, que permitiu aumento de impostos sobre vendas de varejo no estado e imposto de renda para quem ganha mais de US$ 250 mil por ano. Ela foi aprovada. Os recursos irão para educação. O ajuste será aumento de imposto e corte de gasto. Não há milagre, ao contrário do que parecia acreditar Romney, que propunha aumento de gastos militares e redução de impostos dos mais ricos e equilíbrio fiscal.

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