sexta-feira, novembro 02, 2012

A indústria chinesa volta a crescer - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 02\11


A recuperação da indústria chinesa é mais uma peça importante para nosso crescimento no próximo ano


A indústria chinesa -finalmente- voltou a acelerar seu crescimento neste final de 2012.

O chamado índice PMI, que mede a porcentagem das empresas que devem acelerar sua produção nos próximos 30 dias, superou pela primeira vez -desde maio deste ano- a barreira dos 50 pontos percentuais. Ou seja, o número de empresas que esperam aumentar sua produção em novembro superou o das que reportaram estabilidade ou queda de atividade.

Embora a diferença seja mínima -o índice geral foi de 50,2%-, os números relativos à produção física foram mais robustos, com 52,1% dos entrevistados reportando aumento.

Outros dados dessa pesquisa mensal realizada pelo governo chinês mostram o mesmo quadro de recuperação. O índice PMI para o setor siderúrgico atingiu 52,7%, mostrando que esse importante setor da indústria chinesa também voltou a aumentar seu nível de produção.

Para o Brasil, essa informação é importante, pois nosso minério de ferro é dependente, em preço e volume de exportações, da produção de aço na China.

A recuperação da indústria siderúrgica chinesa é mais uma peça importante para nosso crescimento econômico no próximo ano.

Mas, para o analista, valem menos os números em si e mais as tendências de médio prazo que podem ser inferidas das estatísticas publicadas. E a tendência de recuperação da atividade industrial no gigante asiático é clara quando colocada em perspectiva.

O índice de novas ordens de produção passou de 48,7% em agosto passado para 49,8% em setembro e chegam agora a 50,4%.

No caso do índice de novas ordens de importação, a evolução no mesmo período de tempo foi semelhante, passando de 46,6% em agosto para 49,3% em novembro.

Mais do que apenas uma sequência de números melhores, no relatório divulgado fica transparente que a economia chinesa reage às políticas de estímulo -como reagiram à política de contenção da atividade econômica no ano passado- monetário e fiscal do governo central. E parece claro que o novo governo, que vai ser escolhido no Congresso do Partido Comunista Chinês, a ser realizado na próxima semana, vai acelerar as medidas de estímulos à economia a partir do início do próximo ano.

A recuperação da produção chinesa já começa a chegar a outros países da região, como mostram os índices PMI para Coreia e Taiwan e os índices de produção industrial na Índia. Na minha imagem do alinhamento dos astros para 2013 na economia mundial, é fundamental que essa recuperação na Ásia se realize.

No caso do Brasil, o fortalecimento do crescimento nessa região é um canal crítico para que a economia possa recuperar uma parte importante do dinamismo perdido nos dois últimos anos.

A correlação entre preços internacionais dos produtos primários exportados pelo Brasil e crescimento da economia é hoje muito forte para ser negada.

Certamente esses dados recentes ainda não serão suficientes para convencer os pessimistas a mudar suas previsões de um desastre iminente na China.

O quadro mais otimista para o país -no qual eu acredito- só vai chegar à dinâmica de preços nos mercados ao fim do primeiro trimestre do próximo ano, quando a recuperação da indústria chinesa deve ficar clara e o risco de uma crise fiscal nos EUA tiver passado.

Talvez este tenha sido o custo mais pesado da crise financeira, iniciada em Wall Street com o colapso dos derivativos ligados aos empréstimos imobiliários: a perda de confiança na capacidade das economias de mercado de superar as forças da deflação que atingem o mundo. A queda dos investimentos privados responde hoje -no Brasil e no mundo desenvolvido- pelas baixas taxas de crescimento econômico.

E a volta do chamado espírito animal dos capitalistas só vai acontecer depois que os riscos de uma volta à recessão estiverem realmente afastados. Não por outra razão é que a política monetária dos principais bancos centrais do mundo deva continuar fortemente expansionista no futuro próximo.

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