terça-feira, outubro 23, 2012

Planos para Lula - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 23/10


Luiz Inácio Lula da Silva está de volta. E com a corda toda. Os petistas que acompanharam seus pronunciamentos no último fim de semana ficaram aliviados ao perceber o brilho e a garra de volta aos olhos dele. Até as frases voltaram a ser de efeito. Os ícones petistas ficaram tão alegres com o entusiasmo e a energia de Lula que os planos para o futuro são inúmeros. Há quem volte a citá-lo como candidato a presidente da República, em 2014 — coisa que o próprio Lula rejeita. Afinal, conforme ele tem dito a amigos, Dilma está indo bem e, neste momento, não há motivos para mudar o time que está em campo.

Mas as outras missões que os petistas pensam em dar ao seu maior comandante serão aceitas — aliás, nunca foram recusadas. Especialmente, no sentido de consolidar a passagem de bastão no PT pós-julgamento. Lula tem o dom de encantar multidões. Sua linguagem simples e direta fala ao coração das pessoas como talvez nenhum outro político brasileiro tenha feito na história recente do país. Mesmo sua licença poética, muitas vezes criticada pelos adversários, é vista pelo eleitor como “esse é o Lula!”. Haja vista a diferença de discursos nesses fim de semana, onde em menos de 48 horas, Lula desfilou argumentos em prol do novo em São Paulo e, pouco depois, discursou sobre os perigos de se escolher uma novidade em Diadema. O PSDB odiou, mas os petistas deram boas risadas. O público que ouviu não estava preocupado com as comparações.

Risos à parte, o PT quer agora, ou melhor, daqui a pouco, que Lula use todo esse dom para tentar transferir seu prestígio ao partido da mesma forma que fez com o próprio governo, em 2005, quando o escândalo veio à tona. O então presidente percorreu ruas, inaugurou obras, lançou pedras fundamentais, vistoriou canteiros pelo país afora. Enfim, voltou-se para onde sabia se possível adquirir forças para se vacinar contra o episódio, ou seja, o lado do povo. Foi nesse contato que Lula se fez e se refez. Criou e ressurgiu.

Naquele ano de 2005, quando muitos apostaram que Lula não seria reeleito por conta do escândalo do mensalão, o então presidente afastou todos aqueles que tiveram o nome vinculado ao episódio. Delúbio Soares, o ex-tesoureiro, chegou a ser desligado do PT logo depois do escândalo e só foi reintegrado em abril do ano passado. Nesse ínterim, Lula saiu do governo com aprovação recorde e ainda elegeu a sucessora, a presidente Dilma Rousseff. E fez tudo isso sem deixar de dialogar diretamente com a população.

Passados sete anos daquele 2005 repleto de provações para o então presidente, 2012 se apresentou tão desafiante quanto. A doença, o julgamento, as condenações em meio ao calendário eleitoral — cenário que o PT jamais esperou enfrentar de uma única vez. A primeira reação dentro do partido foi jogar seus condenados “aos leões”. Foi comum ouvir integrantes do primeiro escalão dizerem que os condenados tinham CPF e não CNPJ e que o partido não estava em questão no STF. Mas, aos poucos, os obstáculos foram se dissipando. A doença, o julgamento e as eleições estão pertinho do fim e, pelo menos no quesito eleitoral, com as melhores perspectivas para Lula e o PT. Mas, nesse campo do mensalão, embora o julgamento não tenha apresentado reflexos eleitorais, os petistas sabem que não dará para fingir que nada aconteceu. E, diante desse desafio, caberá a Lula remodelar a imagem partidária e cicatrizar as feridas.

Por enquanto, o ex-presidente ainda não entrou de corpo e alma no julgamento. Limitou-se a dizer, em entrevista na Argentina, que já havia sido julgado e citou a eleição de Dilma e a aprovação de 87% quando deixou o governo. E ainda não será nos próximos dias que alguém ouvirá Lula pelo Brasil afora sobre o julgamento. Em plena campanha eleitoral, o foco dos petistas é tentar sair do segundo turno com uma coleção de vitórias, especialmente, em São Paulo.

Enquanto isso, na sala de Dilma…

A presidente não está nada satisfeita com esse zum-zum-zum sobre uma substituição do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Afinal, a reforma ministerial que tem pela frente é para fortalecer a base política e não melindrar a economia. Nessa seara todo cuidado é pouco.

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