quarta-feira, outubro 17, 2012

Plano do passado - TASSO AZEVEDO


O GLOBO - 17/10


Está em consulta pública o Plano Decenal de Energia 2021, um dos principais instrumentos do planejamento energético nacional. Produzido pela Empresa de Planejamento Energético, deve ser um olhar para o futuro que orienta a tomada de decisão sobre os investimentos no setor. Mas, a julgar pelo que se vê proposto, o planejamento se dá olhando pelo retrovisor, com foco no passado. Vejamos o exemplo da energia solar, já me desculpando pela numeralha.

A segunda fonte de energia que mais cresce no mundo, tanto em volume como em proporção, é solar, colada na eólica em primeiro lugar. Em 2011, o mundo acrescentou 30 GWh de potência solar instalada atingindo um total de 70 GWh. No mesmo período, o acréscimo de potencial instalado de hidrelétricas foi de 12 GWh.

A Alemanha, com metade da insolação média do Brasil, atingiu 32 GWh de capacidade instalada em 2012 (o que equivale a 30% da capacidade total do Brasil, incluindo todas hidrelétricas). A maior parte desta capacidade está distribuída em mais de 1 milhão de instalações de pequeno porte, utilizando estruturas já existentes como os telhados. Durante a primavera, a energia solar chegou a responder por mais de 50% da energia consumida no meio do dia. Cerca de 85% da geração solar, na Alemanha, aconteceu nos últimos 5 anos a partir de uma meta de atingir 35 GWh em 2015 (no ritmo atual ultrapassará os 45 GW até lá). As projeções para capacidade instalada no mundo em 2016 devem ficar entre 207 e 342 GWh. Para efeito de comparação, a capacidade de todas as hidrelétricas no planeta (construída em várias décadas) é 970 GWh. Já se projeta que os custos da energia solar deverão ser plenamente competitivos, mesmo sem subsídio, entre 2013 e 2016.

O Brasil tem o maior potencial para geração de energia solar do planeta. Apesar disso, o Plano Decenal de Energia 2021 reserva, em 386 páginas, meros três parágrafos para tratar desta fonte e concluir: "Apesar do grande potencial, os custos atuais desta tecnologia são muito elevados e não permitem sua utilização em volume significativo." Não apresenta um único dado, fato ou análise sobre o potencial, custos ou outro elemento para justificar a posição - o que aparece fartamente para justificar os investimentos em grandes hidrelétricas e termoelétricas.

O PNE 2030, o planejamento energético de longo prazo, publicado em 2008, já utilizou dados ultrapassados estimando o potencial instalado de energia solar em 1 GW (quando à época já era de 14GW) e estimou que o custo de instalação competitivo de US$ 1000/Kw seria atingido somente após 2030 e não inclui energia solar no planejamento de longo prazo da matriz energética. Já em 2012, o custo de instalação caiu abaixo de US$ 1000/Kw e mesmo assim o PDE 2021 ignora a energia solar.

É preciso parar de planejar com olho no retrovisor e olhar para a frente, permitindo que o Brasil faça valer o seu abençoado potencial de energias renováveis.

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