sábado, outubro 27, 2012

Pescaria em águas turvas - JORGE BASTOS MORENO

O GLOBO 27/10


O que mais encantava Dilma nas suas visitas a Lula no Alvorada era o presidente lhe servir de refeição peixes fresquinhos, que ele próprio pescara no Lago Paranoá.
Depois de dois anos de inquilinato, Dilma, finalmente, tomou coragem e foi à luta. Convidou um reduzidíssimo grupo para saborear o resultado da sua pesca. Na 14ª tentativa de fisgar um pacu, a presidente desistiu e quase manda demitir o ministro da Pesca por causa da má qualidade das iscas. Constrangida, foi obrigada a servir um tambaqui congelado que, pela cara, deveria estar hibernando no frigorífico do Alvorada desde FH: já não tinha escamas, mas penas de tucano. Descongelado, só faltou voar.
Intrigada, Dilma recorreu ao antecessor e ouviu um conselho para pescadores de cativeiros: “Nunca pesque depois da hora da ração; de barriga cheia, peixe não fisga isca”. Dilma quer votar logo a redução dos preços da energia e a regra dos royalties do petróleo. Isso, com um Congresso de barriga cheia de eleições.

Dilema
Durante missa dominical do padre Jorjão, na Igreja Nossa Sra. da Paz, em Ipanema, o senador Aécio Neves confidenciou à coluna:
— Eu serei, sim, candidato à Presidência da República em 2014 só para desmascarar o que essa gente vem fazendo com o país.
Uma semana depois, numa sessão noturna de cura do padre Moacyr, em Brasília, chego numa roda e ouço, de novo, o senador falando em “off” para um grupo de dez jornalistas e me apontando como testemunha:
— Esse aí sabe. Já confidenciei a ele: serei candidato à Presidência da República em 2014 só para desmascarar o que essa gente vem fazendo com o país.
Assim, o senador, com essa franqueza toda na frente dos meus colegas, deixou-me sem alternativa.
Se eu me calasse, o crime, perante o código de ética, seria duplamente qualificado: confidente e cúmplice.

Suspeita

Internamente, o governo trabalha com a hipótese de sabotagem no sistema elétrico como uma das prováveis causas do apagão.

De fábrica

O almoço de Michel Temer com os governantes do Rio, no Palácio da Cidade, para resolver os desentendimentos entre o comando nacional e a direção local do PMDB, teve lances rocambolescos.
Primeiro, ao ver o vice chegando na companhia de Eduardo Cunha, Pezão pergunta a Cabral:
— Recall?
Antes que o governador
respondesse, alguém adverte:
— Se for, recuse. O Eduardo Cunha não tem defeito novo.

Encrenca

Realmente, Temer, ao botar Cunha no almoço, provocou certa decepção.Esperavam que ele trouxesse a solução.Não o problema. 

Competência

Tucanos, por favor, não vamos demonizar o marketing da campanha de Serra. Os rapazes simplesmente fizeram o que lhes foi pedido.
Era preciso convencer o eleitorado de que Serra, eleito, não iria cumprir apenas dois anos de mandato, como alardeavam os adversários.

Os marqueteiros foram tão convincentes na pregação de que, agora, em vez dos dois anos da gestão anterior, Serra dobraria seu tempo na prefeitura, que os eleitores, em reação, dobraram também a rejeição.

Rumos


O fato de estarem juntos agora nas eleições municipais não quer dizer que Aécio e Eduardo Campos serão aliados em 2014.
Eleição presidencial, gente, é coisa séria. Não é uma ação entre amigos para driblar blitz.

Na base de um bebe e o outro dirige.

Tiro no pé
Kassab, agredido injustamente por Haddad e pela Marta, muda-se em janeiro para Brasília com um cacife que nenhum dos seus detratores teve até hoje junto ao Planalto e ao Congresso.
E ainda terá um ministério.

Pânico
Não sou desses que se valem da adversidade alheia para fazer proselitismo político.
Mas tenho certeza de que, se o secretário Sérgio Côrtes não estivesse desacordado no momento em que foi socorrido pelos bombeiros, durante um incêndio em seu apartamento, ele teria optado por ser atendido primeiramente numa UPA e não no Samaritano.
As más línguas dizem o contrário: Côrtes só desfaleceu quando ameaçaram levá-lo a uma Unidade de Pronto Atendimento.

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