sábado, outubro 13, 2012
O novo mix da economia - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 13/10
Na condição de ministro interino da Fazenda, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa (foto), fez importantes esclarecimentos em entrevista à repórter Beatriz Abreu, publicada no Estadão de quinta-feira, sobre os novos objetivos e as novas dosagens de política econômica adotados pelo governo Dilma.
Ele não admite o desmonte do tripé original. Avisa que se mantém "o mesmo arcabouço institucional, com meta de inflação, meta de resultado primário (superávit primário) e sem meta de câmbio".
Admite, no entanto, que as adaptações foram necessárias porque os tempos são outros e os grandes bancos centrais recorrem "a métodos não usuais de administração monetária", ou seja, despejam moeda nos mercados, o que produz distorções.
No caso, as adaptações feitas são tão ou mais importantes do que o arcabouço original. Isso é bem diferente do que continuar insistindo em que nada mudou e que a meta de inflação continua sendo perseguida como dantes.
Ficou claro na entrevista que a política monetária (de juros) não é mais tarefa exclusiva e autônoma do Banco Central, mas também do governo federal. Mais do que isso, o critério maior para definição dos juros básicos (Selic) deixou de ser o cumprimento da meta central de inflação. Boa parte do peso passou para a criação de condições para que a atividade econômica se acelere.
Barbosa argumenta que, neste momento, a meta de crescimento trabalha a favor da inflação na medida em que aumenta a produtividade do trabalho. É um ponto de vista questionável.
Nenhum banco central deixa de olhar para o crescimento econômico. Mas os que operam mais ortodoxamente entendem que uma inflação na meta é o melhor pré-requisito para o crescimento econômico sustentável. Dá previsibilidade e confiança, condições que, por sua vez, constituem a melhor garantia de novos investimentos e intensificação dos negócios.
O câmbio hoje, no Brasil, é mais fixo do que flutuante, admite Barbosa - embora o atual patamar possa ser revisto ao longo do tempo. E isso ainda é diferente da retórica ainda não revogada do Banco Central, que reconhece as intervenções no câmbio apenas como instrumento destinado a neutralizar a excessiva volatilidade das cotações.
Como ficou dito, o pressuposto para todas essas adaptações é a condução agressiva da política dos bancos centrais. O mix de políticas busca proteger a economia brasileira da perda de competitividade que essas fortes emissões de moeda geram por aqui. Trata-se, assim, de evitar os efeitos do tal tsunami monetário, tantas vezes denunciado pela presidente Dilma. Cabe perguntar o que ocorrerá se esse efeito não acontecer. Embora o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) já esteja operando o chamado afrouxamento quantitativo número 3, até agora não se viu o tsunami no Brasil.
De todo modo, são explicações claras sobre as razões das mudanças e sobre como funcionam. Pode-se discordar delas, questionar sua consistência ou antever suas limitações. E faltou explicar os desvios da política fiscal (o não cumprimento da meta de superávit primário). Mas, pelo menos, ficamos sabendo quais são os critérios que hoje norteiam a política econômica do governo Dilma.
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