segunda-feira, outubro 15, 2012

Mercado do futuro - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 15/10


Se Haddad conquistar a prefeitura e for bem-sucedido, há quem diga que estará no páreo para 2018. Logo, o PT apoiar um nome de outra legenda para o Planalto equivale a 30 de fevereiro no calendário


O PT prepara uma série de ensaios para tentar amortecer os adversários internos e externos. Tanto sob o ponto de vista eleitoral no mercado futuro quanto no julgamento do mensalão, a ordem é cortar os problemas. No caso da Ação Penal 470, é pública e notória a opção partidária por nomes novos como Fernando Haddad em São Paulo, que chegou ao segundo turno e ameaça seriamente a primazia do PSDB paulista. Quanto ao futuro, os petistas consideram que é hora de apresentar seus governadores, especialmente Jaques Wagner, da Bahia, de forma a não deixar que adversários ou aliados tomem terreno em regiões inteiras.

Esses antídotos ao julgamento do mensalão e a preparação eleitoral futura vão se misturar em breve, porque o PT não se mostra disposto a entregar a cabeça de chapa para outro partido nem a curto nem a médio prazo. Isso inclui 2014 e 2018. Nesse sentido, traçam seus planos eleitorais como um general estuda a batalha diante de mapas.

As contas feitas indicam que o partido de Lula está bem em vários pontos do Brasil. Nesta eleição, por incrível que pareça, só não estão bem em Minas Gerais e no Nordeste. No Rio Grande do Sul, o PT não chegou à prefeitura de Porto Alegre, mas tem o governo do estado. Em Curitiba, ganha terreno ao puxar para si o ex-tucano Gustavo Fruet (PDT), a quem a maioria petista apoia neste segundo turno.

O partido olha com ares de preocupação para o Nordeste, onde o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ganha fôlego, prestígio e firma liderança. Nessa seara, embora o baiano Jaques Wagner e Eduardo tenham laços de amizade e se tratem como irmãos, há quem diga dentro do PT que é hora de o baiano bater bumbo na região para não permitir que os votos petistas migrem para o PSB de Eduardo Campos ou para o PSDB. Afinal, o senador Humberto Costa (PT-PE) terminou em terceiro lugar na disputa de Recife.

Para os petistas, veio em boa hora o ingresso de Nelson Pelegrino (PT) no segundo turno da eleição em Salvador. Se ele vencer, a Bahia poderá se tornar o cartão de visitas do PT para a região, servindo de contraponto a Pernambuco. Se o PT estancar o crescimento de Eduardo no Nordeste, seria apenas necessário tirar espaço de Aécio Neves em Minas Gerais, o que muitos acreditam que pode ser feito martelando a administração de Marcio Lacerda como independente do PSDB.

Por falar em independência…

Criado como forma de dar ao PT um nome novo para concorrer ao governo de São Paulo longe do julgamento do mensalão, Fernando Haddad agora encanta boa parte de seus correligionários. Seu desempenho nas pesquisas de intenções de voto deste segundo turno tem feito muita gente boa olhar para ele com ares de promessa. Dentro do PT e fora dele, há quem aposte em Haddad até para o Planalto. Afinal, se o ex-ministro da Educação ganhar a prefeitura de São Paulo e for bem-sucedido do ponto de vista administrativo, entrará no páreo para 2018. Portanto, o dia de o PT apoiar um nome de outra legenda equivale a 30 de fevereiro no calendário.

Não por acaso, Eduardo Campos começa a pensar em carreira solo. Sabe que o PT trabalha a renovação. Aliás, Lula abriu esse caminho ao lançar Dilma Rousseff. Nesta temporada de eleição municipal, insistiu de novo nesse caminho, e vários partidos o seguiram. Haja vista a aposta do PMDB em Gabriel Chalita, em São Paulo, e do PSDB em Daniel Coelho, no Recife. Ambos saíram bem da disputa, apesar de não terem chegado lá. No geral, a troca de bastão na política está em curso em vários centros eleitorais e muitos já captaram essa mensagem do eleitor.

Enquanto isso, no STF…

Esta semana, começa o julgamento do publicitário Duda Mendonça por conta dos pagamentos recebidos por serviços prestados ao PT. Mais uma semana com o Partido dos Trabalhadores em evidência na Ação Penal 470 e, com ela, novas investidas no sentido de misturar a eleição deste ano com o mensalão.

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