domingo, outubro 07, 2012

Fragmentada e complicada - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 07/10


A eleição "mais complicada" já havida em São Paulo, na opinião de Lula, deve ser também, em nível nacional, a mais fragmentada dos últimos tempos, de acordo com pesquisa do Datafolha, com pequenas legendas ganhando destaques pontuais, como o PRB em São Paulo. Mas, segundo todas as previsões, terminará com o quadro mais ou menos estável: PT e PSDB polarizam as disputas nos maiores colégios eleitorais do país, confirmando o protagonismo que terão na eleição presidencial de 2014, enquanto o PMDB deverá eleger o maior número de prefeitos, mantendo a posição de fiel da balança em qualquer coligação eleitoral.

Se é verdade que as eleições municipais não representam um prognóstico do que serão as eleições nacionais dois anos depois, desta vez temos diversos fatores que levam para o campo nacional certas disputas regionais, determinando uma influência mais perene de seus resultados.

A começar pela presença do ex-presidente Lula no cenário nacional, cuja influência pode estar declinando à medida que suas intervenções parecem não ter surtido o efeito pretendido.

A "mais complicada" eleição paulistana pode acabar deixando de fora da disputa Fernando Haddad, o candidato que o ex-presidente tirou do bolso de seu colete, outrora considerado milagreiro. Terá sido a primeira vez que o PT não disputará o segundo turno na capital paulista, derrota capaz de quebrar o encanto que se criou em torno das qualidades quase mágicas do líder operário tornado presidente.

Ir para o segundo turno em São Paulo seria uma compensação política razoável para o PT contrabalançar derrotas que parecem mais que prováveis, como em Recife e em Belo Horizonte. Por isso o esforço final de Lula, abandonando os candidatos sem maiores chances. Não apenas derrotas, mas para um adversário saído da coligação governista, o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o que aumenta suas repercussões, que em Recife pode ter contornos patéticos com o candidato imposto pela direção nacional petista ficando fora de um eventual segundo turno.

O partido de Campos não tem a relevância dos três maiores rivais PMDB, PT e PSDB, mas terá resultados políticos importantes que o colocarão na vitrine nacional com ares de independência diante do PT, ao qual continua aliado, mas "costeando o alambrado", pronto para sair do cerco petista.

Vitórias em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza darão musculatura às ambições políticas de Eduardo Campos, mesmo que as vitórias não sejam completamente dele. A de Minas é mais do tucano Aécio Neves, e a de Fortaleza, se acontecer, deve ser atribuída à família Gomes, que não é exatamente aliada do governador pernambucano, embora do mesmo partido.

Mas, em compensação, a vitória de Recife é toda de Campos, e tem dimensão especial por ter derrotado a máquina petista. Eduardo Campos sai desta eleição maior do que entrou, com chances de aspirar a um papel mais relevante nos próximos anos.

Mesmo que diga que não nasceu para ser vice de ninguém, mesmo com a elevação de sua importância política, ainda não tem condições de protagonista nacional. Pode, no entanto, vir a compor uma chapa presidencial tanto com Dilma quanto com o oposicionista tucano.

Especialmente porque o senador Aécio Neves, potencial candidato do PSDB à Presidência em 2014, saiu da letargia e partiu para atuação oposicionista efetiva, confirmando sua dimensão política presumida, que andava sendo questionada.

O rompimento com o PT mineiro e o embate com a presidente Dilma em seu território, provocado pela própria, que inventou a candidatura de Patrus Ananias, foram benéficos para os planos de Aécio.

O senador tucano também aproveitou as eleições municipais para viajar pelo Brasil apoiando candidatos do PSDB, assumindo uma liderança nacional que lhe caíra no colo na disputa com o hoje candidato a prefeito de São Paulo José Serra. Mesmo que venha a vencer a eleição paulistana, Serra tem seu futuro imediato atrelado à prefeitura, não lhe sendo mais possível pensar em Presidência em 2014.

Mais que isso. Um dos movimentos mais radicais para ajudá-lo a convencer o eleitorado paulistano de que continuará na prefeitura pelo menos os próximos quatro anos seria, na campanha de um eventual segundo turno, oficializar seu apoio a Aécio para a disputa presidencial, um desses paradoxos que somente a política pode provocar.

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