quinta-feira, outubro 18, 2012

Discursos em xeque - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 18/10


A tomar como certos os números das pesquisas de intenção de voto divulgadas ontem em São Paulo, com ampla margem a favor do petista Fernando Haddad, é possível inferir algumas conclusões sobre esses primeiros dias de segundo turno. Primeiro, direcionar a campanha para temas como homofobia e aborto, idêntico ao que ocorreu na campanha presidencial, não ajuda o tucano José Serra. Ao contrário, lhe tira votos. E, para completar, o eleitor não vincula o candidato petista aos réus da Ação Penal 470, o mensalão, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Se seguir esse ritmo pelos 10 dias que faltam para a eleição, o PSDB paulista verá um esgotamento do seu poder de fogo na principal capital do país.

Trata-se aqui do verbo no futuro porque, depois dos erros das pesquisas no primeiro turno, ninguém se arrisca a colocá-las como palavra final. Essa, quem dará são as urnas de 28 de outubro. Vale lembrar ainda que os pontos perdidos por Serra nessa rodada de pesquisa de segundo turno ainda não caíram totalmente no colo da Haddad. Seguiram para os indecisos e os votos brancos e nulos. Portanto, até 28 deste mês, será a cada dia a sua aflição. A de Serra, neste momento, é encontrar um rumo para reconquistar eleitores perdidos ao longo desse processo. Por isso, baterá na tecla da gestão administrativa, sem deixar de respingar alguns lances sobre o julgamento do mensalão. No caso de Haddad, o desafio é se manter distante do processo mais doloroso que seu partido sofreu desde a sua fundação, cujo julgamento se dá exatamente no momento em que ele atravessa o “mata-mata” contra o PSDB. Ao mesmo tempo, tratará de “colar” a parceria que fará com a presidente Dilma, muito bem avaliada pelo paulistano. Na semana que vem, teremos a resposta sobre qual o discurso que mais pegará em meio ao eleitorado.

Por falar em avaliação…
Os próprios ministros do Supremo Tribunal Federal têm dito entre quatro paredes que estão cansados desse longo julgamento. O problema é que correr para terminá-lo antes do embate final de segundo turno nos grandes municípios pode soar com uma tentativa de jogar pedras no caminho daqueles que concorrem empunhando a bandeira petista. Entre alguns integrantes do PT que estavam ontem em Brasília, ficou a interrogação: se era para julgar até 28 de outubro, por que os ministros do STF não optaram por sessões extras ao longo do processo?

Embora chateados com essa acelerada dos ministros na reta final, os petistas veem um alento: quanto mais cedo esse julgamento terminar, mais cedo o partido poderá “cuidar da vida”, ou seja, do governo Dilma e das parcerias rumo a 2014.

Por falar em parcerias…

Num dos pontos rumo a 2014, já está batido o martelo: a parceria com o PMDB. Dilma não deseja mudar a chapa. Manterá o acordo com o PMDB para as presidências da Câmara e do Senado, o próximo lance da disputa. E mais: tão logo fechem as urnas do segundo turno da sucessão municipal, o partido começará a verificar como estão as parcerias estaduais. Em relação aos governadores petistas, por exemplo, o que ocorreu no Recife no primeiro turno da eleição municipal e no Rio Grande do Sul no passado deixou algumas lições para o Partido dos Trabalhadores.

A principal delas é a que, bem ou mal avaliado, não dá para impedir um administrador regional de concorrer a um segundo mandato. No Recife, a briga interna contra o prefeito João da Costa terminou por tirar do PT um espaço de poder importante. No Rio Grande do Sul, em 2002, o então governador, Olívio Dutra, perdeu a disputa interna pelo direito de concorrer à reeleição. O PT só reconquistou o governo estadual oito anos depois. Isso quer dizer que, no Distrito Federal, a ordem será seguir com Agnelo Queiroz. Qualquer mudança de candidato que possa dividir o partido não será bem-vinda pela direção nacional.

Enquanto isso, no ministério…

Quem está de orelha em pé com a sucessão municipal é o PP. O partido perdeu 84 prefeituras em relação ao resultado de 2008, isso depois de uma suada operação política para manter o Ministério das Cidades, um dos mais vistosos da Esplanada. Lá, estão o programa Minha Casa, Minha Vida e o PAC da Mobilidade Urbana. Agora, com a perspectiva de reforma ministerial, há quem esteja preocupado com a possibilidade de o PP perder a pasta. Da própria Dilma, entretanto, ninguém ainda ouviu uma palavra. E nem deve ouvir. Afinal, quando ela muda um ministro, faz questão de ter tudo tratado no maior segredo.

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