FOLHA DE SP - 18/10
NUMA SEGUNDA temporada de governo, o que Barack Obama mudaria na política econômica? Nada. Ou melhor, nada de importante se ouviu sobre o assunto até agora. O que mudaria Mitt Romney, seu adversário republicano? Muito. E salve-se quem puder.
Considere o osso da "exportação de empregos" (para a China e vizinhança). Há desemprego industrial em muitos dos Estados decisivos para a eleição. Um populismo fácil é dizer que tais empregos estão sendo roubados pela malévola China.
Os chineses desvalorizariam sua moeda e se entregariam a outras armações a fim de exportar mais produtos para o resto do mundo e para os EUA em particular, diz-se.
Em parte, é verdade, a China faz tudo isso, embora cada vez menos. Porém, bater na China, com palavras ou retaliações práticas, pouco vai fazer pela recuperação do emprego americano. Mas, com a eleição empatada, a falação dos candidatos sobre a China se torna cada vez mais feroz.
Obama fez questão de colar em Romney o rótulo de empresário "frio e calculista", cujos negócios ajudaram a exportar empregos para a China (em parte verdade, mas irrelevante). Romney reagiu dizendo que, eleito, vai tomar medidas a fim de barrar importações chinesas.
Haveria um pandemônio político e econômico. Além de causar danos vários à economia e ao consumidor americano (que ficaria então revoltado), uma guerra comercial logo derivaria para uma guerra financeira.
A China é a maior credora dos EUA. Numa improvável guerra econômica, teria bala suficiente para ameaçar o financiamento da dívida do governo americano e, portanto, para provocar alta do juro nos EUA.
Um tema crucial da campanha e da vida americana é o tamanho do Estado nos próximos anos e décadas: como financiar deficit do governo e gastos explosivos com saúde e aposentadorias.
Romney costuma culpar Obama pelo crescimento extraordinário da dívida dos EUA (que, no entanto, é um legado de Bush 2). O que propõe?
O republicano diz que vai reduzir deficit e dívidas rapidinho, o que jogaria os EUA em recessão ou estagnação. Mas também diz que reduzirá impostos. Não faz lé com cré. A não ser que Romney cumprisse ao pé da letra e de modo teratológico sua promessa de reduzir despesas com pobres, velhos e doentes, jogando todos na rua da amargura.
Além de iniciar uma guerra comercial com a China e lançar o país numa crise econômica, cortando gastos de cara e aos montes, Romney promete dar um jeito na política monetária (de juros, do BC).
O BC é independente, claro, mas o presidente dos EUA pode indicar um novo chefe do Fed. O mandato do atual, Ben Bernanke, vence no fim de 2013.
Bernanke e sua política de injetar dinheiro na economia ficariam, pois, desmoralizados assim que Romney vencesse a eleição, pois o candidato já avisou que pretende trocar o comando do Fed. Haveria, pois, um salseiro também no que diz respeito à política monetária americana, o que provocaria terremotos financeiros pelo mundo todo.
E Obama? No governo e na campanha, continua a fazer discursos grandiloquentes que dizem pouco. Propõe pouca mudança. Talvez seja melhor assim. Comparado a Romney, talvez faça menos estrago.
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