segunda-feira, outubro 01, 2012

Conteúdo possível - GEORGE VIDOR


O GLOBO - 01/10

Fabricação de equipamentos e contratação de serviços no Brasil é questão polêmica mas Petrobras se apoia em estudos técnicos

Paulo Sérgio Rodrigues Alonso, executivo de primeira linha da Petrobras que coordena hoje todo o programa voltado para o chamado conteúdo local (contratação de serviços e equipamentos pela empresa no Brasil), tem atrás de sua mesa de trabalho uma estante de apoio, com várias pastas, cada qual com centenas de páginas avaliando a capacidade de as encomendas destinadas aos novos projetos da estatal serem atendidas por empresas instaladas no país. "A unidade que vamos instalar em Linhares, no Espírito santo, poderá ter 67% de conteúdo local", diz ele, folheando as páginas de um dos estudos. E é com a mesma convicção que considera factível que dentro de três anos as primeiras sondas de perfuração de poços de petróleo e gás projetadas para explorar a camada do pré-salcheguem a ter 55% de conteúdo local. A segunda fornada passará para 60% e a terceira a 65%. "E a gente sabe que os consórcios de construtores e fornecedores usaram parâmetros de referência semelhantes aos nossos e encontraram percentuais até ligeiramente mais elevados, o que significa que somos mais conservadores que eles nessas projeções", observa.

Alonso refuta a tese que esse tipo de política poderá comprometer o cronograma dos projetos. Ao contrário, diz ele, foi a necessidade de se acelerar investimentos promissores no pré-sal, com a utilização de novos materiais que resistam às características adversas desses reservatórios, que levou a Petrobras a mobilizar toda uma cadeia produtiva aqui já instalada ou que possa ser atraída para o país. "Chamamos isso de conteúdo local possível", explica, pois, segundo ele, não foram estabelecidos percentuais prévios para depois ver se os fornecedores se ajustariam, tendo de respeitar preços do mercado e prazos de entrega, negociados na contratação dos serviços e equipamentos.

Pelo cronograma da Petrobras, as últimas plataformas de petróleo feitas inteiramente no exterior para a empresa chegarão este ano. A partir do ano que vem, a companhia receberá plataformas construídas em parte no Brasil, e também e no exterior. E após 2016 todas as unidades de produção já programadas estão projetadas para serem construídas no país, contando-se com o funcionamento de vários grandes estaleiros novos.

Alonso agora é igualmente responsável pelo Prominp, programa capitaneado pela Petrobras para capacitação de fornecedores e formação de pessoal voltados à cadeia produtiva da indústria do petróleo, na qual a estatal é o principal ator. Os desafios tecnológicos da indústria são expressivos, mas para quase todas existe uma solução encaminhada. Já no caso da formação de pessoal os obstáculos são ainda imensos, pela escassez de pessoas qualificadas. Faltam tanto índios como caciques no setor. A baixa escolaridade afeta a produtividade do trabalho, o que fica evidente quando se compara o Brasil com os países cujos fornecedores se destacam nessa área. Nos estaleiros da Coreia do Sul, por exemplo, um encarregado supervisiona diretamente grupos de vinte pessoas, que realizam diferentes tarefas com elevado grau de autonomia. No Brasil, as equipes acabam sendo reduzidas a grupos de cinco, sem que seus componentes realizem diferentes tarefas. Então aqui precisa-se de muita gente para se chegar ao mesmo resultado.

Na construção da refinaria e da nova petroquímica em Suape (Pernambuco), a maior parte dos peões é composta de trabalhadores que antes cortavam cana, sem experiência em montagens industriais. Então toda a cadeia produtiva do setor está passando por uma curva de aprendizagem no Brasil, que tende a se acelerar com o tempo. E isso dentro de projeções conservadoras, garante Paulo Alonso.

Os serviços representam cerca de 60%, com elevada participação de mão de obra, nos projetos da Petrobras. E a grande maioria da mão de obra é de brasileiros residentes, o que ajuda a se atingir percentuais de conteúdo local que chegam a 70% no caso da estatal.

Paradoxos do crescimento

A fonte é a mesma (o IBGE), mas vista pelos retratos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) a economia brasileira apresenta um resultado muito diferente do que se avaliando com os números do Produto Interno Bruto (PIB). A renda média dos mais pobres e da classe média baixa batizada de nova classe - tem crescimento dois pontos percentuais acima do PIB. Em 2011, por exemplo, passou de 4%.

Na China, há exatamente um fenômeno inverso. Lá, o PIB cresce dois pontos percentuais acima da renda média da maioria da população. Por isso, os indicadores apontam para uma redução da desigualdade social no Brasil (embora o crescimento da economia responda por pelo menos metade desse fenômeno), e um aumento na China, ainda que o número de pobres esteja diminuindo em ambos países.

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