quarta-feira, outubro 24, 2012
A melhor chance colombiana - LUIZ FELIPE LAMPREIA
O GLOBO - 24/10
A Colômbia tem hoje a melhor esperança de chegar à paz interna. Na atual rodada de negociações com as Farc, á surgiram sinais de que o caminho não será nada fácil. A intervenção do líder da delegação guerrilheira à reunião de Oslo, Ivan Marquez, marcou posições radicais ao afirmar que "a paz não significa o silêncio dos fuzis".
As partes terão chegado à conclusão que a vitória pelas armas é inviável. Ainda que as Farc tenham hoje um efetivo muito inferior do que na década de noventa - caindo de 30 mil para uma estimativa de 8 mil a 5 mil - ainda foram suficientemente efetivas para provocar 6 mil baixas nas forças colombianas nos últimos três anos. Esta clara inferioridade militar da guerrilha não garante que ela tenha de chegar a um resultado rapidamente. As Farc estão entrincheiradas em seus redutos na selva e na montanha, sendo muito difícil para as forças colombianas desalojá-las. Não é possível imaginar que, na conclusão da paz, o Estado colombiano aceite ceder uma parte do território nacional sem ocupar as áreas das quais se retire a guerrilha. Seria este um ponto negociável para as Farc? Mesmo em ambiente de otimismo moderado, será muito difícil chegar a acordos sobre pontos tão sensíveis a curto prazo.
O primeiro tema da agenda é a participação das Farc na democracia colombiana. Esta é uma condição essencial, mas difícil de realizar, pois significaria que os guerrilheiros teriam que abandonar suas posições, suas ligações e vantagens notórias com o tráfico de entorpecentes e finalmente depor suas armas para buscar um lugar certamente minoritário e pouco influente no cenário politico colombiano. O líder da delegação colombiana a Oslo usou do palanque internacional para afirmar que "uma paz que não resolva as causas mesmas que geraram o conflito armado seria uma quimera". Ivan Marquez destacou em suas críticas o modelo de exploração da terra e de investimento no setor mineral, duas questões centrais e altamente polêmicas na Colômbia. Houve uma reação pronta e enfática do representante do governo colombiano, Humberto de la Calle, ao dizer que "as ideias das Farc lhes pertencem e terão de ser defendidas sem armas, fazendo política e ganhando eleições". Por seu lado, o chefe maior das Farc, identificado pela alcunha de Timoshenko, declarou na mesma data em carta aos colombianos que as negociações de paz provavelmente não terão êxito .
Para sublinhar as dificuldades do processo e a disposição combativa das Farc, houve um ataque na região fronteiriça ao Equador que matou cinco soldados do exército colombiano. Esta ação podia mesmo ser previsível porque não está em vigor um cessar-fogo, mas a repetição destes confrontos poderá criar dificuldades políticas imensas para o prosseguimento das negociações.
Creio que seria um erro julgar que estas declarações e iniciativas sejam apenas destinadas a um público interno. A mensagem da guerrilha é que, longe de estar derrotada e pronta a aceitar um resultado final muito inferior às suas pretensões maximalistas, prefere continuar o combate. Uma vantagem significativa na negociação para as Farc é que não lhes preocupa a opinião pública colombiana, nem a repercussão internacional de um fracasso. Não cogitam de legitimar-se aos olhos do mundo. Inversamente, esta precisa ser uma preocupação constante do presidente Juan Manuel Santos, que correu um grande risco, investindo um capital político enorme ao lançar as negociações e desde o princípio enfrenta a oposição de seu antecessor, Álvaro Uribe, e o ceticismo de muitos colombianos.
Um fator positivo consiste em que as negociações contam também com o apoio de Venezuela e Cuba, dois países que foram sustentáculos das guerrilhas durante longo tempo. Cada um deles terá suas razões específicas, mas ambos procuram realçar sua influência regional e contribuir para o término de um conflito de cinquenta anos. É pena que o Brasil não tenha sido chamado a desempenhar papel algum nas negociações de paz. Esta é a última guerra na América do Sul. Nossa diplomacia participou no passado muito ativamente na solução de graves conflitos entre países. Seria muito importante que o governo brasileiro fizesse, pelo menos, manifestações claras de apoio ao processo de paz que acaba de iniciar-se.
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