sábado, setembro 15, 2012

Rio em época de eleições - LUIZ FERNANDO JANOT


O GLOBO - 15/09

Durante a primeira metade do século XX o Rio viveu um dos períodos mais significativos da sua história. A condição de capital federal atraía para a cidade um expressivo contingente de pessoas em busca de ascensão econômica e social. Pelas ruas movimentadas do Centro circulavam, lado a lado, figuras eminentes da sociedade, profissionais liberais, políticos, funcionários públicos, comerciantes e prestadores de serviços.

O Rio vivia, naquela época, o seu grande apogeu político. Com a transferência da capital para Brasília e, mais tarde, a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, a cidade, aos poucos, foi perdendo o seu prestígio. As tentativas isoladas para reverter essa situação geralmente esbarravam na falta de recursos financeiros. Instalou-se, dessa forma, um longo período de decadência que se refletiu implacavelmente no contexto urbano da cidade.

Felizmente, após um longo período de letargia e apreensão, a onda de pessimismo foi se esmaecendo diante do interesse manifestado por grupos empresariais envolvidos na economia globalizada.

O principal catalisador para elevar a autoestima da população carioca teve origem na escolha do Rio como sede de grandes eventos esportivos internacionais. Simultaneamente, a área central da cidade passou a receber diversas empresas relacionadas com a exploração de petróleo no litoral fluminense.

Ao se estabelecerem nessa localidade promoveram a recuperação do ambiente urbano e a valorização do extraordinário patrimônio histórico ali existente. Para elevar ainda mais a autoestima dos cariocas, o Rio recebeu da Unesco o título de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural Urbana. Esse conjunto de conquistas vislumbra para a cidade um próspero caminho em direção à construção de uma nova realidade social e urbana.

Todavia, essa possibilidade de sucesso não pode ser comemorada prematuramente. Há que se evitar o imediatismo dos interesses particulares nas decisões políticas e no planejamento das obras que serão realizadas. Nunca é tarde para enfatizar a importância da urbanidade na vida cotidiana de uma cidade. Para que esse aspecto sutil não passe despercebido pela população e pelos governantes, várias ações coordenadas deverão ser empreendidas para impedir o retorno da violência nas favelas e nos espaços públicos, a extorsão praticada por flanelinhas, a ocupação das calçadas por camelôs, a venda e o consumo escancarado de drogas nos espaços públicos, a ação predatória dos pichadores, a desordem urbana e a balbúrdia nas ruas até altas horas.

Da mesma forma, não se pode ser condescendente com o crescimento descontrolado das favelas, com o comprometimento ambiental das praias e lagoas, com as enchentes periódicas das ruas, com calçadas em péssimo estado de conservação, com o traçado fajuto das ciclovias, com a agressividade dos motoristas de vans, com a irresponsabilidade dos motociclistas, com os ciclistas circulando na contramão, com a poda indiscriminada de árvores, com a presença de navios cargueiros fundeados no mar de Copacabana, com as iluminações cenográficas coloridas que desvirtuam e comprometem a qualidade estética dos monumentos históricos da cidade. Enfim, em época de eleições, isso é o mínimo que se pode esperar dos candidatos para que a cidade se torne, de fato, mais humana e acolhedora.

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