quarta-feira, setembro 19, 2012

O resgate de FH - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 19/09

Há tempos o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não ganhava tantos holofotes numa campanha eleitoral de seu partido quanto obteve nesses últimos dias na disputa municipal paulistana. Desde 2002, último ano como presidente da República, lá se vão 10 anos. Esse foi o tempo que o PSDB levou para perder o receio de enaltecer numa eleição seu único representante a ocupar o mais alto cargo da República.

E, por incrível que pareça, o mesmo candidato que no passado escondeu Fernando Henrique é hoje quem mais precisa dele. Das guerras eleitorais tucanas pós-governo FHC, José Serra disputou quatro — duas para presidente da República, 2002 e 2010; uma para prefeito, em 2004; e outra para governador de São Paulo, em 2006. Na primeira delas, com os problemas de avaliação enfrentados pelo governo, a música de Serra foi toda baseada na “mudança”. O jingle pregava: “A mudança é azul”. Logo, não havia lugar para Fernando Henrique ou seu governo, exceto as ações de Serra na Saúde (obviamente, deu errado, já que a parcela da população que desejava a mudança via Lula como sinônimo desse objetivo).

Para prefeito, dois anos depois, Serra não precisou muito do auxílio de FH, porque, afinal, tinha vencido a eleição presidencial em São Paulo e carregava o desejo do eleitor de lhe compensar pela derrota nacional de 2002. Foi um passeio. Para governador, também não foi difícil chegar lá. Serra venceu no primeiro turno. A coisa começou a degringolar quando ele perdeu a eleição presidencial e, ainda assim, vislumbrou uma terceira candidatura presidencial no mesmo dia em que Dilma comemorou a vitória no segundo turno. Daí, as dificuldades que Serra enfrenta estes dias para explicar ao eleitor paulistano que não deixará a prefeitura daqui a quatro anos e a luta contra Fernando Haddad, do PT, pela vaga no segundo turno, em que as pesquisas dão como certa a presença de Celso Russomanno (PRB). E, agora, cada um joga com o que tem.

As armas

Diante desse cenário, Haddad esconde Paulo Maluf e exalta Lula. E Serra não esconde ninguém. Nem o prefeito Gilberto Kassab, que hoje enfrenta problemas de popularidade. Parece ter aprendido que o eleitor valoriza quem não esconde seus aliados. Aliás, nesta eleição, a mais difícil de sua vida, Serra tem em Fernando Henrique Cardoso a figura mais emblemática para convencer o eleitor paulistano de que, se eleito, não largará tudo daqui a dois anos. Assim, o ex-presidente soa agora como o principal avalista de que Serra não repetirá 2004.

Nesse novo estilo de José Serra, de apreço aos aliados, Fernando Henrique nunca foi tão enaltecido. Especialmente nestes dias em que o PT está sob o fogo cruzado do julgamento do mensalão. Na verdade, o resgate de Fernando Henrique começou no ano passado, quando foi convidado para o almoço com Barack Obama no Itamaraty e, depois, quando completou 80 anos e recebeu uma carta da presidente Dilma Rousseff. Depois do gesto de Dilma, o PSDB preparou uma festa para o ex-presidente em Brasília. E, ao que tudo indica, esse resgate eleitoral veio para ficar, já que o pré-candidato tucano a presidente da República, Aécio Neves, sempre faz questão de enaltecer os aspectos positivos do governo FHC da mesma forma que Dilma sempre levanta os acertos do governo Lula.

Por falar em Dilma…

Os petistas não gostaram muito de a presidente ter vetado o imposto zero para a cesta básica em plena campanha eleitoral. Mas não havia jeito, uma vez que ontem foi o último prazo para analisar o tema. Entre os candidatos pelo país afora, há o receio de que isso seja usado eleitoralmente nessa reta final. Como se já não bastasse o desgaste imposto pelo julgamento do mensalão, agora vem uma lasquinha na área econômica. Para compensar esse estrago, esperam que ela reserve algum dia da agenda até 4 de outubro para ajudar o partido nas principais capitais. Até agora, ela, como já dissemos aqui, mantém-se distante não só da campanha, como do julgamento do mensalão e da disputa da Câmara e do Senado.

Enquanto isso, no Congresso…

Hoje é o último dia de esforço concentrado da Câmara dos Deputados antes das eleições. Paralelamente à análise do Código Florestal — aprovado ontem —, estava prevista a votação, na comissão especial, do marco civil da internet, um projeto que mobiliza todos os setores da sociedade, o Ministério das Comunicações e, em especial, os operadores. A aposta, entretanto, é a de falta de quórum para apreciar qualquer projeto. Vamos aguardar.

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