terça-feira, setembro 11, 2012

O Paraguai depois do Mercosul - RODRIGO BOTERO MONTOYA


O Globo - 11/09


Carlos Díaz Alejandro afirmava que a vantagem de alguém se interessar pela atualidade latino-americana é que nunca se entediaria. O caminho que tomaram os acontecimentos relacionados ao Mercosul assim o demonstram. A cerimônia presidencial de 31 de julho em Brasília, para oficializar o ingresso da Venezuela no grupo mencionado, foi marcada por divertidos voos de retórica exuberante.

Proclamou-se a aparição de um eixo de poder geopolítico. Anunciou-se o surgimento da quinta potência econômica do planeta, acontecimento que passou despercebido no resto do mundo. Se de fato o ocorrido representou uma derrota para o império, Washington não se deu por notificada.

Na realidade, o evento teve bem menos transcendência. O que se celebrou com discursos bombásticos foi uma modesta reconfiguração interna em razão da expulsão do Paraguai para permitir a entrada da Venezuela. A mudança foi promovida por Brasil e Argentina, com a cumplicidade submissa do Uruguai. A manobra se levou a cabo em violação aberta da norma acordada pelo Tratado de Assunção para incorporar novos membros ao Mercosul. Ter contribuído para desmantelar as defesas institucionais que protegem os interesses dos pequenos países não constitui um triunfo memorável da diplomacia uruguaia. A nação do Leste já terá oportunidade de lamentar o gesto de fraqueza do presidente Mujica.

O interessante é comparar as alternativas que se apresentam ao Paraguai para sair da encruzilhada em que se encontra. Uma possibilidade é aceitar sua condição de pária, regressar de joelhos ao Mercosul e legitimar com sua aquiescência o atropelo ao qual foi submetido.

Mas há uma fórmula imaginária que permitiria às autoridades paraguaias o ressarcimento pelo tratamento humilhante recebido e a transformação da aparente derrota em triunfo. O que a dignidade nacional e principalmente a própria conveniência econômica recomendam ao Paraguai é formalizar sua saída imediata do Mercosul.

Isso facilitaria ao país adotar a postura comercial que corresponde a uma economia pequena: integrar-se à economia mundial, adotar uma tarifa baixa e negociar tratados de livre comércio com os principais países industrializados e com nações amigas na América Latina.

Essa estratégia produziu resultados favoráveis para o Chile e para o Panamá. Ao contrário, o protecionismo da Tarifa Externa Comum do Mercosul é prejudicial para um país exportador de commodities e um PIB da ordem de US$ 21 bilhões, como o Paraguai. Isso o obriga a outorgar a seus sócios trato preferencial para bens manufaturados de menor qualidade e preços maiores do que os que regem os mercados internacionais.

Recorrer ao caminho que se sugere não será fácil. Isso se trataria, nada menos, do que da formação de uma ilha de livre comércio em meio ao mercantilismo desfigurado do Atlântico Sul. Isso implica assumir um custo alto, mas não tão alto quanto o de se resignar a aceitar a desonra.

Defender-se com altivez exigirá audácia e valentia. Mas os paraguaios demonstraram ter valentia em abundância durante a guerra com Argentina, Brasil e Uruguai, entre 1865 e 1870.

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